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Notas de Aula1
1. Nota promissória
Este título é uma promessa incondicional de pagamento. são suas partes o emitente, que é o devedor direto, o beneficiário, e os possíveis devedores indiretos, endossantes e avalistas. Não existe nota promissória ao portador, devendo ser sempre nominal.
A nota promissória é um título abstrato, não causal, podendo ser emitida sem vinculação a qualquer negócio extracambial.
É regida pela LUG, nas partes específicas, e também pelas regras relativas à letra de câmbio. Os dispositivos específicos são os artigos 75 a 78 do Anexo II deste diploma:
“Art. 75 - A nota promissória contém:
1 - Denominação "Nota Promissória" inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título;
2 - A promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada;
3 - A época do pagamento;
4 - A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento;
5 - O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga;
6 - A indicação da data em que e do lugar onde a nota promissória e passada;
7 - A assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor).”
“Art. 76 - O título em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não produzira efeito como nota promissória, salvo nos casos determinados das alíneas seguintes.
A nota promissória em que não se indique a época do pagamento será considerada pagável à vista.
Na falta de indicação especial, lugar onde o título foi passado considera-se como sendo o lugar do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicilio do subscritor da nota promissória.
A nota promissória que não contenha indicação do lugar onde foi passada considera-se como tendo-o sido no lugar designado ao lado do nome do subscritor.”
“Art. 77 - São aplicáveis as notas promissórias, na parte em que não sejam contrarias a natureza deste título, as disposições relativas as letras e concernentes:
Endosso (artigos 11 a 20) 
Vencimento (artigos 33 a 37) 
Pagamento (artigos 38 a 42) 
Direito de ação por falta de pagamento (artigo 43 a 50 e 52 a 54) 
Pagamento por intervenção (artigos 55 e 59 a 63) 
Cópias (artigos 67 e 68) 
Alterações (artigo 69) 
Prescrição (artigos 70 e 71) 
Dias feriados, contagem de prazos e interdição de dias de perdão (artigos 72 a 74) 
São igualmente aplicáveis as notas promissórias as disposições relativas as letras pagáveis no domicilio de terceiros ou numa localidade diversa da do domicilio do sacado (artigos 4º e 27), a estipulação de juros (artigo 5º), as divergências das indicações da quantia a pagar (artigo 6º), as conseqüências da aposição de uma assinatura nas condições indicadas no artigo 7º, as da assinatura de uma pessoa que age sem poderes ou excedendo os seus poderes (artigo 8º) e a letra em branco (artigo 10).
São também aplicáveis as notas promissórias as disposições relativas ao aval (artigos 30 a 32) no caso previsto na última alínea do artigo 31, se o aval não indicar a pessoa por quem e dado entender-se-á ser pelo subscritor da nota promissória.”
“Art. 78 - O subscritor de uma nota promissória e responsável da mesma forma que o aceitante de uma letra.
As notas promissórias pagáveis a certo termo de vista devem ser presentes ao visto dos subscritores nos prazos fixados no artigo 23.
O termo de vista conta-se da data do visto dado pelo subscritor. A recusa do subscritor a dar o seu visto e comprovada por um protesto (artigo 25), cuja data serve de início ao termo de vista.”
É aplicável a normatividade da letra de câmbio, mas apenas naquilo que for pertinente. Por isso, por exemplo, não seria possível aplicar às notas promissórias o vencimento a certo termo de vista, pela simples razão de que não existe aceite neste título. Não existindo aceite, não existe a “vista” determinante do início do prazo de vencimento. Contudo, há quem entende que se se tomar este termo, “vista”, como a apresentação para pagamento, e não apresentação para aceite, é possível contar-se prazo de vencimento desde este momento. É mera divergência terminológica, porém.
A nota promissória é transmissível por endosso, dada a inserção da cláusula “à ordem” como regra.
A natureza jurídica da nota promissória é de declaração unilateral de vontade.
Em regra, a responsabilidade de quem emite nota promissória é pro solvendo, por óbvio, como é regra para qualquer título de crédito. A responsabilidade pro solvendo não implica em novação de obrigações subjacentes, extracambiais, pelo que as exceções pessoais podem ser invocadas, mas na emissão pro soluto (expressamente consignada no título), há efeito novativo, mas mesmo assim podem ser alegadas questões subjacentes ao título pelo subscritor, a não ser que a cártula circule, quando a oponibilidade dependerá da análise da boa-fé do terceiro.
Os requisitos essenciais deverão estar presentes, sob pena de perda da força executiva, pois não valerá como título executivo. Por exemplo, se faltar a designação do nome do título, tal documento não valerá como nota promissória. Os requisitos essenciais estão no já transcrito artigo 75 da LUG.
Já a falta de requisitos não-essenciais terá a sua a omissão suprida pela própria LUG. O aval dado em branco, sem designação do avalizado, por exemplo, considera-se dado em favor do emitente.
A nota promissória vinculada a contrato não perde as força executiva, não se desnatura como título executivo. A vinculação, é claro, deve estar expressa na cártula, para ser oponível, ante a vigência do princípio da literalidade. Sobre este assunto, contudo, veja a súmula 258 do STJ:
“Súmula 258, STJ:A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.” 
Veja também a ementa do seguinte julgado:
“PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211. CONTRATO DE CONFISSÃO DE DÍVIDA. ASSINATURA DE DUAS TESTEMUNHAS. FALTA. NOTA PROMISSÓRIA VINCULADA. FORÇA EXECUTIVA. - “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo.” - Contrato de confissão de dívida sem assinatura das duas testemunhas não esvazia a força executiva da nota promissória a ele vinculada. O título cambial é autônomo. (AgRg no Ag 879.660/PR, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/10/2007, DJ 31/10/2007 p. 329)”
O analfabeto poderá assumir obrigação cambiária, consistente na emissão de uma nota promissória, mas não diretamente: deve fazê-lo por procuração, em instrumento público, e com poderes especiais para tanto – havendo quem entenda aplicável a teoria da aparência, quando o analfabeto souber desenhar seu nome, valendo o título.
A nota promissória poderá ser emitida em branco, podendo o credor completá-la posteriormente, como autoriza a súmula 387 do STF:
“Súmula 387, STF: A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé, antes da cobrança ou do protesto.”
Veja alguns julgados:
“PROCESSO CIVIL - RECURSO ESPECIAL - EXECUÇÃO - NOTA PROMISSÓRIA - DATA DA EMISSÃO - REQUISITO ESSENCIAL – INEXISTÊNCIA. 1 - Consoante firme entendimento jurisprudencial, a ausência da data da emissão na nota promissória descaracteriza-a como título executivo. 2 - Recurso especial conhecido e provido para julgar procedente a exceção de pré-executividade. (Resp 94.229/BA, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em 14/11/2006, DJ 18/12/2006 p. 400)”
“TJRJ. AGRAVO DE INSTRUMENTO 2008.002.15480 – CIVIL E PROCESSO CIVIL.TÍTULO DE CRÉDITO. NOTA PROMISSÓRIA. AUSÊNCIA DE DATA DE EMISSÃO. REQUISITO ESSENCIAL DO TÍTULO. PERDA DO CARÁTER DE TÍTULO EXECUTIVO. EXECUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. A nota promissória emitida sem a data de emissão, não preenchendo os requisitos do art. 889 do Código Civil e do art. 75 do Decreto 57.663/66, perde o caráter executivo.Precedentes do STJ.A execução ajuizada com base em cártula sem data de emissão deve ser extinta sem julgamento do mérito, em razão da nulidade do título executivo.Provimento liminar do recurso
para acolher a exceção de pré-executividade e extinguir o processo de execução sem julgamento do mérito, condenando o exeqüente no pagamento das custas processuais e honorários de advogados, que se fixa em 10% do valor da causa. DES. LINDOLPHO MORAIS MARINHO - Julgamento: 29/05/2008 - DECIMA SEXTA CAMARA CIVEL.”
A nota promissória pode ser emitida com base em compra e venda mercantil: o artigo 2º da Lei 5.474/68 apenas veda a emissão de outro titulo que não seja a duplicata para documentar o saque do vendedor (credor); em se tratando de nota promissória, a emissão é feita pelo devedor (comprador). Veja:
“Art . 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador.
(...)”
1.1. Cláusula-mandato
A cláusula-mandato inserida nos cartões de crédito, segundo a qual a administradora fica autorizada a emitir uma cambial para a cobrança do débito do usuário do cartão de crédito é válida? Ao contratar o crédito bancário, havendo esta cláusula, o consumidor autoriza que a instituição capte no mercado empréstimo que servirá para cobrir o valor que deixar de pagar, e garantir tal crédito por meio de nota promissória emitida contra si mesmo, em seu nome, pela instituição que é sua mandatária.
O TJ/RJ entende válida esta contratação, o que se vê na sua súmula, no verbete 77: 
“Súmula 77, TJ/RJ: CARTÃO DE CRÉDITO. CLÁUSULA-MANDATO. VALIDADE.
A cláusula-mandato inserida nos contratos de emissão de cartão de crédito é válida e não viola o dever de informar do fornecedor.”
O STJ, porém, conta com entendimento sumulado no seu enunciado 60, que diz:
“Súmula 60, STJ: É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.”
A posição do STJ é firme neste sentido, mas ressalva justamente o contrato de cartão de crédito. Para contrato bancário, ou qualquer outra situação, vige a súmula 60, para o STJ; para cartão de crédito, esta não é aplicável, sendo válida a cláusula mandato.
Em síntese, portanto: STJ e TJ/RJ se coadunam no mesmo sentido, entendendo válida a cláusula-mandato em contratos de cartão de crédito, na forma exemplar da súmula 77 do TJ/RJ. Para os demais casos, é cláusula inválida, na forma da súmula 60 do STJ. Veja julgados exemplificativos:
“RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATO BANCÁRIO. EMISSÃO DE TÍTULO DE CRÉDITO. ABUSIVIDADE. SÚMULA 60/STJ. A orientação desta Corte é no sentido de que a cláusula contratual que permite a emissão da nota promissória em favor do banco caracteriza-se como abusiva, porque violadora do princípio da boa-fé, consagrado no artigo 51, inciso IV, do Código de Defesa do Consumidor. Aplicação da Súmula 60/STJ. Agravo improvido. (AgRg no REsp 1025797/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/06/2008, DJe 20/06/2008)”
“CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO. QUALIFICAÇÃO. INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. CLÁUSULA-MANDATO. NULIDADE. SÚMULA N. 60-STJ. TEMA PACIFICADO. RECURSO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. MULTA, ART. 557, § 2º, DO CPC. I. A qualificação do contrato é recebida pelo STJ conforme definida pelas instâncias ordinárias. II. Salvo nos contratos de cartão de crédito, "é nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste" (Súmula n. 60-STJ). III. Sendo manifestamente improcedente e procrastinatório o agravo, é de se aplicar a multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC, de 1% (um por cento) sobre o valor atualizado da causa, ficando a interposição de novos recursos sujeita ao prévio recolhimento da penalidade imposta. (AgRg no REsp 899.358/RS, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 24/04/2007, DJ 28/05/2007 p. 367)”
Casos Concretos
Questão 1
Augusto Silva emitiu em branco uma NP e a entregou a Bernardo Cunha, a quem devia determinada quantia. Bernardo transferiu o título, por tradição, para Carlos Sá e este, por sua vez, endossou para Daniel Rocha. Vencido o título, o portador preencheu a cambial inserindo seu nome como beneficiário e promoveu ação de execução contra o emitente (Augusto). O executado, em embargos, argüiu falta de causa debendi, em razão de não ter nenhum vínculo jurídico com Daniel, pessoa que sequer conhece. Daniel refutou as alegações, no sentido que o preenchimento do título se deu de boa-fé, descabendo ao devedor qualquer possibilidade de exceção ou defesa pela circulação do título. Decida a questão fundamentadamente. 
Resposta à Questão 1
	Na falta de requisito essencial, o aponte do beneficiário, a nota é inexigível, sendo válida a defesa do emitente. A nota promissória não pode ser criada ao portador, não havendo que se falar em preenchimento de boa-fé deste requisito, no caso, porque aquele eu preencheu já figurava como endossatário, quebrando a presunção da boa-fé. Seria um título nulo, portanto.
Vale ressaltar que, se há a boa-fé clarificada, a súmula 387 do STF permite o preenchimento da cártula.
Questão 2
Incorporadora Imobiliária S.A. contratou com a Edificadora Construa Fácil S.A. uma construção multifamiliar, para entrega em 40 meses. A Incorporadora se obrigou ao pagamento das prestações, mediante a emisssão de notas promissórias mensais, vinculadas ao contrato. Faltando 10 meses para seu término e como a obra se encontrasse cronologicamente com 50% realizados, sem tempo para concluir-se no prazo ajustado, a Incorporadora Imobiliária S.A. suspendeu os pagamentos das notas promissórias, alegando exceptio nom adimpleti contractus.. Em ação de execução, a Edificadora Construa Fácil S.A. exige o pagamento dos títulos vencidos, sustentando que o prazo global não se esgotara. Procede a defesa da executada? Decidir a questão, com fundamentação adequada. 
Resposta à Questão 2
O título em questão tem natureza pro solvendo, em razão da inexistência de cláusula expressa em contrário, caso em que a executada poderia alegar em sede de embargos a causa debendi do título para justificar o seu inadimplemento: a sustação é devida.
		
Questão 3
Maria do Céu é negociante de imóveis e precisa de esclarecimentos sobre a utilização de nota promissória. Suas dúvidas são: Por que a obrigação contida num título de crédito pe quesível? O que diferencia a nota promissória emitieda em caráter pro soluto da nota promissória emitida em caráter pro solvendo? Qual o efeito de cada uma delas, em decorrência da falta de pagamento, quando emitidas em razão da compra e venda de um imóvel?
Resposta à Questão 3
É quesível porque o lugar do pagamento, não sendo requisito essencial do título, é no domicílio do devedor, e, portanto, a iniciativa do pagamento cabe ao credor. 
A diferença entre as notas promissórias encontra-se no efeito novativo (ou não) da subscrição. Na emissão pro soluto (expressamente consignada no título), há efeito novativo e não podem ser alegadas questões subjacentes ao título pelo subscritor (como exemplo, no inadimplemento contratual); já na emissão pro solvendo (que conta com presunção juris tantum), as exceções pessoais podem ser invocadas.
Tema X
DUPLICATA. Conceito. Natureza jurídica. Requisitos. Distinção entre fatura e duplicata. Remessa da duplicata e aceite. A retenção da duplicata. Triplicata. Endosso e aval. Duplicata de prestação de serviços. Fatura ou conta de serviços. 
Notas de Aula2
1. Introdução
	A Lei 5.474/68, que versa sobre este título, determina que, em razão da compra e venda mercantil, deverá ser emitida fatura ou nota fiscal: a fatura, quando o prazo de pagamento for igual ou superior a trinta dias; a nota fiscal, quando o prazo for inferior a trinta dias. Nenhum dos dois instrumentos são títulos de crédito, ou têm força executiva – apenas permitem o trânsito das mercadorias.
	Há que se atentar, hoje, à nota fiscal-fatura: o Convênio 15/1970, celebrado entre o Ministério
da Fazenda e as Secretarias das Unidades Federativas, que deu origem ao Sistema Nacional Integrado de Informações Econômico-fiscais, declara que a nota fiscal pode servir como fatura, denominando-se de nota fiscal-fatura. No campo da nota fiscal destinado à fatura, estarão discriminadas as mercadorias vendidas, o valor, a data, etc, permitindo, assim, a sua fiscalização pelo Estado.
	Há também a nota fiscal eletrônica: o Ajuste SINIEF 07/2005 institui, ainda, o Danfe – documento auxiliar de nota fiscal eletrônica –, que permite o acesso à internet e acompanhamento da mercadoria. O ato Cotepe (Comissão Técnica Permanente) 14/2007 regulou as especificações técnicas, e os Protocolos ICMS 10 e 88/2007 estabeleceram a obrigatoriedade de sua utilização. A nota fiscal eletrônica é um documento de existência exclusivamente digital, emitido e armazenado eletronicamente, com o intuito de documentar, para fins fiscais, uma operação de circulação de mercadorias ou prestação de serviços, ocorrida entre as partes. Sua validade jurídica é garantida pela assinatura digital do emitente (garantia de autoria e de integridade) e pela recepção, pelo fisco, do documento eletrônico, antes da ocorrência do fato gerador. E o danfe é a mera representação gráfica simplificada da nota fiscal eletrônica, impresso em papel comum, em única via, que conterá impressa, em destaque, a chave de acesso para consulta na internet e um código de barras que facilitará a captura e a confirmação pelos postos fiscais. Será utilizado para acobertar o trânsito da mercadoria. Nas operações sem circulação de mercadoria, não é necessária a emissão do danfe.
	Veja o artigo 1º da Lei 5.474/68:
“Art . 1º Em todo o contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no território brasileiro, com prazo não inferior a 30 (trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura para apresentação ao comprador. 
§ 1º A fatura discriminará as mercadorias vendidas ou, quando convier ao vendedor, indicará sòmente os números e valores das notas parciais expedidas por ocasião das vendas, despachos ou entregas das mercadorias.”
	A venda de uma mercadoria, ou prestação de um serviço, portanto, determina a emissão de nota fiscal ou fatura, que deverá acompanhar a mercadoria até o destino. Entregue a mercadoria, o vendedor deve manter consigo o comprovante desta entrega, porque será necessário para eventual cobrança de duplicata que não seja aceita pelo comprador, como se verá.
	Se a fatura não corresponder ao que está sendo transportado, diga-se, pode se delinear um ilícito tributário, ou mesmo penal.
	A duplicata é o título de crédito que só pode ser emitido em razão de uma fatura, ou seja, só tem existência nesta relação mercantil acima narrada. Na duplicata, inclusive, consta campo para aponte do número da fatura a que se correlaciona. A emissão de duplicata sem compra e venda que a fundamente, é simulada, é duplicata fria, e é fato típico penal, na forma do artigo 172 do CP:
“Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.  (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968)”
	O aponte de contrato diverso, ou de mercadorias e serviços diversos dos realmente pactuados, também se subsume a este tipo penal.
	Vejamos, então, este título causal, em seus detalhes.
