Buscar

Tomás de Aquino e a Política Medieval

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

DPP
Aula 6
Vimos a Doutrina Paulínea, que mudou a ideologia de uma concepção cosmológica para uma ideia teocêntrica da explicação dos fe
nômenos naturais. Após isso, começamos uma caracterização geral sobre Tomás de Aquino e sua concepção de Estado. Vimos algu
mas características básicas do texto, como a grande base sendo o discurso de aristóteles. Ele tenta, nesse ponto, conciliar
a teoria de Aristóteles com a ideia de graça divina.
Para aristóteles, o homem é diferenciado dos outros animais por ser um zoopolitikon, um animal político, e por viver em socie
dade, ele realiza seu caráter humano através da política. A política demanda logos, a capacidade de raciocinar, que é estrita
do ser humano.
Logo, Tomás de Aquino não nega a natureza teológica, mas estabelece um diálogo do pensamento Paulíneo com o Aristotélico, fun
dando um teocratismo moderado.
Isso é importante pois, com o rompimento paulíneo do prisma cosmológico para o pensamento jurídico, todos os pensadores que
seguem dão um valor negativo para a polis, pois era um fruto do desenvolvimento humano que está centrado no pecado original.
Logo, a política passa a ser limitada às leis divinas.
Se as leis positivas são derivadas do pecado, é necessário que o Estado controle de forma externa essas leis. Isso ficou cla
ro na obra de Agostinho. Quando se pensa em uma política pensada a partir das leis divinas, passa a valorar que os homens de
vem ser limitados às leis divinas. As leis naturais então são limitadoras das leis dos homens e suas vontades políticas.
Todos os reis devem ser servos da justiça, pois os reis são sujeitos de Deus e devem seguir suas normas. Isso é uma ques etão
perene de todos os pensadores medievais que vão nortear o pensamento político da época.
Se o soberano não consegue cumprir a justiça divina, ele então pode ser submetido a assassinato pela própria população e isso
seria ato legítimo uma vez que o rei se afastou de seu dever legal.
Pela influência dos povos germânicos no período medieval, a lei que permeava a sociedade medieval era a da politéia, onde o
rei exerce papel fundamental de juiz. Por isso que o rei nunca errava, ele não dava o direito, mas sim, mandava interpretar
o que o costume dizia. Isso é a origem do Commonlaw, onde são medidos os costumes por mando da instância judiciária. A poli
teia é uma lei não escrita emanada pelo costume a as tradições.
Logo, com essa limitação da ação do Rei, passa-se a ter uma mudança na esfera decisória, onde ele perde seu caráter legisla
dor e ganha um caráter judicial.
Lex facit regen, a lei faz o rei.
Esse pacto de submissão não é igual ao pacto social, pois era um pacto entre uma autoridade e a submissão da sociedade a essa
autoridade.
Percebemos um significado grande do juramento do Rei, onde subscreve o pacto que faz quando assume essa posição. Logo, ele ga
nha uma importância muito forte por ser um momento que ele expressa os compromissos desse governo. Justamente por haver esse
pacto é que o Rei se comprometia a governar o local pautado nesses preceitos.
Na lógica que o rei feudal estava limitado pelos costumes da lei natural, não havia legislação direta que dava competência ao
rei, era algo reconhecido, mas nada visível. Isso é chamado de vazio de representação por Hobbes, que distingue o rei feudal
do rei nacional.
O que faz que o período medieval seja organizado da maneira que ele era organizado, ou seja, a lei que faria que a sociedade
fosse dessa maneira, pois, se encontrarmos essa lei fundamental e a mudarmos, mudam as leis e a estruturação dessa sociedade.
Qual era a lei que limitava o poder do Rei? Eram os costumes e a ideia de lei natural, mas não se limita a isso, mas também
os pactos firmados sobre autoridades constituidas. De fato haviam senhores feudais com poderes próprios, representando aque
les que se submeteriam aos reis. A lei fundamental que vai garantir a existência daquela sociedade fragmentada eram justamen
te esses pactos e contratos firmados entre os senhores feudais e o rei.
Esses pactos representam as leis que fazem essa sociedade ser do jeito que foi, se esses pactos se rompessem, mudaria a ordem
da sociedade como ela era. Essas são as chamadas constituições medievais, estruturadas não por leis escritas, mas sim por
um pacto firmado que regula a estabilidade estrutural daquela sociedade.
Agora entraremos no pensamento de Tomás de Aquino. Como o poder divino e dos homens são diferentes, o primeiro limitando o
segundo, diferente dos demais pensadores, diverge quanto à concepção da política humana, convergindo com a questão de aristó
teles de o homem ser um animal político, logo, é da natureza humana exercer a política, não sendo um fruto do pecado original
. Não se valora negativamente o fundamento da sociedade humana, mas sim pelo poder político humano. Porém contrário a aristó
teles, ele diz que essa política vem de uma decorrência da ordem divina.
Ele diz também que há uma série de questões, chamadas de poder in concreto, as quais Deus não precisa se posicionar sobre os
assuntos, mas que competa aos homens. São questões estruturais de governabilidade em sua maioria. Essa abertura de poderes in
concreto difere de sociedade para sociedade, umas sendo mais abertas e outras mais restritas.
Para Tomás, o homem tem dois fins: temporal e espiritual. Ele continua a ter a autoridade humana, mas também existe uma auto
ridade divina que o defina.
Uma questão em relação a esse ponto é o ocnflito entre o poder espiritual e o humano. A doutrina Paulínea diz que as coisas
que são do homem ele resolve e as de Deus, prevalece a vontade de Deus. Porém quando há uma mistura dessa competência, não
há clareza de quem deva intervir ou em quais momentos isso seja pertinente, logo, deve haver um cuidado de o Papa não se rela
cionar em coisas que são dos homens. Porém, quem define o que é de interesse humano ou de Deus é o Papa, mantendo essa ques
tão hierárquica igual a do augustinismo político.
Lei Eterna é a lei perfeita e justa, ela não depende do tempo, pois isso não existe para Deus. Ela não tem lacunas, ela é com
pleta. Uma lei assim não pode ser compreensível pelos homens. Se o homem é injusto, imperfeito e limitado, ele não pode enten
der a perfeição. De qualquer modo, Deus deu para os homens a razão e através dela os homens conseguem extrair alguns fragmen
tos da lei eterna para extrair a lei natural, podendo discriminar o bem do mal, fazer o bem e fugir do mal, não molestar aque
les que ele convive e inclina-se em um homem racional.
Já a lei humana estabelece a melhor forma de regulamentar e estruturar os preceitos da lei natural. Porém a qualidade da san
ção não seria medida pela lei natural, e sim seria relativizada no sentido da lei humana. A lei humana é o modo de especifi
car, em concreto, em cada comunidade cultural a aplicação da lei natural. Se a lei humana extrapola sua competência, Tomás
diz que ela não é lei, ela é corrupção de lei.
Para Tomás, ainda haveria uma quarta lei, a Lei Divina, que veio para Moisés.
Em resumo, na leitura de Tomás, a desigualdade do rei é algo que causaria injustiça, porém em ordem humana, logo os súditos
deveriam continuar submetidos ao príncipe pois não haveria ferida na lei natural. Se fosse em âmbito divino e grave a ponto
de necessitar sua retirada, ela seria legítima.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais