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Wa1 - 100% Online - Gestão Pública - Ética, Política e Sociedade
Webaula 1
Em outubro de 1972 um avião bimotor levava um grupo de jogadores de Rugby do Uruguai para o Chile sobrevoando a Cordilheira dos Andes. No avião iam 45 pessoas. Por conta das instabilidades políticas que o Chile passava na época, o avião carregava bastante alimento. Contudo, por conta do mal tempo, os pilotos se mostravam relutantes em decolar. O que fazer? Partir em direção ao destino ou aguardar o tempo melhorar?
Sobrevoando a cordilheira dos Andes, os passageiros receberam o aviso de atar os cintos. Poucos, no entanto, se importaram o suficiente com o que estava acontecendo do lado de fora da aeronave. A paz foi quebrada repentinamente por gritos de desespero na cabine do piloto: “Mais potência! Mais potência!”. Depois de uma queda brusca, o choque foi inevitável – o avião colidiu com uma montanha coberta de neve. Seguiu-se uma explosão. A neve passou a invadir o avião junto com o vento gelado. Haviam corpos e destroços por toda a parte, numa região de difícil acesso, a 4 mil metros de altitude e uma temperatura de 15 graus negativos.
O que se seguiu foi um drama que virou tema de filme e livros. Os passageiros, em nome da sobrevivência, consomem todo o alimento e, por conta da demora no resgate, tomaram uma decisão dura: passaram a comer a carne dos colegas que morreram. O resgate apareceu depois de 72 dias de busca e encontrou 16 sobreviventes do desastre aéreo.
O drama aéreo que foi narrado nos deixa muitas perguntas para pensar: O que você faria numa situação como esta? O que eles fizeram foi certo? Até que ponto você iria em nome da sobrevivência? Estas questões nos mostram que as decisões são dirigidas por algum tipo de parâmetro, que serve como guia para nossas decisões. Quais são estes parâmetros?
Para respondermos esta pergunta precisamos entender o que é Ética e Moral. Vamos pensar no seguinte:
Quando um juiz de futebol apita um jogo e durante a partida beneficia um dos clubes participantes. Neste caso ele está cometendo uma falha porque não está sendo imparcial – como deve ser a conduta e ação dos árbitros de futebol. Bem, mas eu pergunto: O juiz está faltando com a ética ou com a moral?
Quando um político desvia verbas que deveriam ser empregadas em benefícios públicos, está sendo antiético? Imoral ou amoral? Ter ou não ter ética! Eis a questão! Ser ou não ser moral eis outra questão!
Você já percebeu que existe um jeito certo de vestir-se, comer ou comportar-se? O que é certo e errado, no entanto, varia de lugar para lugar e tem a ver com o que vamos chamar de moral. Observe estas fotos e isto fará mais sentido!
A moral responde à pergunta: o que devo fazer? Portanto, é um conjunto dos nossos deveres que já estão internalizados em nossa vida desde o nosso nascimento (pela família, pela escola, igreja, sociedade e grupo social ao qual pertencemos). Quando nascemos, este mundo já estava construído e passamos grande parte da nossa vida aprendendo suas regras. Pare agora e observe um pouco as pessoas que estão ao seu redor. Repare no corte de cabelo, nas roupas... Perceba que não é por acaso que homens não usam saias e mulheres não costumam raspar a cabeça. Mas, na verdade, o motivo pelo qual isso não acontece não tem a ver com meu gosto pessoal. Por mais incrível que isso possa parecer, o motivo pelo qual os homens não estão de saia na rua e as mulheres fazendo filas para raspar a cabeça está na moral aceita pela minha sociedade que entende que cabeças raspadas combinam mais com homens (especialmente do exército!) e as saias são mais apropriadas para mulheres (na Escócia isso poderia ser diferente).
Precisamos aprender que a ética e a moral são construções sociais e históricas. Isto é, elas vão mudando de tempos em tempos e mudam, também, quando há mudanças políticas, sociais e formas de conhecimentos que aqui iremos chamar de epistemologias. Isto quer dizer que, quando há mudanças na forma de conhecer, de compreender o mundo, as pessoas, e todas as coisas, os costumes também se alteram. Ou melhor: a ética e a moral são alteradas, modificadas de acordo com o tempo histórico e as relações sociais.
