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UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 219 AAUULLAA 0077 EEQQUUIILLÍÍBBRRIIOO ÁÁCCIIDDOO--BBAASSEE EEMM SSOOLLUUÇÇÕÕEESS TTAAMMPPÃÃOO DDEE ppHH DEFINIÇÃO Em muitos experimentos de química, principalmente investigações bioquímicas, quando se deseja manter o pH de uma solução relativamente constante, durante todo o curso de uma reação que consuma ou produza H3O+, é necessário conduzir toda a reação em uma solução tampão. Uma solução tampão é uma solução relativamente concentrada de um ácido fraco e sua base conjugada. Se íons H3O+ são produzidos, eles reagem com a base para aumentar a quantidade de ácido conjugado, o qual também não participa da reação; se íons H3O+ são consumidos o ácido fraco ioniza para liberar mais prótons. O efeito é a resistência à variação no pH. CÁLCULO DE pH DE SOLUÇÃO TAMPÃO – EQUAÇÃO GERAL E EXATA Exemplo 1: Dado 1,0 L de solução contendo CA mol/L de ácido fraco HA e CS mol/L do sal NaA, dado Ka, descrever a equação geral e exata e a equação aproximada para o cálculo da [H3O+] de uma solução tampão. - Natureza química: NaA�Na++A- CS CS HA+H2O�H3O++A- ou A-+H2O�HA+-OH 2H2O�H3O++-OH - As expressões matemáticas do equilíbrio são dadas por: (1) Ka[HA]=[H3O+]x[A-] ou (1’) Kb[A-]=[-OH]x[HA] (2) Kw=[H3O+]x[-OH] b.m: (3) [Na+]=CS b.m.: (4) [HA]+[A-]=CA+CS b.c.: (5) [H3O+]+[Na+]=[-OH]+[A-] � (5) [A-]=CS+[H3O+]-[-OH] C.P.: (6) [H3O+]+[HA]=[-OH]+CA � (6) [HA]=CA+[-OH]-[H3O+] - Substituindo (5) e (6) em (1), tem-se a equação geral (7): Ka([-OH]-[H3O+]+CA)=[H3O+]([H3O+]+CS-[-OH]) (7) ][][ ])[][]([ 3 33 +− +−+ −+ +− = OHOHC OHOHCsOHK A a Observação: A soma das concentrações do ácido e da base conjugada é igual à concentração analítica da solução tampão, denominada C (CS+CA), que é o balanço de UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 220 massa. - A equação geral é uma equação do terceiro grau em [H3O+] e é obtida substituindo a equação (2) [-OH]=Kw/[H3O+] em (7) e obtendo a equação (8): Ka([H3O+]CA+Kw -[H3O+]2)=[H3O+](CS[H3O+]-Kw+[H3O+]2) Ka([H3O+]CA+KaKw-Ka[H3O+]2= CS[H3O+]2-Kw[H3O+]+[H3O+]3 (8) 0])[(])[(][ 32333 =−+−++ +++ wawAaSa KKOHKCKOHCKOH O cálculo do pH de uma solução utilizando a equação geral e exata (8) é trabalhosa de resolver. Aproximações (quais?) nas equações matemáticas de equilíbrio para ter uma equação matemática mais simples de resolver. CÁLCULO DE pH DE SOLUÇÃO TAMPÃO – EQUAÇÃO APROXIMADA - Observando as reações de equilíbrio (natureza química) e as equações (5) e (6) que são o balanço de cargas e a condição protônica. b.c.: (5) [A-]+[-OH]=CS+[H3O+] (5) [A-]=CS+[H3O+]-[-OH] C.P.: (6) [HA]+[H3O+]=CA+[-OH] (6) [HA]=CA+[-OH]-[H3O+] - Tem-se que a [H3O+] e [-OH] da solução são desprezíveis diante da concentração analítica de CA e CS, relativamente alta, uma vez que o ácido inibe a ionização da base e vice-versa. Assim, considerando que CS e CA são relativamente altas, pode-se fazer a seguinte aproximação, que é desprezar [H3O+]~0 e [-OH]~0 da solução, em (5) e (6). Assim: - Então, (6) se transforma em (6a): (6) [HA]=CA+[-OH]-[H3O+] (6a) [HA]=CA - E (5) se transforma em (5a): (5) [A-]=CS+[H3O+]-[-OH] (5a) [A-]=CS - Substituindo em (1), obtém-se a equação (9): (9) KaxCHA=[H3O+]xCNaA - Que rearranjada é a Equação de Henderson-Hasselbach. (9) NaA HAa C CKOH =+ ][ 3 Observação: O mesmo método pode ser aplicado a uma mistura de base fraca B e seu UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 221 sal BHCl. Fazer em casa e observar que mesmo sendo um tampão básico, pode-se fazer o mesmo raciocínio anterior. Sob a condição que [H3O+] e [-OH] são desprezíveis comparadas à concentração analítica, pode-se usar a equação aproximada: (9a) Bb BHw CK CK OH +=+ ][ 3 Assim, utilizando as aproximações, fazer os exemplos abaixo: Exemplo 2: Calcular o pH de uma solução tampão 0,02 mol/L equimolar (este tampão contém 0,01 mol de ácido acético e 0,01 mol de acetato de sódio por Litro de solução). Dados: Ka=1,75x10-5 e Kw=1,0x10-14 - As reações de equilíbrio (natureza química) são dadas por: NaAc�Na++Ac- HAc+H2O�H3O++Ac- 2H2O�H3O++-OH - As expressões matemáticas do equilíbrio são dadas por: (1) Ka[HAc]=[H3O+]x[Ac-] 1,75x10-5[HAc]= [H3O+]x[Ac-] (2) Kw=[H3O+]x[-OH] - As condições de equilíbrio são dadas por: b.m.: (3) [Na+]=0,01 b.m.: (4) [HAc]+[Ac-]=0,02 b.c.: (5) [Na+]+[ H3O+]=[Ac-]+ [-OH] - Substituindo (3) em (5) e adicionando (4), tem-se a condição protônica: 0,01+[ H3O+]=0,02-[HAc]+[-OH] C.P.: (6) [HAc]+[ H3O+]=0,01+[-OH] - Desprezar a ionização da água, ou seja, [H+]~0 e [-OH]~0 quando comparados a [HAc] em (5) e (6), tem-se: (5a) [Ac-]=0,01 mol/L (6a) [HAc]=0,01 mol/L - Substituindo (6a) em (4), tem-se: 0,01+[Ac-]=0,02 (4a) [Ac-]=0,01 mol/L - Substituindo (5a) e (6a) em (1), tem-se: (1) 1,75x10-5[HAc]=[H3O+]x[Ac-] Ka=[H3O+] [H3O+]=1,75x10-5mol/L pH=4,75 UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 222 Checando na Equação Geral: ][][ ])[][]([ 3 33 +− +−+ −+ +− = OHOHC OHOHCsOHK A a 5 7 510 5105 1075,1 0099825,0 1075,1 1075,11071,501,0 )1075,11071,501,0)(1075,1( − − −− −−− == −+ +− = x x xx xxxKa (ER=0%) Exemplo 3: Calcular o pH quando 0,001 mol de HCl é adicionado a 1,0 Litro de tampão do exemplo (2). O equilíbrio e o balanço de massa são os mesmos, mas o balanço de cargas tem um termo adicional para o íon Cl- do HCl, além do balanço de massa desse íon. - As reações de equilíbrio (natureza química) são dadas por: HCl+H2O →H3O++Cl- HAc+H2O� H3O++Ac- 2H2O�H3O++-OH - As expressões matemáticas do equilíbrio são dadas por: (1) 1,75x10-5[HAc]=[H3O+]x[Ac-] (2) Kw=[H3O+]x[-OH] B. m.: (3) [Na+]=0,01 mol/L B. m.: (4) [HAc]+[Ac-]=0,02 mol/L B. m.: (5) [Cl-]=0,001 mol/L B. c.: (6) [Na+]+[H3O+]=[Ac-]+[-OH]+[Cl-] - Desprezando [H3O+] e [-OH], em (6), já que a solução está relativamente concentrada quando comparados ao que se ioniza tem-se (6a). B. c.: (6a) [Na+]=[Ac-]+[Cl-] - Assim, substituindo (3) e (5), em (6a) tem-se (7): (7) [Ac-]=0,009 mol/L Observação: Comparando com a [NaAc]inicial=0,01 mol/L, após a adição de HCl, a [NaAc]final diminuiu 10% . - Substituindo (7) [Ac-]=0,009 mol/L em (4), tem-se (8): (8) [HAc]=0,011 mol/L Observação: A [HAc]final comparada à [HAc]inicial=0,01 mol/L, aumentou de 10% pela adição de HCl. - Aplicando (7) e (8) em (1) tem-se: (1) [H3O+]x0,009=1,75x10-5x0,011 [H3O+]=2,14x10-5 mol/L pH=4,67 Checando na Equação Geral: ][][ ])[][]([ 3 33 +− +−+ −+ +− = OHOHC OHOHCsOHK A a UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 223 5 7 510 5105 1076,1 011,0 1093,1 1014,21067,4011,0 )1014,21067,4009,0)(1014,2( − − −− −−− == −+ +− = x x xx xxxKa (ER=0,5%) DILUIÇÃO DE SOLUÇÕES TAMPÃO A equação de Henderson-Hasselbach (equação 9), informa que a [H3O+] e o pH da solução tampão é independente das concentrações de ácido e base conjugada, desde que a razão permaneça constante, ou seja, se a solução tampão for diluída, [H3O+] e o pH não serão alterados, já que a razão CHA/CNaA não se altera. Isto certamente não pode ser verdade em todas as concentrações, desde que se vai diminuindo a CA e CS até zero (diluição infinita)o pH tende a 7,0 (solução aquosa). Assim, com o aumento da diluição a [H3O+] e [-OH] da água não serão desprezíveis comparadas às concentrações CA e CS, da solução tampão. Então, partindo da equação (7), e dividindo por CS, após certo trabalho matemático: S S S Aa C OHOHCOH C OHOHCK ])[][]([][][( 333 +−++− +− = −+ SSs S S a S a S Aa C OH C OHOH C COH C OHK C OHK C CK 23333 ][]][[][][][ +−+++− +−=−+ SSS a S a S Aa C OH C OHOHOH C OHK C OHK C CK 233 3 3 ][]][[][][][ +−+ + +− +−=−+ SSS a S a S Aa C OH C OHOH C OHK C OHKOH C CK 2333 3 ][]][[][][][ +−+−+ + +−−=− 2 3333 ][]][[][][])[( +−+−++ +−−=− OHOHOHOHKOHKOH C CKC aa s Aa S ]][[][][][])[( 32333 OHOHOHKOHOHKOH C CKC aa S Aa S −+−+++ −−+=− ])[]([])[]([])[( 3333 +−+++ +−+=− OHKOHOHKOHOH C CKC aa S Aa S ])[]])([[(])[( 333 OHOHOHKOH C CKC a S Aa S −+++ −+=− )][]])([[(])[( 3333 + +++ −+=− OH KOHOHKOH C CKC wa S Aa S UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 224 Tem-se a equação (10) em termos de CS, que é uma função linear em função do pH: (10) )1][( )][]).([1][( 3 3 3 3 − −+ = + + + + S Aa wa S COH CK OH KOH OH K C Então, escrevendo a equação 9 em função CS e utilizando a equação (9), tem-se: (9) ][ 3 += OH CKC AaS (10) )1][( )][]).([1][( 3 3 3 3 − −+ = + + + + S Aa wa S COH CK OH KOH OH K C - Supondo uma solução tampão equimolar, tem-se que CS=CA nas equações (9) e (10), obtendo-se: (9a) aKOH =+ ][ 3 (10a) ][ ][ )][]).([][ ][( 3 3 3 3 3 3 + + + + + + − − + = OH OHK OH KOH OH OHK C a wa S A partir das equações (9a) e (10a) para uma mistura sal/ácido conjugados (A-/HA) dentro da razão unitária CS/CA, pode se fazer um gráfico de pH em função de –Log CS. - Na equação (9a) pode observar que: - Se [H3O+]>Ka o valor de CS fica indeterminado (porque o denominador é negativo). - Se [H3O+]<10-7 o valor de CS fica indeterminado (porque o numerador é negativo). CS tem valores positivos entre 10-7<[H3O+]<Ka. A partir das equações (9a) e (10a) obtém-se a Figura 1, o gráfico pH versus -LogCS, atribuindo-se valores para [H3O+] entre 10-7 mol/L e Ka para calcular CS (Figura 1). A Figura 1 mostra a relação de pH de uma solução tampão equimolar HAc/NaAc e a concentração do sal ou do ácido desse tampão. UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 225 Figura 1: Variação de pH de uma solução tampão acetato equimolar (pKa=4,75) em função CS (diluição). Notar que a equação (9a) (linha tracejada) pode ser usada somente quando se tem concentrações maiores até em torno de 1,0x10-3 mol/L. Com base na equação 10a, em soluções tampão diluídas abaixo de 1,0x10-3 até 1,0x10-6 mol/L a [H3O+] não é desprezível, e em concentrações abaixo de 1,0x10-8 mol/L a [-OH] também não é desprezível. Conclusão: - De modo geral, qualquer solução que seja sucessivamente diluída até “diluição infinita” terá o valor de pH tendendo ao pH do solvente (no caso da água, tende a pH=7,0). - Uma solução tampão, que tem como característica a não variação de pH em função da diluição, tem um limite de concentração a partir da qual a solução não será mais caracterizada como solução tampão. - No exemplo, o tampão acetato tem pH= 4,75 até CA=CS=10-3mol/L; em concentrações sucessivamente menores que 10-3 mol L-1, o pH começa a aumentar com a diluição, ou seja, não se pode desprezar [H3O+] no b.c. e C.P. - A equação aproximada para o cálculo de pH de solução tampão é muito útil, mas não pode ser aplicada quando: (a) o ácido é muito forte (porque a [H3O+] não é desprezível); (b) o ácido é muito fraco (a [-OH] não é desprezível); (c) e a concentração analítica é muito baixa. - As soluções usadas para tampão na prática, entretanto, geralmente preenchem as condições para a equação aproximada. O sistema tampão é escolhido de tal forma que UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 226 o ácido e base conjugados tenham concentração aproximadamente igual, o que dá um pH perto do pKa. Esta razão também dá a maior resistência à variação de pH. DETERMINAÇÃO DE CONSTANTES DE IONIZAÇÃO Entre outras aplicações as soluções tampão são utilizadas para a determinação de constantes de equilíbrio de ácidos e bases fracos. Então, partir da equação (7): ][][ ])[][]([ ][ ][][ 3 333 +− +−++− −+ +− == OHOHC OHOHCOH HA OHxAK A S a E em razão do valor de pH ser constante na solução tampão, pode-se medir o pH em um potenciômetro perfeitamente calibrado com soluções-padrão de pH. - A partir do pH medido na solução tampão, de concentração conhecida, tem-se {H3O+}; através do coeficiente de atividade transforma-se {H3O+} em [H3O+]; - Com a [H3O+], CA e CS conhecidos, calcula-se [-OH] a partir do produto iônico da água. - [HA] é calculado da equação (6): [HA]=CA+[-OH]–[H3O+] - [A-] é calculado a partir da equação (5): [A-]=CS-[-OH]+[H3O+]. Observação: Para obter a constante de equilíbrio teoricamente significativa, precisa-se aplicar as correções do coeficiente de atividade, ou então Ka precisa ser extrapolado à força iônica zero, Kao. CAPACIDADE TAMPÃO - ÍNDICE TAMPÃO (β) Uma solução de ácido fraco e sua base conjugada (sal) formam um sistema tampão na faixa de pH entre pKa±1, ou entre as razões Cs/CA 1:10 e 10:1, sendo observada a maior capacidade tampão quando a razão Cs/CA =1. No caso da titulação de ácido forte x base forte não se forma uma solução tampão, apesar da capacidade tampão ser bem grande em pH<2 e em pH>12. Foi visto no Exemplo (3) que um tampão resiste à mudança de pH quando um ácido forte é adicionado. Adicionando 0,001 mol/L de HCl o pH variou somente 0,08 unidades de pH. Uma medida da capacidade tampão é a quantidade de ácido forte ou base forte requerida para mudar o pH de uma quantidade específica. Quanto maior a quantidade de ácido ou base forte requerida, melhor é o tampão. UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 227 O índice tampão (β) foi introduzido por Van Slyke (J. Biol. Chem. 52, 525, 1922) e pode ser definida matematicamente como uma derivada. (11) dpH dCa dpH dCb −== β O símbolo de índice tampão é β, mas que não deve ser confundido com a constante de formação global que tem um índice numérico subscrito. A adição de uma quantidade infinitesimal de base forte (dCb) mols de base forte a 1,0 L de tampão aumenta a concentração do componente básico (acetato de sódio) por uma quantidade infinitesimal e igual a dCb às expensas