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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro IMPACTOS E CONDIÇÕES AMBIENTAIS DA ZONA COSTEIRA DO ESTADO DO PIAUÍ Agostinho Paula Brito Cavalcanti Orientador: Prof. Dr. José Carlos Godoy Camargo Tese de Doutorado apresentada junto ao Curso de Pós-Graduação em Geografia – Área de Concentração em Organização do Espaço para obtenção do Título de Doutor em Geografia Rio Claro (SP) 2000 2 ÍNDICE Índice de cartas.................................................................................................... vii Índice de figuras................................................................................................... viii Índice de fotografias............................................................................................. x Índice de tabelas.................................................................................................. xiii Índice de quadros................................................................................................ xvii Índice de gráficos................................................................................................. xix Capítulo I – INTRODUÇÃO.................................................................................. 1 1.1. Considerações gerais................................................................................. 1 1.2. Identificação dos problemas....................................................................... 6 1.3. Justificativas e objetivos............................................................................. 9 1.4. Metodologia e técnicas de análise............................................................. 11 Capítulo II – CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DAS ZONAS COSTEIRAS........ 19 2.1. Zonas costeiras: uma revisão de conceitos ............................................... 19 2.2. Classificação da zona costeira do Estado do Piauí.................................... 41 Capítulo III – CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO................... 50 3.1. Localização e descrição geográfica............................................................ 50 3.2. Histórico da ocupação e processos antrópicos....................................... 58 Capítulo IV – DIAGNÓSTICO AMBIENTAL......................................................... 68 4.1. Processos da dinâmica natural costeira..................................................... 69 4.2. Diagnóstico das potencialidades e limitações............................................. 97 4.2.1. Potencialidades naturais e antrópicas............................................ 98 4.2.2. Limitações naturais e antrópicas.................................................... 105 4.3. Caracterização das unidades ambientais costeiras................................... 111 3 Capítulo V – AVALIAÇÃO E ANÁLISE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS............ 125 5.1. As praias e os campos de dunas dissipadas............................................. 133 5.2. Os campos de dunas estabilizadas............................................................ 157 5.3. As planícies fluviais.................................................................................... 174 5.4. As planícies flúvio-marinhas....................................................................... 194 5.5. As planícies flúvio-lacustres....................................................................... 218 5.6. Os tabuleiros costeiros............................................................................... 237 Capítulo VI – PERSPECTIVAS ATUAIS DE DESENVOLVIMENTO................... 256 6.1. Programas de manejo e sustentabilidade das unidades ambientais.......... 259 6.1.1. Programas de manejo das unidades ambientais........................... 260 6.1.2. Propostas de sustentabilidade ambiental...................................... 271 6.2. Proposta de zoneamento costeiro.............................................................. 277 6.3. Plano de gestão ambiental......................................................................... 297 Capítulo VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................... 313 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 324 ANEXO 1 – Fundamentação legal para ocupação do espaço costeiro............... 332 ANEXO 2 – Dados climáticos............................................................................... 337 ANEXO 3 – Dados sócio-econômicos.................................................................. 348 ANEXO 4 – Vista aérea tomadas por sobrevôo.................................................... 353 4 iv A meus pais Hamilton e Britinha e meus irmãos Eudes e Anna.... por toda uma vida de estímulo; A minha esposa Fátima e aos meus filhos Aline, Alano e Aléssio... como uma compensação pelo tempo que deixamos de ficar juntos. v 5 AGRADECIMENTOS Este trabalho é resultado da colaboração conjunta de diversas pessoas e instituições, que cooperaram permanentemente para a sua consecução, aos quais agradeço, muito especialmente: Ao Professor Dr. José Carlos Godoy Camargo, do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências e Ciências Exatas – IGCE da UNESP – Campus de Rio Claro, pela valiosa orientação, críticas e sugestões proporcionadas em todas as fases desse estudo; A Professora Dra. Lívia de Oliveira, pelo estímulo permanente e amizade fraterna; Aos colegas professores e funcionários do Departamento de Geografia e História da Universidade Federal do Piauí – UFPI, pela solicitude demonstrada durante meu afastamento; A Professora Ana Zélia C. Lima Castelo Branco, da Coordenação Geral de Capacitação de Docentes da UFPI, pelo estímulo e apoio dispensados; A Professora Doutoranda Marta Celina Linhares Sales da UFPI, ao Professor Dr. Luiz Botelho de Albuquerque da UFC e em especial ao Pedro Sales de Albuquerque pela amizade e ajuda constantes; Aos Professores do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará – UFC, em especial ao Dr. Edson Vicente da Silva, Dr. José Levi Furtado Sampaio e ao MSc. Raimundo Castelo Melo Pereira, pelo companheirismo e apoio ininterruptos; 6 vi Aos professores do Departamento de Geografia e Planejamento Regional do IGCE da UNESP – Campus de Rio Claro, em especial ao Dr. Adler Guilherme Viadana, Dr. Antonio Carlos Tavares, Dr. Antonio Christofoletti (in memoriam), Dr. Helmut Troppmair, Dra. Iandara Alves Mendes, Dra. Maria Juraci Zani dos Santos, Dr. Miguel Cezar Sanchez e Dra. Nádia Regina do Nascimento, pelos ensinamentos nas disciplinas cursadas e apoio irrestrito; A Professora Dra. Celina Foresti, do Departamento de Biociências da UNESP– Campus de Rio Claro, pelas sugestões na área de Sensoriamento Remoto; Aos Professores Dr. José Manuel Mateo Rodriguez e Dr. Arturo Rua de Cabo, da Universidade de Havana – Cuba, pela oportunidade de convivência e discussões de temas ligados à ciência geográfica; A Professora Doutoranda Liége de Souza Moura e a Professora MSc. Elisabeth Mary de Carvalho Baptista, do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Piauí - UESPI, pela amizade e estímulo permanentes; Aos colegas do Curso de Geografia do IGCE / UNESP – Campus de Rio Claro: Adriano Scalzitti, Ariclenes Polo Souza, Cristiano León Martins, Maria de Fátima Santos Gomes, Ricardo Wagner Ad-Víncula, Rogério Nomura , Renato dos Anjos Santos e Salvador Carpi Júnior, pelo apreço dispensado. 7 vii Índice de Cartas Página Carta 1 - Base cartográfica e unidades ambientais...................................... 117 Carta 2 - Dinâmica natural e impactos ambientais....................................... 132 Carta 3 - Zoneamento costeiro..................................................................... 278 Carta-imagem 1 – Zona costeira do Estado do Piauí..................................... 14 viii 8 Índice de Figuras Página Figura 1 - Diagrama esquemático das fontes de energia e sedimentos para a zona costeira (1.1). Perfil esquemático das zonas costeiras (1.2). Perfil esquemático dos diversos setores da zona costeira do Estado do Piauí (1.3)................................................................ 49 Figura 2 - Localização da área de estudo no contexto do continente americano e da região Nordeste do Brasil.................................... 51 Figura 3 - Diagrama esquemático da dinâmica natural na zona costeira do Estado do Piauí............................................................................. 71 Figura 4 - Zona costeira do Estado do Piauí.................................................. 74 Figura 5 - Aspectos da dinâmica natural costeira do Estado do Piauí........... 76 Figura 6 - Principais correntes marítimas do Atlântico Sul............................. 79 Figura 7 - Transporte de sedimentos efetuado pelos ventos com saltação dos grãos de areia (7.1). Transporte de sedimentos efetuado pelos ventos com suspensão dos grãos de areia (7.2)................. 