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O Historicismo e a Concepção do Estado em Hegel

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O Historicismo e a Concepção do Estado em Hegel
Aldenira Maria de Andrade 
Brenda Nattiele Hónorio de Brito
Eduardo Henrique de Souza Alves
João Paulo de Oliveira Santos
Luiz Carlos Rodrigues de Matos
Resumo
Este trabalho tem como objetivo apresentar a concepção histórica de Hegel, ele foi o mais profundo e genial provavelmente o maior e importante filósofo no final do século XVIII e no começo do século XX, foi o fundador do hegelianismo que se baseava na idéia principal de que a realidade é capaz de ser expressa em categorias reais. A dialética hegeliana é o pensamento a ser estudado em Hegel, ela representa uma troca de patamares, é algo que surgiu na historia, a grande inovação desse pensamento em relação à dialética, é justamente o fato de que o conflito entre tese e síntese, é um conflito real, racionalista, onde o real é racional. A síntese nada mais é do que a superação desses conflitos, onde o espírito absoluto opera um conceito (tese), gerando seu oposto ou contraditório (antítese), e esses dois criam uma síntese, que nada mais é do que uma, a parte da outra, é a partir daí que tudo que acontece pode se explicar através dessa dialética, ou seja, ela é a base para explicar fatos históricos, revoluções sociais, movimentos intelectuais por exemplo. A dialética hegeliana é essencialmente idealista, é um processo da racionalidade humana, é a alteração e a transformação do mundo e da história, que se faz por meio da racionalidade, essa é a característica desse movimento para Hegel. Ele dizia que as concepções filosóficas do passado eram sem vida, não históricas e tendenciosas, por isso ele defendeu a forte ligação entre a história e a filosofia.
Palavras chave (Hegel, hegelianismo, tese, antítese, síntese).
Abstract 
This paper aims to present the historical conception of Hegel, it was the most profound and brilliant probably the most important philosopher in the late eighteenth century and early twentieth century, was the founder of Hegelianism which was based on the main idea that reality can be expressed in real categories. The Hegelian dialectic is thought to be studied in Hegel, it is an exchange of levels, is something that came in history, the great innovation of this thought in relation to the dialectic is precisely the fact that the conflict between thesis and synthesis, is a real conflict, rationalist, where the real is rational. The synthesis is nothing more than to overcome these conflicts, where the absolute spirit operates a concept (thesis), generating its opposite or contradictory (antithesis), and these two create a synthesis, which is nothing more than one, of the another is from there that everything that happens can be explained through this dialectic, that is, it is the basis to explain historical facts, social revolutions, intellectual movements for example. The Hegelian dialectic is essentially idealistic, is a process of human rationality is the change and the transformation of the world and of history, which is done by means of rationality, this is the characteristic of this movement to Hegel. He said that the philosophical conceptions of the past were lifeless, not historical and biased, so he defended the strong link between the history and philosophy.
Keywords (Hegel, Hegelianism, thesis, antithesis, synthesis)
Introdução
A doutrina nacional hegeliana vem bem expressa na seguinte frase, extraída da introdução aos lineamentos da filosofia do direito, a saber:
 “o que é real é racional e o que é racional é real. Todo real só é real porque é conhecido por um sujeito que lhe identifica como real”. (Hegel).
Isso não quer dizer que tudo que é real seja racional, tendo em vista que possa ser identificado como o caos, como o desordenado, não há, então, a razão. Dizer que o real é racional, não quer dizer que todo real é racional. 
O sentido de organização, de ordenado, de idealizado decorre, exatamente, da intervenção do homem como ser racional sobre a realidade.
Além disso, o idealismo hegeliano expressa-se pelo estudo do espírito, e de suas manifestações em todas as suas latitudes e dimensões. O pantologismo hegeliano abraça o ser em seu, de modo a identificar-se em seu bojo uma preocupação mais que simplesmente lógica. O pantologismo se apega à doutrina segundo a qual todo real é inteligível, nada havendo nele de irracional.