do consumo do componente ácido (ácido acético) provocando com isso uma variação (aumento infinitesimal) do pH (dpH). Desde que a adição de ácido forte (dCa) produz o efeito inverso, ou seja, há uma diminuição infinitesimal do pH (dpH). Como β é um número positivo, utiliza-se o sinal negativo para indicar a diminuição de pH. O índice tampão de uma solução contendo diferentes espécies ácido-base têm uma forma simples que pode ser facilmente derivada diferenciando o balanço de carga. De acordo com van Slyke (1922), considerando uma solução (1,0 L) contendo Cb mol NaOH, Ca mol de HCl e C mol de um ácido fraco e sal da baseconjugada desse ácido fraco, ambos como HA e A-. - As reações de equilíbrio: NaOH+H2O�Na(H2O)++-OH HCl+H2O�H3O++Cl- HA+H2O�H3O++A- 2H2O�H3O++-OH - As expressões matemáticas do equilíbrio são: (1) Ka[HA]=[H3O+]x[A-] (2) Kw=[H3O+]x[-OH] - Balanço de massa: (3) [Na+]=Cb (4) [Cl-]=Ca (5) [HA]+[A-]=C - Balanço de carga: (6) [Na+]+[H3O+]=[A-]+[-OH]+[Cl-] - Para se achar a [A-], combina-se (1) e (5) e tem-se (7): Ka(C-[A-])=[H3O+]x[A-] KaC-Ka[A-]=[H3O+]x[A-] UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 228 CKa=[H3O+]x[A-]+Ka[A-]=[A-]x([H3O+]+Ka) (7) ][ ][ 3 + − + = OHKa CKaA Substituindo (2), (3), (4) e (7) em (6) tem-se a equação (8) que deve ser derivada em função de [H3O+]: (8) ][][][ C C 333ab + + + + +−+= OHK CKOH OH K a aw O índice tampão é obtido por diferenciação da equação (8) pela regra da cadeia, obtendo-se a equação (12). Tratando β como uma derivada com relação ao pH, tem- se: dpH dC dpH dC ab −== β , pode ser reescrita assim como na equação (12): (12) dpH OHd OH dC dpH dC bb ][ .][ 3 3 + + ==β - Derivando primeiramente o segundo termo da equação diferencial (12) tem-se: ][ 303,2 1][ pH 33 ++ −=−= OHLnOHLog pHOHLn 303,2][ 3 −=+ pHeOH 303,23 ][ −+ = ][303,2303,2][ 3303,23 +− + −=−= OHe dpH OHd pH - Obtendo-se a equação (13): (13) ][][303,2 ][ .][ 33 3 3 + + + + −=== OHd dCOH dpH OHd OH dC dpH dC bbbβ - Derivando o primeiro termo da equação diferencial (12) em função de [H3O+] mantendo Ca constante, tem-se (14): (14) 2 3 2 33 ])[(1][0][ +++ +−−−= OHKa CK OH K OHd dC awb - Aplicando a expressão acima (14) em (13), tem-se a expressão desejada para o índice tampão: UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 229 (15) )])[( ][ ][]([303,2 23 3 3 3 + + + + + ++= OHK OHCK OH KOH a awβ - Então, quando se conhece o pH do tampão, calcula-se o índice tampão pela substituição direta na equação (15). Os dois primeiros termos resultam do efeito tampão da água (ou do ácido forte ou base forte) e o terceiro termo resulta do efeito tampão do par ácido-base conjugado. Uma relação idêntica é obtida para o índice tampão de uma base fraca B e seu par conjugado ácido BH+, sendo Ka a constante de dissociação do ácido BH+. Exemplo 4: Utilizando β, calcular o pH quando 0,001 mol de HCl são adicionados a 1,0 L de solução tampão do exemplo 1. No exemplo 1 foi encontrado que o pH=4,75, ou [H3O+]=1,75x10-5 mol/L. A concentração total do tampão de ácido acético/acetato de sódio é 0,02 mol/L. Da equação (13) calcula-se β: β = 2,303(1,75x10-5+5,7x10-10+4,98x10-3)=1,15x10-2 A mudança de pH é calculada a partir de índice tampão: Se: )( )( pHd Cd a− =β Se as diferenciais estão aproximadas por pequenas diferenças, a mudança no pH é dada por: ∆pH=-∆Ca/β =1,0 x10-3/1,15 x10-2=-0,087 Assim, o pH do tampão após a adição de ácido forte é: pH = 4,75-0,087=4,66 Que está de acordo com a resposta do exemplo 1, dentro da faixa de erro. De um modo geral, para poliácidos, ou para mistura de vários ácidos, aplica-se expressão semelhante: (14) ...)])