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resenha das 3 ecologias

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20 DE MAR DE 2010
Resenha: As Três Ecologias de Félix Guatari
[Juliana Veiga *]
O autor inicia o livro narrando sobre as intensas transformações técnico-científicas do Planeta Terra que acabam por engendrar fenômenos de desequilíbrios ecológicos. Ao mesmo tempo os modos de vida individuais e coletivos se encaminham para uma padronização dos comportamentos, como ele cita. Além de que “a vida doméstica vem sendo gangrenada pelo consumo da mídia”.
Para a mudança desse quadro, Guattari propõe a articulação ético-política, que ele chama de ecosofia, entre o que seriam os “três registros ecológicos”: o do meio ambiente, o das relações sociais e o da subjetividade humana. Para ele, o que está em questão é a maneira de se viver no planeta daqui em diante.
A resposta a essa crise ecológica viria da revolução política, social e cultural. “Essa revolução deverá concernir, portanto, não só às relações de forças visíveis em grande escala mas também aos domínios moleculares de sensibilidade, de inteligência e de desejo”, ou seja, de subjetividade.
Porém, os Estados se impõem cada vez menos como instâncias mediadoras, se colocando a serviço do “mercado mundial e dos complexos militar-industriais”.
Dessa maneira, o paradoxo está instalado: de um lado, o desenvolvimento de meios técnico-científicos com potencial de resolver e reequilibrar as problemáticas ecológicas dominantes, e de outro, a incapacidade das forças sociais e, portanto, subjetivas de se apropriar desses meios para torná-los positivos, funcionais, ou operativos como coloca o autor.
Apesar disso, alguns fatos nos levam a pensar que transformações estão em curso. Guattari dá o exemplo da designação de mulheres para cargos de chefia e reivindicação de paridade homem-mulher nas instâncias representativas.
“A nova referência ecosófica indica linhas de recomposição das práxis humanas nos mais variados domínios (...) Trata-se, a cada vez, de se debruçar sobre o que poderiam ser os dispositivos de produção de subjetividade, indo no sentido de uma re-singularização individual e/ou coletiva, ao invés de ir no sentido de uma usinagem pela mídia, sinônimo de desolação e desespero”.
Isso significa dizer que a ecosofia social se constitui a partir do desenvolvimento de práticas específicas que modifiquem e reinventem maneiras de ser no que diz respeito à família, ao casal, ao contexto urbano, ao trabalho, etc. Um casal não é mais necessariamente composto por homem e mulher, uma família não é necessariamente composta por filhos biológicos.
Ou seja, é inconcebível querer aplicar as mesmas fórmulas do passado numa sociedade que, ao contrário, deve se reinventar conforme as demandas e subjetividades de sua época.
Nesse domínio, o autor comenta: “Não nos ateríamos às recomendações gerais mas faríamos funcionar práticas efetivas de experimentação tanto nos níveis microssociais quanto em escalas institucionais maiores.” Entendo níveis microssociais como “locais de atuação” dos grupos sociais, como a família, a escola, a igreja, os espaços culturais. Escalas institucionais maiores seria basicamente o Estado e suas formas de poder.
Aqui entendo que o autor propõe agir nas brechas, partindo de uma micropolítica (escola, família, espaços culturais, etc) para reinventar a macropolítica e suas formas de engendrar o poder.
O autor sugere falar em componentes de subjetivação ao invés de sujeito, para reexaminar a interioridade do indivíduo que se dá no “cruzamento de múltiplos componentes relativamente autônomos uns em relação aos outros e, se for o caso, francamente discordantes”. Ou seja, essa interioridade é composta por antagonismos que não são necessariamente complementares.
Sobre a psicanálise, Guattari fala da importância de seus “fantasmas” serem desmascarados no sentido de uma não sustentação das nossas maneiras de pensar a sexualidade, a infância, a neurose. A questão colocada por ele é de re-orientar esses conceitos e práticas para dar-lhes outro uso, desenraizando-os de suas fórmulas prontas, deterministas, enfim, dos estereótipos e repetições “congeladas”.
E para isso, ele cita a “lógica das intensidades ou a eco-lógica”, em oposição à lógica dos conjuntos discursivos, que leva em conta o processo de “se pôr a ser”, o movimento; rompendo com o que é totalizante, pondo-se a trabalhar por conta própria. É algo que se coloca atravessado à ordem “normal” das coisas.
