Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
9 O mundo muçulmano sob os Abássidas Aspectos políticos e territoriais (750-1055) A revolução abássida, que levou ao poder uma nova dinastia, tinha nascido do problema da inte- gração no novo Império das populações não árabes. Rompendo com o período omíada, que observara um modelo de organização tribal, os califas elaboraram durante o primeiro século abássida (750-cerca de 850) um novo sistema político. Este define-se por um quadro institucional e uma nova capital, e mais ainda, como mostraram vários estudos anglo-saxónicos recentes, pelo estabelecimento de uma rede muito densa de relações pessoais e pela consideração das reivindicações autonomistas das regiões. Estudar a história do período abássida do ponto de vista do governo central e das suas instituições não deve fazer esquecer que se desenvolveu um processo de mobilização das forças das províncias, ori- entais e ocidentais, pelo reconhecimento dos particularismos e pelo papel concedido às aristocracias locais. Dito de outro modo, o movimento de fragmentação do Império permitiu a emergência de novos conjuntos territoriais, que não romperam com as instituições arábico-muçulmanas, mas que adopta- ram formas de organização próprias, por vezes referindo-se ao xiismo ou ao carijismo. 1. O primeiro século abássida: o desenvolvimento do sunismo (750-cerca de 850) • As orientações do novo regime Os dois novos primeiros califas começaram por elimi- nar, no seio do movimento compósito que os t inha levado ao poder, os extremistas e as tendências rivais. Abü Muslim, considerado poderoso de mais no Jurassã, foi afastado em 755 e, sobretudo a partir de 762, teve início uma política de repressão contra os Alidas. Esta atitude tranqüilizou os moderados. Al-Mansur transferiu a capital para Bagdade, fundada em 762 no Iraque, não longe da antiga capital, Ctesifonte. Símbolo do poder, Madínat al-Salam - «a cidade da salvação» - , como Bagdade é designada pelas fontes ára- bes - , atribuiu ao Iraque o papel que o regime omíada lhe recusara: o de centro de um vasto império. Aproximando- -se das províncias orientais, o poder califal apoiava-se nas populações do antigo Império Sassânida, mas desviava-se do Mediterrâneo e renunciava, de facto, a exercer um con- trolo sobre as províncias do Ocidente. Não é desproposi- Cronologia dos dez primeiros califas abássidas al-Saffâh (750-754) al-Mansür (754-775) al-Mahdí (775-785) al-Hadi (785-786) Hârün al-Rachid (786-809) al-Amín (809-813) al-Mámün (813-833) al-Mu'tacim (833-842) al-Wâthiq (842-847) al-Mutawwakil (847-861) (Continuação da cronologia p. 155) Ver mapa p. 396 C. 141 tado fazer notai- que, exactamente na mesma época, a dinas- tia carolíngia, que tomou o poder em 751, encontrava o seu centro de gravidade nas regiões setentrionais, longe das costas mediterrânicas. Somente Constantinopla manti- nha uma fundada vocação marítima, ainda que a talasso- cracia bizantina viesse a ser seriamente ameaçada. Wazir (vizir): literalmente, «o que ajuda a carregar u m far- do». Originalmente honorífi- co, o título de vizir designa, a partir do re inado de Harun al-Rachid, aquele que, ao la- do do califa, exercia um pa- pel de conselheiro e auxiliar, ao mesmo tempo que supe- rintendia na administração pú- blica. Imã: ver p. 107. Influência iraniana. Os princípios administrativos foram, portanto, pouco modificados, mas o estilo do governo evo- luiu por influência de um pessoal essencialmente recrutado entre os mawâli iranianos. Os Árabes não foram eliminados do poder, mas deixaram de monopolizar as mais elevadas funções; os Iranianos convertidos acederam a todos os pos- tos políticos, na Corte, nos diwâns, no exército, à custa dos Árabes que tinham sido o suporte dos Omíadas. Quando a administração central foi colocada sob a direcção do wazir, ou vizir, foi a membros da família iraniana dos Barmácidas que a função começou por ser confiada. Sob a influência dos mawâli iranianos, as velhas tradições sassânidas revive- ram na etiqueta, no cerimonial, no modo de vida do califa. Longe da multidão, ele foi um soberano absoluto, em rup- tura com a tradição do chefe de tribo árabe herdada dos tempos pré-islâmicos. As modificações introduzidas no exér- cito traduzem bem esta evolução. Os seus membros passaram a ser recrutados entre os Jurassanianos, que se tornaram nos únicos e verdadeiros soldados, sobretudo encarregados de defender no Império a política do califa, e absolutamente distintos dos voluntários que ainda continuavam a bater-se nas fronteiras do mundo muçulmano. O califado, instituição religiosa. O princípio dinástico foi rapidamente estabelecido em benefício da família abás- sida. Esta deixou de basear os seus direitos à direcção da umma no testamento de Abü Hâshim, que a ligava aos xi- itas, e invocou uma designação de al-Abbâs por via do pró- prio Maomé. Deste modo, o movimento abássida deixava de ter, pelas suas origens, um carácter heterodoxo; é que os califas decidiram cimentar a unidade do seu império, mais ni t idamente do que na época omíada, através da natureza religiosa da sua autoridade. De repente, tanto nas suas formas exteriores como nas suas tendências, o califado aparece como uma verdadeira instituição religiosa. O califa abássida já não se define ape- nas como o sucessor, o lugar-tenente do profeta de Deus; assume também o título de imã - o que guia a comuni- dade na obediência à Lei. O manto do profeta, a sua lança e o seu selo simbolizam o poder do que, assim, é o guia espiritual e temporal da comunidade. As manifestações exteriores de piedade desenvolvem-se: reconstrução de Meca e Medina, da Mesquita al-Aqsa de Jerusalém, orga- 142 O m u n d o muçulmano sob os Abássidas nização regular de peregr inações , es tabe lec imento da inquisição face ao surto de diversos movimentos heréti- cos - os zindiq. Os doutores em ciências religiosas passam a desempenhar u m papel na corte: assim, a ped ido de Hârún al-Rachid, o grande cádi de Bagdade, Abú Yüsuf, redigiu u m livro - O Livro do Imposto Predial - , para limi- tar o arbitrário em matéria administrativa e fiscal. O desenvolvimento do sunismo I O sunismo. Os Abássidas apoiaram-se, efectivamente, n u m a cor ren te de pensamen to que aparecera nos pri- meiros decênios do séc. viu e que começava a elaborar-se doutr inalmente: o sunismo, para o qual a obediência ao poder estabelecido era praticamente um dever. Rejeitando todas as formas de contestação e de rebelião, os doutores sunitas recomendavam que se seguissem as autoridades instaladas, na medida em que as suas ordens não envol- vessem desobediência a Deus e ao seu Profeta. Baseavam- -se, antes de mais, no Alcorão e na Sunna, mas insistiam também na impor tânc ia do consenso comuni tá r io - o idjmâ'. Assim