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Capítulo XV Recursos.

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Capítulo XV
Dos Recursos
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Antonio Januzzi Marchi de Godoi
1. Conceito
Recurso é “o direito subjetivo público de pedir o reexame de uma decisão judicial”.40
É um instrumento indispensável à garantia do duplo grau de jurisdição, já que, por meio dele, é possível submeter as decisões judiciais – ou parte delas – à apreciação de um órgão investido em grau superior de jurisdição, normalmente composto por juízes mais experientes. Por meio dos recursos, opera-se o prosseguimento da relação processual já existente (dá-se continuidade à ação iniciada perante o Juízo a quo). Por isso, não devem ser confundidos com as denominadas ações autônomas de impugnação, criminal, isto é, o mandado de segurança, o habeas corpus e a revisão criminal, que constituem uma nova relação processual penal, através do exercício de um direito autônomo de ação da parte. Ainda que o habeas corpus e a revisão criminal estejam previstas no Título II, do CPP, onde se encontram classificados os recursos penais, não têm eles natureza recursal, já que implicam, tal como o mandado de segurança, a constituição de uma nova – e autônoma – relação jurídico-processual. Vale dizer: criam um novo processo. E, por isso, não são recursos.
Como se vê, a natureza jurídica dos recursos é a de “aspecto, elemento ou modalidade do próprio direito de ação ou de defesa”41.
Chama-se juízo a quo ao órgão de jurisdição inferior, e juízo ad quem, ao órgão de grau superior, ao qual se recorre para que seja reexaminada a decisão proferida no juízo de grau inferior. Eventualmente, o juízo ad quem pode ser composto de Juízes de jurisdição equivalente à do juízo a quo, como ocorre com as Turmas Recursais dos Juizados Especiais Criminais, compostas por 3 Juízes também de 1º grau de jurisdição, ou no julgamento de embargos infringentes, em que a Câmara cheia, composta por 5 Desembargadores, é competente para reexaminar decisão não-unânime proferida por Turma de 3 Desembargadores, da própria Câmara.
No 2º grau de jurisdição, ao qual se chega pela via recursal, são reexaminadas questões de fato e de direito, e o Tribunal substitui-se ao Juiz, podendo reformar integralmente a decisão, modificá-la parcialmente ou confirmá-la integralmente. Eventualmente, poderá também anulá-la, devolvendo o julgamento para o Juízo a quo. Já nos Tribunais Superiores, não é mais possível a reapreciação dos fatos, mas apenas de matéria de direito, razão pela qual não há falar em 3º grau de jurisdição.
Vale lembrar, todavia, que nem toda decisão está sujeita ao duplo grau de jurisdição. Há exceções, como, por exemplo, nos processos de competência originária do STF.
2. Características
Também chamadas princípios recursais, são características dos recursos:
2.1. Anterioridade em relação à coisa julgada
Os recursos devem ser sempre manejados antes do trânsito em julgado da decisão a ser impugnada. Uma vez passada em julgado a decisão, não mais se admite a interposição de recurso, todavia, ela não se torna irremediável para a parte: contra ela são oponíveis as ações autônomas de impugnação criminal, que podem ser exercidas antes ou depois do trânsito em julgado da decisão.
40 - Tourinho Filho, Fernando da Costa. Código de Processo Penal Comentado, 12ª ed., vol. 2. São Paulo: Saraiva, p. 297.
41 - Grinover, Ada Pellegrini. Gomes Filho, Antonio Magalhães. Fernandes, Antonio Scarance. Recursos no Processo Penal. 5ª ed., São Paulo: RT, p. 31.
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Capítulo XIV • Dos Recursos
2.2. Continuidade da relação processual
Os recursos não instauram uma nova relação processual penal, mas dão prosseguimento à ação iniciada em primeiro grau de jurisdição.
2.3. Voluntariedade
Nos termos do art. 574, caput, do CPP, “os recursos serão voluntários”, isto é, decorrerão da manifestação de vontade da parte afetada pela decisão. É bom lembrar que, apesar da nota de voluntariedade dos recursos, a lei processual prevê as hipóteses de reexame necessário, também chamadas recursos de ofício, em que a decisão é necessariamente submetida à apreciação do órgão superior, por ato de iniciativa do juiz, e não das partes. É necessário o reexame das seguintes decisões:
a) sentença concessiva de habeas corpus pelo Juiz singular (art. 574, I, do CPP);
b) absolvição sumária no procedimento do Tribunal do Júri (art. 574, II, do CPP);
c) sentença de absolvição ou de arquivamento do inquérito policial nos crimes contra a economia popular e a saúde pública (art. 7º, da Lei 1.521/51);
d) decisão concessiva de reabilitação criminal (art. 746, do CPP).
Nestas hipóteses, caso o Juiz omita o recurso de ofício, deixando de remeter os autos ao Tribunal para o reexame necessário de sua decisão, esta não transita em julgado, nos termos da Súmula 423, do STF. Como se trata de recurso interposto ex lege, não é necessário o oferecimento de razões ou contra-razões pelas partes.
2.4. Taxatividade
Os recursos, para serem manejados, dependem de expressa previsão legal. Em virtude da necessidade de segurança jurídica, a possibilidade de revisão das decisões judiciais deve estar prevista em lei.
2.5. Unirrecorribilidade
Em regra, para cada decisão judicial há um recurso correspondente. Em hipóteses excepcionais, é possível a interposição de mais de um recurso contra a mesma decisão, e.g., recurso especial (endereçado ao STJ) e recurso extraordinário (para o STF).
2.6. Disponibilidade
Em regra, sendo voluntários os recursos, as partes têm sobre eles poder de disposição, isto é, o poder de decidir sobre a eventual impugnação da decisão. No exercício de seu poder de disposição, as partes podem renunciar ou desistir do recurso. Com a renúncia, anterior à interposição do recurso, a parte antecipa a preclusão da decisão recorrível. Com a
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desistência, posterior à interposição, a parte extingue a via recursal iniciada com o recurso interposto.
No processo penal, todavia, a disponibilidade sofre exceções. O recurso defensivo, nos termos do art. 577, do CPP, pode ser interposto pelo acusado, por seu procurador ou defensor. Portanto, ainda que um dos sujeitos legitimados renuncie ao direito de recorrer, nada impede que o outro interponha o recurso cabível, prevalecendo o interesse recursal. O Ministério Público, por outro lado, não está obrigado a recorrer das decisões que lhe forem desfavoráveis, mas, uma vez interposto o recurso, dele não poderá desistir.
2.7. Fungibilidade (art. 579, do CPP)
A interposição equivocada de um recurso pela parte, quando for outra a via impugnativa prevista em lei para a decisão que se busca combater (por exemplo, a interposição de recurso em sentido estrito contra sentença definitiva, quando a lei prevê o recurso de apelação), não impede o processamento do recurso, desde que a parte não tenha agido de má-fé, nem exista erro grosseiro na interposição do recurso.
A jurisprudência, majoritariamente, tem entendido que a boa-fé pode ser presumida quando a parte interpõe o recurso equivocado dentro do prazo fixado para a interposição do recurso correto. Interposto o recurso equivocado, e sendo presumida a boa-fé do recorrente, o Juiz mandará processá-lo segundo o rito do recurso cabível. No exemplo dado, o recurso em sentido estrito equivocadamente interposto será conhecido como recurso de apelação, e processado nos termos dos art. 593 e seguintes, do CPP.
2.8. Vedação à reformatio in pejus
É a chamada proibição de reforma para pior, em prejuízodo acusado, na matéria passada em julgado para a acusação. Se apenas uma das partes interpôs recurso contra a decisão, não pode o órgão superior, ao julgá-lo, proferir decisão desfavorável à parte recorrente, seja no aspecto quantitativo, seja no qualitativo. Neste caso, fala-se em non reformatio in pejus direta. Por exemplo, em caso de apelação defensiva, não poderá o Tribunal reconhecer a existência de circunstâncias que agravem a situação do acusado, quando o Juiz não as houver reconhecido na sentença, e nem exasperar sua pena, por entender que o Juiz de 1º grau deveria tê-la fixado em quantum superior ao efetivamente fixado.
