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ALIMENTOS GRAVIDICOS

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ 
Juliane Tedeski 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ALIMENTOS GRAVÍDICOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ALIMENTOS GRAVÍDICOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2011 
 
 
 
Juliane Tedeski 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ALIMENTOS GRAVÍDICOS 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Direito da Faculdade de Ciências 
Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como 
requisito parcial para a obtenção do grau de 
Bacharel. 
 
Orientador: Prof. Geórgia Sabbag Malucelli 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2011 
 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
Juliane Tedeski 
 
 
 
 
ALIMENTOS GRAVÍDICOS 
 
 
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel no Curso de Direito da 
Universidade Tuiuti do Paraná. 
 
 
 
 
Curitiba, ___ de _____________ de 2011. 
 
 
 
 
 
____________________________________________ 
 Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite 
Coordenador do Núcleo de Monografia 
Universidade Tuiuti do Paraná 
 
 
 
 
Orientador: ____________________________________________ 
Prof. Geórgia Sabbag Malucelli 
Universidade Tuiuti do Paraná 
Curso de Direito 
 
 
 
 
Supervisor: ____________________________________________ 
Prof. 
Universidade Tuiuti do Paraná 
Curso de Direito 
 
 
 
 
 
Supervisor: ____________________________________________ 
Prof. 
Universidade Tuiuti do Paraná 
Curso de Direito 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Versa o presente estudo a respeito da Lei n.º 11.804 de 05 de novembro de 2008, 
que estabelece o direito a alimentos gravídicos. Analisa os direitos do nascituro, bem 
como o direito a alimentos. Apresenta os aspectos processuais da referida lei, além 
de avaliar seus polêmicos artigos. A metodologia utilizada foi a pesquisa exploratória 
com levantamento bibliográfico em livros e artigos. O estudo é extremamente 
relevante, já que a Lei que regula o direito a alimentos gravídicos tem grande 
relevância social, por se referir às despesas que deverão ser custeadas pelo futuro 
pai, tanto ao filho que vem a nascer, quanto à gestante. Ressalta-se que desde seu 
projeto a norma em tela vem causando polêmicas, pois continha artigos que foram 
vetados, haja vista que contradiziam sua própria finalidade. Entretanto, não se pode 
negar que a Lei 11.804 permite uma melhor tutela das necessidades da mulher 
durante a gestação, bem como dos direitos do nascituro. 
 
Palavras-chave: alimentos; alimentos gravídicos; direitos do nascituro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 
2 OS DIREITOS DO NASCITURO........................................................................ 
2.1 CONCEITO DE NASCITURO.......................................................................... 
2.2 OS DIREITOS DO NASCITURO NO CÓDIGO CIVIL DE 2002...................... 
2.2.1 A Teoria Natalista.......................................................................................... 
2.2.2 A Teoria da Personalidade Condicional........................................................ 
2.2.3 A Teoria Concepcionista............................................................................... 
3 ALIMENTOS....................................................................................................... 
3.1 CONCEITO...................................................................................................... 
3.2 FONTES DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR........................................................ 
3.3 CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR..................................... 
3.3.1 Direito Personalíssimo.................................................................................. 
3.3.2 Solidariedade................................................................................................ 
3.3.3 Reciprocidade............................................................................................... 
3.3.4 Inalienabilidade............................................................................................. 
3.3.5 Impenhorabilidade......................................................................................... 
3.3.6 Irrepetibilidade............................................................................................... 
3.3.7 Alternatividade.............................................................................................. 
3.3.8 Transmissibilidade........................................................................................ 
3.3.9 Irrenunciabilidade.......................................................................................... 
3.3.10 Periodicidade.............................................................................................. 
3.3.11 Anterioridade............................................................................................... 
3.3.12 Atualidade................................................................................................... 
3.4 OS ALIMENTOS DECORRENTES DO PODER FAMILIAR E A 
RESPONSABILIDADE SOBSIDIÁRIAS DOS AVÓS............................................. 
3.4.1 Do Poder Familiar......................................................................................... 
3.4.2 A Responsabilidade Subsidiária dos Avós.................................................... 
3.5 O BINÔMIO NECESSIDADE/POSSIBILIDADE............................................... 
4 ALIMENTOS GRAVÍDICOS............................................................................... 
4.1 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI 11.804/2008.............................. 
 
6 
8 
8 
9 
9 
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12 
14 
14 
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21 
21 
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23 
24 
25 
25 
25 
 
26 
26 
28 
30 
32 
32 
 
 
 
 
4.2 CONCEITO...................................................................................................... 
4.3 FINALIDADE.................................................................................................... 
4.4 A LEI 11.804 DE 2008: ASPECTOS PROCESSUAIS..................................... 
4.4.1 Propositura da Ação...................................................................................... 
4.4.2 Legitimidade Ativa......................................................................................... 
4.4.3 Legitimidade Passiva.................................................................................... 
4.4.4 Do Termo Inicial da Obrigação..................................................................... 
4.4.5 Resposta do Requerido................................................................................ 
4.4.6 Foro Competente.......................................................................................... 
4.4.7 Ônus da Prova.............................................................................................. 
4.4.8 Valor da pensão alimentícia a ser fixada...................................................... 
4.5 OS ARTIGOS VETADOS DA LEI 11.804 DE 2008......................................... 
4.5.1 Artigo 3º......................................................................................................... 
4.5.2 Artigo 4º......................................................................................................... 
4.5.3 Artigo 5º.........................................................................................................4.5.4 Artigo 8º......................................................................................................... 
4.5.5 Artigo 9º......................................................................................................... 
4.5.6 Artigo 10º....................................................................................................... 
4.6 A RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS...................................... 
4.7 EXECUÇÃO DOS ALIMENTOS GRAVÍDICOS............................................... 
4.8 EXTINÇÃO DOS ALIMENTOS GRAVÍDICOS................................................. 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 
33 
35 
36 
37 
37 
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40 
40 
40 
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44 
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47 
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49 
50 
52 
53 
54 
56 
58 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Em uma conotação vulgar o termo alimentos pode ser entendido como tudo 
aquilo necessário para a subsistência do ser humano. O Código Civil de 2002, em 
seu capítulo específico sobre o tema, não se preocupou em definir o que se entende 
por alimentos. Entretanto, analisando o referido dispositivo legal podemos concluir 
que, na linguagem jurídica, alimentos significam mais do que o sentido comum, 
compreendendo, além da alimentação, o que for necessário para moradia, vestuário, 
assistência médica e lazer, bem como para prover as necessidades da vida. Todos 
têm direito de viver com dignidade, e em consequência surge o direito à alimentos. 
A obrigação alimentar não existe só no direito de família, pode também ter 
origem na prática de um ato ilícito, pode ser estabelecida contratualmente ou 
estipulada em testamento. No âmbito do direito familiar, decorre do poder familiar, 
do parentesco, da dissolução do casamento ou da união estável. 
Nos moldes da Lei 5.478, de 25 de julho de 19681 (Lei de Alimentos), é 
necessário que se prove o vínculo de parentesco para a concessão de alimentos, 
deixando assim uma lacuna no ordenamento jurídico quando se tratava de alimentos 
para o nascituro, que ficava desamparado. A ideia baseada no artigo 2º do Código 
Civil de 20022 era a de que os alimentos só poderiam ser pleiteados se o nascituro 
nascesse com vida, momento em que adquiria a personalidade civil. 
 
1
 Art. 2º O credor, pessoalmente, ou por intermédio de advogado, dirigir-se-á ao juiz competente, 
qualificando-se, e exporá suas necessidades, provando, apenas, o parentesco ou a obrigação de 
alimentar do devedor, indicando seu nome e sobrenome, residência ou local de trabalho, profissão e 
naturalidade, quanto ganha aproximadamente ou os recursos de que dispõe. 
2
 Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, 
desde a concepção, os direitos do nascituro. 
 
 
 
 
Diante disso, em 05 de novembro de 2008 foi promulgada a Lei 11.804, 
chamada de Lei de Alimentos Gravídicos, que legitimou a gestante para pleitear os 
alimentos em nome do nascituro. 
Referida norma possui grande relevância social, pois os alimentos 
decorrentes da Lei 11.804/08 são aqueles necessários para a manutenção da 
gestante, claramente destinados para que o período de gravidez transcorra de forma 
saudável, viabilizando que a criança nasça com vida. 
O presente trabalho busca analisar a Lei 11.804/2008, destacando seus 
aspectos polêmicos e trazendo reflexões importantes acerca do tema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 OS DIREITOS DO NASCITURO 
 
2.1 CONCEITO DE NASCITURO 
 
O conceito de nascituro é citado por diversos doutrinadores. O significado 
de tal termo é pacífico entre os autores, não havendo controvérsia em afirmar que 
nascituro é aquele que foi concebido, mas ainda não nasceu. 
Segundo o dicionário Michaelis (2011), a palavra nascituro deriva do latim 
nasciturus e significa: “1 Que, ou aquele que há de nascer; 2 Diz-se dos, ou seres 
concebidos, mas ainda não dados à luz.” 
No direito pátrio, da mesma forma, vários são os autores que conceituam o 
termo em suas obras, a fim de se poder examinar os direitos do nascituro a partir de 
tal conceito. 
França (1998, citado por STOLZE, 2000, p. 82), define o termo nascituro 
como sendo “o que está por nascer, mas já concebido no ventre materno”. 
Para Miranda, nascituro é “o concebido ao tempo em que se apura se 
alguém é titular de um direito, pretensão, ação ou exceção, dependendo a existência 
de que nasça com vida” (1954, p. 166). 
Sendo assim, o termo nascituro, em outras palavras, trata daquele que já foi 
concebido, todavia, ainda não nasceu. 
Aqui há de se frisar que não se pode confundir o conceito de nascituro com 
o de natimorto. Aquele, como se viu, trata do indivíduo que há de vir ao mundo, do 
que foi concebido e está por nascer, enquanto que este trata do que nasce sem 
vida. Portanto, conclui-se que todo natimorto já foi um dia um nascituro e que já teve 
seus direitos resguardados pela lei. (PIRES, 2011, p. 1). 
 