preocupado com a paz comunitária, o sunismo opunha-se for temente ao legitimismo dos xiitas e ao par- ticularismo insurreccional dos carijitas: a concepção do imã, como chefe supremo da comunidade , difere pro- f u n d a m e n t e nestas três famílias do islão. Os sunitas ten- diam a ver no califa apenas o que organizava a aplicação da Lei religiosa, deixando aos especialistas o cuidado da sua interpretação. A elaboração do direito. A Lei religiosa, ou shari'a, está, com efeito, na base quer da vida pública do islão, quer da vida privada do muçu lmano . A shari'a apresenta-se como o c o n j u n t o dos c o m a n d o s da Lei, con t idos n o Alcorão e na Suna. Ao lado desta lei, o fiqh, jur isprudên- cia ou direito muçu lmano , é a in terpretação da shari'a pelos fuqahâ', ou juristas, do islão. Nos reinados dos pri- meiros califas abássidas, o pensamento jur íd ico foi pro- fundamen te influenciado pela lógica grega e precisou o sentido das disposições a aplicar tanto no domínio público como no domínioprivado. Esta elaboração do fiqh apoia- va-se em quatro fontes, as únicas reconhecidas como legí- timas: o Alcorão, a Sunna, o idjmâ'ou consenso dos sábios da umma, e o qiyâs ou raciocínio analógico que faz inter- vir a reflexão lógica. Este esforço de interpretação, ou idjtihâd, envolveu uma grande efervescência intelectual. O recurso às hadiths levou à constituição de grandes colec- tâneas, como a de al-Bukhâri (falecido em 870), a leitura do Alcorão foi definitivamente codificada, grandes obras de exegese coránica vieram a público, em especial a de Zindiq: termo de origem ira- niana que designa em geral os que, pela sua atitude de espí- rito ou o seu modo de vida, entram em confronto com a Lei revelada. No séc. vm, tra- ta-se sobre tudo dos adeptos de doutrinas dualistas, influen- ciados pelas tradições cultu- rais persas. Sunna: ver p. 87. Idjmâ': acordo unânime da um- ma ou, mais restritamente, dos teólogos reconhecidos numa certa época. 143 al-Tabari, também conhecido como historiador (falecido em 923). Desde o final do séc. VIU, apareceram quatro escolas jurídico-religiosas (muitas vezes impropr iamente qualificadas como ritos); ret iram as suas denominações dos respectivos fundadores e repartem-se em grandes con- jun tos regionais: no Próximo Oriente , os hanafitas (de Abü Hanifa, mor to em 763) e os xafiitas (de al-Shâfi'i, falecido em 820); no Magrebe, os hanbalitas (de ibn Han- bal, falecido em 855); e na Península Ibérica, os mali- quitas (de Mâlik ibn Anas, que morreu em 795). Se estas escolas divergem em questões doutr inais e, sobre tudo, metodológicas , elas convergem nos pr inc íp ios f u n d a - mentais. O mutazilismo. O desenvolvimento das ciências reli- giosas e a influência da filosofia grega, conhecida através das traduções de Aristóteles, permitiram uma intensa refle- xão doutrinai , designadamente com o aparecimento do mutazilismo. O recurso, pelos seus adeptos, à razão como meio para compreender o Alcorão e o desenvolvimento de concepções teológicas originais como a da criação do Alcorão, levantaram contra eles os sunitas. Al-Ma'mün ten- tou, n o princípio do séc. IX, impor o mutazilismo como doutr ina oficial. As razões desta tentativa são ainda lar- gamente discutidas. O tr iunfo do mutazilismo teria, no plano político, implicado provavelmente um papel mais autoritário do califa, conferindo-lhe um direito a guiar a umma não só mediante a execução da Lei, mas também através da sua compreensão, colocando-o assim acima dos especialistas. Esta tentativa fracassou e os fuqahâ' sunitas fizeram prevalecer a concepção de um califa apenas habi- litado a fazer aplicar a Lei. Os imãs alidas 1 Ali m. 661 I I 2 Hassan m. 669 3 Hussein m. 680 4 Alt Z a m n T r i T 5 Muhammad al-Bâqir m. 731 6 Dia'far m. 765 r ™ ^ 1 7 Ismá'íi m. 760 7 Müsâ m. 799 8 Ali al-Rillâ m. 818 9 Muhammad m. 835 10 Ali a l -Hal i m. 868 11 Hassan m. 874 12 Muhammad al-Mahdi m. 878 I Xiitas e carijitas Xiitas. Afastados pelos Abássidas, os xiitas agruparam- -se então apenas em torno dos descendentes de Ali e de Fátima. Rejeitando o realismo político dos sunitas, que reconhec iam o califado dos Abássidas depois de terem reconhecido o dos Omíadas, os xiitas mantinham-se liga- dos ao princípio de um poder detido por u m Alida, her- deiro das prerrogativas do Profeta, imã detentor de luzes secretas. Duas revoltas conduzidas pelos descendentes de Hassan acabaram mal para eles: revolta de Muhammad e de Ibraim em 762 e rebelião de 786, abafada em Fakhkh, per to de Meca, com um massacre ao qual apenas escapou u m pr íncipe alida, Idris, que se re fugiou no Magrebe. Mais prudentes , os descendentes de Hussein atravessaram esse per íodo de perseguições sem se manifestarem, entre- gando-se sobretudo a um esforço de reflexão doutrinária. 144 O mundo muçulmano sob os Abássidas Em diversas oportunidades o poder tentou, em vão, a con- ciliação. Assim, al-Ma'mun admitiu a hipótese de aceitar como herdei ro o imã alida Ali al-Rida. Em geral, porém, foi a desconfiança, quando não a perseguição, que domi- nou. Em 799, Müsâ foi executado e, após a rejeição defi- nitiva da tentativa de abertura que o mutazilismo repre- sentara, foi fixada residência a Ali al-Hâdí e destruído o mausoléu de Hussein em Querbela. Alargava-se, portanto, o fosso entre xiitas e Abássidas. A morte do imã Dja'far em 765 trouxe consigo a rup tura entre as duas principais correntes do xiismo. Se é verdade que todos reconheciam uma só l inhagem de imãs legítimos - embora, na reali- dade, n e n h u m tenha exercido o poder - , alguns conside- ravam que essa sucessão se tinha interrompido com Ismael, o sétimo - são os Ismaelianos outros com o décimo segundo - os Duodecimanos ou Imamitas. Carijitas. Com os califas abássidas, o movimento cari- j i ta foi prat icamente extinto no Próximo Oriente: salvo algumas revoltas locais rapidamente abafadas, deixou de representar qualquer perigo sério para o poder central. No Nor te de África, pelo contrário, u m dos principais ramos dos carijitas, o dos ibaditas, desempenhou um papel político de grande importância. Os aspectos principais da dout r ina dos carijitas tinham-se esclarecido a part ir de Siffin: por oposição aos sunitas e aos xiitas, consideravam que o califado deveria caber ao melhor muçulmano, sem distinção de família nem de origem. Mas os traços defi- nidores desse melhor muçulmano prestavam-se a discus- são. E foram sobretudo os carijitas a dividir-se sobre a ati- tude a adoptar para com os muçulmanos culpados de uma infracção à fé, ou seja, para com os muçulmanos julgados infiéis. A intransigência dos azraquitas, que os levava a considerar como terra de infiéis o país ocupado por outros muçulmanos, opôs-se a moderação dos sufritas e dos iba- ditas, que admitiam a coexistência de várias tendências n u m mesmo território. Aspectos geográficos do poder califal • O poder do califa aplicava-se desigualmente no inte- rior do Império. Xiitas e carijitas não o reconheciam, mas houve também, num espaço que não conheceu substan- ciais alargamentos, secessões regionais, principalmente no Ocidente, que j á anunciavam a ulterior f ragmentação do m u n d o abássida. O Ocidente muçulmano. Para lá da Ifriqiya, Bagdade não t inha conseguido assegurar o seu controle sobre os Berberes do Magrebe e perdera-o totalmente na Hispânia. Sobre os Ismaelianos e os Duodecimanos ver pp. 153-154. 