Além da vedação à reformatio in pejus direta, o sistema recursal obedece também à vedação à reformatio in pejus indireta. Quando o Tribunal anula uma decisão judicial – o que é coisa muito diversa de sua reforma, já que, por força da nulidade, o processo retorna para o juízo a quo, a fim de que o Juiz de 1º grau profira nova decisão – em conseqüência de um recurso defensivo, não pode o Juiz a quo, na nova decisão, agravar a situação do réu, em relação ao que havia sido decidido na primeira decisão, anulada, já que esta primeira decisão, tendo transitado em julgado para a acusação, fixou os limites dentro dos quais o réu poderá ser punido. Se, por exemplo, em uma primeira decisão, o Juiz fixa uma pena de 4 anos de reclusão, para o acusado, e tal decisão vem a ser anulada pelo Tribunal em recurso exclusivo da defesa (por haver o Juiz primevo deixado de apreciar uma certa preliminar defensiva), os autos retornarão ao Juiz, para que aprecie todas as teses levantadas pela defesa e profira nova decisão. Nesta decisão, o Juiz não poderá fixar a pena em quantum superior aos 4 anos fixados
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na sentença original (anulada pelo Tribunal), pois a acusação não interpôs recurso contra a primeira sentença, e a pena ali fixada definiu os limites da nova decisão a ser proferida. Por força da vedação à reformatio in pejus indireta, portanto, o Juiz, ao proferir a nova sentença, fica vinculado aos limites da decisão anterior, da qual não recorreu a acusação, anulada em virtude de um recurso defensivo anteriormente interposto.
A reformatio in melius, lado outro, é perfeitamente admissível. Se, por exemplo, há recurso exclusivo da acusação, pleiteando a exasperação da pena aplicada em desfavor do acusado, nada obsta a que o Tribunal, verificando a ocorrência de uma causa excludente de ilicitude, e.g., reforme a decisão para melhor, absolvendo o acusado, independentemente da existência de recurso defensivo. Naturalmente, isto se dá em razão do caráter indisponível do direito de liberdade de que goza todo cidadão, o que justifica o princípio do favor rei, a informar todo o processo penal.
2.9. Conversibilidade
Em caso de endereçamento equivocado do recurso (e.g., para o Superior Tribunal de Justiça, quando se tratar de recurso a ser conhecido por Tribunal Regional Federal), cabe ao Tribunal incompetente remeter o processo ao Tribunal competente.
2.10. Complementaridade
Uma vez apresentado o recurso, a parte poderá modificar os limites de seu pedido recursal, quando a decisão sofrer modificação (operada pelo próprio Juiz de 1º grau), na medida da modificação realizada na decisão já recorrida. Se o réu, por exemplo, interpõe recurso contra decisão condenatória que, fixando a pena de 4 anos de reclusão, deixou de fixar o regime prisional, e o Ministério Público, por meio de embargos declaratórios, obtém o esclarecimento daquela decisão, com a fixação do regime semi-aberto para o cumprimento da reprimenda, abre-se novo prazo para a defesa, que poderá impugnar também o regime prisional fixado, pedindo ao Tribunal a reforma para o regime aberto.
3. Classificação
3.1. Quanto à extensão
Os recursos podem ser parciais ou totais, conforme ataquem parte da decisão judicial, ou a sua inteireza. Um recurso de apelação, por exemplo, pode impugnar toda a decisão condenatória, contendo o pedido de absolvição do apelante. Ou pode dirigir-se contra uma ou algumas partes daquela decisão, pleiteando apenas a reforma do regime prisional ou a substituição da pena corporal aplicada, quando então será parcial o apelo.
3.2. Quanto aos fundamentos
Os recursos podem ser de fundamentação livre ou de fundamentação vinculada. No primeiro caso, a lei processual não prevê limites para a matéria a ser impugnada, permitindo a irresignação da parte contra todo e qualquer aspecto da decisão. É este, por exemplo, o caso do recurso de apelação. Os recursos de fundamentação vinculada, por sua vez,
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somente podem ser interpostos contra aspectos determinadas da decisão, estabelecidos na lei processual. Exemplo de recurso de fundamentação vinculada se encontra no recurso extraordinário, cujos limites são estabelecidos no art. 102, III, da CF/88.
3.3. Quanto à titularidade do direito pleiteado
São ordinários os recursos que objetivam assegurar um direito subjetivo da parte. É a regra geral dos recursos. Os recursos extraordinários, por sua vez, destinam-se a obter um provimento jurisdicional que assegure a vigência do direito objetivo – a Constituição, protegida através de recurso extraordinário, ou lei federal ou tratado, assegurados por meio de recurso especial. Por serem destinados a assegurar a vigência do direito objetivamente considerado, os recursos extraordinários não permitem o reexame de matéria de fato, mas só de direito. Ademais, estão sujeitos a regras estritas de admissibilidade.
3.4. Quanto à iniciativa recursal
Em regra, a iniciativa recursal pertence às partes envolvidas na relação processual penal. Por isso mesmo, são chamados de recursos voluntários os interpostos pelo réu ou pela acusação. Excepcionalmente, a iniciativa recursal cabe ao próprio órgão jurisdicional, quando se fala em recurso de ofício, competindo ao Juiz remeter o feito ao órgão superior para o reexame necessário da decisão. A doutrina, de modo geral, não reconhece aí, propriamente, um recurso, por não ter o Juiz interesse em recorrer, e nem o poder de atacar sua própria decisão. Compreende-se, então, o reexame necessário, não como recurso, mas como condição de eficácia da decisão de 1º grau.
4. Efeitos dos Recursos
São efeitos gerais dos recursos – sejam cíveis ou criminais – o devolutivo e o suspensivo. Como a interposição de um recurso devolve ao órgão ad quem o conhecimento da
matéria recorrida, fala-se em efeito devolutivo, expressão que remete às origens da jurisdição moderna, quando o Rei, titular exclusivo do poder de julgar, delegava-o aos magistrados, sendo-lhe devolvida a jurisdição – que desde sempre lhe pertencia – quando interposto recurso contra decisão proferida por um de seus magistrados. O efeito devolutivo é produzido sempre que impugnada regularmente uma decisão jurisdicional, pela via recursal. A devolutividade é ampla, quando toda a matéria decidida em primeiro grau é transferida para o conhecimento do Juízo ad quem, e limitada quando o recurso for parcial, isto é, interposto contra um ou alguns pontos da decisão. Nos termos da máxima tantum devolutum quantum appellatum, somente se devolve ao Tribunal o conhecimento daquilo que for expressamente consignado no recurso. Vale lembrar que, no processo penal, a devolutividade dos recursos defensivos será sempre ampla, podendo o Tribunal reformar a decisão em tudo quanto viole o direito de liberdade do acusado,ainda que a Defesa não tenha argüido a matéria em suas razões recursais.
O efeito suspensivo, por sua vez, impede a produção dos efeitos jurídicos da decisão, mas não decorrerá de todo e qualquer recurso, dependendo de previsão legal.
A doutrina cuida ainda dos chamados efeitos recursais extensivo e iterativo. O efeito extensivo leva ao aproveitamento da decisão favorável ao réu pelo co-réu não-recorrente.
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Capítulo XIV • Dos Recursos
Nos termos do art. 580, do CPP, “no caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros”. Portanto, se apenas um dos co-réus interpõe recurso, e o Tribunal o absolve por insuficiência probatória, os efeitos da decisão absolutória serão estendidos ao co-réu que se resignou com a sentença condenatória, devendo o Tribunal decretar também sua absolvição. O denominado efeito iterativo, também chamado regressivo ou diferido, próprio de certos recursos, como o recurso em sentido estrito, faculta ao próprio Juiz de 1º grau reexaminar a decisão impugnada, modificando-a, se entender pertinentes os argumentos do recorrente, antes de devolver o conhecimento do processo ao Juízo de 2º grau. Trata-se, aqui, do chamado juízo de retratação, que nada mais é que uma das características do efeito devolutivo genérico.
5. Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito
No juízo de admissibilidade, ou juízo de prelibação, são verificados os pressupostos recursais de admissibilidade. Em regra, os recursos são submetidos a uma dupla fase de prelibação: a primeira é procedida no juízo a quo, perante o qual é interposto o recurso, e a segunda, no juízo ad quem, antes do exame do mérito recursal.
Os pressupostos recursais de admissibilidade classificam-se em pressupostos objetivos e pressupostos subjetivos.
São pressupostos recursais objetivos:
a) Cabimento - O recurso deve adequado, isto é, deve ser previsto em lei para impugnar aquela decisão específica, ressalvada a fungibilidade recursal. Para que o recurso seja cabível, ademais, a decisão atacada deve ser recorrível.
b) Tempestividade - O recurso deve ser interposto no prazo recursal previsto em lei, sob pena de preclusão. O prazo para recorrer é contado a partir da intimação do acusado, bem como de seu defensor, prevalecendo, para fins de contagem, a mais recente das intimações. A Lei 9.800/99, que regulamenta prática de atos processuais por meio de sistema de transmissão de dados e imagens, autoriza a interposição de recursos através de tais sistemas – comumente, por fac-símile –, desde que o recurso seja transmitido ao órgão competente dentro do prazo recursal, com a respectiva juntada dos originais no prazo de 5 dias, contados do encerramento do prazo recursal. Vale lembrar que o prazo recursal é cumprido com a interposição de petição (peça escrita) ou termo nos autos (isto é, a manifestação oral reduzida a escrito pelo escrivão ou oficial de justiça), podendo as razões de recurso, isto é, os argumentos da parte, ser apresentadas posteriormente. Enquanto a inobservância do prazo para a interposição do recurso acarreta a preclusão, perdendo a parte o direito de recorrer, a inobservância do prazo para o oferecimento das razões constitui mera irregularidade, e não impede o conhecimento do recurso pelo órgão ad quem (STJ, REsp 800.297/PR).