O que o autor chama de Capitalismo Mundial Integrado (CMI) tende, cada vez mais, em tirar seu foco de poder das estruturas de produção de bens e serviços para as estruturas que produzem signos; subjetividade. É a produção de subjetividade por intermédio da mídia, da publicidade.
A questão que se coloca para o futuro é a de cultivar a produção singular da existência, ou o que ele chama de dissenso. Ou seja, o cultivo da diferença como algo positivo e tpossível. É a partir daí que devem surgir frentes heterogêneas para articular as novas práticas ecológicas, ou seja, micropolíticas e microssociais.
O que Guattari propõe é fazer com que a singularidade, a exceção, a raridade funcionem junto com uma ordem estatal o menos pesada possível. A eco-lógica não se propõe resolver os contrários, mas os coloca em luta.
“Essa nova lógica ecosófica, volto a sublinhar, se aparenta à do artista que pode ser levado a remanejar sua obra a partir da intrusão de um detalhe acidental, de um acontecimento-incidente que repentinamente faz bifurcar seu projeto inicial, para fazê-lo derivar longe das perspectivas anteriores mais seguras.”
É a possibilidade da mudança, do fazer diferente, do re-significar, que permite o não-engessamento das práticas culturais.
* Mestranda em Cultura e Territorialidade na UFF
Texto escrito em 2009, na graduação em Produção Cultural UFF.
Neste livro Félix Guattari analisa a crise que o planeta terra está mergulhado e que afeta diretamente o que denominou como os três registros ecológicos (a subjetividade  humana, as relações sociais e a natureza).
      Sua preocupação centra-se na perda da subjetividade (singularidade ou alteridade), ou seja, naquilo que confere ao homem, em suas palavras, a sua aspereza, "a consciência do seu estar" dentro de sua comunidade e do planeta. Esta singularidade, a partir da qual poderá ocorrer todo o processo de uma re-invenção, de uma re-singularização, de uma reconstrução de todas as práxis humanas nos mais variados domínios, está sendo laminada, homogeneizada pelo Capitalismo Mundial Integrado (CMI). Neste sentido, para ele, a alteridade está perdendo toda a aspereza, o turismo, por exemplo, se resume quase sempre a uma viagem sem sair do lugar, no seio das mesmas redundâncias de imagens e de comportamentos.
      Envolto por esta implosão de significados, situa-se o homem-indivíduo, o não sujeito, que se deixa levar pela razão funcional e instrumental do sistema, que não pensa nas conseqüências de seus atos para si próprio e para os outros homens e, muito menos, para a natureza. Sacrifica-se, portanto, em prol a um movimento sem sentido.
      Analisa que apesar das transformações técnicas científicas poderem auxiliar na recomposição das práxis humanas, estes meios, estão à mercê do CMI. Portanto, estas transformações técnicas científicas, servem apenas para lançar milhões de pessoas para a pobreza e marginalidade, fomentando os processos deteriorativos da democracia e liberdade. Desta forma, a razão funcional ou instrumental empurra blocos inteiros de subjetividade, milhares de pessoas sem nomes (issos), descartáveis, em direção a falsos territórios existenciais, engendrando-as em movimentos racistas e fascistas ou de integrismo religioso, que apresentam, a cada ano, mais e mais adeptos.
      Um exemplo deste desvairo funcional foi o atentado à bomba às torres gêmeas, nos EUA. Através deste acontecimento os Estados Unidos da América pode apreciar e saborear numa encenação midiática planetária, às custas de vidas perdidas e do medo, os loucos objetivos da razão funcional, ou seja, o seupróprio veneno. Assim, tudo foi encenado e organizado milimétricamente através da mais alta tecnologia para gerar a morte, a dor, o desespero, a impotência diante da realidade.
      Desta forma, para o autor, a valorização de todas as atividades humana está à mercê do mercado. Nada é pensado em favor a uma tomada de consciência, que provoque uma re-significação humana em seus mais variados campos de atuação. Pelo contrário, a resposta ocorre sempre e através das mesmas posturas desvairadas, produtoras de mais destruição, como por exemplo, a repressão policial.
      Apesar desta perda de subjetividade, desta desterritorialização coletiva e de uma falsa recomposição territorial, ressalta, sem transparecer, mas, em tom dialético, que essa fase está sendo levada a entrar em um período de declínio. Desta maneira, afirma que por toda parte surgem reivindicações de singularidade; os sinais mais evidentes a esse respeito residem na multiplicação das reivindicações nacionalistas, ontem ainda marginais, que ocupam cada vez mais o primeiro plano das cenas políticas.