2. Duplicata
	O vendedor é quem saca a duplicata: o sacador da duplicata é o emitente da fatura de compra e venda ou prestação de serviços. O devedor, comprador, é o sacado deste título. A emissão da duplicata, por óbvio, é posterior à venda ou prestação do serviço que a ela corresponda.
	Daí se vê que a duplicata é um título causal: só pode ser emitida com base em um contrato subjacente, relação extracambial que a fundamente.
	Toda emissão de duplicata deve ser registrada: o registro contábil da emissão de duplicata é imperativo. Veja o que diz o artigo 19 da Lei 5.474/68:
“Art . 19. A adoção do regime de vendas de que trata o art. 2º desta Lei obriga o vendedor a ter e a escriturar o Livro de Registro de Duplicatas. 
§ 1º No Registro de Duplicatas serão escrituradas, cronològicamente, tôdas as duplicatas emitidas, com o número de ordem, data e valor das faturas originárias e data de sua expedição; nome e domicílio do comprador; anotações das reformas; prorrogações e outras circunstâncias necessárias. 
§ 2º Os Registros de Duplicatas, que não poderão conter emendas, borrões, rasuras ou entrelinhas, deverão ser conservados nos próprios estabelecimentos. 
§ 3º O Registro de Duplicatas poderá ser substituído por qualquer sistema mecanizado, desde que os requesitos dêste artigo sejam observados.” 
	O livro de registro de duplicatas é um dos livros obrigatórios, para o empresário que emite estes títulos. Exigida sua apresentação, é imperativo que o faça, pois o empresário que deixa de registrar suas operações contábeis está irregular, podendo até mesmo incidir em falência fraudulenta, se vier a falir, recaindo sua conduta, no mínimo, no artigo 178 da Lei 11.101/05:
“Art. 178. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos de escrituração contábil obrigatórios:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.”
Veja que, inclusive, não basta possuir o livro: é preciso tê-lo autenticado pelo órgão competente, geralmente a junta comercial. É o livro que confere regularidade à atividade empresarial relacionada, servindo-se de prova em favor do empresário que o escritura corretamente – ou contra, se estiverem irregulares seus livros.
Vale dizer que os livros do empresário são sigilosos, mas a sua exibição pode ser determinada judicial ou administrativamente. Quando a exibição for determinada, há que se atentar para a adstrição apenas às partes do seu teor que forem pertinentes à investigação que estiver em curso. Veja o artigo 1.191 do CC:
“Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando necessária para resolver questões relativas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência.
§ 1º O juiz ou tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação pode, a requerimento ou de ofício, ordenar que os livros de qualquer das partes, ou de ambas, sejam examinados na presença do empresário ou da sociedade empresária a que pertencerem, ou de pessoas por estes nomeadas, para deles se extrair o que interessar à questão.
§ 2º Achando-se os livros em outra jurisdição, nela se fará o exame, perante o respectivo juiz.”
A súmula 439 do STF é pertinente:
“Súmula 439, STF: Estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação.”
Se se tratar de falência, ou dissolução de sociedade, o livro pode ser integralmente exibido, pois não causará prejuízo à atividade empresária.
Os requisitos da duplicata estão no artigo 2º da Lei 5.474/68, e a doutrina os considera, a todos, essenciais:
“Art . 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador.
§ 1º A duplicata conterá: 
I - a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de ordem; 
II - o número da fatura; 
III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista; 
IV - o nome e domicílio do vendedor
e do comprador; 
V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso; 
VI - a praça de pagamento; 
VII - a cláusula à ordem; 
VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial;
IX - a assinatura do emitente. 
§ 2º Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura. 
§ 3º Nos casos de venda para pagamento em parcelas, poderá ser emitida duplicata única, em que se discriminarão tôdas as prestações e seus vencimentos, ou série de duplicatas, uma para cada prestação distinguindo-se a numeração a que se refere o item I do § 1º dêste artigo, pelo acréscimo de letra do alfabeto, em seqüência.”
Cada duplicata deve corresponder a uma fatura diferente, como dispõe o § 2º deste artigo supra.
2.1. Aceite
Quando o sacado, comprador, não aceita a duplicata, não exara o aceite da cártula, está negando adimplemento por serviço ou mercadoria que já lhe foi prestado ou entregue. Sendo assim, a não ser que se encarte sua recusa nos motivos do artigo 8º desta Lei de Duplicatas, será uma recusa indevida:
“Art . 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de: 
I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; 
II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; 
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.”
Quando a recusa ao aceite for injustificada, ou seja, não se enquadrar nestas hipóteses do artigo supra, o credor, vendedor ou prestador do serviço, deverá efetuar o protesto por falta de aceite, e este protesto fará com que a duplicata sem aceite seja considerada título executivo extrajudicial. Veja o artigo 15, II, especialmente a alínea “c”, do diploma em comento:
“Art 15 - A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil ,quando se tratar: (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
I - de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou não; (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
II - de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente: (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
a) haja sido protestada; (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da mercadoria; e (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º e 8º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
§ 1º - Contra o sacador, os endossantes e respectivos avalistas caberá o processo de execução referido neste artigo, quaisquer que sejam a forma e as condições do protesto. (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
§ 2º - Processar-se-á também da mesma maneira a execução de duplicata ou triplicata não aceita e não devolvida, desde que haja sido protestada mediante indicações do credor ou do apresentante do título, nos termos do art. 14, preenchidas as condições do inciso II deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)”
A duplicata sem aceite, sem protesto, e sem comprovante de entrega de mercadorias, pode ser habilitada como crédito no processo falimentar? É claro que este título poderá até ser apresentado, mas não será habilitado ao final, ou seja, não será procedente o pedido de habilitação.
2.2. Duplicata em contrato de leasing
Duplicatas vencidas, protestadas e não pagas, representativas de prestações de contrato de leasing, constituem títulos executivos extrajudiciais idôneos a embasar pedido de falência? Veja o que disse o STJ, no antigo informativo de jurisprudência 18:
“LEASING. DUPLICATAS. PROTESTO.
A Turma conheceu em parte do recurso para determinar a sustação ou cancelamento dos protestos das duplicatas enviadas a cartório, por entender que o negócio de leasing não admite a emissão de duplicata, ainda que avençada, razão pela qual não pode tal título ser levado a protesto. REsp 202.068-SP, Rel. Min. Ruy Rosado, julgado em 11/5/1999.”
O leasing não é compra e venda mercantil, e por isso a duplicata não pode ser emitida com este contrato por causa. Sendo assim, é inidônea sua emissão, neste caso, não tendo executividade.
2.3. Endosso sem garantia e prazos prescricionais
A duplicata mercantil comportaria o endosso sem garantia? O artigo 18, § 2º, da Lei 5.474/68 trata da questão:
“Art 18 - A pretensão à execução da duplicata prescreve: (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
I - contra o sacado e respectivos avalistas, em 3 (três) anos, contados da data do vencimento do título; (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
lI - contra endossante e seus avalistas, em 1 (um) ano, contado da data do protesto; (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
III - de qualquer dos coobrigados contra os demais, em 1 (um) ano, contado da data em que haja sido efetuado o pagamento do título. (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
§ 1º - A cobrança judicial poderá ser proposta contra um ou contra todos os coobrigados, sem observância da ordem em que figurem no título. (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
§ 2º - Os coobrigados da duplicata respondem solidariamente pelo aceite e pelo pagamento. (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)”
Seguindo-se este dispositivo, os coobrigados não poderiam desonerar-se da sua responsabilidade pelo pagamento, apondo a cláusula sem garantia em seu endosso, como é facultado na letra de câmbio. Outra corrente, ao contrário, defende que esta Lei de Duplicatas,na verdade, não trata do endosso sem garantia, e, destarte, permite que seja utilizada a fonte supletiva, qual seja, a LUG – e lá se permite o endosso sem garantia, no já abordado artigo 15.
	A pretensão executória da duplicata prescreve na forma dos incisos do artigo 18, acima transcrito.
2.4. Duplicata de prestação de serviços
	Esta duplicata se utiliza das regras da duplicata mercantil, de mercadorias, guardando as devidas adaptações. Assim como na mercantil, a duplicata de serviços não pode ser emitida sem o devido lastro no serviço efetivamente prestado, ou será duplicata simulada, criminosa.
	Os artigos 20 a 22 da Lei 5.474/68 regulam as particularidades deste título:
“Art . 20. As emprêsas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação de serviços, poderão, também, na forma desta lei, emitir fatura e duplicata. 
§ 1º A fatura deverá discriminar a natureza dos serviços prestados. 
§ 2º A soma a pagar em dinheiro corresponderá ao preço dos serviços prestados. 
§ 3º Aplicam-se à fatura e à duplicata ou triplicata de prestação de serviços, com as adaptações cabíveis, as disposições referentes à fatura e à duplicata ou triplicata de venda mercantil, constituindo documento hábil, para transcrição do instrumento de protesto, qualquer documento que comprove a efetiva prestação, dos serviços e o vínculo contratual que a autorizou.(Incluído pelo Decreto-Lei nº 436, de 27.1.1969)”
“Art . 21. O sacado poderá deixar de aceitar a duplicata de prestação de serviços por motivo de: 
I - não correspondência com os serviços efetivamente contratados; 
II - vícios ou defeitos na qualidade dos serviços prestados, devidamente comprovados; 
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.”