 
 
2.2 OS DIREITOS DO NASCITURO NO CÓDIGO CIVIL DE 2002 
 
O artigo 2º do Código Civil de 20023, que é uma cópia quase que literal do 
artigo 4º do Código Civil de 19164, assevera que a personalidade jurídica do ser 
humano começa do nascimento com vida, entretanto, põe a salvo os direitos do 
nascituro desde a sua concepção (BRASIL, 2011, p. 1). 
A questão da personalidade jurídica do nascituro não é pacífica no direito 
nacional. Analisando os dois dispositivos, percebe-se que com a edição do novo 
Código Civil o legislador deixou de se aprofundar no conceito dos direitos do 
nascituro, bem como do início da personalidade jurídica da pessoa, deixando as 
dúvidas atuais sendo as mesmas que já existiam. 
A doutrina apresenta várias posições diferentes a respeito do tema, o que 
originou o surgimento de três correntes que balizam o direito nacional quando se 
trata de direitos do nascituro, quais sejam: a Teoria Natalista, a Teoria da 
Personalidade Condicional e a Teoria Concepcionista. 
 
2.2.1 A Teoria Natalista 
 
A Teoria Natalista claramente exposta no artigo 2º do Código Civil de 2002 
defende que a aquisição da personalidade jurídica se dá a partir do nascimento com 
vida. Dessa forma, na visão dessa corrente, o nascituro possui mera expectativa de 
direito desde a sua concepção, que se transformará em reais direitos subjetivos se o 
concebido nascer vivo. 
 
3
 Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, 
desde a concepção, os direitos do nascituro. (BRASIL, 2011, p. 1, grifo meu). 
4
 Art. 4º A personalidade civil do homem começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, 
desde a concepção, os direitos do nascituro. (BRASIL, 2011, p.1, grifo meu). 
 
 
 
Adotada por vários autores brasileiros, como Rodrigues (1997) e Miranda 
(1954), é a mesma teoria utilizada nos códigos civis de países como Espanha, 
França, Portugal e Itália. (PIRES, 2011, p. 1). 
Ressalta-se aqui que algumas críticas são feitas à redação do artigo 2º do 
Código Civil de 2002, haja vista que o mesmo, apesar de ser claro ao adotar a 
Teoria Natalista, põe a salvo os direitos do nascituro desde a concepção, o que 
geraria uma contradição. 
Nesse contexto Catalano (citado por PUSSI, 2005, p. 92) afirma que 
 
A formulação do artigo 4º do Código Civil Brasileiro (“A personalidade civil 
do homem começa do nascimento com vida), modificandoaquela do projeto 
de Clóvis Bevilácqua (art. 3º: “A personalidade civil do ser humano começa 
com a concepção, sob a condição de nascer com vida”) mostra-se 
contraditória (...). A contradição, devida a um parcial desvio concernente a 
tradição brasileira, refere-se também à relação entre o conceito de “pessoa” 
e o reconhecimento de “direitos”. 
 
Entretanto, Miranda (citado por PUSSI, 2005, p. 93) assevera que a 
contradição é apenas aparente, e afirma que 
 
A aparente contradição do Código Civil, arts. 4º e 1.718, apaga-se se pomos 
o problema no mundo fáctico (biológico) em que pode ser grande a 
probalidade de nascer vivo o conceptus, em cada caso: a personalidade 
começaria com a prova da existência futura; todo produto gravídico da 
mulher, que tem coração e tem grande probabilidade de nascer vivo e 
capaz de direito. Mas essa solução confundiria dois mundos, o fáctico e o 
jurídico: ou se admite que o feto vivo já entre no mundo jurídico, ou não se 
admite. Se a probabilidade tivesse de ser atendida, o não-advento reporia o 
problema, no mundo jurídico. 
 
 
Diante do exposto conclui-se que, a Teoria Natalista foi adotada por grande 
parte de nossos doutrinadores, bem como pelo sistema jurídico brasileiro, e que 
depende de duas condições: primeiramente é preciso que o feto nasça vivo, e 
 
 
 
depois, é necessário que se prove que tal fato ocorreu para que o mesmo possa ser 
reconhecido como sujeito de direitos. 
 
2.2.2 A Teoria da Personalidade Condicional 
 
A corrente da Personalidade Condicional defende que o início da 
personalidade do nascituro começa a partir de sua concepção, contudo, impõe a 
condição suspensiva de que o mesmo nasça com vida. Em outras palavras, na visão 
dos adeptos de tal teoria, o nascituro é sujeito passível de direitos a partir de sua 
concepção, desde que o mesmo nasça vivo. No caso de o feto não chegar a viver, a 
personalidade condicional se extingue. 
Tal teoria foi adotada por Bevilácqua (1902, citado, por PUSSI, 2005, p. 94) 
em seu Projeto de Código Civil de 1899. O artigo 3º do referido projeto estabelecia 
que “A personalidade civil do ser humano começa com a concepção, sob a condição 
de nascer com vida” 
Lopes (2000, p. 288), um dos doutrinadores nacionais adeptos dessa 
corrente, afirma que Bevilácqua seguiu a Teoria da Personalidade Condicionada 
pelas seguintes razões: 
 
a) desde a concepção o ser humano é protegido pelo Direito, tanto que o 
aborto constitui um crime; b) a gravidez autoriza a posse em nome do 
ventre e a nomeação de um curador especial, sempre que competir à 
pessoa por nascer algum direito; c) considerar-se o nascituro como nascido, 
desde que se trate dos seus interesses; d) admissibilidade de seu 
conhecimento. 
 
Como não poderia deixar de ser, muitos doutrinadores fazem críticas a esta 
teoria. Miranda (citado por PUSSI, 2005, p. 97 e 97) a repele por completo e afirma 
 
 
 
que “não há condição nas situações jurídicas do nascituro [...] o sistema jurídico 
ressalva, desde a concepção os direitos do nascituro.” 
 
2.2.3 A Teoria Concepcionista 
 
A Teoria Concepcionista é uma tendência entre os autores mais modernos. 
Segundo ela, a personalidade jurídica do ser humano começa com sua concepção, 
sendo o nascituro considerado pessoa. Aqui não há nenhuma condição suspensiva, 
apenas ressalvas a alguns direitos. 
Essa corrente de pensamento é seguida pelos códigos de países como 
Argentina, México, Paraguai, Áustria e Peru. (PIRES, 2011, p. 1) 
Tal corrente é igualmente adotada por vários doutrinadores brasileiros, 
como Diniz (1993), Chinelato (2000) e Gagliano (2009). 
Sob a perspectiva dos adeptos a essa tese, o nascituro é considerado 
sujeito de direitos, entretanto ele adquire titularidade apenas dos direitos da 
personalidade, sendo que os direitos de ordem patrimonial ficam ressalvados. Neste 
sentido Diniz aduz que 
 
tem o nascituro personalidade jurídica formal, no que se refere aos direitos 
personalíssimos, passando a ter personalidade jurídica material, adquirindo 
os direitos patrimoniais, somente, quando do nascimento com vida. 
Portanto, se nascer com vida, adquire personalidade jurídica material, mas, 
se tal não ocorrer, nenhum direito patrimonial terá (1994, p. 205). 
 
Ainda, não se pode deixar de citar Almeida (2000, p. 160), defensora da 
tese concepcionista que afirma que 
 
juridicamente, entram em perplexidade total aqueles que tentam afirmar a 
impossibilidade de atribuir capacidade ao nascituro ‘por este não ser 
 
 
 
pessoa’. A legislação de todos os povos civilizados é a primeira a desmenti-
lo. Não há nação que se preze (até a China) onde não se reconheça a 
necessidade de proteger os direitos do nascituro (Código Chinês, artigo 1º). 
Ora, quem diz direitos, afirma capacidade. Quem afirma capacidade, 
reconhece personalidade. 
 