[( ][ ])[( ][ ][]([303,2 23 3 2 31 3 3 3)( 2 21 + + + + ++= + + + + + + OHK OHCK OHK OHCK OH KOH a a a aw aqAHn β A expressão acima indica que a capacidade tampão é uma propriedade cumulativa. No caso de poliácidos, cujas constantes são muito próximas, a expressão acima pode UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 230 não ser muito exata, mas serve para análise da capacidade tampão. Com base na equação geral do índice de capacidade tampão (β) foram construídas as figuras que se seguem: Na Figura 2, pode se observar que: Figura 2: Capacidade tampão do sistema ácido-base HAc/NaAc 0,1 mol L-1 em função do pH. 1) Na faixa de pH=4,75±1 ocorrem as maiores capacidades tampão do acetato/acético (pKa=4,75), quando as concentrações da ácido acético e acetato de sódio são iguais. 2) O índice tampão mínimo é obtido para ácido acético sozinho (pH=2,88) e acetato de sódio sozinho (pH=8,88). Em torno de pH 2,88 ocorre uma capacidade tampão resultante de pequena contribuição de acetato proveniente da ionização do ácido acético. 3) Para obter soluções mais ácidas que pH=2,88 é necessário adicionar ácido forte, e assim há um aumento muito grande no índice tampão em torno de pH 2. 4) Para obter soluções mais básicas que pH=8,88 é necessário adicionar base forte e o aumento do índice tampão em pH em torno de 12,0 reflete o aumento na concentração de base forte. 5) justamente a região de pH do ponto final (salto) na curva de neutralização do ácido acético (dosagem alcalimétrica) é onde o índice é mínimo. 1 3 5 7 9 11 13 0 5 10 β x 10 0 pH UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 231 6) Tanto na região ácida (pH<2) como na região alcalina (pH>12), as capacidades tampão são muito elevadas, mas nestas regiões, nem o ácido acético, nem o acetato, respectivamente contribuem, significativamente, para a capacidade tampão da solução. No sistema tampão amoniacal (Figura 3) a maior capacidade tampão se dá na faixa de pH=9,26±1, enquanto que na faixa de pH de 4 a 6 esta capacidade é mínima (~0), justamente onde ocorre o salto de pH da titulação de NH3 com HCl (dosagem acidimétrica). Figura 3: Capacidade tampão do sistema ácido-base NH3/NH4Cl 0,1 mol L-1 em função do pH. 1) Também no ramo ácido (pH<2) e no ramo alcalino (pH>12) o índice tampão (β) é elevado. 2) Em torno de pH=11, ocorre uma capacidade tampão resultante da pequena contribuição da amônia/amônio somada com a pequena contribuição da base forte ([HO-]). 3) Isto serve para confirmar que a capacidade tampão é uma característica da solução e não apenas da conjugação ácido-base, como por exemplo, acetato/acético, amônia/amônio. No caso de poliácidos ou poli-aminas o que ocorre é uma coisa semelhante; as contribuições individuais são somadas para ser obtida a capacidade tampão da solução, assim como no caso de monoácidos as contribuições do ácido fraco, do ácido forte e da base forte é somada. Na Figura 4 tem-se o sistema tampão para o ácido ftálico. Pode se observar que há dois sistemas tampão referentes ao pH=pKa1±1 e pH=pKa2±1, com seus respectivos