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O ESTADO E A INTERVENÇÃO NA ECONOMIA FATORES QUE JUSTIFICAM A INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA JUSCELINO VILA NOVA DE SOUSA PALAVRAS-CHAVE: Bem-estar social, ótimo de Pareto, falhas de mercado, bens públicos, monopólios, externalidades positivas, externalidades negativas, mercado, informações, inflação, desemprego, trade-off, gastos públicos, economia real. Acadêmico de bacharelado em administração pública pela UAB/UFPa. Certamente você já ouviu alguém falando sobre o governo e seus problemas, gente comentando que “O governo gasta milhões com funcionários e esquece a saúde pública”, ou algo parecido com “Falta investir em segurança por isso estamos no caos público”. Apesar das críticas por parte de muitos, sobre a falta de investimentos em determinadas áreas, parcela significativa de brasileiros vivem praticamente as custas do governo, contando no início do mês com as diversas bolsas custeadas pelo dinheiro público. Vivemos num sistema de mercado onde os rumos econômicos não se ajustam por si só e o governo tem que assumir o controle de diversas situações do cotidiano, algumas vezes estas situações são tão simples e comuns que nem percebemos o Estado atuando em nossa vida, em nossas decisões. Há algumas décadas ouvimos também algumas pessoas afirmarem que o setor privado é mais eficiente que o setor público e que a economia funciona melhor sem a intervenção do Estado. Desse pensamento surge a teoria do Bem-Estar Social (welfare economics), teoria esta que diz que sob certas condições, os mercados geram alocações de recursos de tal modo que é impossível fazer a realocação de forma que o aumento da satisfação de um indivíduo provoca a insatisfação de outro. Em outras palavras: ninguém pode melhorar sua situação sem causar prejuízos a outros (situação conhecida como ótimo de Pareto). No entanto, o ótimo de Pareto só pode ocorrer sob certas condições que são: a não existência de avanço tecnológico e mercado com concorrência perfeita. Percebe-se então que o ótimo de Pareto é uma condição apenas teórica, na prática existem as chamadas falhas de mercado que fazem você ou eu tentarmos entendermos por que o governo está tão ligado em nossas vidas. Entre as falhas de mercado enumero seis delas, que são as mais comuns, vejamos: A existência de bens públicos Os bens públicos são indivisíveis, ou seja, seu consumo por parte de um indivíduo não prejudica o consumo de outro. Todos são beneficiados pela produção de bens públicos. O que é interessante para analisarmos é que estes bens têm a características de serem regidos pelo princípio da não exclusão que diz que eles devem ser ofertados a todos. Tomemos como exemplo do bem público a iluminação de uma rua. Esta rua bem iluminada favorece a todos os que passam por ela ou que residem na sua localização, o governo não distingue entre a população quem pode ou não passar pela rua. A grande falha de mercado nesse ponto é como cobrar da sociedade os custos usados na produção de bens públicos, tendo em vista que impossível saber o efetivo benefício que cada indivíduo terá do bem público. Uma vez que o bem é disponível para todos, existem aqueles que resolvem utilizá-lo e não pagar por eles, deixando a cargo de outras pessoas essa parte. Há também aqueles que acham injusto pagar por um bem que não usufrui diretamente e com isso sente-se lesado. Perceba que é justamente pelo princípio da não exclusão que os bens públicos geram a falha de mercado, pois, uns pagam pelo uso do bem e outros não e mesmo assim todos se beneficiam do bem, direta ou indiretamente. A existência de monopólios naturais Existem mercados em que é mais vantajoso apenas uma empresa atuar do que várias num sistema de livre concorrência. Como exemplo temos a produção de energia elétrica que se fosse produzida e distribuída por várias empresas teria seu custo altíssimo. No entanto monopólios são sempre perigosos para os consumidores daí a justificativa da intervenção do Estado para regulação desses mercados e com isso impedir o poder total no controle de preços por parte do monopolista. As externalidades As externalidades são originadas por ações de certos indivíduos que por meio destas provocam benefícios (externalidades positivas) ou malefícios (externalidades negativas) a outros indivíduos. Por exemplo: se você em seu quintal fizer uma limpeza e eliminar todos os locais onde mosquitos podem fazer criadouros suas ações vão beneficiar também outros vizinhos, nesse caso, temos uma externalidade positiva. Outro caso é o de um fumante em uma parada de ônibus com cigarro acesso, a ação deste indivíduo causa males as pessoas que inalam a fumaça de seu cigarro, agora temos uma externalidade negativa. As externalidades justificam a ação de intervenção do Estado, pois, a produção direta ou concessão de subsídios podem gerar externalidades positivas, multas e impostos podem inibir a geração de externalidades negativas e regulamentações para estimular externalidades positivas e inibir também as negativas. Como exemplo deste último, temos, as regulamentações que destinam locais para fumantes em restaurantes. Os mercados incompletos O mercado é incompleto quando não oferece um bem ou produto ao público, mesmo que este esteja disposto