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Guia Acadêmico {0} Guia Acadêmico {1} Guia Acadêmico {2} Guia Acadêmico {3} Guia Acadêmico {4} Guia Acadêmico {5} Guia Acadêmico {6} Guia Acadêmico {7} Apresentação O Guia Acadêmico da Faculdade de Direito e Ciências do Estado da UFMG é uma expressão da concepção de centro acadêmico defendida pela chapa – agora gestão – Compasso ao longo do processo eleitoral de 2015: o CAAP tem por função facilitar e estimular que os alunos possam usufruir da faculdade e da universidade em sua plenitude, delas se apropriando e fazendo-as efetivamente suas; mas não num sentido de posse privatística e egocentrada, e sim como mecanismo libertador e voltado para a intervenção ativa e consciente na sociedade, orientada para a transformação democratizante do meio em que vivemos. Pensamos que o primeiro passo para que os alunos tenham a efetiva capacidade para se utilizar da profusão de possibilidades que a UFMG lhes coloca é pelo amplo acesso à informação; de fato, a democratização de qualquer instituição, sobretudo de uma tão vetusta quanto a nossa, só podera acontecer sob uma perspectiva emancipacionista, em que cada um, munido dos dados relevantes acerca do funcionamento das engrenagens administrativas, possa autonomamente nelas se inserir e transformá-las, independentemente da interferência quase mística dos detentores do saber hierarquisado, sejam professores, técnicos, outros estudantes, ou quem quer que seja. Se conhecimento é poder, a difusão dos saberes é a verdadeira liberdade. E é com esta que está comprometido o Centro Acadêmico Afonso Pena, em sua trajetória centenária. O objetivo deste trabalho é centralizar o conhecimento acerca dos diferentes vetores de promoção da pesquisa científica, da extensão e do ensino em uma única plataforma, possibilitanto aos interessados, em uma rápida consulta, o acesso aos dados mais relevantes, sem precisar passar por conversas incertas, ou procurar em sites mal-planejados informações que simplesmente não estão lá. Não temos pretensão de exaurir aqui o assunto, por si só infinito, mas dar as informações mais básicas, as quais possibilitem ao aluno adentrar nos debates mais recentes, compreender os sites relevantes e conseguir buscar por conta própria e com base em suas necessidades aquilo de que precisa; em uma única palavra, emancipar-se. A Diretoria de Ensino e Pesquisa do CAAP, de dezembro a março de 2016, se esforçou para construir esse projeto. Conseguimos respostas de nove grupos de extensão, elaboramos fichas de dados de todos os professores da faculdade, além de escrever informações a respeito da pesquisa científica e do funcionamento da Faculdade de Direito e Ciências do Estado e do Movimento Estudantil. O produto desse árduo esforço é o material que aqui se encontra. Guia Acadêmico {8} Unindo essa ampla gama de dados, concebemos um texto com três partes: uma primeira, apresentando as grandes questões relativas à pesquisa, seja no campo governamental, nos grandes debates mundiais, ou o próprio contexto da UFMG e da FDCE; uma segunda, com textos de apresentação dos projetos de extensão existentes na faculdade, com informações a respeito de entrada, objetivos e fundamentos teóricos; uma terceira, intitulada genericamente como “ensino”, que trabalha o funcionamento dos aspectos administrativos da faculdade, o movimento estudantil e outros correlatos; e uma quarta e última, com um breve catálogo das linhas de pesquisa dos professores da faculdade. Pensamos com isso ajudar o aluno a entender o que é pesquisa e o que é extensão, como fazê-las, quais as primeiras ações tomar, caso deseje construir um projeto, e indicações das pessoas a quem procurar, caso intente conseguir um orientador ou se integrar a algum projeto. Na parte mais descritiva do trabalho, buscamos apresentar as questões mais básicas e responder a algums dúvidas recorrentes, de modo que o iniciante não fique perdido com siglas, termos e outros componentes do jargão dos pesquisadores, podendo se mover no interior deles com relativa desenvoltura. Sempre que possível, foram colocadas indicações de sites para aprofundamento, e quando os havia, os debates e as divergências acerca dos modelos de administração da pesquisa, apresentação de dados, financiamento e comunicação da ciência foram apresentados. A despeito do natural foco no campo jurírico, procuramos não descurar das outras áreas, apresentando as questões genéricas e exemplificando com problemáticas das outras ciências sociais, ou mesmo das naturais, quando pertinente. Sobre o catálogo das linhas de pesquisa dos professores, buscamos fazer uma sítense mais direta e palatável do que o simples currículo lattes, em que os dados se encontram por vezes dispersos e exigem um certo tempo de indicação para a sua localização e interpretação. Além disso, acrescentamos alguns dados que nem sempre lá sé encontram, como o regime de trabalho do docente, seu e-mail, link para as últimas publicações on-line, dentre outras consideradas pertinentes. Queremos, com isso, que a pesquisa deixe de ocupar um lugar secundário no campo jurídico, e na nossa faculdade, inclusive. É a reflexão aprofundada e em diálogo com a prática que possibilita o apuramento da técnica, a compreensão dos institutos, a evolução do direito e, por último – o que deveria ser o objetivo precípuo de todo jurista – a transformação da sociedade. Mesmo o jurista prático só tem a ganhar ao fazer pesquisa: conhecerá melhor as questões metodológicas, aprenderá de que formas poderá fazer com que os argumentos apresentados conduzam à conclusão pretendida, operará de forma mais eficiente com os conceitos, entenderá melhor o funcionamento da dinâmica argumentativa, etc. Guia Acadêmico {9} Também queremos fazer que a extensão seja apartada de uma concepção reducionista de que ela seria uma simples ajuda caritativa da universidade para com grupos mais necessitados. Se pretendemos levar a sério a função da universidade e a pretensão à descolonização dos saberes, temos que assumir o dever incontornável de colocar em choque as nossas pre-concepções ao testá-las ante à realidade e face ao diálogo constante com os saberes não científicos, que se encontram nas ruas das cidades, nos campos, enfim, permeiam todas as esferas da sociedade que financia a UFMG e que dela espera um retorno à altura, em um posicionamento humanista e de vanguarda. Por fim, o ensino não pode ser encarado como uma mera reprodução mecânica de saberes postos de forma hierárquica por professoressobre os alunos. Cabe construir uma dimensão holística de ensino, que não seja meramente informativa, mas eminentemente formativa, com viés crítico e reflexivo. É imprescindível que seja promovida a autonomia dos estudantes, e que sua passagem pela universidade transcenda as quatro paredes da sala: transborde pelos corredores, desenvolva-se nas reuniões de projetos de pesquisa e extensão, se amplie nas atividades do movimento estudantil, revigore-se nas conversas cotidianas, enfim, que se volte para a construção de cidadãos conscientes de seu lugar no mundo, sonhadores na hercúlea tarefa de mudar o mundo e de defender os seus ideais. Feitas essas considerações, queríamos agradecer àqueles que tornaram esse projeto possível. Primeiramente aos membros da Diretoria de Ensino e Pesquisa do CAAP, autores imediatos desse texto, sempre diligentes e extremamente bem dispostos a fazer o melhor pelos estudantes da faculdade: Ana Clara Abrantes Simões, Arley Fernandes Teixeira, Arthur Barretto de Almeida Costa, Carolina Amorim Fernandes, Clarice Zaidan, Débora Faria, Gabriel Brito, Gabriela Ruzzene, Henrique Gomes e Silva, Isabela Magalhães, Larissa de Seixas Ferreira Araújo, Luísa Cyrino, Raul Blasi e Robson Valadares. À gestão Compasso, que entendeu a importância dessa ideia, e a sua perfeita harmonia com o projeto político e a concepção de faculdade por nós defendida. Todo texto é escrito secretamente a múltiplas mãos, silenciosamente infiltradas nas múltiplas influências de seus autores. No caso do guia acadêmico, essa observação é mais verdadeira ainda, já que várias vozes se juntaram para compor a sinfonia que agora apresentamos. Passemos a nomear os membros dessa orquestra que, juntos executaram a bela essa bela música. Muito obrigado, portanto, a todos aqueles que gentilmente responderam nosso chamado e enviaram suas contribuições. Ao PRUNART, na pessoa da Gabriela; ao RECAJ, na pessoa de Daniella Lima; Ao Diverso, na pessoa de João Felipe Zini; à Clínica de Direitos Humanos, nas pessoas de Júlia Vidal e Lucas Parreira Álvares; à Assessoria Jurídica Guia Acadêmico {10} Universitária Popular, nas pessoas de Mariana Lopes e de Luísa Carmem; ao Pólos de Cidadania, nas pessoas de Otávio Guimarães e de Sofia Castro; à Clínica de Diplomacia Federativa; à Clínica de Direito da Internet e Novas Tecnologias; à Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas, na pessoa do prof. Carlos Henrique Borlido Haddad. Pelo CAAP, à diretoria de extensão, na pessoa de Igor Soares; e à diretoria de assistência, na pessoa de João Daniel. Na Diretoria de Ensino e Pesquisa, à Gabriela Ruzzene, à Larissa de Seixas Ferreira Araújo e ao Arthur Barretto de Almeida Costa, pela revisão e diagramação do texto. À Ana Clara Abrantes Simões e ao Arthur Barretto, pela escrita da parte referente à pesquisa. A Arley Fernandes Teixeira, Carolina