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DIREITOS HUMANOS E FUNDAMENTAIS DE MÃES E BEBÊS NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

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DIREITOS HUMANOS E FUNDAMENTAIS DE MÃES E BEBÊS 
NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO�
Angélica da Silva Corrêa�
Daniela Richter�
1. INTRODUÇÃO
Inicialmente, tem-se que ressaltar que quando se fala em direitos maternos, está-se envolvido com duas realidades extremas: a da mãe e a do bebê. No assunto que será analisado, entra-se em um processo muito mais complexo, pois além da relação materna tem-se a privação da liberdade e o ambiente penitenciário como questão. Neste contexto, o encarceramento feminino problematiza a questão dos direitos maternos, na maioria das vezes, desconhecidos ou desrespeitados pelo sistema prisional brasileiro. 
Na particularidade que se reconhece as especificidades e as diferenças femininas dentro do sistema prisional, é necessário que as políticas públicas e os instrumentos legais e normativos façam as instituições atentarem para essa realidade, cumprindo e garantindo os direitos e princípios da dignidade humana que é devido às mulheres gestantes, pelas garantias constitucionais e aos bebês, pela proteção integral ostentada a eles, mesmo em situação de reclusão. Destaque-se também que lhes é devido o amparo social durante e após a gestação. Identifica-se, assim, uma situação complexa na relação dos direitos maternos “atrás das grades”, do qual se deve impor uma efetivação do Estado no cumprimento de ações e acomodamento do choque de princípios em questão. 
	
2. OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivos gerais abordar os direitos maternos das mulheres presas no Brasil baseado na legislação brasileira. Especificamente, quer-se apresentar o direito ao acompanhamento da gestação e pós-parto da mãe e do bebê, o direito de amamentação e o tempo de permanência do bebê com a mãe após o nascimento, o momento da separação, sendo citadas as “Regras de Bangkok”, conforme a ONU (Organizações das Nações Unidas) sobre os direitos maternos das mulheres presas no Brasil com a consequente análise do choque de princípios envolvidos, qual seja, o fato de se respeitar os direitos da mãe ou se há o dever de respeito ao bebê pelo princípio da convivência familiar, e, ainda, como fica, nesta situação, o direito de convivência comunitária do bebê.
3 METODOLOGIA
Para a realização deste trabalho será utilizado o método de pesquisa dedutivo, tendo como método de procedimento o bibliográfico, através de trabalhos científicos, artigos, pesquisas realizadas, autores em geral, a legislação vigente no país e as normas asseguradas pela ONU em relação aos direitos fundamentais da pessoa humana, por ser mais adequada a abordagem dos temas que se apresenta. Não se tem como objetivo, uma resposta sobre o assunto, pois se pretende conhecer e discutir sobre os direitos maternos das mulheres presas.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 O DIREITO AO ACOMPANHAMENTO DA GESTAÇÃO E PÓS-PARTO DA MÃE E DO BEBÊ.
Conforme (art. 14.§3° da Lei n° 7210/84, com alterações da Lei n° 11942/09) “será assegurado acompanhamento médico à mulher no pré-natal e no pós-parto, extensivo ao recém-nascido”, o direito a saúde é garantido e deve ser usufruído por todas as mulheres, sendo privada ou não de liberdade�. O pré-natal é o mais importante procedimento para identificar problemas de saúde da mãe e do bebê. Deve ser exigida uma atenção especial neste período, como boas condições de higiene e alimentação, priorizando também o fator psicológico quando a realidade é a reclusão durante o período gestacional, “Incube ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal” (art. 8°, §4° da Lei 8.069/90, com alterações da Lei n°. 12.010/2009). Dentro dessa e de tantas outras especificidades garantidas por lei, à questão da maternidade na prisão exige uma política pública de ação e respeito aos direitos humanos. 
A realização do parto em condições dignas é um dos temas a ser apontado como fundamentais. A mulher deve ser atendida no momento do parto, com todas as condições provenientes e necessárias. É proibido o uso de algemas ou qualquer outro tipo de coerção que dificultem ou prejudiquem a gestante. Conforme (ONU, 2010) “Não serão utilizados meios de coerção no caso de mulheres que estejam por dar a luz nem durante o parto nem no período imediatamente posterior”. A 65° Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) apresenta regras específicas que tratam da garantia dos direitos femininos no cárcere�.
