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RESUMÃO DE TSP II PSICANÁLISE

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RESUMO TSP II - PSICANÁLISE
METAPSICOLOGIA
A metapsicologia freudiana traz os princípios, os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da clínica psicanalítica. É um método de abordagem de acordo com o qual todo processo mental é considerado em relação com três coordenadas: dinâmica, topográfica e econômica.
Estrutura e funcionamento do psiquismo  
Pouco a pouco o psiquismo se organiza, se estrutura como um todo complexo, com traços originais que não poderão variar depois. Bergeret (2006) fala que essa organização e estruturação do psiquismo individual começará desde a tenra infância; antes do nascimento em função da hereditariedade para certos fatores, mas sobretudo do modo de relação com os pais, desde os primeiros momentos da vida, das frustrações, dos traumas e dos conflitos encontrados, em função também das defesas organizadas pelo ego para resistir às pressões internas e externas, das pulsões do id e da realidade.   
Em seus aportes teóricos Freud foi levado a elaborar um modelo de funcionamento mental. Desde cedo ele forjou o termo metapsicologia mental para designar os aspetos teóricos da Psicanálise. Essa metapsicologia busca dar conta dos fatos psíquicos em seu conjunto, principalmente de sua vertente inconsciente. A metapsicologia freudiana traz os princípios, os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da clínica psicanalítica.
Em 1915 fez uma tentativa para produzir uma ‘Metapsicologia. ‘Sobre o Narcisismo’ (1914) ‘As Pulsões e suas Vicissitudes’ (1915), ‘Repressão’ (1915), ‘O Inconsciente’ (1915), ‘Luto e Melancolia’ (1917) etc. vem fazer parte dessa tentativa. Com isso queria construir um método de abordagem de acordo com o qual todo processo mental é considerado em relação com três coordenadas, as quais descreveu como dinâmica, topográfica e econômica, respectivamente.
Ponto de vista dinâmico
O ponto de vista dinâmico explica os fenômenos mentais como sendo o resultado da interação e de contra-ação de forças mais ou menos antagônicas. A explicação dinâmica examina não só os fenômenos, mais também as forças que produzem os fenômenos. As pulsões são um tipo especial de fenômeno mental que força no sentido de descarga, experimentada como uma “energia urgente”. Zimerman (1999) define pulsão como necessidades biológicas, com representações psicológicas que urgem em ser descarregadas.
Segundo Freud (1915) as pulsões são o representante psíquico dos estímulos somáticos. As pulsões tendem a baixar o nível de tensão através da descarga de forma imediata, mas existem contra-forças que se oporão a essa descarga (satisfação da pulsão). E a luta que se cria constitui a base dos fenômenos mentais.
Em Psicopatologia da Vida Cotidiana Freud (1914) diz que os lapsos de língua, erros, atos sintomáticos, sonhos são os melhores exemplos de conflitos que se produzem entre a luta pela descarga das forças que a isso se opõem. Em Conferências Introdutórias Freud (1916) defende que o produto do lapso pode ele próprio ter o direito de ser considerado como ato psíquico inteiramente válido, que persegue um objetivo próprio. Para Freud os fenômenos lacunares – sonhos, atos falhos, parapraxias, sintomas constituem um meio – êxito e um meio – fracasso para cada uma das duas intenções.
Quando as tendências à descarga e as forças repressoras que inibem essa descarga são igualmente fortes a energia consome-se em luta interna e oculta; o que se manifesta clinicamente com sinais de exaustão sem produção de trabalho perceptível. (Fenichel, 2005).
Ponto de vista econômico 
O ponto de vista econômico considera a energia psíquica sob um ângulo quantitativo. Esse ponto de vista econômico se esforça em estudar como circula essa energia, como ela é investida e se reparte entre as diferentes instâncias, os diferentes objetos ou as diferentes representações. (Boulanger, 2006)
A energia das forças pulsionais e das forças repressoras que estão por trás dos fenômenos mentais é deslocável. Algumas pulsões são mais fortes e mais difíceis de reprimir, mas podem sê-lo se as contra-forças forem igualmente poderosas. Que quantidade de excitação pode ser suportada sem descarga é problema econômico. 
A pulsão é um elemento quantitativo da economia psíquica. As pulsões são constituídas pelas representações e pelos afetos que lhes estão ligados. o termo afeto designa o aspecto qualitativo de uma carga emocional, mas também, o aspecto quantitativo do investimento da representação dessa carga. Investimento é o nome dado à ação de que uma certa quantidade de energia psíquica esteja ligada a uma representação mental. Freud diz que investimento pode ser aumentado, diminuído, deslocado, descarregado e que se estende sobre as representações, um pouco como uma carga elétrica na superfície dos corpos.
Teoria Topográfica 
A concepção tópica do aparelho psíquico ocorreu progressivamente e desde os primeiros trabalhos de Freud sobre a histeria. O primeiro esquema topológico do aparelho psíquico está descrito no capitulo VII da Interpretação dos Sonhos (1900) e no ensaio sobre O Inconsciente (1915). 
É no capítulo VII da Interpretação dos Sonhos que Freud formula o primeiro grande modelo do aparelho psíquico (a primeira tópica). Nesse texto Freud teoriza um psiquismo composto por dois grandes sistemas – inconsciente e pré-consciente/consciente – que são separados por uma barreira (a censura) que através do mecanismo de recalque expulsa e mantêrm certas representações inaceitáveis fora do sistema consciente. Mas essas representações exercem uma pressão para tornarem-se conscientes e ativas. Ocorre um jogo de forças, entre os conteúdos reprimidos e os mecanismos repressores. Como resultado desses conflitos há a produção das chamadas formações do inconsciente: sintomas, sonhos, lapsos e chistes. Essas formações representam o fracasso e o sucesso das duas forças em conflito, uma espécie de acordo entre elas.
A palavra “aparelho” é usada para caracterizar uma organização psíquica dividida em sistemas, ou instâncias psíquicas, com funções especificas para cada uma delas, que estão interligadas entre si. (Zimerman, 1999).
Consciente 
Localizado entre o mundo exterior e os sistemas mnêmicos; é encarregado de registrar as informações oriundas do exterior e perceber as sensações interiores da série prazer – desprazer. (Boulanger, 2006). 
Recebe informações provenientes do exterior e do interior que ficam registradas qualitativamente (prazer x desprazer); mas não tem função de inscrição; não conserva nenhum traço duradouro das excitações que registra; pois funciona em registros qualitativos enquanto o resto do aparelho mental funciona em registros quantitativos.
Faz a maior parte das funções perceptivas, cognitivas e motoras, como a percepção, o pensamento, juízo critico, evocação, antecipação, atividade motora. 
Pré-Consciente 
O conteúdo do pré-consciente não está presente na consciência, mas é acessível a ela. Ele pertence ao sistema de traços mnêmicos e é feito de representações de palavras.
Funciona como um pequeno arquivo de registros (representações de palavras) que consiste num conjunto de inscrições mnêmicas de palavras oriundas e de como foram significadas pela criança. (Zimerman, 1999). 
A representação da palavra é diferente da representação da coisa, cujas inscrições não podem ser nomeadas ou lembradas voluntariamente.
Inconsciente 
É a parte do psiquismo mais próxima da fonte pulsional. É constituído por representantes ideativos das pulsões. Contém as representações das coisas, as quais consistem em uma sucessão de inscrições de primitivas experiências e sensações provindas dos órgãos dos sentidos o que ficaram impressas na mente antes do acesso à linguagem para designá-las.
O inconsciente opera segundo as leis do processo primário e além das pulsões do id, esse sistema também opera muitas funções do ego, bem como do superego.  
Segunda tópica 
As primeiras linhas dessa conceituação aparecem em Além do Princípio do Prazer (1920) e será desenvolvida em o Ego e o Id (1923). Introduz a existênciade três instâncias: o Id, o Ego e o Superego. Essas três estruturas separadamente têm funções especificas, mas que são indissociadas ente si, interagem permanentemente e influenciam-se reciprocamente.
Id
O id tem um correspondente quase exato na primeira tópica: o inconsciente. É o pólo pulsional. Na segunda tópica pulsão de vida e pulsão de morte pertencem a ele. No id não há lugar para a negação, nem o princípio da não-contradição, ignora os juízos de valor, o bem, o mal, a moral.