Nos termos do art. 798, do CPP, os prazos recursais são “contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado”. Se a intimação ocorrer sexta-feira ou véspera de feriado, fica prorrogado o início da contagem do prazo para o primeiro dia útil subseqüente. Encerrando-se o prazo em sábado, domingo ou feriado, transfere-se o seu termo ad quem para o primeiro dia útil subseqüente, para a interposição do recurso.
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c) Forma - Além de observar o cabimento do recurso e sua tempestividade, o recorrente deve estar atento às formalidades exigidas para a sua interposição. Nos termos do art. 578, do CPP, “o recurso será interposto por petição ou por termo nos autos, assinado pelo recorrente ou por seu representante”. O termo ou petição de interposição do recurso não se confunde com as razões recursais, isto é, com os argumentos pelos quais é deduzido o pleito recursal. Considera-se interposto o recurso pela simples manifestação de vontade da parte em recorrer, que pode ser manifestada diretamente pelo acusado, bem como por seu defensor. Antes da reforma operada pela Lei 11.719/08, era excepcionalmente exigido o recolhimento do réu à prisão para poder recorrer da decisão condenatória (por exemplo, pelo art. 59, da Lei
11.343/06, e o art. 2º, §2º, da Lei 8.072/90). A atual redação do art. 387, parágrafo único, do CPP, todavia, permite que o recurso tenha o seu regular processamento, independentemente de determinação para o recolhimento do réu à prisão, que não mais constitui formalidade essencial para a interposição doe recurso.
d) Preparo - É o pagamento prévio das custas e despesas processuais. É pressuposto exclusivo nos recursos interpostos pelo querelante, na ação penal privada. Para o Ministério Público, o acusado e o assistente de acusação, não é exigido preparo do recurso. O acusado, se condenado, somente estará obrigado ao pagamento das custas após o trânsito em julgado da sentença.
Por outro lado, são pressupostos recursais subjetivos:
a) Legitimidade para recorrer - Legitimada para interpor recurso é a parte em face de quem foi proferida a decisão desfavorável. Nos termos do art. 577, do CPP, são legitimados o Ministério Público, o querelante, o réu, seu procurador e seu defensor. São os chamados legitimados gerais, autorizados a interpor qualquer espécie de recurso. Além destes, embora não arrolado no art. 577, do CPP, ao assistente de acusação também é conferida legitimidade, porém restrita – apenas para a interposição de certos recursos (apelação, decisão de impronúncia e recurso em sentido estrito contra decisão extintiva de punibilidade) - e subsidiária – havendo recurso ministerial, ao assistente de acusação resta apenas a faculdade de arrazoar o recurso já interposto, ou, sendo parcial o recurso, recorrer na parte em que o Parquet não o fez. Em regra, o assistente de acusação dispõe do prazo de 15 dias para interpor o seu recurso de apelação, nos termos do art. 598, parágrafo único, do CPP. Todavia, este prazo “em triplo” somente será concedido caso o assistente não esteja habilitado nos autos. Estando previamente habilitado, o assistente disporá do prazo regular de 5 dias. Para os demais recursos que pode interpor, o assistente disporá do prazo legal.
b) Interesse de recorrer - O 	recurso 	só 	interessa 	à 	parte 	que 	tenha 	sofrido sucumbência, isto é, à parte cuja pretensão não tenha sido assegurada pela decisão judicial. Portanto, pode-se dizer que o Ministério Público tem interesse recursal, quando a sentença for absolutória, ou não corresponda àquilo que foi pleiteado por meio da ação penal. O réu, por sua vez, poderá recorrer da sentença condenatória, para ver-se absolvido, ou mesmo para ver atenuada a sanção penal que lhe tenha sido eventualmente imposta. Poderá, inclusive, recorrer de sentença absolutória, visando obter a reforma de seus fundamentos, de modo a ver-se livre de uma eventual obrigação civil de reparar o dano. Quanto ao assistente de acusação, divergia a doutrina quanto à existência de seu interesse recursal para pedir
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Capítulo XIV • Dos Recursos
a exasperação da pena já aplicada ao acusado, pois a sentença condenatória assegura-lhe o direito à reparação do dano causado pelo crime. Atualmente, doutrina e jurisprudência majoritárias reconhecem haver interesse recursal, para o assistente, além daquele meramente patrimonial. Portanto, o ofendido é parte interessada para recorrer com o objetivo de ver aumentada a pena aplicada, desde que o Ministério Público deixe de recorrer, já que sua legitimidade é subsidiária.
PRESSUPOSTOS RECURSAIS
Objetivos:
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Cabimento Tempestividade Forma
Preparo
Legitimidade para recorrer
�Adequação do recurso face à decisão combatida. Prazo previsto em lei para interposição do recurso. Interposto por petição ou por termo nos autos.
Obrigatório nos recursos interpostos pelo querelante em ação
penal privada.
Subjetivos:
Ministério Público, Querelante, Réu e seu Defensor, e Assistente de Acusação, desde que seja parte sucumbente.
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Interesse de recorrer
�Sucumbência.
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Positivo o juízo de admissibilidade, pode-se adentrar o juízo de mérito, em que são examinados os pedidos formulados no recurso, procedendo-se à revisão da decisão atacada. O juízo de admissibilidade é, portanto, necessariamente preliminar ao juízo de mérito. Ausente algum dos pressupostos recursais, o órgão ad quem não poderá conhecer do recurso, vale dizer, não passará ao exame das teses de mérito apresentadas pelo recorrente.
Uma vez conhecido, isto é, uma vez superada a fase de admissibilidade, o recurso será provido (integral ou parcialmente) ou improvido. O provimento do recurso significa o acolhimento das teses apresentadas pela parte que recorre, com a reforma ou a invalidação da decisão de 1º grau impugnada, conforme se verifique error in judicando ou error in procedendo em sua prolação. Eventualmente, o órgão ad quem pode reconhecer serem parcialmente procedentes os argumentos do recorrente e, assim, reformar ou invalidar apenas parte da decisão atacada. É o que se dá, por exemplo, quando o Tribunal, embora julgando improcedente o pedido de absolvição formulado pelo recorrente, entende lhe assistir razão quando pede a redução da pena aplicada, ou o abrandamento do regime prisional, ou, ainda, a nulidade do capítulo relativo à fixação da pena (decretando a nulidade parcial da sentença) etc. Fala-se, aí, em provimento parcial do recurso. Pelo improvimento, por outro lado, o órgão ad quem rejeita a totalidade das teses oferecidas pelo recorrente, mantendo na íntegra a decisão combatida.
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ADMISSIBILIDADE X MÉRITO
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JUÍZO
�POSITIVO
�NEGATIVO
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ADMISSIBILIDADE (PRELIBAÇÃO)
Examina os pressupostos recursais
MÉRITO (DELIBAÇÃO) Examina os fundamentos recursais
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conhecimento do recurso
Provimento do recurso (integral ou parcial), com a reforma ou anulação da decisão.
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não-conhecimento do recurso
Improvimento do recurso
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6. Dos Recursos Criminais em Espécie
6.1. Recurso em sentido estrito
Em regra, são irrecorríveis, no processo penal, as chamadas decisões interlocutórias. Contra algumas delas, porém, existe remédio recursal: é o recurso em sentido estrito – RSE, cabível para a impugnação das decisões elencadas no art. 581, do CPP. Equivale ao agravo em matéria cível.
O prazo para sua interposição é de 5 dias, nos termos do art. 586, caput, do CPP. Quando interposto contra a decisão “que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir”, prevista no art. 581, XIV, do CPP, o prazo será de 20 dias, contado da data da publicação definitiva da lista de jurados. Para a apresentação das razões recursais, nos termos do art. 588, caput, do CPP, o prazo será de 2 dias, contados da interposição do recurso ou da abertura de vista, após extraído o traslado. Para a apresentação de contra-razões, pela parte recorrida, será aberta vista por igual prazo. Em seguida, os autos serão conclusos ao Juiz, para o juízo de retratação, em que poderá ser reformada ou sustentada a decisão (art. 589, do CPP). Ao Juiz caberá, também, mandar instruir o recurso com o traslado das peças que entender necessárias. Reformada a decisão, a parte recorrida poderá, mediante simples petição, dela recorrer, não havendo possibilidade para um novo juízo de retratação, e nem para o oferecimento de razões, devendo os autos subir ao órgão ad quem, nos termos do art. 589, parágrafo único, do CPP.