Apresentada a discussão, passa-se ao segundo ponto de fulcral importância, qual seja a questão da amamentação e o tempo de permanência.
A amamentação é primordial na relação afetiva entre mãe e filho assim como na nutrição dos recém-nascidos. Mesmo na situação da reclusão penitenciária, as mulheres e as crianças têm o direito assegurado conforme artigo 5°, inciso L, da C.F/1988 (LENZA, 2012). O aleitamento materno previne uma série de doenças infectocontagiosas, e contribui para o desenvolvimento da criança, a não ser que a mãe apresente restrições de saúde, “Não se impedirá que as presas amamentem seus filhos, a menos que haja razões médicas concretas para tal” (Regras Mínimas para Tratamento de Mulheres Presas’’ONU/2010). Sendo assim devem ter acompanhamentos médicos, condições de alimentação e higiene, dentro de um local adequado para realizar a amamentação.
O direito à amamentação é até os seis meses de idade do bebê. Compreende-se que os primeiros seis meses após o parto marcam um período significativo de vinculo mãe-bebê, podendo determinar a qualidade efetiva que irá estabelecer posteriormente (Maldonado, 2002). Embora a mãe não possa alimentar a criança por restrições médicas, ela terá o direito de permanecer com o filho até os seis meses de vida. A legislação declara que os presídios que abrigam mulheres devem ser adotados de berçário. Assim conforme a Lei 11.942/2009, artigos 14,83 e 89 da Lei de Execução Penal preveem [...] a exigência de que as penitenciárias femininas sejam dotadas de seção para gestante e parturiente e de creche para abrigar crianças maiores de seis meses e menores de sete anos, com a finalidade de assistir à criança desamparada cuja responsável estiver presa, tendo em vista a proteção integral da criança. 
Feito isso, desdobra-se, na sequência, na análise da separação da convivência familiar.
4.2 O MOMENTO DA SEPARAÇÃO ENTRE MÃE E FILHO.
O momento de separação da mãe encarcerada e do filho é muito delicado para ambos. Embora a legislação vigente da Lei n° 11.942/2009, que garante o direito de permanecer com filhos menores de sete anos quando estes não tiverem outros responsáveis que possam assumir a sua guarda no período que à mãe estiver sob custódia judicial. Em contrapartida surge à polêmica em torno dos efeitos psicológicos e emocionais tanto para as crianças quanto para as mulheres na ocasião da saída dos cuidados maternos. Conforme (Revista Liberdade, 2012 ed. n°9, 2012), è neste momento que todos referenciais familiares indicados pela mãe como possibilidades de cuidado e proteção devem ser elencados e consultados, com devido informe posterior à Vara de Infância e Juventude, responsável pelos trâmites legais da guarda provisória da criança. Essa medida nem sempre se torna possível, então cabe ao Ministério Público averiguar e decidir o destino do convívio ou afastamento familiar.
 Muitas vezes, as crianças passam a ter a prisão como sua casa, por isso o ECA assegura que [...] é direito da criança o acesso à escola pública gratuita perto de sua residência (53, V,) e dever do Estado o atendimento de crianças em creches e pré-escolas(54, V). Além disso, o direito à liberdade da criança em participar da vida comunitária sem discriminações (artigo 16, V) , bem como o de se desenvolver longe de situações humilhantes e degradantes, como preconiza o art. 18 do mesmo diploma legal. (ISCHIDA, 2010)
 As “Regras de Bangkok” estabelecem critérios a ser cumpridos nos casos de presas com filhos, ou que aindaestão no período gestacional: 
Para tanto a autoridade policial deve questionar a mulher sobre a existência de filhos e os possíveis familiares que possam cuidar da criança ou residindo estes em outras localidades, deve-se colocar a mãe em liberdade para que ela possa providenciar os arranjos necessários aos cuidados dos filhos. (Regras 3, Regras mínimas da ONU para tratamentos de mulheres presas, 2010).
Os vínculos afetivos entre a mãe e seus filhos devem ser respeitados, sendo previsto nas “Regras de Bangkok” [...] o local deve ser sempre aquele mais próximo a sua residência [...] (Regra 4).Segundo a Convenção dos Direitos da Criança, “todas as ações relativas às crianças, levados a efeito por autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar primordialmente , o interesse maior da criança”( artigo 3.1 da Convenção de Direitos da Criança,1989). 
