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CASOS CLINICOS EM PSIQUIATRIA pdf

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Casos Clínicos 
em Psiquiatria Sumário
Editorial..................................................................................................1
Auto-relatos
Fé e vida sem vida até ...............................................................................3
Nasci e morri louco...................................................................................6
Artigos Originais
Sintomas psiquiátricos na doença de Parkinson avançada .....................9
Antonio L. Teixeira-Jr, João V. Salgado
Abuso de substância psicoativa: relato de três casos...............................12
José Antônio Zago, Sérgio Augusto Monteiro dos Santos, José Carlos Salzani
Um caso de dependência alcoólica e suas possíveis relações com o 
trabalho: um estudo de psicopatologia do trabalho................................16
Lílian Erichsen Nassif
Um caso clínico de esquizofrenia paranóide e possíveis implicações 
com o trabalho...........................................................................................22
Mauro Nogueira Cardoso, Rafael Alvarenga Cosenza, Ricardo Argemiro Franco, 
Ada Ávila Assunção
Parafrenia fantástica é esquizofrenia?........................................................27
João Vinícius Salgado, Antônio Lúcio Teixeira-Jr., Ronan Rodrigues Rêgo
Reação esquizofrênica em paciente indígena.............................................30
Maximiliano Loiola Ponte de Souza
Transtornos alimentares em discussão multidisciplinar ............................33
José Carlos Souza, Paulo André Machado Borges, Rosângela dos Santos Ferreira, 
et al.
Transtorno de conduta hipercinética: diagnóstico, abordagem 
ludoterápica e conduta terapêutica abrangente ........................................38
Marcelo Calcagno Reinhardt, Ceres Leonor Tavares Guedes
Sessão Especial de Casos Clínicos 
XX Congresso Brasileiro de Psiquiatria ....................................................45
Coordenação: Hélio Elkis, Maurício Viotti Daker 
Casos Literários
Natal, mais uma vez ..................................................................................89
Centenário de Pedro Nava e a Psiquiatria...............................................89
Doncovim, Proncovô, Oncotô .................................................................91
Caso Histórico
Um caso de hebefrenia descrito por Hecker ...........................................92
Homenagem
Obituário do Dr. Hélio .............................................................................94
Index CCP ............................................................................................95
Normas de Publicação ................................................................96
Casos Clin Psiquiatria 2002; 4(1,2):1-96
UMA PUBLICAÇÃO DO Departamento de Saúde
Mental da Faculdade de Medicina da UFMG e da
Associação Acadêmica Psiquiátrica de Minas
Gerais – AAP-MG, Federada da Associação
Brasileira de Psiquiatria - ABP
Conselho Editorial
André Lúcio Pinto Coelho Stroppa (Residência UFJF strop-
pa@medician.ufjf.br) • Carlos Eduardo Leal Vidal
(Residência Barbacena – FHEMIG celv@uol.com.br) •
Cláudio Costa (Residência Centro Psicopedagógico –
FHEMIG clcosta@uai.com.br) • Guilherme Gregório
(Residência UFU ggregório@ufu.br) • Hélio Lauar
(Residência Instituto Raul Soares – FHEMIG
lauar2000@uol.com.br) • Humberto Campolina França Jr.
(Associação Acadêmica Psiquiátrica de Minas Gerais –
AAP-MG hcampolina@globo.com) • Maria Cristina de
Oliveira Contigli (Associação Mineira de Psiquiatria –
AMP amp@psiquiatriamg.org) • Maurício Viotti Daker
(Residência UFMG e AAP-MG, Coordenador do Conselho
Editorial daker@medicina.ufmg.br) • Paulo José Teixeira
(Residência IPSEMG teixeirapaulo@uol.com.br)
Comissão Editorial
Alexandre Lins Keusen • Alfred Kraus • Antônio Márcio
Ribeiro Teixeira • Betty Liseta Marx de Castro Pires •
Carlos Roberto Hojaij • Carol Sonenreich • Cassio
Machado de Campos Bottino • Cleto Brasileiro Pontes •
Delcir Antônio da Costa • Eduardo Antônio de Queiroz •
Eduardo Iacoponi • Erikson Felipe Furtado • Fábio Lopes
Rocha • Flávio Kapczinski • Francisco Alonso-Fernández •
Francisco Baptista Assumpção Jr. • Francisco Lotufo Neto
• Hamilton Miguel Grabowski • Hélio Durães de Alkmin •
Helio Elkis • Henrique Schützer Del Nero • Irismar Reis de
Oliveira • Jarbas Moacir Portela • Jerson Laks • John
Christian Gillin • Jorge Paprocki • José Alberto Del Porto •
José Carlos Rosa Pires de Souza • José Raimundo da Silva
Lippi • Luis Guilherme Streb • Luiz Alberto Bechelli
Hetem • Michael Schmidt-Degenhard • Marco Antônio
Marcolin • Maria Elizabeth Uchôa Demichelli • Mário
Renato Villefort de Bessa • Mário Rodrigues Louzã Neto •
Miguel Chalub • Miguel Roberto Jorge • Olavo Pinto •
Osvaldo Pereira de Almeida • Othon Coelho Bastos Filho •
Paulo Dalgalarrondo • Paulo Mattos • Pedro Antônio
Schmidt do Prado Lima • Pedro Gabriel Delgado • Ricardo
Alberto Moreno • Roberto Piedade • Ronaldo Simões
Coelho • Sérgio Paulo Rigonatti • Saulo Castel • Sylvio de
Magalhães Velloso • Talvane Martins de Moraes • Tatiana
Tscherbakowsky de Guimarães Mourão
Diretor Executivo
Amadeu Roselli-Cruz
Editora
Cooperativa Editora e de Cultura Médica Ltda (Coopmed)
Capa, projeto gráfico, composição eletrônica e produção
Folium Comunicação Ltda
Periodicidade: semestral
Tiragem: 5.000 exemplares
Correspondência e artigos
Coopmed
Casos Clínicos em Psiquiatria
Av. Prof. Alfredo Balena, 190
30130-100 - Belo Horizonte - MG - Brasil
Fone: (31) 3273 1955 Fax: (31) 3226 7955
E-mail: ccp@medicina.ufmg.br
Home page: http://www.medicina.ufmg.br/ccp
Capa:
Arte Bipolar, adaptação de obra de Inimá de Paula.
La circunstancia de que haya una revista de psiquiatría al
menos con un espacio reservado para la exposición de casos clíni-
cos es un dato que me llena de júbilo y orgullo. Siento júbilo por-
que en estos tiempos se ha impuesto en las revistas un modo de
publicación que con demasiada frecuencia incurre en el cientifis-
mo. Se trata de un cientifismo enmascarado con una elaboración
estadística, que contiene en más del 50% de las veces algún error
de cierto relieve. Se viene postergando la dedicación directa e
inmediata al examen y la asistencia del enfermo hic et nunc (aquí
y ahora) constituyen la pauta habitual de las sesiones clínicas tra-
dicionales, de las sesiones clínicas de siempre. No olvidemos por
otra parte el dicho que se ha hecho popular de que "hay tres tipos
de verdades: las verdades absolutas, las verdades relativas, y las
verdades estadísticas".
La ejemplificación de la práctica psiquiátrica a través del estu-
dio del caso individual continua siendo una pauta formativa y
experiencial imprescindible, aunque demasiado postergada. Hay
psiquiatras con "ojo clínico" y psiquiatras con dificultades para
orientarse hacia el enfermo. Esta perspicacia que llamamos "ojo
clínico" se basa más en la evocación de otros enfermos análogos
vistos con anterioridad que en la actualización de conocimientos
teóricos. Desde luego, el respeto formativo máximo se concentra
en la práctica psiquiátrica con fundamento teórico. La escisión
entre práctica y teoría nos lleva a dos polos indeseables: la especu-
lación gratuita y la practiconería. La publicación de casos clínicos
nos va a ayudar a salvar ambos extremos.
Como profesor de psiquiatría he celebrado siempre por siste-
ma al menos una sesión clínica a la semana, en la que se exponía
un enfermo y a continuación se establecía un debate, y al final una
conclusión en forma del diagnóstico y el tratamiento. El diagnós-
tico clínico no es una mera etiqueta, pero tampoco es encasillar con
"pista de detective" al enfermo en los libros-catálogo tipo los DSM
y los ICD (libros de consulta, pero no clínicos).
El diagnóstico clínico en las sesiones por mí dirigidas se divi-
día en los siguientes juicios: diagnóstico psicopatológico, sindró-
mico, etiológico,de personalidad, somático/biológico, social, y
como colofón, el diagnóstico nosológico. Siempre es recomendable
partir de la psicopatología, dato soslayado en los libros antes men-
cionados, cuando la psicopatología sigue siendo el fundamento de
la psiquiatría. Pero para llegar a la verdadera psicopatología se
precisa manejar el método fenómenológico, en algunas de sus
variantes, sobre todo estas dos: la fenomenología comprensiva y la
fenomenología estructural (véase mi libro Fundamentos de la
Psiquiatría actual).
Como decía al principio también siento orgullo, y ello se debe
a que una de las revistas adelantadas en este aspecto sea del Brasil,
pueblo al que estimo muchísimo, y además estar dirigida por psi-
quiatras con los que me une un sólido vínculo de afecto y amistad.
Una advertencia final: por favor, no se dejen llevar por la con-
fusión de tomar como sinónimos clasificar y diagnosticar. La cla-
sificación es una tarea teórica magnificamente realizada por
Linneo y sus discipulos. En cambio, el diagnóstico, debidamente
estructurado, y acompañado de una impresión pronóstica y una
orientación terapéutica, constituye la tarea fundamental del clíni-
co que sabe entender, comprender y ayudar a sus enfermos.
Francisco Alonso-Fernández
The existence of a psychiatric journal with a reserved space
for clinical cases fulfils me with joy and proud. The feeling of joy
is because nowadays the publications have imposed too much
scientificism. The scientificism is disguised with statistical elabo-
ration that contains in more than 50% of the cases some kind of
error. The dedication direct and prompt to the exam has been pos-
tponed and the assistance to the patient hic et nunc (here and
now) constitutes the usual procedure of the traditional clinical
sessions. We cannot forget a popular saying “there are three types
of truth: the absolute truth, the relative truth and the statistical
truth”.