Em Esboço de Psicanálise Freud (1930) diz que na origem tudo era id; o ego se desenvolveu a partir do id, sob a influência persistente do mundo externo.
Sob o ponto de vista econômico, o id é a um só tempo um reservatório e uma fonte de energia psíquica. Do ponto de vista funcional ele é regido pelo princípio do prazer; logo, pelo processo primário. Do ponto de vista da dinâmica psíquica, ele abriga e interage com as funções do ego e com os objetos, tanto os da realidade exterior, como aqueles que, introjetados, estão habitando o superego, com os quais quase sempre entra em conflito, porém, não raramente, o id estabelece alguma forma de aliança. (Zimerman, 1999).
Ego
O ego é o pólo defensivo do psiquismo. É um mediador. Por um lado pode ser considerado como uma diferenciação progressiva do id, que leva a um continuo aumento do controle sobre o resto do aparelho psíquico. Por outro ponto de vista, o ego se forma na seqüência de identificações a objetos externos, que são incorporados ao ego. De qualquer forma, o ego não é uma instância que passa a existir repentinamente, é uma construção.
O ego não é equivalente ao consciente, não se superpõe ao consciente, nem se confunde com ele. O ego tem raízes no inconsciente, como é o caso dos mecanismos de defesa, que são funções do ego, assim como o desenvolvimento da angústia. 
A função do ego é mediadora, integradora e harmonizadora entre as pulsões do id, as exigências e ameaças do superego e as demandas da realidade exterior.
Ao contrário do id, que é fragmentado em tendências independentes entre si, o Ego surge como uma unidade, e com instância psíquica que assegura a identidade da pessoa. (Boulanger, 2006). Também tem a função de consciência assegura a auto-conservação.
Superego
É o herdeiro do Complexo de Édipo. É estruturado por processos de identificação. A identificação com o superego dos pais. Assume três funções: auto-conservação; consciência moral; função de ideal – ideal de ego.
O superego é constituído pelo precipitado de introjeções e identificações que a criança faz com aspectos parciais dos pais, com as proibições, exigências, ameaças, mandamentos, padrões de conduta e o tipo de relacionamento desses pais entre si. Zimerman, 1999).
Notas de rodapé:
 Pulsões -  É necessário distinguir pulsão (trieb) de instinto (instinkt), que designa explicitamente padrões hereditários de comportamento animal, típicos de cada espécie. Na Tradução Brasileira das Obras Completas de Freud pela editora Imago pulsão foi erroneamente traduzida como instinto. 
O INCONSCIENTE X CONSCIENTE
O inconsciente abrange tanto atos que são meramente latentes, temporariamente inconscientes, mas que em nenhum outro aspecto diferem dos atos conscientes; e por outro lado abrange processos tais como os recalcados, que caso se tornassem conscientes, estariam propensos a sobressair num contraste mais grosseiro com o restante dos processos conscientes 
Em seu artigo metapsicológico sobre o Inconsciente - Das Unbewusste – Freud (1915) justifica o conceito de inconsciente lembrando que os dados da consciência apresentam um número muito grande de lacunas; ocorrem atos psíquicos que só podem ser explicados pela pressuposição de outros atos, para os quais a consciência não oferece qualquer prova.
O inconsciente abrande tanto atos que são meramente latentes, temporariamente inconscientes, mas que em nenhum outro aspecto diferem dos atos conscientes; e por outro lado abrange processos tais como os recalcados, que caso se tornassem conscientes, estariam propensos a sobressair num contraste mais grosseiro com o restante dos processos conscientes (Freud, 1915). Esses conteúdos recalcados estão submetidos à lógica do inconsciente, aqui Freud está diferenciando o inconsciente adjetivo do topográfico. Esse inconsciente tópico, como uma instância psíquica é a grande descoberta de Freud, o que vem a separar definitivamente a psicanálise das outras áreas do saber, principalmente da psiquiatria, da neurologia e da psicologia.
Freud não foi o primeiro autor do seu tempo a falar em inconsciente, em pensamentos ou componentes inconscientes, mas foi o primeiro a não falar em inconsciente de forma puramente adjetiva para designar apenas aquilo que não era consciente; em Freud inconsciente designa um sistema psíquico independente da consciência e dotado de atividade própria, com suas próprias leis e regras.
Quem formulou uma idéia de inconsciente mais próxima da de Freud foi Herbart, mas a idéia de inconsciente formulada por ele não é uma instância psíquica distinta, mas designava apenas idéias que continuavam ativas mesmo depois de serem inibidas.
Até mesmo depois das formulações de inconsciente estabelecidas por Freud, o inconsciente ainda continuou a ser identificado com o caos, o mistério, o inefável, o ilógico, sem nenhuma inteligibilidade. O inconsciente não é o que fica abaixo da consciência. “A psicanálise não é a psicologia das profundezas, na medida em que o ‘profunda’ aponte para uma espécie de subsolo da mente até então desconhecida e que ela se proponha a explorar” (Rosa, 2005, p.17).
No capítulo VII da ‘Interpretações dos Sonhos’, Freud (1900) fez sua primeira definição de inconsciente. Ele se justifica declarando que não há nada de arbitrário nos acontecimentos psíquicos, todos eles são determinados; não há é uma determinação única. O tipo de ordem do Sistema Inconsciente é distinta da dos Sistemas Consciente/Pré-consciente; mas isso não significa que não haja nenhuma ordem.
Freud (1915) lembra que a topografia psíquica nada tem que ver com anatomia; refere-se não a localidades anatômicas, mas a regiões do mecanismo mental, onde quer que estejam localizados no corpo. Freud (1935) diz que a subdivisão em inconsciente e consciente/pré-consciente faz parte de uma tentativa de retratar o aparelho mental como sendo constituído de grande número de instâncias ou sistemas, cujas relações mútuas são expressas em termos espaciais, sem contudo, implicarem qualquer ligação com a verdadeira anatomia do cérebro. 
Roza (2005) fala que o homem ocidental tem uma particular dificuldade para pensar qualquer coisa que não seja substância ou propriedade de substância. “O inconsciente freudiano não é substância espiritual, contrafração de res cogitans cartesiana, nem é um lugar ou outra coisa.” (Roza, 2005, pág. 174).
O inconsciente não é as profundezas da consciência, nem aquilo que a subjetividade tem de caótico e impensável. “O inconsciente não é o mais profundo, nem o mais instintivo, nem o mais tumultuado, nem o menos lógico, mas uma outra estrutura, diferente da consciência, mas igualmente inteligível.” (Roza, 2005, pág. 173).
Consciente e inconsciente 
O inconsciente possui uma sintaxe própria, ele é uma forma e não uma coisa ou um lugar. É uma lei de articulação. A consciência e o inconsciente têm formas diferentes, gramáticas diferentes para submeter seus conteúdos. O que define consciente e inconsciente não são seus conteúdos, mas o modo segundo o qual cada um dos dois sistemas opera, impondo a seus conteúdos determinadas formas.
A representação consciente é a representação da coisa, mais a representação da palavra a ela pertencente. Já a representação inconsciente é apenas a representação da coisa. O inconsciente possui as primeiras e verdadeiras catexias (ligação de energia) objetais. O pré-consciente se torna possível quando a representação da coisa é hipercatexizada através da ligação com as representações da palavra correspondente. Essa ligação entre a coisa e a palavra aindanão é tornar-se consciente, é sim a possibilidade de tornar-se consciente. A linguagem possibilita a constituição de um Eu independente.
Cada sistema psíquico, segundo Freud (1915) possui uma estrutura própria com características marcadamente distintas; o inconsciente tem como núcleo representantes pulsionais que procuraram descarregar sua energia. No inconsciente não há o princípio da não-contradição; o que ocorre é um maior ou menor investimento de uma representação, mas não a expulsão de uma por ser incompatível com a outra.
Investimento indica uma certa quantidade de afeto ligada a uma representação mental. A energia mental é retirada das pulsões.
Desde ‘Estudo Sobre Histeria’ (1895) e ‘Projeto Para uma Psicologia Cientifica’ (1895) Freud distingue dois tipos de energia nervosa: entre um estado livre de energia e um estado ligado. O primeiro corresponde ao processo primário e o segundo ao processo secundário. O processo primário é o modo de funcionamento do inconsciente (sistema). É caracterizado por um estado livre de energia. Tem dois mecanismos básicos: deslocamento e condensação.