84 Figura 8 - Circulação das ondas e transporte de sedimentos........................ 87 Figura 9 - Potencialidades da zona costeira do Estado do Piauí................... 103 Figura 10 - Limitações da zona costeira do Estado do Piauí........................... 109 Figura 11 - Deslocamento de sedimentos arenosos na praia devido a ação dos ventos alísios de NE (11.1). Transporte de sedimentos pela atuação das ondas e ventos, com posterior deposição na praia (11.2). Transporte de sedimentos, com exposição durante a baixa-mar e acumulação em forma de dunas (11.3)..................... 134 Figura 12 - Principais impactos e estado ambiental nas praias e dunas dissipadas...................................................................................... 155 9 Figura 13 - Campo de dunas estabilizadas mostrando os estágios de evolução e os impactos ambientais. Início da seqüência através das formações pioneiras, seguidas pela vegetação subperenifólia arbustiva e arbórea, responsáveis pela bioestabilização do relevo dunar (13.1). Avanço de sedimentos arenosos devido o desmatamento com introdução de culturas de subsistência e pecuária extensiva (13.2)....................................... 158 Figura 14 - Principais impactos e estado ambiental nas dunas estabilizadas.. 172 Figura 15 - Blocos-diagrama mostrando a planície fluvial do rio Parnaíba (15.1); Igarassu (15.2); Camurupim (15.3) e Ubatuba (15.4)........ 177 Figura 16 - Principais impactos e estado ambiental na planície fluvial............ 192 Figura 17 - Blocos-diagrama da planície flúvio-marinha do rio Parnaíba (17.1) e dos rios Cardoso / Camurupim (17.2).............................. 196 Figura 18 - Principais impactos e estado ambiental na planície flúvio- marinha......................................................................................... 216 Figura 19 - Principais impactos e estado ambiental na planície flúvio-lacustre 235 Figura 20 - Principais impactos e estado ambiental no tabuleiro costeiro........ 254 x Índice de Fotografias Página 10 Foto 1 - Movimento orbital da onda próximo à praia (1.1) Maré alta próximo a localidade Pedra do Sal – PI (1.2)................................ 89 Foto 2 - Flecha costeira próxima a localidade Barra Grande – PI.............. 93 Foto 3 - Praias e dunas dissipadas com deposição de areias formadas por quartzo, em constante deslocamento devido a deflação eólica, próximo à praia de Atalaia.................................................. 137 Foto 4 - Areias quartzosas marinhas depositadas na praia Peito de Moça (4.1). Dunas dissipadas, próximo a localidade Tatus (4.2). Dunas dissipadas com formação de reservatórios de água, próximo a Ilha Grande (4.3). Dunas em formação com ocorrência de ripple- marks, próximo a localidade Sobradinho (4.4).............................. 140 Foto 5 - Ocorrência dos recifes da Pedra do Sal (5.1). Praia de Itaqui (5.2) e localidade de Cajueiro da Praia (5.3)................................. 146 Foto 6 - Impactos ambientais nas praias e dunas dissipadas. Construção de habitações, próximo a Pedra do Sal (6.1). Turismo pontual e urbanização na praia de Atalaia (6.2). Atividades comerciais e de recreação e lazer na praia do Macapá (6.3). Turismo pontual e lazer na praia da Barra Grande (6.4)............................................. 150 Foto 7 - Dunas estabilizadas com recobrimento vegetal e intensos processos de edafização, próximo a praia da Pedra do Sal.......... 161 Foto 8 - Avanço de dunas devido o desmatamento com recobrimento de áreas da planície flúvio-lacustre do lago Sobradinho (8.1). Dunas estabilizadas por espécies pioneiras e gramíneo-herbáceas, próximo a localidade Ilha Grande (8.2). Dunas em processo de estabilização com proteção artificial devido o avanço sobre áreas residenciais, próximo a Luís Correia.............................................. 168 Foto 9 - Planície fluvial do rio Parnaíba com ocorrência de meandros em 11 áreas de acumulação de sedimentos............................................. 179 Foto 10 - Impactos ambientais na planície fluvial. Navegação com derramamento de óleo – rio Parnaíba (10.1). Urbanizaçãocom atividades comerciais e industriais – rio Igarassu (10.2). Extrativismo vegetal – rio Camurupim (10.3). Desmatamento e erosão das margens – rio Ubatuba (10.4)..................................... 189 Foto 11 - Planície flúvio-marinha com deposição de sedimentos halomórficos, recobertos por manguezais no rio Parnaíba (11.1), rio Igarassu (11.2), rio Camurupim (11.3) e rio Ubatuba (11.4)..... 201 Foto 12 - Impactos ambientais na planície flúvio-marinha. Cultura de arroz – rio Parnaíba (12.1). Construção de salinas – rio Igarassu (12.2). Espécies invasoras devido o desmatamento – rio Camurupim (12.3). Pesca predatória – rio Ubatuba (12.4)............ 211 Foto 13 - Planície flúvio-lacustre em áreas de sedimentação e solos hidromórficos na lagoa do Portinho (13.1) e no lago Sobradinho 13.2)............................................................................................... 223 Foto 14 - Impactos ambientais na planície flúvio-lacustre. Desmonte de dunas e construção de habitações na lagoa do Portinho (14.1). Desmatamento e assoreamento das margens do lago Camurupim (14.2). Desmatamento e erosão das margens do lago Sobradinho (14.3).................................................................. 231 Foto 15 - Superfície aplainada dissecada do relevo tabuliforme, com sedimentos da Formação Barreiras e predomínio de material areno-argiloso, próximo a localidade Camurupim (15.1) e a localidade Jabuti (15.2).................................................................. 239 Foto 16 - Impactos ambientais nos tabuleiros costeiros. Desmatamento e 12 compactação do solo para construção da via de acesso a localidade Barra Grande (16.1). Retirada de madeira para utilização como combustível na localidade Carapeba (16.2). Desmatamento e queimadas, próximo a localidade Queimadas (16.3). Desmatamento e deposição de resíduos sólidos, próximo a cidade de Cajueiro da Praia (16.4)............................................. 247 Foto 17 - Desembocadura do rio Igarassu, próximo a cidade de Luís Correia (17.1). Planície flúvio-marinha do rio Igarassu (17.2). Campo de dunas dissipadas, próximo a lagoa do Portinho (17.3). 354 Foto 18 - Planície fluvial do rio Cardoso (18.1). Planície fluvial do rio Camurupim (18.2). Campo de dunas dissipadas próximo a localidade Sobradinho (18.3)......................................................... 355 Foto 19 - Campo de dunas dissipadas e estabilizadas próximo a localidade Pedra do Sal (19.1). Campo de dunas estabilizadas com recobrimento vegetal, próximo a cidade de Ilha Grande (19.2). Urbanização – cidade de Luís Correia (19.3)..................... 356 xiii 13 Índice de Tabelas Página Tabela 1 - Correntes de maré...................................................................... 81 Tabela 2 - Variações do nível das marés de acordo com as fases da Lua.. 91 Tabela 3 - Dados quantitativos das unidades ambientais predominantes.... 124 Tabela 4 - Levantamento preliminar das espécies da vegetação pioneira das praias e dunas dissipadas.................................................... 142 Tabela 5 - Levantamento preliminar das espécies da vegetação gramíneo- herbácea das praias e dunas dissipadas.................................... 142 Tabela 6 - Levantamento preliminar das principais espécies da ictiofauna marinha........................................................................................ 144 Tabela 7 - Levantamento preliminar das principais espécies de moluscos das praias e dunas dissipadas.................................................... 144 Tabela 8 - Levantamento preliminar das principais espécies da avifauna das praias e dunas dissipadas.................................................... 145 Tabela 9 - Levantamento preliminar das espécies da vegetação gramíneo- herbácea das dunas estabilizadas.............................................. 163 Tabela 10 - Levantamento preliminar das espécies da vegetação subperenifólia das dunas estabilizadas....................................... 164 Tabela 11 - Levantamento preliminar das espécies da avifauna das dunas estabilizadas............................................................................... 165 Tabela 12 - Levantamento preliminar das principais espécies de répteis das dunas estabilizadas..................................................................... 166 Tabela 13 - Levantamento preliminar das principais espécies de mamíferos das dunas estabilizadas............................................................. 166 Tabela 14 - Levantamento preliminar das espécies da vegetação subperenifólia ribeirinha da planície fluvial.................................. 183 xiv Tabela 15 - Levantamento preliminar das principais espécies da avifauna 14 da planície fluvial......................................................................... 