“Art . 22. Equiparam-se às entidades constantes do art. 20, para os efeitos da presente Lei, ressalvado o disposto no Capítulo VI, os profissionais liberais e os que prestam serviço de natureza eventual desde que o valor do serviço ultrapasse a NCr$100,00 (cem cruzeiros novos). 
§ 1º Nos casos dêste artigo, o credor enviará ao devedor fatura ou conta que mencione a natureza e valor dos serviços prestados, data e local do pagamento e o vínculo contratual que deu origem aos serviços executados.
§ 2º Registrada a fatura ou conta no Cartório de Títulos e Documentos, será ela remetida ao devedor, com as cautelas constantes do artigo 6º. 
§ 3º O não pagamento da fatura ou conta no prazo nela fixado autorizará o credor a levá-la a protesto, valendo, na ausência do original, certidão do cartório competente. 
§ 4º - O instrumento do protesto, elaborado com as cautelas do art. 14, discriminando a fatura ou conta original ou a certidão do Cartório de Títulos e Documentos, autorizará o ajuizamento do competente processo de execução na forma prescrita nesta Lei. (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)”
	A duplicata de serviços pode, igualmente, instruir pedido de falências. De fato, há poucas diferenças deste título para o mercantil.
	A súmula 248 do STJ é referência:
“Súmula 248, STJ: Comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não aceita, mas protestada, é título hábil para instruir pedido de falência.”
2.5. Retenção da duplicata
	Quando o sacador remete a duplicata ao sacado, para que este aceite ou não a obrigação cambiária, pode o sacado não só se recusar expressamente ao aceite, mas também reter consigo a cártula, não a devolvendo. Se há a retenção da duplicata pelo sacado, o ideal é que o sacador efetue o protesto por falta de devolução, o já abordado protesto por indicações.
	Lavrado o protesto por falta de devolução, após a intimação do devedor, não acontecendo pagamento espontâneo, será extraída certidão do protesto e instruída, com esta, a execução.
	Veja que a retenção não é caso para emissão de triplicata: esta só pode ser emitida nos casos de perda ou extravio do título, como determina o artigo 23 da Lei 5.474/68, e não haveria, de fato, qualquer sentido em emitir esta cártula substitutiva quando não há devolução, porque ainda seria caso de ser remetida novamente para aceite, sendo novamente retida pelo devedor.
“Art . 23. A perda ou extravio da duplicata obrigará o vendedor a extrair triplicata, que terá os mesmos efeitos e requisitos e obedecerá às mesmas formalidades daquela.”
Casos Concretos
Questão 1
IGOR emitiu nota promissória em favor de TIAGO para documentar obrigação decorrente de contrato de compra e venda de mercadoria. Em razão de obrigação inadimplida, o emitente foi demandado pelo credor, TIAGO, vendedor das mercadorias. O devedor, em sede de embargos, alegou não ter a cambial força executiva em razão da vedação do art. 2º da L. nº 5.474/68. Assiste razão ao embargante? Resposta fundamentada. 
	
Resposta à Questão 1
Não assiste razão o devedor. O artigo 2° da Lei 5.474/1968 é norma dirigida ao vendedor da mercadoria, não admitindo a emissão de título diverso da duplicata para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador.
Questão 2
Centro-Sul Transportes Multimodais Ltda. sacou duplicata de serviço, contra Agapê Comércio e Indústria de Mármore Ltda., no valor de R$ 6.250,00, pagável no dia 12/03/2007, no lugar de emissão. Antes do vencimento, o beneficiário da cártula transferiu o crédito para Banco Peloponeso S.A. através de operação de desconto de duplicata. O não-pagamento da duplicata, sem aceite, motivou sua entrega para protesto. O sacado, após ter obtido a sustação do protesto, ajuizou ação declaratória de inexistência de débito cumulada com perdas e danos, sob a alegação de que o saque fora fraudulento e de que havia responsabilidade do portador da duplicata pelo envio do título a protesto. Analise a questão sob todos os aspectos. 
Resposta à Questão 2
	O titular do direito é a instituição bancária, eis que a operação de desconto lhe entregou a propriedade do título de crédito. E é o banco quem deverá comprovar que o serviço foi efetivamente prestado, pois se não foi, ou se não o provou o beneficiário, a duplicata é inexigível. Sendo o caso, o protesto se faz indevido, e o banco deve responder por seus danos.
Questão 3
FERNANDO, advogado, emitiu duplicata de prestação de serviços em face de seu cliente MARCOS. Em razão do inadimplemento da obrigação o emitente ajuizou ação de execução para cobrança do valor devido. O executado, em exceção de pré-executividade, alegou falta de executoriedade do título. Decida a questão fundamentadamente. 
Resposta à Questão 3
	O advogado pode emitir fatura de prestação de serviços, e é esta que será executável, na forma o artigo 22, §§ 1º e 4º, da Lei 5.474/68, que autoriza este procedimento para o profissional liberal.
	Neste sentido, veja o seguinte julgado:
“Processo civil. Agravo no recurso especial. Honorários de advogado. Prequestionamento implícito. Inocorrência. Ausência de demonstração do dissídio jurisprudencial. Reexame de provas. Inexistência de contrato escrito. Emissão de faturas. Inadmissibilidade. Cobrança judicial de honorários advocatícios. Renúncia ao patrocínio da causa. Representação por colega. - O prequestionamento do dispositivo legal tido por violado constitui requisito específico de admissibilidade do recurso especial. - O dissenso pretoriano deve ser comprovado mediante o cotejo analítico entre acórdãos que versem sobre situações fáticas similares. - É vedado o reexame de fatos e provas em sede de recurso especial. - A emissão de faturas para cobrança de crédito por honorários advocatícios só é admissível quando existir contrato escrito entre as partes. - O advogado que pretende a cobrança judicial de honorários advocatícios deve renunciar ao patrocínio da causa, fazendo-se representar por colega. Agravo no recurso especial não provido. (AgRg no REsp 730.554/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/06/2005, DJ 01/08/2005 p. 459)”
Questão Extra
“X” promove, em Vara Cível da Comarca da Capital do Rio de Janeiro, ação de execução em face de “E”, sacado de letra de câmbio, “F” e “G”, seus avalistas. No curso da execução e antes que se efetue qualquer penhora, é informado ao juízo cível por “G” a  decretação das falências dos dois primeiros executados (E e F) no Estado de São Paulo. Na mesma petição “G” pugna pela suspensão do feito, em vista das falências decretadas em outro Estado da Federação. Aberta vista à promotoria de massas falidas da Comarca da Capital do Rio de Janeiro nos autos da execução singular, como deve opinar o promotor?
Resposta à Questão Extra
	O pedido de suspensão do processo não tem amparo jurídico. A falência dos coobrigados não é causa para tanto, podendo prosseguir o feito em relação a “G”. Se por ele for pago o título, ele poderá se habilitar em ambas as falências, com seu crédito de regresso.
1. Cheque
	O cheque é uma ordem de pagamento à vista, não importando a sua pré ou pós-datação, como se verá. Por ser uma ordem à vista, o cheque é tido por título de crédito impróprio, vez que uma das características essenciais dos títulos não se encontra presente, qual seja, a fidúcia representada pela entrega de prazo para sua cobrança.
	Mesmo sendo cambiariforme, o cheque tem a si aplicado todo o tratamento normalmente aplicado aos títulos de crédito, inclusive a principiologia. A cartularidade, a literalidade, etc, tudo se aplica ao cheque como aos demais títulos3Diferente é, por exemplo, com as ações de sociedades empresariais, que normalmente sequer contam com cártulas representativas, não podendo ser tidas por títulos de crédito.
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	Assim, o cheque tem esta natureza jurídica de ordem de pagamento à vista, dada a um banco ou instituição financeira assemelhada, por um correntista que possua fundos disponíveis, em seu próprio benefício ou de terceiros.
	O cheque é um título de modelo vinculado, porque não pode ser criado fora dos padrões definidos pelo Banco Central: forma, papel, tipo de escritos, todo o modelo do cheque é padronizado por esta entidade.
	Quanto a sua estrutura, o emitente do cheque, ou sacador, dá uma ordem ao sacado (instituição financeira), para que esta pague o valor inserido na cártula ao beneficiário. O banco é o sacado, mas o pagamento do cheque é feito com valores previamente disponibilizados para tanto pelo
próprio emitente, que com aquela instituição firmara um contrato de administração de conta-corrente. Não existe aceite, pelo banco, porque quem está se obrigando é somente o emitente, sendo que apenas o pagamento é feito através do sacado, com recursos do próprio emitente. A instituição financeira não é devedora cambiária.
	A identificação do beneficiário é necessária, atualmente, quando o cheque contiver valor que suplantar cem reais.
	O cheque, por ser à vista, deve ter fundos disponíveis para ser pago quando for apresentado. A presença de fundos apenas deverá ser verificada no momento da apresentação, conforme artigo 4º, § 1º, da Lei do Cheque, Lei 7.357/85:
“Art . 4º O emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito. A infração desses preceitos não prejudica a validade do título como cheque. 
§ 1º - A existência de fundos disponíveis é verificada no momento da apresentação do cheque para pagamento. 
§ 2º - Consideram-se fundos disponíveis: 
a) os créditos constantes de conta-corrente bancária não subordinados a termo; 
b) o saldo exigível de conta-corrente contratual; 
c) a soma proveniente de abertura de crédito.” 