Amorim Fernandes, Clarice Zaidan, Débora Faria, Gabriel Brito, Gabriela Ruzzene, Henrique Gomes e Silva, Isabela Magalhães, Larissa de Seixas Ferreira Araújo, Luísa Cyrino, Raul Blasi e Robson Valadares, pelo catálogo das linhas de pesquisa dos professores. Algumas das partes sob a rubrica “estrutura da faculdade” foi feita a partir do “manual dos calouros”, tradicional publicação do CAAP existente desde 2008; vai, portanto, nosso agradecimento a todos aqueles que, anonimamente, contribuiram ao longo dos anos com a escrita desse fantástico material. À Gabriela Ruzzene, pela parte sobre Intercâmbio; e ao Robson Valadares, pela parte de Reforma Curricular. Por fim, aos estudantes da faculdade. O Centro Acadêmico Afonso Pena é feito por alunos e para alunos; vocês são os autores e destinatários privilegiados deste textos, e é para vocês que todos os projetos do CAAP se dirigem. Este projeto também é um convite a que todos tomem parte das iniciativas do nosso querido Centro Acadêmico e possam, em conjunto, como esse projeto – redigido por quase 20 pessoas – tornar mais humana nossa faculdade, nossa cidade e nosso país. A todos, uma boa leitura! Diretoria de Ensino e Pesquisa Centro Acadêmico Afonso Pena Gestão Compasso (2015/2016) Pesquisa {11} Pesquisa {12} Pesquisa {13} 1 - O que é Pesquisa Científica? Poderíamos dizer que a pesquisa científica é um conjunto de métodos e práticas orientados para a construção do conhecimento científico. No entanto, essa definição é ainda incompleta: o que conferiria cientificidade a um certo tipo de conhecimento? Mais: esses critérios poderiam ser aplicados também à pretensa ciência do direito? Este trabalho é bastante introdutório e tem caráter informativo e didático; não é nossa intenção aqui, portanto, discutir em profundidade e com rigor filosófico alguns conceitos profundos e difíceis, como ciência, direito, senso comum, método, dentre outros, os quais seriam imprescindíveis para que pudéssimos nos aproximar de uma resposta satisfatória acerca de um conceito de pesquisa. Mas esta dificuldade que vem quando da busca de uma definição de cientificidade revela algo mais do que a mera incapacidade dos que escrevem, ou as limitações desse gênero textual: ciência é um conceito amplo, difícil, múltiplo e que mesmo aqueles que nela trabalham não conseguem delimitar. Se há um critério aproximado simples, claro e objetivo para tentar separa a ciência de outras formas de conhecimento é a ideia de método. Este consiste em um conjunto de procedimentos de construção e validação de determinadas proposições sobre a realidade. A pesquisa, portanto, consistiria no exercício continuado da metodologia orientado para a construção de ideias, sistemas conceituais e proposições sobre um determinado objeto. Mas as metodologias não são unívocas, de modo que o que aqui se fez, de um modo ou de outro, foi reportar a questão a uma outra: o que seria um método adequado, efetivamente científico? Trata-se, novamente, de uma pergunta difícil e sem resposta clara. Cada objeto que se elege, cada teoria de que se parte, tudo, enfim, enseja a utilização de um método distinto. Este é, portanto, definido contextual e relativamente, a partir das necessidades e objetivos da pesquisa que se busca conduzir. A partir da constatação da historicidade e da indefinição dessas categorias, que vão mudando ao longo do tempo, chega-se a um princípio de clarificação: quem define o que é um método correto são os pares, ou seja, a comunidade científica. É uma resposta aparentemente insatisfatória e subjetivista; contudo, por trás de uma aparente fuga do problema, ela trás algumas constatações profundas: em primeiro lugar, a já referida conexão entre metodologia e os contextos funcionais nos quais ela se insere; em segundo lugar, que aqueles que dela fazem uso são os mais aptos a, lançando mão de suas percepções, definirem dialogicamente o uso do instrumental teórico que o conehecimento nos disponibiliza; por fim, Pesquisa {14} que é impossível definir previamente os modos de escolha do método pois isso exigiria uma “metodologia da metodologia”, apenas reportando a questão a um nível superior. Dessa forma, a resposta à pergunta colocada por esse capítulo não pode ser dada por uma frase ou expressão direta, mas deverá ser construída progressivamente, por meio de uma série de elementos. A constatação de que é a própria comunidade dos pesquisadores que tem o poder de delimitar as raias da cientificidade e, portanto, o que pode ser tratado, por exemplo, como direitoe o que é mera opinião, impõe uma outra conclusão: a de que, para se comrpeender o que é pesquisa, é preciso conhecer em profundidade a cultura da pesquisa e dos pesquisadores. Os seus instrumentos, o modo de circulação de suas ideias, as instituições nas quais a pesquisa é produzida, dentre outros, delimitam um campo discursivo e fornecem o ferramentário adequado para, a partir das conexões entre essas ideias, espaços e lugares, e dessa percepção de conjunto, montar um conceito de pesquisa. Esta publicação, portanto, busca fornecer, de modo iniciático, esparso e um tanto quanto fragmentário, esses fudamentos para uma compreensão do universo do conhecimento por aqueles que ingressam na universidade, ou então que buscam entrar no campo da construção do(s) saber(es). Compreender quem, onde e como se faz pesquisa é o modo, ainda indireto, de perceber verdadeiramente e em profundidade o que ela é. Antes de passar à próxima seção, um adendo. A supervalorização do saber científico em nossa sociedade nos conduz à ideia de que ele seria a única forma de conhecimento possível; entretanto, cumpre perceber que existem formas múltiplas e igualmente válidas de se perceber e de se perceber a realidade. Arte, religião, conhecimento tradicional são algumas das outras maneiras que a humanidade tem de agir no mundo; são meios diferentes, que atuam em âmbitos diversos do da ciência, e não em uma posição hierarquicamente superior ou inferior. Dialogar com eles é fundamental, inclusive, para a renovação e melhoria do saber científico. A humildade é atitude fundamental do pesquisador perante o seu objeto; não poderia deixar de sê- lo também com relação aos saberes alternativos. Esperamos que essa mensagem esteja sempre presente durante a leitura desta obra. 1.1- A universidade e o tripé ensino, pesquisa e extensão. A Constituição Federal, em seu artigo 207, afirma que as universidades deverão obedecer ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Essa assertiva é bastante presente no discurso cotidiano da universidade, e deve informar todas as nossas Pesquisa {15} práticas, de modo que uma adequada compreensão da pesquisa não pode deixar de lado o significado do tripé universitário. O ensino consiste nas atividades de transmissão direta do conhecimento. Por um esquema tradicional, pensaríamos nas aulas de graduação; contudo, as atividades de ensino são mais plúrimas. Há também as atividades da pós-graduação; as atividades extracurriculares desenvolvidas em ambos os níveis de estudo; as visitas técnicas e outras atividades diferenciadas promovidas pelos próprios professores, dentre outras. Também existe uma gama mais diversificada de personagens que intervêm nesse aspecto: podem ser citados os monitores e os estágiários docentes, por exemplo, que exercem atividades de apoio e, muitas vezes, de promoção ativa do processo de aquisição do conhecimento. As imbricações entre ensino e pesquisa são também complexas: para começo de conversa, na universidade, todo professor deve ser pesquisador, e vice-versa. Isso garante que, desde o primeiro período da graduação, os estudantes tenham contato com a matéria por meio de pessoas atualizadas com os mais recentes avanços da área, e que sejam capazes de transmitir- lhes as fronteiras do conhecimento científico, perimindo-lhes conhecer diretamente, ou adquirir os meios para acessar as mais atualizadas técnicas, conceitos, perspectivas e informações. Além disso, as atividades de ensino são um lugar de captação de pessoas para a pesquisa; de divulgação do conhecimento produzido, dentre outras. Há inclusive, instituições de fronteira, como os grupos de estudo, os quais conservam a função de ensino de uma determinada matéria, mas também têm o emprego precípuo de plataforma para a pesquisa. A extensão é o elo entre a universidade e a sociedade; são atividades que levam o conhecimento aqui produzido para fora e trazem a comunidade externa para dentro da universidade. Algumas atividades nesse sentido que são desenvolvidas na Faculdade de Direito são a DAJ – Divisão de Assitência Judiciária; e o Programa Pólos de Cidadania. A transmissão e vulgarização do conhecimento jurídico para a população, portanto, é um exemplo de atividade de extensão, mas não o único. A assessoria na construção de políticas públicas, na elaboração de projetos de lei, na utilização do direito como mecanismo de transformação social e de auxílio aos movimentos sociais são outros exemplos. É importante perceber que a extensão não é uma mera via de mão única, mas fundamenta-se na construção de pontes entre a comunidade e a academia; como já dito acima, todos os saberes são relevantes em sua própria esfera de atuação, e a extensão é justamente a oportunidade para que vários deles se coloquem em diálogo e possam se enriquecer mutuamente. A pesquisa se beneficia muito, portanto, dos aportes que vêm de fora dos muros da universidade; seja como objetos de pesquisa, seja como sujeitos de conhecimento. Não é Pesquisa {16} possível, portanto, que se pense a extensão a partir de um viés assistencialista: a universidade também ganha, e muito, com a realização desse tipo de empreendimento. É importante que se reconheça, então, que a integração entre as três dimensões da academia é fundamental para que haja um incremento de qualidade em todas elas. A pesquisa pode fundamentar a pesquisa e a extensão, ao costruir os marcos teóricos que por elas serão usados; mas será indubitavelmente fencundada pelas outras duas: o contato com a realidade que uma proporciona, e com as dúvidas, anseios e perspectivas dos estudantes que a outra coloca, retroalimentam questões e inquietações que podem ser o motor para novas reflexões e descobertas. 