184 Tabela 16 - Levantamento preliminar das principais espécies da ictiofauna da planície fluvial......................................................................... 185 Tabela 17 - Levantamento preliminar das principais espécies de répteis da planície fluvial.............................................................................. 185 Tabela 18 - Levantamento preliminar das principais espécies de mamíferos da planície fluvial......................................................................... 186 Tabela 19 - Levantamento das principais espécies frutíferas da planície fluvial........................................................................................... 188 Tabela 20 - Levantamento preliminar das espécies da vegetação perenifólia de mangue da planície flúvio-marinha......................................... 203 Tabela 21 - Levantamento preliminar das principais espécies da avifauna da planície flúvio-marinha............................................................ 204 Tabela 22 - Levantamento preliminar das principais espécies da ictiofauna da planície flúvio-marinha............................................................ 205 Tabela 23 - Levantamento preliminar das principais espécies de moluscos da planície flúvio-marinha........................................................... 206 Tabela 24 - Levantamento preliminar das principais espécies de crustáceos da planície flúvio-marinha........................................................... 207 Tabela 25 - Dados quantitativos dos reservatórios de água.......................... 224 Tabela 26 - Levantamento preliminar das espécies da vegetação subperenifólia ribeirinha e aquática da planície flúvio-marinha... 226 Tabela 27 - Levantamento preliminar das principais espécies da ictiofauna da planície flúvio-lacustre............................................................ 227 Tabela 28 - Levantamento preliminar das principais espécies de crustáceos e moluscos da planícieflúvio-lacustre......................................... 228 Tabela 29 - Levantamento preliminar das principais espécies da avifauna da planície flúvio-lacustre............................................................ 228 xv Tabela 30 - Levantamento preliminar das espécies da vegetação subcaducifólia arbórea-arbustiva do tabuleiro costeiro................ 243 15 Tabela 31 - Levantamento preliminar das principais espécies da avifauna do tabuleiro costeiro.................................................................... 244 Tabela 32 - Levantamento preliminar das principais espécies de répteis do tabuleiro costeiro.......................................................................... 245 Tabela 33 - Levantamento preliminar das principais espécies de mamíferos do tabuleiro costeiro.................................................................... 245 Tabela 34 - Levantamento preliminar das principais espécies forrageiras do tabuleiro costeiro......................................................................... 249 Tabela 35 - Levantamento das principais espécies frutíferas do tabuleiro costeiro........................................................................................ 251 Tabela 36 - Propostas para a Zona de Proteção Permanente (ZPP)............. 281 Tabela 37 - Propostas para a Zona de Compensação (ZCP)......................... 283 Tabela 38 - Propostas para a Zona de Ecoturismo (ZEC).............................. 285 Tabela 39 - Propostas para a Zona de Reserva Extrativista (ZRE)................ 288 Tabela 40 - Propostas para a Zona de Urbanização Prioritária (ZUP)............. 290 Tabela 41 - Levantamento das principais espécies de hortaliças recomendáveis para a zona de agricultura.................................. 294 Tabela 42 - Propostas para a Zona de Aquicultura e Agricultura (ZAA)......... 296 Tabela 43 - Levantamento das principais instituições públicas e privadas..... 299 Tabela 44 - Levantamento preliminar das espécies vegetais utilizadas para fins medicinais............................................................................. 302 Tabela 45 - Banco de dados pluviométricos................................................... 339 Tabela 46 - Balanço hídrico segundo Thornthwaite e Mather (1955)............ 347 Tabela 47 - Domicílios rurais e urbanos......................................................... 349 Tabela 48 - População urbana-rural, área e densidade demográfica............. 349 Tabela 49 - População em idade escolar segundo o nível de ensino e taxa de analfabetismo de crianças e adultos...................................... 350 xvi Tabela 50 - Agricultura permanente – Área plantada (Ha)............................. 350 16 Tabela 51 - Agricultura temporária – Área plantada (Ha)................................ 351 Tabela 52 - Efetivo dos rebanhos – Cabeças................................................. 351 Tabela 53 - Número de unidades de saúde e leitos segundo município........ 352 Tabela 54 - Proporção de chefes de domicílios com renda mensal até ½ salário mínimo e analfabetos....................................................... 352 xvii 17 Índice de Quadros Página Quadro 1 - Síntese das unidades ambientais com seus respectivos indicadores naturais.................................................................... 116 Quadro 2 - Síntese das unidades ambientais, com determinação dos indicadores naturais, potencialidades, limitações e impactos ambientais................................................................................... 122 Quadro 3 - Seqüência do processo de degradação das unidades ambientais................................................................................... 126 Quadro 4 - Características naturais e antrópicas dominantes e seus respectivos índices de artificialização, uso da terra e recomendações para ocupação................................................... 129 Quadro 5 - Características dos solos das praias e dunas dissipadas............ 139 Quadro 6 - Síntese do diagnóstico ambiental – Praias e dunas dissipadas.. 152 Quadro 7 - Síntese da avaliação dos impactos ambientais – Praias e dunas dissipadas.................................................................................... 152 Quadro 8 - Características dos solos das dunas estabilizadas..................... 162 Quadro 9 - Síntese do diagnóstico ambiental – Dunas estabilizadas............ 169 Quadro 10 - Síntese da avaliação dos impactos ambientais – Dunas estabilizadas................................................................................ 170 Quadro 11 - Características dos solos da planície fluvial................................ 181 Quadro 12 - Síntese do diagnóstico ambiental – Planície fluvial..................... 190 Quadro 13 - Síntese da avaliação dos impactos ambientais – Planície fluvial. 191 Quadro 14 - Características dos solos da planície flúvio-marinha................... 200 Quadro 15 - Síntese do diagnóstico ambiental – Planície flúvio-marinha........ 213 Quadro 16 - Síntese da avaliação dos impactos ambientais – Planície flúvio- marinha....................................................................................... 215 Quadro 17 - Características dos solos da planície flúvio-lacustre................... 220 xviii 18 Quadro 18 - Síntese do diagnóstico ambiental – Planície flúvio-lacustre........ 232 Quadro 19 - Síntese da avaliação dos impactos ambientais – Planície flúvio- lacustre........................................................................................ 233 Quadro 20 - Características dos solos do tabuleiro costeiro........................... 241 Quadro 21 - Síntese do diagnóstico ambiental – Tabuleiro costeiro............... 248 Quadro 22 - Síntese da avaliação dos impactos ambientais – Tabuleiro costeiro........................................................................................ 253 Quadro 23 - Potencialidades e fragilidades para aplicação da sustentabilidade ambiental na zona costeira do Estado do Piauí............................................................................................ 273 Quadro 24 - Síntese da gestão ambiental – Infra-estrutura urbana e dos serviços....................................................................................... 301 Quadro 25 - Síntese da gestão ambiental – Potencial natural........................ 312xix 19 Índice de Gráficos Página Gráfico 1 - Direção e velocidade dos ventos – Média mensal (m/s).............. 86 Gráfico 2 - Precipitação – Total anual (mm).................................................. 340 Gráfico 3 - Precipitação – Média mensal (mm)............................................. 341 Gráfico 4 - Temperatura média (máxima, média e mínima) mensal (oC)...... 342 Gráfico 5 - Umidade relativa do ar – Média mensal (%)................................ 