Este artigo constitui-se como exposição e o uso da dialética como o objetivo de localização de termos centrais, tanto da relação de Hegel, com o historicismo, como o de uma atualização do próprio hegelianismo.
O historicismo surgiu nas primeiras décadas do século XIX com o desenvolvimento das técnicas de análise e crítica das fontes documentais utilizadas pelos historiadores. A fonte imperadora vem do século anterior e chega ao século XIX. Bebeu água na fonte dos iluministas, tais como Gibbon, Voltaire, Hume e Kant, tendo erigido críticas a este, além de haver sido influenciado, também, de filósofos tais como Platão, Aristóteles e outros dos séculos anteriores, procedendo de ideal do ideal de um saber fiel a seu objeto, cuja sua verdade pode ser representada adequadamente.
O individual é o que não se repete, o único que não se submete à regularidades passíveis de conformar uma natureza para além de suas modificações históricas.
Hegel é contemporâneo de todo embate de idéias, movendo-se em seu meio e nele interferindo ativamente. Ele inicia sua trajetória com reflexões “teleológicas”, mas que, realmente, perguntavam pela dimensão histórica da religião, assim, limitada e constituída pela sua existência social, mundana. Converte-se, depois, à Filosofia, cabendo a, concebendo-a, como processo, como processo, como fenomenologia das várias formas de configuração do espírito. Por fim retoma na maturidade as preocupações com a história, em cursos monumentais ministrados na Universidade de Berlim, onde era catedrático. E nesse ponto culminante de seu itinerário que Hegel dialoga mais intensamente como o historicismo em formação, elaborando conceitos de grande importância no conjunto de sua própria obra, e também como referência à perspectiva, até certo ponto, antagônicas às suas idéias, as quais, mais tarde, foram formuladas claramente.
História e a Filosofia da História:
Hegel foi um dos primeiros e mais contundentes críticos da doutrina Jusnaturalista, hegemônica, desde o debate político travado durante as revoluções na Inglaterra do século XVIII. Nesta época, Hobbes e Locke se opuseram ao significado do “Estado natural” instituído do “direito das gentes” ambas concordavam em basear suas teorias sobre a sociedade e o Estado nesse nível elementar e fundante da sociabilidade, concebido como o da própria natureza humana. A influência de Hegel, no século seguinte, XIX, foi decisiva, articulando as concepções do direito e da política, e limitando, o espaço da história: As modificações sociais registradas, nunca poderiam ser profundas a ponto de alterar algo na essência humana eterna. 
Para a Filosofia da história de Hegel, portanto, era imperioso realizar um ajuste de contas com semelhante doutrina. Desta forma, Hegel apresenta logo de início suas preleções, antes de torna-la objeto de crítica:
(...) quando se falou de natureza humana, pensou-se, sobretudo, em algo de permanente.
“A exposição da natureza humana deve ajustar-se a todos os homens, aos tempos passados e presentes. Esta representação universal pode sofrer infinitas modificações, mas o fato, o universal é uma e a mesma essência, nas mais diversas modificações”. ((RH). P. 50 (51)).
1. Sistema Hegeliano
A Importância do Sistema Hegeliano
O sistema filosófico desenvolvido por Wilhelm Friedrich Hegel, traduz a importância desse filósofo. 
Esse sistema foi um conjunto de ideias que produziu grandes efeitos sobre o espírito moderno; essas ideias influenciaram muito a área do Direito, isso é visto por meio de suas várias obras, e uma delas que merece destaque é a chamada Lineamentosde filosofia do Direito, essa obra é referência no que tange a estudos da Filosofia do Direito.
Racionalismo de Hegel
É válido destacar que a obra hegeliana possui uma característica essencialmente racionalista mas de caráter idealista. Ou seja, o idealismo fala que o mundo material só pode ser compreendido a partir de uma verdade mental, subjetiva; e é isso que Hegel vai buscar através de seu racionalismo, sendo que racionalismo é o modo de pensar que atribui valor somente à razão, ao pensamento lógico.