[...] àquelas mulheres que têm filhos em tenra idade ou fase de amamentação sempre que a unidade prisional não oferecer as condições necessárias à efetivação do convívio familiar entre mãe e filho, cuida-se de interpretação informada pelo fundamento da dignidade humana (artigo1°, III, CR) e pelo principio absoluto da criança. (ONU, 1989).
Cabe ainda lembrar (Cartilha Mãe no Cárcere, 2010), que existem políticas públicas de acolhimento que garantem o direito a manutenção dos vínculos afetivos da mãe e seus filhos mesmo em ambiente prisional. Isso infere na proteção dos direitos de dignidade humana previsto na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
5. CONCLUSÕES
Por meio da pesquisa realizada, observou-se que os direitos maternos no sistema prisional brasileiro necessitam de políticas efetivas de ação para que possam ser executados e respeitados, predominando o direito fundamental da pessoa humana, estabelecido pela Constituição Federal Brasileira (artigo 5°) e as Regras Mínimas da ONU para o tratamento das mulheres presas.
 Dessa forma, entendeu-se que o direito a uma gestação assistida por um profissional da saúde dentro das condições higiênicas e alimentícias recomendadas, assim como a amamentação dentro de um local reservado para a mãe e o bebê, é de extrema importância para evitar uma série de efeitos psicológicos e emocionais futuros. Ademais, deve-se levar em consideração, o momento da separação dos cuidados maternos, já que o direito à convivência familiar e comunitária é garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, devendo o menor de idade receber prioridade absoluta no seu tratamento.
Identificou-se, pois, um fator complexo à prática dos direitos constituintes e fundamentais das mulheres presas no Brasil. Quando o foco é a maternidade, os presídios não estão aptos a dar assistências à mãe e ao filho e, portanto, políticas públicas devem ser aplicadas e fiscalizadas no intuito de promover uma proporcionalidade entre os direitos em choque, pois de um lado, se tem o direito do bebê à convivência materna e, de outro, o fato dele possuir o direito de crescer e se desenvolver longe de ambientes degradantes.
REFERÊNCIAS 
CARTILHA MÃE DO CÁRCERE. Defensoria Pública de São Paulo, 2010.
CONJUR. A delicada relação entre os direitos da criança e a lei. Disponível em www.conjur.com.br. Acesso em 05/11/2012
ISCHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2010.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2012.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Disponível em http://www.onu.org.br/. Acesso em 09/11/2012.
MALDONADO, Tereza. Psicologia da Gravidez e da Maternidade, 1981.
Revista Liberdades. Disponível em www.revistaliberdade.com.br. Acesso em 02/11/2012.
VI MOSTRA ACADÊMICA DA FAMES e I SEMINÁRIO DE DIREITOS HUMANOS 
Sustentabilidade e Ações Afirmativas 
� Artigo produzido a partir das discussões do grupo de estudos da Cátedra de Direitos Humanos da FAMES, coordenada pelos Professores Daniela Richter e Luís Carlos Gehrke.
� Acadêmico do Curso de Direito da Faculdade Metodista de Santa Maria. Membro da Cátedra de Direitos Humanos da FAMES. E-mail:angelica1418@gmail.com
� Professora orientadora, Advogada, Professora de Direito Civil, Constitucional e de Direito da Criança e do Adolescente da UNISC, do Centro Universitário Franciscano-UNIFRA, e da Faculdade Metodista de Santa Maria, Especialista em Direito Constitucional, Mestre em Direito, integrante do grupo de pesquisa Direito, Cidadania e Políticas Públicas da UNISC e do Grupo de Pesquisa Teoria Jurídica no Novo Milênio, da UNIFRA. Coordenadora Adjunta da Cátedra de Direitos Humanos da FAMES. Endereço eletrônico: danielarichter@ibest.br
� Situação que é reiterada no ECA, art. 8º. 
� As chamadas “Regras de Bangkok” é um documento aonde é constituído um avanço expressivo na construção de diretrizes no atendimento de mulheres, já que as “Regras Mínimas para o Tratamento de Presos” da ONU, existentes há mais de 50 anos não davam respostas suficientes para as peculiaridades da mulher. (Cartilha mães no cárcere, 2010 página 2).

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