O deslocamento é o escoamento, o deslizamento de uma energia de investimento ao longo de uma via associativa, encandeando diversas representações, o que leva a fazer figurar uma representação no lugar de outra. (Boulanger, 2006). Possui uma função mais ou menos defensiva, no sonho, por exemplo, permite aceitar pela censura, representações atenuadas; é o caso também do sintoma fóbico.
Na condensação, uma representação única aparece como ponto comum a diversas cadeias associativas de representações, e é sobre ela que se investem suas energias: esta fica, pois, no lugar de todas aquelas que nela se reúnem. (Boulanger, 2006).
No processo primário a energia tende a escoar livremente, passando de uma representação para outra e procurando a descarga de maneira mais rápida e direta possível, o que caracteriza o princípio do prazer.
O processo secundário é o modo de funcionamento do sistema consciente/pré-consciente. Aí, a energia é ligada. A energia tende a ter sua descarga retardada, de maneira a possibilitar um escoamento controlado. No processo secundário as representações são investidas de forma mais estável. A introdução do pensamento reflexivo e da temporalidade traz consigo também a substituição do princípio de prazer pelo princípio da realidade.
Princípio do Prazer vs. Princípio da Realidade
Em termos psicanalíticos, há dois conceitos interessantes introduzidos por Sigmund Freud há muitas décadas atrás: princípio do prazer e princípio da realidade. O princípio do prazer é então o desejo de obter uma gratificação imediata. Quando movido por este instinto, o sujeito age de forma a sentir prazer e evitar a dor, mostrando uma baixa tolerância à frustração. Opõe-se ao princípio da realidade, que representa a capacidade de adiamento de uma gratificação.
Ou seja, o que acontece é que quando queremos fazer algo que não é correcto ou oportuno fazer, temos duas alternativas: uma, passamos por cima do que for necessário para concretizar a nossa vontade, movidos pelo caprichoso princípio do prazer; duas, aguardamos por um melhor momento ou aceitamos a impossibilidade total de realizar tal desejo, compreendendo que a vida apresenta limitações e que nem tudo acontece como gostaríamos.
Nos primeiros tempos de vida, o ser humano é dominado pelo princípio do prazer. As crianças querem ver os seus desejos realizados imediatamente e a capacidade de adiar a satisfação de um desejo ou necessidade e de suportar a dor e a ansiedade vai sendo construída ao longo do tempo. Depois, o desenvolvimento desta capacidade torna-se em grande parte uma responsabilidade dos educadores, que desde cedo vão mostrando aos seus filhos o que pode e não pode acontecer, o que é e não é possível, apresentando-lhes as primeiras frustrações da vida e ensinando-lhes quotidianamente com naturalidade que nem sempre as coisas acontecem quando e como queremos. Começa a desenvolver-se o princípio da realidade. Num indivíduo adulto bem estruturado, este é o princípio dominante.
No entanto, nem sempre tal acontece. Por vezes, há uma falha no equilíbrio entre os dois princípios e o princípio do prazer sobrepõe-se, tornando o sujeito omnipotente, caprichoso e desajustado socialmente, pois ao procurar sistematicamente satisfazer o seu desejo acaba por entrar em conflito com o desejo do outro, tantas vezes diferente do seu. Note-se que, embora o princípio da realidade seja mais favorável ao bom desenvolvimento, também pode acontecer o inverso, quando uma exclusividade do princípio da realidade torna o indivíduo exageradamente contido, incapaz de se permitir a saborear. Tão contido que também dificilmente viverá com plenitude. Como sempre, no meio encontramos a virtude.
PRINCÍPIO DA REALIDADE
Na psicanálise de Sigmund Freud, o princípio de realidade caracteriza-se pelo adiamento da gratificação. Tal princípio opõe-se ao princípio de prazer, o qual conduz o indivíduo a buscar o prazer e evitar a dor sem restrições. Faz parte do amadurecimento normal do indivíduo aprender a suportar a dor e adiar a gratificação. Ao fazer isso, o indivíduo passa a reger-se menos pelo princípio de prazer e mais pelo princípio de realidade.
Respeitar o princípio de realidade consiste em dar conta das exigências do mundo real e das consequências dos próprios atos. O homem entra em contato com a realidade física e social, com deficiência de bens e cheia de normas e regras sociais. Essa realidade é dominada pela necessidade, escassez e forçosamento pela luta da vida. Assim ele tem que viver sob o princípio da realidade que leva em consideração uma série de elementos antagônicos: ele e os outros, a vida indivídual e a vida coletiva, o prazer e o trabalho, a escassez e a saciedade, a espontaneidade e a dominação social etc. Através do princípio da realidade, o homem deve encontrar seu caminho para a sobrevivência.
PRINCÍPIO DO PRAZER
Na psicanálise de Sigmund Freud, o princípio de prazer é o desejo de gratificação imediata. Tal desejo conduz o indivíduo a buscar o prazer e evitar a dor. O princípio de prazer opõe-se ao princípio de realidade, o qual caracteriza-se pelo adiamento da gratificação. Faz parte do amadurecimento normal do indivíduo aprender a suportar a dor e adiar a gratificação. Ao fazer isso, o indivíduo passa a reger-se menos pelo princípio de prazer e mais pelo princípio de realidade.
Introdução ao Conceito de Pulsão
Freud (1916) define pulsão como sendo um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o representante psíquico dos estímulos que se originam no corpo - dentro do organismo - e alcança a mente, como uma medida da exigência feita à mente no sentido de trabalhar em conseqüência de sua ligação com o corpo.
Freud fala que não existe um caminho natural para a sexualidade humana. Não há uma maneira única de satisfazer o desejo, o que confere ao humano a sina de estar sempre insatisfeito frente a este . É em nome desses desvios que Freud fala em pulsão sexual (trieb) e não em instinto (instinkt), que é um padrão de comportamento, hereditariamente fixado e que possui um objeto especifico, enquanto a Trieb não implica nem comportamento pré-formado, nem objeto especifico.
Em Escritos, Lacan (1998) diz que:
 A pulsão, tal como é construída por Freud a partir da experiência do inconsciente, proíbe ao pensamento psicologizante esse recurso ao instinto com ele mascara sua ignorância, através de uma suposição de uma moral na natureza. (Lacan, 1998, pág.865).
Em O Inconsciente (Das Unbewusste) Freud (1915) fala que a antítese entre consciente e inconsciente não se aplica às pulsões; se a pulsão não se prendeu a uma idéia ou não se manifestou como um estado afetivo, nada poderemos saber sobre ela.
A pulsão nunca se dá por si mesma, nem a nível consciente, nem a nível inconsciente; ela só é conhecida pelos seus representantes: o representante ideativo (vorstellung) e o afeto (affekt).
O afeto é a expressão qualitativa da quantidadede energia pulsional. Afetos correspondem a processos de descarga, cujas manifestações finais são percebidas como sentimentos. Os destinos do afeto e do representante ideativo são diferentes. Os afetos não podem ser recalcados. Portanto não se pode falar em afeto inconsciente; os afetos são sentidos a nível consciente, embora não possamos determinar a origem do afeto ao sentir suas manifestações. Os representantes ideativos são catexias, basicamente de traços de memória.
O afeto não pode ser recalcado (não pertence ao sistema inconsciente), mas ele sofre as vicissitudes do recalque: o afeto pode permanecer; ser transformado (principalmente em angústia); ou é suprimido.
Freud (1915) fala que suprimir o desenvolvimento do afeto constitui a verdadeira finalidade do recalque e que seu trabalho ficará incompleto se essa finalidade não for alcançada. O controle do consciente sobre a motilidade voluntária se acha firmemente enraizada, suporta regularmente a investida da neurose e só cessa na psicose. O controle do consciente sobre o desenvolvimento dos afetos é menos seguro.
O recalcamento provoca uma ruptura entre o afeto e a idéia a qual ele pertence, e cada um deles passam por vicissitudes diversas. Mas Freud (1915) diz acreditar que de modo geral, o afeto não se apresenta até que o irromper de uma nova apresentação do sistema consciente tenha sido alcançada com êxito.
