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Resenha do livro O Seculo dos Cirugioes de Jurgen Thorwald

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
CURSO DE MEDICINA 
HISTÓRIA DA MEDICINA 
 
 
 
 
 
 
 
Análise crítico-reflexiva do livro: 
O Século dos Cirurgiões 
Jürgen Thorwald 
 
 
 
Acadêmico: Renato Holkem Bonafé 
Professor: Luis Augusto P. Bassi 
 
 
 
 
 
Santa Maria, 26 de junho de 2013 
2 
 
Análise crítico-reflexiva sobre: 
O Século dos Cirurgiões 
Jürgen Thorwald 
 
Livro escrito baseado em notas do avô materno de Jürgen Thorwald, Henrique Estêvão 
Hartmann, o Século dos Cirurgiões, em um primeiro momento, se apresenta como sendo um livro de um 
car|ter essencialmente científico. No entanto, conforme o “fluir” da leitura, percebe-se muito mais que 
isso. É um livro que permite refletir sobre as grandes dificuldades enfrentadas pelos pioneiros da 
cirurgia tanto no campo técnico-científico quanto humanístico da medicina. Faz com que o leitor 
penetre em um mundo onde descobertas importantíssimas para a boa prática médica estão sendo 
feitas. Possibilita refletir não só sobre a condição do médico de antigamente, mas também do paciente 
que a ele recorria. Assim, a obra ilustra importantes descobertas para a medicina com os relatos de caso 
do avô materno de Jürgen Thorwald de maneira que o leitor foca extrema atenção a cada palavra, 
imaginando cada procedimento realizado pelos iniciadores da cirurgia. 
Já no primeiro caso, “Kentucky”, é possível observar as dificuldades para a realizaç~o dos 
procedimentos cirúrgicos e também para o atendimento médico. No tempo do caso, ainda não havia 
sido descoberta da anestesia e tampouco se tinha conhecimento da microbiologia, causadora de 
inúmeras infecções que levaram à morte milhares de pessoas. Além disso, o médico (McDowell) foi 
visitar a enferma (Jane Crawford) na casa dela à cavalo. Como se não bastasse, a levou para a cidade 
onde ele residia (Danville) no mesmo meio de transporte, o cavalo, percorrendo vários quilômetros 
dessa forma. O objetivo era a retirada de um tumor do útero/ovário. A ousadia em fazer o novo era 
temida, pois existiam algumas teorias que assombravam os cirurgiões, como é possível observar nesse 
trecho: 
“Nunca se conseguirá praticar a ablação dos tumores internos, estejam eles localizados no 
útero, no estômago, no fígado, no baço ou nos intestinos. Neste campo, Deus marcou limites ao 
cirurgião. Ultrapassá-los é praticar um assassínio...” 
Página 26 
Talvez, o que mais comprometia a ousadia dos cirurgiões da época fosse “os limites marcados 
por Deus” ou ent~o o “assassínio” que seria ultrapassá-los. Seja como fosse, o médico do caso optou pelo 
“assassínio”. Talvez compadecido pelo grande sofrimento da enferma, que tinha cinco filhos, e pela 
enorme vontade de viver ao lado deles, acompanhando seu crescimento, e pela vontade dela de viver 
por si só foram necessários e suficientes para ultrapassar esses “limites”. Nesse caso, a paciente 
3 
 