343 Gráfico 6 - Evaporação – Média mensal (mm).............................................. 344 Gráfico 7 - Direção e velocidade dos ventos – Média mensal (m/s).............. 345 Gráfico 8 - Insolação mensal (horas)............................................................. 346 20 RESUMO ABSTRACT 21 22 Capítulo I INTRODUÇÃO 1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS A ciência geográfica necessita atualmente elaborar novos critérios conceituais, novas técnicas e meios mais eficientes para estudar as relações que ocorrem entre os fenômenos naturais e sociais. Isto só será conseguido através de trabalhos constantes e intensivos de caráter específico, em setores ou aspectos particulares da Geografia. Considerando-se que a organização do espaço é tarefa primordial do geógrafo, e que este espaço é composto por diferentes ambientes naturais e antrópicos, deve- se avaliar as estruturas e processos atuantes na sua dinâmica, de conformidade com o caráter interdisciplinar requerido pela ciência geográfica. A difusão de métodos e técnicas adequadas de manejo do meio ambiente, como estratégia de utilização plena e equilibrada dos recursos naturais cumpre seu papel nos processos de desenvolvimento e planejamento. A civilização contemporânea, através da urbanização e de inovações tecnológicas, trouxe consigo uma série de transformações no meio natural e, se resultados benéficos têm advindo para a humanidade, problemas vêm se acumulando ao longo do tempo. A formação de uma consciência ambiental sobre as necessidades de preservação e da procura do equilíbrio ecológico, não decorre simplesmente de uma ordenação de leis ou de normas, mas que se dê ênfase a uma ampla e persistente pesquisa científica, aliada a uma efetiva ação educativa, através dos quais se disseminem valores e atitudes em relação aos recursos naturais. 23 A ocupação de extensas áreas naturais, o aproveitamento e utilização dos seus recursos de forma predatória, constituem atualmente a nível mundial, um sinal desalentador da expansão das fronteiras econômicas da atividade produtiva. Nas zonas costeiras ocorrem a maior concentração da produtividade biológica do planeta, localizada ao longo de uma faixa relativamente estreita, formada pelas plataformas continentais e limites das planícies costeiras. Encontram-se ainda os habitats mais produtivos e diversos, vitais para a proteção da costa e fornecedora de alimento e abrigo para uma variedade de espécies, inclusive o homem. Na utilização dos recursos fornecidos pelo ambiente costeiro, com o intuito de atingir os objetivos de desenvolvimento, sem a simultânea degradação da qualidade do meio ambiente, é preciso novos mecanismos que possibilitem a avaliação adequada desses recursos. Estes mecanismos abrangem atitudes conscientes e ações objetivas, onde procura-se analisar a importância das zonas costeiras, determinando as necessidades de cada setor e como integrar a conservação ao desenvolvimento. No território brasileiro, as ações governamentais, a legislação pertinente e o setor privado não tem levado em consideração os danos resultantes da apropriação indevida dos recursos naturais disponíveis e nem sempre renováveis. De acordo com SILVEIRA (1968), a análise das costas brasileiras, considerados seus tipos, características e articulações, deve constituir preocupação fundamental para aqueles que desejam interpretar a evolução do Brasil e compreender os complexos geográficos que em seu território se formam. Se o litoral brasileiro, em si, já representa vasto campo de estudos, as relações dessa porção do país com o interior são chaves para explicações de numerosas questões, cujo esclarecimento fundamenta a interpretação da Geografia e da História brasileiras. Faz-se necessário compreender que o ambiente costeiro brasileiro é composto por sistemas naturais que estão relacionados através de seus componentes físicos, 24 biológicos e antrópicos, e que o estado atual de sua ocupação estão indicados pela alteração de áreas representadas principalmente pela especulação imobiliária. Os impactos ambientais induzidos pela pressão humana são extremamente significativos nas áreas costeiras, trazendo sérios problemas, sendo muitas vezes superior a capacidade de assimilação dos sistemas naturais. Pelo fato de um significativo contingente populacional habitarem estas áreas, ocorrem intensas pressões, com a capacidade de suporte de seus recursos sendo excedida. A população é um importante indicador das mudanças, com sua composição e amplitude, afetando diretamente o caráter do desenvolvimento ou a imposição dos impactos sobre os sistemas naturais. As atividades humanas interferem nos processos naturais e a proteção do sistema ambiental costeiro é necessária para a continuidade da vida. Os ambientes terrestres e marinhos são sistemas totalmente integrados e suas partes estão interrelacionadas e dependentes, onde a alteração de um componente influi em outras partes e na disfunção do sistema como um todo. As pressões exercidas pela presença do homem produzem necessidades como a construção de moradias, hotéis, restaurantes, lojas, etc., requerendo uma infra- estrutura básica (estradas, pontes, saneamento, loteamentos, eletrificação, etc.), cada um exercendo pressões no ambiente ou produzindo vários impactos negativos, como a locação de materiais impróprios, suporte da infra-estrutura e modificação do escoamento superficial e a drenagem subterrânea. O impacto acumulativo devido ao uso da água provoca mudanças no potencial hidrológico, resultando em intrusões de água salgada, pela contaminação orgânica e inorgânica e pela disposição do lixo. Os impactos advindos de um simples projeto podem ser minimizados em uma certa extensão; poderá tornar-se parte de um problema ecológico, principalmente em 25 áreas que possuem recursos sensíveis (praias, campo de dunas, planícies fluviais, planícies flúvio-marinhas, planícies flúvio-lacustres e tabuleiros costeiros), sendo particularmente vulneráveis a acumulação dos impactos. Para o estudo dos impactos ambientais necessita-se de uma metodologia capaz de integrar diferenciadas considerações sobre os recursos naturais e os fatores antrópicos, garantindo a proteção e aproveitamento de acordo com os objetivos propostos, devido principalmente ao avanço do conhecimento científico dos recursos naturais e o aperfeiçoamento de novos métodos e técnicas. Nas últimas décadas tem havido modificações na zona costeira piauiense, devido as transformações mais amplas que atingem toda a sociedade, tais como os processos de urbanização e demanda de serviços. Há uma busca permanente por uma maior ocupação do espaço costeiro piauiense, com a população avançando sobre esta área ampliando o domínio das atividades indiretas de exploração do solo, através do incremento de novas edificações; da expansão de obras para recreação e lazer e da crescente transformação da terra. Este é o quadrogeral da zona costeira do Estado do Piauí, onde os estudos mais detalhados poderão mostrar a dinâmica natural e os impactos ambientais, devendo ser entendido como um detalhamento das potencialidades e limitações para uso em gerenciamento dos recursos naturais e formas de utilização, tanto a nível de conhecimento da costa piauiense, como também pelos encaminhamentos metodológicos utilizados neste estudo. Neste sentido, ao se propor ações sistemáticas visando a conservação do meio ambiente e a implantação de métodos de desenvolvimento em bases sustentáveis, o estudo dos impactos e da sustentabilidade ambiental, consubstancia a cidadania, onde os segmentos da sociedade costeira piauiense serão responsáveis pela qualidade de vida, cabendo-lhes decidir sobre esta questão no cotidiano e de forma permanente. 26 Este estudo preocupa-se essencialmente em fomentar ações que levem à relação equilibrada do ser humano com seu ambiente, objetivando a sustentabilidade do processo de desenvolvimento, incentivando atitudes de respeito às comunidades tradicionais e às culturas locais. Um diagnóstico obtido da análise dos recursos naturais com a integração das características dos mesmos e as condições de degradação da superfície permitirão a tomada de decisões sobre a capacidade de uso. Baseando-se em informações agregadas pela integração de cartas, representando os aspectos naturais do espaço e as atividades sócio-econômicas, recorrendo a um conjunto de medidas que possam ser utilizadas de acordo com um amplo trabalho de difusão dos princípios teóricos e práticos da ciência geográfica. Este trabalho de pesquisa, sob o título “Impactos e condições ambientais da zona costeira do Estado do Piauí”, corresponde a tese de Doutorado do curso de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Estadual Paulista – UNESP / Campus de Rio Claro – SP, onde foi possível desenvolver estudos e pesquisas na área de Organização do Espaço, com professores e estudantes brasileiros e estrangeiros, de diferentes setores no âmbito da ciência geográfica. Com a visão interdisciplinar efetivada durante o curso, pode-se ampliar a atuação profissional e desenvolver novos métodos de investigação, direcionados ao uso, planejamento, manejo e gestão do espaço. A opção da área de pesquisa na zona costeira piauiense, deve-se ainda a significativa importância ecológica e econômica para o Estado e para a Região. As investigações tiveram por objetivo, obter resultados e alternativas aplicáveis em benefício da população e do espaço local, incluindo a harmonia das relações da sociedade com o meio natural, permitindo uma convivência equilibrada a longo prazo. 