Garcia-Roza (2005) diz ser a pulsão o instinto que se desnaturalizou, que se desvia de suas fontes e de seus objetos específicos; ela é o efeito marginal desse apoio-desvio. A pulsão se apóia no instinto, mas não se reduz a ele. Zimerman, (1999) diz que o apoio marca não a continuidade entre o instinto e a pulsão, mas a descontinuidade entre ambos, transformando o somático em psíquico, com as respectivas sensações das experiências emocionais primitivas, o indivíduo vai construindo o seu mundo interno de representações.
Em o Instinto e suas Vicissitudes (1915) Freud localiza a pulsão como tendo uma “pressão”; uma “finalidade” ou “objetivo”; seu “objeto” e sua “fonte”.
A Pressão (drang)
A pressão é o fator motor da pulsão, a quantidade de força ou exigência do trabalho que ela representa. A rigor, não existe pulsão passiva, apenas pulsões cuja finalidade é passiva. (Freud, 1915). Toda pulsão é ativa e a pressão é a própria atividade da pulsão.
Desde o Projeto para uma Psicologia Cientifica (1895), Freud define a pressão como o elemento motor da pulsão que impele o organismo para a ação especifica responsável pela eliminação da tensão.
A Finalidade ou objetivo (ziel)
A finalidade da pulsão é sempre a satisfação, sendo que a satisfação é definida como a redução da tensão provocada pela pressão. Freud (1915) fala que as pulsões podem ser inibidas em sua finalidade, mas mesmo nesses mecanismos há uma satisfação substitutiva, parcial.
O objeto (objekt)
É uma coisa em relação a qual ou através da qual o instinto é capaz de atingir sua finalidade. (Freud, 1915). É o que há de mais variável em uma pulsão.
Garcia-Roza (2005) fala que objeto (objekt) para Freud não é aquilo que se oferece a consciência, mas algo que só tem sentido enquanto relacionado à pulsão e ao inconsciente.
A Fonte (quelle)
A fonte é o processo somático que ocorre num órgão ou parte do corpo, e cujo estimulo é representado na vida mental por uma pulsão (trieb).
Uma pulsão não pode ser destruída nem inibida, uma vez tendo surgido, ela tende de forma coerciva para a satisfação. Aquilo sobre o qual vai incidir a defesa é sobre os representantes psíquicos da pulsão.
Os destinos dos representantes ideativos são: reversão ao seu oposto, retorno em direção ao próprio eu, recalcamento, sublimação. Os destinos do afeto: transformação do afeto (obsessões) deslocamento do afeto (histeria de conversão), troca do afeto (neurose de angústia e melancolia).
A reversão da pulsão em seu oposto transforma-se em dois processos diferentes: uma mudança da atividade para a passividade e uma reversão do seu conteúdo. Do primeiro temos o exemplo do sadismo e do masoquismo. A reversão afeta apenas a finalidade da pulsão (amor transforma-se em ódio, por exemplo).
As vicissitudes pulsionais que consistem no fato de a pulsão retornar em direção ao próprio ego do sujeito e sofrer reversão da atividade para a passividade, se acham na dependência da organização narcisista do ego e trazem o cunho dessa fase. (Freud, 1915)
Economia das Pulsões
Do ponto de vista econômico, as manifestações das pulsões sexuais são ligadas à existência de uma força de uma energia especifica chamada libido.
A catexia - que é o investimento de energia pulsional - alude ao fato de que certa quantidade de energia psíquica esteja ligada a um objeto, tanto externo como a seu representante interno, numa tentativa de reencontrar as experiências de satisfação que lhe estejam correlacionadas. (Zimerman,1999)
Depois da experiência de satisfação, a representação do objeto satisfatório, fortemente investida, orientara o sujeito para a busca do mesmo objeto. O termo objeto pode designar tanto o objeto da pulsão quanto o objeto de amor do sujeito.
O objeto do investimento pulsional pode ser o próprio sujeito, que é o caso do narcisismo.
Pulsão – do original TRIEB – traduzida para inglês e depois para português pela palavra instinto, contudo, a palavra TRIEB vai um pouco (ou muito) além do conceito de instinto (comportamento pré-determinado). Ex. Se a fome humana fosse apenas um instinto, como explicar a bulimia, anorexia, obesidade, entre outras?
	O texto começa a abordar as pulsões pela via fisiológica onde ela seria um estímulo psíquico interno e por isso, não teria como fugir deste assim como se foge de um estímulo externo (a luz, por exemplo).
Os destinos das pulsões seriam:
- Recalque
- Sublimação
- Retorno ao próprio eu
- Reversão ao oposto
Destinos são modalidades de defesa – dominar as pulsões – canalização da energia
As características das pulsões seriam:
- Fonte endógena (de dentro)
- Força constante
- Satisfação*
- Impossibilidade de fuga
*Essa satisfação nem sempre vem pela via do prazer (ex. sintoma) – insatisfação que guarda uma satisfação em si. A satisfação é uma ação psíquica.
Os quatro elementos das pulsões:
- Fonte
- Impulso
- Alvo/Fim
- Objeto
A fonte seriam as zonas erógenas – da onde surgem as necessidades
Alvo/Fim – é por conta do fim que se descobre a fonte (ex. sintoma) – o fim é sempre a satisfação
Impulso – é o elemento motor, medida de trabalho – a pulsão é sempre ativa; mesmo que o fim pareça passivo (ex. melancolia, angústia, recalque) existe um investimento de libido ali.
Objeto – é o que menos importa (não dá conta da pulsão); é através dele que a pulsão se satisfaz; existe a necessidade do outro para possibilitar a satisfação (ex. o professor precisa do outro para “dizer” se sua aula é boa).
Os quatro objetos privilegiados:
- Seio – oral
- Fezes – anal
- Olhar
- Voz
A divisão pulsional inicial (pulsão do eu – de conservação – e pulsão sexual) não se sustenta. Nova divisão:
- Pulsão de vida (P. do eu + P. sexual como um só)
- Pulsão de Morte
Recalcamento (Die Verdringung)
O recalcamento é o mecanismo de defesa mais antigo, e o mais importante; foi descrito por Freud desde 1895.  Está estritamente ligado a noção de inconsciente e é um processo através do qual se elimina da consciência partes inteiras da vida afetiva e relacional profunda.
Sob seu aspecto estritamente funcional, o recalcamento é indispensável à simplificação da existência corrente e não implica sempre uma presunção mórbida. Quando entra em cena de maneira patológica trata-se de organizações neuróticas ou sistemas defensivos de modo neurótico (mesmo no seio de estruturas diferentes). (Bergeret, 2006)
Freud (1915) em seu artigo metapsicológico sobre o recalcamento se questiona sobre por que deve um impulso pulsional sofrer tal vicissitude (ser recalcada, tendo seu acesso negado), já que a satisfação de um impulso sempre provoca prazer. Seria necessário supor a existência de certas circunstânciaspeculiares, algum processo através do qual o prazer da satisfação se transforma em desprazer.
Freud diz que o recalque não é um mecanismo defensivo presente desde o início; só pode surgir quando tiver ocorrido uma cisão marcante entre a atividade mental consciente e a inconsciente (o recalcamento só está presente a partir da divisão entre sistema consciente/pré-consciente e sistema inconsciente). E que antes da organização mental alcançar essa fase a tarefa de rechaçar os impulsos pulsionais cabia à outras vicissitudes, as quais as pulsões podem estar sujeitas.
Bergeret (2006) define o recalcamento como um processo ativo, destinado a conservar fora da consciência as representações inaceitáveis. Distinguem-se três níveis nos quais esse mecanismo ocorre: o recalcamento primário; recalcamento secundário ou recalcamento propriamente dito; e retorno do recalcado.
Recalcamento primário
“É o resto de uma época arcaica, individual ou coletiva, em que toda representação incômoda (imagens da cena primitiva, de ameaças à vida ou seduções pelo adulto) se encontrava automática e imediatamente recalcada, sem ter-se tornado consciente; é o pólo atrativo a seguir, os pontos de fixação dos recalcados ulteriores relacionando-se aos mesmos gêneros de representações.” (Bergeret, 2006, pág. 99).