	A emissão de cheque sem fundos pode ser considerada fraudulenta e criminosa. O crime se configura quando não há fundos na apresentação, e não se não há fundos na emissão – pelo que o cheque pós-datado não é crime. Veja o crime de estelionato por meio de cheque, do artigo 171, VI, do CP:
“Estelionato
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
(...)
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.”
	O cheque não tem curso forçado em nosso sistema. O comerciante, ou qualquer pessoa, não é obrigado a aceitar o cheque como meio de pagamento. Antigamente, o cheque era de curso forçado, mas a Lei 8.884/94, Lei Antitruste, alterou esta regra, deixando à autonomia da vontade a possibilidade de convencionar se se admite ou não o recebimento por meio de cheque. É claro que não pode haver discriminação praticada por meio do uso do cheque, especialmente no meio consumerista: se um estabelecimento não admite pagamento por meio de cheque, deve avisar claramente esta situação; se admite incondicionalmente, deve aceitar de todos; e se admite por meio do preenchimento de alguns requisitos, todos os que se amoldarem a tais requisitos deverão poder pagar em cheque, e se alguém for discriminado, haverá responsabilização civil pelos danos materiais e morais dali decorrentes, com base no artigo 39, IX, do CDC, e até, talvez, a incidência em crime contra as relações de consumo, do artigo 7º, especialmente no inciso VI, da Lei 8.137/90. Veja os dispositivos:
“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
(...)
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais; (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
(...)”
“Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo:
(...)
VI - sonegar insumos ou bens, recusando-se a vendê-los a quem pretenda comprá-los nas condições publicamente ofertadas, ou retê-los para o fim de especulação;
(...)
Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.
(...)”
	Veja que o artigo 39, supra, não impõe curso forçado ao cheque; o que impõe é que se o fornecedor admite receber em cheque, condicionalmente ou não, não pode se negar de forma discriminatória a fazê-lo, em relação a um ou outro consumidor, preenchidas as eventuais condições.
	O cheque é um título abstrato, não causal, podendo ser emitido à vontade do sacador.
1.1. Requisitos
A palavra “cheque” é a cláusula cambial, isto é, a manifestação de vontade do emitente do cheque de honrar a obrigação cambiária mediante as regras do direito cambiário.
	O cheque é uma ordem incondicional: não há possibilidade de se estabelecer qualquer condição para seu pagamento. Qualquer condição aposta é considerada não escrita, sem nulificar ou desnaturar o cheque, que será tido por incondicional, como se não fosse escrita nenhuma condição.
	É também necessária, por óbvio, a menção do nome do banco sacado. Este, e os demais requisitos formais, não oferecem problemas práticos pois, como se viu, o cheque é de modelo vinculado, e todos os elementos formais são preenchidos pelo próprio fabricante do mesmo, o banco sacado. 
	Outro requisito é a data do saque: trata-se de requisito essencial, sob pena de ser retirada a sua força executiva, pois deve ser apresentado no prazo do artigo 33 da Lei 7.357/85. É importante a colocação desta data, também, para aferir a capacidade do emitente, e para saber se o eventual mandatário possuía capacidade (porque se alguém sem procuração assina cheque por outrem, é considerado pessoalmente responsável). Além disso, a data de emissão está relacionada ao cheque pós-datado, porque é o que determina a postergação do início da contagem do prazo de apresentação, que se iniciará na data futura constante do cheque (que continua sendo orem à vista, porém, e se levado ao banco antes da data apontada, será pago pelo banco).
Cheque sem data de emissão, portanto, não tem força executiva, mas deve ser observada a súmula 387 do STF:
“Súmula 387, STF: A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé, antes da cobrança ou do protesto.”
	Por fim, é claro que é requisito necessário a assinatura do emitente. Sendo a assinatura falsa, ou aposta por quem não podia assinar (incapaz, por exemplo), se o cheque circular para terceiro de boa-fé, vale o princípio da segurança: os endossantes responderão, sanado o vício originário pelo efeito purificador do endosso.
1.2. Cheque à ordem do próprio sacador
O cheque pode ser emitido para ser pago ao próprio sacador, ou seja, o beneficiário será o próprio emitente. É comum esta emissão para que o correntista consiga sacar dinheiro de sua conta, quando porventura não tiver consigo outro meio de operar seu saldo (está sem cartão eletrônico, por exemplo).
Luiz Emygdio não considera que esta cártula sequer seja um título de crédito, pois não há o elemento mais essencial destes títulos: não há o crédito, já que o beneficiário é o próprio sacador, e ninguém pode desconfiar de si próprio.
1.3. Cheque administrativo
O cheque administrativo tem a sua previsão legal no artigo 9º, III, da Lei 7.357/85:
“Art . 9º O cheque pode ser emitido: 
I - à ordem do próprio sacador; 
II - por conta de terceiro; 
III - contra o próprio banco sacador, desde que não ao portador.”
Também chamado cheque bancário, cheque caixa, cheque comprado, ou cheque de tesouraria, trata-se de cheque emitido pelo próprio banco contra o seu caixa. Neste caso, o banco será devedor cambiário, pois é o sacador do título.
Entenda: este cheque é emitido pelo banco, para que ele próprio pague pela sua quantia. Banco é sacador e sacado. A função deste título é impedir que se transite com valores vultosos em dinheiro, podendo o banco ser instado a guardar consigo o numerário, não na conta-corrente do cliente, mas em sua própria conta, e emitir o cheque para que seja pago por si mesmo, quando apresentado.
Veja que, estando o dinheiro na posse do banco, e não depositado na conta-corrente do cliente, o pagamento do cheque é praticamente certo, e se não for, o banco responderá pela inadimplência cambiária, e não o cliente (sendo irrelevante,
ao portador do cheque, os meandros da relação entre correntista e a instituição financeira emitente). De fato, o banco reserva o valor do cheque desde o momento em que este é emitido, sendo praticamente impossível sua frustração, sua inadimplência. Por isso, é muito mais seguro, ao beneficiário, o recebimento deste cheque, do que o de um cheque comum.
Cheque administrativo, normativamente, não poderá ser emitido ao portador. Indaga-se, porém, se pode ser objeto de sustação, pelo seguinte: a sustação é prerrogativa do sacador ou do beneficiário, e como neste cheque o sacador é o próprio banco, e o beneficiário sequer é correntista, na maior parte das vezes (pois mesmo se o cheque foi emitido ao correntista, este provavelmente endossou-o para o beneficiário final), ficaria um tanto estranha a sustação pelo beneficiário, endossante ou endossatário. Veja o artigo 36 da Lei do Cheque:
“Art . 36 Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o portador legitimado podem fazer sustar o pagamento, manifestando ao sacado, por escrito, oposição fundada em relevante razão de direito. 
§ 1º A oposição do emitente e a revogação ou contra-ordem se excluem reciprocamente. 
§ 2º Não cabe ao sacado julgar da relevância da razão invocada pelo oponente.”
Todavia, é possível a sustação do cheque administrativo, como disse o STJ, no seu informativo 72:
“CHEQUE ADMINISTRATIVO. SUSTAÇÃO. A circunstância de tratar-se de cheque administrativo não desautoriza o beneficiário endossante de solicitar, nos termos do art. 36 da Lei n.º 7.357/85, a sustação de seu pagamento. Prosseguindo o julgamento, a Turma conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento. Precedente citado: REsp 16.713-MS, DJ 28/6/1993. REsp 130.428-PR, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, julgado em 25/9/2000.”
Veja a ementa do REsp. que eu origem a esta notícia acima:
“CHEQUE ADMINISTRATIVO. SUSTAÇÃO PELO BANCO DO PAGAMENTO AO ENDOSSATÁRIO, EM DECORRÊNCIA DA OPOSIÇÃO DO ENDOSSANTE. LEI Nº 7.357/85, ART. 36. INTERPRETAÇÃO. I - Não afasta a aplicação do instituto da oposição motivada, nos termos do art. 36 da Lei nº 7.357/85, a circunstância de tratar-se de "cheque administrativo" sacado pelo estabelecimento bancário contra a sua própria caixa, no caso de oposição apresentada pelo favorecido e endossante do cheque sob invocação ao negócio subjacente do endosso. Nesse caso, fica o banco exonerado do compromisso de honrar o cheque da sua emissão, ressalvadas as pretensões, cambiárias ou não, que possam assistir ao endossatário frente ao endossante. II - Recurso especial conhecido e provido. (Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/09/2000, DJ 27/11/2000 p. 155)”
Ora, se é o endossante, ou mesmo aquele que pediu o cheque administrativo, sem nele figurar – se foi emitido diretamente ao beneficiário final da relação negocial, como é usual –, é quem vai pagar, de fato, pelo cheque, porque é claro que não se tratam de recursos do banco, mas sim colhidos previamente junto ao requerente do cheque, não há como se obstar que ele queira deixar de pagar o cheque, por motivo que fundamente a sustação. Veja o REsp. 229.601, sobre o tema, emblemático:
“REsp 229601. DJ 14/03/2005. CIVIL, COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÕES DE EXECUÇÃO E ANULATÓRIA. CHEQUE ADMINISTRATIVO. LITISPENDÊNCIA. CONEXÃO. JULGAMENTO SIMULTÂNEO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO E ILEGITIMIDADE AFASTADAS. COAÇÃO. COMPRA E VENDA DE DÓLARES. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA DE FATO. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. PREQUESTIONAMENTO. INSUFICIÊNCIA. DISSÍDIO NÃO DEMONSTRADO. SÚMULAS N. 282, 283 E 356-STF E 7-STJ.