Mas como isso acontece na prática? Imagine que na escola tenha um aluno que vamos chamar de Joãozinho. Ele tem três amigos: Huguinho, Zézinho e Luizinho. Ao chegar na sala de aula, a professora pergunta para a classe se todos fizeram a tarefa de casa e diz que iria começar uma prova surpresa. Joãozinho, na verdade foi o único que fez o exercício, enquanto Huguinho, Zézinho e Luizinho ficaram brincando o dia inteiro. Joãozinho está bem mais preparado e não teve dificuldades durante a prova. Huguinho, Zézinho e Luizinho, no entanto, começaram a pedir para Joãozinho as respostas das questões. E então? Passar as respostas ou não? Joãozinho sabe que isso é considerado errado (de acordo com a moral do seu grupo), mas o que ele deve fazer? O que vai guiar o comportamento de Joãozinho nesta hora é a ética.
Resumindo, a moral é um conjunto de regras aceitas por um grupo que definem nossas escolhas em três dimensões: O que queremos fazer? O que podemos fazer? O que devemos fazer? Nem tudo que queremos fazer, podemos ou devemos. Em contrapartida, nem tudo que podemos e devemos, queremos! Como fazemos para decidir? O que irá nortear nossas escolhas, nossas decisões é, finalmente, a ÉTICA (pode ser a cristã, não cristã, profissional etc.). Portanto, ética e moral não se separam.
Voltemos ao caso do avião que caiu nos Andes. A maneira como os sobreviventes agiram foi orientada por sua ética, concordando com a moral contida nela. É claro que podemos ir contra as regras morais admitidas e nossos princípios éticos. Podemos, em outras palavras, comer carne humana, ou, pelo menos, passar as respostas da prova para nossos colegas de turma. Ainda que discutir sobre juízes de futebol que roubam, pessoas que comem carne humana ou alunos que passam as respostas da prova pareçam questões muito atuais, os princípios éticos que usamos para julgar estas questões são muito antigos e remontam a Sócrates. Para entendermos melhor esta questão precisamos analisar um pouco do que Sócrates disse.
Na década de 1980, aqueles que gostam de futebol vão lembrar-se de um movimento que ficou muito famoso e que aconteceu dentro do Corinthians. Você sabe qual foi este movimento? Acertou quem respondeu: Democracia Corinthiana. A democracia foi o maior movimento ideológico do futebol brasileiro, onde as regras do que deveria acontecer eram decidas pelo voto entre os jogadores. Este movimento foi idealizado por um dos jogadores do clube e que se chamava, curiosamente, Sócrates.
Guardadas as áreas de atuação, houve um outro Sócrates, mais no passado, que teve também embate de poder. O que estava em jogo neste caso não era o campeonato de futebol, mas o governo da cidade. O que ambos os Sócrates têm em comum é que ambos lidaram com a questão da liberdade. O Sócrates que vamos estudar mais a fundo aqui viveu na Grécia antiga, em 469 a.C. e foi de uma contribuição importantíssima ao mundo em que vivemos. Para entendermos esta contribuição precisamos falar sobre liberdade e o que isto tem a ver com ética. 
Você gosta de mitologia grega? Sabe quem foi Édipo?
Segundo a lenda grega, Laio, o rei de Tebas havia sido alertado pelo Oráculo de Delfos que uma maldição iria se concretizar: seu próprio filho o mataria e que este filho se casaria com a própria mãe. Por tal motivo, ao nascer Édipo, Laio abandonou-o no monte Citerão, pregando um prego em cada pé para tentar matá-lo. O menino foi recolhido mais tarde por um pastor e batizado como "Edipodos", o de "pés-furados", que foi adotado depois pelo rei de Corinto e voltou a Delfos.
Édipo consulta o Oráculo que lhe dá a mesma previsão dada a Laio, que mataria seu pai e desposaria sua mãe. Achando se tratar de seus pais adotivos, foge de Corinto. No caminho, Édipo encontrou um homem e, sem saber que era o seu pai, brigou com ele e o matou, pois Laio o mandou sair de sua frente.
Você gosta de mitologiagrega? Sabe quem foi Édipo?