índices tampão (β); porém o interesse é o sal anfiprótico de potássio (bftalato de 0 2 4 6 8 10 12 14 0 5 10 β x 10 0 pH UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 232 potássio), que não é um sistema, mas é um padrão primário e tem capacidade tamponante em pH 4,0 (β= 2,5x10-2). Por isso esta solução é utilizada para ajustar o pH em 4,0 nos potenciômetros, e pode ser obtido comercialmente como padrão de pH. Figura 4: Capacidade tampão do sistema tampão do ácido ftálico/biftalato/ftalato 0,1 mol L-1 em função do pH. No sistema tampão do fosfato (Figura 5), pode se observar que: pKa1=2,2; pKa2=7,2; pKa3=12,3, pode ser observado que devido aos valores de seus pK’s, a faixa ácida se confunde com a faixa de pKa1 ±1e a faixa alcalina com a faixa de pKa3±1, restando apenas a faixa de pKa2±1 como sendo a faixa de tampão exclusiva do fosfato, ou seja, onde predominam as espécies H2PO4-/HPO4=. Figura 5: Capacidade tampão do sistema fosfato 0,1 mol L-1 (H3PO4/H2PO4-/HPO42- /PO43-) em função do pH. 1 3 5 7 9 11 13 0 5 10 β x 10 0 pH 1 3 5 7 9 11 13 0 5 10 β x 10 0 pH UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 233 PADRÕES DE pH Existem dois organismos internacionais que estabelecem padrões analíticos que podem ser comercializados, entre eles os padrões de pH: NIST (National Institute of Standards and Technology – USA) e BSI (British Standard Institute - England). Entre eles podem ser destacados dois padrões utilizados em calibração de medidores de pH, por exemplo. São: (1) Solução de biftalato de potássio 0,0500 mol/L, utilizado como padrão de pH=4,008. (2) S solução de KH2PO4 0,025 mol/L + Na2HPO4 0,025 mol/L, utilizado como padrão de pH=6,865. Estes valores de pH podem ser calculados com boa aproximação usando a teoria moderna da dissociação eletrolítica, como destacado nos exemplos abaixo: CÁLCULO DO pH POTENCIOMÉTRICO Toda e qualquer solução tampão ou salina, por natureza, é uma solução com forte concentração eletrolítica. Nestes casos, a correção dos cálculos de equilíbrio será sempre necessária para se calcular o valor real (ou experimental) do pH. Exemplo 5: Calcular o pH ideal (Sörensen – sem considerar a força iônica) e o pH potenciométrico de uma solução composta por KH2PO4 0,025 mol/L mais Na2HPO4 0,025 mol/L. Dado: pKoa2=7,20 Koa2=6,31x10-8 Em termos ideais, verifica-se que a razão sal/ácido é igual a 1, e que estas duas espécies são predominantes na solução, ou seja, as frações de H3PO4 e de PO4-3 são desprezíveis, portanto: pH=pKoa2=7,20 (cálculo ideal - Sörensen) Koa2=10-7,20=6,31x10-8 - A medida potenciométrica do pH desta solução tem o valor de 6,865 (padrão NIST), sendo esta medida de pH é igual a –Log{H3O+}. Assim, tem-se que fazer a correção da constante, uma vez que as soluções usadas na preparação do tampão são sais iônicos UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 234 que se dissociam totalmente em solução aquosa, conferindo à solução uma determinada força iônica. Assim: − − = =+ − =+ == γ γ ].[ ].}.[{ }{ }}.{{ 42 43 42 43 2 POH HPOOH POH HPOOHK ao Observar que, na expressão acima, que não há necessidade de corrigir o valor de {H3O+} para calcular o pH potenciométrico (- Log {H3O+}). O cálculo da força iônica é necessário para se calcular os coeficientes de atividade. KH2PO4 � K+ + H2PO4- 0,025 0,025 Na2HPO4 � 2Na+ + HPO4= 0,05 0,025 1,0 2 ])2]([)1]([)1]([)1]([ 2424222 = −+−++++ = =−++ HPOPOHNaKI - Substituindo na expressão de equilíbrio a constante termodinâmica (pK0a2=7,20) e os valores dos coeficientes de atividade tabelados em força iônica 0,1 mol L-1, f - = 0,770 e f= =0,355 )770,0).