Atualmente, com o avanço da medicina no que diz respeito a embriões e à 
genética, bem como nos estudos referentes aos direitos fundamentais das pessoas, 
verifica-se um aumento na aceitação da Teoria Concepcionista pelos doutrinadores 
como sendo a mais adequada, haja vista que é a corrente que mais dá proteção aos 
direitos do nascituro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 ALIMENTOS 
 
3.1 CONCEITO 
 
Em uma conotação vulgar, o termo “alimentos” pode ser entendido como 
tudo aquilo que é necessário para a subsistência do ser humano. O Código Civil de 
2002, em seu capítulo específico sobre o tema5, não se preocupou em definir o que 
se entende por alimentos. Entretanto, analisando o referido dispositivo legal 
podemos concluir que, na linguagem jurídica, alimentos significam mais do que o 
sentido comum, compreendendo, além da alimentação, o que for necessário para 
moradia, vestuário, assistência médica e lazer, bem como para prover as 
necessidades da vida. 
Restou aos doutrinadores pátrios uma tentativa conceitual desse termo tão 
complexo. Bevilácqua (1905, citado por CAHALI, 2006, p. 16) define que, a “palavra 
alimentos tem, em direito, uma acepção técnica, de mais larga extensão do que na 
linguagem comum, pois compreende tudo o que é necessário à vida: sustento, 
habitação, roupas e tratamento de moléstias.”. 
Da mesma forma pensam os demais autores que escrevem sobre o tema. 
Porto afirma que “devemos considerar não só os alimentos necessários 
para o sustento, mas também os demais meios indispensáveis para as 
necessidades da vida no contexto social de cada um.” (1993, p. 11). 
A doutrina é clara ao afirmar que o termo alimentos, no âmbito do direito, 
engloba muito mais do que apenas a alimentação necessária para sobrevivência. 
Louzada (2008, p. 1 e 2) assevera que 
 
5
 Código Civil de 2002, Parte Especial, Livro IV, Título II, Subtítulo III. Arts. 1694 a 1710. 
 
 
 
 
alimentos, em sua acepção jurídico legal, podem significar não só o 
montante indispensável à sobrevivência do alimentando, mas também o 
valor que importa na mantença de seu padrão de vida, subsidiando inclusive 
seu lazer. 
 
 
Diante do exposto, restou claro que a doutrina é pacífica quanto à 
conceituação da palavra “alimentos” em seu significado jurídico: não diz respeito 
apenas ao “que serve à subsistência animal”, como afirma Miranda (citado por 
CAHALI, 2006, p. 15), mas engloba o necessário para que se tenha uma vida digna, 
com alimentação, saúde, educação e lazer, além da necessidade da mantença do 
padrão de vida. 
No mais, a doutrina brasileira subdivide os alimentos em duas 
classificações: naturais e civis (ou côngruos e necessários).Ressalta-se que, tal 
distinção vem sendo cada vez mais utilizada pela jurisprudência pátria, como bem 
ensina Dias 
 
Essa distinção, agora trazida à esfera legal, de há muito era sustentada pela 
doutrina. De conformidade com a origem da obrigação, a jurisprudência 
quantificava de forma diferenciada os alimentos destinados a filhos ex 
cônjuges ou ex companheiros. À prole eram deferidos alimentos civis, 
assegurando compatibilidade com a condição social do alimentante, 
concedendo aos filhos a mesma condição de vida dos pais. Os consortes e 
companheiros percebiam alimentos naturais: o indispensável à 
sobrevivência com dignidade (2009, p. 460). 
 
 
Ante o exposto, conceitua-se os alimentos naturais (côngruos) conmo os 
que são os indispensáveis à subsistência, como alimentação, moradia, saúde, 
educação, entre outros. Já os alimentos civis (necessários) são aqueles destinados 
a manter a qualidade de vida do alimentante. 
 
 
 
 
 
3.2 FONTES DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR 
 
Os alimentos podem ter diferentes origens. A doutrina classificou as fontes 
da obrigação alimentar em algumas espécies distintas, quais sejam: decorrentes da 
vontade das partes; do parentesco; do poder familiar; do casamento ou da união 
estável; e da prática de ato ilícito (LEITE, 2005, p. 387). 
Quando decorridos em virtude da vontade das partes, os alimentos 
materializam-se em casos de separação amigável. Nesse caso, um dos cônjuges se 
compromete a prestar alimentos ao outro por vontade própria. No mais, também 
pode ser instituída em testamento, nos termos do artigo 1920 do Código Civil6. 
Alimentos derivados da vontade das partes são regulados pelo Direito das 
Obrigações ou pelo Direito das Sucessões. 
Já os alimentos que provém de relação de parentesco são impostos por lei 
e estão previstos no artigo 1694 do Código Civil7. Os pais, em decorrência do poder 
familiar, têm o encargo de sustentar os filhos. O artigo 229 da Constituição Federal8 
estabelece que é dever dos pais sustentar os filhos menores. No mais, o referido 
dispositivo também impõe que é dever dos filhos maiores amparar os pais na 
velhice. Vale ressaltar que quando se trata de alimentos entre parentes de linha 
reta, essa obrigação se estende infinitamente. Já na linha colateral é válida até o 
quarto grau de parentesco. Essa obrigação está inserida no Direito das Famílias. 
Da mesma forma, os alimentos provenientes do casamento ou da união 
estável são regulados pelo direito familiar. Estão previstos no artigo 1694 do Código 
 
6
 Art. 1920 O legado de alimentos abrange o sustento, a cura o vestuário e a casa, enquanto o 
legatário viver, além da educação, se ele for menor (BRASIL, 2011, p.132). 
7
 Art. 1694 Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de 
que necessitam para viver de modo compatível com sua condição social, inclusive para atender às 
necessidades de sua educação (BRASIL, 2011, p. 117). 
8
 Art. 229 Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o 
dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade (BRASIL, 2011, p. 89). 
 
 
 
Civil9 e basta que, após o rompimento do vínculo, um dos cônjuges ou companheiros 
“não consiga prover a própria subsistência e o outro tenha condições de lhe prestar 
auxílio.” (DIAS, 2009, p. 459). 
Por fim, a obrigação dos alimentos originários da prática de ato ilícito ocorre 
quando o causador de um dano fica obrigado a repará-lo mediante o pagamento de 
uma indenização, no caso, a pensão alimentícia. Nessa hipótese a obrigação 
decorre da responsabilidade civil do devedor, como exposto no artigo 948, II do 
Código Civil10. Estão inseridos no Direito Obrigacional. 
 
3.3 CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR 
 
Muitas são as características da obrigação alimentar elencadas pela 
doutrina. Cada autor tem uma opinião sobre o assunto, e em suas obras explicita as 
que considera mais importantes. Neste capítulo é demonstrado uma junção de 
vários doutrinadores, explicando as características mais relevantes no que tange ao 
tema alimentos. 
 
3.3.1 Direito Personalíssimo 
 
Considerando que a finalidade dos alimentos é preservar a vida e assegurar 
a subsistência e o sustento de quem não o dispõe por seus próprios meios, a 
doutrina é pacífica em afirmar o caráter personalíssimo da obrigação alimentar. 
 
9
 Art. 1694 Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de 
que necessitam para viver de modo compatível com sua condição social, inclusive para atender às 
necessidades de sua educação (BRASIL, 2011, p. 117). 
10
 Art. 948 No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: [...)]II – na 
prestação de alimentos ás pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração 
provável da vida humana (BRASIL, 2011, p. 57). 
 
 
 
Segundo Cahali, os alimentos representam “um direito inato tendente a assegurar a 
subsistência e integridade física do ser humano.” (2006. p. 45). 
Ainda, significa dizer que os alimentos só podem ser requeridos em nome 
da pessoa que deles precise, não podendo ter sua titularidade transferida, bem 
como não podendo ser objeto de cessão ou compensação de crédito. 
 
3.3.2 Solidariedade 
 
Diante do silêncio da lei, no que diz respeito à natureza da obrigação 
alimentar, doutrina e jurisprudência pacificaram o entendimento de que o dever de 
prestar alimentos não era solidário, haja vista que a solidariedade não se presume, 
tem que ser prevista em lei. Entretanto, isso sempre gera controvérsia. 
Cahali (2006, p. 118) afirma que, “a obrigação alimentar não é solidária”. 
Porém, Dias (2009, p. 461 e 462) em seu Manual de Direito das Famílias assevera 
que, após a afirmação do Estatuto do Idoso (Art. 12 da Lei n.º 10.741 de 01 de 
outubro de 2003) de que “a obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar 
entre os prestadores”, faz-se claro que o legislador define a natureza do encargo 
alimentar, em favor de quem merece especial atenção do Estado. Nesse ponto, a 
autora equipara crianças e adolescentes aos idosos e aduz que, deve se reconhecer 
a solidariedade também em favor dos mesmos, tendo em vista que, assim como os 
idosos, menores de idade não têm meios de prover sua própria subsistência, bem 
como também são alvo de proteção integral 
 
 
 
 
 
 
3.3.3 Reciprocidade 
 
O dever de prestar alimentos é recíproco entre cônjuges, companheiros e 
parentes. Tal característica está prevista nos artigos 1694 e 169611 do Código Civil. 
Dias explica que “é mútuo o dever de assistência, a depender das necessidades de 
um e das possibilidades do outro.” (2009, p. 462). Entretanto, isso não significa que 
duas pessoas devam alimentos entre si ao mesmo tempo, mas sim que o credor de 
hoje pode ser o devedor do futuro, dependendo de suas condições. 
Ainda segundo Dias, enquanto os alimentos são decorrentes do poder 
familiar não há que se falar em reciprocidade, todavia, quando os filhos completam a 
maioridade a obrigação alimentar torna-se recíproca em decorrência do vínculo de 
parentesco (2009, p. 462 e 463). 
Assim, os pais que, na velhice ou enfermidade, necessitem de ajuda, 
poderão solicitar que os filhos maiores lhe paguem alimentos. 
Ainda que a obrigação alimentar seja baseada no dever de solidariedade, 
um pai que deixou de cumprir sua obrigação para com os filhos não pode invocar a 
reciprocidade para pedir alimentos aos mesmos quando estes atingirem a 
maioridade (DIAS, 2009, p. 463). 
Essa é uma questão lógica. Um pai que deixa seu filho menor desamparado 
nãopode ter o direito de exigir que esse filho lhe pague alimentos, haja vista que 
não cumpriu com sua obrigação quando deveria. 
 