Após derrotar a Esfinge que aterrorizava Tebas, que lançara um desafio ("Qual é o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite?"), Édipo conseguiu desvendar, dizendo que era o homem. "O amanhecer é a criança engatinhando, entardecer é a fase adulta, que usamos ambas as pernas, e o anoitecer é a velhice quando se usa a bengala".
Conseguindo derrotar o monstro, ele seguiu à sua cidade natural e casou-se, "por acaso", (já que ele pensava que aqueles que o haviam criado eram seus pais biológicos) com sua mãe, com quem teve quatro filhos. Quando da consulta do oráculo, por ocasião de uma peste, Jocasta e Édipo descobrem que são mãe e filho, ela comete suicídio e ele fura os próprios olhos por ter estado cego e não ter reconhecido a própria mãe.
Esta história fala muito sobre liberdade. Em sua opinião, Édipo era livre? Sim? Não? Até que ponto? Édipo escolheu furar seus próprios olhos. Mas, por outro lado, quanto mais ele tentava fugir do seu destino, mais Édipo contribuía para que ele se cumprisse. Isso acontece porque, na concepção antiga, a pessoa não era totalmente livre, ou, em outras palavras, temos um destino a cumprir.
Sócrates de certa forma rompe com este pensamento. Só podemos ser livres no âmbito da pólis, no espaço público, na companhia de outros homens, ou seja, na vida política.
E de que maneira devemos governar nossas vidas e a pólis? Pela razão. Esta é uma resposta muito simples, mas muito poderosa.
Pense bem, imagine um lutador de boxe aposentado que se chama Rock. Depois de passar muitos anos nos ringues, ele decide que quer uma vida mais tranquila na etapa final de sua existência e decide montar um pequeno negócio – um minimercado.
Apesar de ser um negócio pequeno, Rock não tem dinheiro para desperdiçar e decide evitar o máximo possível os erros nos seu novo ramo. Mas tudo é muito complicado. Tem o setor de frutas e verduras do mercado para administrar. Quais frutas comprar? Em que quantidade? Com que frequência (para evitar desperdício). E ainda nem começamos a falar das verduras: quais os melhores fornecedores? Quais as preferências locais? O que as pessoas estão dispostas a comprar? Estas mesmas perguntas servem para os artigos de higiene pessoal (sabonetes, desodorantes etc.), carnes (frango, bovinos, suínos...), alimentos (arroz, feijão...), Laticínios (leite, iogurtes...). A lista é tão grande e a grande quantidade de coisas para pensar fazem Rock ficar louco: como evitar o desperdício? Como não jogar o dinheiro da aposentadoria fora? Como saber se ele está perdendo dinheiro ou não?
A resposta para Rock está num conceito de Sócrates: a razão. É racionalmente que Rock deve administrar o minimercado. Para isso ele deve pensar em cada detalhe, calcular, planejar. Ainda que o conceito de liberdade, na época de Sócrates, não era tão amplo como hoje, podemos ver a semente do seu pensamento. Este é um dos motivos porque voltamos a Sócrates sempre que vamos estudar alguma coisa!
A concepção de liberdade que temos hoje remonta à Sócrates, que imprime uma orientação racionalista à Ética. Isto significa que a Virtude como a justiça, a prudência ou a tolerância dependem do conhecimento que delas temos. Apesar de sua enorme contribuição, Sócrates também tinha alguns inimigos, vamos dizer assim. Os mais importantes são os Sofistas. Enquanto Sócrates buscava verdades universais, os sofistas relativizavam em seus discursos a verdade, vendendo seu conhecimento. Sócrates influenciou muitos pensadores e suas ideias permanecem até hoje.Sócrates e os Sofistas: Relativismo
Resumindo:
A Moral é distinta da Ética: Moral é o conjunto dos hábitos, costumes e regras socialmente aceitas por um grupo. Ética é o conjunto de princípios e valores que norteiam as escolhas dos indivíduos.
Sócrates deu uma enorme contribuição à discussão, atribuindo uma orientação racionalista à ética. Esta orientação racionalista marcou a maneira como gerenciamos minimercados e praticamente todos os aspectos da nossa vida.
Mas sua influência direta pôde ser mais sentida em um de seus discípulos: Platão. Mas, antes de falar de Platão, vamos resumir o que já vimos até aqui.
No filme, um professor de literatura sofre um acidente e fica 5 anos em coma.