      Portanto, analisa que esta problemática ecológica, que envolve o que ele denomina como as três ecologias (a da subjetividade humana, das relações sociais e a do meio ambiente), poderá abarcar as lutas de classes, a luta feminista, a luta em defesa do meio ambiente, os antagonismos entre os pólos norte-sul, e muitos outros conflitos, pois, não há meios de compreender estes fatos através de análises maniqueístas, onde pretensas ideologias, inclusive a cientifica, intitulam-se ou colocam-se como donas de uma verdade quase metafísica, ou seja, pronta e acabada.
      Também para Félix Guattari, não há maneiras de compreender e sanar esta crise somente pela ótica tecnocrática, como postulam as formações políticas e as instâncias executivas. Não são simplesmente ajustes no modelo de produção vigente que farão este processo crítico findar, como pensam os adeptos do desenvolvimento sustentável.  Para ele, uma maneira de compreender a complexidade desta crise é através de uma articulação ético-política, que denominou como ecosofia, entre estes três registros ecológicos.
      Desta forma, a problemática planetária é, portanto, complexa e multipolar. Ao seu ver, a ecosofia social consistirá, portanto, em desenvolver práticas específicas que tendam a modificar e a reinventar maneiras de ser no seio do casal, da família, do contexto urbano, do trabalho. Afirma que não adianta respondermos a esta destruição subjetiva/coletiva através de fórmulas ou práticas anteriores. Torna-se necessário vislumbrar práticas efetivas de experimentação, tanto em níveis microssociais quanto em escalas institucionais maiores, o agir localmente pensando globalmente. Um dos mecanismos de ação em educação que visa re-inventar estas modalidades do ser subjetivo/coletivo, permitindo o agir localmente pensando globalmente, sem dúvida nenhuma, é através da pesquisa-ação-participativa.
      Por sua vez, aponta que a ecosofia mental será levada a reinventar a relação do sujeito com o corpo, com o inconsciente, com o tempo que passa, com os "mistérios" da vida e da morte.
      Desta maneira, para ele, está ocorrendo uma mudança drástica naquilo que chamamos de conhecimento. Processo este que só está sendo possível devido à apropriação crítica do paradigma cientifico, ocasionado, principalmente, pela física quântica. Portanto, abriu-se um amplo espaço para as discussões e as interpretações dos fenômenos, que vem contribuindo decisivamente para reavivar o exercício do espírito subjetivo, que ele denominou comoestético, através do que seja: a construção democrática do conhecimento. Conforme afirma Félix Guattari: "...Sua maneira de operar irá  se aproximar mais daquela do artista do que a dos outros profissionais "psi", sempre assombrados por um ideal caduco de cientificidade" (p.16).
      A partir destas primeiras considerações, Félix Guattari busca analisar as implicações de uma perspectiva ecosófica sobre a concepção da subjetividade. Deste modo, primeiramente, define o que seja sujeito e como este se diferencia do ser proposto por Descartes e do indivíduo. O sujeito, em suas palavras, advém no momento em que o pensamento se obstina a apreender a si mesmo e se põe a girar como um pião enlouquecido, sem enganchar em nada dos territórios reais da existência. De acordo com este argumento, percebe-se que o sujeito se realiza a partir do momento em que se liberta dos maniqueísmos, das ideologias, propondo novas formas de analisar, de estar no mundo, ou seja, de se construir continuamente. Não é levado a se acomodar diante de uma pretensa ideologia, pelo contrário, vai a busca de sua reinvenção, de sua re-interpretação.
      Salienta, que ao invés de sujeito, esta forma de se colocar no mundo, de exercer seu estar aqui, poderia ser denominado de componentes de subjetivação, o que, por sua vez, transmite a idéia de unidade/totalidade e movimento. Esta subjetividade, no contexto, trocada pelo termo interioridade, instaura-se na percepção desta perspectiva ecosófica, ou seja, o da complexidade dos múltiplos componentes que compõe o todo. Já o indivíduo, encontra-se, segundo o autor, em posição "terminal" com respeito aos processos que implicam grupos humanos, conjuntos sócios-econômicos, máquinas informacionais, etc. 