145 Ver mapa p. 390 A. Muladis: indígenas cristãos convertidos ao islão na Hispâ- nia muçulmana. Moçárabes: indígenas que se mantiveram cristãos na Hispâ- nia muçulmana. Ver p. 111. Ribât: ver p. 224. Aqui, com efeito, um omíada que escapara ao massacre de 750, Abd ar-Rahmân (Abderramão), conseguira fazer- -se proclamar emir de al-Andalus. Os seus esforços e os dos seus primeiros sucessores foram dedicados a garantir a respectiva autoridade sobre essa província muçulmana tão diversificada: árabes, divididos em tribos do Norte e do Sul, berberes, muladis, defrontavam-se entre si e opu- nham-se ao poder emiral instalado em Córdova. No en- tanto, já se esboçava um Estado organizado segundo o modelo abássida e que uma eficaz política fiscal, causa prin- cipal das revoltas moçárabes, dotou de importantes recur- sos. Sem que tenha havido ruptura oficial, é evidente que a fundação de um emirado omíada significava uma ampu- tação no território abássida. O Magrebe. A consolidação do emirado de Córdova foi facilitada pela evolução que então se produziu no Magrebe. Desde 776, ibn Rustum tinha conseguido fun- dar em Tâhert um principado carijita de tendência iba- dita, unido por laços de amizade a outro principado cari- jita, mas sufrita, organizado em torno de Sidjilmâsa nos anos 770. No começo doséc. ix, Bagdade atribuiu a Ibrâhim ibn al-Aghlab, filho de um oficial jurassaniano, o emirado de Cairuão a título hereditário, mediante renda anual. Os Aglábidas organizaram a sua segurança restaurando fortalezas e construindo ribats, como o de Susa; com algum sucesso, tentaram manter o equilíbrio numa população em que se jus tapunham uma minoria árabe, sobretudo implantada em Cairuão, persas e numerosos berberes. Estes últimos, no Sul, deixavam-se seduzir de bom grado pelo carijismo, então em pleno desenvolvimento no Magrebe. Era, pois, todo um conjunto berbere e ibadita que envolvia o país aglábida, limitado à Ifriqiya. Finalmente, a Oeste, acentuando a fragmentação político-religiosa do Magrebe, um xiita escapado ao massacre de Fakhkh, Idris, tinha fundado em 788 um pequeno Estado, que se esbo- roou numa série de principados, notabilizado pela cidade de Fez, fundada em 808. Os Idríssidas não controlavam nem o Rife nem a planície atlântica. O Magrebe, entre o litoral do Mediterrâneo e a África Negra, desempenhava um papel de grande importância pelas suas relações comerciais e culturais quer com o Ocidente quer com as regiões sub-sarianas. Como os Romanos, os Vândalos e os Bizantinos antes deles, os Aglábidas desenvolveram uma activa política marítima que os levou a empreender, a partir de 827, a conquista da Sicilia. Este dinamismo mediterrânico era sustentado por uma próspera economia. O resto do Magrebe voltava as costas ao mar. Através do Sara, Tâhert tinha estabelecido, via Uargla, contactos com o Sudão e Gao, no vale do Niger. 146 O mundo muçulmano sob os Abássidas Aqui organizara-se, talvez desde o início do séc. rv, o reino do Gana, primeiro império da África Negra Ocidental, rico em ouro vindo das florestas meridionais. Tâhert servia assim de intermediário entre o Sudão e a Ifriqiya. Para além da fragmentação político-religiosa, uma forma de equilíbrio tinha-se pois instalado entre a zona interior ber- bere e ibadita, dominada pelo imã de Tâhert, e a Ifriqiya, fiel ao sunismo e ligada por mar à Sicilia e ao Oriente. O Ocidente muçulmano iniciava deste modo uma evo- lução absolutamente original, fora de qualquer controlo efectivo de Bagdade, com os Aglábidas dispondo, na prá- tica, de total independência. O mundo iraniano. Sobre o mundo iraniano, o cali- fado mantinha toda a sua autoridade, a despeito de várias revoltas, como a de Bâbak, no Azerbaijão, entre 816 e 838, ou a de Mazyâr, no Tabaristão, pouco depois. Entretanto, no princípio do séc. IX, várias famílias começavam a adqui- rir uma importância regional. Em 813, al-Ma'mün, para recompensar o seu general iraniano, Tâhir, nomeou-o governador do Jurassã onde, durante meio século, a famí- lia deste gozou de uma total independência. Do mesmo modo, Bagdade favoreceu a ascensão de uma família da aristocracia iraniana convertida ao islão, os Sâmâ-Khüdat, atribuindo-lhes postos importantes na Transoxiana, base da futura dinastia dos Samânidas. A eliminação, por Hârún al-Rashid, em condições ainda controversas, dos Barmácidas iranianos, explica, sem dúvida, que uma fracção da aristocracia persa tenha dado provas, a partir de então, de uma certa reserva. Viu-se, por vezes, na guerra civil que opôs os dois filhos de Hârún al-Rashid, uma confrontação entre Árabes e Iranianos, com estes últimos a apoiarem al-Ma'mün que sairia vitorioso. Na rea- lidade, foram as províncias orientais, nomeadamente o Jurassã, e não o Irão no seu todo, que alinharam por al- -Ma'mun, em quem viam o defensor das suas aspirações, contra al-Amin que tentava reforçar a posição do poder central. O triunfo de al-Ma'mün explica-se pelo apoio des- sas regiões que, desde a propaganda abássida no começo do séc. viu, eram zonas de intensa arabização e islamiza- ção. Na periferia oriental do Império acentuava-se a atrac- ção do mundo turco, onde o islão continuava a difundir- -se, veiculado pelos mercadores e pelos ghâzis, esses com- batentes voluntários da fé. Às portas da Transoxiana, as tribos carluques começavam a acolher a nova religião. Cada vez mais numerosos, os mercadores muçulmanos freqüentavam a capital dos Khazares, Itil, ao mesmo tempo que as conversões cresciam entre os Búlgaros do Volga. 