Quando volta à consciência percebe que tem a capacidade de ver o passado e o futuro das pessoas ao tocar suas mãos. Em um encontro com um político candidato à presidente dos EUA, aperta sua mão e tem uma visão assustadora: o político (interpretado pelo ator Martin Sheen) se tornou o presidente e inicia uma guerra nuclear com a antiga União Soviética.
Posteriormente a essa visão, o professor encontra-se com um médico de origem polonesa, que na infância sobreviveu à invasão da Polônia pelos alemães, porém, perdeu os pais e lhe pergunta se caso pudesse mudar o curso de um acontecimento histórico ele mudaria.
O médico diz que sim. O professor então traça um plano para matar o candidato à presidente antes que ele seja eleito. O final é surpreendente. O professor é interpretado pelo ator Christopher Walken.
Questão ética: é correto que uma só pessoa, baseada em suas próprias convicções, mude o destino de muitas outras sem que essas pessoas saibam, mesmo que seja por uma "boa causa"?
Assim, devemos sempre nos perguntar: quais são os valores que estão norteando nossas decisões e nossos julgamentos? Se estamos vivendo em sociedade podemos pensar de forma totalmente individualista? E afinal, quem é outro? O outro sou eu... para o outro!
Durante muitos anos sustentamos costumes que foram frutos de discriminação.
Como podemos, baseados em nossas discussões sobre moral e ética, analisar a situação exposta no vídeo? Por que não colocar suas opiniões em nosso fórum para que outros possam interagir também?
Wa2 - 100% Online - Gestão Pública - Ética, Política e Sociedade
Será que daqui a 2000 anos as pessoas ainda vão falar de Michael Jackson? As pessoas saberão quem é a banda que você gosta de ouvir hoje? Quem vai ser lembrado daqui tanto tempo? Já pensou se VOCÊ dissesse algo bom que daqui a 2000 anos as pessoas ainda estivessem comentando? Realmente são poucas as pessoas que têm esta experiência. Uma delas é Platão, discípulo de Sócrates. Apesar do nome diferente, Platão acabou influenciando tanto o mundo que suas ideias permanecem até hoje. Vou começar com uma história que Platão narrou e que tem tudo a ver com Ética e Moral.
Existia um determinado anel que tinha o poder de dar invisibilidade a quem conseguisse virá-lo para dentro e o utilizasse. O proprietário desse anel chama-se Giges. Assim, esse anel ficou conhecido como: o anel de Giges. Esse homem o conseguiu quando estava a serviço do rei da Lídia e, após ter se salvado de uma catástrofe, retirou o anel de um cadáver e, ao perceber que conseguiria ficar invisível quando bem entendesse, entrou no castelo, seduziu a rainha, tramou com ela a morte do rei e obteve poder.
Essa lenda, ou mito, nos estimula a pensar sobre as razões que provocam ou inibem uma ação. Em outras palavras: quais são as verdadeiras razões que nos levam a fazer determinadas coisas e quais são as verdadeiras razões que nos desestimulam a fazer outras coisas. Se pudéssemos ficar invisíveis, o que faríamos? Entraríamos em um estabelecimento bancário e nos apropriaríamos de todo o dinheiro ali disponível? Entraríamos nas lojas e, da mesma forma, roubaríamos as roupas, calçados e outros utensílios?
É dessa forma que muitas pessoas agem (quem sabe nós também agimos assim) como se dependêssemos sempre da aprovação de outros.
Muitas vezes até utilizamos desses argumentos para
educar nossos filhos dizendo assim: o que dirão os avós,
os vizinhos, os amigos se os virem agindo assim ou de outra forma? Quantas vezes evitamos cometer infração no trânsito se soubermos que há patrulhamento policial no trecho que estamos trafegando? Essas questões nos remetem a pensarmos em nossas ações públicas e privadas. Mas existe uma segunda história narrada por Platão e que você já teve ter ouvido,chama-se a alegoria da caverna.