sobreviveu ao procedimento (mesmo sendo realizado sem anestesia e sofrendo uma infecção pós-
operatória) vivendo 33 anos a mais daquilo que teria vivido caso o médico não tivesse tido a coragem 
de “buscar o novo”, “superar limites”. Um fato importante que merece ser relatado é que durante o 
procedimento na casa do médico, a população da cidade tentava invadir sua casa, numa tentativa de 
salvar a paciente do “assassino”. Essa atitude talvez, e provavelmente, reflita o pensamento da maioria 
da população com relação a procedimentos cirúrgicos como esse, que iriam contra as teorias cirúrgicas 
da época, mas que sem eles, talvez, as descobertas não tivessem aparecido. 
 Ainda na primeira parte do livro, muitos procedimentos cirúrgicos são relatados de uma 
maneira que, para nós hoje, parece inconcebível, inadmissível. Peguemos por exemplo a retirada de um 
cálculo vesical pelo PERÍNEO. Sim, pelo períneo. Quando lemos isso, parece até piada, mas não. O medo 
da PERITONITE fez com que a retirada pelo períneo acontecesse de verdade. Naquele tempo, a 
peritonite era muito temida pelos cirurgiões, pois muito poucos pacientes (a maioria esmagadora!) se 
salvavam de procedimentos cirúrgicos que viessem acompanhados dela. Não havia assepsia correta 
tanto dos aparelhos quanto dos mais diversos materiais utilizados nos procedimentos. Lavar as mãos? 
Pra quê! O “lavar as mãos” (com água e sabão!) foi uma descoberta revolucionária bem mais a frente no 
tempo. Em vista disso, a peritonite encontrava “prato cheio” para instalar-se e levar, na maioria das 
vezes (Jane Crowford sobreviveu a uma peritonite!), os pacientes à morte. 
Então, a tentativa de se retirar um cálculo pelo períneo, naquela época, era válida se nos 
colocarmos no lugar daqueles médicos e pensarmos com os conhecimentos daquela época (evitar a 
temível peritonite!). Claro que muitas estruturas da pelve foram danificadas para se chegar até a bexiga 
e retirar o cálculo (quando se lê isso, vem à mente uma imagem do períneo sendo dilacerado!). Nervos, 
artérias, veias, músculos, enfim, tudo era arrebentado. Prevenia-se com isso a peritonite, mas poderia 
ocorrer morte por vários outros problemas decorrentes da técnica (uma hemorragia, por exemplo!). 
Assim, não podemos julgar os médicos daquele tempo com pensamentos de hoje. É preciso colocar-se 
no lugar deles com a mentalidade, o conhecimento e os limites da época em que viveram. 
Tempos depois, surge a anestesia (quando chega nessa parte da obra, dá até um alívio do leitor 
pelos pacientes operados nos casos! Algo do tipo: “j| estava na hora!”). Segundo o livro, “em 1846 é 
descoberta a narcose, a anestesia da dor, mediante a inalação de gases químicos”. No entanto, antes 
dessa data, já se sabia o poder de algumas subst}ncias em “parar a dor”. Já se faziam experimentos com 
substâncias anestésicas inclusive, por volta de 1800 aproximadamente. Um importante destaque para o 
éter (solvente volátil para o ópio!) e também para o clorofórmio, este último um pouco menos ruim com 
relação a efeitos colaterais que o outro proporcionava ao inalante, conforme cita o livro. Importante 
fato foi a tentativa de o Dentista Wells em demonstrar a uma platéia, literalmente (sim, incrivelmente 
um procedimento cirúrgico era como se um espetáculo fosse! Hoje isso nos parece inadmissível, mas na 
4 
 