 
 
11
 Art. 1696 O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os 
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outro (BRASIL, 2011, 
p. 117). 
 
 
 
3.3.4 Inalienabilidade 
 
Dizer que os alimentos são inalienáveis quer dizer que, os mesmos não 
podem ser transacionados. Todavia, quando se fala em alimentos pretéritos, as 
transações são lícitas, e ainda assim, quando há interesse de menor, a transação 
deve ser homologada pelo judiciário com prévia manifestação do Ministério Público. 
Diante disso, para Porto, “quando se afirma que os alimentos são 
inalienáveis se está a afirmar que o direito a alimentos é que não pode ser 
transacionado [...]” (1993, p. 19). 
Em outras palavras, dizer que a inalienabilidade é uma característica dos 
alimentos, quer dizer que não se pode transacionar o direito a eles, mas, em se 
tratando de prestações anteriores, nada impede que haja um acordo entre as partes 
para que a dívida seja quitada, desde que homologado pelo magistrado e com 
prévio parecer do Ministério Público. 
 
3.3.5 Impenhorabilidade 
 
O artigo 170712 do Código Civil é claro ao estabelecer que os alimentos não 
podem ser penhorados. Cahali sustenta que 
 
Tratando-se de direito personalíssimo, destinado o respectivo crédito à 
subsistência da pessoa alimentada, que não dispõe de recursos para viver, 
nem pode prover às suas necessidades pelo próprio trabalho, não se 
compreende possam ser as prestações alimentícias penhoradas; 
inadmissível, assim, que qualquer credor do alimentando possa privá-lo do 
que é estritamente necessário à sua subsistência (2006, p. 84 e 85). 
 
 
12
 Art. 1707 Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o 
respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora (BRASIL, 2011, p. 118). 
 
 
 
Evidente que, diante do caráter personalíssimo, a penhorabilidade dos 
alimentos é proibida, haja vista que o alimentado dele depende para sua 
sobrevivência com dignidade. 
 
3.3.6 Irrepetibilidade 
 
Os valores pagos a título de alimentos não podem ser restituídos. Isso 
ocorre, porque a verba alimentar destina-se a assegurar a sobrevivência do 
alimentado. Trata-se de uma das características mais evidentes do tema alimentos. 
Aqui, mais uma vez o legislador não se preocupou em inseri-la na lei, a doutrina e a 
jurisprudência consolidaram esse entendimento. 
Entretanto, nada impede que as partes possam ingressar com uma ação de 
revisão ou exoneração de alimentos. 
A Revisão de Alimentos tem o fim de aumentar ou diminuir o valor da 
prestação alimentícia, conforme as necessidades do alimentado e a possibilidade do 
alimentante, que podem mudar com o tempo. 
Já a exoneração de alimentos pode ser intentada com o fim de desobrigar o 
alimentante da obrigação do dever alimentar. 
Dias (2009, p. 464) ressalta que os efeitos da exclusão ou da alteração dos 
valores da obrigação alimentar, não possuem efeito retroativo, o que acontece para 
desestimular o inadimplemento. 
Atualmente, a doutrina e a jurisprudência vêm admitindo a relatividade da 
restituição nos casos em que a má fé é comprovada. Isso quer dizer que, 
comprovada a má fé do alimentado ou a postura maliciosa do credor, este pode ser 
obrigado a devolver os valores que recebeu a título de alimentos. Caso contrário, 
 
 
 
essa regra daria ensejo ao enriquecimento ilícito, o que seria inadmissível (DIAS, 
2009, p. 464). 
Diante do exposto restou claro que, diante da irrepetibilidade, os valores que 
foram pagos a título de alimentos não poderão ser devolvidos ao alimentante, a não 
ser que seja comprovada a má fé do alimentado. 
 
3.3.7 Alternatividade 
 
A característica da alternatividade está prevista no artigo 170113 do Código 
Civil, dispositivo este que corresponde ao artigo 403 do revogado Código. Com isso, 
observa-se que a obrigação alimentar pode ser cumprida com uma pensão em 
dinheiro (em pecúnia) ou, o alimentando pode receber e manter o alimentado em 
sua casa, sem prejuízo do direito à educação (in natura). . 
Caso as circunstâncias exigirem, o parágrafo primeiro do artigo 1701 
estabelece que caberá ao juiz estipular a maneira de cumprimento da obrigação. 
Entretanto, o artigo 25 da Lei n.º 5478 de 25 de julho de 1968 (Lei de Alimentos)14 
condicionou essa escolha à anuência do alimentado capaz (CAHALI, 2006, p. 111). 
Assim, se o alimentado for maior de idade, caberá ao mesmo decidir se 
quer que a prestação alimentícia seja paga em pecúnia ou in natura. 
 
 
 
 
13
 Art. 1701 A pessoa obrigada a suprir alimentos poderá pensionar o alimentando, ou dar-lhe 
hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário a sua educação, quando 
menor. 
Parágrafo único Compete ao juiz, se as circunstâncias o exigirem, fixar a forma do cumprimento da 
prestação (BRASIL, 2011, p. 117). 
14
 Art. 25 A prestação não pecuniária estabelecida no artigo 403 do Código Civil, só pode ser 
autorizada pelo juiz se a ela anuir o alimentado capaz (BRASIL, 2011, p. 4). 
 
 
 
3.3.8 Transmissibilidade 
 
Diferentemente do antigo Código Civil (1916), que se manifestava sobre a 
intransmissibilidade da obrigação alimentar, o Código de 2002 inovou e, em seu 
artigo 170015, estabelece que a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos 
herdeiros do devedor. 
Desta forma, Louzada lembra que 
 
O que se transmite é a obrigação alimentar e não o dever de prestar 
alimentos. Assim, para que haja essa transmissibilidade, reiteramos, 
necessário que anteriormente a morte do de cujus, já exista a obrigação 
alimentar fixada judicialmente (2008, p. 20). 
 
Entretanto, no tocante à essa característica há uma divergência doutrinária. 
Dias afirma que “não é necessário que o encargo tenha sido imposto 
judicialmente antes do falecimento do alimentante. A ação de alimentos pode ser 
proposta depois da morte do alimentante.” (2009, p. 465). 
Ademais, apesar de a lei falar em transmissão aos herdeiros, a obrigação é 
transmitida ao espólio. 
 
3.3.9 Irrenunciabilidade 
 
Por tratar-se de direito inerente à personalidade, tutelado pelo Estado com 
normas de ordem pública, o direito a alimentos é irrenunciável. O artigo 170716 do 
Código Civil (correspondente ao artigo 404 do revogado Código Civil) é claro ao 
 
15
 Art. 1700 A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do 
artigo 1694 (BRASIL, 2011, p. 117). 
16
 Art. 1707 Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o 
respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora (BRASIL, 2011, p.118). 
 
 
 
estabelecer que é vedado ao credor renunciar aos alimentos, entretanto pode o 
mesmo não exerce-lo. Leite explica que 
 
o credor pode dispensar os alimentos, por deles não necessitar, mas não 
pode renunciar o direito a alimentos. É o direito a alimentos futuros que é 
irrenunciável, já que ninguém pode prever o futuro e as eventuais 
necessidades de ordem econômica (2005, p. 386). 
 
Parte da doutrina entendia que, a característica da irrenunciabilidade 
exposta no artigo 1707 se referia apenas aos alimentos decorrentes do parentesco. 
Com isso a súmula 37917 do STF (Supremo Tribunal Federal) tentou por fim às 
divergências doutrinárias. Entretanto,Veloso (2003, citado por LEITE, 2005, p. 386 e 
387) afirma que os Tribunais vêm aceitando e admitindo a validade da renúncia 
entre cônjuges e companheiros, sem direito a exigi-los posteriormente. 
Assim, no entendimento do autor supracitado, se os cônjuges ou 
companheiros renunciarem aos alimentos em um acordo de divórcio, por exemplo, 
não poderão exigi-los posteriormente. 
 
3.3.10 Periodicidade 
 
A tendência do encargo alimentar é a de que, o mesmo se estenda no 
tempo, por isso é tão importante que seja estabelecida a periodicidade para seu 
adimplemento. Essa tendência parte do fato de que, a maioria das pessoas recebe 
seus salários mensalmente. Entretanto, para o cumprimento da obrigação alimentar, 
pode ser estabelecido outro lapso temporal, que deve ser acordado entre as partes, 
conforme suas necessidades e convenções. 
 