I. A ausência de prequestionamento de questões ventiladas no recurso especial impedem a apreciação pelo STJ das teses respectivas, aos teor das Súmulas n. 282 e 356 do Pretório Excelso.
II. Possível a coexistência, no caso dos autos, de ação de execução de cheque e de ação anulatória do mesmo título, quando a causa de pedir e o objeto são distintos, e ambas as demandas foram reunidas por conexão, com distribuição por dependência, e tiveram curso concomitante, proferida uma única decisão abrangendo a ambas.
III. Pedido juridicamente possível em relação à anulatória de título, reconhecendo-se, ainda, legitimidade ativa ad causam da autora, posto que o cheque administrativo era nominal a ela e os recursos advinham de sua conta-corrente na instituição bancária co-executada.
IV. Firmado pelas instâncias ordinárias, soberanas no exame da prova, que a executada sofreu coação, com reflexos na compra da moeda estrangeira vendida pelo exeqüente, também em situação irregular na dicção da sentença e do acórdão estaduais, a reapreciação do tema esbarra no óbice da Súmula n. 7 do STJ, adicionado, quanto à ausência de autorização para negociação dessa espécie, à falta de prequestionamento e ao óbice da Súmula n. 283 do C. STF.
V. Legítimo o procedimento do banco co-executado, emitente do cheque administrativo, em sustar o pagamento, em face de comunicação na possível prática de crime pela autoridade policial, e a oposição apresentada pela favorecida, em nome de quem foi o título expedido com recursos de sua conta-corrente, não sendo o caso de se lhe exigir devesse ter feito uso da ação consignatória.
VI. Debate sobre a verba sucumbencial impedido à falta de prequestionamento e da incidência da Súmula n. 7 do STJ.
VII. Recurso especial não conhecido.”
1.4. Cheque visado
	É previsto no artigo 7º da Lei do Cheque:
“Art . 7º Pode o sacado, a pedido do emitente ou do portador legitimado, lançar e assinar, no verso do cheque não ao portador e ainda não endossado, visto, certificação ou outra declaração equivalente, datada e por quantia igual à indicada no título. 
§ 1º A aposição de visto, certificação ou outra declaração equivalente obriga o sacado a debitar à conta do emitente a quantia indicada no cheque e a reservá-la em benefício do portador legitimado, durante o prazo de apresentação, sem que fiquem exonerados o emitente, endossantes e demais coobrigados. 
§ 2º - O sacado creditará à conta do emitente a quantia reservada, uma vez vencido o prazo de apresentação; e, antes disso, se o cheque lhe for entregue para inutilização.”
	
	O visto do cheque não se confunde com o aceite. O fato de um cheque ser visado pelo banco, sacado, não significa que ele se responsabiliza pela obrigação cambiária. O visto serve para certificar que há fundos disponíveis naquela conta referente ao cheque emitido, apenas. 
O visto pode ser solicitado pelo emitente ou portador legitimado. O portador legitimado tem todo o interesse, já que poderá ter segurança em relação ao cheque, que ainda será depositado em sua conta. O portador poderá ainda negociar o título, sendo o visto uma boa segurança ao endossatário. Não pode pedir o visamento, porém, o portador de cheque ao portador, nem pelo endossatário, porque o banco não teria como atestar a autenticidade da assinatura do endossante.
O sacado deverá debitar o valor referente ao cheque visado da conta do emitente, até que se ultime o prazo de apresentação. O efeito do visto, a garantia de que há fundos, dura apenas até o prazo de apresentação do cheque, portanto.
Caso não cumpra sua obrigação, separando em conta especial o valor referido no cheque visado, o banco poderá ser demandado pelo credor. A responsabilidade do banco, veja, é pela sua falta de cumprimento ao que garantiu, e não significa que há o aceite da obrigação cambiária, como dito. É responsabilidade civil pelo visto infundado que emitiu.
Não será admitido o visto parcial: sempre que aposto, entende-se que é pela integralidade do cheque.
1.5. Cheque cruzado
O cruzamento impede o pagamento do cheque em dinheiro, devendo ser levado para depósito em conta corrente. Traz, portanto, mais segurança ao seu portador. Não impede, porém, que haja circulação do título, por endosso ou cessão.
No cruzamento em branco, ou geral, apenas são apostas duas linhas paralelas no anverso do cheque. No cruzamento em preto, ou especial, no interior das
linhas paralelas aparece o nome de uma instituição financeira. Neste caso, o portador deverá ter conta no referido banco.
1.6. Cheque para ser creditado em conta
Autorizada no artigo 46 da Lei do Cheque, esta cláusula tem por objetivo impedir o recebimento indevido do cheque, de modo que somente o titular daquela conta referida como beneficiário estará legitimado a receber o valor constante naquela cártula.
“Art . 46 O emitente ou o portador podem proibir que o cheque seja pago em dinheiro mediante a inscrição transversal, no anverso do título, da cláusula ‘’para ser creditado em conta’’, ou outra equivalente. Nesse caso, o sacado só pode proceder a lançamento contábil (crédito em conta, transferência ou compensação), que vale como pagamento. O depósito do cheque em conta de seu beneficiário dispensa o respectivo endosso. 
§ 1º A inutilização da cláusula é considerada como não existente. 
§ 2º Responde pelo dano, até a concorrência do montante do cheque, o sacado que não observar as disposições precedentes.” 
A forma desta cláusula é livre, segundo Luiz Emygdio, bastando escrever tal menção na cártula.
Luiz Emygdio entende que a circulação deste cheque só é possível através de cessão de crédito. Há, ainda, duas outras correntes, uma sustentando a impossibilidade total de circulação, e outra que não encontra qualquer restrição, ou seja, a circulação poderia ocorrer também por endosso.
Esta cláusula é irrevogável: uma vez lançada não poderá ser cancelada, conforme o artigo 46, § 1º, supra.
A inserção desta cláusula faz com que o título necessariamente seja nominal.
Casos Concretos
Questão 1
Sociedade Compra Crédito Ltda ajuizou ação de execução em face de emitente de cheque transferido por contrato de fomento mercantil. O executado, em sede de embargos, alegou exceção do contrato não cumprido, além da ciência do terceiro adquirente da mácula do negócio jurídico subjacente, que ensejou a emissão do título. Os embargos não foram acolhidos ao fundamento de autonomia e independência do cheque e inoponibilidade das exceções pessoais. Correta a decisão? Resposta fundamentada. 
Resposta à Questão 1
	A princípio, as exceções pessoais não são oponíveis a terceiros de boa-fé. Contudo, havendo ciência da mácula da relação extracambial, como in casu há, as exceções pessoais devem ser oponíveis. Errou o julgador, portanto.
	Veja o julgado do REsp. 612.423:
	
“Processual Civil. Comercial. Recurso especial. Execução. Cheques pós-datados. Repasse à empresa de factoring. Negócio subjacente. Discussão. Possibilidade, em hipóteses excepcionais. - A emissão de cheque pós-datado, popularmente conhecido como cheque pré-datado, não o desnatura como título de crédito, e traz como única conseqüência a ampliação do prazo de apresentação. - Da autonomia e da independência emana a regra de que o cheque não se vincula ao negócio jurídico que lhe deu origem, pois o possuidor de boa-fé não pode ser restringido em virtude das relações entre anteriores possuidores e o emitente. - Comprovada, todavia, a ciência, pelo terceiro adquirente, sobre a mácula no negócio jurídico que deu origem à emissão do cheque, as exceções pessoais do devedor passam a ser oponíveis ao portador, ainda que se trate de empresa de factoring. - Nessa hipótese, os prejuízos decorrentes da impossibilidade de cobrança do crédito, pela faturizadora, do emitente do cheque, devem ser discutidos em ação própria, a ser proposta em face do faturizado. Recurso especial não conhecido. (REsp 612.423/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/06/2006, DJ 26/06/2006 p. 132)”
	Veja que, não havendo prova da ciência do terceiro da mácula do negócio, ainda assim poder-se-á tolerar a oponibilidade de exceções pessoais, se a situação demonstrar muita injustiça, ao argumento de que a autonomia dos títulos de crédito não pode ser absoluta. Reveja um julgado emblemático sobre o tema:
“RECURSO ESPECIAL Nº 434.433/MG. COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL. CHEQUE. INVESTIGAÇÃO DA CAUSA DEBENDI. CIRCUNSTÂNCIAS ESPECIAIS, QUE O PERMITEM. LEI N. 7.357/85. EXEGESE. HONORÁRIOS. FIXAÇÃO EQÜITATIVA. CPC, ART. 20, § 4º.