O recalcamento primário, segundo Bergeret (2006) pressupõe a presença de uma inscrição sexual no imaginário primitivo da criança, desde o nascimento. E pressupõe também a impossibilidade dessa inscrição sexual se tornar, desde já operatória, em razão de um recalcamento primário imediato. A inscrição sexual primitiva só poderá se mostrar operatória em uma estrutura mais avançada do aparelho psíquico, o que irá preparar a instalação do Édipo e de todas as suas vicissitudes, que convém, afastar então, do registro consciente, sob a pressão de um recalque secundário, gerador do inconsciente secundário.
Antes de serem formados os sistemas inconsciente e pré-consciente/consciente, certas experiências cuja significação inexiste para o sujeito são inscritas no inconsciente e têm seu acesso à consciência vedado a partir de então. Essas inscrições vão funcionar como o recalcado original (Urverdragngung) que servirá de pólo de atração para o recalcamento propriamente dito (Nachdangen). Para Freud esse “recalque primevo” consiste em negar entrada no consciente ao representante psíquico (ideacional) da pulsão. Com isso, estabelece-se uma fixação.
Recalcamento secundário (ou recalcamento propriamente dito)
Consiste em um duplo movimento de atração pelas fixações do recalcamento primário e de repulsão pelas instâncias proibidoras: superego (e ego, à medida que ele se torna aliado do superego). ( Bergeret, 2006)
Segundo Freud (1915) o recalque propriamente dito afeta os derivados mentais do representante recalcado, ou sucessões de pensamento que, originando-se em outra parte, tenham entrado em ligação associativa com el. Por causa dessa associação, essas idéias sofrem o mesmo destino daquilo que foi primevamente recalcado.
Portanto, para Freud para que haja o recalcamento não é suficiente a ação exercida pelo sistema pré-consciente-consciente, é necessário também a ação exercida por representantes inconsciente. Roza (2005) diz que o que ocorre no recalcamento originário não é nem um investimento por parte do inconsciente, nem um desinvestimento por parte do pré-consciente/consciente, mas um contra-investimento. “No caso, a noção de contra-investimento está sendo utilizada para designar uma defesa contra um excesso de excitação proveniente do exterior, capaz de romper o escudo protetor contra os estímulos”. (Roza, 2005, pág. 161).
Retorno do recalcado
O recalcamento não pode impedir que as representações recalcadas se organizem no inconsciente, se enlacem de forma sutil e dêem mesmo nascimento a novos derivados, que irão tentar se manifestar no nível do consciente.
O retorno do recalcado pode consistir ou em uma simples “escapada” do processo de recalcamento, válvula de escape funcional e útil (sonho, fantasias), ou em uma forma às vezes já menos anódina (lapsos, atos falhos), ou, ainda, em manifestações francamente patológicas de fracasso real do recalcamento (sintomas). (Bergeret, 2006)
As formações substitutivas, as formações de compromisso e os sintomas são fenômenos que assinalam o retorno do recalcado. O recalcamento não organiza essas formações.
O recalcamento incide sobre os representantes pulsionais proibidos, através de um jogo de desinvestimento (dos representantes angustiantes pelo pré-consciente) e de contra-investimento da energia pulsional disponível, ao mesmo tempo reinvestida sobre outras representações autorizadas.
Fenichel (2005) define o recalque como consistindo no esquecimento inconscientemente intencional, ou na não-conscientização de impulsos internos ou de fatos externos, os quais, via de regra, representam possíveis tentações ou castigos de exigências pulsionais censuráveis, quando não meras alusões a estas.
Fenichel (2005) aponta ainda que há casos em que certos fatos são lembrados como tais, mas as conexões respectivas, o significado, o valor emocional são reprimidos.
Freud (1915) diz que o representante pulsional se desenvolverá com menos interferência se for retirado da influencia do sistema consciente – ele “prolifera no escuro”, e assume formas extremas de expressão, que uma vez traduzidas e apresentadas ao neurótico irão não só lhe parecer estranhas mas também assustá-lo, mostrando-lhe o quadro de uma extraordinária e perigosa força da pulsão.
O recalque não retira do consciente todos os derivados daquilo que foi primevamente recalcado. Quando esses derivados se tornam suficientemente afastados do representante recalcado – quer devido à adoção de distorções, quer por causa do grande numero de elos intermediários inseridos -, eles terão livre acesso ao consciente. Mas não é possível determinar qual o grau de distorção e de distancia no tempo necessário para a eliminação da resistência por parte do consciente. E, via de regra, o recalque só é removido temporariamente, reinstalando-se imediatamente.
Freud esclarece que o processo de recalcamento é altamente individual (cada derivado isolado do reprimido pode ter sua própria vissicitude especial, e um pouco mais ou um pouco menos de distorção altera completamente o resultado) em seu funcionamento e extremamente móbil. O recalque não é um fato que acontece uma vez, produzindo resultados permanentes; ele exige um dispêndio persistente de força, e se esta viesse a cessar, o êxito do recalque correria perigo, tornando necessário um novo ato de recalque. O recalcado exerce uma pressão contínua em direção ao consciente, exigindo uma contrapressão incessante.
Recalque é um dos conceitos fundamentais da psicanálise, tendo sido desenvolvido por Sigmund Freud. Denota um mecanismo mental de defesa contra ideias que sejam incompatíveis com o eu. Freud dividiu a repressão psicológica em dois tipos: a repressão primária, na qual o inconsciente é constituído; e a repressão secundária, que envolve a rejeição de representações inconscientes. A repressão é o processo psíquico através do qual o sujeito rejeita determinadas representações, ideias, pensamentos, lembranças ou desejos, submergindo-os na negação inconsciente, no esquecimento, bloqueando, assim, os conflitos geradores de angústia.
Segundo Sigmund Freud, os conteúdos refutados, longe de serem destruídos ou esquecidos definitivamente através da repressão psíquica, ao se ligarem à pulsão, mantêm sua efetividade psíquica no inconsciente. O reprimido (ou recalcado) constitui, para Freud, o componente central do inconsciente. "O recalcado se sintomatiza", diz o fundador da psicanálise. Ou seja: pela repressão, os processos inconscientes só se tornam conscientes através de seus derivados - os sonhos ou os sintomas neuróticos.O conceito de repressão psicológica não foi originalmente definido por Freud. No século XIX, já havia sido utilizado por Johann Friedrich Herbart e por Theodor Meynert. Mas foi SigmundFreud quem conseguiu descrevê-lo como um mecanismo essencial da cisão originária entre o consciente e o inconsciente no aparato psíquico.
Para Freud, a repressão opera porque a satisfação direta da moção pulsional, que se destina a causar prazer, poderia causar desprazer ao entrar em dissonância com as exigências provenientes de outras estruturas psíquicas ou exigências do meio exterior.Em sentido estrito, trata-se do mecanismo típico da neurose histérica, mas, em sentido amplo, é um processo que ocorre em todos os seres humanos, dado que constitui originariamente o inconsciente. O conceito foi adotado por distintas escolas e orientações dentro da psicanálise mas também por outras teorias psicológicas, resultando em definições às vezes muito diferentes entre si. Lacan, por exemplo, nos anos 1950, reinterpretou a teoria da repressão e do deslocamento de Freud usando as categorias lingüísticas de metáfora e metonímia. Na medida em que a metáfora envolve a substituição de um termo por um outro que "desliza por baixo do balcão", ela seria, segundo Lacan, o correlato linguístico do mecanismo de repressão ou recalque.
No texto Die Verdrängung (1915), Freud distingue três momentos do recalque:
recalque originário (Urverdrängung), que, ao expulsar, da consciência, as primeiras representações intoleráveis associadas à pulsão, marca uma cisão da vida anímica, delimitando as áreas consciente/inconsciente e possibilitando a repressão posterior. A premissa de Freud é a de que toda representação, para poder ser reprimida, precisa ser atraída por essas representações originariamente reprimidas.
recalque propriamente dito ou recalque secundário, que desloca, para o inconsciente, e ali mantém, as representações intoleráveis para a consciência, magnetizadas pelo núcleo do inconsciente constituído pela repressão originária.
retorno do recalcado (Wiederkehr des Verdrängten), quando o recalcado expressa sua efetividade psíquica, posto que mantém uma tendência a alcançar de algum modo a consciência e a obter algum tipo de satisfação através das formações do inconsciente, como os sonhos, os atos falhos ou os sintomas neuróticos.