27 1.2. IDENTIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS A identificação dos problemas é uma questão que decorre de situações específicas da área a ser estudada, estando relacionada aos fenômenos ou variáveis que serão investigadas na pesquisa. As variáveis propostas são decorrentes da ação dos ventos, ondas, marés, correntes marinhas e atividades antrópicas, todas contribuindo para a evolução da área, seja através da dinâmica natural e/ou impactos ambientais. A partir do reconhecimento das condições existentes, experimentados ao longo do processo histórico de ocupação e das atividades antropogênicas, responsáveis pelas transformações dos fluxos de energia e matéria e pelas modificações na estrutura e funcionamento do ambiente costeiro e seus componentes, foram identificados os principais problemas, assim estabelecidos: 1. Transformação dos processos naturais, responsáveis pela determinação do clima, do ar e das águas, da reciclagem de elementos essenciais e da gênese e regeneração dos solos. 2. Redução da diversidade biológica e conseqüente diminuição da variedade de ecossistemas e do potencial genético das espécies. 3. Avanço de dunas provocado pela deflação eólica, com transporte de sedimentos arenosos, favorecendo o recobrimento da vegetação, soterramento dos canais fluviais, áreas residenciais e de cultivos. 4. Modificações ambientais no meio hídrico, devido a inundações periódicas, formação de lagoas e solapamento das margens dos cursos de água. 5. Intensificação da ocupação dos núcleos populacionais, com crescente especulação imobiliária, provocando emigração dos nativos, aumento do custo de vida e conflitos da terra. 28 Estes problemas expressam relações entre duas ou mais variáveis, implicando na possibilidade de testes e obtendo-se evidências reais sobre as relações apresentadas, inerente a própria natureza da ciência geográfica, que consiste em testar relações entre os fenômenos naturais e antrópicos.. Como resultado, numa ampla área de pesquisa, como nos estudos geográficos, é interessante fornecer um banco de dados básicos, que possa ser utilizado no futuro para geração e testes de hipóteses. Na formulação das idéias para a contextualização de uma hipótese, algumas dificuldades tornam-se consideráveis, pois a identificação dos problemas e os seus estudos em potencial requerem uma certa objetividade, geralmente trabalhando-se com uma ou mais hipóteses. Estas idéias deverão ser trabalhadas e complementadas com a utilização de documentos, tais como: mapas, fotografias aéreas, cartas temáticas e imagens orbitais, que estabelecem os padrões de mudanças em um passado recente; derivando um conhecimento prévio, leitura contínua das fontes de dados, intuição e familiaridade com a questão proposta, aliada a disponibilidade de estudos específicos e técnicas adequadas. O resultado de uma interpretação em termos de hipótese original, depende ainda da amplitude das mudanças ambientais ocorridas durante um dado período e os efeitos das atividades humanas antes das fases citadas, durante e depois da ocupação da área. Seguindo-se estes procedimentos, pode-se testar as hipóteses relacionadas a zona costeira do Estado do Piauí, a partir: - do papel exercido como ponto de redimensionamento da interação oceano- continente; - do relacionamento entre a localização geográfica e as características naturais em função dos ventos, marés, ondas e correntes; 29 - do poder dos impactos ambientais exercidos sobre as unidades componentes, em função das interferências humanas. O redimensionamento da interação oceano-continente refere-se a zona costeira dentro de seus limites atuais, definida como a superfície compreendida entre os níveis da máxima preamar e a mínima baixamar, acrescida no continente a área influenciada pelas forças marinhas, havendo portanto, uma penetração entre os domínios submarino e terrestre. A relação entre a localização geográfica e as características naturais refere-se ao posicionamento da área no contexto regional e a dinâmica natural, através das ações que intervêem os ventos, marés, ondas e correntes marítimas como fatores responsáveis pela morfologia costeira atual. A geração dos impactos ambientais através das interferências antrópicas, refere-se ao diagnóstico e avaliação com um sistemático processo de revisão e controle ambiental. Estas hipóteses enunciam relações que deverão ser estudadas e que serão testadas na pesquisa, tornando-se necessário identificar clara e inteiramente suas variáveis e deduzir suas implicações no contexto da área. 30 1.3. JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS Devido a complexidade natural e a intensidade da intervenção do homem na organização do espaço costeiro, merecendo especial atenção quanto a manutenção de seu equilíbrio, utilização racional e conhecimento detalhado de sua estrutura e funções, dentro de uma visão geográfica, justifica-se esta pesquisapelo fato de: • estabelecer critérios técnicos e científicos entre os atributos naturais e humanos, visando um planejamento coerente com a legislação ambiental, com as perspectivas políticas e administrativas e com os anseios da comunidade; • fornecer uma análise de caráter geográfico, proporcionando subsídios teóricos e metodológicos para a abordagem da dinâmica natural, avaliação de impactos ambientais e elaboração de prognóstico em áreas costeiras; • propor medidas objetivas ao planejamento integrado, estabelecendo critérios para seu pleno desenvolvimento e efetivação. Trata-se, portanto, de um estudo que procura desenvolver um modelo das relações entre os sistemas naturais e antrópicos, tendo como ponto fundamental a dinâmica natural e os impactos provenientes das interferências humanas, sob a ótica da ciência geográfica. Considerando de fundamental importância nos estudos geográficos a visão integrada do espaço, direcionada ao conjunto dos fatores naturais e suas interdependências, aliados a fatores de ordem sócio-econômica e político- administrativas, esta pesquisa tem como objetivo principal o estudo das unidades ambientais da zona costeira do Estado do Piauí, fundamentado através da análise das condições naturais; dos impactos decorrentes das atividades antrópicas e na identificação de suas potencialidades e problemas, com o intuito de oferecer subsídios para a organização do espaço. 31 Como objetivos específicos, considerados a partir de uma concepção de análise geográfica, foram relacionados os seguintes: 1. Inventário e caracterização geográfica da área considerando-se a análise da literatura, do material cartográfico e trabalho de campo; 2. Avaliação do processo histórico de ocupação, servindo para determinar a evolução originada pelas interferências humanas; 3. Levantamento e análise dos aspectos naturais do espaço, visando o conhecimento de suas potencialidades e limitações; 4. Localização e análise dos impactos ambientais, correlacionando suas causas, efeitos e conseqüências para a área; 5. Propostas e alternativas de manejo, considerando o atual estado de utilização e proteção ambiental; 6. Prognóstico e zoneamento ambiental, oferecendo efetiva contribuição para o desenvolvimento em bases sustentáveis. Estes objetivos permitirão chegar a conclusões que contribuirão para aumentar o conhecimento científico e fornecer informações aos órgãos públicos, que efetuam o planejamento regional e a própria comunidade, que terá um modelo de aproveitamento e preservação, resultado da análise da dinâmica e do diagnóstico ambiental, necessários para um adequado desenvolvimento da área. 32 1.4. METODOLOGIA E TÉCNICAS DE ANÁLISE A análise da metodologia em Geografia, no sentido de uma compreensão mais clara da natureza desta ciência, passa necessariamente pelo estabelecimento de um avanço entre a preocupação descritiva e contemplativa do passado e a preocupação crítica e/ou de intervenção na organização do espaço no presente. Os métodos de investigação científica apresentam-se como um conjunto de normas e de passos lógicos que devem ser satisfeitos, caso se deseje que a pesquisa seja adequadamente conduzida e capaz de levar a conclusões racionais. Os geógrafos comumente utilizam métodos de relações específicas e direcionais entre os fenômenos naturais e sociais. De acordo com este procedimento, os dados necessários para o desenvolvimento da pesquisa serão