a pagar pelo mesmo. Esta falha pode vir a acontecer porque, as vezes, nem mesmo as empresas privadas estão dispostas a correr risco com novos mercados. Um exemplo seria o mercado financeiro que em países periféricos é deficitário e em alguns não existe e o financiamento para desenvolvimento cabe muitas vezes ao governo. No Brasil temos o BNDES que atua no financiamento de micros, pequenos e médios empresários. As falhas de informação Nesse caso a intervenção estatal se justifica pelo mercado não oferecer dados suficientes aos consumidores para que os mesmos tomem decisões racionalmente. O Estado pode intervir criando leis que determinem maior transparência no mercado e devemos lembrar que informações podem também serem consideradas um bem público. Inflação e desemprego Um país com uma taxa elevada de inflação jamais terá um mercado justo, aliás quase nada é justo com elevadas taxas de inflação. Com isso o governo ao buscar o melhor para a população tem como atribuição o controle da inflação e, com isso, fazer alterações no rumo econômico do país. O desemprego também é um problema social e econômico e cabe e espera-se do governo que minimize ou sane este problema. Lembremos da lei de Okun, onde uma queda na taxa de desemprego aumenta o produto interno e assim melhora a economia. O grande problema é que segundo a curva de Phillips a taxa de desemprego aumenta com a queda da inflação e isso gera um trade-off ao governo. Em relação as falhas de mercado comentadas acima você pode perceber que a economia não funcionará bem sem a intervenção do governo. Para que esta intervenção seja real o governo deve abranger três funções básicas: a função alocativa (fornecimento de bens públicos), a função distribuitiva (associada a ajuste na distribuição de renda) e a função estabilizadora (que usa políticas econômicas visando emprego, estabilidade dos preços e obtenção de uma taxa apropriadade crescimento econômico). O gasto público Cabe ao governo através de sua intervenção na economia controlar os gastos públicos, função que não é fácil, pois, por exemplo: se os investimentos na área de saúde são maciços, é bem possível que falte recursos para outras áreas. Os gastos do governo afetam diversas atividades, que agora ou depois podem interferir em nossas vidas. Cabe ao administrador público faz escolhas, tomar decisões e solucionar problemas com os recursos que tem disponível sem com isso deixar algum grupo ou classe insatisfeita. Os gastos com o público no Brasil seguem o padrão mundial de aumento, pois, a tecnologia exige mais gastos com o povo e hoje temos cerca de 35% do PIB nacional utilizado somente para manutenção de bens públicos. Outro fator que exige mais gastos é o aumento da população que tem ser tornada mais “escolarizada” e também mais velha. Quanto maior o nível de conhecimento de uma população mais ela exige de seus governantes gastos para melhoras os serviços públicos como, por exemplos: saúde, educação e transportes. Uma população envelhecida exige mais investimentos na área de saúde e no setor da previdência social e, com isso, aumento de gastos. O governo e a economia real Diante de tudo que foi visto, percebe-se que não vivemos numa economia fictícia e teórica, onde mercados perfeitos existem e a economia segue seu rumo e se ajusta as suas leis de forma natural. Vivemos sim em um sistema onde monopólios, oligopólios, monopsônios e oligopsônios, externalidades, bens públicos e outras falhas de mercado existem e a tecnologia modifica-se todos os dias. O Estado como única entidade capaz de fazer frente ao mercado e que detém a legitimidade de atuar em nome de todos pode e deve intervir na economia através de suas funções alocativa, distribuitiva e estabilizadora para fins de obter o melhor para sua população. É tão marcante a ideia de economia real que vejamos um exemplo: os governos buscam sempre a estabilidade econômica, nessa busca, mexem com a vida de todos os compatriotas, seja nas medidas econômicas ou na regulação da distribuição de bens, bem como na forma de incentivos fiscais. Acontece que a estabilidade econômica leva a população a comprar mais, os investidores são atraídos para o país, o PIB nacional aumenta e a oferta de emprego pode se estabilizar ou subir. Veja tudo isso foi originado a partir da estabilidade econômica, ou seja, essa estabilidade originou externalidades positivas que é uma falha de mercado. Na economia real administradores públicos vivem cercados de trade-offs e devem se esforçar para que sua intervenção seja a melhor para todos, mesmo que nem sempre agrademos a todas as classes e grupos. A ética e a moral devem ser nosso farol nesse mar de incertezas que é a economia real. Referências BLANCHARD, OLIVIER. Macroeconomia. Tradução: Cláudia Martins, Mônica Rosemberg. 4ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. 602p. GIAMBIAGI, FABIO. Finanças públicas: teoria e prática no Brasil / Fabio Giambiagi, Ana Cláudia Além – 4ª ed – Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. MUSGRAVE, RICHARD; MUSGRAVE, PEGGY. Finanças Públicas – Teoria e prática. Editora Campus, 1980. PINHEIRO, IVAN ANTÔNIO. Gestão da regulação / Ivan Antônio Pinheiro. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2012. 96p.
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