Os Sonhos na Concepção de Freud
Segundo Freud (1915), sonhos são fenômenos psíquicos onde realizamos desejos inconscientes. O sonho é o resultado de uma conciliação. Dorme-se e, não obstante, vivencia-se a remoção de um desejo. Satisfaz-se um desejo, porém, ao mesmo tempo, continua-se a dormir. Ambas as realizações são em parte concretizadas e em parte abandonadas (SIRONI, s.d.).
Na obra Teoria dos Sonhos, Freud postula que o homem precisa dormir para descansar o corpo e, principalmente, para sonhar: "o sonho é a realização dos desejos reprimidos quando o homem está consciente". Quando o homem dorme, a consciência "desliga-se" parcialmente para que o inconsciente entre em atividade, produzindo o sonho: através do id, os desejos reprimidos são realizados. Para Freud, as causas dos traumas que geram certos comportamentos tidos como anormais estão escondidas no inconsciente das pessoas, onde estão guardados os desejos reprimidos. Todo o material que compõe o sonho procede de nossas experiências, daquilo que foi por nós vivenciado na vigília. Este material é recordado no sonho, embora não seja imediatamente reconhecido pelo sonhador como originário de suas próprias experiências. Esta é uma das características do conteúdo onírico manifesto: a de ser experimentado pelo sonhador como algo que lhe é estranho, como se não fosse uma produção sua (SIRONI, s.d.).
A elaboração de um sonho, segundo Freud (1915), ocorre porque “existe algo que não quer conferir paz à mente. Um sonho, pois, é a forma com que a mente reage aos estímulos que a atingem no estado de sono”. Alguns dos estímulos dos quais Freud fala podem ser restos diurnos, sensações fisiológicas. Outros estímulos podem ser os pensamentos ocultos, inconscientes, formados por desejos antigos, recalcados pela censura do Superego – configurando-se como o texto original do sonho (RABUSKE, 2011).
Os Conteúdos Latente e Manifesto dos Sonhos
Em “A Interpretação dos Sonhos” Freud criou o termo conteúdo manifesto para referir-se à experiência consciente durante o sono, correspondendo ao relato ou descrição verbal do sonho, ou seja, aquilo que o sonhante diz lembrar. Já o conteúdo latente corresponde às idéias, impulsos, sentimentos reprimidos, pensamentos e desejos inconscientes que poderiam ameaçar a interrupção do sono se aflorassem à consciência claramente (REIS, 2009).
O conteúdo latente mostra-nos estruturas recalcadas que tentam emergir. O conteúdo latente é o verdadeiro sonho, o conteúdo manifesto é o que o sujeito conta, sendo um disfarce do verdadeiro sonho. O trabalho de sonho ou elaboração onírica é a passagem do latente ao manifesto. Basicamente podemos dizer que o conteúdo latente é inconsciente e o conteúdo manifesto é consciente. Além disso, o conteúdo latente é algo semelhante a um impulso, enquanto o conteúdo manifesto é uma imagem visual. Finalmente, o conteúdo manifesto é uma fantasia que simboliza o desejo ou impulso latente já satisfeito, isto é, trata-se de uma fantasia que consiste essencialmente na satisfação do desejo ou do impulso latente. [1]
Segundo Silva e Sanches (2011), o conteúdo latente do sonho é a primeira parte do processo de sonhar formado por três componentes: I- impressões sensoriais noturnas; II- pensamentos e idéias relacionadas às atividades do dia (fragmentos do nosso cotidiano, antes de pegamos no sono); III- impulsos do ID. São as impressões sensoriais do indivíduo que se referem ao que os sentidos capturam mesmo durante o período de dormência ( os barulhos ao seu redor; seus desejos, como beber água, calor, frio,etc.) tudo o que podemos adquirir nesse estágio se refere ao conteúdo latente do sonho.
O Sonho manifesto não é senão, portanto, nada mais que o resultado de um conjunto de operações (o trabalho do sonho) que transformam os seus componentes, ou seja, transformam os estímulos corporais, os restos diurnos, os pensamentos do sonho, etc. O produto final resultante de todas essas transformações é, então, a experiência onírica (REIS, 2009).
Distorção e a Elaboração Onírica
Segundo Garcia-Roza (1991), a distorção em que é submetido o conteúdo do sonho é produto do trabalho do sonho de não deixar passar algo proibido, interditado pela censura. A censura deforma os pensamentos latentes no trabalho do sonho. Freud concebe a censura como uma função que se exerce na fronteira entre os sistemas inconsciente e pré-consciente, algo que opera na passagem de um sistema para outro mais elevado. Segundo Garcia-Roza, um fragmento não é distorcido ao acaso, mas imposto por uma exigência da censura, a principal responsável pela deformação onírica, apresentando o conteúdo manifesto condensado, deslocado, simbolizado ou através da elaboração secundária.
Ainda em Garcia-Roza (1991), um fragmento não é distorcido ao acaso, mas imposto por uma exigência da censura, a principal responsável pela deformação onírica, apresentando o conteúdo manifesto condensado, deslocado, simbolizado ou através da elaboração secundária.
O sonho, como todo o funcionamento psíquico é multideterminado. À transformação do conteúdo latente em conteúdo manifesto chamamos “trabalho ou labor do sonho”. Consiste no disfarce que acontece porque determinadas idéias causam ansiedade e, como tal não são admitidas no consciente. Por exemplo, a idéia A ao querer surgir na consciência sofre uma censura e é obrigada a transformar-se em B (BARNABÉ, s.d.).
Segundo Garcia-Roza (1991), o sonhador tem acesso ao conteúdo manifesto, ou seja, ao sonho sonhado e recordado por ele ao despertar. Este é o substituto distorcido de algo inteiramente distinto e inconsciente que são os pensamentos latentes. A distorção a que é submetida o conteúdo do sonho é produto do trabalho do sonho de não deixar passar algo proibido, interditado pela censura. A censura deforma os pensamentos latentes no trabalho do sonho. Um fragmento não é distorcido ao acaso, mas impostopor uma exigência da censura, a principal responsável pela deformação onírica.
De acordo com Jablonski (s.d.), a respeito dos sonhos, em geral, Freud conclui que sua função é a de realização disfarçada dos desejos recalcados. Tamanho é o disfarce nos sonhos que a realização dos desejos nos aparece às vezes sob forma de pesadelos. Tais distorções devem-se ao trabalho da censura interna que funciona mesmo durante o sono. Freud destaca quatro mecanismos deste trabalho: condensação, deslocamento, simbolismo, dramatização e processo de elaboração secundária.
Condensação
Vários elementos (temas, imagens, idéias, etc.) se combinam num só, de forma que o sonho se torna mais compacto que os pensamentos-sonho. Segundo Castro (2009), na transformação dos pensamentos oníricos em conteúdo onírico ocorre necessariamente uma compressão de volume, uma condensação, em graus variáveis de um sonho para outro. Na condensação, segundo Laplanche e Pontalis (2001), “uma representação única representa por si só várias cadeias associativas e traduz-se no sonho pelo fato de o relato manifesto, comparado com o conteúdo latente, ser lacônico: constitui uma tradução resumida.”
“A condensação designa o mecanismo pelo qual o conteúdo manifesto do sonho aparece como uma versão abreviada dos pensamentos latentes”. Garcia-Roza (2008)
Deslocamento
O processo de deslocamento de intensidade psíquica é resultado da ação de uma força psíquica que atuará em dois sentidos: retirando a intensidade de elementos que possuem alto valor psíquico e criando, a partir de elementos com baixo valor psíquico, novos valores que vão penetrar no conteúdo dos sonhos. Juntamente com o processo de condensação, o deslocamento é um dos fatores dominantes que determinam a diferenciação entre o pensamento dos sonhos e o conteúdo dos sonhos. [2]
“O aspecto mais significativo do sonho pode se apresentar de modo a quase passar despercebido, ao passo que os aspectos secundários aparecem, às vezes, ricos em detalhes. Nisto constitui o deslocamento da energia de uma imagem para outra” (JABLONSKI, s.d.).
Simbolismo
Na função de simbolização, há uma transformação dos pensamentos oníricos em símbolos, fornecendo ao sonho uma série de metáforas e conferindo certa poeticidade ao conteúdo manifesto. É nesse estágio que o sonho assume realmente a sua forma peculiar, com uma racionalidade e inteligibilidade bem distinta do pensamento diurno (ALVARENGA & LUCINDA, s.d.).