Imagine prisioneiros acorrentados voltados para a parede dentro de uma caverna. Imagine que eles nunca viram a luz do dia e que a claridade é projetada dentro da caverna por uma fogueira acesa atrás deles. Imagine agora escravos indo e vindo neste lugar. Passando entre aqueles que estavam acorrentados e a fogueira. Se você estivesse no lugar dos prisioneiros acorrentados e não pudesse nunca virar o seu rosto, tudo o que você veria seriam as sombras projetadas na parede pela fogueira. Em outras palavras, se você estive acorrentado e nunca pudesse olhar para a luz, como faria para saber se o que você está vendo é, de fato, a realidade? Você não veria a realidade, mas sombras da realidade. Imagine que alguém carregue a estátua de uma pessoa, como saber se é de fato uma estátua ou um ser vivo? Observe a imagem a seguir que vai ajudar você a se situar dentro do que está acontecendo dentro da caverna.
Está conseguindo imaginar melhor agora a caverna? Então vamos continuar: imagine agora que um destes prisioneiros consiga fugir e, pela primeira vez chegue à superfície. Como nunca olhou para a luz o que aconteceria com seus olhos? Com certeza ficaria ofuscado pelo sol, mas mais do que isso, perceberia que nunca havia visto a realidade como ela realmente era, mas apenas sombras. Que estivera cego sua vida inteira ou que pensava que conhecia as coisas, mas agora vê a realidade como de fato é! Seria um choque e tanto. Ainda meio atordoado decide voltar e libertar seus colegas. A recepção que recebe, no entanto, não é das melhores, e acaba morto por seus colegas que não o entendem.
Apesar da história narrada por Platão não ter necessariamente um final feliz, ela tem muito a dizer até hoje. A primeira que queremos destacar é o que vamos chamar de passagem da Heteronomia para a Autonomia
e tem a ver com a moral.
Heteronomia: (hetero= outro, diferente; nomos= lei).
Ou seja, a pessoa age de acordo com as regras de 
outro que lhe são colocadas e ele obedece (para receber recompensa) ou não obedece (e será castigado). Por isso é um comportamento moral infantil, imaturo (mesmo que a pessoa seja um adulto). Esse comportamento é regulado pelo meio social.
Autonomia: Conforme o sujeito vai amadurecendo,
vai adquirindo autonomia, se libertando da heteronomia. Para alcançar a autonomia, é necessário exercício racional. Muitas pessoas envelhecem, mas não conseguem atingir essa autonomia em suas condutas. Para isso é preciso formar o sujeito moral autônomo. Não se trata, porém, de individualismo, mas de assumir uma postura crítica diante das regras impostas pelo meio social.
A segunda coisa importante que podemos destacar de Alegoria da caverna de Platão é o que vamos chamar de dualismo material x espiritual. Em outras palavras:
a essência das coisas não está necessariamente no que vemos (que podem ser apenas sombras da realidade). Seremos verdadeiramente livres quando conseguirmos ver além daquilo que pode ser captado pelos nossos sentidos
(o que vemos, tocamos, ouvimos etc.). Somente atingiremos o grau máximo das nossas vidas quando formos além das conclusões dadas pelos sentidos e usarmos o que temos de mais poderoso para entender a realidade: nossa capacidade racional! Podemos nos libertar da caverna onde reinam as trevas e rumar em direção à luz do conhecimento. Existe em Platão, então, uma relação entre o que vemos (a realidade material, palpável) e o mundo do conhecimento (o mundo das ideias, do saber). Conheceremos de fato quando deixarmos o conhecimento nos guiar em meio às trevas até o mundo onde as ideias reinam e resplandecem.
Sei que tudo isso começa a parecer complicado de mais, mas deixe-me dar um exemplo. Imagine uma criança com
5 anos de idade que cresceu no interior em um país chamado “Das maravilhas”. Vamos chamar esta menininha de Alice. Imagine que um dia o pai de Alice entre em casa no final do dia e faça uma promessa: “no final do ano vamos para a praia! Vai ser ótimo, precisamos descansar e vamos relaxar bastante”. É óbvio que Alice nunca viu o mar (e é óbvio também que ela não tem internet, ipad, computador, nem TV, afinal de contas ela mora no país “Das maravilhas”!).
Em suas conversas com os adultos, Alice tenta entender, com a imaginação de uma criança de 5 anos, o que seja o mar. Mas como não tem nada para comparar ela fica escrava das ideias que já possui (um rio enorme, um saleiro, bastante areia...). Mas nada disso não chega nem perto de descrever o que é o mar... Alice é como os prisioneiros acorrentados e voltados para a parede. O dia que ela puder correr na praia ela não apenas será livre para brincar à vontade no mar, mas também será livre das falsas impressões.