      Mas, por outro lado, analisa que este argumento, que deposita sua possibilidade de realização na subjetividade, trazendo assim, uma mudança na perspectiva de compreender e intervir na problemática mundial de forma consciente, é ainda mal vista, principalmente, pelos defensores dos paradigmas pseudocientíficos, relacionados às ciências duras. Salienta que para estes, tudo se passa como se um superego cientista exigisse reificar as entidades psíquicas e impusesse que só fossem apreendidas através de coordenadas extrínsecas.
      Em tais condições, salienta que não é de se espantar que as ciências humanas e as ciências sociais tenham se condenado por si mesmas a deixar escapar as dimensões intrinsecamente evolutivas, criativas e autoposicionantes dos processos de subjetivação. O que quer que seja, ao seu ver, torna-se necessário e urgente desfazer-se de todas as referências e metáforas cientificistas para forjar novos paradigmas que serão, de preferência, de inspiração ético-estéticas. Assim, a apreensão de um fato psíquico torna-se inseparável do agenciamento de enunciação que lhe faz tomar corpo, como fato e como processo expressivo.
      Não há meios de entendê-los, fora da complexidade, que seja, de uma interpretação que leve em conta as inúmeras formas de interpretação da realidade, como ele mesmo afirma, em tom poético: impõe-se que não se possa prescindir de um desvio pseudonarrativo, por intermédio de mitos de referência, de rituais de toda natureza, de descrições com pretensão científica, que terão como finalidade circunscrever uma encenação dis-posicional, um dar a existir, autorizando em "segundo" lugar uma inteligibilidade discursiva. Aqui, segundo ele, a questão não é a de uma retomada da distinção pascaliana entre espírito de geometria e espírito de fineza. É a interação entre ambos.
      Completa ainda que se deve fazer uma apropriação crítica do fato freudiano, salientando que isto significa desenraizá-lo de seus vínculos pré-estruturalistas, com a subjetividade totalmente ancorada no passado individual e coletivo. Ou seja, é necessário, segundo ele, o resgate de campos de virtualidade "futuristas" e "construtivistas". Esta tensão existencial operar-se-á por intermédio de temporalidades humanas e não humanas.
       Ao comentar a respeito do desconhecimento e do fatalismo das posições dos indivíduos e dos poderes com relação ao entendimento desta problemática em sua totalidade, atribui este fato a inadaptação das práxis sociais, psicológicas e da cegueira quanto ao caráter falacioso da compartimentação de alguns domínios do real. Para ele, não é justo separar a ação sobre a psique daquela sobre o socius e o ambiente. A recusa a olharde frente as degradações desses três domínios, tal como isto é alimentado pela mídia, confina num empreendimento de infantilização da opinião e de neutralização destrutiva da democracia.
      Porém, ao questionar o como deverá ocorrer a mudança de tal situação, afirma dentre outras coisas, que o discurso marxista se desvalorizou,  reduzindo o seu valor apenas ao texto de Marx. Ao fazer esta análise, Félix Guattari esquece-se que o Marxismo não é um dado metafísico, não é a-histórico. Pelo contrário, o Marxismo deixou de ser positivista e determinista. Assim, não se reduz mais aos antagonismos de classes, como ele próprio afirmou, não se reduz apenas a uma visão economicista, estruturalista, mas caminha em direção a re-singularização do homem através de ações concretas e pensadas. Desta forma, caminha em direção a pesquisa-ação-participativa, preconizando a re-singularização do sujeito através da pertinência consciente deste em seu local. Quando digo pertinência, não me refiro a uma pertinência vazia, laminada ou homogeneizada pelo capital global, midiático, mas a uma pertinência consciente, que faça o ser humano, juntamente com outros seres humanos, inseridos na natureza da qual é indissociável, pensar sua ação na realidade, pensar sua ação no mundo.   
      Neste sentido, é que se reconstrói o marxismo, portanto, não se desvaloriza, pelo contrário, se renova, em sua ação revolucionária. Desta maneira, pode-se dizer, que o marxismo de hoje é tão bom quanto o marxismo de ontem , em que o contexto histórico era diferente, e as problemáticas, os conflitos, não eram tão abrangentes. Porém, a partir do momento que a crise torna-se complexa, percorrendo todas as produções humanas, bem como a relação que este homem estabelece com a natureza, ou então, como Félix Guattari definiu como as três ecologias, o marxismo sofre uma reavaliação, uma nova re-interpretação e se reconstrói diante da realidade.     