época não tinha nada de estranho e anti-ético), o efeito do “Protóxido de Azoto”, vulgo G|s Hilariante, 
que podia tornar os seres humanos totalmente insensíveis à dor. Wells teve insucesso na demonstração 
e saiu do “picadeiro” de cabeça baixa, possivelmente muito envergonhado, j| que o paciente ao inalar 
inadequadamente o gás, obteve um efeito anestésico curto e logo em seguida soltou um grito 
ensurdecedor que levou a “platéia” a risos e gargalhadas. Posteriormente, com o Dr. Morton, o 
experimento obteve sucesso (muito provavelmente pelo maior tempo de inalação pelo paciente!) e 
todos se curvaram diante da descoberta revolucionária. A partir dessa data, um novo caminho era 
criado para a cirurgia. 
Olhando a descrição acima, parece que a descoberta foi fácil. No entanto, os obstáculos foram 
muitos. Imaginem como foi o processo de “pesquisa” da época para a descoberta das subst}ncias com 
poderes anestésicos! Sim, um verdadeiro “projeto anti-ético” que hoje certamente seria barrado sem 
direito a recorrer! Alguns médicos (destaque para o Dr. Simpson) contavam com a “colaboraç~o” de 
todos da casa. Todas as noites inalavam (esposa, serviçais, entre outros) diferentes substâncias e 
esperavam para observar seus efeitos, sejam eles positivos ou negativos, sempre atentando 
prioritariamente para o efeito ANESTÉSICO. Segundo o livro, aqui, com o Dr. Simpson, descobriu-se o 
poder do clorofórmio. Essas pessoas arriscavam suas saúdespara descobrir uma substância que 
inibisse a dor. Pensemos: poderiam estar desenvolvendo inúmeras patologias de gravidade para se 
descobrir algo que auxiliasse em um procedimento cirúrgico! Tudo bem que esse auxílio era 
significativo, mas, desenvolver um tumor, por exemplo, em prol de uma descoberta em parte incerta era 
um preço alto a se pagar! Isso, pensando hoje! Mas, naquele tempo, esses riscos praticamente 
inexistiam nas mentes das pessoas. 
Não se tinha a noção de prevenção e provavelmente tampouco da gravidade de determinadas 
doenças crônicas. Enfim, parecia não ter escolha para se fazer algo importante! Precisava-se pagar um 
preço em troca de um benefício importante (e será que hoje ainda não é assim em alguns momentos de 
nossas vidas? Acredito que a grande maioria esmagadora dirá que sim!). Aí nos vem à cabeça: “mas 
precisava ser o estado de saúde?!” e ao mesmo tempo: “e tinha outra forma de se fazer uma “pesquisa” 
(totalmente sem planejamento e conselho de ética e todos aqueles protocolos que hoje existem)?! 
Definitivamente não. Era o que podia ser feito na época. O melhor que podia ser feito, diga-se de 
passagem. 
Incrivelmente a “Pesquisa” naqueles tempos já se fazia presente. Claro que não como hoje, mas 
da forma dela, com aquilo que se podia fazer na época, ela existia. Lembremos da invenção da Imprensa 
por Gutenberg por volta de 1440, o que impulsionou a publicação das mais diferentes obras e 
documentos. Os artigos e casos da medicina não poderiam ficar de fora disso. Era preciso manifestar 
suas descobertas aos “quatro cantos da Terra”, talvez não tanto para colaborar com os outros colegas, 
5 
 
com as outras pessoas de uma maneira geral, mas sim para ser reconhecido, ter renome, ser agraciado 
com benevolências entre outros protocolos de reconhecimento (era o chamado “querer se aparecer!”, 
coisa que não é só dos nossos dias!). Ser o PRIMEIRO em determinado assunto. Bom, o ser humano 
(praticamente a totalidade) prima por reconhecimento pelas suas ações. Quem n~o gostaria de “ficar na 
História” por algum importante feito?! Arrisco em dizer, TODOS! Sem exceç~o! É intrínseco ao ser 
humano. Ao mesmo tempo, isso é necessário (pensem como seria a história da humanidade se não 
existissem os “exibidões”! Talvez muita coisa não seria como hoje é). 
Assim, a descoberta da narcose abriu novas portas à cirurgia. Trouxe novas possibilidades de 
intervenções que antes não eram cogitadas. Abriu fronteiras. Podemos dizer que foi positivo para 
ambos os lados, tanto para o lado médico como para o lado do paciente (muito, mas muito mais positivo 
para esse último! Sem sombra de dúvidas!). Como foi mencionado antes, não é nada agradável imaginar 
uma remoção de cálculo vesical pelo períneo sem um efeito anestésico (imaginem a dor!), além é claro, 
como sabemos hoje, de ser essa técnica totalmente incorreta. Logo, um dos grandes percalços da prática 
cirúrgica era superado, a dor. Mas, o outro (presente desde sempre junto com a dor, na forma de febre 
principalmente) ainda se apresentava como um fantasma, um mal a ser combatido: a INFECÇÃO! 
Na época da história dos casos do livro, não se tinha o hábito de lavar as mãos, os aparelhos 
utilizados nos procedimentos e nem os tecidos que forravam as mesas cirúrgicas, inclusive o uniforme 
dos próprios médicos também não era lavado com frequência. Uma condição extremamente favorável a 
proliferação de micróbios! Segundo o livro, Semmelweis foi o primeiro a observar a relação de falta de 
higiene com as infecções. Naquele tempo, Semmelweis comparou a ala das parteiras com a ala dos 
acadêmicos/médicos. Ocorria muito mais mortes pós-parto na ala dos acadêmicos/médicos do que na 
ala das parteiras. A partir dessa comparação ele começou a analisar e percebeu que talvez isso estivesse 
ligado ao fato de que os acadêmicos/médicos vinham de dissecações de cadáveres diretamente para o 
hospital, sem realizar uma assepsia (palavra que naquele tempo não significava algo importante, talvez 
até inexistisse!) correta para lidar com as parturientes. 
Posteriormente, Sommelweis percebeu outros descuidados que colaboravam para as infecções 
(a morte de seu mestre talvez fosse o estopim para a percepção de Sommelweis! Seu mestre foi 
acidentalmente ferido pelo bisturi de um acadêmico e dias depois apresentou o quadro clínico de 
infecção, igual ao de uma parturiente no pós-operátório). Não sabia da existência dos germes, mas sabia 
que as infecções estavam ligadas a má higiene. Imaginemos a dura batalha enfrentada por Sommelweis 
na tentativa de mudar o hábito das pessoas fazendo com que sempre antes de entrar no hospital os 
acadêmicos/médicos lavassem as mãos com Fenol (isso mesmo, ele exigiu que se instalasse pias em 
pontos estratégicos do hospital para que as mãos fossem lavadas com Fenol – imaginem, Fenol! – e 
ainda ficava de vigília para ver se realmente todos lavavam as mãos). Sommelweis implantou outras 
6 
 