1.2. Sites e páginas de facebook interessantes. Aqui indicamos algumas páginas que consideramos importantes fontes de discussão e de informação, em um ambiente mais flexível do que o de um artígo científico ou de outros ambientes estritamente acadêmicos. O Pósgraduando é um site de discussões a respeito de pesquisa científica, contendo dicas, informações sobre oportunidades de bolsas, debates a respeito de temas relevantes, dentre outros. Mas o seu forte mesmo é o humor: desde falar sobre os tipos de orientador até discorrer sobre alguns fatos pitorescos de congressos e laboratórios, esse site tem fortes chances de fazer o leitor rir. Endereço eletrônico: http://posgraduando.com/ SciELO – Sceientific Electronic Library Online, é uma base de dados de revistas científicas que será mais bem trabalhado mais à frente neste texto. Este é o blog do site; ele contém discussões mais aprofundadas sobre acesso à informação, difusão do conhecimento científico, recomendações de boas práticas, dentre outros. É ideal para quem quer se aprofundar um pouco nos temas de fronteira da pesquisa contemporânea, e discutir alguns gargalos que impedem o desenvolvimento na realidade específica da América Latina. Pesquisa {17} Endereço eletrônico: http://blog.scielo.org/ Sobrevivendo na Ciência É um blog mantido por Marcos Mello, professor de ecologia da UFMG. É focado em temas da biologia, mas trabalha muito questões gerais relacionadas à pesquisa, congressos, o modo de se portar no ambiente acadêmico, relacionamento com o orientador, dentre outros. O viés é o das ciências naturais, mas muitas das discussões são extremamente proveitosas também para a área de humanas, além de sempre ser positivo conhecer como pessoas de tradições diferentes resolvem os mesmos problemas que nós enfrentamos, ainda que considerando suas próprias particularidades. Endereço eletrônico: https://marcoarmello.wordpress.com/ É o site da revista Pesquisa FAPESP. Esta última é a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo; a correspondentemineira é a FAPEMIG e é trabalhada mais à frente. O site trás as reportagens que são publicadas na versão impressa: notícias sobre política científica, ideias inovadoras adotadas em universidades e em institutos, as ações das grandes agências, do Ministério da Educação e da Ciência e Tecnologia, etc. Além disso, são trazidos resultados de pesquisas desenvolvidas no Brasil em linguagem fácil e acessivel, mas tratadas com profissionalismo e profundidade. Talvez seja a melhor fonte de informação a respeito de pesquisa disponível no Brasil. Endereço eletrônico: http://revistapesquisa.fapesp.br/ É uma das mais importantes e antigas revistas de divulgação científica do Brasil, trazendo informações sobre todas as áreas do conhecimento. Embora não discuta política científica com tanta frequência e profundidade, ainda assim é uma importante fonte. Endereço eletrônico: http://cienciahoje.uol.com.br/instituto-ch Pesquisa {18} Não é propriamente um site de pesquisa, e sim sobre direito. Trás notícias, dezenas de colunas semanais, dentre outras informações sobre o mundo jurídico. Além de os dados fornecidos e as discussões feitas poderem servir de inspiração para temas de pesquisa, há algumas colunas tratando de temas como ensino jurídico, a escrita do TCC, dentre outros temas afeitos ao universo da ciência. Endereço eletrônico: http://www.conjur.com.br/ É um blog americano que discute casos de retratação de artigos. A retratação ocorre quando o trabalho científico possui alguma falha que compromete os resultados, seja por descuido dos autores, como trocas em experimentos ou falhas de comunicação, seja por causa de fraudes. É interessante, pois discute a ética nas publicações científicas e os padrões de qualidade das revistas acadêmicas. Endereço eletrônico: http://retractionwatch.com/ É um site de um comitê que trata da ética em pesquisa científica. É importante pois trás casos, textos e discussões sobre os limites da pesquisa e suas interseções com a ética. As situações mais polêmicas costumam acontecer no campo das ciências médicas, mas a área das ciências sociais, nas quais o Direito se insere têm suscitado debates cada vez mais apurados e trazido à tona situações também bastante controversas. Endereço eletrônico: http://publicationethics.org/ 1.3 Códigos de ética em pesquisa Pesquisa {19} Algumas instâncias administrativas da pesquisa e Organizações Não Governamentais publicam códigos de ética em pesquisa, que são conjuntos de recomendações, com força vinculante ou não, que fornecem diretrizes para a prática científica adequada e moralmente consciente. Aqui disponibilizamos três: o do COPE (Comittee on Publication Ethics), uma organização americana voltada para a promoção das boas práticas de pesquisa, e, mais especificamente, em publicação científica; o da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais; e o da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, que é bastante abrangente. São tratadas algumas questões fundamentais, como: qual tipo de contribuição à pesquisa é suficiente para tornar alguém autor; o que configura plágio; como se devem tratar as pessoas que são objeto de uma pesquisa, dentre outras. A ciência não é uma atividade que deve ser desenvolvida a qualquer custo, mas, como todo empreendimento humano, se dá em um espaço social e tem finalidade coletiva, devendo ser conduzida do modo mais refletido e responsável possível. A leitura destes “códigos”, associados às discussões que lhes servem de substrato, são fundamentais para que se possa conduzir conscientemente uma boa pesquisa. http://publicationethics.org/files/Code_of_conduct_for_journal_editors_Mar11.pdf http://www.fapesp.br/boaspraticas/FAPESP-Codigo_de_Boas_Praticas_Cientificas_2014.pdf https://www.ufmg.br/prpq/images/guia.pdf Pesquisa {20} 2 - Como Faço Para Pesquisar? Como já dito acima, a pesquisa científica é uma atividade complexa e variada, de modo que não é possível construir um manual que indique mecanicamente o que deve ou não ser feito; entretanto, é possível dar algumas indicações básicas a respeito do que pode ser feito, além de perguntas básicas que devem ser respondidas antes de se dar início a uma pesquisa. Essas orientações elementares são o objeto da presente seção. 2.1. Encontrando um tema. A pesquisa científica é uma busca particular por compreender o modo de funcionamento do mundo, baseada em uma forma especifica de se tentar responder perguntas, a saber, o método científico, baseado no falseamento e na busca por evidências. Pesquisar, então, e colocar e responder perguntas. Para perguntar bem, é preciso conhecer, simultaneamente, o que já se sabe sobre a realidade, para que não se coloquem questionamentos repetidos, e o próprio universo que nos cerca, para que tenhamos noção dos instrumentos que existem para a análise (os conceitos) e até que ponto existem elementos os quais possibilitem respostas às nossas dúvidas. Portanto, para encontrar o tema de pesquisa, é preciso conhecer relativamente bem um determinado campo do saber, já que o que se busca é o preenchimento na bibliografia existente. Assim, é indispensável ter uma forte carga de leitura, que desça em profundidade nos problemas. O uso de manuais é, portanto, um bom trampolim para se situar no campo no interor do qual se movimenta, mas, justamente por sua natureza generalista, eles não são um bom parâmetro para indicar o que se sabe e o que se desconhece dentro de uma dada disciplina; eles só fornecem informações sobre o que há de mais consolidado, mas raramente possuem um tratamento satisfatório – ainda que a título introdutório – sobre os temas de fronteira. Assim, é preciso buscar artigos científicos e livros monográficos sobre uma esfera mais particularizada do conhecimento. Uma boa fonte de informação são teses e dissertações: como esse gênero literário está adstrito à necessidade de afunilamento das questões tratadas e de qualidade das respostas dadas, muitas vezes elas trazem, no começo, revisões bibliográficas relevantes sobre um determinado assunto, o que pode ser importante para que o iniciante se situe nos debates que o texto vai tratar, e tenha um volume grande de indicações de outros textos a serem analisados. Pesquisa {21} Conhecidas, ainda que de forma nebulosa, as mais candentes problemáticas da disciplina, naturalmente vão surgindo algumas dúvidas que não encontram resposta; pode ser um tema que ainda não foi tratado; ou um problema que foi trabalhado de forma insificiente; ou uma