147 Kuttab: ver p. 201. Awâsim: zona fronteiriça, apoia- da nas cidades que garantiam a protecção do Império (lite- ra lmente , «as protectoras»). No séc. X, a capital das Awâsim é Antioquia. Thughür: praças raianas, situa- das na vanguarda das Awâsim, numa espécie de no marís land. Verp. 120. Mameluco: escravo branco. Samarra: residência dos cali- fas abássidas de 836 a 883, si- tuada nas margens do Tigre a uma centena de quilómetros a montante de Bagdade. As terras centrais. A base territorial do califado conti- nuava a ser sobretudo a zona das primeiras conquistas, das terras centrais islâmicas - Iraque, Síria, Arábia, Egipto. Mas a calma estava longe de reinar aí. Revoltas xiitas per- turbavam o Irão e alastravam à Síria e à Arábia; mistura- vam-se com as confrontações entre tribos árabes, sempre graves na Síria, e com o conflito entre Árabes e Iranianos nos círculos que rodeavam o califa. No entanto, era lá que se encontrava o coração da vida económica e se forjava uma sociedade nova, urbana, dominada já não pela aris- tocracia beduína, mas pelos grandes mercadores e os kuttâb, portadores de uma nova cultura. Por aí também continuava a dar-se o encontro entre mundo muçulmano e mundo bizantino. De 775 a 809, foram retomadas as ofensivas muçulmanas - após o abran- damento que se seguiu à revolução abássida - , que se desenvolveram da Síria Setentrional à Armênia. Entretanto, já Hârün al-Rashid se preocupava menos com conquistas definitivas do que com o reforço da fronteira, que foi organizada em unidades autónomas: do Norte da Síria ao Eufrates, cidades fronteiriças protectoras constituíram a região dos Awâsim, precedida pela região dos Thughür con- tinuamente disputada. Esta consolidação mostrava-se tanto mais útil quanto a aliança dos Bizantinos com os Khazares alargava então as zonas de combate às regiões caucasia- nas. Entre estas, a Armênia era pouco segura: mantivera- -se profundamente cristã, apesar da presença de postos muçulmanos, mas retalhada em pequenos principados armênios rivais. Alcançaram-se êxitos notáveis, como a tomada de Amórion em 838, mas não tiveram seqüência. A grave derrota de um exército muçulmano na Ásia Menor em 863 já testemunha a eficácia da reorganização bizan- tina. Nesse mesmo período, embora independentemente de Bagdade, muçulmanos conseguiram, em 827, apoderar- -se de Creta, agravando a ameaça marítima contra Bizâncio. Foi nessas terras centrais que se manifestaram os pri- meiros elementos da crise que, em breve, iria abalar o poder. No decurso da guerra civil entre al-Ma'mün e al- -Amin, os dois filhos de Hârün al-Rashid, manifestara-se a necessidade de o califa dispor de uma força armada leal, que se mantivesse afastada das querelas religiosas. Osjuras- sanianos t inham demasiada consciência de terem sido os elementos determinantes da vitória para estarem segu- ros; homens do interior do Império eram muitas vezes parte interessada nos acontecimentos que aí se desenro- lavam, além de que os governadores taíridas começavam a monopolizar o seu recrutamento. O califa al-Mu'tasim (833-842) decidiu rodear-se de uma guarda mais segura, que escolheu entre os mamelucos, capturados em jovens na Ásia Central e nas estepes, e cuidadosamente educa- 148 O mundo muçulmano sob os Abássidas dos n u m a ortodoxia simples. Esta introdução dos Turcos nos meios do poder abriu, pelas suas conseqüências, uma nova etapa na historia do califado. A partir de 836, aliás, o califa, inquieto com a agitação em Bagdade, hostil a esses novos pretorianos,fez construir uma nova capital - Samarra. Assim, o ideal político islâmico de uma umma garan- t indo por si própr ia a defesa e a extensão do dâr al-islâm t inha fracassado, embora as tropas vindas do Jurassã tives- sem, durante os primeiros tempos da dinastia abássida, assegurado a substituição das forças sírias omíadas. Os mu- çulmanos acabaram por entregar essa tarefa a tropas recru- tadas fora do islão, mantidas nos limites da escravatura, fáceis de comprar e modelar . Mas o recurso ao recruta- mento servil significava a prazo a rup tura entre a socie- dade civil, forças militares e poder político. E nesta evo- lução, bem mais do que na emancipação das províncias, que se devem procurar as causas da derrocada do poder califal. Assim se explica o papel assumido, desde os anos 936-945, pelo comandante-chefe do exército. 2. O estilhaçar do Império e do poder califal (c. 850-c. 950) Além das múlt iplas per ipécias políticas, dois traços d o m i n a m este pe r íodo . Meio século após o Oc iden te muçulmano, o m u n d o iraniano inicia, por sua vez, a eman- cipação política. Entretanto, no coração do Império, desor- dens e crise económica provocadas pelo papel crescente dos Turcos conjugam-se para enfraquecer o califado abás- sida. Em meados do séc. x, não há um mas três califas no m u n d o muçu lmano e o poder do de Bagdade está sin- gularmente limitado pela presença, a seu lado, de um emir al-umarâ'. Emir al-umará: emir dos emi- res, título que designa o co- mandante-em-chefe do exér- cito. A partir de 936, os emir al-umará deixam de ser ex- clusivamente chefes militares para se tornarem chefes da ad- ministração civil e exercerem o poder efectivo. Ver pp. 155- -156. Fragmentação territorial do Império • O Magrebe. No Ocidente, prosseguiu inicialmente a evolução iniciada no primeiro século abássida. Os Aglábidas acentuaram os seus esforços no Mediterrâneo, j u n t a n d o às operações de conquista da Sicilia a assinatura de acor- dos comerc ia is com Amalfi e Gaeta . Os senhores de Sidjilmâsa voltavam-se para o Sudão e esboçavam uma par- t ic ipação n o comérc io t ransar iano . Só o emi rado de Ver m a p a p . 3 9 0 B . Mahdi: ver p. 106. Córdova se debatía com graves dificuldades, face ao desen- volvimento de forças centrífugas. Os pequenos Estados cristãos do Norte da Hispânia aproveitavam para se refor- çar e mesmo para se expandirem. Esta evolução foi bruscamente perturbada no inicio, do séc. X, pela instalação em Ifriqiya de uma dinastía xiita, cuja política imperialista afectou a maior parte do mundo muçulmano. Depois de ter derrubado, em poucos anos, os Aglábidas e os Rustémidas de Tâhert, Ubayd Allâh instalou-se em 910 em Ifriqiya com os títulos de emir al-mu'minin e de mahdi Fundava assim a dinastia e o califado dos Fatímidas - Ubayd pretendia, com efeito, descender de Ali e de Fátima. Ao mesmo tempo, os Fatímidas manifestam pre- tensões que ultrapassavam largamente o quadro do Magrebe Oriental, não passando a Ifriqiya da base de pre- paração de uma empresa mais vasta, que consistia em des- tronar os Omíadas de Córdova, os Abássidas de Bagdade e os imperadores de Constantinopla. Mas defrontaram-se com a hostilidade dos fuqahâ' de Cairuão, defensores do sunismo maliquita, e de toda uma parte do mundo ber- bere. Efectivamente, depois de terem falhado as primei- ras tentativas para conquistarem o Egipto, os Fatímidas decidiram conduzir primeiro a sua ofensiva contra Córdova, o que fizeram entre 915 e 920, uma vez assegurado o controlo sobre o essencial do Magrebe, graças à aliança com os Berberes Cutamas. A Sicilia foi igualmente ocu- pada. Mas a sua pesada política fiscal levantou contra eles uma parte do mundo berbere, sobretudo os Zanatas Ibaditas. Entre 943 e 947 estalou uma grande revolta, dirigida por Abü Yazid, à qual se j u n t o u Cairuão. Os Fatímidas triunfaram, mas as conseqüências foram impor- tantes. A leste, os Zanatas, que se mantiveram hostis após a der ro ta , passaram a constituir uma cort ina en t re a Ifriqiya e o resto da África. Os Fatímidas recuperaram o Magrebe Ocidental e uma nova actividade se desenvol- veu nos itinerários de Sidjilmasa para o Gana, dando aos Fatímidas o ouro necessário à ofensiva que preparavam contra o Oriente. Aproveitando uma crise económica, al-Mü'izz apodera-se do Egipto em 969, aí se instalando em 971. Desconfiando, por experiência, da Ifriqiya, entre- gou o país a governadores berberes, os Ziridas. Com Abderramão III (912-961), a Hispânia conheceu um perí- odo de apogeu. O emir, após ter conseguido unificar o país e rechaçar os perigosos avanços dos cristãos, assu- miu, por seu turno, o título califal em 929, em resposta às pretensões fatímidas. Desde então, é todo o conjunto do Ocidente muçul- mano que deixa de pertencer ao Império Abássida. 