Nos termos do art. 581, do CPP, é cabível o recurso em sentido estrito contra a decisão:
I - que não receber a denúncia ou a queixa;
II - que concluir pela incompetência do juízo;
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;
IV - que pronunciar o réu;
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante;
VI - (Revogado)
VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;
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Capítulo XIV • Dos Recursos
VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;
IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade;
X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;
XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;
XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional;
XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;
XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;
XVII - que decidir sobre a unificação de penas;
XVIII - que decidir o incidente de falsidade;
XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado;
XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra;
XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774;
XXII - que revogar a medida de segurança;
XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação;
XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples.
Embora o art. 581, do CPP, mantenha quase integralmente sua redação original, algumas das decisões ali previstas não mais comportam impugnação pela via do RSE. Isso porque proferidas no curso da execução penal e, nos termos do art. 197, da Lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal), são elas impugnáveis por meio do agravo em execução. Assim, contra as decisões previstas nos incisos XII, XVII, XIX, XX, XXI, XXII, XXIII e XXIV, do art. 581, do CPP, não é cabível recurso em sentido estrito. Também a decisão elencada no inciso XI (decisão que nega, concede ou revoga o sursis), quando proferida no curso da execução, não será impugnável por meio de RSE, mas sim de agravo em execução.
Quando interposto na forma do art. 581, I, do CPP (contra a decisão que rejeita a inicial acusatória), é necessário o oferecimento de contra-razões pelo acusado? Muito embora não exista, ainda, ação penal em andamento, a Súmula 707, do STF, exige, sob pena de nulidade, a intimação da parte acusada para, querendo, contra-arrazoar o recurso interposto pela parte acusadora. Contra a decisão denegatória de ordem de habeas corpus, além do recurso em sentido estrito, é também cabível a impetração de novo habeas corpus, perante o órgão ad quem, substitutivo do RSE. E quando for cabível o recurso emsentido estrito, e também a apelação, contra a mesma decisão? Será cabível apenas a apelação, nos termos do art. 593, §4º, do CPP. Assim, por exemplo, quando uma sentença condenatória nega ao réu o direito ao sursis, embora seja cabível o recurso em sentido estrito (art. 581, XI, do CPP), também o é a apelação (art. 593, I, do CPP), devendo ser preferido este último, nos termos daquele dispositivo.
Em regra, o recurso em sentido estrito é interposto por instrumento, isto é, em autos separados, contendo o traslado (cópia reprográfica) das peças reputadas essenciais para o seu julgamento. Compete ao recorrente, nos termos do art. 587, do CPP, indicar, no termo do recurso, quais peças dos autos devem instruí-lo, dentre as quais devem constar sempre a decisão recorrida, a certidão de sua intimação, se por outra forma não for possível verificar-
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se a oportunidade do recurso, e o termo de interposição” (art. 587, parágrafo único, do CPP). Em algumas hipóteses, contudo, o recurso em sentido estrito subirá nos próprios autos. Tais hipóteses encontram-se previstas no art. 583, do CPP:
I - quando interpostos de ofício;
II - nos casos do art. 581, I, III, IV, VI (revogado), VIII e X;
III - quando o recurso não prejudicar o andamento do processo.
Nos termos do parágrafo único, do dispositivo, o recurso contra a decisão de pronúncia (art. 581, IV, do CPP) subirá por traslado, quando houver co-réus não-recorrentes ou não- intimados da pronúncia, de modo a se evitar a demora desnecessária na realização do julgamento pelo Tribunal do Júri.
Uma vez julgado o recurso, tendo subido nos próprios autos, estes serão remetidos ao Juízo a quo. Todavia, deve-se aguardar o trânsito em julgado da decisão proferida pelo Juízo ad quem, uma vez que, havendo recurso especial ou extraordinário, deverão subir os autos, respectivamente, ao STJ ou STF.
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FINALIDADE PRAZO
EFEITOS
�RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
• Combater decisões interlocutórias específicas, previstas no art. 581, do
CPP.
• 5 dias.
• Devolutivo;
• Regressivo (admite juízo de retratação);
• Suspensivo (excepcionalmente);
• Extensivo (art. 580, CPP).
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6.2. Apelação
A apelação criminal é o recurso processual penal por excelência, caracterizando-se pela amplitude da devolução da matéria atacada ao órgão ad quem. Por meio dela, é possível o reexame integral de toda a matéria apreciada em primeiro grau de jurisdição, excetuados os apelos interpostos contra as decisões proferidas no Tribunal do Júri, em cujas razões deve a parte deduzir a matéria contra a qual se insurge por meio de recurso.
O prazo para sua interposição é de 5 dias, contados a partir da intimação das partes e de seus procuradores quanto ao conteúdo da decisão.
A apelação pode ser plena – quando dirigida contra a totalidade da decisão proferida no juízo a quo – ou parcial – quando atacar apenas parte da decisão. Por outro lado, classifica-se em ordinária – quando interposta em processo por crime punido com pena de reclusão, nos termos do art. 613, do CPP – ou sumária – quando punido o crime com pena de detenção, obedecendo aí a procedimento abreviado, previsto no art. 610, do CPP.
Nos termos do art. 593, do CPP, caberá recurso de apelação:
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Capítulo XIV • Dos Recursos
I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular;
II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior;
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.
Como se lê, o recurso de apelação deve ser dirigido contra as decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas pelo Juiz singular, aí incluída a sentença de condenação ou absolvição, bem como contra certas decisões proferidas no procedimento do Tribunal do Júri.
Vale sublinhar que, em caso de impugnação de decisão proferida pelo Tribunal do Júri, a apelação não devolve ao órgão ad quem o reexame das conclusões esposadas pelo Conselho de Sentença em seu veredicto, mas apenas o poder de verificar eventuais equívocos in procedendo praticados pelo Juiz-Presidente, quando da lavratura de sua Sentença baseada nas respostas aos quesitos oferecidas pelos jurados. Isso por força do princípio da soberania do Tribunal do Júri, que assegura ao Conselho de Sentença o poder soberano de decisão acerca da matéria de fato apresentada em plenário. Caso o órgão ad quem entenda ser a decisão dos jurados “manifestamente contrária à prova dos autos” (art. 593, III, d), caberá a submissão do réu a um novo julgamento pelo Tribunal do Júri, perante novo Conselho de Sentença, formado por jurados diversos, não sendo admitida, todavia, nova apelação pelo mesmo motivo (art. 593, §3º, do CPP). É este o máximo poder atribuído ao órgão de 2º grau para interferir na soberania do Júri Popular, além do poder de anular o julgamento, em caso de irregularidade processual praticada após a decisão de pronúncia (art. 593, III, a).
Nos termos do art. 593, §4º, do CPP, “quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra”. Em termos gerais, a apelação, diante do recurso em sentido estrito, assume a natureza de recurso principal ou prevalente. Portanto, se a sentença condenatória definitiva nega ao acusado o direito ao sursis, muito embora seja cabível o recurso em sentido estrito contra “a decisão que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena” (art. 581, XI, do CPP), deve a parte valer-se da apelação, que é o recurso cabível contra a sentença condenatória definitiva, nos termos do art. 593, I, do CPP. Do mesmo, será cabível recurso de apelação, e não o recurso em sentido estrito, quando Ministério Público queira impugnar a sentença condenatória que concedeu ao acusado o benefício do perdão judicial, nada obstante a previsão do art. 581, VIII.
Por outro lado, embora seja, em regra, o recurso principal, a apelação pode funcionar também como recurso residual ou supletivo, quando se trata de atacar “decisão definitiva, ou com força de definitiva”, nos termos do art. 593, II, do CPP. De tais decisões, quando expressamente cabível o recurso em sentido estrito, no rol estabelecido pelo art. 581, do CPP, a apelação não será admissível. Apenas contra as demais decisões definitivas, ou com força de definitivas, que não estejam previstas no art. 581, do CPP, será adequado o recurso de apelação.
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Antonio Januzzi Marchi de Godoi
Decisões definitivas, são aquelas, diversas da sentença condenatória ou absolutória, que encerram o processo ou o procedimento incidental. São decisões definitivas em sentido lato, por exemplo, a decisão que rejeita a inicial acusatória, que resolve o incidente de restituição de coisas apreendidas, o seqüestro de bens ou o pedido de reabilitação do condenado. As decisões com força de definitivas, por sua vez, são as chamadas decisões interlocutórias mistas. Por exemplo, a decisão de pronúncia, ou a decisão que rejeita a resposta escrita e recebe a denúncia, encerrando a fase preliminar e dando início à fasejudicial, ou a decisão que acolhe a exceção de litispendência, extinguindo o feito sem julgamento de mérito.