levantados através da observação direta, medições de campo e análise de dados, que servirão para a resolução dos problemas encontrados. Com relação a nossa pesquisa procuramos adotar o denominado Método Científico determinando a ordem que os estágios de pesquisa normalmente ocorrem: o desenvolvimento da proposta, os processos de coleta de dados e análise, a elaboração do trabalho e conclusões. A esse respeito, SILVA (1978) trabalha a questão do método científico e a observação em Geografia, ressaltando que os procedimentos percorrem as seguintes etapas: - Seleção e definição de condições e problemas, essenciais em qualquer pesquisa, requerendo um relativo nível de conhecimento prévio da área, onde ocorrem problemas, procurando explicitá-los e defini-los de acordo com os métodos e técnicas utilizadas; 33 - Observação, coleta de dados e seus registros, através de métodos, técnicas e instrumentos adequados, que servem para o exame direto dos fatos ou costumes do local, estando acompanhados do interrogatório imediato (entrevistas), procurando maiores detalhes para o aprofundamento da análise; - Análise e classificação dos dados, onde são agregadas as informações adquiridas, analisadas e classificadas de acordo com os objetivos propostos. Seguindo-se estes critérios procurou-se adequar a metodologia aplicada segundo a necessidade de alcançar os objetivos previamente estabelecidos, de maneira seqüencial, sendo correlacionados com os problemas e finalidades, como também da realidade das condições existentes. As técnicas utilizadas na realização desta pesquisa estão relacionadas a uma seqüência de operações para se chegar a uma determinada finalidade e ficou assim composta: 1. Pesquisa de reconstrução histórica, referida a coleta de dados sobre fenômenos ocorridos em um passado próximo ou remoto, procurando elementos para a compreensão do presente. Procedeu-se uma pesquisa bibliográfica, com o intuito de se obter dados e informações sobre as formas de ocupação e povoamento, onde foram avaliadas as primeiras interferências antrópicas. 2. Pesquisa de campo, destinada a obtenção de dados a respeito de fenômenos que ocorrem no presente. As observações serviram para o exame atento dos acontecimentos, fatos e costumes diretamente no local de ocorrência, acompanhando os detalhes dos objetos de estudo, sendo complementadas pelas entrevistas, obtendo-se maiores subsídios no aprofundamento da análise. As entrevistas foram fundamentais, pois possibilitam o registro das observações na sua aparência e na sua natureza, sendo importantes na análise e interpretação dos dados coletados. Nesta fase da pesquisa foram entrevistados os habitantes das diversas 34 comunidades da zona costeira, o que facilitou a compreensão e evolução de seu desenvolvimento. Percorreram-se as vias de acesso (estradas pavimentadas ou não, caminhos e trechos significativos como a linha da costa, dunas, áreas com vegetação nativa e áreas agrícolas). Para os trechos de difícil acesso (manguezal e desembocaduras dos cursos de água), utilizou-se embarcações dos pescadores. Todas as observações e coletas de material foram devidamente transcritas e plotadas em carta plani-altimétrica básica e anotadas em caderneta de campo, proporcionando um conhecimento real da área. Paralelamente fizeram-se registros fotográficos, que permitiu preservar detalhes para um estudo mais intenso, em épocas posteriores. Saliente-se que as pesquisas de campo foram efetivadas em períodos distintos (chuvoso e seco), entre os anos de 1998 a 2000, o que propiciou um maior conhecimento da área, preferencialmente nos meses de março/abril (período chuvoso) e outubro/novembro (período seco). 3. Pesquisa de gabinete, com a elaboração das cartas temáticas, análise das informações pertinentes a revisão bibliográfica e cartográfica, da interpretação dos dados colhidos em campo e da redação final da tese. Este procedimento permitiu a caracterização, o diagnóstico, o zoneamento e o monitoramento dos processos naturais e das atividades antrópicas da zona costeira, fundamentais para o planejamentoe conhecimento das mudanças ocorridas e das tendências atuais. Para o desenvolvimento deste trabalho foram utilizados os seguintes materiais: imagem em papel do sensor TM (Thematic Mapper) do satélite LANDSAT-5, órbita WRS 219/62, quadrantes E e W, com passagem em 08/11/91, na escala de 1:50.000, reproduzida nas bandas espectrais do visível e infravermelho próximo: TM3 (0,63 a 0,69 µ); TM4 (0,76 a 0,90 µ) e TM5 (1,55 a 1,75 µ) formando composição colorida 5 (Vermelho), 4 (Verde), 3 (Azul), fornecida pelo INPE. Tivemos ainda como suporte técnico para interpretação visual as imagens em papel do sensor HRV1 do satélite SPOT, órbita 716-356/0, com passagem em 35 07/09/95 e do sensor HRV2, órbita 717-356/3, com passagem em 22/08/95, na escala de 1:100.000, fornecida pela SPOT IMAGE / CNES – 1995 (Carta-imagem 1). As informações extraídas das imagens orbitais foram interpretadas e registradas quando da confecção dos “overlays”, sendo posteriormente lançadas na base cartográfica e nas cartas temáticas. Para identificação dos aspectos geográficos, orientação de trabalho de campo e informações gerais sobre a área de estudo, foram utilizados ainda os seguintes materiais: - Fotografias aéreas em preto e branco, datadas de novembro/1982, na escala de 1:30.000, fornecidas pela TERRAFOTO. - Mosaico aerofotogramétrico semi-controlado, datado de novembro/1982, na escala de 1:100.000, fornecido pela TERRAFOTO. - Folhas sistemáticas plani-altimétricas da DSG / SUDENE, na escala de 1:100.000. • Folha PARNAÍBA: SA.24-Y-A-IV • Folha CHAVAL: SA.24-Y-C-II • Folha BITUPITÁ: SA.24-Y-A-V • Folha COCAL: SA.24-Y-C-I - Carta náutica – Brasil – Costa Norte: Porto de Luís Correia da DHN – Marinha do Brasil, na escala de 1:250.000. - Produtos fotográficos em papel e diapositivos, obtidos durante o trabalho de campo. Outro aspecto metodológico importante trata da aplicação de técnicas de extração de dados para mapeamento, onde inclui-se os materiais disponíveis (mapas e cartas preexistentes, fotografias aéreas convencionais e imagens orbitais) e a utilização de técnicas de análise visual. 36 Neste processo faz-se necessária a recuperação de informações passadas, que possam fornecer dados para o encaminhamento da pesquisa, servindo como complemento no entendimento da dinâmica da organização espacial. A seguir serão descritas as etapas de coleta e extração de dados que foram utilizados para o mapeamento: 1. Delimitação da área de estudo e definição de objetivos, que serviram para orientar o desenvolvimento do trabalho e a localização e delimitação da área de estudo em uma carta-base. 2. Coleta de dados gerais da área através de revisão cartográfica (aquisição de mapas e cartas já existentes) e revisão bibliográfica (aquisição de trabalhos já realizados na área ou que se relacionam com os objetivos propostos). 3. Aquisição de fotografias aéreas e imagens orbitais obtidas nos órgãos públicos que dispunham de vôos aerofotogramétricos da área (fotografias aéreas) e no Instituto de Pesquisas Espaciais – INPE (imagens orbitais TM / LANDSAT-5 e HRV / SPOT). 4. Aplicação de técnicas de análise visual que consistiu na comparação entre as propriedades espectrais e texturais, que cada fenômeno espacial assumiu nas diversas cenas registradas, associando diferentes níveis de reflectância aos diversos fenômenos, época de tomada das imagens, relacionadas com os alvos espectrais. A partir daí, confeccionou-se as chaves de interpretação, com as unidades de mapeamento, compatível ao nível de detalhamento e determinação da legenda. 5. Inspeção de campo, que possibilitou estabelecer com segurança as informações fornecidas pelos padrões das fotografias aéreas e imagens orbitais dos diferentes objetos, servindo para a eliminação de dúvidas em áreas que não se ajustaram aos padrões estabelecidos nas chaves de interpretação. 37 6. Interpretação final onde aferiu-se a verdade terrestre e estabelecida a legenda definitiva, elaborando-se a base cartográfica na escala de 1:100.000. 7. Elaboração das cartas temáticas onde foram expostos os resultados finais da interpretação, contendo informações necessárias para a identificação e localização geográfica dos elementos básicos de mapeamento (núcleos urbanos, vias de acesso, hidrografia, escala, coordenadas e legenda) e os diversos temas abordados, (unidades ambientais, dinâmica natural, impactos ambientais e zoneamento costeiro) na escala de 1:100.000. Para o desenvolvimento dos aplicativos de geoprocessamento, foram utilizados os seguintes equipamentos: - Microcomputador: processador central (500 Mhz), co-processador e memória principal de 32 Mgbytes; - Periféricos: Winchester de 1.2 Gbytes, floppy de disco de 3,5 polegadas, terminal de vídeo SVGA, teclado alfanumérico; - Terminal gráfico: unidade visualizadora de imagens; - Controlador gráfico VGA: terminal gráfico de alta resolução (utiliza a própria tela do microcomputador); - Mesa digitalizadora: Digigraf Van Gogh – formato A1; - Plotadora: plotter Digicon – formato A0. Como suporte a elaboração dos aplicativos, foi desenvolvido no INPE – Instituto de Pesquisas Espaciais – o Sistema Geográfico de Informações – SGI, que permite a criação de um banco de dados geográficos, podendo-se adquirir, armazenar, combinar, analisar e recuperar informações codificadas espacialmente. Tais sistemas apresentam um enorme potencial, baseados em tecnologias de custo relativamente baixo, tornando possível a automatização de tarefas antes realizadas manualmente e facilita a realização de tarefas complexas, através da integração de dados geocodificados. 