17
 STF Súmula 379 No acordo de desquite não se admite renúncia aos alimentos, que poderão ser 
pleiteados ulteriormente, verificados os pressupostos legais (BRASIL, 2011, p. 15). 
 
 
 
3.3.11 Anterioridade 
 
Os alimentos devem ser pagos com antecedência, já que possuem o 
objetivo de garantir a subsistência do alimentado. Sendo assim, a partir do dia em 
que são fixados, já são devidos. O devedor deve ser intimado a pagar 
imediatamente o que deve, não sendo razoável que o alimentado tenha que esperar 
30 dias para receber os alimentos. 
Dias lembra que essa regra está prevista no legado de alimentos, parágrafo 
único do artigo 192818 do Código Civil, que reza que as prestações alimentícias 
devem ser pagas no começo de cada período. Não seria, portanto, justificável que 
essa regra não fosse aplicada em qualquer obrigação alimentar, já que o caráter dos 
alimentos é o mesmo, qualquer que seja sua fonte (2009, p. 468). 
Diante do exposto, claro está que a pensão alimentícia deve ter seu 
vencimento antecipado, haja vista que o alimentado dela depende para sua 
subsistência. 
 
3.3.12 Atualidade 
 
A característica da atualidade está prevista no artigo 171019 do Código Civil 
de 2002. Segundo tal dispositivo as prestações alimentícias, de qualquer natureza, 
devem ser atualizadas segundo índice oficial. Para ajustamento do valor dos 
alimentos podem ser utilizados índices como o IGP-M (Índice Gral de Preços do 
 
18
 Art. 1928 Sendo periódicas as prestações, só no termo de cada período se poderão exigir. 
Parágrafo único Se as prestações forem deixadas a título de alimentos, pagar-se-ão no começo de 
cada período, sempre que outra coisa não tenha disposto o testador (BRASIL, 2011, p. 132). 
19
 Art. 1710 As prestações alimentícias, de qualquer natureza, serão atualizadas segundo índice 
oficial regularmente estabelecido (BRASIL, 2011, p. 118). 
 
 
 
Mercado), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), bem como o salário 
mínimo. 
Segundo Dias (2009, p. 469) isso ocorre em virtude do princípio da 
proporcionalidade. Também não seria razoável que os efeitos da inflação 
prejudicassem seu valor, já que o encargo alimentar é de trato sucessivo. 
 
3.4 OS ALIMENTOS DECORRENTES DO PODER FAMILIAR E A 
RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS 
 
Como visto anteriormente, a obrigação alimentar pode decorrer por vontade 
das partes; pela prática de ato ilícito; da união estável ou casamento; bem como da 
relação de parentesco e do poder familiar. Entretanto, para a continuidade do 
presente trabalho será dado um maior enfoque ao dever de prestar alimentos 
oriundo do poder familiar, bem como originário da simples relação de parentesco em 
linha reta. 
 
3.4.1 Do Poder Familiar 
 
Com vista a essa hipótese, tem-se que a obrigação alimentar tem a sua 
causa no poder familiar, o que implica na afirmação de que os genitores, de forma 
conjunta, têm o dever de sustentar os filhos provendo-lhes a subsistência material e 
moral. 
Nesse sentido, Yussef Cahali diz que 
 
 
Incumbe aos genitores – a cada qual e a ambos conjuntamente – sustentar 
os filhos, provendo-lhes a subsistência material e moral, fornecendo-lhes 
alimentação, vestuário, abrigo, medicamentos, educação, enfim, tudo aquilo 
 
 
 
que se faça necessário à manutenção e sobrevivência dos mesmos (2009, 
p. 345). 
 
Villela, afirma que o “pai não deve alimentos ao filho menor. Deve sustento. 
Esta é a expressão correta e justa que o Código Civil empregou quando especificou 
os deveres básicos dos pais em relação aos seus filhos [...]” (2005, p. 142). 
O artigo 229 da Constituição Federal20 assevera que os pais têm o dever de 
assistir, criar e educar os filhos menores. Ademais, os artigos 1634 do Código Civil21 
e 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente22 (Lei 8069 de 13 de julho de 1990) 
reafirmam essa ideia e mostram que, em virtude do poder familiar, os pais têm a 
obrigação de sustento, guarda e educação dos filhos. 
Segundo Dias, há uma considerável diferença entre dever de sustento e 
alimentos. A referida autora explica que o dever de sustento é uma obrigação de 
fazer, enquanto que a obrigação de prestar alimentos é uma obrigação de dar. O 
dever de prestar alimentos ocorre quando pai e filho deixam de conviver sob o 
mesmo teto, e não sendo o genitor seu guardião, passa a dever-lhe alimentos, 
representada pela prestação de certo valor em dinheiro (2009, p. 522). 
Enquanto o filho estiver sob o poder familiar, os pais têm o dever de 
sustento do mesmo. Em que pese, conforme artigo 5º do Código Civil23, a 
capacidade civil comece aos 18 anos, cessando, assim, o poder familiar, o encargo 
alimentar não é extinto automaticamente. 
 
20
 Art. 229 Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o 
dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade (BRASIL, 2011, p. 89). 
21
 Art. 1634 Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: 
I – dirigir-lhes a criação e educação; 
II – tê-los em sua companhia e guarda; 
[...] (BRASIL, 2011, p. 112). 
22
 Art. 22 Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-
lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais 
(BRASIL, 2011, p. 4). 
23
 Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática 
de todos os atos da vida civil (BRASIL, 2011, p. 1). 
 
 
 
A Súmula 358 do STJ cuidou da matéria. Para que haja a extinção do dever 
alimentar há a necessidade de que seja proposta uma ação de exoneração de 
alimentos. 
Ademais, atualmente, a jurisprudência vem aceitando que a obrigação 
alimentar seja estendida até que o alimentado conclua o ensino superior. 
 
3.4.2 A Responsabilidade Subsidiária dos Avós 
 
Como visto anteriormente o dever alimentar pode decorrer, além de outras 
hipóteses, da simples relação de parentesco. Esta diz respeito à obrigação alimentar 
prevista no artigo 1696 do Código Civil24, a qual se estende a todos os ascendentes 
e se subordina à verificação do estado de penúria do necessitado e da capacidade 
econômica do prestante. 
Conforme o artigo 1698 do Código Civil25, se o parente que deve alimentos 
em primeiro grau não tiver condições de suportar totalmente o encargo, serão 
chamados a concorrer os parentes de grau imediato. Sendo assim, os primeiros 
obrigados ao dever alimentar são os pais, em virtude do poder familiar. Entretanto, 
na ausência de condições de ambos, transmite-se o encargo aos ascendentes de 
grau mais próximo, ou seja, aos avós (DIAS, 2009, p. 538). 
Louzada lembra que primeiramente a demandade alimentos deve ser 
proposta contra o genitor que não detém a guarda do filho, e, somente depois de 
 
24
 Art. 1696 O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os 
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros (BRASIL, 
2011, p. 117). 
25
 Art. 1698 Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de 
suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as 
pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos 
recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide 
(BRASIL, 2011, p. 117). 
 
 
 
comprovado que o mesmo não possui condição nenhuma de arcar com o encargo 
alimentar é que deve ser intentada a demanda em desfavor dos avós. (2008, p. 13). 
Segundo Dias (2009, p. 529), “o reiterado inadimplemento do genitor 
autoriza a propositura de ação de alimentos contra os avós, mas não a cobrança do 
débito alimentar contra eles.” Ou seja, não cabe intentar execução dos alimentos 
não pagos pelo genitor em face dos avós. 
Ainda, segundo referida autora, ressalta-se que, apesar da necessidade de 
comprovação de que o parente mais próximo não tem condições de suportar o 
encargo alimentar, nada impede a propositura de ação concomitante contra o pai e o 
avô, constituindo-se me um litisconsórcio passivo facultativo. Assim fica atendido o 
princípio da economia processual, e evidenciada a impossibilidade do genitor, será 
reconhecida a responsabilidade dos avós em arcar com a obrigação alimentar 
(2009, p. 529). 
No mais, há outro entendimento jurisprudencial no que diz respeito ao 
assunto. Há o entendimento de que, em caso de separação dos pais, a ação contra 
os avós só será admitida se ficar comprovado que ambos os genitores não possuem 
condições de prover o sustento de seus filhos. Louzada exemplifica que 
 
caso a mãe seja uma promissora profissional, possuindo condições de arcar 
com as despesas de sua prole, e, estando o pai desempregado, os netos 
não poderiam pedir alimentos aos avós, já que a genitora teria condições de 
suportar todo o encargo sozinha (2008, p. 14 e 15). 
 
Como bem disse Dias, equivocada está essa interpretação, já que livra a 
responsabilidade dos avós, incentiva o inadimplemento do pai e, além de tudo, pune 
o genitor que detém a guarda do filho por desempenhar atividade profissional de 
sucesso (2009, p. 529). 
 