150 O mundo iraniano. No Irão, as forças separatistas desen- volviam-se igualmente. Os Taíridas foram eliminados do Jurassã em 873 pelos Safáridas, enquanto os Samânidas, sólidamente implantados na Transoxiana, se desenvolviam com plena autonomia, acabando, por sua vez, por suplan- tar os Safáridas. A diferença das dinastías ocidentais, os Samânidas não romperam com Bagdade e, por respeito ao título califal, contentaram-se em ser emires. As institu- ições abássidas foram conservadas, com uma nova termi- nologia. A possibilidade de utilizarem localmente os ren- dimentos da província favoreceu a sua expansão. O período samânida, que se prolongaria até ao fim do séc. X, foi o de um brilhante renascimento iraniano e de um grande incremento comercial. Sem hostilizarem o Iraque, os Samânidas preocuparam-se, de facto, com a tecedura de laços mais estreitos com o m u n d o turco envolvente: Carluques e Ghuz, que acabavam de aparecer junto ao mar de Arai, Khazares e Búlgaros do Volga. Penetração reli- giosa e expansão comercial caminhavam a par, e Bagdade não deixou de se preocupar com isso. Todavia, a pro- gressiva conversão dos nómadas turcos interditava, a longo prazo, qualquer guerra. Muitos foram então recrutados pelos Samânidas cujo exército, a princípio composto essen- cialmente de indígenas, foi assim infiltrado por esses mer- cenários turcos cuja docilidade nada tinha de exemplar. Expansão comercial, notável desenvolvimento de Bucara e acrescida pressão turca caracterizam, pois, o domínio dos Samânidas. Mas, a pouco e pouco, interpõe-se uma cortina entre eles e Bagdade com o desenvolvimento no Irão Ocidental de outro autonomismo - o dos Buidas. Descendentes de populações habitantes das montanhas do Daylam ganhas para o islão xiita, os Buidas tinham começado por se instalar no Irão Central, tendo um deles assumido em 940 o governo do Fars. Alargaram, depois, a respectiva autoridade para sudoeste, depressa se encon- trando em contacto com o Iraque, onde o califa era, há alguns anos, presa dos chefes militares. O centro do califado. No começo do séc. x, a autori- dade directa dos califas abássidas não se exercia senão no Iraque e na Mesopotâmia. Com efeito, também o Egipto saíra do controlo directo de Bagdade. De 868 a 905, foi dirigido pela dinastia dos Tulúnidas, nascida de um ofi- cial turco, que se tornara praticamente independente . Pouco depois, em 939, o país cai nas mãos de outro ofi- cial, conhecido pelo título turco de Ikhshid. Tulúnidas e Ikhshididas deram à sua província segurança e prosperi- dade, até à conquista dos Fatímidas. O abandono pelo califado do controle directo sobre o Egipto explica-se pelo desenvolvimento, no própr io O mundo muçulmano sob os Abássidas Ver mapa p. 387 D. 151 Iraque, de graves dificuldades ligadas, em grande parte, ao novo exército turco. A sua manutenção custava muito caro. Qatá'i: ver p. 105. Restavam poucas terras para conceder em qatai. Assim, diver-sas soluções foram adoptadas, como a nomeação de um chefe militar para a direcção de uma província - foi o caso de ibn Tülün no Egipto - , cujos rendimentos eram afectados em prioridade ao exército. Houve também a atribuição a ofici- ais, em regime de arrendamento, do imposto de uma região. Com efeito, se o Estado garantia geralmente por si próprio a cobrança dos tributos, noutros casos adquirira o hábito de recorrer a um rendeiro, que se encarregava de todas as ope- rações de colecta após ter entregue ao Estado a soma acor- dada. Vê-se, assim, aparecer uma nova forma de concessão: atribuiu-se a oficiais o imposto pago pelas terras de kharâdj de um distrito, ficando eles com o encargo de pagar os sol- dos das suas tropas. Esta concessão foi designada com o nome Sobre o iqtâ, verp. 180. de iqtâ'. Com ela eram transferidos para particulares os direi- tos anteriores do Estado. E certo que a terra não mudava de propriedade, mas os oficiais preocupavam-se mais com o aumento dos seus rendimentos do que em desenvolver a produção e não hesitavam em mudar de iqtâ'regularmente. As conseqüências sobre a vida rural foram graves e desen- volveram-se sobretudo a pardr do séc. XI. Os Turcos, forta- lecidos, intervieram cada vez mais na vida política, provo- cando inevitáveis conflitos com as populações indígenas, fazendo e desfazendo califas. Pela mesma época, desordens económicas abalaram o Irão. De 869 a 878, os Zandj, escra- vos negros utilizados nas plantações de cana-de-açúcar, revol- taram-se e, durante vários anos, perturbaram todas as rela- ções entre Bagdade e o golfo Pérsico. No final do séc. ix, outra revolta - a dos Carmatas de natureza religiosa, afec- tou, por sua vez, o Iraque e mesmo a Síria e a Mesopotâmia. Os Carmatas transferiram, em seguida, a sua actividade para o Bahrein, de onde continuaram a ameaçar as artérias vitais do califado. As repercussões sobre o comércio e a vida rural não podiam deixar de enfraquecer Bagdade. Os Bizantinos procuraram explorar estas dificuldades. Ver p. 120. Em 867, o imperador Basilio I começou a grande recon- quista, tentando controlar sistematicamente as rotas das invasões e alargar as suas f ronte i ras . Travado po r u m momento , no fim do séc. ix, pelas ameaças búlgaras e rus- sas que pesaram sobre Constantinopla, o movimento ofen- sivo amplificou-se a partir de 897 com uma tripla acção na Cilícia, Mesopotâmia e Armênia, onde os muçulmanos t inham organizado um reino autónomo em Ani. Melitene foi re tomada em 935. A ameaça bizantina facilitou o desenvolvimento na Síria do Norte e na Mesopotâmia de dinastias árabes. Assim cresceu a tribo dos Taghlibidas, de implantação pré-islâ- mica, dominada pelos Hamdânidas: na primeira metade 152 O m u n d o muçulmano sob os Abássidas do séc. x, controlavam toda a região de Mossul e cobiça- ram mesmo Bagdade. Um membro dessa família, Saif ad- Dawla, conquistou em 944 Alepo e .Homs, tendo o prin- cipado