38 As cartas geradas neste trabalho tiveram por objetivo, integrar, numa única base de dados, as informações espaciais provenientes de dados cartográficos adquiridos da combinação de cartas topográficas, fotografias aéreas convencionais, imagens de satélite e aferições da verdade terrestre em pesquisas de campo. A partir destas operações o SGI armazenou a topologia dos diversos elementos geográficos, levando em consideração a diferente natureza dos dados. A identificação taxonômica da flora e da fauna seguiu os seguintes encaminhamentos. Com relação a análise florística foram coletadas amostras em áreas representativas de vegetação com distintos graus de conservação, através de trabalho de campo, com complementação do estudo taxonômico das espécies, processada através de consulta a bibliografia específica. Com relação a análise dos componentes faunísticos, a coleta e observação sistemática foram a base dos levantamentos realizados. As espécies coletadas foram identificadas por sua denominação popular com a colaboração dos habitantes da área, através de informações e entrevistas, complementadas em sua nomenclatura científica, com consultas a bibliografia especializada. A análise das condições sócio-econômicas da população e a infra-estrutura das localidades, foi efetuada através das observações e levantamentos dos núcleos populacionais, utilizando-se questionários e avaliando-se a infra-estrutura das residências e logradouros públicos, complementadas com consultas aos registros demográficos e revisões bibliográficas específicas. A localização e avaliação da dinâmica natural foi efetuada através de estudos sistemáticos, apoiados em entrevistas e observações diretas, complementadas com consultas a bibliografia existente. A localização e avaliação dos impactos ambientais foi efetivada através de observações sistemáticas e levantamentos qualitativos dos componentes naturais, permitindo avaliar as causas e conseqüências dos agentes impactantes.39 Para as perspectivas de desenvolvimento optou-se pela afirmação de valores e ações que contribuam para a transformação econômica e social e proteção ambiental, onde as comunidades implementem suas próprias alternativas, buscando uma melhor qualidade de vida. Com base nos estudos da integração dos elementos acima citados, torna-se possível realizar previsões ou prognósticos das consequências sobre o meio ambiente, recorrendo-se à utilização de indicadores componentes das características ambientais a serem identificadas no diagnóstico, permitindo uma classificação qualitativa dos impactos. A avaliação dos impactos ficará condicionada ao nível de conhecimento dos indicadores, através da identificação e interpretação dos impactos, podendo-se chegar à definição de medidas capazes de atenuar os principais efeitos negativos. O conjunto dos elementos expostos deverá indicar o conhecimento da evolução espacial da área, sendo possível estabelecer o diagnóstico sócio-ambiental, indicando-se alternativas de manejo, propostas de sustentabilidade e o zoneamento e prognóstico ambiental. 40 Capítulo II CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DAS ZONAS COSTEIRAS 2.1. ZONAS COSTEIRAS: UMA REVISÃO - CONCEITOS E INTERPRETAÇÕES Foram relacionados trabalhos específicos por ordem cronológica, resultados de pesquisas em ambientes costeiros ou mesmo artigos que abordam descrições mais detalhadas de determinadas áreas, realizando uma coleta dos principais trabalhos em língua portuguesa e estrangeira, relatando as contribuições publicadas no exterior, no Brasil e na Região Nordeste. A indicação de trabalhos clássicos, contemporâneos e mesmo inéditos, compreendem textos temáticos de análise, discursivos e de apoio referencial. Os trabalhos de outra natureza tais como dados censitários, mapas e cartas, já estão devidamente registrados como fontes ou base de dados na elaboração de cartas básicas e temáticas, gráficos, tabelas, figuras e quadros, além das fotografias registradas pelo autor. Foram selecionadas publicações que diretamente contribuíram ou trouxeram subsídios para o entendimento do tema proposto, sem contudo ter a pretensão de esgotar o assunto, procurando aqueles que nos fornecessem um apoio teórico e metodológico no âmbito de ambientes costeiros. ♦ Contribuição de autores estrangeiros Em termos de bibliografia clássica referente a ambientes costeiros, cabe-nos ressaltar a obra de JOHNSON (1938), sob o título: “Shore Processes and Shoreline Development”, onde estudou exaustivamente os princípios fundamentais e os processos atuantes nas zonas costeiras, incuindo desenvolvimento da linha da costa 41 Através de uma análise detalhada tratou a questão da ação e do trabalho das ondas e correntes marinhas nos capítulos iniciais. A seguir aborda o desenvolvimento da linha da costa, detendo-se desde os estágios iniciais até os de maturidade, observando os efeitos de transgressão e regressão marinha no tempo histórico. Sobre este assunto, pode-se citar também o trabalho de GUILCHER (1957), sob o título: “Morfologia Litoral y Submarina”, cujo objetivo foi apresentar os aspectos das formas ligadas a presença e atividade das zonas costeiras. O autor aborda as ações que intervêm na morfologia das costas, relatando o trabalho das ondas, correntes e ventos. A questão das formas ligadas a proximidade com o oceano, como as praias e dunas, estuários e deltas, são também revistas.Especial atenção foi também dispensada sobre a evolução costeira através de conceitos clássicos, de acordo com as categorias iniciais (primárias) e conseqüentes (secundárias). O trabalho de KING (1962) intitulado: “Oceanography for Geographers”, teve por finalidade estudar os aspectos oceanográficos levando-se em conta os fatores físicos e biológicos de forma integrada. Foram reunidas importantes informações para o estudo das características dos oceanos, especialmente aquelas de relevante interesse para os geógrafos que não desejam se aprofundar em estudos específicos, mas que necessitam conhecer e descobrir as tendências atuais deste vasto campo de conhecimento. Todos os capítulos foram revistos, especialmente aqueles que tratam da circulação das águas dos oceanos, do trabalho das marés e ondas, das características dos sedimentos e principalmente o capítulo IX, que aborda o significado geográfico dos oceanos, reportando-se a interação destes com a atmosfera, as mudanças do nível do mar, as mudanças costeiras influenciadas pelas forças marinhas, os oceanos vistos como meios de exploração, através de fonte de recursos para alimentação e como meio de transporte de mercadorias. Estudo mais específico foi elaborado por OTTMANN (1965), onde trabalha com a geologia marinha e litorânea, tornando-se um estudo oceanográfico de considerável valor. Foi dada especial atenção ao capítulo IV, que trata das costas arenosas, 42 especialmente as praias, dunas e cordões, através de estudos da morfologia das praias; os aspectos geológicos e a instabilidade das costas arenosas. Uma análise mais detalhada foi realizada no capítulo V, que discorre sobre os estuários, marismas e deltas. Os estuários e marismas foram vistos através de estudos específicos de sua sedimentação, morfologia e evolução; já os deltas, através de sua formação e evolução, sedimentos e morfologia. Um estudo importante para o conhecimento de ambientes costeiros foi realizado por ZENKOVICH (1967) onde destaca-se o estudo das formas e processos de acumulação, relatando os fatores gerais, sua origem e desenvolvimento sob condições naturais e uma classificação adotando os critérios morfológicos e dinâmicos. Considerou ainda a influência dos cursos d’água na evolução das costas, tratando sobremaneira dos fatores gerais e dos processos, da desembocadura, dos terraços aluviais e marinhos e das costas deltaicas. Abordou também os processos eólicos costeiros, através das características regionais e a conexão entre a formação de dunas e a dinâmica geral das costas, o mecanismo da ação do vento e a morfologia das dunas costeiras. Uma obra de caráter técnico-científico e de importância para o conhecimento da geomorfologia, foi publicada por TRICART (1968). Trata-se de um livro em que é dada relevância à geomorfologia estrutural, abordando a construção geral do globo terrestre. Os tópicos de interesse para este trabalho tratam especificamente das variações do nível do mar e posição do litoral; mecanismos do eustatismo; oscilações quaternárias do nível marinho; correlação dos antigos níveis marinhos e variações quaternárias do nível geral dos mares. Com a publicação sob o título: “Beaches and Coasts”, KING (1972) estudou as formações costeiras e seus processos atuantes, considerando os aspectos geomorfológicos, hidrológicos, climáticos e oceanográficos. Deteve-se especialmente nos ambientes praiais, onde foram revistas o desenvolvimento, evolução e os efeitos dos organismos, sedimentos, ondas e correntes. 