Isto significa dizer que toda a teoria do conhecimento humano vem marcada por dois pontos: 
- ou pela ideia de que a realidade mora na racionalidade, 
- ou de que o sujeito é o construtor da realidade das coisas na idealidade da razão.
Ambos os pontos mostram a ideia de que tudo que é conhecimento já é pensamento. Nada existe fora do pensamento, ou seja, o ser para o idealista, é uma ideia, é um ser pensado.
Vale ressaltar, também, o que os estudiosos chamam de panlogismo. Esse termo é utilizado como referência à filosofia de Hegel, uma vez que “pan” significa tudo e “logos” razão, ou seja, o ser possui existência racional, lógica. O que é real é racional, o que é racional é o real.
Dialética
O autor faz um paralelo entre a dialética hegeliana, marxista e kantiana. E destaca também que o criticismo kantiano foi a matriz teórica do hegelianismo e por meio dela Hegel compôs sua concepção filosófica; um racionalismo diferenciado. É explicado, aina, dois tópicos destacados por Hegel em sua Filosofia do Direito: a concreção dialética e a dialética como forma de superação dos opostos pela síntese.
Concreção dialética
Hegel traz uma filosofia racionalista, e é crucial diferenciar a doutrina elaborada por ele das doutrinas elaboradas por outros racionalistas. 
Em um primeiro momento, o autor ressalta a existência de uma diferença substancial, considerável entre dois racionalistas: Kant e Hegel, essa diferença é mostrada na concreção dialética.
Quando se fala em concreção dialética hegeliana, tem-se a ideia de unidade, de concretude; na qual a experiência (ser) e a razão (dever-ser) se unem de modo indiferenciável.
A ideia da dialética como forma de superação dos opostos pela síntese
A dialética é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que levam a outras ideias; sendo assim, a dialética como forma de superação dos opostos pela síntese traz: uma tese (A), que é uma afirmação; uma antítese (B), que é uma afirmação contrária; e uma síntese(C), que é o resultado da síntese entre as duas primeiras. A síntese supera a tese e a antítese (portanto, é algo de natureza diferente), ao mesmo tempo em que conserva elementos das duas e conduz a discussão, nesse processo, a um grau mais elevado. E, na sequência, dá origem a uma nova tese, que inicia novamente o ciclo.
Assim, ocorre, por exemplo, os movimentos intelectuais, de modo que tudo se pode explicar na base dinâmica desta dialética.
A originalidade de Hegel foi fazer desta lógica dialética uma lógica do ser, isto é, que rege o próprio modo de ser das coisas. Assim, também, a própria história, em que o Estado moderno seria a síntese de interesses em conflito entre família e sociedade civil, segundo Hegel.
Hegel e a Modernidade
Para a Filosofia do Direito de Hegel é somente de um ponto de vista retrospectivo que se consegue fazer uma auto exposição da modernidade. Por isso o autor destaca a preocupação de Hegel com a História, principalmente com a Revolução Francesa, com o Iluminismo e com a Reforma. O filósofo dá a esses eventos atenção especial, pois é por meio da análise deles que identifica-se uma possível relação entre a objetividade do Estado e a subjetividade dos indivíduos, buscando explicar as conquistas da modernidade.
2. Doutrina hegeliana
Apesar das opiniões dessa corrente filosófica, o Idealismo tem como tema central o Eu como objeto e sujeito. A subjetividade desse pensamento é a chave para a compreensão dos fatores externos advindos dos internos. 
Sua filosofia perseguia a historicidade humana, primordialmente. E é através desse pilar que Hegel construiu sua tríplice principal: o Ser, a Natureza e o Espírito. Nota-se que as três categorias remetem à corrente idealista, pois se preocupa com o Eu subjetivo. 
O Ser, para Hegel, seria então um conjunto de elementos lógicos da realidade. A ideia é vista como algo concreto e, portanto, suscetível ao processo dialético de tese, antítese e síntese. Aqui, nota-se uma preocupação ontológica. 