resposta considerada inadequada. Essas inquietudes são indicações de que se está na pista de um bom tema de pesquisa. Constatada a inadequação da bibliografia existente, é preciso investigar as condições para responder a essa inquietude. Assim, é necessário buscar de forma preliminar a realidade que vai ser analisada, de modo a ver se há condições para responder à pergunta almejada. No caso da pesquisa histórica, por exemplo, é preciso ter noção da existência e da disponibilidade das séries documentais existentes; para a investigação sociológica, se há abertura dos grupos pretendidos para entrevistas, ou uma etnografia, ou se será possível uma mera aplicação de questionário. Não é preciso ter amplos conhecimetos; do contrário, já se estaria levando a cabo a pesquisa propriamente dita, mas é indispensável uma análise de viabilidade. Nesse sentido, é preciso também ter noção das línguas que é necessário saber ler, afinal, em algumas áreas, parte importante da bibliografia está escrita em idiomas estrangeiros, e ignorar alguns textos canônicos, seja para adotá-los, seja para rejetá-los, torna a pesquisa de muito pouco valor. Em outros casos, é o próprio objeto de pesquisa queimpõe uma determinada leitura: uma pesquisa de direito comparado chinês impõe a leitura de textos em mandarim; uma análise de direito medieval exige conhecimentos de latim; e assim por diante. Para toda ciência, o inglês é indispensável; no campo das humanidades, há uma forte literatura em francês, inclusive de referências teóricas genéricas. Para além dessas duas línguas, é preciso ter conhecimentos acerca de seu campo de pesquisa, e da literatura a qual deverá ser buscada: a filosofia do direito, por exemplo, tem muitoas referências importantes em alemão; a história, em italiano, e assim por diante. Também é importante ter em mente o que é indispensável e o que é apenas acessório; até que ponto a falta de uma língua pode ser suprida pelo conhecimento de outras; e que há traduções decentes para algum idioma conhecida. Também há que se lembrar que os textos científicos costumam sem mais claros e precisos, não exigindo o mesmo nível de conhecimento necessário para ler outros tipos de literatura, como poesia, nem que é preciso saber ouvri e falar o idioma, nem ser um grande conhecedor: é preciso ter capacidade de entender, mesmo que com o auxílio de dicionário, as referências importantes de sua área de pesquisa. O que é certo é que saber idiomas estrangeiros não é apenas um diferencial, mas uma necessidade imperiosa para o pesquisador. Essa montanha de requisitos iniciais pode assustar um pouco o iniciante; mas não é preciso ser um grande conhecedor de bibliografia, mundo da vida e de línguas para começar Pesquisa {22} uma pesquisa: é justamente para ajudar nesse processo de formação e diferenciar o dispensável, o importante e o inarredável que existe a figura do orientador. 2.2. Encontrando um orientador. O orientador é uma figura muito importante, por atuar como um condutor da pesquisa, fornecendo informações, dando indicações e propiciando um conhecimento básico dos caminhos existentes, para que o estudante execute da melhor forma possível os projetos iniciais, e para que as ideias nascidas ao longo do percurso possam crescer e frutificar. A escolha do orientador não é fácil, e exige um conhecimento prévio do currículo e do modo de trabalho do professor pretendido. A relação que com ele se desenvolve é bastante pessoal e vai durar pelo menos um ano de convivência, sendo preciso escolher alguém com temperamento pelo menos compatível com o do estudante e com as suas necessidades. Alguns professores possuem temas de pesquisa prévios, e dão indicação para que o aluno escolha algum que lhe agradar; outros preferem que o jovem traga ideias inicias que serão posteriormente desenvolvidas. Por isso, é interessante conversar com outros orientandos do mesmo professor para conhecer melhor o seu estilo, além de entrar em contato com o próprio docente, conhecendo melhor as suas exigências. Também há aqueles que só orientam em um campo de pesquisa restrito e afunilado, ao passo que outros aceitam estudantes que trabalham disciplinas afins: um professor de criminologia poderá não querer orientar um trabalho de dogmática penal, e, simultaneamente, um outro, de hermenêutica jurídica pode estar propenso a trabalhar com direito do trabalho, ainda que adaptando o projeto às suas possibilidades. O importante é ter um canal de comunicação e conhecer as possibilidades de cada um. O estilo de orientação de cada um também varia: alguns são mais rígidos, exigindo cumprimento de prazos e entrega de textos, ao passo que outros possibilitam maior liberdade ao aluno. É preciso, então, conhecer as próprias necessidades e objetivos, escolhendo um professor que se amolde, na medida do possível, a elas. O catálogo das linhas de pesquisa dos professores, presente no final desse texto, e a leitura do currículo lattes deles é uma importante fonte de informação sobre o que cada um trabalha, mas não substitui a conversa com o docente e com seus ex-orientandos. Via de regra, os professores estão dispostos a ouvir ideias e dar sugestão, especialmente aqueles com Dedicação Exclusiva e dedicados à pesquisa; boa parte deles podem atender em seus gabinetes alunos com disposição para trabalhar, afinal, trata-se de ajuda para desenvolver seu projetos. Os grupos de estudo também são um excelente espaço tanto para estabelecer um diálogo inicial Pesquisa {23} com um pretenso orientador, quanto para conhecer em maiorprofundidade a bibliografia e os debates sobre um tema e desenvolver um projeto de pesquisa futuro. 2.3. O que é iniciação científica? A iniciação científica tem por objetivo introduzir o estudante de graduação na atividade de pesquisa acadêmica. Os estudantes terão, assim, o desenvolvimento dos seus estudos acompanhados por um professor orientador, durante um período de 1 ou 2 anos, e a oportunidade de lidar com questões técnicas e metodológicas comuns a atividade de pesquisa, como a elaboração de um projeto de pesquisa, com a delimitação de um problema e a busca por possíveis soluções, a coleta de dados e a escrita acadêmica. Além disso, a iniciação científica figura como uma das formas de preparar o estudante de graduação para a pós-graduação e a possiblidade de contato entre o estudante e professores que desenvolvem linhas de pesquisa que são de interesse do discente. Usualmente, a escolha do tema para a iniciação científica é livre, dependendo este do interesse do estudante e dos assuntos com os quais o professor-orientador comumente trabalha. Aconselha-se que o tema seja mais específico, de forma que seja possível desenvolvê-lo no espaço de tempo de 1 ano, prorrogável por mais 1, e que traga algum ineditismo, ou seja, que ofereça uma abordagem minimamente inovadora. Desse modo, não é necessário que o estudante já tenha um projeto de pesquisa pronto, mas é interessante que este tenha um tema específico em mente, de forma a facilitar o desenvolvimento da pesquisa. Algumas vezes, dentro do campo de interesse do aluno, o professor pode até sugerir o tema específico, de modo a que o estudante possa trabalhar com algo que seja efetivamente relevante para a comunidade acadêmica. A iniciação científica pode ser voluntária, na qual não se oferece bolsa, e a inciação científica remunerada, na qual é conferida uma bolsa ao estudante, a partir do aceite pelo professor orientador, por agências de fomento como a CNPq e a FAPEMIG. Como afirmou o Professor Paulo Sérgio Lacerda Beirão: “O desafio da universidade hoje é formar indivíduos capazes de buscar conhecimentos e de saber utilizá-los. Ao contrário de outrora, quando o importante era dominar o conhecimento, hoje penso que o importante é "dominar o desconhecimento", ou seja, estando diante de um problema para o qual ele não tem a resposta pronta, o profissional deve saber buscar o conhecimento pertinente e, quando não disponível, saber encontrar, ele próprio, as respostas por meio de pesquisa.”1 1 Disponível em: <https://www.ufmg.br/boletim/bol1208/pag2.html>. Pesquisa {24} 2.4. Questões metodológicas básicas. Considerando o que foi apresentado sobre a iniciação científica, cabe apresentar algumas questões metodológicas fundamentamentais para o desenvolvimento de uma boa atividade de pesquisa. A metodologia é a apresentação de como ou o caminho que se vai percorrer durante a atividade de pesquisa. Como afirmam Silva e Menezes: “A elaboração de um projeto de pesquisa e o desenvolvimento da própria pesquisa, seja ela uma dissertação ou tese, necessitam, para que seus resultados sejam satisfatórios, estar baseados em planejamento cuidadoso, reflexões conceituais sólidas e alicerçados em conhecimentos já existentes.”2 Assim, a metodologia deve indicar pontos estruturais da pesquisa como o problema em si, as fontes de pesquisa a serem consultadas e osinstrumentos específicos que serão utilizados para coletar as informações necessárias para sua pesquisa. A metodologia é uma espécie de planejamento da pesquisa: uma estruturação do caminho que se vai percorrer ao longo da atividade acadêmica. Se a pesquisa é a busca pelo conhecimento, a pesquisa deve então compreender três coisas: a estruturação do saber que já se possui; a delimitação das respostas que se procura obter; e o planejamento do caminho que pode levar de um a outro. A