que f u n d o u bri lhado com u m vivo fulgor até à sua mor te em 967. Aspectos doutrinais I A fragmentação territorial do Impér io era reforçada no plano doutrinai por uma diferenciação acrescida entre sunismo e xiismo; o carijismo, por seu lado, deixava de desempenhar , fora do Magrebe, u m papel importante na evolução do m u n d o árabe. Os xiitas. O xiismo tinha começado por ser um movi- mento de contestação política dos califas n o poder e de reivindicação do imanado em exclusivo benefício dos des- cendentes de Ali. Foi a pouco e pouco explicitado como teoria ao mesmo tempo política e religiosa do poder . Mas as divergências genealógicas quanto à l inhagem dos imãs legítimos cristalizaram em três concepções do xiismo e do seu papel face às autoridades sunitas. Os Duodecimanos. As perseguições tinham contribuído para desenvolver, mais ou menos p ro fundamente , aspec- tos secretos, quando não esotéricos, acerca do tema do imã oculto, cujo regresso se esperava. Tais aspectos eram já claramente detectáveis entre os Alidas que, após a morte de Dja'far em 765, t inham admitido a sucessão dos imãs por Musa. Houvera, para eles, um imã até 878, data em que mor reu mister iosamente o décimo segundo desses guias, Muhammad. Os Alidas admitiram que a desapari- ção era temporária: o imã oculto voltaria no fim dos tem- pos para restabelecer a verdade e a justiça. Foi o início da «ocultação». Esta favoreceu uma certa passividade entre os que mais tarde viriam a ser chamados os Duodecimanos ou Imanitas: sem imã, na incerteza quanto à data do seu regresso, eles abstiveram-se desde então de qualquer acção violenta. A admissão do princípio da takiya permitiu-lhes tomarem parte na vida política e religiosa do m u n d o abás- sida, dado que o imanismo estava mui to espalhado n o Iraque, onde ganhou numerosos adeptos nos meios indis- pensáveis ao func ionamento do aparelho governamental . Conquis tou t ambém o Irão Ocidental : os Buidas e ram duodecimanos, à semelhança de certos meios árabes da Síria, como os Hamdânidas . Os Ismaelianos. A moderação, assente na expectativa e na prudência, dos Duodecimanos não se encontrava nos Ismaelianos. Para estes, o último imã visível e legítimo era Verp. 144. Takiya: para os xiitas, dissi- mulação, por prudência, das respectivas crenças. 153 Da'i (pl. du'át): «o que ape- la». Designa os propagandis- tas duma doutrina. Verfi. 143. Ismael, bruscamente subtraído ao mundo. Mas enquanto se aguardava o seu regresso como mahdi, podiam revelar- l e imãs - de ascendência, por vezes, pouco clara - a alguns iniciados, mantendo assim pequenos agrupamentos. Mal conhecido nos seus primeiros desenvolvimentos e muito complexo na sua doutrina, o movimento ismaeliano era sustentado por organizações secretas de missionários ou du 'ât, que asseguravam uma propaganda freqüentemente eficaz. Assim, no final do séc. ix a doutrina ismaeliana encarnou-se em dois movimentos: os Carmatas, que per- turbavam a vida do Iraque, e, sobretudo, os Fatímidas de Ifriqiya. Ubayd Allah fora precedido no Magrebe por um da'i e os califas, que se instalaram numa residência signi- ficativamente chamada al-Mahdiya, consideravam-se os esperados mahdís. Os Zaiditas. Sejam Duodecimanos ou Ismaelianos, os xiitas caracterizam-se pelo lugar concedido ao imã. Efectivamente, para eles, a missão profética de Maomé prolonga-se no imanado, cujos titulares, depositários da Lei, são os únicos capazes de a interpretar. Mas uma ter- ceira corrente afasta-se desta teoria. Os Zaiditas - do nome de dois descendentes de Ali que se chamavam Zaid (o filho de Hassan e o neto de Hussein) - recusam-se a reconhe- cer uma única linha hereditária de imãs impecáveis e infa- líveis. Para eles, qualquer descendente de Ali e dos seus filhos se pode tornar imã, contanto que se imponha pelas suas qualidades. Próximo da mentalidade e da doutrina sunita, o zaidismo serviu de quadro a movimentos de auto- nomia regional ou a revoltas sociais. Em 864, um grupo conseguiu implantar-se no Tabaristão à volta de um imã descendente de Hassan. Em 901, um segundo grupo enrai- zava-se no Iémen, onde uma dinastia local, que invocava uma descendência hassânida, se manteve até 1962. O sunismo. O sunismo esforçou-se por resistir ao xiismo, rejeitando na medida do possível qualquer inovação, a priori susceptível de heterodoxia. No domínio jurídico, o sunismo definiu-se pela adop- ção dos quatro sistemas que tinham sido elaborados no séc. viu. Assim chegava ao termo o esforço de reflexão que até então caracterizara o islão. Perante a multiplicação de idéias, por vezes divergentes, que resultavam da prática do idjtihâd, começou a impor-se a concepção de que as ques- tões essenciais estavam colocadas e já tinham recebido res- postas e soluções definitivas. Toda a actividade no domínio jurídico serestringiu à explicação e à aplicação da doutrina estabelecida de uma vez por todas, com as suas quatro vari- antes possíveis. Divulgaram-se tratados para conciliar a pres- crição do direito e a prática efectiva e, nos casos difíceis, 154 consultavam-se jurisconsultos: os muftis. Esta atitude cul- minaria, no séc. XI, no «fecho das portas do idjtihâd», segundo a expressão tradicional: a prática da interpretação pessoal é então substituída pela imitação dos antigos. No domínio doutrinai , o sunismo definiu-se pela ade- são a um certo n ú m e r o de teses teológicas entre tanto for- muladas. Ao lado das posições bastante fideístas de Ibn Hanbal, que se t inha mostrado hostil ao uso de todo o raciocínio dialéctico, Ash'ari (874-955) lançou as bases de uma teologia quase oficial do sunismo, admitindo o recurso à discussão e ao raciocínio para convencer o adversário. A mesma inquietação face ao mais pequeno risco de he terodoxia conduziu os meios sunitas a considerarem com suspeição correntes religiosas mais originais que então se revelavam. Tendências ascéticas manifestavam-se desde o séc. VIII em certos meios muçulmanos, combinando-se com formas de misticismo; os sufis caracterizavam-se então, sobretudo, por u m ideal de vida. O exame de consciên- cia, a medi tação pro longada , as práticas ascéticas não t inham ainda nada que fosse susceptível de chocar. Mas nos sécs. IX e x os sufis começaram a ter u m a linguagem nova, abr indo caminho à busca do amor divino. Os pro- pósitos quase extáticos de homens como al-Hallâdj inquie- taram os meios oficiais. A condenação de al-Hallâdj e a sua crucificação em 922 t es temunham essa inquietação do sunismo peran te as inovações e mostram como, no islão, a vida espiritual estava ligada à vida política e social. O mundo muçulmano sob os Abássidas Sufis: místicos (de suf: lã) Instabilidade política • Os elementos de crise eram, portanto, múltiplos: eman- cipação das províncias, desordens