Já a Natureza é a manifestação do Ser no mundo fenomênico. É a maneira pela qual a ideia se exterioriza no espaço-tempo, ganhando forma e tangibilidade. 
O Espírito é a síntese entre a ideia inicial e sua natureza, sendo a consciência da realidade. Portanto, o Espírito se encontra numa posição mais elevada que o Ser e a Natureza. 
Partindo-se desse tripé, Hegel elabora a noção de dialética. Todavia, sua filosofia dialética dispensa a dicotomia quase sempre existente nos pensadores idealistas. Para Hegel, o mundo não deve ser dividido entre o mundo ideal e das coisas (como Platão pregava e, posteriormente, Kant). Na verdade, o real e racional devem ser entendidos como um só. 
Em um ciclo constante, o mundo entraria em conflitos seguindo o raciocínio: tese – antítese – síntese. A síntese, todavia, não é entendida por Hegel como a retificação das impropriedades das duas anteriores e sim como a junção entre o aparente certo. Porém, posteriormente, esse novo certo poderá ser refutado, gerando um novo conflito ideológico. 
Percebe-se a influência da história no pensamento de Hegel. Para o filósofo, a história da humanidade plasma o homem dentro de suas qualificações racionais. 
Em suma, os conflitos teóricos que ocorrem na comunidade científica, bem como os confrontos reais das relações humanas (lides, guerras e etc.) decorrem de um momento. Ou seja, a tese vigente só será mantida como tese se não houver uma teoria que possa contrapô-la, seguindo o contexto histórico e ao direito propriamente dito.
 Hegel focou sua análise filosófica na importância do Estado para a concretização de direitos e trouxe à baila a noção da ética como pilar individual das ações humanas. Para ele, tanto o direito em si como a moralidade e a ética estavam ligadas à noção de espírito objetivo, isto é, exterior ao indivíduo.
O Direito era, então, “a existência do livre querer”, daí a sua tese de que a filosofia do direito nada mais era do que uma “filosofia da liberdade” (NADER, 2009, p. 147). Liberdade esta concedida por um ente autorreferente: o Estado.
3. Justiça e Direito para Hegel
As idéias de Hegel, quando projetadas no âmbito dos problemas jurídicos, estruturam-se no sentido de construírem uma totalidade, ao mesmo tempo explicativa e crítica de sua proposta ao Jusnaturalismo e a escola histórica. 
Para Hegel, a filosofia do Direito possui um objeto, qual seja a idéia do conceito do direito, e isso vem declarado desde o princípio de sua obra. O objeto da ciência filosófica do direito é a ideia do direito, quer dizer, o direito é a sua realização. Defendendo que o verdadeiro conceito de direito é aquele que possui a realidade assumida pelo próprio conceito. Toda realidade que não forma realidade assumida pelo próprio conceito é existência passageira, contingência exterior, opinião, aparência superficial, erro ou ilusão. A forma concreta que o conceito a si mesmo se dá, ao realizar-se, está no conhecimento do próprio conceito. 
A Filosofia do Direito aparece como forma de manifestação da Lógica, porque nesta está contida a liberdade dos conceitos, na plenitude dessa abstração há a idéia de igualdade das pessoas. Em sentido pleno, é o conceito de direito que deve se detém toda uma especulação jurídica, pois se esse conceito existe, e sua existência é racional, conclui-se que: “o que é racional é real e o que é real é racional” e a lógica disto, é que ali reside toda a liberdade do espírito enquanto agente da realidade exterior.
 “§ 4 – O domínio do direito éo espírito em geral, é a sua base própria, o seu ponto de partida está na vontade livre, de tal modo que a liberdade constitui a sua substância e o seu destino e que o sistema do direito é o império da liberdade realizada, o mundo do espírito produzido como uma segunda natureza a partir de si mesmo”. (Hegel, Princípios da Filosofia do Direito, 1990, p.29).