metodologia é o que permite definir-se os melhores instrumentos para se percorrer a trajetória entre a dúvida e o encontro de alguns possíveis indicativos de resposta. Nessa seção, apresentamos de forma breve as etapas da pesquisa científica, e indicamos alguns possíveis métodos que podem ser utilizados. Entretanto, cada caso específico demanda uma abordagem diferente, de modo que abordagens apriorísticas, como essas, fornecem apenas indicações que se deve ter em mente ao elaborar um projeto de pesquisa e fornecer elementos para se definir, casuísticamente, o que melhor se adequa a cada caso. 2.4.1. Problema de pesquisa. A definição de um tema de pesquisa é o ponto inicial e fundamental para o desenvolvimento de uma atividade de pesquisa, mas, na maioria das vezes, é a parte mais difícil 2 SILVA, E.L.; MENEZES, E. M. Metodologia de Pesquisa e Elaboração de Dissertação, 4ª ed. revisada e atualizada, Florianópolis: UFSC, 2005. Disponível em: <https://projetos.inf.ufsc.br/arquivos/Metodologia_de_pesquisa_e_elaboracao_de_teses_e_dissertacoes_4ed.pdf >. Pesquisa {25} desta. Depois de definido o tema de pesquisa, mesmo que seja trabalhoso, o processo de investigação e construção da pesquisa flui com mais facilidade. Segundo Queiroz et al: “a pesquisa é um caminho que leva da dúvida ao conhecimento, e sem que se saiba de onde se parte e aonde se quer chegar, são enormes as chances de o pesquisador se perder no processo de redação de seu trabalho.”3 Assim, podemos nomear alguns requisitos do tema de pesquisa que devem ser observados. O primeiro é que este deve ser verdadeiro objeto de dúvida, ou seja, a pesquisa deve começar com algo que não se sabe, ou não se tem certeza, ou se quer testar uma certeza que já foi difundida, figurando, pois, um problema ou uma dúvida. Passamos, então, para o segundo requisito, o tema pesquisa ou o problema de pesquisa extraído deve ser relevante para a discussão acadêmica. Um bom indicativo dessa relevância é a presença frequente desse tema nas discussões de pesquisadores. E o terceiro requisito diz respeito a um mínimo de originalidade do tema de pesquisa. Cabe ressaltar que a originalidade, nesse caso não é no sentido de inovação teórica, mas no sentido de oferecer uma abordagem criativa e inovadora para o tema escolhido. Ou seja, deve-se fazer algo que nunca antes foi feito na comunidade acadêmica, mesmo que a diferença para com os outros trabalhos seja pequena: aplicar uma teoria já conhecida a um objeto novo; ajustar alguma observação teórica; verificar em novos casos a validade de uma teoria já aceita, dentre outras possibilidades. O importante é não repetir o que já foi feito; afinal de contas, os recursos públicos investidos na pesquisa e o espaço utilizado para a publicação devem ser aproveitados da melhor maneira possível, oferecendo algo que seja de fato relevante para as discussões acadêmicas. A partir desses requisitos, é interessante destacar que a partir do assunto escolhido é possível extrair diferentes problemas de pesquisas que devem ser trabalhados de forma particular e de maneira adequada. Nesse sentido, há pelo menos dois tipos de problemas que o pesquisador pode encontrar: um descritivo e um prescritivo. No caso do problema de pesquisa descritivo, citando novamente Queiroz et al: “Descrever de forma organizada uma parte de realidades tão complexas é uma possibilidade interessante para uma pesquisa científica. Esse tipo de problema é o que se chama aqui de problema descritivo: nele, o pesquisador quer oferecer um retrato compreensível de fenômenos complexos, que ajudam a entender melhor as particularidades neles envolvidos.”4 Em relação ao problema de pesquisa prescritivo, conforme 3 QUEIROZ, R. M. R. Como encontrar um bom tema dentro da minha área de interesse?. In: QUEIROZ, R.M.R; FEFERBAUM, M. Metodologia Jurídica: um roteiro prático para trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Saraiva, 2012. pp. 55-79. 4 QUEIROZ, R. M. R. Como encontrar um bom tema dentro da minha área de interesse?. In: QUEIROZ, R.M.R; FEFERBAUM, M. Metodologia Jurídica: um roteiro prático para trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Saraiva, 2012. pp. 55-79. Pesquisa {26} o mesmo autor: “há um outro tipo de tema-problema do qual trabalhos jurídicos normalmente se ocupam, que podemos chamar de problemas prescritivos: aqueles que em vez de meramente retratarem o seu objeto de pesquisa, esforçam-se em oferecer uma resposta, bem construída e bem fundamentada, sobre como o problema deve ser juridicamente considerado, ou tratado, ou classificado, ou respondido. Chamamos este tipo de resposta de normativa, pois ela não se limita à observação de fatos, mas sim pretende extrair de regras sociais de caráter prático (éticas, morais, jurídicas, econômicas) um comando acerca de como devemos agir – prescrevem a ação devida, portanto – em face da situação-problema abordada (COURTIS, 2006).”5 Independente do tipo de problema de pesquisa escolhido, este deve ser formulado na forma de pergunta, claro, preciso e nos limites relativos aos meios, ao tempo e ao alcance. Para facilitar a elaboração do problema de pesquisa, uma dica que comumente se dá é a de enunciá-lo na forma de uma pergunta. Afinal de contas, a atividade acadêmica é a busca de se conhecer algo que ainda não se sabe, de modo que, no fundo, ela é um constante indagar ao mundo e à sociedade sobre o seu modo de funcionamento e buscar encontrar as possíveis respostas que estejam escondidas de uma forma ou de outra na realidade. E, como é a pergunta que guiará o caminho que o pesquisador fará, tem-se que é mais importante fazê-la da forma correta do que propriamente dar a melhor reposta. Isso porque as perguntas é que abrem as nossas mentes para o desconhecimento que possuímos acerca do real e aguçam nossa curiosidade; as boas respostas só podem ser dadas às boas perguntas, e, mais que isso, sempre serão provisórias, já que a ciência é uma atividade em constante evolução. As melhores perguntas são perenes, e jamais serão respondidas de forma definitiva, mas apenas aproximativa. 2.4.2. Revisão Bibliográfica e Bases de dados. Apresentado o tema-problema de pesquisa, passamos a revisão bibliográfica que é, de forma simplificada, “a leitura dos principais artigos e livros referentes ao tema e ao problema destacados, tendo em vista conhecer o estágio atual da questão.”6 Nesse sentido, cabe ao pesquisador selecionar, da maneira mais completa possível, a literatura que será, a princípio, utilizada para o desenvolvimento do tema escolhido. A revisão bibliográfica é fundamental para a delimitação do problema de pesquisa e auxilia na definição dos objetivos da pesquisa científica e nas construções teóricas desta. Isso porque é ela que permite conhecer o “estado da 5 Ibid, p. 71-72. 6 Disponível em: <http://master.fclar.unesp.br/Home/Departamentos/AdministracaoPublica/ic_instrucoes.pdf>. Pesquisa {27} arte” do campo do saber no qual se move, ou seja, o que os cientistas sabem e o que desconhecem, e, a partir disto, quais áreas podem ser exploradas para que coisas novas sejam descobertas. Na adaptação de JoséLuis Duarte Ribeiro do texto elaborado por Flavio Fogliatto e Giovani da Silveira, os autores oferecem cinco recomendações para desenvolver uma boa revisão bibliográfica.7 A primeira recomendação é estabelecer uma linha de raciocínio que perpasse a pesquisa, de forma a criar um roteiro claro que guie a revisão bibliográfica. A segunda recomendação é selecionar as fontes de referência. Os autores sugerem a seguinte ordem de consulta às fontes bibliográficas: 1) artigos publicados em periódicos internacionais; 2) artigos publicados em periódicos nacionais reconhecidos; 3) livros publicados por editores renomados; 4) teses e dissertações; 5) anais de conferências internacionais; 6) anais de conferências nacionais. A terceira recomendação é que o pesquisador escreva uma revisão bibliográfica clara e objetiva. A quarta, por sua vez, é que o pesquisador organize os trabalhos consultados, uma vez que ao longo da revisão bilbiográfica são consultados uma grande quantidade de livros, artigos e resumos. E a quinta recomendação é que o pesquisador evite erros como uma revisão bibliográfica muito breve, que não inclua autores e obras essenciais para o tema escolhido; má organização do material coletado, com repetição de ideias ou sem uma estrutura lógica perceptível; e referências incompletas ou erradas. Para realizar uma revisão bibliográfica completa e precisa, existem diversas bases de dados que possibilitam ao pesquisador acesso a uma gama ampla e diversificada de materiais. São repositórios que contém artigos, livros e outros materiais, e que podem ser consultados para se ter acesso à literatura científica disponível. Dentre as variadas bases de dados que estão disponíveis, podemos destacar quatro bases que são frequentemente acessadas: SciELO; Portal de Periódicos, Hein Online e JStor. 