 
 
Resta claro, no entanto, que o entendimento mais correto é o de que a 
responsabilidade dos avós é subsidiária a dos genitores. Assim, comprovado que 
ambos os pais não possuem condições de prover o sustento da prole, os avós 
poderão ser chamados judicialmente para arcar com a obrigação alimentar, sendo 
observado seu poder econômico. 
 
3.5 O BINÔMIO NECESSIDADE/POSSIBILIDADE 
 
Segundo a regra estabelecida no parágrafo 1º do artigo 169426 do Código 
Civil, para a fixação do valor da pensão alimentícia devem ser observados dois 
requisitos, quais sejam: a necessidade do alimentado e os recursos da pessoa 
obrigada à prestação do dever alimentar. 
Observa-se então que, para ser fixado o valor da pensão alimentícia, deve 
ser respeitada certa proporcionalidade. Nesse sentido Pimentel afirma que, 
 
Tal proporção visa a, de um lado, assegurar ao credor necessitado, o 
suficiente para suprir suas reais necessidades e de outro, não comprometer 
o alimentante com o pagamento de uma pensão superior as forças de sua 
fortuna, exigindo-lhe um sacrifício superior àquele que o devedor poderia 
suportar, sem o comprometimento do efetivamente necessário à sua própria 
mantença (2003, p. 33). 
 
Entretanto, tal regra é maleável, como bem explica Cahali, afirmando que “a 
regra da proporção é maleável e circunstancial, esquivando-se o Código, 
acertadamente, em estabelecer-lhe os respectivos percentuais, pois afinal se resolve 
em juízo de fato ou valorativo o julgado que fixa a pensão.” (2006, p. 517). 
 
26
 Art. 1694 Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de 
que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às 
necessidades de sua educação. 
 § 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos 
da pessoa obrigada (BRASIL, 2011, p. 117). 
 
 
 
Depende, então, das circunstâncias da situação fática para que seja fixado 
o valor da pensão alimentícia. 
Rodrigues (1978, citado por CAHALI, p. 44) assinalou que 
 
não significa que, considerando essas duas grandeza (necessidade e 
possibilidade), se deva inexoravelmente tirar uma resultante aritmética, 
como, por exemplo, fixando sempre os alimentos em um terço ou em dois 
quintos dos ganhos do alimentante. Tais ganhos, bem como as 
necessidades do alimentado, são parâmetros onde se inspirará o Juiz para 
fixar a pensão alimentícia. O legislador quis deliberadamente ser vago, 
fixado apenas um standard jurídico, abrindo ao Juiz um extenso campo de 
ação, capaz de possibilitar-lhe o enquadramento dos mais variados casos 
(2006, p. 517). 
 
Assim, verifica-se que, considerando a necessidade do alimentado, bem 
como a possibilidade do alimentante, o legislador deixou a critério do juiz o valor a 
ser estipulado a título de alimentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 ALIMENTOS GRAVÍDICOS 
 
4.1 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI 11.804/2008 
 
Nos moldes do artigo 2º da Lei 5.478, de 25 de julho de 196827 (Lei de 
Alimentos), era necessário que se provasse o vínculo de parentesco para a 
concessão de alimentos, deixando assim uma lacuna no ordenamento jurídico 
quando se tratava de alimentos para o nascituro, que ficava desamparado. A idéia 
difundida pela doutrina e jurisprudência, baseada no artigo 2º do Código Civil de 
200228, era a de que os alimentos só poderiam ser pleiteados se o nascituro 
nascesse com vida, representado por sua genitora, momento em que adquiria a 
personalidade civil. Pensamento esse baseado na Teoria Natalista, já visto 
anteriormente. 
Diante disso, a mulher grávida ficava impossibilitada de pleitear os alimentos 
em favor do filho. Entretanto, em 5 de novembro de 2008 foi promulgada a Lei 
11.804, chamada de Lei de Alimentos Gravídicos, que legitimou a gestante para 
pleitear os alimentos em nome do nascituro. 
A referida norma tem alguns pontos controvertidos. O primeiro deles é a 
questão de que, para serem deferidos os alimentos gravídicos, são necessários 
apenas indícios de paternidade, ou seja, é preciso que seja comprovado apenas o 
relacionamento do casal por ocasião da concepção. 
 
27
 Art. 2º O credor, pessoalmente, ou por intermédio de advogado, dirigir-se-á ao juiz competente, 
qualificando-se, e exporá suas necessidades, provando, apenas, o parentesco ou a obrigação de 
alimentar do devedor, indicando seu nome e sobrenome, residência ou local de trabalho, profissão e 
naturalidade, quanto ganha aproximadamente ou os recursos de que dispõe. (BRASIL, 2011, p. 1). 
28
 Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, 
desde a concepção, os direitos do nascituro. (BRASIL, 2011, p. 1). 
 
 
 
 
Outro ponto controvertido é a questão da negativa de paternidade e da 
devolução do valor pago a título de alimentos pelo suposto pai. 
Sabe-se que em se tratando de alimentos, existe o princípio da 
irrepetibilidade, ou seja,os alimentos, quer sejam provisórios, quer sejam definitivos, 
uma vez fixados judicialmente não são restituíveis. 
Com isso, a princípio não haveria como ocorrer à devolução da quantia paga 
pelo suposto pai, entretanto, caso seja comprovada judicialmente a má fé por parte 
da genitora, vem sendo admitido pela doutrina o ressarcimento dos valores pagos a 
título de alimentos gravídicos pelo suposto pai através de indenização por danos 
morais e materiais. 
Igualmente vale ressaltar que, dos 12 artigos que compunham a Lei, 06 
deles foram vetados. O IBDFAM (Instituto Brasileiro do Direito de Família) teve 
grande importância nesse contexto, haja vista que sugeriu a retirada dos referidos 
artigos, visando dar proteção e seguridade à gestante e ao feto. 
 
4.2 CONCEITO 
 
Os alimentos gravídicos são aqueles destinados a cobrir as despesas do 
período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto. É o que 
assevera o artigo 2º da Lei 11.804 de 200829. 
Lomeu conceituou os alimentos gravídicos como 
 
 
29
 Art. 2º Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão os valores suficientes para cobrir as 
despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, 
inclusive as referentes a alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames 
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas 
indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes. (BRASIL, 2011, p. 
1). 
 
 
 
 
aqueles devidos ao nascituro, e, percebidos pela gestante, ao longo da 
gravidez, sintetizando, tais alimentos abrangem os valores suficientes para 
cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela 
decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes a alimentação 
especial, assistência médica e psicológica, exames complementares, 
internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e 
terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz 
considere pertinentes (2011, p. 1). 
 
Verifica-se que o autor supracitado usou o próprio texto da Lei 11.804 
(artigo 2º) para conceituar os alimentos gravídicos. 
Louzada afirma que “alimentos gravídicos referem-se a despesas que 
deverão ser custeadas pelo futuro pai, considerando-se também a contribuição a ser 
dada pela mulher grávida.” (2008, s/p). 
Cabe então ao futuro (ou suposto) pai ajudar a gestante a arcar com os 
custos da gravidez, bem como contribuir para que a mesma tenha uma gestação 
saudável. Entretanto, as despesas recorrentes do estado gestacional devem ser 
divididas entre mãe e futuro pai, na proporção dos recursos de ambos. É o que diz o 
parágrafo único30 do artigo 2º da Lei 11.804. 
Para Lima “os alimentos gravídicos são aqueles necessários à gestação do 
nascituro e são fixados conforme os recursos da gestante e do suposto pai.” (2011, 
p. 2). 
Fica claro, portanto, que a própria legislação se encarregou de conceituar o 
que se entende por alimentos gravídicos. Ou seja, são os alimentos destinados à 
gestante, para que esta tenha um período de gravidez saudável. 
 
30
 Art. 2º Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão os valores suficientes para cobrir as 
despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, 
inclusive as referentes a alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames 
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas 
indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes. 
Parágrafo único Os alimentos de que trata este artigo referem-se á parte das despesas que deverá 
ser custeada pelo futuro pai, considerando-se a contribuição que também deverá ser dada pela 
mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos. (BRASIL, 2011, p. 1). 
 
 
 
 
Entretanto, verifica-se que o rol do artigo 2º da Lei 11.804/2008 é 
exemplificativo, já que o juiz pode considerar outras despesas que entender 
pertinentes para fixar o valor a ser pago a título de alimentos. 
 
4.3 FINALIDADE 
 
Com a promulgação da Lei de Alimentos Gravídicos ficou claro que o 
instituto visa proteger a gestante e o nascituro, proporcionando a ambos os meios 
necessários para uma gestação sadia, bem como proporcionar ao feto um 
desenvolvimento saudável. 
Segundo Martins (2009, p. 3) o “intuito da lei é a proteção do estado 
gestacional, possibilitando o desenvolvimento integral do nascituro [...], intuito este 
louvável.”. 
A jurisprudência manifesta-se no mesmo sentido, senão vejamos: 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO - ALIMENTOS GRAVÍDICOS - FINALIDADE 
- COBRIR DESPESAS ADICIONAIS RELACIONADAS À GRAVIDEZ - 
REDUÇÃO DO QUANTUM - OBRIGAÇÃO DE AMBOS OS GENITORES - 
RECURSO PROVIDO.- Os chamados ALIMENTOS GRAVÍDICOS tem por 
finalidade "cobrir despesas adicionais do período de gravidez e que sejam 
delas decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes a 
alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames 
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições 
preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de 
outras que o juiz considere pertinentes" (art. 2º da Lei n. 11.804/09). (TJMG, 
Agravo de Instrumento 0186691-42.2010.8.13.0000, Rel. Des. Silas Vieira, 
DJ 05/08/2010, Publicação 31/08/2010). 
 