Surgirá a justiça, neste conjunto de ideias, não somente como um mero dado axiológico da sociedade, mas como uma idéia que norteia o próprio direito. E esta Ciência, consubstancia-se por meio da legislação, e, como base nesta, os indivíduos age para a defesa e construção de seus direitos, aí estão à justiça ética no sistema hegeliano.
O direito representa nada mais nada menos que, uma manifestação do espírito objetivo, uma manifestação que consiste na liberdade em grau máximo da capacidade volitiva humana. E se identifica na noção de direito a ideia de liberdade. Há que se dizer que:
“§ 29 – 0 facto de uma existência em geral ser a existência da vontade livre constitui o Direito. O Direito é, pois, a liberdade em geral como ideia” (Hegel, Princípios da Filosofia do Direito, 1990, p. 13). 
Para melhor compreensão dessa relação entre querer, liberdade e direito, há que se dizer que:
O elemento de pura indeterminação ou da pura reflexão do ‘‘eu” em si mesmo, e nela se dissipa toda a limitação, todo o conteúdo fornecido e determinado imediatamente pela natureza, carências, desejos e pelos instintos ou por qualquer elemento intermediário; a infinitude ilimitada da abstração e da generalidade absolutas, o puro pensamento de si mesmo.
Ao mesmo tempo, o “eu” é a passagem da indeterminação diferenciada, a delimitação e a posição de uma determinação específica que passa a caracterizar um conteúdo e um objeto. Pode este conteúdo, ser dado pela natureza ou produzido a partir do conceito do espírito. Com esta afirmação de si mesmo, o “eu” entra na existência em geral, é o momento absoluto do finito e do particular do “eu”.
A vontade é a unidade destes dois momentos:
É a particularidade refletida sobre si que se ergue ao universal, quer dizer: a individualidade e a autodeterminação. O “eu” consiste em situar-se a si mesmo um estado que é a própria negação do eu, e não deixar de ser ele mesmo, ou seja, deixar de estar na sua identidade e na sua universalidade, e estar ligado a si mesmo.
Pode-se mesmo dizer que o Direito é o existir da vontade livre. É essa vontade livre que haverá de se converter em vontade determinada com a formação dos direitos positivos dos Estados. Ou seja, há no Direito, algo de universal, de lógico, de abstrato, de absoluto, assim como algo de concreto, de relativo e de cultural.
 A ideia de justiça é a expressão mais lúcida da racionalidade do direito e do Estado, no momento em que a vontade não mais aparece como um “abstractum”, mera faculdade da alma que, como forma, busca um conteúdo que lhe é exterior, enfim, como um em si, mas como sua própria finalidade, forma e conteúdo de si mesma, em si e para si, conhecendo-se como vontade livre. Só assim, a forma da expressão da vontade livre, em sí e para sí, real racionalidade, pode-se falar na idealidade do direito, ou na ideia de justiça.
 Dado axiológico da sociedade – significado da sociedade. Axiológico é tudo aquilo que se refere a um conceito de valor ou que constitui uma axiologia, isto é, os valores predominantes em uma determinada sociedade.
O aspecto axiológico ou a dimensão axiológica de determinado assunto implica a noção de escolha do ser humano pelos valores morais, éticos, estéticos e espirituais.
Percebe-se que, também, nesse setor de pensamento hegeliano, dedicado à discussão do direito, o racionalismo é notório e indisfarçável, à medida que direito e justiça haverão de ser identificados como o que há de racional e não como o que há de irracional. À medida que a racionalidade avança, inclusive historicamente, produz-se o que se pode chamar de absorção do irracional pelo racional, e nessa expansão encontram-se as metas da racionalidade jurídica.
Cumpre à cultura, ao pensamento como consciência do indivíduo na forma universal, que eu seja concebido como uma pessoa universal, termo em que todos estão compreendidos como idênticos. Deste modo, o homem vale porque é homem, não porque seja judeu, católico, protestante, alemão ou italiano. Tal conscientização do valor do pensamento universal tem uma importância infinita, e só se torna um erro quando se transforma na forma do cosmopolitismo para se opor à vida concreta do Estado.