2.4.2.1. SciELO A SciELO (Scientific Electronic Library Online) é uma biblioteca eletrônica que disponibiliza uma coleção selecionada de periódicos de acesso aberto. A SciELO foi fundada no Brasil em 1997 e o principal objetivo é aumentar de forma eficiente a visibilidade e o acesso a literatura científica. Atualmente congrega diversos países latino-americanos, para além de Portugal e Espanha, sendo a mais importante para a divulgação de trabalhos dessa parte do 7 Disponível em: < http://posgraduando.com/como-fazer-uma-revisao-bibliografica/>. Pesquisa {28} mundo. A base de dados da SciELO, de acordo com os dados de 2015, disponibiliza 1.249 periódicos, 39.651 edições de periódicos e 573.525 artigos científicos. De forma simplicada, para se pesquisar artigos científicos na SciELO basta: 1) Acessar a página inicial da SciELO: <http://www.scielo.org/php/index.php>; 2) Na caixa “Pesquisa Artigos”, defina as suas preferências (método; uma ou mais palavras; onde); 3) Na página de resultados, os artigos podem ser filtrados por relevância, ano de publicação, idioma, área temática, e outros filtros; 4) Selecione o artigo de interesse; 5) Na página seguinte, há uma caixa na lateral da tela “Services on Demand”, na qual o primeiro item é para baixar o arquivo completo em PDF. 2.4.2.2. Portal de Periódicos (CAPES/MEC) O Portal de Periódicos da CAPES/MEC é uma importante biblioteca virtual para pesquisas e consultas à artigos, dissertações e outros conteúdos. O Portal foi oficialmente lançado em 2000, com objetivo de “promover o fortalecimento dos programas de pós- graduação no Brasil por meio da democratização do acesso online à informação científica internacional de alto nível.”8 O Portal de Periódicos conta com um acervo de mais de 38 mil títulos com texto completo, 126 bases referenciais, 11 bases dedicadas exclusivamente a patentes, além de livros, normas técnicas e conteúdo audiovisual. A comunidade acadêmica da UFMG possui acesso garantido ao conteúdo disponibilizado pelo Portal. Para ter acesso a todo o material disponibilizado pelo Portal: 1) Entre no MinhaUFMG, com seu login e a senha; 2) Na página inicial do MinhaUFMG, na “Caixa Serviços”, acesso o último item “Acesso ao Portal CAPES”; 3) Aberta a página inicial do Portal, a busca pode ser realizada por assunto, periódico, livro ou base. 4) Se você quiser realizar sua busca por assunto, selecione a opção “Buscar Assunto”e aa página de resultados, os artigos podem ser filtrados por relevância, ano de publicação, autor, acesso, título, e outros filtros; 8 Disponível em: <http://www-periodicos-capes-gov- br.ez27.periodicos.capes.gov.br/index.php?option=com_pcontent&view=pcontent&alias=missao- objetivos&Itemid=102>. Pesquisa {29} 5) Selecione o artigo de interesse; 6) Abrirá uma nova aba que dará acesso ao artigo escolhido. 2.4.2.3. HeinOnline O HeinOnline é uma das bases de dados mais completas na área de Direito do mundo todo, contendo cerca de 1.600 títulos de periódicos, com mais de 38 mil volumes e mais de 23 milhões de páginas. O acesso a base de dados se dá pelo site <www.heinonline.org>, utilizando- se os computadores da UFMG ou por meio da rede wifi da Universidade. Assim, para acessar o HeinOnline externamente, tem que configurar o navegador conforme o manual disponibilizado pela Faculdade de Direito,9 inserindo o login e a senha do minhaUFMG quando solicitado. Depois de configurado o navegador, a utilização do HeinOnline é semelhante a utilização das demais bases de dados apresentadas. 2.4.2.4. JStor O JStor é um sistema online de arquivamento de periódicos acadêmicos fundado nos Estados Unidos, em 1995. O Acesso ao JSTOR é licenciado principalmente a bibliotecas e universidades. As instituições licenciadas podem disponibilizar o JSTOR para seus membros através da internet. Apesar da UFMG não ser assinante da base de dados JStor, esta base permite o acesso por meio de um login pessoal a parte do conteúdo disponível. Para se registrar no JStor, gratuitamente, é só acessar o site no link <https://www.jstor.org/action/registration?redirectUri=/?&loginSuccess=true>. O acesso gratuito não permite baixar os arquivos disponibilizados, mas é possível deixá-los armazenados na sua conta JStor, por um tempo determinado, sendo limitado o número de artigos que podem ser armazenados simultaneamente. 2.4.3. Metodologias específicas. Entendida a revisão bibliográfica, alguns projetos de pesquisa exigem a utilização de metodologias específicas, a fim de tornar a atividade de busca pelo conhecimento mais precisa 9 O Manual para a configuração do navegador para a utilização externa do HeinOnline está disponível em: < http://www.direito.ufmg.br/images/stories/informatica/proxyufmg.pdf>. Pesquisa {30} e completa. Nesse sentido, podemos destacar quatro possíveis ferramentas de trabalho: a pesquisa jurisprudencial; a etnografia; a entrevista e história. 2.4.3.1. Pesquisa Jurisprudencial Segundo Palma, Feferbaum e Pinheiro: “Ao se realizar uma pesquisa acadêmica de jurisprudência, busca-se identificar de qual modo um ou mais tribunais compreendem um instituto jurídico, revelando-se eventuais posições consolidadas, divergências entre diferentes órgãos, incoerências nos julgamentos etc. Não se trata apenas de selecionar os casos considerados mais importantes que reforcem uma tese jurídica. Ainda que esse tipo de uso estratégico da jurisprudência possa ser considerado válido nas atividades diárias da prática jurídica, não podemos utilizá-lo em trabalhos acadêmicos.”10 No geral, qualquer problema jurídico pode ser considerado a partir de uma perspectiva jurisprudencial, sendo utilizada na análise tanto de decisões judiciais quanto de decisões administrativas. Nesse sentido,a pergunta fundamental é: “tendo em vista os objetivos da minha pesquisa, é útil examinar a jurisprudência?”11 Desse modo, para que seja feita um boa pesquisa jurisprudencial, o estudante deve estar familiarizado com os instrumentos para realizar esta pesquisa, sendo estes, basicamente, quatro: “1) recortes jurisprudencias; 2) composição da amostra (pesquisa de jurisprudência em sites eletrônicos); 3) variáveis de pesquisa; e 4) organização dos dados coletados.”12 Além disso, a fim de se chegar a uma conclusão, por meio da pesquisa jurisprudencial, “a atividade de pesquisa, portanto, envolve a interpretação de dados levantados, o que significa a depuração das informações obtidas e sua redução a um conhecimento sintético o suficiente para que seja útil e manipulável. (...) A pesquisa de jurisprudência no escopo de um trabalho é, em si, um microssistema, uma pesquisa dentro da pesquisa. Daí que a apresentação de seus resultados deve vir acompanhada do método utilizado.”13 Assim, para a apresentação da pesquisa de jurisprudência, a investigação desta pode ser decomposta em três elementos básicos: 1) o método de pesquisa; 2) dados levantados; e 3) resultados obtidos.14 10 PALMA, J. B.; FEFERBAUM, M.; PINHEIRO, V. M. Meu trabalho precisa de Jurisprudência? Como posso utilizá-la?.In: QUEIROZ, R.M.R; FEFERBAUM, M. Metodologia Jurídica: um roteiro prático para trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Saraiva, 2012. 11 Ibid., p. 142. 12 Ibid., p. 143. 13 Ibid., p. 155. 14 Idem. Pesquisa {31} Por fim, podemos destacar quatro tipos principais de pesquisa jurisprudencial: 1) a análise temática e apresentação de linha de entendimento (“consiste no exame de conjunto de julgados sobre um determinado tema, geralmente com a proposta de compreender o entendimento do órgão julgador sobre o instituto estudado”);15 2) a análise dos elementos de decisão (concentra na análise da argumentação utilizada pelo orgão julgador, ou determinado julgador, para a tomada de decisão);16 3) análise da dinâmica institucional do órgão julgador (a partir dessa análise é possível depreender constatações sobre o funcionamento institucional do órgão julgador);17 e 4) a análise processual da jurisprudência (concentra nos aspectos processuais dos casos analisados).18 2.4.3.2. Etnografia De maneira geral, considera-se que a etnografia, enquanto metodologia, provém da Antropologia,19 sendo, relativamente, pouco utilizado, ainda, na pesquisa jurídico acadêmica brasileira. A etnografia trata, assim, “do estudo, da descrição e da interpretação de povos ou grupos sociais através de suas falas, de seus atos e de seus comportamentos sociais. (...) na pesquisa etnográfica, o pesquisador deve se inserir no âmbito do grupo social estudado, passando a fazer parte deste, de forma a poder experimentar os fatos estudados, e, também, colher o maior número possível de informações por meio das mais variadas ferramentas de pesquisa, sempre com o objetivo de buscar as respostas que melhor representam a realidade social estudada.”20 Um exemplo de utilização da Etnografia na pesquisa jurídica é o mencionado por Oliva: “Sinhoretto (2007) utiliza-se da etnografia para investigar “serviços de justiça nos Centros de Integração da Cidadania”, tendo como objetivo a realização de uma análise dos “rituais informais e formais de resolução de conflitos praticados por Polícia Civil, Ministério Público e Judiciário”, de modo a investigar a efetividade dessa forma de solução de conflitos integrados, 15 Ibid., p. 162. 16 Ibid., p. 165. 17 Ibid., p. 166. 18 Ibid., p. 167. 19 OLIVA, A. C. O Uso da Etnografia como Ferramenta para a Pesquisa Científica no Direito: Uma Possibilidade para o futuro da produção jurídico-científica brasileira. Revista do Curso de Direito, Aracaju, v. 4, n. 1, pp. 1-11, set. 2014. Disponível em: < http://app.fanese.edu.br/rd_direito/wp-content/uploads/2014/10/13-ETNOGRAFIA- VERSA_O-FINAL-003-09-09-2014.pdf>. 