The psychiatric practice exemplified through individual case
studies continues to be an essential formative and experiential
component, even though very much delayed. There are psychia-
trists with “clinical eye” and psychiatrists with difficulties to
conduct the patient. The insight that we call “clinical eye” is
based more in previous similar cases than in theoretical knowled-
ge. Thus, the best of the formative is concentrated in psychiatric
practice with theoretical knowledge. The dissociation between
practice and theory leads us to undesirable extremes: the unfoun-
ded speculation and the practionaire. The publication of clinical
cases will help us to avoid both extremes. 
As a psychiatric professor I have always adopted at least one
clinical session per week, in which a patient is examined. This is
followed by discussion and a final conclusion in form of diagno-
sis and treatment. The clinical diagnosis is not a mere label nor
the patient is framed according to the book-catalogues such as
DSM and ICD (consultation books but not clinical). 
The clinical diagnosis in the sessions under my supervision
was divided into the following: psychopathological diagnosis,
syndromic, etiological, personality, somatic/biological, social and
as colophone, the nosologic diagnosis. It is always recommen-
ded to start from the psychopathology, data avoided in the men-
tioned books, when psychopathology continues to be the ground
of psychiatry. However, to reach the true psychopathology it is
necessary to master the phenomenological method, in one of its
variants mainly the comprehensive phenomenology and the
structural phenomenology (see my book Basis of Current
Psychiatry). 
As I said at the beginning, I also feel proud, and this is due
to the fact that one of the advanced publications in this aspect is
from Brazil, people who I admire very much, besides it is run by
psychiatrists to whom I am attached firmly with affection and
friendship. 
One final remark: please, avoid the confusion of misinterpre-
ting classification and diagnosis. Classification is a theoretical
task magnificently performed by Linnaeus and his disciples.
Conversely, diagnosis, duly structured and accompanied by a
prognostic impression and a therapeutic orientation, constitutes
the principal task of the clinician who knows how to perceive, to
understand and to support his patients. 
Francisco Alonso-Fernández
Editorial
Prezado Editor, bom dia e PAZ PLENA. 
Estou enviando-lhe cópia de uma das minhas cartas, que é a
segunda para o teólogo Leonardo Boff, onde comento trechos de
um dos livros dele e conto uma fantástica experiência que vivi no
dia 2/2/1991, quando tive uma parada de coração por 15, 30
horas. Durante essa experiência, tomei banho, dirigi carro, ali-
mentei com alimentos líquidos e não consegui comer as refeições
normais. 
Estou à disposição para fazer outros esclarecimentos que o
senhor julgar necessários. 
Paz Plena para todos no Planeta Terra.
O amigo,
Paulo B. Linhares
Leonardo Boff, que o amor e a luz de Jesus possam envolver
a todos nós, que a humildade, sabedoria e intuição de São
Francisco de Assis venham em nosso auxílio e assim possamos
encontrar, compreender e divulgar a Verdade, que liberta e paci-
fica o nosso espírito.
Essa é a segunda carta que lhe envio, pois a primeira foi escri-
ta em 12/2/1990 e nem sei se chegou ao seu conhecimento, pois
até hoje não recebi resposta. Quando comentei com outras pes-
soas sobre a primeira carta, que ainda estava sem resposta, recebi
o seguinte comentário:
-"O Frei Leonardo Boff é muito ocupado e muito importan-
te para ler tudo o que lhe é enviado. Quase tudo passa ao crivo
de uma secretária e ela decide se ele deve ou não tomar conheci-
mento do assunto".
Atualmente sou um pesquisador teológico independente e
estudo a "Bíblia Sagrada" sem nenhum compromisso com esta ou
aquela doutrina, ou mesmo preconceito desta ou daquela doutri-
na. O meu compromisso é com DEUS-PAI-MÃE e com a VER-
DADE. Por isso cheguei a conclusões muito interessantes, que
deveriam ser analisadas por especialistas em exegese, que tenham
suas mentes abertas e "coragem para pensar no já pensado".
Com esse objetivo, já escrevi para muitos teólogos, membros
da Hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana, mas esses
homens estão muito ocupados com seus trabalhos, "quase profis-
sionais" e não têm tempo de "buscar a ovelha perdida"; ou pos-
suem um severo compromisso com o "direito canônico", por isso
respondem-me com o silêncio, ou ainda considerando-me um
herege do século XX. Esquecem que "DEUS" é onipotente e
livremente escolhe os seus enviados ou mensageiros. Entre os
meus escolhidos está o Padre Z.A.X., para o qual já escrevi qua-
tro cartas, expondo minhas teses bíblicas ou teológicas, como:
1) "Deus não Perdoa Nunca".
2) "O Tentador de Jesus é o mesmo Espírito, que Moisés consi-
derou como Deus: Iahweh".
3) "A carta Joanina", que foi baseada no Evangelho Segundo São
João Evangelista".
4) "O Deus imperfeito da Bíblia ou o incompleto (ou errado)
ensino sobre a Bíblia". 
5) "As comunicações bíblicas entre os planos visível e invisível". 
Recebi respostas das duas primeiras cartas em dois cartões,
mas da terceira e quarta, escritas em 21/7/1993 e 2/1/1994, até
hoje só o silêncio veio como reposta. Apesar de todo o silêncio e
de todas as portas fechadas, continuo escrevendo, pois tenho
plena certeza que escrevo para muitos no presente e no futuro,
por isso tiro cópias de tudo e depois vou divulgando para outras
pessoas. Essa é a minha responsabilidade, não posso ser omisso e
infiel a Deus-Pai-Mãe, que confiou e confia muito em mim. Dele
é que recebi essa missão. 
A razão dessa carta é porque fui interrogado sobre o seu
livro: "Brasa sob Cinzas", que foi lançado em Belo Horizonte no
dia 16/4/1997. Depois, a mesma pessoa mostrou-me o livro e leu
um pouco para mim dos capítulos I e II, que me espantou e até
chocou. Enquanto ouvia a leitura, decidicomprar e ler o livro,
como também escrever-lhe. Mesmo que não venha a me respon-
der, mas tinha que pôr em prática a intuição recebida: "Deus
escreve certo em linhas tortas, mas não foi Deus que fez as 
linhas tortas".
Com referência a Verônica, digo que você viu apenas o efei-
to, mas para tudo temos que buscar a causa. Não podemos ver na
observação da jovem algo sem causa. A doença dela não foi fruto
do acaso ou uma falha na perfeita criação de Deus-Pai-Mãe, o
pleno de AMOR E PERFEIÇÃO. O acaso não existe, para tudo
temos que buscar uma explicação, compreensão e entendimento
do porquê e não lamentar o efeito. A justiça invisível é perfeita e
justiça é sempre cega, como também cobra até ao último centavo. 
Já a comparação do caso de Verônica, a jovem que morreu de
leucemia e "virgem sem se sentir virgem", com a triste história
bíblica de Jefté e sua filha, julguei-a muito infeliz. Decepcionei-
me muito mesmo com a sua atitude, pois você não condenou o
nefando e vil voto e sua realização, mas justificou o choro das
amigas da inocente jovem "porque ela não experimentou o êxta-
se e o amor fecundo de um homem" (Vide Juízes, 11).
Para mim, você perdeu uma ótima ocasião para condenar o
bárbaro erro e crime do guerreiro Jefté, que cumpriu o vil voto
Casos Clin Psiquiatria 2002; 4(1,2):3-6 3
Endereço para correspondência:
COOPMED
Casos Clínicos em Psiquiatria
Av. Prof. Alfredo Balena, 190
30130-100 Belo Horizonte MG
Auto-relato
FÉ E VIDA SEM VIDA ATÉ* 
FAITH AND LIFE EVEN LIFE
*. O autor, de nome fictício, publicou auto-relato “Revelações” em Casos Clin Psiquit 1999; 1(1):3-11, discutido por Helio Elkis.
Fé e vida sem vida até*
feito a um tirano invisível e nunca a Deus-Pai-Mãe-Amor. Se um
ato como aquele fosse realizado hoje seria crime perante a socie-
dade e perante Deus, então na antigüidade também deveria ser:
quem evoluiu foram os homens e não Deus! Ou será que Deus
também se aperfeiçoou? Para mim é mais outra grande ignorân-
cia e os teólogos se calam perante o povo!!!
Existem muitos acontecimento bíblicos, que hoje seriam
considerados como atos de "magia negra". Se hoje são, ontem
também o eram. Não podemos nunca pensar que Deus-Pai-Mãe-
Amor pôde aprovar atos de magia negra, como expus na quarta
carta para o Padre Z.A.X. 
No caso do seu encontro e diálogo, após o batizado, do capítulo
II, fiquei perplexo com sua meditação e vergonha de você
mesmo. Aquele ato, ao qual você refere, nunca seria a expressão
de um amor maior. Para mim, você faria um ato de muito amor
mesmo, se voltasse lá e a tratasse como uma pessoa digna de ouvir
de sua boca o que Jesus nos ensinou a ensinar e amá-la como
Jesus nos ensinou a amar. Dizer para ela o que Jesus disse para a
mulher adúltera (Jo 8,2 a 11) e para defender Maria, que derra-
mou em seus pés nardo puro, ungindo-o (Jo 12,1 a 8).
Nos dias de hoje, se confundem muito o ato sexual como
uma prova de amor e entrega, mas só o ato sexual coloca o ser
humano num nível inferior aos animais irracionais, pois estes pro-
curam e fazem o acasalamento só na época do cio para a repro-
dução, não existindo amor e fidelidade plenos. Já o ser humano
se guarda para aquele ou aquela, que juntos irão viver a beleza da
entrega de si mesmo em completa fidelidade. Só haverá a pleni-
tude do amor físico e da paz na terra quando existir fidelidade,
amor e entrega dos dois lados. Não havendo fidelidade plena,
existe o adultério, assim nos ensinou o mestre Jesus, ou o que está
escrito é falso? Muitos confundem o amor com a infidelidade e
traição, e a liberdade como a libertinagem!!! 
A nossa educação de católicos não nos preparou e nem prepara
para a libertação e a vitória pela morte; isto é: a ressurreição, após
uma vida digna, honesta e pura, mesmo que seja em condições
indignas. O que vale, espiritualmente falando, é aquilo que as tra-
ças ou a ferrugem não consomem. 