A liberdade do querer que determina o direito não se esvai num querer arbitrário, há no querer jurídico a ideia de que se realiza como uma manifestação do espírito objetivo, e, bem entendido, num querer racional. A noção do arbítrio contém em si a ideia do caos, de indeterminação do querer do outro, de despotismo, de pura paixão sem razão. Por isso, o direito não poderá ser confundido, jamais, com a ideia de vontade arbitrária, mas como vontade que organiza que sistematiza que favorece as liberdades individuais.
Se os indivíduos possuem direitos, esses direitos vêm pela ordem jurídica. O Direito, que é máxima expressão da liberdade, historicamente concretiza-se, individualiza-se, torna-se realidade fenomênica de um modo pluricultural, harmoniza-se com as diferenças e as tendências dos povos, exteriorizando-lhes os sentidos de viver, e nisso é que consiste a noção de positividade do Direito.
 “Organização estatal ou ordem jurídica é o meio pelo qual se dá a eficácia aos direitos ou liberdades que os indivíduos em e que, por sua vez, por se tratar de direitos e não de privilégios, de liberdades no interesse de todos e de cada um, é também uma determinação desses direitos, sem o que se cairia, ou no estado de natureza, ou no despotismo, ou no caos arbitrário ou liberdade sem lei, ou na supressão das liberdades para conferi-las como privilégio a alguns” (Salgado, A ideia de justiça em Hegel).
	A aproximação do direito positivo da máxima racionalidade dá-se à medida que se alcança a noção de sistema, de harmonia racional, de todo orgânico, de mundo controlado e feito legislação. É nesse momento que aparece clara a preocupação racionalista de Hegel de ver preponderar o direito positivo sobre o direito costumeiro, o direito legislado sobre o não legislado, o direito organizado com relação ao direito não organizado, espontâneo, mera ocorrência, mera manifestação costumeira.
Apesar do que se disse, o direito vigora em sua abstração, mas também se manifesta como realidade concreta nas instituições e nas práticas da sociedade civil, misturando-se, portanto, às individualidades e às particularidades morais e civis dos povos.
O racionalismo do sistema jurídico há de imperar, não somente quando se trata de pensar na lei, mas também, quando se trata de pensar na aplicação da lei. Nesse sentido, o sistema hegeliano haveria de prever em seus projetos filosóficos a organicidade do ordenamento jurídico. Este decorre da relação harmoniosa que parecem apresentar os elementos do sistema: de um lado a lei, de outros, a jurisdição, como forma institucionalizada para a aplicação da lei. E é a jurisdição o direito de cada um, em face do outro, por meio da sentença. E esta sentença, que é a qualificação legal de cada caso, garante o direito subjetivo das partes. Quanto à lei, porque é conhecida e é, portanto, a lei da própria parte. E o direito da consciência é satisfeito pela confiança na subjetividade de quem decide. Tal confiança funda-se, essencialmente, na igualdade que, do ponto de vista da situação particular, da classe comum, há entre a parte e quem decide.
Daí a necessidade de o sistema jurídico funcionar na base de proibições e negação (não fazer, deixar de fazer, controlar o que fazer), que significam restrições da liberdade abstratamente concebida. Ora, o convívio importa, rigorosamente, em concessões recíprocas, para que o todo possa subsistir, e é por isso, que o Estado prepondera por sobre os interesses pessoais. Pois existe para preservar a continuidadedo todo, e não da parte. Justifica-se a punição por parte do Estado. Com pena de morte, inclusive, se for necessário.
Se duas vontades não conseguem conviver harmoniosamente, mister se faz a presença interventiva do Estado com suas leis, com a instrumentalização jurídicas.
Por fim, pode-se concluir que só a personalidade confere o direito sobre as coisas, e que, o direito pessoal é essencialmente um direito real, entendendo-se “as coisas”, como sendo interpretada em um sentido mais geral, como o que é exterior à liberdade, onde se pode incluir também o meu corpo, a minha vida. O direito real é o direito da personalidade com tal.