20 Ibid., p. 5. Pesquisa {32} observando a diferenciação existente entre os tratamentos dos diversos ramos de serviços públicos lá disponíveis.”21 Um outro nome que se dá para essa metodologia, e que deixa transparecer com muita clareza seu sentido, é o de “observação participante”: o pesquisador deve sair de sua redoma e ir à realidade para conhecê-la por dentro. Insere-se em um círculo social de interesse e, conversando com as pessoas, observando a dinâmica social e presenciando seus comportamentos, será mais capaz de reconstruir os modos de ação das pessoas e como estes são influenciados por certos conjuntos de ideias. A etnografia é, portanto, uma boa maneira de entender como o direito funciona “na prática”, nos fóruns, na atividade policial, dentre outros locais. 2.4.3.3. Entrevista Segundo Ribeiro e Vilarouca, “A entrevista é um técnica de pesquisa social que procura, a partir da interação mais ou menos formal entre duas pessoas, produzir informações sobre determinados tópicos de investigação.”22 Assim, o método de entrevista deve ser utilizado sempre que se queira ter um ponto de vista mais aprofundado sobre um tema ou quando o pesquisador tenha um conhecimento prévio sobre este, possibilitando, por exemplo, a reformulação ou formulação de teorias ou o a verificação de hipóteses. “Outras vezes, a pesquisa qualitativa pode ser utilizada como forma complementar em pesquisas de opinião, tanto na elaboração de questionários quanto na fase final de interpretação de dados quando, por exemplo, podemos observar uma alta correlação entre dois fenômenos sem necessariamente compreendermos os mecanismos causais em operação.”23 “É importante salientar que as entrevistas não se destinam a coletar dados, mas a produzi-los.”24 Ou seja, o sujeito (entrevistado) interfere na construção da observação do objeto de estudo, bem como a interação entre entrevistador e entrevistado. Além disso, o método de entrevista pode ser, basicamente, dividido em quantitativo e qualitativo. Segundo Ribeiro e Vilarouca: “(...) o entendimento “moderno” do problema é que “quantitativo” e “qualitativo” designam técnicas de análise de dados que, embora diferentes, podem ser combinadas para 21 Ibid., p. 8. 22 RIBEIRO, L. M. L; VILAROUCA, M. G. Quando devo fazer pesquisa por meio de entrevista, e como fazer. In: QUEIROZ, R.M.R; FEFERBAUM, M. Metodologia Jurídica: um roteiro prático para trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Saraiva, 2012. 23 Ibid., p. 215. 24 Idem. Pesquisa {33} produzir respostas mais completas para nossas questões. Logo, o que dá caráter qualitativo ou quantitativo não é necessariamente o recurso de que se fará uso para a coleta de informações, mas o referencial teórico/metodológico utilizado para a análise do material coletado (DUARTE, 2004).”25 Desse modo, um tipo específico de entrevista que vale a menção são os surveys (entrevitas estruturadas), que são pesquisas que envolvem métodos de pesquisa e análise quantitativa, apresentando uma estruturação mais rígida e padronizada (questionários) e permitindo um grau de inferência e generalização dos resultados maior que do método de entrevista qualitativo. Segundo os autores: “A escolha entre métodos quantitativos e qualitativos, por sua vez, depende primordialmente da definição do objetivo da pesquisa e das questões que se procura responder.”26 Outro tipo específico de entrevista é a semiestruturada que é caracterizada por perguntas abertas, organizadas em uma ordem específica, mas que não impedem que o entrevistador acrescente perguntas de “esclarecimento”, sendo mais flexíveisquanto as possibilidades de resposta que as entrevistas tipo survey. Além da entrevista semiestruturada, há a entrevista aberta. “Nesse caso, o pesquisador apenas introduz o tema e o entrevistado tem a liberdade de discorrer sobre ele. Por isso, diz-se que esta é a entrevista que amplia o papel do entrevistado, já que é ele quem “dirige” a entrevista.”27 Há, ainda, a entrevista de história de vida que “consiste em uma série de perguntas a partir das quais o pesquisador conduz o entrevistado a contar, de seu modo, sua vida ou um evento que presenciou ou participou.”28 “Logo, para escolher que tipo de entrevista é a mais apropriada, deve-se levar em consideração o grau de conhecimento anterior do problema (entrevistas abertas são mais adequadas para temas ainda pouco explorados do que entrevistas estruturadas), os atores relevantes para a compreensão do problema (se vários, é sempre mais indicado utilizar as entrevistas semiestruturadas com perguntas fechadas e algumas abertas do que entrevistas semiestruturadas com perguntas fechadas e algumas abertas do que entrevistas de história de vida, em que o entrevistado discorre longamente sobre suas vivências) e quanto à necessidade de generalização dos resultados (entrevistas estruturadas são sempre mais adequadas para se 25 Ibid., p. 217. 26 Ibid., p. 214. 27 Ibid., p. 221. 28 Ibid., p. 223. Pesquisa {34} comparar a representatividade das opiniões dos diversos grupos socioeconômicos em relação à população estudada).”29 2.4.3.4. História Como afirma Thiago dos Santos Acca, “a história é usada de forma pouco rigorosa nas pesquisas jurídicas no Brasil. No entanto, isso não significa que uma formação em história seja imprescindível para elaborar um trabalho com um bom diálogo entre direito e história. Alguns cuidados metodológicos básicos são suficientes para agregar qualidade na pesquisa”.30 Desse modo, nem todos os trabalhos acadêmicos necessitam de uma parte histórica e, mesmo aqueles que necessitam, não é necessário fazer um apanhado histórico muito geral, o ideal, na verdade, é que seja feito um recorte temporal adequado a seu tema e ao problema de pesquisa posto. As duas perguntas fundamentais que o pesquisador deve responder para uma boa utilização dessa metodologia específica são: “há algum ganho substancial para o meu trabalho caso fatos históricos sejam nele inseridos?”31 e “ao inserir uma visão histórica, o que pretendo agregar em meu trabalho?”.32 As possibilidades mais comuns para a inclusão de uma parte histórica em um trabalho acadêmico são: “1) compreensão mais adequada do problema de pesquisa; 2) circunstâncias históricas que vão ilustrar ou reforçar a argumentação; e 3) contextualização do debate referente ao tema escolhido.”33 Ao optar por uma abordagem histórica, para se ter uma interdisciplinariedade frutífera, é necessário ter uma noção básica de metodologia de história. Segundo o autor: “Assim, saliento que não se podem pesquisar fatos históricos sem compreendê-los minimamente a partir dos problemas enfrentados pela sociedade investigada. É importante que sejam estudados sem preconceitos, nostalgia, caricatura para basear-nos unicamente nas fontes e nas interpretações de autores que se voltam para o estudo aprofundado da história e da história do direito.”34 Outra preocupação que o pesquisador deve ter é em relação a utilização das fontes históricas. Caso o 29 Idem. Para mais informações sobre como se realiza e interpreta os dados coletados por meio de entrevistas, consulte: RIBEIRO, L. M. L; VILAROUCA, M. G. Quando devo fazer pesquisa por meio de entrevista, e como fazer. In: QUEIROZ, R.M.R; FEFERBAUM, M. Metodologia Jurídica: um roteiro prático para trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Saraiva, 2012. 30 ACCA, T. S. Como sei se um Trabalho Acadêmico precisa de uma Parte Histórica? Quando posso usá-la para auxiliar na construção do meu trabalho?.In: QUEIROZ, R.M.R; FEFERBAUM, M. Metodologia Jurídica: um roteiro prático para trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Saraiva, 2012. 31 Ibid, p. 120. 32 Ibid, p. 107. 33 Idem. 34 Ibid, p. 118. Pesquisa {35} pesquisador possua um conhecimento mínimo sobre o tema histórico ao qual pretende se dedicar, este deve começar a examinar obras mais gerais sobre história do direito ou mesmo obras mais gerais sobre um determinado tema de história do direito.35 Caso o pesquisador não possua nenhum conhecimento sobre o tema histórico ao qual pretende se dedicar, este deve adquirir primeiro um conhecimento básico de história, para depois passar a leitura de temas específicos ou gerais de história do direito.36 Por fim, segundo Acca: “O desenvolvimento da leitura atenta e crítica dos textos é essencial para quem se possa progredir metodologicamente. Um fator importante de aprendizagem é a realização de uma leitura ativa da doutrina, da jurisprudência ou da legislação que servirá como alicerce para a produção de um trabalho acadêmico. Não basta ler os textos, é preciso efetivamente estudá-los.”37 2.4.4. Algumas indicações bibliográficas. Além das bases de dados indicadas, há outros institutos, centros de pesquisa, bancos de dados e periódicos com publicações online, alguns de acesso gratuito, outros de acesso pago. Dentre eles podemos citar: - CPS/FGV: <cps.fgv.br/pt-br/banco-de-dados>; - CPDOC: <cpdoc.fgv.br>; - Revista Brasileira de Estudos Políticos: <www.pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep>; - Revista da Faculdade de Direito UFMG: <www.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista>; - CES (Universidade de Coimbra): <www.ces.uc.pt>; - IPEA: <www.ipea.gov.br/portal>; -IBGE: <www.ibge.gov.br/home>; - Sisgênero: <http://sisgenero.spmulheres.gov.br/web/>; - OMC: <https://www.wto.org/>; - OMS: <http://www.who.int/en/>; - OIT: <http://www.ilo.org/brasilia/lang--pt/index.htm>; - OCDE: <http://www.oecd.org/fr/>; - FMI: <http://www.imf.org>; - BID: <http://www.iadb.org>: 35 Ibid, p. 119. 