	I. A autonomia do cheque não é absoluta, permitida, em certas circunstâncias especiais, como a prática de ilícito pelo vendedor de mercadoria não entregue, após fraude notória na praça4Em opinião pessoal, vejo aqui, pela menção a esta “fraude notória na praça”, nada mais do que a presunção de que este terceiro tinha ciência da mácula do negócio jurídico extracambiário, o que permite a oposição da exceção pessoal. Por isso, na verdade, este julgado se coaduna com a regra geral de que apenas contra o terceiro de boa-fé tem inoponíveis as exceções do predecessor do título, com a só diferença que a ausência da boa-fé, pela ciência, foi presumida, e não provada, como no julgado acima transcrito. Repito, é interpretação pessoal.
, a investigação da causa subjacente e o esvaziamento do título pré-datado em poder de empresa de "factoring", que o recebeu por endosso.
	II. Honorários advocatícios já fixados em valor módico, não cabendo ainda maior redução.
	III. Recurso especial não conhecido.
	(Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 25/03/2003, DJ 23/06/2003 p. 378)”
Questão 2
Emitido um cheque contra o Banco X, este, alegando a inexistência de provisão, recusou o pagamento. Pode o sacador e emitente do cheque, provando ter provisão no Banco sacado, executar o estabelecimento bancário para a cobrança do aludido cheque, que seria um título executivo extrajudicial? Em caso negativo, como deverá proceder o emitente sacador em relação ao Banco sacado? 
Resposta à Questão 2
	De forma alguma. O banco não é devedor cambiário do cheque, sendo apenas o administrador dos fundos do emitente. Esta falta de pagamento do cheque, quando havia fundos, trata-se de um inadimplemento contratual, referente ao contrato de administração da conta-corrente, e como tal deve ser tratado: deverá o cliente ajuizar ação de indenização por ilícito contratual.
Questão 3
MARIDO e MULHER, casados pelo regime da comunhão universal de bens, são titulares de conta conjunta em estabelecimento bancário. Emitido um cheque pelo MARIDO, sem suficiente provisão de fundos, pode o credor ajuizar execução em face do MARIDO E DA MULHER, sob a alegação de responsabilidade solidária? 
Analise a questão sob todos os aspectos. 
Resposta à Questão 3
	De forma alguma. Somente quem subscreve o título por ele responde. Neste sentido, veja os seguintes julgados:
“REsp 708.612/RO, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 25.04.2006, DJ 26.06.2006 p. 155.
DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. REGISTRO EM CADASTRO DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. CHEQUE SEM PROVISÃO DE FUNDOS. CONTA-CORRENTE CONJUNTA. O co-titular de conta-corrente conjunta detém apenas solidariedade ativa dos créditos junto à instituição financeira, não se tornando responsável pelos cheques emitidos pelo outro correntista. A jurisprudência desta Corte está consolidada no sentido de que, na concepção moderna do ressarcimento por dano moral, prevalece a responsabilização do agente por força do simples fato da violação, de modo a tornar-se desnecessária a prova do prejuízo em concreto, ao contrário do que se dá quanto ao dano material. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.”
“CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. INCLUSÃO INDEVIDA DO NOME DO CO-TITULAR DE CONTA CONJUNTA EM REGISTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. CHEQUE SEM PROVISÃO DE FUNDO EMITIDO PELA ESPOSA DO AUTOR. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO. 1. No pleito em questão, o recorrente mantinha conta conjunta com sua esposa, sendo que esta emitiu um cheque sem provisão de fundos, acarretando a inclusão do nome do autor-recorrente no cadastro de inadimplentes - CCF/Serasa. 2. A orientação jurisprudencial desta Corte é no sentido de que, em se tratando de conta conjunta, o co-titular detém apenas solidariedade
ativa dos créditos junto à instituição financeira, sem responsabilidade pelos cheques emitidos pela outra correntista. "A co-titularidade da conta limita-se à propriedade dos fundos comuns à sua movimentação, porém não tem o condão de transformar o outro correntista em co-devedor pelas dívidas assumidas pela emitente, ainda que cônjuge, pelas quais ela deve responder escoteiramente" , Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em 28.03.2006, DJ 08.05.2006 p. 238) (Resp. 336.632/ES, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JÚNIOR, DJ. 31.03.2003).”
Tema XIII
CHEQUE. Pagamento. Prazo de apresentação. Oposição e contra-ordem. Ações: execução, locupletamento sem causa, monitória e cobrança. Requisitos. Legitimidade. Prazo prescricional. 
Notas de Aula5
1. Formas de circulação do cheque
	A regra, nos títulos de crédito em geral, é que será a circulação mediante endosso, pois o título é criado com a cláusula cambiária à ordem. Entretanto, é possível inserir a cláusula não à ordem e, neste caso, a circulação será somente mediante cessão de crédito.
	O endosso já foi exaustivamente abordado, e tudo que se falou sobre esta forma de circulação se aplica ao cheque, sendo despiciendo repetir a abordagem.
Há apenas que se ressaltar que Luiz Emygdio entende descabido o endosso-caução no cheque, porque se trata de uma ordem de pagamento à vista, e não uma promessa.
Uma outra questão merece revisão: a limitação do número de endossos no cheque a apenas um. Isto porque revogação do CPMF fez surgir a questão: revogou-se esta proibição de pluralidade de endossos, eis que não há mais qualquer interesse em se forçar o depósito do cheque? como já se disse, há duas correntes: a primeira entende que esta vedação não se sustenta, eis que perdeu qualquer sentido; a segunda corrente, porém, entende que apenas o imposto foi revogado, não se tocando a norma proibitiva do endosso, que permaneceria vigente, portanto.
2. Aval
A obrigação do avalista é autônoma e independente do seu avalizado. O cheque admite aval, como se vê nos artigos 29 a 31 da Lei 7.357/68:
“Art . 29 O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo por signatário do título.”
“Art . 30 O aval é lançado no cheque ou na folha de alongamento. Exprime-se pelas palavras ‘’por aval’’, ou fórmula equivalente, com a assinatura do avalista. Considera-se como resultante da simples assinatura do avalista, aposta no anverso do cheque, salvo quando se tratar da assinatura do emitente.
Parágrafo único - O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação, considera-se avalizado o emitente.”
“Art . 31 O avalista se obriga da mesma maneira que o avaliado. Subsiste sua obrigação, ainda que nula a por ele garantida, salvo se a nulidade resultar de vício de forma. 
Parágrafo único - O avalista que paga o cheque adquire todos os direitos dele resultantes contra o avalizado e contra os obrigados para com este em virtude do cheque.” 
	A instituição financeira, sacado, não pode ser avalista do cheque, como dispõe o artigo 29, supra. Ali também se vê expressa a permissão do aval parcial, novamente contrariando o que dispõe o CC, como já se viu.
	O aval deve respeitar o principio da literalidade, sendo lançado no próprio título ou na folha de alongamento, e, em regra, no anverso, na face do título. Se for aposto no verso, pode ser confundido com endosso, pelo que deve vir consignado que a assinatura se trata de aval, quando no verso. Sobre isto, veja o seguinte julgado:
“CHEQUE – AVAL –RESPONSABILIDADE (RESP 493.861/MG). PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FUNDADA EM TÍTULO DE CRÉDITO. CHEQUE. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. CARACTERIZAÇÃO. ASSINATURA NO VERSO DA CÁRTULA. AVAL. 
(...)
2 - Denotado que o cheque, na hipótese vertente não é ao portador, mas nominal, e a assinatura constante do seu verso é de outra pessoa, que não o seu beneficiário, a conclusão é de que somente pode ter sido efetivada como aval, ainda que não especificada a sua finalidade (por aval), pois, do contrário, estar-se-ia admitindo quebra na cadeia creditícia. 3 - Somente poderia ser endosso se a assinatura constante no verso da cártula coincidisse com quem dela seja o beneficiário, o que não ocorre na espécie, pois o beneficiário é pessoa diversa daquela que apôs a assinatura no dorso do cheque em apreço. 4 - A assinatura, que não se pode ter por inútil no título, faz atribuir à pessoa que a apôs coobrigação e responsabilidade pelo crédito por ele representado.
(...)
(Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em 04/09/2008, DJe 01/12/2008)”
	Veja que, mesmo sem a expressão “por aval”, esta acabou assim sendo considerada, a assinatura, e não como endosso, porque haveria quebra da cadeia de circulação cambiária se assim o fosse.
	Todas as demais abordagens feitas em relação ao aval são transportadas ao instituto no cheque, inclusive a discussão sobre a outorga conjugal.
3. Responsabilidade da instituição financeira
	Partamos, no estudo do tema, da análise de um julgado bastante elucidativo, do STJ:
“AGRG NO AG 862.545/RJ. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CHEQUE. ENDOSSO IRREGULAR. LEGALIDADE DO ENDOSSO. RESPONSABILIDADE DE CONFERÊNCIA PELA INSTITUIÇÃO BANCÁRIA. SÚMULA N. 83/STJ. DANO MORAL CONFIGURADO. CULPA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. SUM 07/STJ. AGRAVO IMPROVIDO. 
	1. O entendimento da Segunda Seção desta Corte se firmou no sentido de que, a despeito de o estabelecimento bancário estar desobrigado de verificar a autenticidade das assinaturas dos endossos no verso do cheque, conforme o disposto no artigo 39 da Lei nº 7.357/85, cumpre-lhe aferir a sua regularidade formal, aí incluída a legitimidade do endossante.