(025,0( )355,0).(025,0}.({10 3 20,7 +− = OH = +}{ 3OH 1,365 x 10-7 mol/L pH=6,865 Outro modo de resolver o problema acima: Corrigindo a constante para I= 0,1: ][/10645,1 770,0 355,083,010 372 20,7 2 +− − ==== OHLmolxxxKK aa {H3O+}=1,645x10-7x0,83=1,365x10-7mol/L pH= 6,865 Exemplo 6: Calcule o pH ideal e o pH potenciométrico de uma solução contendo 0,0500 mol/L de hidrogenoftalato de potássio (KHA) usando as melhores constantes de dissociação Koa1=1,123x10-3 e Koa2=3,906x10-6 Neste exemplo, por se tratar de um hidrogenossal derivado de um ácido fraco com constantes relativamente próximas, será necessário, preliminarmente, fazer um cálculo exato das concentrações de equilíbrio de todas as espécies em solução (método sistemático). - Reações de equilíbrio: KHA�K++HA- H2A+H2O�HA-+H3O+ UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 235 HA-+H2O�A2-+H3O+ 2H2O�-OH+H3O+ - Expressões matemáticas do equilíbrio: (1) Ka1[H2A]=[H3O+]x[HA-] (2) Ka2[HA-]=[H3O+]x[A=] (3) Kw=[H3O+]x[-OH] Balanço de massa (em potássio): (4) [K+]=0,05 mol/L Balanço de massa (em ftalato): (5) [H2A]+[HA-]+[A2-]=0,05 mol/L Balanço de carga: (6) [H3O+]+[K+]=[HA-]+2[A2-]+[HO-] Condição Protônica: (7) [H3O+]+[H2A]=[HO-]+[A2-] - Na condição protônica, desprezando a [-OH] da água (desprezível porque o meio é ácido) e substituindo [H2A] (equação 1) e [A2-] (equação 2) em função de [HA-], e considerando que [HA-] ioniza pouco; então [HA-]=C, tem-se a equação (15): [H3O+]+([H3O+]C)/Ka1=Ka2C/[H3O+] Ka1[H3O+]2+[H3O+]2C= Ka1Ka2C [H3O+]2(Ka1+C)= Ka1Ka2C [H3O+]2=Ka1Ka2C/(Ka1+C) 1 2123 ][ a aa KC CKKOH + = + - A próxima etapa é corrigir as constantes de equilíbrio. Considerando que C=[KHA]=0,05 mol/L tem-se: I=½ ([K+]x12+[HA-]x12)= ½ [0,05x(+12)x0,05]x(-12)]= 0,05 Observação: Os coeficientes de atividade (mais adequados) foram calculados pela equação de Davies (Butler, 1966), e estão destacados abaixo: f+=f-=0,812 f==0,44 0 f0=1 - Correção das constantes de equilíbrio: Koa1={H3O+}x{HA-}/{H2A} Koa1=Ka1f+xf-/fo 1,123x10-3=Ka1(0,812 x 0,812)/1 Ka1=1,70x10-3 Koa2={H3O+}x{A2-}/{HA-} Koa2=[H3O+] f+ x [A2-] f=/[HA-] f- = Ka2f+xf=/f- 3,906x10-6 = Ka2 (0,812 x 0,44)/0,812 Ka2=8,88 x10-6 Observação: A correção das constantes de equilíbrio foi feita porque nessa força iônica não se pode utilizar as constantes de equilíbrio termodinâmicas. Assim, têm-se as constantes de equilíbrio cinéticas (em função da concentração). UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 236 Então: Ka1=1,70x10-3 e Ka2=8,88x10-6 - Substituindo estes valores na expressão exata (equação 15) obtém-se: [H3O+]2=Ka1xKa2C/(Ka1+C) [H3O+]=1,21 x10-4 mol/L - Como o pH potenciométrico é medido em atividade,tem-se que: pH=-Log {H3O+} pH=-Log (f+ x[H3O+])=-Log(0,812x1,21 x10-4) pH=4,008 Observação: 1) Comparar este valor com o valor do pH ideal (- Log [H3O+]) obtido no cálculo ideal (4,18). 2) Com estes dois exemplos, (5) e (6), fica evidente que existe a necessidade de corrigir os cálculos de equilíbrio sempre que operamos com soluções padrões de pH.
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