Do capítulo VIII: "A lata de lixo que Deus não tem", faço os
seguintes comentários: 
- "Deus não é família, mas utiliza da família para a evolução
de sua obra e assim, pois, possamos vivenciar o seu grande amor,
já que participamos intensamente da evolução de sua obra criada
e com muito amor, sendo nós mesmos os responsáveis por nossa
evolução (salvação). A trindade ensinada sobre Deus-Pai-Mãe foi
e é uma imensa gafe, como também um grande sofisma, que a
ortodoxia buscou nos ensinamentos do Egito e Oriente (Índia) e
nos fez engolir algo como o "Mistério da Santíssima Trindade":
um dogma e mistério, que nos foi imposto. 
Só existe "mistério" por causa da ignorância e orgulho dos
sábios e "dogma" é a fórmula encontrada por aquele (ou aqueles)
que mandavam ou mandam e sabem menos, impor a vontade
dele, já que quem discordava era considerado como um exco-
mungado ou herege. Tivemos que calar perante muitos pseudo-
dogmas impostos como a verdade pura e cristalina. Como já disse
que: "Deus não Perdoa Nunca" e isso ocorre porque Deus-Pai-
Mãe é tão sábio, amoroso, bom, humilde, compreensivo e liberal
que nunca foi ofendido. Como Deus nunca foi ofendido, nada
tem que perdoar. Quem defende qualquer tipo de pecado, como
ofensa a Deus, é um ignorante da sabedoria, perfeição e onisciên-
cia de Deus.
Também o conceito do "Inferno Eterno" para aqueles que
ofenderam e ofendem a Deus é um grande e grave erro filósofo
dos teólogos católicos e protestantes, que no fundo são mais bito-
lados ainda, pois acreditam plenamente que tudo que está na
Bíblia vem de Deus. Mas muitas coisas bíblicas vêm dos homens
e de "falsos deuses", que defendiam e ainda defendem seus terri-
tórios conquistados; isto é: aqueles que os temem e adoram 
cegamente. 
Nós temos que perdoar, quando sentimos a ofensa e pedir
perdão a quem ofendemos. Quem é beneficiado, perante as leis
evolutivas, é aquele que perdoa, e não quem recebe o perdão, já
que foi este que causou a ofensa. Quem ofende agride a Lei evo-
lutiva e Lei é sempre lei e é cega. 
É um erro e muito orgulho nosso pensar que temos capaci-
dade de ofender a plenitude da perfeição divina ou a presença
onisciente de Deus entre nós.
Em "A terra dos justos e dos bons", podemos ver a constan-
te busca do paraíso perdido. Ensinar que este encontro só acon-
tece com a morte física do corpo é ainda uma decepcionante fór-
mula de nos ensinar a beleza da vida, da libertação e da ressurrei-
ção. Jesus mesmo já nos ensinou: "Conhecereis a Verdade e a
Verdade vos libertará" (Jo 8,32) e "Eu vim para que tenham vida
e vida em abundância" (Jo 10,10), também: "O Reino de Deus
está dentro de vós". Temos que viver o "céu" já aqui na terra
mesmo. Céu não é um lugar, mas um "estado de espírito".
No capítulo XII: "Abraçar árvores", gostei de ler o relato de
sua experiência e vivência com uma árvore. Mas é preciso ter
muito cuidado para não cairmos no "monismo ou mesmo no pan-
teismo", conceitos filosóficos contrários ao "dualismo". Quando
nos sentimos como árvores, como a natureza ou deixamos de ser
nós mesmos e a natureza deixa de ser a natureza, temos um retro-
cesso com a negação do dualismo. Não existindo a dualidade,
então é o mesmo que defender o nosso fim, pois sempre quando
um ser inferior se aproxima do (ou soma com o) superior, aquele
pode desaparecer na imensidão deste. É como o sumiço dos rios
de água doce na vastidão das águas salgadas dos mares, 
quase infinitos.
Tenho uma forte coincidência com o achado de Nag
Hammadi, pois foram 45 textos descobertos em 1945 e nasci em
1945. Como para tudo existem planos e o dedo de Deus dirige
tudo, respeitando plenamente a liberdade de todos, então a coin-
cidência foi planejada. Em 1945, também, ocorreu o término da
2ª grande guerra européia, asiática e africana, pois não houve
batalhas na América.
Quem evolui somos nós, os seres humanos. Na hora certa,
que só o Pai sabe, Deus-Pai-Mãe intervém e vai se revelando à
medida que aparece alguém que pode receber, entender e divul-
gara revelação do próprio "Espírito Incriado", que é Deus-Pai-
Mãe. Esse alguém tem que ter coragem para enfrentar as estrutu-
ras organizadas, que só aceitam aquilo que está de acordo com
elas ou com o interesse de seus dirigentes. Jesus foi crucificado
por causa disso. Quem escolhe os representantes de Deus na terra
é o próprio Deus e não as estruturas humanas, que foram e são
orientadas para só receberem aquilo que querem receber como
4 Casos Clin Psiquiatria 2002; 4(1):3-6
orientação do "Espírito Santo". Por isso tudo, muitas Verdades
foram condenadas como heresias.
Você sabe muito bem disso, já que sentou na mesma cadeira
que foi utilizada por Galileu Galilei e Giordano Bruno. Um foi
perdoado, porque retratou, e o outro, condenado a morrer na
fogueira, já que era mais corajoso e cheio de fé, porque conheceu
a Verdade, que liberta dos princípios que bitolam a nossa mente
e a nossa liberdade de pensar. 
Se o nosso destino é Deus, ou melhor, o encontro com Deus,
então teremos que buscá-lo primeiro dentro de nós e identificar-
mo-nos quem somos, quem é Deus e ou o que é Deus. Então não
precisamos pegar o "trem", mas viver bem a vida, em plenitude e
abundância, seja lá onde estivermos. Não podemos correr atrás
daquilo que ainda não temos ou não somos; ou mesmo querer-
mos ser o que ainda não temos condição de ser.
Lendo os livros: "Face Oculta da Mente" e os dois volumes de
"As Forças Físicas da Mente", do Padre Oscar Gonzalez
Quevedo, pode-se ver como a ignorância sobre DEUS por parte
dos teólogos é imensa. Esse grande sábio da Hierarquia da Igreja
Católica Apostólica Romana e da parapsicologia desviou a igno-
rância dele sobre DEUS para o "inconsciente", dizendo que tudo
tem sua razão e explicação no "inconsciente". Esses livros quan-
do referem e explicam sobre a "mente consciente" são fantásticos
mesmos, mas quando referem à "mente inconsciente", não valem
nada mesmo; isto é: uma ignorância plena ao lado de uma grande
sabedoria, que contradição!
Para facilitar um pouco um provável diálogo, vou enviar-lhe
as cartas que escrevi para o Frei T.A.Z. ofm. e para o Padre
Z.A.X., deste apenas a quarta.
Como você escreveu sobre sua fenomenal experiência com
uma união, quase plena, vivida com uma árvore (cap. XII), vou
resumir aqui uma experiência que vivi, quase indescritível e irreal
mesmo para a medicina atual, que foi: 
- "No dia 31/1/1991, acordei às 3 horas da madrugada e tive
uma fantástica visão, que foi assim: "Uma das paredes do meu
quarto desapareceu e vi bem longe um grande e perfeito círculo.
Dentro desse círculo, apareceu um rosto um pouco deformado,
pois enchia todo o círculo, mas não tive nenhum medo, pois reco-
nheci o rosto com facilidade. Imediatamente, essa visão começou
a aproximar-se de mim e à medida que ia se aproximando, dimi-
nuía de tamanho. Quando chegou a uma distância de uns três
metros, tinha um raio de mais ou menos um metro e aí ouvi a
seguinte frase: 
- "O código é desnatadeira" (1 + 6 + 1 + 12 = 20). Logo desa-
pareceu toda a visão." Decodifiquei o código e agi imediatamen-
te, chamando aquele que representava o código, o número 12,
que é um Bispo Católico. Logo que chegou, dei a seguinte ordem,
assim: 
- "Você tem superioridade ao Profeta Maomé, então vá a ele
e dê a seguinte ordem: "Maomé vai ao Saddam Hussein, o líder
do Iraque, e faz com que ele dê ordens para a retirada das tropas
iraquianas do Kuweit, da forma que ele puder: seja por sonhos,
por intuição ou mesmo por aparição física." Agora você não pode
ir diretamente perante o chefe iraquiano, senão ele morrerá ime-
diatamente" (A morte aconteceria por causa da imensa diferença
da vibração religiosa). 
Logo em seguida, tudo voltou ao completo silêncio da
madrugada e só ouvia o pulsar do meu coração. 
No dia 2/2/1991, voltei a acordar de madrugada, sentindo
uma grande tremura indolor no meu coração, que depois esva-
ziou-se por completo, como se um balão liberasse todo o ar con-
tido dentro dele. Senti um profundo silêncio interior, cheguei a
pensar que tinha morrido ou melhor finalmente libertado e res-
suscitado para a Vida Maior. Quando iniciou a tremura e forte
pressão no meu coração, fechei os olhos. Após uns instantes e
como me sentia bem calmo, pensei: "Se morri, tenho que assumir
a minha nova realidade e não adianta ficar parado", então abri os
olhos e observei todo o quarto, só com o giro dos olhos: tudo
estava igualzinho. Após um momento, tive coragem e levantei a
perna esquerda, olhando rápido para ver se havia uma separação
(como aquelas do filme "Ghost, do Outro Lado da Vida", a que
só assisti depois) e como não houve nenhuma alteração ou sepa-
ração, exceto a parada absoluta do meu coração, tentei sentir,
observar e pegar o meu pulso e nada. Levantei devagarinho e fui
ao banheiro, acendi a luz: eram 3 horas da madrugada. Olhei-me
bem no espelho, não observei mudanças físicas, voltei a tentar
sentir o batimento do meu coração: nada mesmo, tudo em com-
pleto silêncio e profunda tranquilidade ou calmaria interior.
Sentia como se houvesse um vazio dentro do meu tórax.