	2. O Tribunal a quo, ao reconhecer o dever de indenizar, constatou a conduta ilícita do recorrente e fixou o respectivo valor a título de indenização por danos morais, procedendo com amparo nos elementos de convicção dos autos. 3. Agravo regimental improvido. (Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, QUARTA TURMA, julgado em 18/12/2007, DJ 11/02/2008 p. 1)”
	O banco, então, é responsável por verificar a autenticidade da assinatura do emitente, mas não dos endossantes. É preciso verificar se há regularidade na cadeia de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas dos endossantes, pois isto é logisticamente impossível. Só é preciso que seja verificada a legitimidade do portador apresentante.
4. Cheque de conta conjunta
	Assine-se a seguinte máxima: apenas quem subscreve o cheque responde por ele. Não só em apreço da literalidade, mas pela própria lógica das obrigações cambiais, apenas quem a assume expressamente pode ser por ela imputado.
	A solidariedade da conta conjunta diz respeito apenas à liberdade em sua movimentação e administração, não perante credores dos correntistas. Destarte, apenas o subscritor de um cheque de conta conjunta pode ser protestado, cobrado e negativado. Qualquer medida contra o outro titular da conta conjunta é indevida.
5. Pagamento do cheque
O banco somente poderá realizar o pagamento do título se este lhe for apresentado, por óbvio. O cheque deve ser apresentado em trinta dias, se coincidente os locais de emissão e de pagamento, e de sessenta dias, se não coincidirem. Contudo, o pagamento pode ser realizado pelo banco enquanto não ocorrer a prescrição do cheque, salvo se houver revogação. 
Veja que o prazo prescricional começa a correr a partir do momento da lesão, como em qualquer prescrição, ou seja, quando o cheque foi apresentado e retornou sem pagamento, pela primeira vez.
Repita-se: a criação do cheque pós-datado não lhe retira a sua natureza. Apenas será diferido o inicio da contagem do prazo de apresentação para aquela data que foi colocada pelo emitente. Não se confunde com o cheque pré-datado.
	O banco não pode pagar o cheque se há ordem de revogação do cheque. A revogação está prevista no artigo 35 da Lei do Cheque, e tem o objetivo de impedir
o pagamento do cheque pelo sacado após o prazo de apresentação. Os seus efeitos apenas se operam após o prazo de apresentação, e apenas o emitente poderá dar essa ordem. 
“Art . 35 O emitente do cheque pagável no Brasil pode revogá-lo, mercê de contra-ordem dada por aviso epistolar, ou por via judicial ou extrajudicial, com as razões motivadoras do ato. 
Parágrafo único - A revogação ou contra-ordem só produz efeito depois de expirado o prazo de apresentação e, não sendo promovida, pode o sacado pagar o cheque até que decorra o prazo de prescrição, nos termos do art. 59 desta Lei.”
A revogação difere da sustação, que está prevista no já visto artigo 36 do mesmo diploma. O emitente e o portador legitimado poderão dar esta ordem ao sacado. Os seus efeitos são imediatos, ou seja, impede o pagamento do cheque mesmo durante o prazo de apresentação. Além disso, a sustação é provisória, e a revogação é definitiva. A mais importante diferença, porém, é mesmo quanto ao momento de produção de efeitos: a sustação é feita a qualquer tempo, enquanto a revogação só tem lugar após o prazo de apresentação.
O local do pagamento do cheque é o endereço inserido ao lado do nome do sacado. O protesto do cheque, peculiarmente, pode ser feito no local de domicílio do emitente, ou no local de pagamento.
O não pagamento do cheque pós-datado não é automaticamente tido por prática do crime de estelionato, como já se viu. A respeito, veja o julgado que se segue:
“A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça sufragou o entendimento de ser atípica a conduta de emitir cheque pré-datado cujo pagamento restou frustrado, porquanto, nesta hipótese, a cártula deixa de ser uma ordem de pagamento à vista, transformando-se em uma espécie de garantia da dívida. Assim, não há que se falar em prática de estelionato, seja na modalidade prevista no caput do art. 171 do CP, seja na modalidade inscrita no § 2º do aludida regra. 2. Desse modo, revela-se patente a atipicidade penal dos fatos imputados ao recorrido, encontrando os mesmos apenas ressonância na esfera cível, pelo que não merece prosperar a pretensão recursal. 3. Agravo a que se nega provimento. (AgRg no REsp 953.222/RS, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 21/08/2008, DJe 08/09/2008)”
6. Enunciados de jurisprudência referentes ao cheque
	A primeira súmula de relevância é a 370 do STJ:
	“Súmula 370, STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.”
	Na verdade, a súmula se refere ao cheque pós-datado. O cheque pré-datado, a que se refere no popular, é de fato pós-datado, eis que aponta data futura para pagamento. Seria efetivamente pré-datado se apontasse data já passada como sua data de emissão. Lendo-se como pós-datado, que foi a intenção do enunciado, significa que a apresentação para pagamento antes do dia convencionado – mesmo que seja pago, pois como já se disse, o cheque pós permanece uma ordem de pagamento à vista – vai ensejar dano moral, vez que é inadimplemento possivelmente danoso da relação extracambiária. Mas esta súmula, de fato, é pertinente à responsabilidade civil, e não propriamente ao direito cambiário
	
		Outro enunciado relevante é o 299 do STJ:
	“Súmula 299, STJ É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito.” 
	O que está prescrita, ali, é a execução do cheque, e não a sua cobrança, lato sensu.
	Veja agora a súmula 554 do STF:
	
“Súmula 554, STF: O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.”
	Esta tem repercussão criminal, porque se trata de mera compensação dos danos causados, capaz de influenciar na esfera cível do crime, ou mesmo na quantificação da pena, mas não elide a tipicidade, persistindo a persecução penal. 
	A súmula 28 do STF trata da responsabilidade do banco por cheque falso:
“Súmula 28, STF: O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista.” 
	Por cheque falso, leia-se também aquele com assinatura falsa do emitente, porque é atribuição do banco conferir a subscrição do cheque com a assinatura que consta em seus arquivos.
7. Prazos do cheque
	Vale, aqui, uma síntese dos prazos referentes ao cheque.
	O prazo de apresentação, repita-se, é de trinta ou sessenta dias, na forma do artigo 33 da Lei do Cheque, já abordado.
O prazo de execução é de seis meses, na forma do artigo 59 da lei em comento. E este prazo só terá início quando se findar o prazo de apresentação.
“Art . 59 Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de apresentação, a ação que o art. 47 desta Lei assegura ao portador. 
Parágrafo único - A ação de regresso de um obrigado ao pagamento do cheque contra outro prescreve em 6 (seis) meses, contados do dia em que o obrigado pagou o cheque ou do dia em que foi demandado.”
	Mas atente-se para o seguinte: se a prescrição começa, conceitualmente, da data em que houve a lesão ao direito subjetivo, se o portador apresenta o título antes do fim do prazo de apresentação, como é de seu direito, e o cheque não é pago, é daquele momento de devolução que o prazo prescricional começará a correr, e não do fim da contagem do prazo de apresentação, iniciado na data de emissão. Há, porém, corrente doutrinária que entende que a contagem deve ter início sempre no fim do prazo de apresentação, debalde o pagamento ter sido refutado antes.
	O prazo da ação de locupletamento é de dois anos, de acordo com o já visto artigo 61 da Lei do Cheque, contados do fim do prazo prescricional de seis meses.
	Para a ação causal, tratada no artigo 62 da Lei do Cheque, porém, a lei não previu qual seja o prazo prescricional. Veja:
“Art . 62 Salvo prova de novação, a emissão ou a transferência do cheque não exclui a ação fundada na relação causal, feita a prova do não-pagamento.” 
	
	Assim, para a ação causal, e principalmente para a ação monitória, a controvérsia sobre o prazo prescricional é violenta. O início do prazo é indiscutível: tem início após o término do prazo prescricional da execução, ou seja, após os seis meses. É quanto ao próprio prazo que há três correntes. Vejamos.
	A primeira corrente defende prazo de dez anos, baseando-se na plana interpretação do artigo 205 do CC:
“Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.”
	Não havendo dispositivo específico para a monitória, aplica-se este prazo geral, para esta corrente. E, diga-se, esta era a única corrente na vigência do CC de 1916, quando era prazo vintenário.
	A segunda corrente entende que há, outrossim, esta menção específica, no artigo 206, § 3º, VIII, do CC:
“Art. 206. Prescreve:
(...)
§ 3º Em três anos:
(...)
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;
(...)
§ 5º Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;
(...)”
	A terceira corrente, por seu turno, entende que o prazo especial é o do § 5º, deste artigo supra.
	A corrente que defende que são três anos entende que a menção ao título de crédito faz este dispositivo aplicável, mas olvida-se que ali há a expressa menção de termo a quo como do vencimento, o que é uma impropriedade: se há início no vencimento, o prazo de execução será ignorado, correndo concomitantemente a este o prazo da monitória – o que não faz muito sentido. A melhor interpretação é que este dispositivo tem aplicação apenas para títulos que serão criados sob a égide do CC, e não para os eu têm legislação especial.
	A corrente que defende que o prazo seja de cinco anos entende que os títulos estão ali inseridos por serem instrumentos particulares.
	Em verdade, parece ser mais coerente a corrente que reputa prazo de dez anos a esta ação monitória, mas há julgados amparando as três correntes. Veja:
“Apelação Cível 2008.001.62586.

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