 
Ademais, verifica-se também a preocupação do legislador em relação à 
paternidade responsável desde a concepção. 
 
 
 
Nesse sentido Freitas aduz que a “lei demonstrou a preocupação do 
‘legislador’ sobre a paternidade responsável e sua co-participação desde a 
concepção.” (2009, p. 9). 
Diante de tais explanações fica evidente que a finalidade da Lei 
11.804/2008 é proteger o nascituro e a gestante, bem como incentivar, desde a 
concepção, a paternidade responsável e participativa. 
 
4.4 A LEI 11.804 DE 2008: ASPECTOS PROCESSUAIS 
 
Anteriormente à Lei de Alimentos Gravídicos era exigido que se 
comprovasse o vínculo de parentesco entre alimentado e alimentante. Com o 
advento da referida norma, basta que a gestante procure o Juízo competente, 
munida do exame que comprove a gravidez, bem como de documentos ou 
testemunhas que demonstrem que a mulher grávida e o suposto pai tiveram um 
relacionamento. 
Após o recebimento da inicial pelo juiz, o mesmo fixa os alimentos 
provisórios e determina a citação do requerido para apresentar resposta. Com o 
oferecimento da resposta, o juiz designa audiência de conciliação, instrução e 
julgamento. 
Para Louzada (2008), caso o réu, devidamente citado, não responda à 
demanda, poderá ser aplicada a ele presunção relativa de paternidade, entendendo 
que a inércia do mesmo é a concordância com a paternidade. 
A seguir, serão observados os demais aspectos processuais, como a 
legitimidade para figurar na ação de alimentos gravídicos, o foro competente, o ônus 
probatório, entre outros. 
 
 
 
4.4.1. Da Propositura da Ação 
 
A ação de alimentos gravídicos deve ser proposta entre o período da 
concepção e do parto, haja vista que a finalidade dos alimentos gravídicos é a de 
que a gestante tenha uma gravidez saudável, bem como de que o feto nasça com 
saúde. 
França explica que a “Ação de Alimentos Gravídicos em todos os seus 
benefícios possui tempo determinado para sua propositura, pois tem que ser 
proposta após a concepção e antes do parto, não podendo ser ingressada após.” 
(2009, p. 99). 
Assim, deixa-se claro que não é possível a propositura da demanda após o 
nascimento do feto, já que isso iria descaracterizar por completoa finalidade para 
que se prestam os alimentos gravídicos. 
 
4.4.2 Legitimidade Ativa 
 
Nos termos do artigo 1º da Lei 11.80431, a legitimidade para ingressar com a 
ação de alimentos gravídicos é da mulher gestante. 
Louzada aduz que a “legitimidade ativa é naturalmente da gestante, que 
pleiteará alimentos para si, alimentos esses que futuramente serão convertidos ao 
filho após seu nascimento.” (2008, s/p). 
Assim, a gestante deverá procurar os meios judiciais, representada por um 
advogado, que deverá instruir a petição inicial com o exame que comprove a 
 
31
 Art. 1º Esta Lei disciplina o direito de alimentos da mulher gestante e a forma como será exercido. 
(BRASIL, 2011, p. 1). 
 
 
 
 
gravidez, bem como, segundo Freitas (2009, citado por SANTOS, 2010, p. 7), com 
documento médico que determine a alimentação especial ou as demais prescrições 
médicas. 
 
4.4.3 Legitimidade Passiva 
 
A ação de alimentos gravídicos deve ser proposta em face do suposto pai, é 
o que estabelece o parágrafo único do artigo 2º da Lei 11.804 de 200832. 
Entretanto, como explica França 
 
O pólo passivo da Ação de Alimentos Gravídicos é o suposto pai, aquele 
que na referida ação fora indicado como sendo o possível pai por conta dos 
indícios da paternidade ou pela paternidade presumida à luz do artigo 1597 
do Código Civil. Pode também, haver o pleito em relação a outros parentes 
(2009, p. 103). 
 
Diante disso, verifica-se que basta que haja indícios de paternidade para 
que o suposto pai figure no pólo passivo da demanda. 
No mais, também há os casos de paternidade presumida, que estão 
previstos no artigo 159733 do Código Civil. Nesses casos há a presunção da 
paternidade do suposto pai, o que autoriza a concessão dos alimentos gravídicos 
em favor da gestante com uma maior segurança. 
 
32
 Art. 2º Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão os valores suficientes para cobrir as 
despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, 
inclusive as referentes à alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames 
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas 
indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes. 
Parágrafo único Os alimentos de que trata este artigo referem-se á parte das despesas que deverá 
ser custeada pelo futuro pai, considerando-se a contribuição que também deverá ser dada pela 
mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos. (BRASIL, 2011, p. 1, grifo meu). 
33
 Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: 
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; 
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, 
separação judicial, nulidade e anulação do casamento; [...] (BRASIL, 2011, p. 110). 
 
 
 
Por fim, caso o suposto pai não possua condições, podem também figurar 
no pólo passivo da ação de alimentos gravídicos os avós, haja vista o exposto no 
artigo 169834 do Código Civil. 
 
4.4.4 Do Termo Inicial da Obrigação 
 
Tendo em vista que, segundo o artigo 2º da Lei 11.804, os alimentos 
gravídicos deverão custear as despesas advindas da gravidez, fica evidente que os 
mesmos são devidos desde a concepção até o parto. 
Ressalta-se que, o artigo 9º da Lei35 que estabelecia que os alimentos eram 
devidos a partir da citação do réu foi vetado. (LOUZADA, 2008). 
Assim, os alimentos fixados devem retroagir à data da concepção do feto, e 
não da citação do réu. 
Nesse sentido Madaleno (2011, p. 883) afirma que 
 
Os alimentos gravídicos são devidos a partir da concepção e não após a 
citação do réu, como chegou a ensaiar o texto vigente que neste ponto 
mereceu veto presidencial, para obviar manobras que evitassem a citação 
do devedor alimentar. 
 
Resta claro, portanto, que é pacífico o entendimento de que o termo inicial 
da obrigação de prestar os alimentos gravídicos é a data da concepção do feto, e 
não a da citação do réu. Somente dessa forma será atendido o que estabelece o 
 
34
 Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de 
suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as 
pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos 
recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide. 
(BRASIL, 2011, p. 117). 
35
 Art. 9º Os alimentos serão devidos desde a data da citação do réu. (BRASIL, 2011, p. 2). 
 
 
 
artigo 2º da Lei 11.804 de 2008, ou seja, assim serão custeadas todas as despesas 
advindas da gravidez, do início ao fim. 
 
4.4.5 Resposta do Requerido 
 
Nos termos do artigo 7º36 da Lei de Alimentos Gravídicos, o réu (suposto 
pai, presumido pai ou avós), a partir de sua citação, tem 05 dias para apresentar sua 
resposta. 
 
4.4.6 Foro Competente 
 
O artigo 100, II do Código de Processo Civil (BRASIL, 2011, p. 10) assevera 
que é o do domicílio ou residência do alimentando o foro competente para se propor 
a ação de alimentos. 
Assim, por conseqüência lógica, como nas demais ações alimentícias, o 
foro competente para se ingressar com a demanda de alimentos gravídicos é o de 
domicílio do alimentado. 
 
4.4.7 Ônus da Prova 
 
Em que pese o artigo 4º da Lei de 11.80437 tenha sido vetado, o ônus 
probatório na ação de alimentos gravídicos é da gestante. Essa afirmação é 
 
36
 Art. 7º. O réu será citado para apresentar resposta em 05 dias. (BRASIL, 2011, p. 1). 
 
37
 Art. 4º Na petição inicial, necessariamente instruída com laudo médico que ateste a gravidez e sua 
viabilidade, a parte autora indicará as circunstâncias em que a concepção ocorreu e as provas de que 
dispõe para provas o alegado, apontando, ainda, o suposto pai sua qualificação e quanto ganha 
aproximadamente ou os recursos de que dispõe, e exporá suas necessidades. (BRASIL, 2011, p. 1). 
 
 
 
baseada não só na Lei citada, mas também no artigo 333, I do Código de Processo 
Civil, que estabelece que o “ônus da prova incumbe: I – ao autor, quanto ao fato 
constitutivo de seu direito.” (BRASIL, 2011, p. 36). 
França afirma que 
 
Embora não esteja em vigor o artigo 4º, se encontram patente as exigências 
deste artigo, com exceção do atestado de viabilidade, pois os requisitos de 
indicação das circunstâncias em que “a concepção ocorreu, as provas do 
alegado, indicação do suposto pai, sua qualificação, quanto ganha 
aproximadamente, os recursos de que dispõe e a exposição das 
necessidades da autora”, são condições mínimas para propor e fundar a 
Ação de Alimentos Gravídicos e obter a concessão desta tutela (2009, p. 
128 e 129). 
 