medidas posteriormente. O importante é que todas elas surtiram um efeito significativo! A mortalidade 
caiu consideravelmente, chegando a um ponto em que se igualou e até ficou menor do que a 
mortalidade da ala das parteiras. Tempos depois, ficou claro que não o Fenol, mas sim a água e sabão 
(utilizava-se água e sabão após lavar as mãos com Fenol para diminuir o forte cheiro que permanecia 
nelas) é que realizavam a limpeza máxima das mãos dos cirurgiões. 
Muitos cirurgiões entre outras pessoas da época achavam idéia de Sommelweis ridícula. Para 
eles, a infecção era algo normal no pós-cirúrgico, inerente à natureza. Dizia-se que “agora ele/ela 
(paciente) está entregue a natureza!”. Tem até um capítulo no livro denominado “Os Deuses Cegos” 
aludindo ao fato de que muitos cirurgiões de renome entre outros de grande importância social 
relutaram em aceitar essa idéia. Mas, não tiveram escolha. Posteriormente, Pasteur e Koch 
comprovaram a existência dos microorganismos como potenciais causadores das infecções. Imaginem 
como foi para esses cirurgiões (inclusive Sommelweis, que pensou em suicídio) o sentimento de culpa 
por terem levado inúmeras mulheres { morte “só” pelo fato de n~o manterem a higiene correta das 
mãos, aparelhos, etc.?! Hoje, isso seria extremamente condenável, inadmissível! Naquele tempo não foi. 
Não fora a justiça quem os condenou pelas mortes, mas sim o próprio cirurgião condenava-se. O 
sentimento de culpa devia ser enorme! 
 Partindo de tudo isso, imaginem como foi árdua a luta de Sommelweis (e não só dele) em tentar 
instituir a prática da higiene como sendo um hábito na vida das pessoas. Por ser uma atitude 
extremamente simples, que não necessitasse de alta tecnologia nem de estudos aprofundados, mas de 
uma importância extremamente alta, talvez, para os incrédulos parecesse blasfêmia. Contudo, isso pode 
ajudar a firmar, que, muitas vezes, a solução para os mais diversos problemas da sociedade está naquilo 
que é SIMPLES, que todo mundo olha, mas ninguém vê. Como pode a busca pelo SIMPLES ser algo 
extremamente COMPLEXO?! 
 O livro o Século dos Cirurgiões de Jürgen Thorwald é uma obra que traz muitas informações ao 
mesmo tempo em que nos permite refletir e comparar atitudes da época. Desconsiderando a parte que 
o autor incrivelmente estava no momento certo e na hora certa da grande maioria dos acontecimentos 
(alguns ele toma conhecimento por cartas) e que ele conheceu ilustres nomes da nossa História 
pessoalmente, o livro é sim uma excelente e recomendável leitura.

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