Decidi não ir para nenhum hospital, onde poderia morrer
nas mãos de excelentes médicos, pois poderia ficar sob a respon-
sabilidade de médicos sem escrúpulo e puramente cientistas, que
poderiam fazer de mim uma simples cobaia, já que dentro de um
hospital estaria entregue à decisão e vontade deles, que saberiam
facilmente envolver os meus parentes. Essa minha decisão tam-
bém teve como base o meu "quase enforcamento dentro da clíni-
ca Pinel", no dia 12/1/1980, e por isso tive medo de entrar num
hospital daquele jeito. Não queria correr nenhum risco da parte
dos profissionais da medicina. Sabia o que acontecia e isso dava-
me muita coragem, confiança e fé na vitória final, pois estava com
Deus. Tudo tinha que ficar oculto da medicina...
Voltei para a cama, acordei calmamente minha esposa e disse
para ela:
- "Veja como estou, como falo e vou andar aqui para você ver,
já que vou lhe contar algo que irá assustá-la muito". Ela quis
saber imediatamente o que acontecia, quando relatei para ela o
que estava se passando comigo, dizendo: "O meu coração parou
de bater!".
- "O quê! Você está louco!". Disse-me ela, mas também ten-
tou sentir a minha pulsação e nada, colocou as mãos espalmadas
no meu pescoço e nada sentiu, por fim colocou o ouvido no meu
peito e nada ouviu. Aí ela ofereceu para levar-me a algum hospi-
tal, dizendo-me assim: 
- "Você quer que o leve para um hospital agora?".
- "Do jeito em que estou, só entro em algum hospital amar-
rado!". Respondi decidido. Ela aceitou a minha decisão. Ficamos
conversando até amanhecer. Ali pelas 6 horas levantamos e tomei
um bom banho. Depois fomos para Contagem, uma cidade da
Grande BH, com o nosso filho de um ano e quatro meses, sendo
eu o motorista do carro.
Não consegui alimentar com nada de sólidos, devido ao meu
estado emocional, e só tomei líquidos. Quando voltávamos para
a casa, às 18h30, e passávamos debaixo do viaduto do Carlos
Casos Clin Psiquiatria 2002; 4(1,2):3-6 5
Fé e vida sem vida até*
Prates, senti o meu coração dar um forte pulo dentro do meu
peito, como se fosse dada uma bombada muito forte dentro de
um balão vazio e depois voltou à plena calmaria. Contei à minha
esposa e ela perguntou-me se precisava parar o carro, disse que
não e que tudo estava sob controle. Os pulos foram repetindo e
diminuindo o intervalo de tempo entre eles, até que voltou tudo
ao normal, após uns seis a sete minutos".
Depois vim a saber que tudo que aconteceu comigo no dia
2/2/1991 foi um terrível ataque de alguém (um espírito), que que-
ria me enganar e derrotar, como ocorreu na luta de Jacó com um
anjo (um espírito, que agia contra o Patriarca Jacó) e também no
"drama do Getsâmani com Jesus". O objetivo desse espírito era
me retirar do plano físico pela desencarnação, pois eu estava atra-
palhando os planos delee ainda desejava aparecer como o meu
libertador, mas ele não sabia quem eu realmente era e quem era e
é o meu protetor. Eu estava trabalhando mentalmente para o fim
da "Guerra do Golfo" e agia contra os objetivos dele. Ele queria
a vitória do Iraque e eu, mentalmente, forçava a retirada das tro-
pas iraquianas do Kuweit, por forçar mentalmente uma decisão
do líder iraquiano, Saddam Hussein, em abandonar o Kuweit.
O "Velho Jó" me orienta para trabalhar para a "PAZ
PLENA" em todo o Planeta Terra e em qualquer situação. Aqui
está a principal razão dessa carta: PAZ PLENA para todos. 
Um abraço de quem é dirigido pelos poderes de São Francisco de
Assis e de São João Evangelista, como João Batista "caminhou
com o espírito e poder de Elias..." (Lc 1,17).
Desejo-lhe muita paz, luz e liberdade... 
Paulo B. Linhares
6 Casos Clin Psiquiatria 2002; 4(1):6-8
NASCI E MORRI LOUCO
BORN AND DIED CRAZY
N.C.T.*
De repente surge uma sensação gostosa e incontrolável. E eu,
a partir deste momento, não comando mais o meu senso crítico,
as regras da sociedade ou as leis não existem, e começa o surto ou
a fase da crise “maníaca” da doença identificada como
Transtorno Bipolar. Na maioria das situações, existiu um motivo
para que eu tivesse agido daquela forma, em outras, não.
É como se “algo” me dominasse e fizesse com que eu agisse
daquela forma, sem raciocinar ou avaliar em conseqüências pre-
sentes ou futuras. É como um arrepio enorme, e uma força inte-
rior que me domina e me impulsiona a agir através do meu corpo,
apesar de eu, muitas vezes, não concordar com o que estou fazen-
do. Mas a partir do momento que eu começo, não consigo, de
forma natural, parar. E vai num crescendo, agindo de acordo com
o momento e com as oportunidades. Estes são os meus momen-
tos de “euforia” ou de “mania” denominados pelos médicos.
O outro lado da doença, que se chama Transtorno Afetivo
Bipolar, é a depressão. É impressionante como estou mais vulne-
rável a depressões do que a maioria das pessoas. E também, quan-
do ela me pega, parece que é mais profunda e mais duradoura.
Depois de três a sete dias que ocorre um motivo para a depres-
são, vou sentindo lentamente que ela está chegando e vou per-
dendo as energias e me entregando a ela. Interessante que o meu
médico psiquiatra atual já identificou por duas vezes que eu esta-
va em depressão, mas que foi considerada normal e não patológi-
ca. Tinha realmente motivos fortes para estar em depressão.
Nos últimos anos tive a oportunidade de conhecer algumas
pessoas portadoras do Transtorno Afetivo Bipolar. E a conclusão
a que cheguei é que, apesar do diagnóstico ser o mesmo, cada
caso é um caso. Alguns têm tendência a ter crises de mania,
outros de depressão, outros podem intercalar ou misturar essas
crises. O período das crises também pode variar muito. Existem
casos de pacientes que já ficaram até 15 anos sem a manifestação
de alguma crise, apesar de a doença não ter cura.
Outro aspecto importante é que essa doença é, na maioria
dos casos, hereditária. Na minha família só conhecia a existência
de um tio materno, que era esquizofrênico. Posteriormente, vim
a saber e descobrir que, na família do meu pai, também existiram
alguns tios e primos com problemas mentais, apesar de nunca
terem sido declarados como tal para o restante da família.
Endereço para correspondência:
COOPMED
Casos Clínicos em Psiquiatria
Av. Prof. Alfredo Balena, 190
30130-100 Belo Horizonte MG
* N.C.T. também escreve neste volume na seção “Casos Literários”
Com 18 anos de convivência com esse diagnóstico, procuro
descrever as minhas crises e todas as conseqüências desta doença
para mim e para os que me cercam, como uma forma de contri-
buir para que determinadas situações constrangedoras que acon-
teceram comigo não ocorram com outros pacientes, familiares e
médicos, pois estão em jogo a vida e a aceitação deste ser huma-
no na sociedade onde ele está inserido. Muita tristeza, dor e sofri-
mento poderiam ter sido evitados se a postura e o comportamen-
to das pessoas, inclusive o meu e, principalmente, o dos médicos
psiquiatras e psicólogos, tivessem sido diferentes.
O meu diagnóstico foi dado em 1985, quando me obrigaram
a me internar num hospital psiquiátrico, que nem existe mais.
Disseram para os meus familiares que eu tenho PMD, que signi-
fica Psicose Maníaco-Depressiva. Nessa época, eu era consultor
de importante banco e de importantes empresas, além de sócio
em casas de alimentação conhecidas na cidade. Estava casado, já
tinham nascido minha filha, que hoje tem 18 anos, e meu filho,
que hoje tem 17 anos. É importante dizer que perdi tudo. Meu
casamento acabou, os clientes esperaram terminar os contratos e
os negócios quebraram. Em pouco tempo, materialmente falan-
do, eu já não tinha mais nada, em relativamente curto espaço 
de tempo.
Os fortes medicamentos prejudicavam o meu raciocínio e
começaram os primeiros sinais de discriminação e preconceito.
Lembro-me do meu primeiro médico psiquiatra, que aconselha-
va: “deixe que te chamem de qualquer coisa, até de veado, mas
não deixe que te chamem de louco”. A sociedade não aceita, tal-
vez porque todos nós temos um pouco de loucura. Segundo
outro médico psiquiatra, com quem me tratei e gostei muito,
todos nós temos um diagnóstico na área psíquica.
Quando me tratei com outro excelente médico psiquiatra,
tive a curiosidade de perguntar a uma colega dele na clínica sobre
alguma bibliografia da minha doença e fui para a Escola de
Medicina conhecer mais detalhes. É uma doença que não tem
cura. Chamava-se Doença da Afetividade e hoje é mais conheci-
da como Transtorno Bipolar. É hereditária. O que mais me inco-
moda é o desconhecimento por parte das pessoas em geral, prin-
cipalmente da família, de que essa doença é cíclica em função da
variação do humor, podendo, entretanto, o portador viver parte
ou grande parte da sua vida no mesmo nível de normalidade de
uma pessoa comum. No meu caso, após cerca de 60 dias que
passo por alguma “crise”, já estou pensando e agindo em função
de algum novo projeto produtivo.
Minha família me coagiu a doar meu apartamento para meus
filhos e construíram uma casinha para eu morar, que é de todos.
Como não consegui trabalho nos últimos anos, todo projeto que
apresentei para fazer em casa, com meus próprios recursos, foi
unanimemente rejeitado pela família, por uma razão ou outra.
Sei que aos 50 anos de idade, com uma experiência dura de
cinco prisões, 15 internações em hospitais psiquiátricos (muitas à
força) e mais de 35 médicos psiquiatras e psicólogos, quatro casa-
mentos, esportista e profissional de sucesso, acredito que ainda
tenho muita coisa para fazer e contar.
Na minha adolescência e início da vida adulta, tive uma car-
reira brilhante como atleta, chegando à Seleção Brasileira que dis-
putou torneios no exterior. Tive uma vida com muito sucesso na
área de administração, tendo inclusive freqüentado curso de
Mestrado em Administração Pública na Fundação Getúlio
Vargas, interrompido por um acidente automobilístico. Minha
vida profissional, desde adolescente, foi rica em experiências
como estagiário e executivo de grandes empresas multinacionais,
o que me possibilitou morar em vários países e regiões do país.