Certas imagens dos sonhos têm sempre um mesmo significado. Freud fornece uma grande lista de símbolos inconscientes constituída de objetos que se referem, sobretudo à sexualidade. Continentes em geral, como caixas, malas, cofres e etc. Seriam símbolos do órgão sexual feminino e objetos pontiagudos ou inseridos dentro de caixas, cavidades, etc. são geralmente símbolos do órgão sexual masculino. É claro que os sonhos, sendo tão distorcidos por estes quatro mecanismos da censura, devem ser interpretados para se tornarem inteligíveis. O sonho de que nos lembramos constitui apenas o conteúdo manifesto e nos parece absurdo, louco. Interpretado, ele se transforma num texto linear a que chamamos conteúdo latente, no qual vamos perceber com clareza o desejo realizado pelo sonho (JABLONSKI, s.d.).
Dramatização ou concretização
Segundo Jablonski, s.d., a dramatização é a representação de imagens em ação. O sonho é como um teatro que, como distingue Freud. A dramatização é também um mecanismo responsável pela economia dos sonhos. As operações mentais inconscientes por meio das quais o conteúdo latente do sonho se transforma em sonho manifesto, damos o nome de elaboração do sonho, também chamada dramatização. O processo responsável por essa transformação, que Freud considerava a parte essencial da atividade onírica, é o funcionamento do sonho.
No processo de dramatização os fragmentos do sonho, condensados e deslocados da racionalidade na vigília, são transformados em cenas. Aí é formado todo um contexto para esses elementos e, na maior parte das vezes, trata-se de uma ambientação bem distinta do que foi vivido no dia anterior (ALVARENGA & LUCINDA, s.d.).
A Elaboração Secundária
Segundo Laplanche e Pontalis (2001), consiste na operação mental inconsciente por intermédio da qual o conteúdo latente de um sonho se transforma em um sonho manifesto, sendo, também, um efeito da censura. Trata-se, portanto, de uma “remodelação do sonho destinada a apresentá-lo sob a forma de uma história relativamente coerente e compreensível”.
A elaboração secundária, que é essa remodelação, consiste, essencialmente, em tirar a aparência de absurdo e de incongruência do sonho, tapando os seus buracos, remanejando parcial ou totalmente seus elementos. Com esse objetivo é possível observar a elaboração secundária em operação, quando o sonhante se aproxima do estado de vigília (REIS, 2009).
Simbologia dos Sonhos
Os sonhos possuem uma linguagem que Freud denominou símbolos. Para entender seus diversos conteúdos, temos que distinguir o que os símbolos representam nesse sonho. A simbologia dos sonhos não só está vinculada ao contato que o criador do sonho teve com o objeto, mas também com a forma que ele se relaciona sentimentalmente com esse objeto. Um exemplo prático, o mar pode apresentar distintas simbologias, variando de pessoa a pessoa. Para alguns o mar pode significar destruição (o mar destruindo estruturas deixadas na praia), mas para outros, invasão (a água avançando e invadindo território) de acordo com Freud o que a pessoa sente quanto a esse objeto ou essa situação é fundamental para a interpretação de sonho. [3]
É necessário ter sempre em mente que os sonhos não se manifestam coordenadamente em termos de palavras, frases, proposições, etc. Esses meios de expressão são, nos sonhos, substituídos por “imagens visuais” que, por outro lado, constituem uma linguagem simbólica representativa de desejos e afetos reprimidos. A interpretação de um sonho requer, pelo menos, que se conheçam as principais significações simbólicas, o que deve ser elaborado através do material derivado das Associações Livres. As imagens simbólicas constituem regressões a longínquas formas elementares do pensamento (REIS, 2009).
Certas imagens dos sonhos têm sempre um mesmo significado. Freud fornece uma grande lista de símbolos inconscientes constituída de objetos que se referem sobretudo à sexualidade. Continentes em geral, como caixas, malas, cofres e etc. Seriam símbolos do órgão sexual feminino e objetos pontiagudos ou inseridos dentro de caixas, cavidades, etc. são geralmente símbolos do órgão sexual masculino (JABLONSKI, s.d.).
“Na literatura se encontram exemplos de símbolos que podem ser utilizados em todos os tipos de cultura. Contudo, há a observação de que o significado de um símbolo dependerá sempre da associação e da cultura do paciente que o sonhou” (OLIVEIRA, 2011).
Oliveira (2011) diz ainda que Freud liste uma série de símbolos que ele considera praticamente universais, detectável em quase todas as culturas. Para a figura humana a representação típica é uma casa. Os pais aparecem como imperador e imperatriz, rei e rainha ou outras pessoas de status. Os filhos, irmãos e irmãs são simbolizados por bichinhos ou pequenos animais. O nascimento é quase sempre representado por algo relacionado à água. Morrer tem relação com partir, viajar de trem e a nudez, por meio de roupas e uniformes.
Conclusão
Os sonhos nos oferecem a principal via para adentrar ao inconsciente.  Sua linguagem caracteristicamente simbólica proporciona um desafio ao psicanalista. Procuramos realizar os nossos mais profundo desejos em nossos sonhos, que se feitos à luz do dia seriam a causa de embaraço e aversão para aqueles que junto conosco formam uma sociedade com valores e conceitos estabelecidos. Os sonhos trazem do nosso inconsciente para a consciência desejos mais reprimidos e “proibidos”, desejos recalcados, no qual sublimamos, ou seja, inibimos nossos objetos de desejo. É através dos sonhos que temos a capacidade de vivenciar esses objetos. Entrando profundamentenesse vasto mundo de desejos reprimidos, fazemos um mergulho ao nosso inconsciente, ou seja, para dentro de nós mesmos, tentando procurar o máximo de realização. Dessa forma, é muito importante que o psicanalista em formação compreenda os mecanismos de elaboração do sonho, bem como os princípios que o regem para sua devida interpretação.  
Uma breve introdução à neurose, psicose e perversão
A normalidade ocorre em razão de uma maioria em comum, sendo anormal aquele que contraria esta maioria. A normalidade também se dá por um resultado padrão ao realizar uma operação com alta probabilidade de se repetir.Assim, qual é a diferença entre a doença e a normalidade? Para Freud, a única diferença é de grau, ou seja, uns apresentarão mais sintomas, e, com isso, mais sofrimento.A psicanálise aponta para hipóteses diagnósticas a partir de três principais grupos de estruturas clinicas: neurose, psicose e perversão.
         
O objetivo deste texto é apresentar de forma rasa e didática cada estrutura e seu respectivo mecanismo de defesa. Dentro da perspectiva freudiana, uma estrutura exclui a possibilidade de outra.  Ou seja, um sujeito que se encontra em uma estrutura permanecerá nela, sem fazer parte de outra em nenhum momento. Sendo assim, se um sujeito é neurótico ele nunca terá um surto psicótico, bem como é impossível que um perverso tenha a culpa de um obsessivo. Vale ressaltar que abordagens psicanalíticas pautadas no conceito de nó borromeano contestam tal afirmação, no entanto, este texto não pretende elucidar esse contexto no momento.
         
No quadro abaixo estão representadas as três estruturas e o mecanismo de defesa de cada uma delas:
Em cada estrutura há um modo – inconsciente – de lidar com o sofrimento. Este “modo de lidar” é o que se chama mecanismo de defesa.
 
Neurose
 
A neurose se manifesta a partir do mecanismo de defesa do recalque, que é a manutenção do conteúdo traumático como material inconsciente. O sujeito neurótico esconde de si mesmo o problema, o sintoma ou a dificuldade. Alguns conteúdos ficam recalcados, escondidos no inconsciente, em segredo, e causam sofrimento através dos sintomas dos quais ele se queixa. Este conteúdo tenta se manifestar no consciente, e na maior parte das vezes, o material reprimido se apresenta na forma de uma representação substitutiva, o próprio sintoma.A estrutura neurótica é dividida entre histeria e neurose obsessiva. Na histeria, a reclamação dá voltas e voltas sobre o problema. O seu desejo é sempre insatisfeito, como se a pessoa procurasse alguma coisa, seja um objeto, seja uma relação amorosa, para satisfazê-la, mas nunca a satisfação aparece. A reclamação é sem fim. Essa insatisfação está ligada a falta paterna, ou seja, na histeria há sempre a procura pela falha no outro, para que a sua própria falha permaneça escondida. Na neurose obsessiva, há também voltas e voltas ao redor do problema. Mas o que notamos mais frequentemente é a tentativa de organização, de organizar as coisas ao redor na tentativa de não pensar no que é, realmente, o problema principal.