Platão influenciou o mundo e se não podemos analisar todos os resultados do seu pensamento, podemos ver como eles atingiram seu discípulo mais ilustre: Aristóteles
Se você está imaginando que Aristóteles simplesmente seguiu as ideias de Platão, seu mestre, você se enganou completamente. Aristóteles foi seguidor de Platão, mas isso não quer dizer que ele não tenha desenvolvido sua própria maneira de pensar. Das muitas contribuições de Aristóteles o que nos interessa agora é sua ideia de virtude.
Você já pensou em ganhar um milhão de reais, neste exato momento? Então imagine que (apenas imagine!) que eu acabei de dar um milhão de reais para você. Exatamente: um milhão de reais para cada pessoa que estiver lendo este texto. Imagine que o dinheiro está na sua conta bancária neste instante (se você não tiver conta bancária, então o dinheiro vai estar debaixo do seu colchão – apesar de eu achar que neste caso vai dar uma dor nas costas terrível caso você ainda queira dormir lá). O que você faria com um milhão de reais? Iria ao trabalho amanhã cedo? O que você faria de diferente do que tem feito hoje? Bem... daqui a pouco vou voltar a este um milhão de reais.
Quando Aristóteles fala de virtude, chega à conclusão de que toda virtude é boa quando é controlada no seu excesso e na sua falta. Em outras palavras, seremos realmente felizes quando exercemos aquilo que temos de mais humano: a inteligência. E o que é a falta de equilíbrio? O vício! É a inteligência que nos torna verdadeiramente felizes, pois é ela que nos diferencia de todos os outros animais e nos livra dos vícios. O bem mais importante a ser adquirido, então, não são as riquezas, a honra, a fama, as glórias, os prazeres... isso tudo não levará à felicidade. Mas a vida humana não é apenas intelecto, pois corremos o risco de ir de um extremo ao outro. Temos que ter equilíbrio! Procurando uma medida justa.
Virtude é querer o bem, buscando tudo com equilíbrio. Vamos voltar agora ao milhão de reais de dois parágrafos atrás. Algumas pessoas saem do seu equilíbrio tão rápido por causa deste valor que em poucos meses (ou semanas!) já estão de volta à pobreza de onde partiram. Isto porque sua vida passa a ser governada não pela virtude, mas por vícios. A virtude consiste em dominar as paixões e permitir que a razão governe onde antes parecia haver um descontrole das paixões. A felicidade, na concepção de Aristóteles passa por aí!
As ideias de Platão e Aristóteles foram uma grande influência no mundo todo. E serviram de base para grandes pensadores ao longo dos tempos. Você duvida? Vamos a um exemplo, o Cristianismo.
Observe atentamente o texto a seguir. Para ajudar na sua leitura, vou colocar em negrito a palavra “vício” que aparece no final do texto que, espero, vai lhe ajudar a lembrar de Aristóteles.
Confissões de Agostinho – livro II
1. Por qual motivo agostinho relembra suas culpas
Quero recordar as minhas torpezas passadas, as corrupções de minha alma, não porque as ame, ao contrário, para te amar, ó meu Deus. É por amor do teu amor que retorno ao passado, percorrendo os antigos caminhos dos meus graves erros. A recordação é amarga, mas espero sentir tua doçura, doçura que não engana, feliz e segura, e quero recompor minha unidade depois dos dilaceramentos interiores que sofri quando me perdi em tantas bagatelas,ao afastar-me de tua Unidade (1).
Desde a adolescência, ardi em desejos de me satisfazer em coisas baixas, ousando entregar-me como animal a vários e tenebrosos amores! Desgastou-me a beleza da minha alma e apodreci aos teus olhos, enquanto eu agradava a mim mesmo e procurava ser agradável aos olhos dos homens.
2. Necessidade de amor e de seus ilusórios sucedâneos
E o que é que me encantava, senão amar e ser amado? (1) Mas, eu não ficava na medida justa das relações de alma para alma, dentro dos limites luminosos da amizade. Do lado dos desejos carnais e da própria natureza da puberdade emanavam vapores que me enevoavam e ofuscavam o coração, a ponto de não mais distinguir entre um amor sereno e as trevas de uma paixão. Um e outro ardiam confusamente em mim, arrastando a minha fraca juventude pelos despenhadeiros das paixões, e a submergiam num abismo de vícios.