36 Idem. 37 Ibid, p. 111. Pesquisa {36} - CIDH: <http://www.corteidh.or.cr/index.php/en>; - CIJ: <http://www.icj-cij.org/>; - Conselho Nacional de Justiça (CNJ): <www.cnj.jus.br>; - Supremo Tribunal Federal (STF): <www.stf.jus.br>; - Superior Tribunal de Justiça (STJ): <http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ>; - Tribunal de Justiça de Minas Gerais: <http://www.tjmg.jus.br/portal/>; - Senado Federal: <www.senado.gov.br/biblioteca>; - Câmara dos Deputados: <www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/legislacao>; - Presidência da República: <www4.planalto.gov.br/legislacao>; - Ministério da Justiça (SAL): <portal.mj.gov.br>; - Ministério das Relações Exteriores: <www2.mre.gov.br/dai/Home.htm>; - Nações Unidas: <www.un.org>; - Tribunal de Contas da União: <portal2.tcu.gov.br/portal>; - ANATEL: <www.anatel.gov.br>; - CADE: <www.cade.gov.br>; - Bibliotecas USP (Dedalus): <http://www.direito.usp.br/biblifd/>; - Bibliotaca UFMG: <https://www.bu.ufmg.br/bu/index.php/base-de-dados/catalogo-online>; - Bibliotecas FGV: <http://sistema.bibliotecas.fgv.br/>; - Biblioteca Digital FGV: <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace>; - UFRJ: <http://www.bibliotexas.ufrj.br/direito>; - UFRS: <http://sabi.ufrgs.br>; - Harvard Law Review (Pago): <http://www.harvardlawreview.org/index.php>; - Oxford Journal of Legal Studies (Pago): <http://ojls.oxfordjournals.org/>; - The Yale Law Journal (Pago): <http://www.yalelawjournal.org/>; - Revista de Informação Legislativa: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/22>; - Revista Direito GV: <http://direitosp.fgv.br/publicacoes/revista/revista-direito-gv>; - Boston UniversityLaw Review (Pago): <http://www.bu.edu/law>; - Journal of International Economic Law: <http://jiel.oxfordjournals.org/>. Por fim, para quem quiser se aprofundar mais em questão de metodologia da pesquisa, há algumas obras nacionais e estrangeitas de relevo que podem fornecer indicações preciosas. Entre elas, encontram-se Como se Faz uma Tese, de Umberto Eco, autor italiano recentemente falecido; Como (Não) Se Faz um Trabalho de Conclusão: Provocações Úteis para Orientadores e Estudantes de Direito, de Salo de Carvalho, professor gaúcho de direito penal; e Metodologia jurídica: um roteiro prático para trabalhos de conclusão de curso, de Rafael Pesquisa {37} Mafei Rabelo de Queiroz, historiador do direito paulista. Cabe, no entanto, ressaltar que esses livros fornecem algumas indicações, trazem provocações e apontam caminhos que podem ser seguidos. Mas jamais poderão ser tomados como manuais no sentido estrito, em cujo seio estariam instruções perfeitamente adequadas à vivência. O caminho da pesquisa é, sobretudo, o da resolução de problemas imprevistos, o que significa que a criatividade é imprescindível nesses momentos; e, se a ciência se pretende efetivamente um (re)pensar crítico do mundo, não é pelo caminho das formas prontas que se construirá um direito efetivamente capaz de transformar a realidade. Pesquisa {38} 3 - Como Faço Para Publicar? A ciência é, antes de mais nada, um empreendimento coletivo; o estereótipo popular do “cientista maluco”, identificado como um senhor idoso e isolado, não corresponde, de forma alguma, às mais monernas concepções e às necessidades prementdes da produção do conhecimento. Com o crescimento gigantesco dos dados produzidos e a ampliação do espectro de indivíduos dedicados à criação do saber, gesta-se uma hiperespecialização em todos os campos do conhecimento, de modo que ninguém é mais capaz de poder falar sobre todos os aspectos relevantes de uma determinada área com propriedade; de fato, a velocidade com que as informações são geradas e circulam impossibilitam que qualquer um esteja satisfatoriamente informado sobre o estado da arte de toda uma disciplina. Por si só, essa constatação já seria suficiente para que se percebesse a necessidade incontronável de colaboração cerrada entre aqueles que trabalham em um campo específico do saber, mas há mais: ao se pensar em equipe, é mais fácil testar e refinar as ideias, e a discussão é talvez o meio mais eficaz de se colocar a prova uma determinada ideia; e isso não só na fase de apresentação aos pares, mas mesmo na própria fase de produção mais básica do conhecimento e na construção das ideias. A pesquisa – principalmente nas ciências naturais, com suas grandes equipes de laboratório, mas também nas humanas – é produzida nos melhores centros sempre em uma perspectiva dialogada, coletiva, por meio de grandes equipes: orientadores, pós-graduandos, estudantes de iniciação científica, dentro de uma universidade; ou redes de colaboração, entre várias instituições. É imprescindível, então, que as ideias, opiniões e propostas circulem da forma mais rápida e ampla possível, possibilitando a crítica e, também, que as conclusões e métodos empregados por alguém sirvam de base ou mesmo de inspiração para que outra pessoa promova um projeto análogo, ou que avance nos resultados obtidos pela pesquisa anterior. O momento de comunicação dos trabalhos produzidos pelos cientistas é, então, uma das fases mais importantes no processo de construção – sempre e indispensavelmente coletiva – do saber. A seguir, apresentamos, de forma resumida, como os resultados de pesquisa costumam circular, e de que formas os estudantes iniciantes podem publicisar os seus trabalhos. Esperamos também que estas informações possam servir de base para a escolha do local de publicação de seu trabalho. Nesse momento, é importante conhecer bem tanto o seu trabalho como as revistas disponíveis, de modo a perceber em que medida o seu texto se amolda ao veículo no qual ela aparecerá. O importante aqui é perceber que, como mecanismo de Pesquisa {39} comunicação que é, o artigo científico deverá aparecer no lugar que melhor facilite o seu acesso ao público-alvo pretendido; desta forma, também é relevante a definição deste. Assim, revistas publicadas na internet têm mais divulgação que as impressas; as de acesso aberto, que as pagas; as indexadas em bases de dado, que as que não, e assim por diante. As com tema específico tendema atrair indivíduos com pré-disposição por aquela área, aumentando, também, a chance de se alcançar os especialistas. Todos esses fatores também devem ser levados em conta. Além disso, a boa avaliação por instituições, como a CAPES, pode contribuir para aumentar a fama e, portanto, o universo de pessoas atingidas por um periódico. Além disso, cada revista tem um tempo distitno para processamento dos manuscritos, publicação dos númerso, dentre outras questões administrativas. Todas essas questões, quando confrontadas com o objetivo almejado com o artigo (influir na prática forense; ampliar uma discussão acadêmica; fazer revisão de literatura; conseguir pontos para um processo seletivo, etc.) devem ser ser levadas em conta no momento de se escolher qual deve ser o periódico para o que se submeterá um manuscrito. A análise deve considerar tanto a revista em particular quanto o trabalho escrito, de modo que os dados aqui apresentados pretendem apenas dar noções gerais para que cada um senha possibilidade de, munido desses recursos, decidir quais revistas estão mais de acordo com as particularidades de seus textos. 3.1. Revistas científicas. O principal meio de divulgação de pesquisas finalizadas são as revistas científicas. Estas são publicações periódicas, normalmente saindo com frequência semestral, mas podendo ser também anuais, ou então trimestrais, bimestrais, etc. Existe uma série de critérios desenvolvidos pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do Ministério da Educação, que vai ser trabalhada com maior rigor mais à frente) para definir o que pode ser considerado uma revista científica. São eles: editor responsável; conselho editorial; número de ISSN; avaliação por pares; periodicidade mínima anual; dentre outros. É importante conhecer os periódicos acadêmicos, tendo-se em vista que boa parte dos resultados de pesquisa são divulgados por esse meio; eventualmente, aqueles trabalhos de maior fôlego e com duração mais alongada se transformam em livros, mas o trato de questões mais pontuais, e que constituem o gosso do conhecimento acaba indo para as revistas. Também há os capítulos de livros coletivos, os quais têm características mais próximas dos artigos; mas há Pesquisa {40} uma movimentação da CAPES no sentido de diminuir a importância desse veículo, haja visto que eles não costumam ser disponibilizados online e tem circulação bem mais restrita. Com o advento da internet, boa parte dos periódicos brasileiros passou a ser publicada por meio da rede, e a não ser impressa: isso economiza os custos, em um primeiro momento, e amplia a capacidade e velocidade de difusão da informação, já que qualquer pessoa com acesso ao mundo virtual passa a poder assinar a revista, e não se precisa mais esperar a impressão e envio por correio do periódico para que os pesquisadores tenham acesso a eles. Quando disponibilizados online, as revistas acadêmicas tanto podem ser acessadas por via de pagamento, quanto de modo gratuito, no que se convencionou chamar de modelo open access. Neste, qualquer leitor pode ler os trabalhos sem custo algum, democratizando-se, assim, o acesso à ciência, já que não existem mais restrições quanto a valores
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