Assim, deve a gestante juntar à exordial o exame que comprove seu estado 
gestacional e indicar o suposto pai, bem como anexar provas que comprovem o 
relacionamento que teve com o mesmo. Ademais, para que o magistrado possa fixar 
o quantum da pensão alimentícia, deve à mulher grávida expor suas necessidades, 
além dos recursos de que dispõe. 
Segundo Freitas, quando não há uma paternidade presumida por lei, deve à 
gestante juntar aos autos a descrição de qual tipo de relação tinha com o suposto 
pai e as provas de tal, como cartões, mensagens de celular ou recados ou fotos de 
redes sociais. (2009, p. 129 e 130). 
Louzada (2008) afirma que, como o juiz, mesmo com tais documentos, não 
terá certezade que o alimentante é o pai do nascituro, pode também a gestante 
juntar aos autos declarações de pessoas que tenham conhecimento do 
relacionamento entre o alimentante e a autora. 
Já em relação à possibilidade de contribuir com alimentos, o ônus da prova 
incumbe ao alimentante, ou seja, cabe ao suposto pai comprovar que não pode 
contribuir com os alimentos pleiteados na inicial. 
 
 
 
Vejamos o posicionamento da jurisprudência nacional no que tange ao 
assunto: 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DE FAMÍLIA. ALIMENTOS 
GRAVÍDICOS. ART. 6º, LEI 11.804/08. PRESENÇA DOS INDÍCIOS DE 
PATERNIDADE. FIXAÇÃO. BINÔMIO NECESSIDADE-POSSIBILIDADE. 
PROVA DA INCAPACIDADE FINANCEIRA. AUSÊNCIA. 
 
Estando presentes os indícios da alegada paternidade, em atenção ao art. 
6º da Lei 11.804/2008, deve o juiz arbitrar os alimentos gravídicos devidos 
ao nascituro a fim de cobrir as despesas adicionais do período de gravidez 
e as que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto. 
 
A fixação do valor dos alimentos deve observar o binômio necessidade-
possibilidade, conforme previsto no §1º do art.1694 do Código Civil de 2002. 
 
Não tendo o agravante se desincumbido do ônus de demonstrar sua 
incapacidade financeira e a impossibilidade de arcar com os alimentos 
provisórios fixados, deve ser mantida a decisão proferida em primeira 
instância. (TJMG, 3ª Câmara Cível, Agravo de Instrumento 0093073-
43.2010.8.13.0000, Rel. Des. Dídimo Inocêncio de Paula, DJ 15/07/2010, 
Publicação 28/97/2010). 
 
Do exposto, verifica-se que à gestante cabe o ônus de levar aos autos 
provas de indícios de paternidade. Entretanto, cabe ao suposto pai o dever de 
comprovar sua possibilidade financeira. 
 
4.4.8 Valor da Pensão Alimentícia a ser fixada 
 
Conforme estabelece o artigo 2º da Lei 11.804, o valor dos alimentos 
gravídicos deverá custear as despesas advindas do período de gravidez. Tal 
dispositivo expõe que esses valores ficam a juízo do médico, entretanto, o juiz pode 
considerar outras despesas que entender pertinentes para fixar o valor a ser pago a 
título de alimentos. 
No que se refere ao quantum da obrigação alimentar, Dias (2008, p. 526) 
explica que “o encargo não guarda proporcionalidade com os ganhos do 
 
 
 
alimentante, tal como ocorre com os alimentos devidos ao filho. Existe um limite: as 
despesas decorrentes da gravidez [...]”. 
Entretanto, o parágrafo único do artigo supracitado dispõe que tais custos 
deverão ser arcados não só pelo futuro pai, mas também pela mulher grávida, 
ambos na proporção de seus recursos. (MELLO, 2010, p. 50). 
Em regra, para a fixação do quantum da pensão alimentícia, o magistrado 
não deve levar em conta a condição social do alimentante. Isso porque os alimentos 
gravídicos, conforme estabelece o artigo 2º da Lei 11.804/2008, engloba apenas os 
valores decorrentes da gestação. 
É o que aduz Madaleno, afirmando que 
 
os alimentos gravídicos, de regra, não devem levar em consideração no 
período gestacional a condição social do alimentante. Contudo, nada obsta 
que estes alimentos possam ser revisados depois do nascimento, agora 
sim, também considerando o padrão social, econômico e financeiro do 
alimentante [...] (2011, p. 883). 
 
Em suma: para a fixação do valor a ser pago a título de alimentos 
gravídicos, o juiz deve levar em consideração as despesas advindas da gravidez, 
essas que deverão ser divididas entre gestante e suposto pai, na proporção de seus 
recursos. Após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos serão convertidos 
em favor da criança, que possui legitimidade para ingressar com ação de revisão de 
alimentos, na qual serão considerados os critérios da necessidade do alimentado, da 
possibilidade do alimentante, bem como da proporcionalidade entre ambos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
4.5 OS ARTIGOS VETADOS DA LEI 11.804 DE 2008 
 
Desde o seu projeto, a Lei de Alimentos Gravídicos sempre foi alvo de 
polêmicas, já que possuía alguns artigos que contradiziam os objetivos para os 
quais a mesma foi criada, como por exemplo, a seguridade e o auxílio à gestante e 
ao nascituro. 
O IBDFAM interveio para que o projeto fosse aprovado, e após pressionou 
para que vários artigos fossem vetados, visando agilizar e facilitar o pleito dos 
alimentos. 
Diante de tal pressão, dos 12 artigos que compunham a Lei, 06 deles foram 
vetados, visando dar proteção e seguridade à gestante e ao feto. 
 
4.5.1 Artigo 3º 
 
O artigo 3º do Projeto de Lei de Alimentos Gravídicos assim dizia: “Aplica-
se, para aferição do foro competente para o processamento e julgamento das ações 
de que trata esta Lei o art. 94 da Lei nº 5. 869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de 
Processo Civil.” (BRASIL, 2011, p. 1). 
Segundo esse dispositivo, o foro competente para propositura da ação de 
Alimentos Gravídicos seria o de domicílio do réu. 
À época da aprovação do projeto da Lei 11.804, Dias (2008, citado por 
ALMADA, 2008, p. 1), criticou tal artigo e afirmou que o “texto aprovado, ao invés de 
melhor atender à gestante, fixa a competência judicial no domicílio do suposto pai 
[...], forçando-a a deslocar-se para a cidade/região do suposto pai para audiências.”. 
 
 
 
Diante das pressões, o referido dispositivo foi vetado pelo então Presidente 
da República, Luís Inácio Lula da Silva, que publicou na Mensagem nº. 853 de 5 de 
novembro de 2008 os motivos para o veto: 
 
O dispositivo está dissociado da sistemática prevista no Código de 
Processo Civil, que estabelece como foro competente para a propositura da 
ação de alimentos o do domicílio do alimentado. O artigo em questão 
desconsiderou a especial condição da gestante e atribuiu a ela o ônus de 
ajuizar a ação de alimentos gravídicos na sede do domicílio do réu, que 
nenhuma condição especial vivencia, o que contraria diversos diplomas 
normativos que dispõem sobre a fixação da competência (BRASIL, 2011, p. 
1). 
 
Nas demais ações de alimentos, que não os gravídicos, o foro competente 
para o ingresso da ação é o de domicílio do alimentado (Código de Processo Civil, 
art. 100, II38). Assim, não seria plausível que a gestante, que se encontra em uma 
condição especial, fosse obrigada a deslocar-se a outro local para que pudesse 
pleitear os alimentos. Com isso, acertadamente o artigo 3º foi vetado, e o foro 
competente para a propositura da ação de alimentos gravídicos passou a ser o de 
domicílio da alimentada (gestante), como ocorre nas demais ações de alimentos. 
 
4.5.2 Artigo 4º 
 
Outro dispositivo do Projeto de Lei de Alimentos Gravídicos que foi vetado 
foi o artigo 4º da Lei. Segundo tal dispositivo, obrigatoriamente, teria que ser 
anexada à petição inicial um exame que comprovasse a viabilidade da gravidez. 
 
Art. 4º. Na petição inicial, necessariamente instruída com laudo médico que 
ateste a gravidez e sua viabilidade, a parte autora indicará as circunstâncias 
 
38
 Art. 100 É competente o foro: 
[...] II – do domicílio ou da residência do alimentando, para ação em que se pedem alimentos; [...] 
(BRASIL, 2011, p. 10) 
 
 
 
em que a concepção ocorreu e as provas de que dispõe para provar o 
alegado, apontando, ainda, o suposto pai, sua qualificação e quanto ganha 
aproximadamente ou os recursos de que dispõe, e exporá suas 
necessidades (BRASIL, 2011, p. 2). 
 
O veto do referido artigo se deu em virtude do laudo de viabilidade que era 
exigido. 
Nesse sentido Freitas afirma: 
 
De forma acertada, o veto se deu por conta deste laudo que dificilmente 
seria dado pelos médicos, pois estariam estes se vinculando a uma situação 
que demandaria pelo menos alguns exames para verificação de alguma 
doença como anencefalia,

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