De onde vem este texto? Quem disse isso? Por que estava lutando contra seus vícios?
Este é um texto de Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho para os menos íntimos.
Ele viveu entre 354 e 430 d.C., no norte da África. Agostinho, depois de levar uma vida
de pecados, se converte ao cristianismo e passa a ser um importante teólogo e escritor.
Neste pequeno trecho é possível ver algumas influências dos pensadores gregos que analisamos há pouco. Você percebe como Agostinho menciona que não ficava na
“medida justa das relações” e que sua vida era entregue aos vícios? Coincidência
com o pensamento de Aristóteles?
O pensamento de Agostinho se aproxima daqueles filósofos do passado. Não só
de Aristóteles, mas, especialmente, de Platão. Isso mesmo! Mas como?
Bem, para tratarmos disso precisamos falar um pouco sobre revelação.
Se eu pegasse um lenço e debaixo dele colocasse uma moeda, qual seria a chance de, na primeira tentativa, você acertar que moeda estou segurando? Por motivos óbvios, o lenço estaria atrapalhando você de acertar, porque ele está cobrindo a moeda. Tudo ficaria mais fácil se eu retirasse o lenço e você pudesse ver claramente a moeda, certo? Digamos assim que, sem o lenço, a sua chance de acertar seria muito, muito maior.
Bem, é exatamente este o sentido de “revelação” – retirar o lenço e então ver claramente as coisas como elas são de fato (lembra um pouco Platão?). Assim como prisioneiros presos na caverna, vivemos presos aos nossos pecados dentro deste mundo. Aqueles que conseguem enxergar, só o fazem porque o “véu” que encobria seus olhos foi retirado. A salvação é individual, daí o germe do individualismo que brotou no ocidente. Vamos ver um pouco sobre isto agora.
Uma das grandes contribuições do cristianismo não foi apenas a religião, mas a noção de individualismo e subjetividade que vai sendo gestada com o passar do tempo associada à ideia do dever. Você já percebeu que hoje estamos à procura da nossa felicidade? Interessante que não estamos atrás da procura da felicidade do Brasil ou da humanidade como um todo, se assim podemos dizer. Sem querer fazer juízo de valores a respeito disso, podemos dizer que o individualismo não é tão óbvio a ponto de ter aparecido em todas as civilizações ao longo dos tempos e se manifesta em diferentes áreas: na economia, na educação, na política etc.
Individualismo: “toda doutrina moral ou política que reconheça ao indivíduo humano um preponderante valor de fim com relação à comunidade da qual faz parte”. ABBAGNANO, Nicola. p. 257 (em outras palavras: “primeiro o indivíduo, depois o grupo”).
Contudo, a revelação divina também carrega uma noção de dever. Assim como o prisioneiro acorrentado que se libertou e fugiu da caverna, temos também um senso de dever envolvendo o conhecimento revelado. Ainda que a discussão sobre individualismo e dever seja muito importante, voltaremos a ele mais adiante.
Resumindo:
Platão e o dualismo material x espiritual. Platão deu grandes contribuições para o mundo que vivemos hoje. Algumas de suas ideias podem ser resumidas na alegoria da caverna. A essência das coisas não está necessariamente no que vemos (que podem ser apenas sombras da realidade).
Heteronomia e Autonomia: a maturidade não está relacionada ao simples passar do tempo, mas do desenvolvimento da autonomia, da maioridade moral.
Aristóteles: entre a virtude e o vício. Virtude é uma disposição de caráter de querer o bem. Seremos verdadeiramente felizes quando escolhermos as virtudes em relação aos vícios.
Agostinho e a revelação divina: é a revelação divina quem dá o sentido da vida. Há um alinhamento entre um tipo específico de moral e ética que passam a moldar o pensamento ocidental.
Agora, que você aprendeu sobre a diferença entre ética e moral, quero convidá-los para uma participação no fórum de discussão, sua opinião vai fazer muita diferença!
Bibliografia:
PLATÃO, A república, AGOSTINHO, Confissões.

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