Fui empresário de micro e pequenas empresas, professor univer-
sitário e, durante mais de 20 anos, consultor empresarial, nova-
mente em grandes, médias, pequenas e microempresas.
Sou pobre, mas sou feliz. Não devo nada a ninguém, reagi a
toda tentativa de falcatrua que pudesse me envolver, nunca fui
corrupto nem corruptível, e faria tudo novamente se fosse preci-
so. O maior privilégio de minha vida é poder deitar tranqüilo,
com a consciência limpa e sabendo que meus princípios, na
minha visão, sempre foram preservados, e me considero uma pes-
soa de caráter. Gostaria de ver “um” falar algo da minha pessoa
ou da minha conduta sincera, honesta e verdadeira.Não acredito
em polícia, advogado ou justiça no Brasil e, quando foi necessá-
rio, resolvi os assuntos à minha maneira. Se considerarem isso
doença, sou louco e louco assumido.
O ócio é como o cigarro. Mata devagarinho. A solidão é o
caminho do crescimento espiritual, se vista como solicitude. O
que não posso admitir é a preguiça e a falta de criatividade para
podermos, de alguma forma, contribuir para uma ou várias pes-
soas, que muitas vezes, ou na sua maioria, estão em situações pio-
res do que a nossa, por mais incrível que isso possa parecer. Mas
é. É só procurar que achamos, às vezes bem ao seu lado, um
parente ou um vizinho ou sua empregada.
Foi em 2000, no dia 20 de março, meu aniversário, que por
volta das 22h30 eu tomei uma das decisões mais importantes da
minha vida. Não tendo recebido nenhum telefonema, nenhuma
visita e já discriminado e vivendo cheio de preconceitos pela
sociedade, somado ao fato de ter sido tratado por um médico psi-
quiatra que me assegurou que se tomasse o medicamento cloza-
pina (cujo único inconveniente seria a dosagem semanal de san-
gue) eu “nunca mais teria crise”.
Coloquei um anúncio fúnebre no jornal de maior circulação
no estado, comunicando o meu próprio falecimento. Telefonei
para o jornal, perguntei sobre o preço, tamanho e demais condi-
ções e passei um fax, confirmando o anúncio, com todos os deta-
lhes, excluindo, propositadamente, os nomes dos meus filhos. A
seguir, telefonei para um primo meu em outra cidade e lhe comu-
niquei o que havia feito, solicitando para que ele no dia seguinte,
no sábado, ligasse para minha mãe, por volta das 6h30, para
avisá-la que não era verdade, pois a mesma já sofre do coração e
tem o hábito de logo olhar os anúncios de óbito, ao receber dia-
riamente o jornal. E fui dormir. No dia seguinte, no dia do “enter-
ro”, peguei meu carro e fui até a fazenda do meu ex-sogro, para
avisar aos meus filhos Letícia e Luís José que tudo não passava de
uma “armação” e que eu estava bem e vivo.
Casos Clin Psiquiatria 2002; 4(1,2):6-8 7
Nasci e morri louco
Comentário I: “Feridas-Cicatrizes”
Luiz Ferri de Barros*
Meus comentários a propósito do auto-relato apresentado
nada podem dizer a respeito do relatado. Isso porque o editor da
revista de Casos Clínicos em Psiquiatria me solicitou explicita-
mente que os apresentasse na condição de portador de transtor-
no mental - que sou - e sem utilizar-me de minha experiência edu-
cacional e acadêmica na matéria. Ainda que há mais de década eu
atue na área de saúde mental, sendo inclusive meu mestrado e
doutorado em História e Filosofia da Educação, o primeiro, e
Filosofia da Educação, o segundo, ambos na área de saúde men-
tal. O pedido de que eu me pronuncie apenas como portador,
feito pela Faculdade de Medicina da UFMG, representa, assim, a
mesma estigmatização que também enfrentei junto à Faculdade
de Medicina da USP, que recusou meu pós-doutorado, apesar de
seu Departamento de Psiquiatria o ter aceito. A diferença é que o
estigma que me atinge vindo do Prof. Maurício Viotti é ameno e
diluído na simpatia mineira da fala mansa, enquanto os mandões
da Medicina uspiana costumam ser sempre gente sisuda de cara
feia e sem tempo pra prosa de café com broa. Não creio que os
melhores médicos tenham preconceitos, como é o caso do Prof.
Viotti e de muitos sisudos paulistas, o que sucede é que o estigma
me persegue. Uma das principais características do estigma,
segundo ensina Erwin Goffmann, é a identificação na pessoa ape-
nas de seus traços distintivos referentes às suas feridas-cicatrizes,
deixando-se de se enxergar a pessoa como o todo que ela é e por
todo o seu potencial. De tal sorte, pondero que se estivesse dis-
posto a atender às ordens de catedráticos, sejam mineiros ou pau-
listas, eu poderia comentar o texto conforme solicitado, na con-
dição de portador, e, neste caso, inevitavelmente estaria apresen-
tando novo auto-relato meu. O que não é minha intenção no
momento, até porque a prioridade de publicação pertence ao
auto-relato que recebi para análise. Não me sentiria à vontade,
tampouco, analisando auto-relatos de pessoas que sofrem ou
sofreram tanto quanto sofri e por vezes volto a sofrer. Diante
deles, cabe-me o respeito, e não a análise.
Comentário II
Ricardo A. Moreno**
O senhor N.C.T. faz um relato didático evidenciando aspec-
tos característicos da clínica, evolução e ônus causados pela doen-
ça bipolar. Nos primeiros parágrafos, relata a evolução da mania,
descreve seu curso autônomo e a perda progressiva da crítica e da
capacidade de julgar a realidade. Relata a progressão rápida do
episódio depressivo e aponta para possíveis sintomas residuais
que muitas vezes passam desapercebidos para o médico. Vale a
pena ressaltar este fato já que sintomas depressivos residuais são
um dos principais desafios do tratamento e se correlacionam com
risco aumentado de recorrência e com a manutenção do prejuízo
funcional. O caráter cíclico e recorrente da doença, o padrão
individual variado dos episódios depressivos, maníacos e do
intervalo livre de sintomas também é descrito.
A identificação de novos casos na família de N.C.T. é outro
aspecto relevante e acontece com freqüência em portadores e
quando ele diz: “Muita tristeza, dor e sofrimento poderiam ter
sido evitados, se a postura e o comportamento das pessoas, inclu-
sive o meu e principalmente o dos médicos psiquiatras e psicólo-
gos, tivessem sido diferentes” aponta para a necessidade de inter-
venção educacional para o paciente, sua família, seus amigos e
demais interessados, sobre o Transtorno Bipolar. Infelizmente a
vida do senhor N.C.T. não é muito diferente da de alguns clien-
tes bipolares, que tiveram prejuízos importantes na esfera pes-
soal, marital, profissional, declínio no status socioeconômico e até
problemas judiciais. Isso evidencia o ônus que o Transtorno
Bipolar pode ocasionar em função de baixa adesão ao tratamen-
to, recorrências sucessivas ou efeito colateral de medicamentos,
entre outros. Por outro lado, o senhor N.C.T. não perde a espe-
rança e pensa no seu futuro, relatando ainda ter muitas coisas
para fazer. Mudanças no estilo de vida e aprender a conviver com
a doença são fatores que melhoram o prognóstico e dão esperan-
ça para os portadores. Novos tratamentos, como os relatados
pelo paciente, também aumentam a chance de uma vida normal
ou no mínimo com qualidade.
8 Casos Clin Psiquiatria 2002; 4(1):6-8
*Mestre em História e Filosofia da Educação - USP - Doutor em Filosofia da Educação - USP - Administrador de Empresas - FGV - E-mail:: lfbarros@hydra.com.br
**Professor do Departamento de Psiquiatria da FMUSP 
Coordenador do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (GRUDA) – Instituto de Psiquiatria – HC FMUSP
Antônio L. Teixeira-Jr,*
João V. Salgado**
Resumo
Sintomas psiquiátricos estão freqüentemente associados com
a doença de Parkinson (DP). Incluem sintomas depressivos,
ansiosos, psicóticos e cognitivos. Descrevemos o caso de uma
paciente de 43 anos com DP complicada por flutuações motoras,
discinesias e sintomas depressivos. Durante internação hospitalar
para otimizar o tratamento, a paciente manifestava intencional-
mente sinais de parkinsonismo, sobretudo bradicinesia. Foi diag-
nosticado, então, transtorno factício. No seguimento, não houve
melhora do quadro clínico da paciente. Este é o primeiro relato
na literatura de transtorno factício no curso da DP avançada.
Palavras-chave: Doença de Parkinson; Transtorno de Humor
Depressivo; Transtorno Factício.
Introdução
A doença de Parkinson (DP) é tradicionalmente classificada
no grupo dos transtornos do movimento, em que sintomas moto-
res, como rigidez, bradicinesia, instabilidade postural e tremor
são característicos. Recentemente, sintomas psiquiátricos e com-
portamentais vêm sendo valorizados no contexto da DP, tendo
em perspectiva a significativa incapacidade a eles associada.Incluem alterações da personalidade, depressão, ansiedade, psi-
cose, demência e distúrbios do sono. Esses quadros podem cor-
relacionar-se com o processo neurodegenerativo da DP, ao efeito
dos medicamentos antiparkinsonianos, ou mesmo à limitação
funcional secundária à DP1,2.
Relatamos a seguir o caso de uma paciente portadora de DP
avançada, em que sintomas ansiosos, depressivos e factícios
foram identificados como possíveis contribuintes para a falência
do tratamento clínico antiparkinsoniano e para a significativa
incapacidade funcional.
Caso clínico
Identificação
AM, sexo feminino, 43 anos, divorciada, professora aposentada
por invalidez, procedente do interior de Minas Gerais.
História da Moléstia Atual e Antecedentes Pessoais
A paciente foi encaminhada para internação na enfermaria
do serviço de neurologia do Hospital das Clínicas da UFMG com
quadro de descompensação de DP avançada, marcado por disci-
nesias e flutuações motoras significativas, com períodos off (aci-
nesia) duradouros, e intolerância aos efeitos colaterais da levodo-
pa, como náuseas, vômitos e hipotensão ortostática.