económicas, progresso do xiismo explicam a instabilidade que caracteriza este s egundo século abássida. Em 861, o assassínio de al- -Mutawwakil marcou o início de um per íodo de anarquia, durante o qual os guardas turcos que controlavam Samarra ergueram e derrubaram califas a seu bel-prazer, ao mesmo t e m p o que os Zand j se revoltavam, e que Safáridas e Tulúnidas se emancipavam. No califado de al-Mu'tamid, seu i rmão al-Muwaffaq, ac tuando d u r a n t e vinte anos como verdade i ro regente , manteve a au to r idade do califa que, em 892, se reins- talou em Bagdade. En t re t an to , acentuava-se o esgota- m e n t o do Tesouro , os Carmatas agravavam a situação e os militares assumiam crescente importância . A situação geral p io rou a par t i r de 908. Os Hamdân idas dificulta- vam o abas tec imento da capital. Insti tuíram-se os cali- fados de Ifriqiya e da Hispânia. Os califas abássidas (cont. da p. 162) al-Muntasir (861-862) al-Musta'in (862-866) al-Mu'tazz (866-869) al-Muhtadi (869-870) al-Mu'tamid (870-892) al-Mu'tadid (892-902) al-Muktafil (902-908) al-Muqtadir (908-932) al-Qâhir (932-934) al-Râdi (934-940) al-Muttaqi (940-944) al-Mustakfi (944-946) A explicação de texto proposta pp. 17-19 uma boa ilustração desta evolução. 155 Emir al-umará: ver p. 149. Em 936, o governador do Iraque, Ibn Rá'iq, recebeu, com o cargo de emir al-umarâ' (comandante-chefe do exér- cito) , a responsabilidade pela administração financeira e a manutenção da o rdem n o conjunto do Império. Este facto é novo. Assinala ni t idamente o poder do elemento militar na corte e sublinha a decadência do califado, desde então limitado a funções religiosas e representativas. Durante uma dezena de anos, diversos governadores ocuparam esse posto, n u m a desordem crescente. Mas, em 945, o título de emir al-umarâ'foi assumido por um buida que t inha conseguido entrar em Bagdade. A situação, em si, não parecia nova, com a diferença, importante, de que os Buidas eram xiitas e que o seu poder se estendia não só sobre o Iraque mas também sobre o Irão Ocidental. U m novo conjunto territorial era assim criado. 3. Novos conjuntos territoriais e preponderância xiita (cerca de 950-1050) Em meados do séc. x j á não existia um verdadei ro Império Abássida. Os vários territórios que o compunham tinham-se emancipado em graus diversos. O próprio califa estava sob tutela e o seu poder era negado por dois rivais. Mas a preponderância xiita e as divisões do m u n d o muçul- mano suscitavam a pouco e pouco uma aspiração à uni- dade e ao restabelecimento da ortodoxia. • Os Buidas Organização. A entrada dos Buidas em Bagdade marca o princípio de u m regime que durou até 1055. Não ten- taram perseguir os sunitas nem estabelecer um califado alida, tanto por doutr ina - o último imã t inha desapare- cido - como por realismo: as regiões que controlavam eram ni t idamente de dominante sunita. Uma espécie de condomínio foi assim estabelecido entre Abássidas e Buidas, que de t inham a realidade do poder . Todos os órgãos governamentais ficaram na depen- dência do emir, a começar pelo vizir. O califa apenas man- teve um papel representativo, controlando mais ou menos a vida religiosa e jurídica. O emir ficou com a responsa- bilidade dos soldos e vencimentos, tornando-se a outorga 156 do iqtâ' sistemática no Iraque. Entretanto, qualquer que tenha então sido a importância do exército, os Buidas sou- beram conservar toda a sua autor idade sobre os chefes militares. Preocuparam-se em recuperar os sistemas de irrigação, as estradas, as pontes, gravemente danificadas na época p receden te , construí ram palacios, acolheram liberalmente homens de letras e de ciência. Fraquezas. Mas o seu regime apresentava demasiadas fraquezas. O contexto da época j á não era favorável ao Iraque, de onde se desviavam a pouco e pouco os gran- des itinerários comerciais: o comércio do oceano índico passava cada vez mais pelo mar Vermelho - tendência que os Fatímidas encorajavam - e as relações entre a Meso- potâmia e a Síria e ram afectadas pelas guerras que se desenrolavam na Siria entre Bizantinos e Fatímidas. Estas modificações económicas afectaram os mercadores, mas também as receitas do Estado. O exército, base do regime, contribuiu igualmente para o enfraquecer . Consciente da sua posição, abusou dela. Por out ro lado, a t ropa compreendia , a par dos daylami- tas, turcos em número crescente. As oposições étnicas jun- taram-se oposições religiosas, j á que os Turcos eram suni- tas. O encorajamento dado pelos Buidas a práticas culturais xiitas, a celebração de festas, a construção de mausoléus provocaram tensões com os sunitas. Além disso, o poder buida per tenceu inicialmente a três irmãos cuja sucessão implicou numerosas lutas intestinas. A concepção fami- liar do poder própr ia do regime buida era favorável ao desenvolvimento de tumultos, numerosos em Bagdade, onde se manifestavam os ayyârün. O declínio do poder io buida e o clima de insegurança possibilitaram u m a ligeira recuperação do poder califal no começo do séc. xi. Esta tentativa manifestou-se desig- nadamen te pela restauração do sunismo em Bagdade e achou a sua expressão na redacção, pelo grande cádi al- -Mawardi (falecido em 1058), dos Estatutos Governamentais, nos quais definiu com precisão os diferentes aspectos da função califal. Se é indubitável que o califa não dispunha, no começo do séc. xi, dos meios materiais para readqui- rir o seu poder , ele podia ao menos aspirar a um novo protector mais or todoxo e também mais eficaz em rela- ção aos Fatímidas. O mundo muçulmano sob os Abássidas Sobre o sistema do iqtâ', ver p. 152. Ayyârun: ver p. 203. Os Fatímidas ü Eles fizeram do Egipto a verdadeira potência do mundo arábico-muçulmano. Logoa seguir à conquista, fundaram uma nova capital, al-Qâhira (o Cairo), e a Mesquita de al- 157 Geniza: te rmo hebraico, de- signando um lugar onde es- tavam depositados os escritos em hebreu susceptíveis de con- ter o nome de Deus. Trata-se, neste caso, do arquivo de uma sinagoga. Ver p. 119. -Azhar. O seu objectivo era o estabelecimento do xiismo no mundo muçulmano pela eliminação do califado abás- sida de Bagdade, o que determinou neles um verdadeiro imperialismo. Embora xiitas, os Buidas não reconhece- ram as suas pretensões. Procedente do Cairo, um verdadeiro exército de mis- sionários, dirigidos por um dâ'i al-du'ât, esforçou-se, no mundo abássida, por convencer os sunitas e unir os xii- tas. No próprio Egipto, os Fatímidas deram, entretanto, provas de realismo. A sua atitude para com os sunitas osci- lou entre a tolerância e a perseguição. Os cristãos parti- cipavam na vida económica do país e ocupavam altas fun- ções. O mesmo se passava com os judeus, como o atestam, no que respeita às suas actividades bancárias, os documen- tos