43 O trabalho de NONN (1972) sob o título: “Géographie des littoraux”, teve por finalidade o estudo dos aspectos fisionômicos, gênese e modalidades de evolução do litoral, distinguindo entre litoral de submersão e emersão. O capítulo III, importante para nosso trabalho, aborda a diversidade das costas de acumulação, com referência as praias, flechas e dunas costeiras. Trata ainda dos estuários, marismas, lagunas e deltas, através de suas condições de formação, classificação e zonação. De forma genérica contribuiu para o presente suporte teórico-conceitual, a obra de GARNER (1974), sob o título: “The originof landscapes”, onde através de uma síntese geomorfológica são relatados os conceitos, objetivos e métodos aplicados em geomorfologia. Trata ainda dos elementos tectônicos, dos sistemas exógenos e dos sistemas geomorfológicos úmidos e áridos. Especial atenção foi dada aos capítulos IX e XII, que relatam respectivamente os sistemas costeiros e a geomorfologia ambiental. Com relação aos sistemas costeiros foram vistos o desenvolvimento e evolução da geomorfologia marinha; as condições das águas, dos organismos e os efeitos dos sedimentos, das ondas e das correntes costeiras. Já no tocante aos problemas ambientais referidos à geomorfologia, o autor identifica a complexidade da história ambiental relativa aos desequilíbrios causados pelos processos erosivos acelerados, com ênfase na erosão costeira. Ao apresentar uma revisão nos estudos sobre manguezais WALSH (1974), propõe algumas teorias para explicar a dispersão das espécies de mangue no litoral tropical. Ao estudarem a ecologia dos manguezais, LUGO e SNEDAKER (1974), classificaram estas áreas segundo os tipos fisiográficos, baseados nas características estruturais e funcionais, refletindo a interação existente entre eles e as condições locais presentes. Uma coletânea de artigos publicada por GEHU em 1975, tratou da vegetação das dunas marítimas. Este trabalho foi originado de um colóquio fitossociológico realizado em Paris no ano de 1971, sob os auspícios da Associação Internacional de 44 Fitossociologia. Foram apresentados trabalhos que abordaram aspectos originais para o conhecimento da vegetação das dunas, sua ecologia e sua dinâmica.Os ensaios, geralmente de síntese e de informações fitossociológicas, forneceram numerosas discussões, principalmente quanto a degradação acelerada das dunas em várias regiões do mundo. CHAPMAN (1976) apresentou uma abordagem bibliográfica concernente ao ponto de origem dos manguezais, objetivando explicar a dispersão das espécies e sua evolução na superfície terrestre. BLOOM (1978) faz também referência ao estudo das zonas costeiras, quando trabalha com as trocas de energia na costa, os sedimentos e paisagens costeiras. Neste trabalho o autor relata a dinâmica das ondas, marés e organismos, responsáveis pela energia do ambiente costeiro. As fontes e o transporte de sedimentos costeiros foram também revistos. Com relação as paisagens costeiras, trabalha com uma série de parâmetros responsáveis por sua evolução: tempo; assoreamento e erosão; submergência e emergência. Como parte integrante da fundamentação teórica na elaboração do presente trabalho, deve-se salientar a publicação de WARREN (1979), sob o título : “Process in geomorphology.” Nesta obra o autor realiza um estudo genérico sobre os processos geomorfológicos, relatando os processos endogenéticos e exogenéticos. Especificamente para nosso trabalho foi revisto o capítulo X, que trata dos processos eólicos, principalmente aqueles referentes a erosão, transporte e deposição de sedimentos. Ênfase especial deve ser dada a publicação de EMBLETON e THORNES (1979), principalmente nos capítulos X, XI e XII, que mais de perto correspondem aos objetivos do presente trabalho. Estes capítulos descrevem, respectivamente, temas relativos aos processos eólicos e marinhos, e aos processos e inter-relações entre a dinâmica e modificações nas zonas costeiras. Todos estes processos são causados por agentes como os ventos e as chuvas, ondas e marés, cursos d’água e relação sol-água, referentes as forças exercidas pela 45 resistência desses sistemas naturais, nas mudanças ocorridas na estrutura física e pela localização, procurando entender as relações entre as formas e os processos ou a cadeia causa-efeito. Sob o ponto de vista geomorfológico, DERBYSHIRE, GREGORY e HAILS (1979), publicaram uma obra cujo objetivo básico foi estudar os processos geomorfológicos e seus efeitos, dando ênfase a natureza desses processos e seu controle. Procuraram compreender os processos e mecanismos da paisagem, incluindo a influência do homem e os princípios teoréticos, ressaltando a operacionalização dos processos individuais. Tiveram também a oportunidade de trabalhar com cronologia do relevo no passado e com aplicações para o conhecimento adquirido, procurando compreender as futuras tendências dos processos. Deve-se salientar para nossa fundamentação teórica, o capítulo III, que trata dos processos costeiros: o trabalho das ondas e marés, transporte de sedimentos, configuração da linha de praia, planejamento e proteção das zonas costeiras; e o capítulo IV, que aborda questões relativas aos processos eólicos, com atenção para o transporte dos grãos de areia, abrasão e deflação e formas de acumulação de sedimentos. Estudo mais especializado foi elaborado por DAVIES (1980), através da obra intitulada: “Geographical Variation in Coastal Developmment”, que versou sobre os aspectos gerais da estrutura geológica, aspectos litológicos, análise climática, trabalho das ondas e marés e os efeitos dos fatores biológicos, procurando uma explicação para o desenvolvimento morfológico costeiro. De acordo com o autor, as zonas costeiras têm sido trabalhadas independentemente do clima, contrariando o que de modo geral ocorre com os processos geomorfológicos continentais, mostrando ser possível identificar significativos ambientes sob a influência das marés, através da distinção das zonas climáticas. Uma obra de caráter metodológico e de importância para o conhecimento dos princípios das investigações do campo e o mapeamento geomorfológico, foi realizada 46 por SPIRIDONOV (1981). Seu objetivo neste trabalho foi introduzir uma metodologia de estudos geomorfológicos aplicados, com base nos métodos gerais das pesquisas de campo. Na primeira parte, o autor analisa a organização e a metodologia das pesquisas e os métodos de registro dos resultados obtidos durante as observações, sobretudo os métodos de confecção dos mapas geomorfológicos. A segunda parte relata a metodologia de análise geomorfológica geral e inclui uma série de conclusões especiais de análise do relevo e os sedimentos que o integram. Especial interesse foi reservado aos capítulos XIV e XV, que tratam, respectivamente, do relevo eólico, com estudo dos fatores de formação, formas e representação; e das costas marinhas, com estudo das formas e representação do relevo de origem marinha. Ainda referente a geomorfologia pode-se acrescentar a obra de CLOWES e COMFORT (1982), que trata dos processos e formas do relevo, apresentando no capítulo IX, um esboço da geomorfologia contemporânea relativa aos ambientes costeiros. Os autores trabalham neste capítulo, com a erosão costeira, as praias, as formas construtivas, as mudanças no nível do mar, os estuários e dunas, e finalmente adotam uma classificação para as zonas costeiras e critérios para sua proteção. KOMAR (1983) organizou uma coletânea de trabalhos referentes aos ambientes costeiros. Os estudos referem-se aos processos físicos das ondas e correntes nas costas, responsáveis pela formação das praias, via transporte de sedimentos, resultando na mudança da morfologia costeira. Deve-se salientar o trabalho de BIRD (1984), que estudou as formações costeiras através de sua evolução, processos e mudanças ao longo do tempo. Convêm ressaltar os capítulos VI, VII e VIII, que tratam respectivamente das dunas costeiras e seu papel na formação de depósitos de sedimentos arenosos; dos estuários e lagoas costeiras, com descrição dos aspectos físicos da desembocadura dos rios e formação de manguezais; e das planícies deltaicas, com a abordagem das formas e estruturas
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