A paciente era assintomática até os 31 anos de idade, quando ini-
ciaram-se sintomas de fadiga e lentificação motora. Aos 32 anos,
desenvolveu tremores de repouso, sobretudo em dimídio esquer-
do, recebendo o diagnóstico de DP após a exclusão de causas
secundárias de parkinsonismo. A terapêutica inicial consistiu no
emprego de anticolinérgicos. Contudo, diante da ineficácia des-
ses medicamentos, a paciente foi colocada em levodopa-terapia
aos 33 anos de idade, com tolerância parcial aos efeitos gastroin-
testinais desta. Posteriormente, utilizou vários esquemas de dro-
gas antiparkinsonianas associadas à levodopa, incluindo agentes
anticolinérgicos e dopaminérgicos, sempre com o relato de into-
lerância aos efeitos colaterais das medicações. 
Considerava nunca ter alcançado controle satisfatório dos
sintomas parkinsonianos, além de deterioração progressiva do
quadro motor, sobretudo da lentificação e da dificuldade de mar-
cha. O esquema antiparkinsoniano da paciente usado então con-
sistia apenas no emprego de levodopa/carbidopa 50/12,5 mg de
4/4 h (SIC). Dizia tolerar mal doses mais elevadas de levodopa,
desenvolvendo náuseas, vômitos e discinesias intensas, envolven-
do todo o corpo. Afirmava permanecer a maior parte do dia dei-
tada ou sentada, sendo capaz de andar e movimentar-se apenas
nos breves intervalos, de aproximadamente 30 minutos, de efeito
terapêutico da levodopa.
Casos Clin Psiquiatria 2002; 4(1,2):9-11 9
* Médico psiquiatra e neurologista. Assistente da Clínica de
Distúrbios do Movimento do Serviço de Neurologia do Hospital
das Clínicas, UFMG. Bolsista do CNPq, doutorando em Biologia
Celular pela UFMG. Membro da Associação Acadêmica
Psiquiátrica de Minas Gerais – AAP-MG.
** Médico psiquiatra, Doutor em Neurociências pela Universidade
Louis Pasteur de Estrasburgo e pela USP-Ribeirão Preto. Professor
de Neuroanatomia e Neurofisiologia da Faculdade Metropolitana,
Belo Horizonte, MG. Membro da AAP-MG.
Endereço para correspondência:
Antônio Lucio Teixeira-Jr
Alameda das Amendoeiras, 581, Ouro Velho, Nova Lima MG.
34000-000
E-mail:altexjr@hotmail.com
Artigos Originais
SINTOMAS PSIQUIÁTRICOS NA DOENÇA DE PARKINSON AVANÇADA
PSYCHIATRIC SYMPTOMS IN ADVANCED PARKINSON’S DISEASE
Sintomas Psiquiátricos na doença de Parkinson Avançada
Além da incapacidade motora, a paciente queixava-se de sin-
tomas depressivos presentes há um ano, acentuados nos dois
meses que antecederam a internação. Descrevia sentimentos de
tristeza e fadiga intensos, além de idéias recorrentes de desvalia e
morte, enfatizando: "Estou no meu limite." Referia também a
ocorrência de episódios esporádicos de ansiedade intensa, acom-
panhada de taquicardia, sudorese, dispnéia e idéia de morte,
sobretudo quando encontrava-se sozinha. Queixava-se de solidão
e da precariedade do suporte familiar.
História social
Aposentada desde os 37 anos de idade, morava com o filho de 16
anos. Uma empregada doméstica a auxiliava nos cuidados com a
casa e, eventualmente, nos cuidados pessoais. 
História familiar: ndn
Exame clínico: A paciente mostrava-se alerta, eufásica, nor-
motenaz, orientada, com pensamento de curso normal, lógico,
com idéias de desvalia, humor deprimido, emotiva e choro fácil.
O escore no miniexame do estado mental foi 28/30. Encontrava-
se restrita ao leito, com grande dificuldade para realizar movi-
mentos voluntários com os membros, praticamente acinética.
Exibia tremores de repouso de grande amplitude, sobretudo em
dimídio esquerdo, e significativa rigidez. Discinesias não foram
observadas no primeiro exame.
Evolução clínica
A paciente foi submetida a extensa avaliação laboratorial que
não mostrou qualquer alteração. Modificações no esquema anti-
parkinsoniano foram sendo progressivamente implementadas e o
antidepressivo nortriptilina foi iniciado.
Nos primeiros dias de internação, apresentava episódios de
choro de longa duração associados a sentimentos de angústia e
idéias de morte. Dizia que "não iria resistir à internação". O dis-
curso limitava-se a questionar a gravidade da doença e as perspec-
tivas terapêuticas. Queixava-se de múltiplas dores pelo corpo.
Com o acompanhamento, os sintomas ansiosos e depressivos
atenuaram-se. Entretanto, a despeito da otimização da terapêuti-
ca antiparkinsoniana, a paciente mantinha inalteradas as queixas
de fadiga e de imobilidade. Mostrava ainda crescente incômodo
com as mudanças nos medicamentos, questionando a eficácia dos
mesmos e reclamando, reiteradamente, "que não era compreen-
dida". Passamos, então, a examinar a paciente, pelo menos, qua-
tro vezes ao dia, procurando observá-la em períodos on (sob pos-
sível efeito da levodopa, portanto, após a administração da droga)
e em períodos off (na ausência de efeito da levodopa). Nos exa-
mes clínicos, independentemente do horário, a paciente sempre
se mostrava muito lentificada, incapaz de levantar-se do leito ou
deambular. Discinesias difusas e de moderada amplitude eram
observadas nos exames após a administração da levodopa.
Entretanto, outros pacientes da enfermaria e os técnicos de enfer-
magem relataram-nos que a paciente freqüentemente saía do leito
para ir ao banheiro ou para dirigir-se a outros setores do hospital.
Fomos surpreendidos, em uma oportunidade, com mudança
súbita de estado off para on da paciente, com boa capacidade de
deambulação, conforme sua própria conveniência. Era capaz de
comer sozinha, irritando-se se insinuassem auxílio. Foi flagrada
também consumindo medicações que trazia consigo e desprezan-
do as que lhe eram oferecidas pela enfermagem. Eventualmente,
suplicava à enfermagem a administração de maior dose de levo-
dopa que a proposta na prescrição.
Diante das evidências de alternância de acinesia e de capaci-
dade de movimentos conforme a presença do médico-assistente e
sem associação com o uso da levodopa, e de manipulação volun-
tária das drogas antiparkinsonianas com recusa e/ou automedica-
ção, levantamos a hipótese diagnóstica de transtorno factício.
Outro dado que corroborou essa hipótese foi a incongruência
entre o relato de imobilidade praticamente contínua e o fato de
ser relativamente autônoma no domicílio.
Optamos, então, por manter o seguinte esquema antiparkin-
soniano: levodopa/benserazida 100/25 mg de 3/3 h e tolcapone
100 mg BID, evitando efetuar novas modificações. Mantivemos
também a nortriptilina 75 mg MID. Não confrontamos a pacien-
te com a hipótese levantada. Mostrou-se impermeável a uma
intervenção psicoterápica breve, limitando o conteúdo discursivo
a questões relacionadas à DP.
Após 20 dias de internação, a paciente recebeu alta hospita-
lar, com quadro motor parkinsoniano inalterado. Relatava ate-
nuação dos sintomas depressivos, não tendo referido episódios de
pânico no período deinternação. Recusou acompanhamento psi-
quiátrico em nível ambulatorial.
No acompanhamento após a alta hospitalar, a paciente man-
teve o quadro de DP avançada estático, com discinesias significa-
tivas e flutuações clínicas. Manteve o relato de imobilidade prati-
camente contínua, a despeito de ainda morar apenas com o filho
e desempenhar algumas atividades domiciliares sem ajuda.
Sintomas ansiosos e depressivos persistentes, menos intensos,
também foram relatados. Modificou, por conta própria, o esque-
ma de uso da levodopa, assim como suspendeu a nortriptilina e o
tolcapone.
Discussão
A paciente apresenta DP de início precoce (antes dos 40 anos
de idade), já avançada clinicamente, com significativas complica-
ções motoras. As discinesias observadas, capazes de dificultar a
execução de inúmeras tarefas motoras, exibiam típico padrão de
pico de dose de levodopa e não podiam ser suprimidas nos exa-
mes clínicos, dado o caráter involuntário das mesmas. A "acine-
sia" da paciente, por outro lado, não apresentava relação com os
níveis séricos de levodopa, mas com a presença do médico-assis-
tente nas avaliações. A paciente tendia ainda a superdimensionar,
em seu relato, a duração e a gravidade dos períodos off. Essas
observações associadas ao fato da paciente manipular deliberada-
mente a prescrição médica, rejeitando drogas ou automedicando-
se, motivou o diagnóstico de transtorno factício.
A primeira distinção necessária seria com simulação (ou
malingering, do inglês). A paciente não apresentaria qualquer
benefício objetivo, seja de ordem financeira ou legal, assumindo
intencionalmente atitudes que poderiam prejudicar a si própria,
o que torna improvável a hipótese de simulação. O caráter inten-
10 Casos Clin Psiquiatria 2002; 4(1):9-11
cional/voluntário dos atos e comportamentos exclui transtornos
somatoformes. As queixas de solidão e precariedade de suporte
familiar, por outro lado, podem indicar a motivação dos compor-
tamentos assumidos, que seria o de reforçar o papel de doente
(do inglês, sick role). Isso corrobora o diagnóstico de transtorno
factício3. Especula-se que, além de questões psicodinâmicas, fato-
res orgânicos cerebrais poderiam contribuir na determinação de
transtorno factício4,5.