Além das hipóteses de cabimento previstas no art. 593, do CPP, o recurso de apelação será também cabível “contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária”, nos termos do art. 416, do CPP.
APELAÇÃO
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FINALIDADE
PRAZO EFEITOS
�• Combater sentença condenatória ou absolutória de 1º grau;
• Combater decisão definitiva ou com força de definitiva de 1º grau, quando incabível o recurso em sentido estrito;
• Combater decisão proferida na fase de plenário do Tribunal do Júri;
• Combater sentença de impronúncia, proferida na fase sumária do procedimento do Tribunal do Júri;
• Combater decisão de absolvição sumária.
• Interposição: 5 dias;
• Razões: 8 dias;
• Juizados Especiais Criminais: 10 dias (interposição + razões).
• Suspensivo (contra sentença condenatória);
• Devolutivo;
• Extensivo.
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Os legitimados a manejar o recurso de apelação são o Ministério Público, o Acusado e seu Curador (se inimputável), o Defensor, o Ofendido ou seu representante legal (como Assistente de Acusação), ou algumas das pessoas elencadas no art. 31, do CPP. A lei processual penal atribui ainda, excepcionalmente, a outras pessoas, a legitimidade para interpor apelação, tais como o administrador judicial ou qualquer credor habilitado, em crimes falimentares, ou as associações de titulares de direito de autor, nos crimes contra a propriedade imaterial, dentre outras. Como custos legis, o Ministério Público poderá apelar também da sentença condenatória, seja ela proferida em ação penal pública ou privada, só lhe faltando legitimidade para recorrer de sentença absolutória quando proferida em ação penal privada, já que aqui vigora o princípio da disponibilidade, e o querelante pode optar por desistir do recurso.
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Capítulo XIV • Dos Recursos
ESQUEMA – APELAÇÃO - LEGITIMAÇÃO
Ministério Público
Acusado
Defensor
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ação penal privada
�Curador
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subsidiária da pública 	ação penal privada
Ofendido ou seus
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Apelação supletiva, independentemente de prévia habilitação como assistente;
�substitutos legais:
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Apelação plena, pois o MP não detém legitimidade para recorrer;
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Demais pessoas expressamente previstas em lei (e.g., associações de direitos autorais, nos crimes contra a propriedade imaterial).
A apelação pode ser interposta por petição (peça escrita) ou por termo nos autos (manifestação oral do sentenciado, perante o oficial de justiça ou escrivão, e por este reduzida a termo), no prazo de 5 dias, contados a partir da intimação da decisão. A interposição do recurso, nos termos do art. 600, do CPP, não precisa vir acompanhada pelas razões recursais¸ que poderão ser apresentadas no prazo de 8 dias, após “assinado o termo de apelação”. Nos termos do art. 600, §4º, do CPP, a parte poderá oferecer suas razões diretamente ao órgão ad quem, onde será aberto prazo de 8 dias, com a respectiva intimação para a prática do ato. E nos termos do art. 600, §3º, do CPP, “quando forem dois ou mais os apelantes ou apelados, os prazos serão comuns”. Portanto, havendo um apelante ou apelado, é possível a carga dos autos, pelo advogado, no prazo estabelecido para o oferecimento das razões, nos termos do art. 7º, XV, da Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia). Havendo mais de um, e sendo comum o prazo para todos, entretanto, os autos deverão permanecer em cartório, onde os procuradores poderão manuseá-los e obter fotocópias.
As razões recursais são indispensáveis para o regular julgamento da apelação, sob pena de nulidade do julgamento (STJ, HC 71.054/SC).
Se o acusado apela diretamente, por termo deduzido perante o Oficial de Justiça que fez a intimação da sentença condenatória, caso tenha defensor constituído, este será intimado para arrazoar o recurso; se, apesar de intimado, o advogado deixar de oferecer as razões, o acusado deverá ser notificado para constituir novo defensor, e, apenas se não o fizer, será então nomeado, pelo Juiz, defensor dativo ou público para oferecer as razões. Se o acusado houver sido defendido, desde o início, por defensor dativo ou público, não haverá necessidade de ser notificado para constituir novo defensor, abrindo-se vista diretamente à Defesa, para o oferecimento das razões recursais. Se, após haver interposto recurso da
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acusação, o órgão do Ministério Público omite-se em oferecer suas razões recursais (o que caracterizaria a inadmissível desistência do recurso), compete ao Juiz ou Tribunal, por analogia ao art. 28, do CPP, remeter o feito ao Procurador-Geral, que poderá apresentar as razões ou designar novo membro para oferecê-las. Em se tratando de ação penal privada, o não-oferecimento das razões recursais pelo querelante é entendido como desistência do recurso. Ao querelado, lado outro, é assegurado o direito à ampla defesa, e o procedimento será o mesmo garantido ao réu em ação penal pública, com a notificação para a constituição de defensor ou a nomeação de defensor público ou dativo para a apresentação das razões.
Vale lembrar que, enquanto o prazo para a interposição do recurso, de 5 dias, é fatal, a inobservância do prazo para o oferecimento das razões, de 8 dias, configura mera irregularidade, não prejudicando o conhecimento do pleito recursal (STJ, REsp 1009051/SP). Vale também lembrar que, enquanto a petição de interposição do recurso deve ser endereçada ao Juiz de 1º grau (órgão a quo), onde será procedido o primeiro juízo de admissibilidade recursal, as razões são endereçadas ao órgão ad quem (Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, Turma Criminal do TRF, Turma Recursal do Juizado Especial Criminal).
Nos julgamentos procedidos pelos Juizados Especiais Criminais, o prazo para a apelação é de 10 dias. Todavia, a interposição do recurso deve vir acompanhada das razões recursais, não havendo possibilidade de oferecimento posterior.
Interposta contra sentença absolutória, a apelação não terá efeito suspensivo. Estando o réu preso preventivamente, será ele imediatamente posto em liberdade, haja ou não recurso pela parte acusadora, nos termos do art. 596, do CPP.
A apelação interposta contra sentença condenatória, por outro lado, terá efeito suspensivo, impedindo a execução provisória da condenação. Todavia, estando presentes os requisitos da prisão preventiva (art. 312, do CPP), pode o Juiz de 1º grau determinar que o réu aguarde preso o julgamento de eventual recurso contra a sentença, em decisão fundamentada. Encontrando-se já preso, preventivamente, o réu, quando da prolação da sentença condenatória, é pacífico o entendimento de que se presumem subsistentes as razões da prisão cautelar, devendo o réu permanecer preso enquanto aguarda o julgamento do recurso.
A hipótese de deserção, isto é, de não-conhecimento do apelo em caso de fuga do condenado, após a interposição do recurso, prevista no art. 595, do CPP, não foi recepcionada pela CF/88, pois implica o cerceamento do direito à ampla defesa, bem como do direito ao duplo grau de jurisdição. Neste sentido, já se manifestou o STF (HC 84.469/DF).
Na apelação, além de atacar o mérito da ação penal, a parte poderá argüir preliminares, isto é, nulidades e eventuais erros in procedendo ocorridos ao longo do processo, como a falta de citação do réu, a inversão da ordem de oitiva das testemunhas, a ilicitude de certa prova produzida etc. Por força da ampla devolutividade da apelação,o órgão ad quem poderá apreciar matéria não contida nas razões recursais, em exame de ofício. Contudo, nos termos da Súmula 160, do STF, “é nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não argüida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício”. Portanto, embora a apelação devolva amplamente a matéria ao reexame pelo órgão ad quem, este não poderá, ao julgar de recurso da acusação, declarar, de ofício, nulidade não argüida nas razões recursais da parte acusadora.
Distribuídos os autos ao Tribunal, já instruídos com as razões e contra-razões, será designado Relator (Desembargador Estadual ou Federal, ou Ministro), e o Ministério Público, através da Procuradoria-Geral de Justiça, na condição de custos legis, dará parecer sobre o
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Capítulo XIV • Dos Recursos
recurso. Se o Relator entender necessário, poderá converter o feito em diligência, na forma do art. 616, do CPP, sendo cabível, inclusive, um novo interrogatório do acusado. Preparado, o processo, para julgamento, o Relator pedirá dia para o julgamento solicitando a inclusão em pauta. É imprescindível a intimação do acusado e de seu defensor. Nos termos da Súmula
431, do STF, “é nulo o julgamento de recurso criminal, na segunda instância, sem prévia intimação ou publicação da pauta, salvo em habeas corpus”. Com efeito, os habeas corpus irão à mesa na primeira sessão de julgamento, após o retorno dos autos da Procuradoria de Justiça.