encontrados na Geniza do Cairo. Expansão. A expansão territorial foi igualmente uma preocupação dos Fatímidas. Entre 970-971 colocaram sob seu controle Meca e Medina. Mas a grande questão era sobretudo a dominação da Síria, que se interpunha entre eles e Bagdade. Em 970, conseguiram ocupar Damasco, mas defrontaram-se com a reconquista bizantina, ani- mada especialmente por João Tzimístis, e com as divi- sões árabes. Na África do Norte, t inham praticamente renunciado a qualquer expansão, deixando a Ifriqiya aos Ziridas que romperam com eles em 1051. Conseguiram estabelecer ind i rec tamente a sua au tor idade sobre o Iémen. Mas, em definitivo, os sucessos alcançados foram modestos. Desenvolvimento económico do Egipto. O Egipto, que constituiu, portanto, o essencial do seu domínio, conhe- ceu então um desenvolvimento comercial absolutamente notável, j á esboçado no tempo dos Tulúnidas e dos Ikhshididas. Produções agrícolas abundantes e variadas, alimentares e industriais, permitiam a exportação. Desen- volveram-se os diferentes sectores do artesanato e uma rede de relações comerciais uniu o Egipto à índia, à Sicilia e à Península Ibérica, e sobretudo às cidades marítimas de Itália, nomeadamente Pisa e Amalfi. Alexandria tor- nou-se um dos maiores portos do Mediterrâneo. As circunstâncias exteriores eram favoráveis a esta expansão. O comércio pelas rotas caravaneiras das este- pes e da Ásia Central começava a sofrer com as desloca- ções dos povos turcos. O comércio oriental preferia, assim, os itinerários marítimos. A via do golfo Pérsico tornara- -se menos segura, tanto na própria navegação, ameaçada pelos piratas, como nas estradas que dele partiam para o Iraque e a Mesopotâmia. Os Fatímidas souberam explo- rar esta situação. 158 O m u n d o muçulmano sob os Abássidas Administração. No interior do pais, foi rapidamente instalada uma administração centralizada, hierarquizada, com um vizir que era, antes de mais, um agente executor da vontade do califa. A instabilidade é a grande caracte- rística do vizirado fatímida. A sucessão califal resultava normalmente de uma designação expressa do predeces- sor em favor de um dos seus parentes próximos - mas não necessariamente do filho mais velho - , tendo este sistema funcionado regularmente, sem levantar objecções sérias, até ao fim do séc. xi. O enfraquecimento. Um exército rodeava os califas. Compunham-no Berberes, aos quais se juntaram poste- riormente Turcos, Daylamitas, Negros. A semelhança do exército dos Buidas, os conflitos internos assumiram o aspecto de verdadeiras rivalidades étnicas e foram larga- mente responsáveis pelo enfraquecimento do poderio fatí- mida. Insuficientes cheias do Nilo provocaram situações de penúria geradoras de convulsões sociais em 1024-1025, 1054-1055 e em 1065-1072. Manifestaram-se também agi- tações religiosas no califado de al-Hâkim, o único califa a seguir uma política de rigorosa ortodoxia xiita, acom- panhada por uma perseguição dos cristãos. Ele esteve na origem da destruição da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém. Aquando da sua morte, alguns quiseram fazer admitir a sua divindade e estiveram na origem da seita dos Druzos. As dificuldades foram tais que, em 1073, o califa teve de fazer apelo ao comandante das tropas da Síria - Badr, um antigo escravo armênio - , ao qual concedeu o título de chefe dos exércitos, director dos missionários e vizir. A sua rigorosa política interna permitiu consolidar o regime fatímida. A partir dessa época, os vizires asseguraram a maior parte das funções de autoridade e de governo. Mas o califado fatímida encaminhava-se, por entre perturba- ções várias, para o seu fim, apressado pela sua impotên- cia na luta contra os Cruzados e, mais ainda, pelo resta- belecimento da ortodoxia sunita no Próximo Oriente. Para aprofundar este capítulo Além dos manuais gerais citados nas págs. 13-14, deve- rão ser utilizadas as indicações bibliográficas de C. CAHEN, Introduction..., pp. 131-132 (cit. pág. 12), e os artigos da E. I./2 (cit. pág. 12) referentes às diversas dinastias: Abás- sidas, Buidas, Fatímidas, etc... 159 Sobre o califado abássida: os trabalhos recentes mais importantes são em inglês: M. A. SHABAN, citado na pág. 13; J. LASSNER, The Shaping of Abbâssid Rule, Princeton Univ. Press, 1980; R. MOTTAHEDEH, Loyalty and Leadership inEarly Islamic Society, Princeton Univ. Press, 1980; H. KENNEDY, The Early Abbâssid Caliphate. A Political History, Londres, 1981; P. CRONE, M. HLNDS, God's Caliph. Religious Authority in the First Centuries of Islam, Cambridge Univ. Press, 1986. O mesmo se passa quanto ao estudo do exército e do seu papel político: P. CRONE, Slaves on Horses. The Evolution of the Islamic Polity, Cambridge, 1980; D. PIPES, Slaves Soldiers and Islam: the Genesis of a Military System, Yale Univ. Press, 1 9 8 1 . Sobre a administração abássida: deverão consultar-se os numerosos artigos da E. I./2 (cit. pág. 12): Bayt al-mâl, Diwân, Iktâ, Kâtib, etc., assim como os trabalhos de D. SOUR- DEL, Le Vizirat à l'époque abbâsside, 2 vols., Damasco, 1959- -1960; e Gouvernement et administration dans 1'Orient islami- que jusqu'au milieu du XIe siècle, Leyde, 1988. Sobre os aspectos regionais: a bibliografia é muito abundante. Refiram-se em primeiro lugar os artigos da E. I./2 (cit. pág. 12): Andalus, Ifriqiya, Irán, etc., e as obras citadas na pág. 14. Entre os trabalhos recentes, quanto ao Irão, E. L. DANIEL, The Political and Social History of Khurâsân under Abbâssid Rule: 748-829, Minneapolis-Chicago, 1979; R. W . BULLIET, The Patricians of Nishapur. A Study in medie- val islamic social History, Cambridge, Mass., 1972; assim como os artigos, em francês, de M. REKAYA, sobre os movi- mentos revoltosos (em Studia Iranica, 1973, Rivista degli Studi Orientali, 1973-1974, Studia Islamica, 1984). Quanto à Ifriqiya: M. TALBI, L'Emirat aghlabide, Paris, 1966. Quanto à Hispânia: P. GUICHARD, Structures orientales et occidentales dans 1'Espagne musulmane, Paris, 1977; R . BARRAI, Cristianos y Musulmanes en la España medieval (El enemigo en el espejo), Madrid, 1984; Th. GLICK, Islamic and Christian Spain in the Early Middle Ages, Princeton, 1979. Quanto ao Egipto: o estudo de Th. BlANQUIS sobre Al-Hâkim em Les Africains, t. XI, Paris, 1978, e vários artigos (em Annales Islamologiques, 1972, Journal of the Economic and Social History of the Orient, 1980, entre outros). Sobre a Síria: a tese de Th. BlANQUIS, cuja publicação está em curso no Instituto Francês de Damasco. Sobre as relações com Bizâncio: ver as indicações gerais da pág. 14 e, ainda, W. FÉLIX, Byzanz und die islamische Welt in fruheren 11 Jahrhundert, Viena, 1981, e Y. LEV, «The Fatimid Navy, Byzantiumand the Mediterranean Sea, 909- -1036», Byzantion, 1984.
Compartilhar