Não encontramos relatos de transtornos factícios no curso da
DP1,2. A literatura descreve apenas casos de "parkinsonismo psi-
cogênico", em que as causas prováveis de quadros parkinsonia-
nos são atribuídas a fatores psicogênicos6,7. O estudo de Lang et
al.7 apresenta a maior série de casos de parkinsonismo psicogêni-
co, incluindo 14 pacientes selecionados em três grandes clínicas
de transtornos do movimento. Segundo os autores, quadros de
parkinsonismo psicogênico seriam infreqüentes, correspondendo
0.17% dos pacientes parkinsonianos de um dos serviços estuda-
dos, o do Hospital da Universidade de Columbia, Nova York. Os
autores apontam a busca de compensação financeira como a con-
dição mais freqüente nos casos de parkinsonismo psicogênico,
sendo relatada em cinco casos. Diagnóstico psiquiátrico foi defi-
nido em alguns pacientes: conversão (quatro casos), transtorno
somatoforme (três casos) e depressão (quatro casos). Ressalta-se
que depressão estava associada ou a outros diagnósticos psiquiá-
tricos (dois) ou à busca de compensação financeira (dois). Entre
os sintomas parkinsonianos, a lentificação motora (bradicine-
sia/acinesia) foi o único presente em todos os indivíduos. Doze
pacientes apresentavam tremor, enquanto apenas seis, rigidez. No
acompanhamento dos casos de parkinsonismo psicogênico, ape-
nas três remitiram o quadro, enquanto os demais permaneceram
com os sintomas praticamente inalterados.
Em concordância com essas observações, foram identificadas
na paciente síndromes depressiva e ansiosa concomitantes e len-
tificação motora como sintoma parkinsoniano manipulado. A
evolução da paciente mostrou, ainda, a persistência dos sintomas
motores "psicogênicos", nesse caso, de caráter factício. A nosso
ver, o mau prognóstico correlaciona-se, em parte, à impermeabi-
lidade da paciente a intervenções psicoterápicas, o que é comum
no transtorno factício3.
Depressão é o transtorno psiquiátrico mais freqüente na DP,
acometendo 30% a 40% dos pacientes1,2,8,9. Postula-se que sua
manifestação esteja correlacionada ao processo neurodegenerativo
na DP8,9. Alguns autores defendem inclusive a incorporação da
síndrome depressiva na definição da DP9. Certos pacientes podem
exibir sintomas depressivos mais intensos nos períodos off, com
melhora nos períodos on1. Como a paciente exibia sintomas
depressivos proeminentes no início da internação, com longos
períodos de choro, não foi possível estabelecer a presença desse
fenômeno. Entretanto, o comportamento de busca de levodopa
apresentado pela paciente pode sugerir uma forma de alcançar ou
alívio de sintomas depressivos ou mesmo euforia, o que caracteri-
zaria dependência da droga. Síndromes ansiosas, como ansiedade
generalizada e transtorno do pânico, também estão freqüentemen-
te associadas à depressão, como na paciente1,2.
Concluindo, a presença de sintomas psiquiátricos no curso
da DP pode comprometer significativamente a qualidade de vida
dos pacientes1,2. No caso, a concomitância de sintomas ansiosos,
depressivos e factícios ainda contribuiu para a falência do trata-
mento clínico antiparkinsoniano e para a significativa incapacida-
de funcional da paciente.
Summary
Psychiatric problems associated with Parkinson's disease (PD)
are frequent and include several syndromes, such as depression,
anxiety, psychosis and cognitive dysfunction. We present a case of
a 43 year-old woman with PD complicated with motor fluctua-
tions, dyskinesias and depressive symptoms. During hospital stay
for therapeutic optimization, the patient showed motor signs of
parkinsonism, notably bradykinesia. Then factitious disorder was
diagnosed. On the follow-up there was no improvement in the
clinical status of the patient. To our knowledge this is the first
case report of factitious disorder in the course of 
advanced PD.
Keywords: Parkinson's Disease; Depressive Disorder; Factitious
Disorder.
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Casos Clin Psiquiatria 2002; 4(1,2):9-11 11
ABUSO DE SUBSTÂNCIA PSICOATIVA: RELATO DE TRÊS CASOS
PSICOATIVE SUBSTANCE ABUSE: THREE CASES REPORT
José Antônio Zago*; 
Sérgio Augusto Monteiro dos Santos**; 
José Carlos Salzani***
Resumo
São apresentados três casos por abuso de substância psicoa-
tiva, atendidos no programa terapêutico para dependentes deálcool e drogas do Instituto Bairral de Psiquiatria – Itapira, SP.
São evidenciadas e discutidas as dificuldades tanto para a
compreensão teórica do fenômeno quanto as dificuldades na
terapêutica.
Palavras-chave: Abuso de Substância; Alcoolismo; Dipsomania;
Cocaína.
Introdução
O objetivo deste estudo é apresentar três casos, atendidos no
programa terapêutico para dependentes de álcool e drogas do
Instituto Bairral de Psiquiatria1 por abuso de substância psicoati-
va, evidenciando as dificuldades envolvidas tanto na compreen-
são do fenômeno quanto na prática terapêutica. 
No trabalho clínico diário, com pessoas em tratamento na
comunidade terapêutica para superar a dependência de substân-
cia, são raros os casos de abuso que procuram o ambiente prote-
gido como forma de ajuda. 
Para Ferreira et al2, não existe fronteira nítida entre o que é
uso, abuso e dependência, mas um continuum. A droga vai assu-
mindo gradativamente papel central na vida do indivíduo, surgin-
do depois problemas decorrentes, que podem ser familiares,
sociais, jurídicos, financeiros, etc. A rigor, o ponto de passagem
para diagnosticar abuso ou dependência é arbitrário e convencio-
nado nacional ou internacionalmente.
Segundo a CID-103, o uso nocivo da substância é diagnosti-
cado na ocorrência de dano real para a saúde física ou mental do
usuário. Quanto ao uso episódico ou dipsomania, é classificado
como dependência de substância.
De acordo com o DSM-IV4, a característica essencial do
abuso de substância é um padrão mal-adaptativo de seu uso, que
ocorre em certas ocasiões especiais, de algumas horas a dias,
seguido por períodos mais longos (semanas ou meses) de absti-
nência ou de uso ocasional e não-problemático. O comportamen-
to mal-adaptativo é os riscos decorrentes dos efeitos do uso
adverso da substância, por exemplo, complicações médicas, aci-
dentes, negligência de responsabilidades, problemas de relacio-
namento familiar e social, dificuldades ocupacionais, dificuldades
financeiras, problemas legais. Em suma, o abuso difere de depen-
dência por não apresentar padrões de uso compulsivo, nem de
tolerância, nem sintomas de abstinência. 
Relato de casos
Caso 1
47 anos, brasileiro, sexo masculino, professor universitário,
católico.
Bebe abusivamente por vários dias interrompendo um perío-
do de abstinência. A primeira situação de abuso de alcoólicos
ocorreu em janeiro de 1998, a segunda, em fevereiro de 1999, e a
terceira, em maio de 1999. Nesta última necessitou de internação
em hospital clínico para tratar os efeitos da intoxicação alcoólica.
Após, decidiu buscar ajuda em ambiente protegido.
Antes da internação já havia tentado tratamento ambulatorial
com naltrexone e citalopram e, mais recentemente, com diazepan
e cloridrato de clomipramina.
Nega depressão ou idéias de suicídio. Associa sua relação
com o álcool quando está em dificuldade financeira. Afirma que
quando vem o desejo de beber não tem como se controlar. O que
mais teme é que esses abusos com álcool venham prejudicar sua
carreira universitária, já que é dedicado e considerado entre seus
pares na sua profissão.
Está em seu segundo casamento. O primeiro terminou após
16 anos por problemas de relacionamento. Tem um filho com 20
e outro com 17 anos.
O paciente é filho único. Sem antecedentes psiquiátricos na
família.
Há dez anos fez estágio profissional no exterior, quando teve
seus primeiros contatos com bebida alcoólica.
É tabagista. Ficou 17 dias internado, saindo a pedido, melho-
rado. Foi orientado a buscar ajuda psicoterápica e indicado o uso,
se necessário, de diazepam 10 mg quando da vontade de usar o
alcoólicos.
Caso 2
Paciente de 28 anos, brasileiro, sexo masculino, solteiro,
escolaridade média, comerciante, católico.
* Psicólogo do Instituto Bairral de Psiquiatria – Itapira – SP;
Mestre em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba
** Psiquiatra do Instituto Bairral de Psiquiatria – Itapira - SP
*** Psiquiatra do Instituto Bairral de Psiquiatria – Itapira - SP
Endereço para correspondência:
José Antônio Zago
Rua Padre José Maurício, 11
Itapira – SP - 13974-040
E-mail: joseantoniozago@ig.com.br ou bairral@bairral.com.br
12 Casos Clin Psiquiatria 2002; 4(1,2):12-15
Seu primeiro contato com cocaína aspirada foi aos 18 anos.
A primeira internação em clínica psiquiátrica ocorreu aos 21
anos. Várias internações em clínicas psiquiátricas.
O abuso de cocaína ocorre periodicamente, de seis em seis meses.
Sem motivo aparente, desaparece de casa por três ou quatro dias
e é encontrado em cidades vizinhas ou distantes. Nessas ocasiões,
fica exposto porque carrega consigo muito dinheiro e dirige seu
carro por estradas vicinais. Por duas vezes foi detido e uma vez
ficou na prisão por um mês. Responde novamente a processo por
porte de droga.
Nos períodos de abstinência, não faz uso de álcool e, geral-
mente, a recorrência à droga começa quando utiliza alcoólicos de
forma não-abusiva. Não sabe explicar os motivos que o levam a
buscar a droga. Disse que quando sente vontade de usar cocaína
não consegue ter controle. Nessas ocasiões, manipula os familia-
res para poder sair e usar a droga. 
Nos períodos de abstinência, tem uma vida recatada.
Trabalha nos negócios da família, com certa dificuldade para
cumprir todas as suas obrigações. Também, no período de absti-
nência, não apresenta distúrbios de comportamento. É instável
nos seus relacionamentos amorosos.
Já fez uso de antidepressivos. Mãe, falecida, tinha depressão.
Tem um irmão mais novo. Bom relacionamento com o pai e o
irmão. Já fez terapia por dois anos e durante a mesma apresentou
as recorrências semestrais.
A cada crise pede para ser internado. Apresenta bulimia
durante os períodos de sobriedade.
Permaneceu 30 dias internado, saindo a pedido, melhorado.