6.3. Protesto por Novo Júri
Recurso exclusivo da Defesa, manejado contra decisões proferidas pelo Tribunal do Júri, quando a pena imposta, por um só crime contra a vida, fosse igual ou superior a 20 anos de privação da liberdade, o protesto por novo júri foi revogado pela Lei 11.689/08. Embora minoritária, há orientação doutrinária que entende ser híbrida (penal e processual penal) a norma que prevê o cabimento de recursos defensivos. Neste sentido, posiciona-se Fernando da Costa Tourinho Filho42,	para quem, contra decisões proferidas em relação a crimes praticados antes da entrada em vigor da Lei 11.689/08, será cabível o protesto por novo júri, em virtude da ultratividade da norma penal mais benéfica ao acusado.
Obedecendo ao prazo e à forma de interposição da apelação, o protesto por novo júri será endereçado ao Presidente do Tribunal do Júri, e dispensará a apresentação de razões. É conhecido como “recurso de cinco palavras”, ou “recurso de 1 linha”: “Excelência, protesto por novo júri!”. Interposto logo após a prolação da sentença que fixa pena igual ou superior a 20 anos, no plenário do júri, é quanto bastado para o seu regular processamento. E provimento.
6.4. Embargos Infringentes ou de Nulidade
Nos termos do art. 609, parágrafo único, do CPP, “quando não for unânime a decisão de segunda instância, desfavorável ao réu, admitem-se embargos infringentes e de nulidade, que poderão ser opostos dentro de 10 (dez) dias, a contar da publicação de acórdão, na forma do art. 613. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto de divergência”.
Os embargos infringentes ou de nulidade, recurso exclusivo da Defesa, somente podem ser opostos contra o acórdão, proferido em julgamento de recurso em sentido estrito ou apelação criminal, que contenha divergência, total ou parcial, entre os votos dos membros da Turma Julgadora, em que tenham ficado vencidas as teses defensivas.
No Tribunal de Justiça de Minas Gerais, os embargos encontram-se previstos pelos art. 23, I, b, e 421 e seguintes, do RITJMG, competindo à Câmara “cheia”, isto é, integrada por seus 5 membros, apreciar os embargos interpostos contra acórdão proferido pela Turma de 3 Desembargadores (da mesma Câmara), em que 1 deles tenha proferido voto vencido favorável ao réu, no mérito (infringentes) ou em relação a nulidade argüida pelo recorrente (de nulidade). Por meio deste recurso, a Defesa busca fazer prevalecer o voto vencido, no todo ou na parte em que foi divergente, já que os dois outros integrantes da Câmara, a quem é apresentada a questão, poderão acompanhar o voto vencido e, assim, acolher as teses defensivas, invertendo o resultado do julgamento, por maioria de 3 x 2.
42 - Tourinho Filho, Fernando da Costa. Código de Processo Penal Comentado, 12. dd., Vol. 2. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 384.
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EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE
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FINALIDADES
PRAZO
�Tornar vencedora a tese divergente vencida no acórdão.
10 dias.
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REQUISITOS
EFEITOS
�Acórdão contendo divergência integral ou parcial. Defesa vencida no todo ou em parte.
Acórdão proferido no julgamento de RSE ou Apelação.
Não produz efeitos recursais: a matéria é reexaminada por órgão de idêntico grau de jurisdição.
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6.5. Embargos Declaratórios
Os embargos declaratórios, também chamados embargos de declaração, têm a finalidade de reparar ambigüidade, obscuridade, contradição ou omissão contidas no acórdão, e encontram-se previstos nos art. 619 e art. 620, ambos do CPP.
O prazo para a oposição dos embargos é de 2 dias, contados da publicação do acórdão, devendo ser dirigidos em petição endereçada ao Relator do acórdão embargado. Nos Juizados Especiais Criminais, este prazo será de 5 dias.
O recurso é processado inaudita altera pars, isto é, não há oferecimento de contra- razões. O art. 620, caput, do CPP, exige que a petição dos embargos indique os pontos em que o acórdão é “ambíguo, obscuro, contraditório ou omisso”, e seu §2º prevê o indeferimento liminar dos embargos, em caso de inobservância desta exigência.
EMBARGOS DECLARATÓRIOS
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FINALIDADES PRAZO
REQUISITOS
EFEITOS
�Esclarecimento ou correção do acórdão
2 dias (art. 619, do CPP).
• Ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão no acórdão;
• Petição indicando o esclarecimento ou correção necessários no acórdão
Não produz efeitos recursais: a matéria é reexaminada por órgão de idêntico grau de jurisdição.
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A extensão dos embargos de declaração é polêmica. Pode haver modificação substancial do julgado, através do julgamento de embargos de declaração opostos pela parte? Jurisprudência e doutrina têm admitido, de modo majoritário, a modificação do julgado por meio dos embargos. Nesta hipótese, imprimem-se efeitos infringentes aos embargos de declaração. Contudo, se o Tribunal constatar a possibilidade de se conferirem efeitos infringentes aos embargos, a parte contrária deverá ser ouvida, sob pena de nulidade do julgamento dos embargos (STJ, HC 37.686/AM).
Vale lembrar que os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de outros recursos (especial ou extraordinário), independentemente de serem ou não acolhidos
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Capítulo XIV • Dos Recursos
ou rejeitados. Todavia, se não forem conhecidos, por intempestividade, e.g., o prazo para os demais recursos não terá sido interrompido.
6.6. Carta Testemunhável
Prevista no art. 639, do CPP, a carta testemunhável é o recurso adequado contra a decisão do Juiz de 1º grau que denegar (não receber), no juízo de prelibação, o recurso interposto pela parte, bem como da decisão que, admitindo embora o recurso, obstar à sua expedição e seguimento para o juízo ad quem.
É modalidade recursal residual, cabível apenas quando não houver recurso expressamente previsto para a hipótese. Assim, por exemplo, a carta testemunhável não é a via adequada para combater a decisão, proferida pelo Juiz primevo, quedenega a apelação interposta pela parte, uma vez que, por expressa disposição legal, é cabível recurso em sentido estrito para a espécie (art. 581, XV, do CPP).
Na atual sistemática processual penal, a carta testemunhável é o recurso cabível contra a decisão que negar ou obstar seguimento:
a) ao recurso em sentido estrito;
b) ao agravo em execução;
c) ao protesto por novo júri;
d) ao recurso ordinário constitucional.
No caso de decisão que nega ou obsta seguimento de recurso especial ou extraordinário, o recurso adequado é o agravo de instrumento, nos termos do art. 28, da Lei 8.038/90.
A petição de carta testemunhável será apresentada diretamente ao escrivão, diretor de secretaria ou secretário da presidência do Tribunal, no prazo de 48 horas após o despacho que denegar o seguimento do recurso, e conterá a indicação das peças processuais a serem trasladadas (art. 640, do CPP). Naturalmente, como o despacho não costuma conter a hora em que foi exarado, o prazo é contado como sendo de 2 dias, iniciando-se na forma dos prazos processuais. Nos termos do art. 643, do CPP, o procedimento a ser seguido para o trâmite da carta testemunhável será o mesmo aplicável ao recurso cujo prosseguimento é pleiteado. Assim, se pleiteada carta testemunhável em razão de decisão que interceptou recurso em sentido estrito, o rito para o processamento da carta será o rito aplicável ao RSE.
Por fim, vale lembrar que o órgão ad quem, ao apreciar a carta testemunhável, pode proceder imediatamente ao julgamento do mérito do recurso inicialmente interposto e denegado, desde que a petição da carta esteja suficientemente instruída com o traslado das peças fundamentais para o julgamento.
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FINALIDADES PRAZO
EFEITOS
�CARTA TESTEMUNHÁVEL
Admissibilidade ou prosseguimento de recurso interceptado no juízo a quo.
48 horas.
Aqueles próprios do recurso interceptado.
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Antonio Januzzi Marchi de Godoi
6.7. Agravo em Execução
Previsto no art. 197, da Lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal), o agravo é o recurso adequado para impugnar toda e qualquer decisão proferida no processo de execução da pena, proferida pelo Juiz da Vara de Execuções Criminais. Assim, poderão ser combatidas pelo agravo em execução as decisões que decidem sobre a progressão de regime, a execução da pena de multa, livramento condicional, trabalho externo etc.
A Lei 7.210/84 não define o rito aplicável ao agravo em execução. Em face do silêncio legal, a jurisprudência concluiu, pacificamente, aplicar-se o rito definido para o recurso em sentido estrito, estando sumulado o entendimento de que “é de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal” (Súmula 700, do STF).