Pode-se sintetizar a doutrina filosófica acerca dos direitos e das leis construídas por Hegel, num sintético e sábio ensinamento que não esconde o seu sentido Kantiano, a saber:
“Se uma pessoa respeita os outros como pessoa sintetiza que o indivíduo encontra-se, socialmente, com sua própria dignidade num meio intersubjetivo, onde reconhece no outro à mesma qualidade humana”. 
Há uma preocupação hegeliana, que corrobora com o pensamento de Kant, de que uma pessoa não deve ser tratada nunca como meio, e sempre como fim, e que a finalidade do direito é permitir que as liberdades selassem uma convivência. 
	Não há o objetivo de esgotar um assunto tão hodierno e pedagógico, pois o pensamento de Hegel trabalha com o metafísico, o espírito que adquire abrangência singular, ou seja, o grande causador dos fatos sociais e históricos, de tal forma que se fosse feita a tentativa de esgotar a pesquisa, teríamos de debruçar muito além dessas fronteiras dessas linhas tracejadas neste estudo em comento.
	 Para Hegel o direito e o estado deveriam ser consequências da lapidação do espírito, ou ao contrário, a lei retardaria o desenvolvimento do ser humano. A justiça surgirá em um conjunto de idéias, não somente como um mero dado axiológico da sociedade, mas como uma idéia que norteia a formação do próprio direito. O direito consubstancia-se por meio da legislação, e com base na legislação, os indivíduos agem em defesa e construção dos direitos. E o Estado seria o ápice do desenvolvimento espiritual humano. Para Hegel, dialética idealista é que constrói o Estado.
4. Direito e Estado Ético
	O Estado é a manifestação do espírito, nele estando às noções de moralidade e de liberdade, que cumpri sua missão racional. É a realidade em ato de idéia moral objetiva em si por si, que se manifesta em três modos: Espírito subjetivo (alma, consciência e a razão), Espirito objetivo (direito, moralidade e o costume), Espírito absoluto (arte, religião e a filosofia) que é uma síntese do espirito subjetivo e objetivo. A arte registra a intuição da idéia do absoluto e a filosofia expressa o absoluto. Quanto o espírito objetivo, que abriga o direito, seria a existência de o livre querer ou a liberdade externa que, não sendo perfeito leva a moralidade. A filosofia do direito por Hegel é a filosofia da liberdade, que tem a altura máxima do Estado.
	O Estado é um estágio evolutivo dos corpos razões humanas que oferece aos cidadãos a ordem e o império da razão, possui como caracteres objetivos identificáveis na prática a racionalização substancial moral (direito natural) e as leis positivadas ordenam a sociedade em organização jurídica (direito positivo). O direito de propriedade é derivação da vontade em si, enquanto o contrato surge da relação intersubjetiva de vontade, relação entre sujeito ou sujeito e objeto. O relacionamento entre indivíduos no ambiente localiza-se no campo da ação.
Quanto á filosofia política considerou o Estado como produto da razão humana e portador de direitos absolutos sobre os indivíduos. Hegel encarou o problema da representação moderna ao trazer para a definição estatal as perspectivas de agregar as liberdades subjetivas (individuais) na vontade substancial universal (estado) trouxe a idéia de uma suprema autoridade pública, mediante as instituições, as leis e as ações afetam o equilíbrio das formas de eticidade.
A) Estaticismo ou Centralismo social: Hegel afirma que este conjunto ético e o Estado professam algumas verdades, reconhecido como o desenvolvimento das leis a moral pública e aos sistemas religiosos.
B) Naturalismo Histórico: uma teoria marxista, na qual atribui a explicação de toda a História das relações humanas por meio de fatos materiais.
C) Anarquismo Histórico: é um sistema político que defende anarquia, que busca o fim do Estado e da sua autoridade, ausência do governo.
D) Anarquismo extremo: é uma teoria política que rejeita o poder estatal e que a conveniência entre os seres humanos é simplesmente determinada pela vontade e pela razão de cada um.
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