Caso 3
24 anos, brasileiro, sexo masculino, separado, escolaridade
média, trabalha no laticínio da família, evangélico.
O primeiro contato com cocaína foi aos 16 anos. Acha que
começou a usar a droga por influência de colegas. Aos 19 anos
experimentou cannabis. O uso de cocaína aspirada ocorre a cada
30 ou 60 dias. Nas ocasiões de uso da droga, fica fora de casa por
um ou dois dias. Anda de carro dia e noite usando a droga e,
quando melhora, volta para a casa. Não consegue caracterizar o
que o leva a procurar cocaína. Refere que quando vem a vontade
de usar a droga não consegue o controle e, nessas ocasiões, torna-
se manipulador. Quando isso ocorre, há um descontrole total na
sua vida. No final de semana anterior a esta internação, ficou três
dias fora de casa usando a droga. Ele mesmo pediu para ser inter-
nado, sendo esta a sua segunda internação. Quer ficar bem, pois
pretende fazer um curso para piloto de avião.
Nos períodos de sobriedade é trabalhador e cumpridor de
suas obrigações, embora sem muita iniciativa, ou seja, é preciso
programar e determinar a ele o que tem de ser feito. Não tem dis-
túrbios de conduta nos períodos de sobriedade. Não faz uso de
bebida alcoólica. Já fez tratamento ambulatorial com alprazolam
e carbamazepina. Nessa ocasião, ficou seis meses abstêmio.
O casamento durou seis meses, após três anos e meio de
namoro. Para o paciente, a separação foi decorrente de freqüen-
tes intervenções da família da esposa no relacionamento conjugal.
Entretanto, para os pais do paciente, a questão do abuso de droga
foi igualmente um dos fatores da separação. Tem um filho de
cinco meses.
É o filho do meio. Tem duas irmãs solteiras. Pais vivos. Os
pais têm problemas de relacionamento.
Ficou 15 dias internado, saindo a pedido, melhorado.
Discussão
Na prática clínica diária, temos observado que o abuso de
substância é apenas um período intermediário no continuum para
a dependência. E, geralmente, os abusos são em freqüência mais
ou menos semanal. Ou seja, essa constatação está conforme o
DSM-IV4 para o qual o diagnósticode abuso é mais provável em
indivíduos que recentemente começaram a usar a substância.
Contudo, nos casos apresentados, as ocorrências de abuso de
substância ocorrem em períodos de tempo maiores: dois meses,
no caso 1; a cada seis meses, no caso 2; e de 30 a 60 dias, no caso
3. Diferente, portanto, dos históricos de dependência, em que os
períodos entre os abusos vão diminuindo progressivamente, ao
ponto de a droga ser transformada em centro da vida do depen-
dente, abandonando, por isso, quase por completo as atividades
diárias como escola, trabalho, lazer, vida familiar, etc.
O abuso de substância dos casos apresentados segue certa
regularidade de tempo e não evolui para a dependência. É impor-
tante destacar que o contato com a substância não é recente na
história de vida de cada um: o caso 1 conhece alcoólicos há dez
anos; o caso 2 teve seu primeiro contato com cocaína há dez anos;
e o caso 3, há seis anos.
Outro aspecto a ser sublinhado é que, nos períodos de absti-
nência, esses indivíduos têm uma vida praticamente normal, isto
é, inseridos na família, na sociedade, no trabalho e sem distúrbios
de comportamento.
Essas considerações sugerem discutir algumas dificuldades
relativas à compreensão dos casos. A primeira quanto ao 
diagnóstico.
Já que o uso episódico de substância ou a dipsomania está
classificada como síndrome de dependência pela CID-103, cada
caso não preenche, a rigor, três ou mais critérios para, de fato,
caracterizar a síndrome de dependência. Os casos preenchem cri-
térios de abuso de substância, comportamento mal-adaptativo,
conforme o DSM-IV.4 Desse modo, abuso de substância psicoa-
tiva seria um diagnóstico mais preciso, haja vista, principalmente,
a ausência da tolerância e da abstinência. Quanto ao desejo
incontrolável de usar a substância nas ocasiões de abuso, pode ser
considerado um padrão compulsivo ou impulsivo. 
O comportamento compulsivo tem como objetivo prevenir o
sofrimento ou reduzir a ansiedade, enquanto o comportamento
impulsivo buscar prazer. Ambos acontecem independentemente
da vontade ou do controle do indivíduo, podem coexistir num
mesmo indivíduo e são padrões repetitivos de comportamento
(Del Porto, 1996).5
No caso 1, o abuso de alcoólicos, como forma de aliviar a
angústia conseqüente de problemas financeiros, poderia ser
entendido como comportamento compulsivo; e, nos casos 2 e 3,
impulsividade. No entanto, a compulsão implica continuidade,
fato que não ocorre no caso 1, pois, como apontado, há períodos
Casos Clin Psiquiatria 2002; 4(1,2):12-15 13
Abuso de Substância Psicoativa: Relato de Três Casos
de sobriedade. A impulsividade seria, então, o fator determinan-
te dos três casos?
Vallejo Nagera6 descreve dipsomania como ingestões perió-
dicas de alcoólicos por indivíduos aparentemente normais, inte-
grados na vida familiar, social e do trabalho e que não são alcoo-
listas. Os períodos de abstinência tendem a diminuir. Essas inges-
tões alcoólicas ocorrem repentinamente, sem relação com estímu-
los ambientais, como se fosse um “ataque”. Por isso, alguns auto-
res acreditavam que a dipsomania seria um equivalente epilépti-
co. Provas eletroencefalográficas e resultados de testes projetivos,
como o Rorschach, de pacientes com dipsomania não comprova-
ram a hipótese da equivalência epiléptica. O autor supõe que a
etiologia da dipsomania pode ser um transtorno afetivo.
Entretanto, sua causa permanece desconhecida, nem existe orien-
tação terapêutica confirmada. Também, explicações psicodinâmi-
cas não são convincentes. Bons resultados, dentro do mau prog-
nóstico da dipsomania, têm sido obtidos com medicações antide-
pressivas, ansiolíticas ou psicoterapia.
Estudo conduzido por Silveira e Jorge7 sobre comorbidade
psiquiátrica em dependentes de substâncias psicoativas confir-
mam outras pesquisas de que os transtornos depressivos estão
mais freqüentemente associados às dependências. 
Para Ribeiro8, é impossível afirmar de maneira definitiva
sobre a causalidade e a casualidade de transtornos de personali-
dade ou condições psiquiátricas no alcoolismo especificamente.
Simon9 refere que a drogadição aguda, mesmo em indivíduos
não-adictos, é resultante de uma crise adaptativa por aquisição ou
perda. Ou seja, diante de uma situação de sucesso ou de fracasso
o indivíduo, adicto ou não, pode partir para a ingestão abusiva de
uma substância, como se o “remédio-droga” aliviasse a angústia,
sentimento predominante da crise adaptativa, frente ao novo ou
ao desconhecido.
Nos casos estudados, não foram detectados transtornos de
personalidade ou situação de crise adaptativa. No caso 1, que
associa o abuso de alcoólicos com problemas financeiros, talvez
possa ser considerada uma crise adaptativa. Entretanto, no con-
tato com o paciente, esse argumento parecia mais um mecanismo
de racionalização.
Quanto à comorbidade psiquiátrica, o caso 2 apresenta buli-
mia nos períodos de abstinência. Para Halmi10, não é incomum
um transtorno alimentar em dependentes químicos, sendo mais
freqüente no alcoolismo. Smukler (1984), citado por Halmi10,
afirma que a bulimia se enquadra bem na adição. Assim, a buli-
mia como comorbidade da dependência de substância psicoativa
é também uma forma de conduta adita. Provavelmente, como
maneira de substituir o uso da substância, já que a bulimia se
manifestava no período de abstinência.
O comportamento do caso 1 está conforme a definição de
Vallejo Nagera (1976, p. 327-328)6:
“La dipsomania es un síndrome complejo en el destacan
episodios accesionales de ingestión de alcohol en indivi-
duos que, en realidad, no son alcohólicos o que al menos
lo son de un modo completamente distinto a todos los
demás”. 
Na definição de dipsomania, “episodios accesionales” seria
sinônimo de impulsividade? O abuso de cocaína, casos 2 e 3,
pode também ser considerado uma forma de dipsomania ou
semelhante à dipsomania?
A dipsomania é uma forma rara de alcoolismo (Kerbikov et
al).11 Os dois casos de abuso de cocaína, sem evolução para a
dependência, à semelhança da dipsomania, também são raros em
nossa casuística. Na literatura especializada, as referências sobre
dipsomania são igualmente raras e apenas descrevem esse 
tipo de transtorno.
Qual ou quais causas determinariam o comportamento des-
ses pacientes para usarem abusivamente, de modo periódico, a
substância, mantendo vida normal na abstinência?
Parece que é difícil compreender esses casos de abuso de
substância que não evolui para a dependência apenas pela ótica
de adição à substância. 
Pedinielli et al 12 questionam a CID-103 e o DSM-IV4 por
separarem os vários transtornos de adição: os relacionados à
substância (alcoolismo e outras drogas), dos transtornos da ali-
mentação (anorexia, bulimia) e dos transtornos dos impulsos
(cleptomania, jogos patológicos, comportamento de risco).
Embora sejam entidades nosográficas diversas, para esses auto-
res, a questão da dependência ou da adição permite um agrupa-
mento porque suas características comportamentais e psicopato-
lógicas são comuns. 
Assim, o conceito de adição compreenderia um universo
mais abrangente do que especificamente relacionado à substância
psicoativa: num primeiro círculo, as relacionadas às substâncias;
num segundo, os transtornos da alimentação; e, num terceiro cír-
culo, as condutas como cleptomania, condutas de risco, gestos
suicidas interativos, gestos repetitivos para as adições sexuais e
jogos patológicos.12
Esse enfoque pode abrir novas perspectivas de pesquisas
para a questão do abuso de substância que não evolui para a
dependência. Quer dizer, não vinculando essa forma de abuso
exclusivamente em relação à substância, mas na expansão do uni-
verso das adições, ou seja, levando-se em conta, por exemplo, os
hábitos alimentares do paciente (o beber e o consumir drogas
aqui não poderiam ser considerados formas alteradas de alimen-
tação?) e

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