Nos termos do art. 197, da LEP, o agravo em execução não terá efeito suspensivo, sem qualquer exceção. Caso a parte deseje imprimir efeito suspensivo ao recurso, poderá ingressar com mandado de segurança, demonstrando a possibilidade de prejuízo, caso a decisão agravada produza seus regulares efeitos.
AGRAVO EM EXECUÇÃO (ART. 197, LEP)
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FINALIDADES PRAZO
EFEITOS
�Combater decisão proferida no processo de execução da pena ou medida de segurança.
5 dias (Súmula 700, do STF).
• Devolutivo;
• Regressivo (admite juízo de retratação).
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6.8. Recurso Especial e Recurso Extraordinário
Previsto no art. 105, III, da CF/88, o recurso especial, de competência do Superior Tribunal de Justiça, serve para impugnar decisões proferidas, em única ou última instância, pelos TRFs ou Tribunais de Justiça dos Estados, do Distrito Federal ou Territórios, quando a decisão:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
O recurso extraordinário, por sua vez, cujo julgamento compete ao Supremo Tribunal Federal, encontra-se previsto no art. 102, III, da CF/88, cabível contra qualquer decisão, proferida em única ou última instância, que:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição;
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
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Capítulo XIV • Dos Recursos
Ambos os recursos devem ser endereçados ao Presidente do Tribunal prolator da decisão recorrida, e interpostos acompanhados das respectivas razões recursais, não cabendo a interposição por termo, tal como é possível para o RSE e o apelo. O prazo para sua interposição é de 15 dias. Produzem apenas o efeito devolutivo, não o suspensivo. Caso o Presidente do Tribunal a quo não admita o recurso especial ou extraordinário, é cabível o agravo de instrumento, na forma do art. 28, da Lei 8.038/90.
Para ambos os recursos – especial e extraordinário – são exigidos os seguintes requisitos de admissibilidade:
a) prequestionamento da matéria recorrida, isto é, a prévia discussão do tema pelo acórdão impugnado;
b) enfrentamento de todos os fundamentos da decisão recorrida, quando houver mais de um, e seja cada um deles suficiente para sustentá-la;
c) o recurso deve versar sobre matéria de direito, não sendo admissível o exame de matéria fática (veracidade de depoimentos, documentos etc);
d) esgotamento das vias ordinárias, como, por exemplo, eventuais embargos infringentes cabíveis contra a decisão, e que devem ser interpostos, antes de se interpor algum dos recursos constitucionais;
e) repercussão geral, exigível apenas para o recurso extraordinário, significando que a matéria examinada no recurso deve ter relevância (do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico) e transcendência (indo além dos interesses subjetivos das partes envolvidas na ação).
RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO
RECURSO ESPECIAL	Visa assegurar a observância de lei ou tratado federal.
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RECURSO EXTRAORDINÁRIO
�Visa assegurar a observância da CF/88.
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PRAZO
�15 dias.
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REQUISITOS
�• Prequestionamento.
• Enfrentamento de toda a fundamentação do acórdão atacado.
• Tratar sobre matéria de direito.
• Esgotamento das demais vias recursais.
• Repercussão Geral = relevância + transcendência (apenas RE).
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EFEITOS
�Devolutivo.
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6.9. Embargos de Divergência
Previstos no art. 29, da Lei 8.038/90, podem ser opostos contra decisão proferida em julgamento de recurso especial ou extraordinário que manifeste entendimento diverso daquele anteriormente adotado por Turma, Seção ou Órgão Especial do mesmo Tribunal. O prazo para sua interposição será de 15 dias, contados da intimação das partes.
Naturalmente, sendo dirigidos contra decisões proferidas em recurso especial ou extraordinário, somente poderão versar sobre matéria de direito, nunca de fato.
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FINALIDADES PRAZO
EFEITOS
�EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
Combater decisão proferida em recurso especial ou extraordinário, que contrarie decisão anterior de outra Turma, Seção ou Órgão Especial do mesmo Tribunal.
15 dias.
Não produzem efeitos recursais: a matéria é reexaminada por órgão de idêntico grau de jurisdição.
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6.10. Correição Parcial
Providência 	administrativo-disciplinar	(correicional), 	também 	chamada 	recurso clandestino, a correição parcial ou reclamação, como é designada em alguns Estados,não está regulada pelo CPP, mas na Lei 5.010/66, que organiza a Justiça Federal de 1ª Instância. Por meio dela, podem as partes impugnar despachos que impliquem a inversão tumultuária do processo, permitindo ao órgão ad quem corrigir eventuais equívocos in procedendo em que incorra o Juiz.
Nos termos do Regimento Interno do Conselho da Magistratura mineira, em seu art.
11, X, a correição parcial obedece ao rito previsto para o agravo de instrumento, sendo de 10 dias o prazo para sua interposição. É recurso residual, cabível apenas quando inexistente outra via de impugnação da decisão.
São legitimados para interpô-la o Ministério Público, o Defensor, o Querelante, o
Querelado, o Curador e o Assistente.
O recurso subirá por instrumento, e a petição será diretamente dirigida ao órgão ad
quem.
Recebida a correição, não sendo o caso de indeferimento liminar, o relator poderá:
a) requisitar informações ao Juiz;
b) conferir efeito suspensivo à correição;
c) intimar o corrigido, para apresentar resposta no prazo de 10 dias, e trasladar as peças que julgar necessárias.
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Capítulo XIV • Dos Recursos
CORREIÇÃO PARCIAL
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FINALIDADES
PRAZO
�Correção de error in procedendo praticado pelo Juiz.
10 dias (rito do agravo de instrumento).
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REQUISITOS
�• Exposição do fato e do direito;
• Razões de pedir;
• Nome e endereço completo dos advogados constituídos no feito;
• Cópia da decisão recorrida;
• Cópia da certidão de intimação da decisão;
• Cópias das procurações outorgadas aos advogado.
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EFEITOS
�• Devolutivo;
• Suspensivo (a critério do relator);
• Regressivo (admite juízo de retratação).
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7. Das ações autônomas de impugnação
7.1. Dos Habeas Corpus
7.1.1. Conceito e cabimento
A ordem, ou writ de habeas corpus é a ação cabível contra o constrangimento ilegal sofrido pelo indivíduo em sua liberdade de locomoção. Sua origem mais remota se encontra na Magna Charta de 1215, promulgada por João Sem Terra, da Inglaterra, como fruto do acordo firmado entre aquele Rei e os Barões,como eram chamados os
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cavaleiros retornados das Cruzadas empreendidas por Ricardo I, o “Coração de Leão”. Foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro em 1832, com a promulgação do Código de Processo Criminal imperial. Atualmente, encontra-se expressamente previsto na Constituição da República promulgada em 1988, em seu art. 5º, LXVIII, bem como nos art. 647 ao 667, todos do CPP.
�Art. 5º, LXVIII – conceder- se-á “habeas-corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
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Embora regulado no Título II, do Código de Processo Penal, onde se encontram os recursos criminais, sua natureza jurídica é de ação penal autonôma, destinada a amparar o direito de liberdade individual. Distingue-se dos recursos, pois pode ser empregado antes ou depois do trânsito em julgado da decisão configuradora do constrangimento ilegal. Pode também ser utilizado como substitutivo do recurso cabível, e até ser impetrado cumulativamente com ele. Eventualmente, pode ser utilizado como recurso, por exemplo, contra a decisão que recebe a denúncia ou queixa-crime. Segundo Fernando da Costa Tourinho Filho, é verdadeira ação penal popular, já que pode ser impetrada por qualquer pessoa, menor ou maior, independentemente de capacidade processual ou postulatória43.
É chamado remédio heróico, pois se presta a assegurar, de forma célere, o direito de ir e vir. Portanto, a impetração deve estar acompanhada dos elementos de prova necessários à demonstração da ilegalidade. De todo modo, o órgão competente para julgar o habeas corpus
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Antonio Januzzi Marchi de Godoi
deverá requisitar as informações que entender necessárias à autoridade coatora.
Todo e qualquer ato que constitua ilegal cerceamento da liberdade individual poderá ser objeto da ordem de habeas corpus, que será liberatório quando dirigido contra ato ilegal atual, para ver-se o paciente colocado em liberdade, ou preventivo, se desafiado 	por ameaça de cerceamento, real ou potencial, para a obtenção de salvo-conduto. A ameaça de constrangimento ilegal pode se caracterizar pela simples instauração de inquérito policial ou pelo início da ação penal, ou pela lavratura de termo circunstanciado de ocorrência, desde que seja possível antever, como resultado das investigações ou do processo, a possibilidade de privação da liberdade do paciente. Nestas hipóteses, o habeas corpus preventivo será concedido com a determinação de trancamento do procedimento investigatório ou criminal, qualquer que seja o procedimento. O trancamento do inquérito policial ou do TCO implica seu arquivamento, e o da ação penal, a extinção do processo, com ou sem o julgamento de seu mérito.