      Como uma das formas de alavancar este processo de mudança, calcado, principalmente, na re-singularização humana e universal, ele enfatiza a lógica emanada pelo estabelecimento dos pontos cartográficos, norteadores das três ecologias. Para ele, estes obedecem a uma lógica diferente daquela que rege a comunicação ordinária entre locutores e auditores e é, simultaneamente, diferente da lógica que rege a inteligibilidade dos conjuntos discursivos e o encaixe indefinido dos campos de significação.
      Por conseguinte, define esta lógica como "a lógica das intensidades", no sentido que os agenciamentos existenciais engajam durações irreversíveis, ou seja, sempre se reconstruindo e não consentindo apenas aos sujeitos humanos. Desta maneira, conclui que enquanto a lógica dos conjuntos discursivos se propõe limitar muito bem os seus objetos, a lógica das intensidades, ou a ecológica, leva em conta a complexidade, o movimento, ou seja, a intensidade dos processos evolutivos. O processo, que opõe ao sistema ou à estrutura, visa à existência em vias de, ao mesmo tempo, se constituir, se definir e se desterritorializar.
       Analisa que as práxis ecológicas esforçarão em detectar os vetores potenciais de subjetivação e de singularização e, afirma, que se trata de algo que se coloca atravessado à ordem "normal" das coisas – uma repetição contrariante, um dado intensivo que apela outras intensidades a fim de compor outras configurações existenciais. Explicita o processo de "se pôr a ser" destas práxis ecológicas, alertando para o perigo de uma desterritorialização por demais brutal. É necessário haver uma desterritorialização suave que faça evoluir os agenciamentosde um modo processual e construtivo. Por isto, que na ausência de um agenciamento deenunciação, que de o suporte para a possibilidade de realização, os agenciamentossubjetivos perdem a sua consistência, ou seja, são desterritorializados a tal ponto que em seu lugar permanece a angústia, a culpabilidade, ou seja, todas as reiterações psicopatológicas.
      Afirma que a época contemporânea, exacerbando a produção de bens materiais e imateriais em detrimento da consistência de territórios existenciais individuais e de grupo, engendrou um imenso vazio na subjetividade que tende a se tornar cada  vez mais absurda e sem recursos. Por outro lado, salienta que com o avanço do capitalismo mundial integrado (CMI) tende cada vez mais a descentrar seus focos de poder das estruturas de produção de bens e de serviços para as estruturas produtoras de signos, de sintaxe e de subjetividade, por intermédio, especialmente, do controle que exerce sobre a mídia, a publicidade, as sondagens, etc. Assim, demarca o capitalismo através de quatro semióticas (significações) que são: a econômica; a jurídica; a técno-científica e a subjetiva. Descarta a sobreposição de uma semiótica, como por exemplo, da semiótica econômica sobre a subjetiva, afirmando neste sentido, que o objeto do CMI é, hoje, num só bloco: produtivo-econômico-subjetivo.
      Portanto, não é possível somente se opor ao movimento funcional, instrumental, apenas do lado de fora. Tornou-se igualmente imperativo encarar seus efeitos no domínio da ecologia mental – singularidade. Cultivar o dissenso e  a produção singular de existência. A subjetividade do capitalismo, tal como é engendrada por operadores de qualquer natureza ou tamanho, está manufaturada de modo a premunir a existência contra toda intrusão de acontecimentos suscetíveis de atrapalhar e perturbar a opinião. Assegurando-se do poder sobre o máximo de ritornelos existenciais para controlá-los e neutralizá-los, a subjetividade capitalística se inebria, se anestesia a si mesma, num sentimento coletivo de pseudo-identidade.
      Conclui assim, ser necessário que se organizem novas práticas de micropolíticas e microssociais, novas solidariedades, uma nova suavidade juntamente com novas práticas estéticas e novas práticas analíticas das formações do subconsciente. Parece a ele, em suas palavras, que esta é a única via possível para que as práticas sociais e políticas saiam desta situação, para que elas trabalhem para a humanidade e não mais para um simples re-equilíbrio permanente do universo das semióticas ou significações capitalísticas. Esta é a função da educação, em seu espectro maior, da educação ambiental.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GUATTARI, F. As três ecologias. 11 ed. Campinas: Papirus, 2001. 56p.

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