Chama-se, por sua vez, suspensivo o writ impetrado contra ordem de prisão já expedida em desfavor do paciente. Sua finalidade é a obtenção do contramandado de prisão.
HABEAS CORPUS
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Espécie
�Combate
�Objetivo
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Liberatório
�Constrangimento atual
�Ordem de soltura.
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Preventivo
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Ameaça de constrangimento
�• Salvo-conduto
• Decisão de trancamento do inquérito ou ação penal.
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Suspensivo
�Ameaça iminente
�Contramandado de prisão
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A liberdade de locomoção, como se vê, é garantida pelo habeas corpus inclusive quando exista apenas receio de constrangimento futuro, causado, por exemplo, pela instauração de inquérito policial. Contudo, deve haver ameaça à liberdade
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de locomoção do acusado ou investigado. A instauração de inquérito policial ou de processo por infração para a qual seja cominada apenas a pena de multa, por exemplo, não pode ser combatida por meio de habeas corpus (Súmula 693, STF). É certo que, havendo direito líquido e certo a ser assegurado, sempre restará a via do mandado de segurança, writ adequado para ver sanada ilegalidade que não implique cerceamento do direito de locomoção individual.
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“Súmula 	693.	Não 	cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada”
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Contra punição disciplinar, de caráter militar, nada obstante a expressa vedação contida no art. 647, do CPP, e também no art. 142, §2º, da CF/88, é cabível a impetração de HC, uma vez que o ato de punição disciplinar enquadra-se como ato administrativo, sujeito ao exame judicial (STJ, HC 80852/RS), ao menos, em seus aspectos extrínsecos.
43 - Tourinho Filho, Fernando da Costa. Processo Penal, vol. 4, 29ª ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 573.
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Capítulo XIV • Dos Recursos
A imposição de medida sócio-educativa de internação, ao adolescente infrator, por sua vez, também autoriza a impetração do habeas (STF, HC 85.503/SP).
A ação de habeas corpus pode ser promovida, também, contra a sentença condenatória passada em julgado, quando for manifesto o constrangimento ilegal, substituindo-se aí à ação de revisão criminal. Afinal, nos termos do art. 648, do CPP, ocorrerá coação ilegal:
I - quando não houver justa causa;
II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei; III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza;
VI - quando o processo for manifestamente nulo;
VII - quando extinta a punibilidade.
As hipótesesdos incisos VI e VII autorizam, igualmente, a revisão criminal, após o trânsito em julgado da decisão condenatória.
7.1.2. Competência
A competência para o julgamento do habeas corpus é fixada a partir da qualidade do
coator, e também do paciente.
Ao STF compete processar e julgar habeas corpus, originariamente, quando “o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância”, nos termos do art. 102, I, i, da CF/88. E também quando o paciente for Ministro de Estado, Comandante da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, membro de Tribunal Superior, Tribunal de Contas da União ou chefe de missão diplomática de caráter permanente. Embora a recente Súmula 690, do STF, disponha competir “originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus contra decisão de turma recursal de juizados especiais criminais”, em recentes julgamentos, o Excelso Pretório tem reconhecido a competência dos Tribunais de Justiça dos Estados para processar e julgar habeas corpus contra ato emanado de turma recursal (STF, HC 90.905/SP). Ao STF compete também julgar, em recurso ordinário, o acerto da decisão que denega habeas corpus, proferida por Tribunal Superior, em única instância.
Ao STJ, por seu turno, compete processar e julgar habeas corpus quando o coator ou paciente for Governador de Estado ou do Distrito Federal, desembargador dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, membro dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral, nos termos do art.
105, I, c, da CF/88. Ao STJ compete também julgar recurso ordinário contra decisão denegatória de habeas corpus proferida, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal.
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Os Tribunais Regionais Federais, por sua vez, têm competência para julgar habeas corpus quando a autoridade coatora for Juiz Federal. Ao Juiz Federal, por sua vez, compete julgar os habeas corpus em matéria criminal de sua competência quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição, nos termos do art. 109, VII, da CF/88.
A Justiça Estadual tem competência residual, e a Justiça Militar e Eleitoral têm sua competência definida nas respectivas legislações específicas. A competência dos Juízes de Direito Estaduais ou Federais, bem como dos Juízes Eleitorais, é definida pela natureza da infração em apuração. Vale lembrar que a competência para julgar habeas corpus impetrado contra ato de Promotor de Justiça é afeta ao Tribunal de Justiça, e de Procurador da República, ao Tribunal Regional Federal respectivo.
A Justiça do Trabalho, desde a Reforma do Judiciário, operada pela E.C. 45/04, passou a dispor de competência para julgar habeas corpus, “quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição”, nos termos do art. 114, IV, da CF/88.
7.1.3. Legitimidade
No pólo ativo da ação de habeas corpus, figura o impetrante (o autor da ação), que a impetra em favor do paciente (a pessoa submetida ao constrangimento ilegal), resultante de ato praticado pelo impetrado (autoridade ou pessoa coatora).
O habeas corpus pode ser impetrado por todo e qualquer cidadão, para fazer cessar constrangimento ilegal praticado contra si ou contra terceiros. Não é sequer necessária capacidade postulatória para dirigir o pedido de HC à autoridade competente. Naturalmente, portanto, o próprio paciente pode promover a ação de habeas corpus em defesa de seu direito de locomoção, quando será também impetrante. A legitimidade ativa para o habeas corpus, como se vê, é a mais ampla possível, e o Ministério Público, inclusive, poderá impetrar a ordem, como expressamente autoriza o art. 654, do CPP.44
Nos termos do art. 654, §2º, do CPP, os Juízes e Tribunais poderão conceder, de ofício, o habeas corpus, quando constatarem a ocorrência ou a iminência de constrangimento ilegal de alguém.
A legitimidade passiva, por sua vez, cabe à pessoa ou autoridade cujo ato deu causa ao ilegal cerceamento da liberdade do paciente. Em regra, coator é a autoridade pública, tal como o Delegado de Polícia ou o Juiz de Direito. Eventualmente, contudo, a coação pode ser praticada por particular, como o administrador de uma clínica de saúde, ou de uma instituição psiquiátrica.
NOTA: A Pessoa Jurídica não poderá figurar como paciente em ação de habeas corpus,
uma vez que não pode ser submetida a constrangimento ilegal do direito de ir e vir.
7.1.4 Procedimento
O habeas corpus é uma ação de processamento simples e célere. Nos termos do art.
654, §1º, do CPP, sua petição deverá conter:
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Capítulo XIV • Dos Recursos
a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou ameaça;
b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor;
c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder escrever, e a designação das respectivas residências.
Pode ser apresentado por meio de telegrama, via fac-símile ou outras formas de comunicação admitidas em lei.
Como não se admite a produção de provas no procedimento do habeas corpus, a impetração deve estar acompanhada de elementos de prova pré-constituídos.
A ordem pode ser concedida liminarmente, inaudita altera pars, quando houver evidente cerceamento ilegal do direito de liberdade, demonstrado na petição de habeas corpus. Não sendo o caso de concessão liminar da ordem, e nem de rejeição liminar, pela falta de algum dos requisitos exigidos pelo art. 654, §1º, do CPP, o órgão competente poderá requisitar informações ao coator, se julgá-las necessárias.
A ação de habeas corpus tem prioridade de julgamento. Nos termos do art. 664, do CPP, que regula o julgamento do pedido pelos Tribunais, “recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas corpus será julgado na primeira sessão, podendo, entretanto, adiar-se o julgamento para a sessão seguinte”. Nestes órgãos colegiados, a decisão será tomada por maioria de votos, cabendo o voto de desempate ao Presidente do órgão, se não tiver tomado parte na votação, devendo prevalecer, em caso de empate, a decisão favorável ao paciente, nos termos do art. 664, parágrafo único, do CPP.
Uma vez cessado o constrangimento ou a ameaça, antes do julgamento do writ, fica
prejudicado o habeas corpus, pela perda do objeto.
Concedida a ordem determinando a soltura do paciente, será condenada nas custas a autoridade que, por má-fé ou evidente abuso de poder, houver determinado a coação, nos termos do art. 653, do CPP.
Contra a decisão que concede ou denega a ordem de habeas corpus, proferida por Juiz monocrático, caberá recurso em sentido estrito. Se proferida decisão denegatória por Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal, é adequado o recurso ordinário constitucional, endereçado ao STJ; se concessiva a decisão, serão

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