 
Psicose
 
Na psicose ocorre a perda do contato com a realidade. Na psiquiatria é mais denominada Esquizofrenia, em que o pensamento e o afeto estão cindidos.Segundo Kaplan, aproximadamente 1% da população é acometido pela doença, geralmente, iniciada antes dos 25 anos e sem predileção por qualquer camada sociocultural. O diagnóstico ainda se baseia exclusivamente na história psiquiátrica e no exame do estado mental.Alguns sintomas, considerados extraordinários, estão presentes na psicose desencadeada. Como exemplo, as alucinações e os delírios. Pode haver audição dos próprios pensamentos, alucinações somáticas, sensação de ter os próprios pensamentos controlados ou irradiação destes pensamentos, sensação de ter as ações controladas e influenciadas por alguma coisa do exterior.O psicótico encontra fora o que exclui dentro, inclui fora o que na neurose representa a dinâmica do recalque. Por isso o termo foraclusão foi utilizado para representar o mecanismo de defesa em que não há recalque. Uma das características da psicose consiste no fato de que nesta estrutura os próprios pacientes possuem, de acordo com Freud, a peculiaridade de revelar sem pudor exatamente aquelas coisas que os neuróticos mantêm escondidas como um segredo.
 
Perversão
 
Freud explica que a perversão é o negativo da neurose. Podemos entender a perversão e a denegação com a seguinte citação do texto de Freud, intitulado “Fetichismo”:Nos últimos anos tive oportunidade de estudar analiticamente certo número de homens cuja escolha objetal era dominada por um fetiche. Não é preciso esperar que essas pessoas venham à análise por causa de seu fetiche, pois, embora sem dúvida ele seja reconhecido por seus adeptos como uma anormalidade, raramente é sentido por eles como o sintoma de uma doença que se faça acompanhar por sofrimento. Via de regra, mostram-se inteiramente satisfeitos com ele, ou até mesmo louvam o modo pelo qual lhes facilita a vida erótica. Via de regra, portanto, o fetiche aparece na análise como uma descoberta subsidiária.”O trecho descreve a relação entre a ideia de anormalidade (de um fetiche) e a sensação por parte do sujeito perverso de que esta anormalidade não é uma doença que traz sofrimento. Ou seja, o sujeito denega, o que, por exemplo, para um neurótico seria motivo de muito sofrimento.
Ainda segundo Freud, as fantasias histéricas inconscientes correspondem completamente às situações em que a satisfação é conscientemente obtida pelos perversos.
VOCABULÁRIO DE PSICANÁLISE
AB-REAÇÃO *– Termo introduzido por Sigmund Freud e Josef Breuer, em 1893, para definir um processo de descarga emocional que, liberando o afeto ligado à lembrança de um trauma, anule seus efeitos patogênicos.
AFETO *– Termo que a psicanálise foi buscar na terminologia psicológica alemã e que exprime qualquer estado afetivo, penoso ou desagradável, vago ou qualificado, quer se apresente sob a forma de uma descarga maciça, quer como tonalidade geral. Segundo Freud, toda pulsão se exprime nos dois registros, do afeto e da representação. O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações. A noção de afeto assume grande importância logo nos primeiros trabalhos de Breuer e Freud sobre a psicoterapia da histeria e a descoberta do valor terapêutico da ab-reação. A origem de um sintoma histérico é procurada num acontecimento a que não correspondeu uma descarga adequada (afeto coartado). Somente quando a evocação da recordação provoca a revivescência do afeto que estava ligado a ela na origem é que a rememoração encontra a sua eficácia terapêutica.
Da consideração da histeria resulta portanto, para Freud, que o afeto não está necessariamente ligado à representação; a sua separação (afeto sem representação, representação sem afeto) garante a cada um diferentes destinos. Freud indica possibilidades diversas de transformação do afeto: “Conheço três mecanismos: 1º. o da conversão dos afetos (histeria de conversão); 2º. O do deslocamento do afeto (obsessões); e 3º. O da transformação do afeto (neurose de angústia, melancolia).”
AGRESSIVIDADE – Tendência ou conjunto de tendências que se atualizam em comportamentos reais ou fantasísticos que visam prejudicar o outro, destruí-lo, constrangê-lo, humilhá-lo, etc. A agressão conhece outras modalidades além da ação motora violenta e destruidora; não existe comportamento, quer negativo (recusa de auxílio, por exemplo) quer positivo simbólico (ironia, por exemplo) ou efetivamente concretizado, que não possa funcionar como agressão. A agressividade está em operação desde cedo no desenvolvimento do sujeito e sublinha o mecanismo complexo da sua união com a sexualidade e da sua separação dela. Freud encontra a resistência com a sua marca agressiva: “...o sujeito, até aquele instante tão bom, tão leal, torna-se grosseiro, falso ou revoltado, simulador”. À primeira vista, foi como resistência que a transferência surgiu a Freud, eessa resistência deve-se em grande medida àquilo a que ele chamará transferência negativa. A clínica impõe a ideia de que as tendências hostis são particularmente importantes em certas afecções (neurose obsessiva, paranoia). A noção de ambivalência vem exprimir a coexistência no mesmo plano do amor e do ódio. O chiste pode pôr-se a serviço de duas tendências: ou é um chiste hostil (que serve à agressão, à sátira, à defesa), ou então é um chiste obsceno.
Por fim o Complexo de Édipo é descoberto logo no início como conjunção de desejos amorosos e hostis.
Sabe-se que, na primeira teoria das pulsões, as pulsões sexuais tem como opostas as pulsões de autoconservação. Estas, de modo geral, tem por função a manutenção e a afirmação da existência individual. Nesse quadro teórico, a explicação de comportamentos ou de sentimentos tão manifestamente agressivos como o sadismo ou o ódio, por exemplo, é procurado num mecanismo complexo dos dois grandes tipos de pulsões. A teoria explícita de Freud a respeito da agressividade pode resumir-se assim: “Uma parte da pulsão de morte é posta diretamente a serviço da pulsão sexual, onde o seu papel é importante. É o sadismo propriamente dito. Outra parte não acompanha esse desvio para o exterior, mantém-se no organismo, onde está ligada libidinalmente pelo auxílio da excitação sexual de que se faz acompanhar...reconhecemos aí o masoquismo originário, erógeno.
AMBIVALÊNCIA – Presença simultânea, na relação com o mesmo objeto, de tendências, de atitudes e de sentimentos opostos, fundamentalmente o amor e o ódio. Freud emprestou o termo “ambivalência” de Bleuler, que o criou. Bleuler considera a ambivalência em três domínios. Voluntário: o sujeito quer ao mesmo tempo comer e não comer, por exemplo. Intelectual: o sujeito enuncia simultaneamente uma proposição e o seu contrário. Afetivo: ama e odeia em um mesmo movimento a mesma pessoa.
AMNÉSIA INFANTIL – Amnésia que geralmente cobre os fatos dos primeiros anos da vida. Freud vê nela algo diferente do efeito de uma incapacidade funcional que a criança teria de registrar as suas impressões; ela resulta do recalque que incide na sexualidade infantil e se estende à quase totalidade dos acontecimentos da infância. O campo abrangido pela amnésia infantil encontraria o seu limite temporal no declínio do complexo de Édipo e entrada no período de latência.
APOIO – Termo que designa a relação original entre as pulsões sexuais e as pulsões de autoconservação, só vindo aquelas a se tornar independentes depois de se haverem apoiado nestas. É esse processo de apoio que se prolonga, no correr do desenvolvimento psicossexual, na fase da escolha do objeto de amor, que Freud esclarece falando de um tipo de escolha objetal por apoio. O primeiro exemplo observado é o da atividade oral do lactente. No próprio curso da satisfação orgânica da necessidade nutricional, obtida mediante a sucção do seio materno, o seio, objeto primário, torna-se fonte de prazer sexual, zona erógena. Efetua-se uma dissociação da qual nasce um prazer erótico, irredutível àquele que é obtido unicamente pela satisfação da necessidade. Nesse momento aparece uma necessidade de repetir a atividade de sucção, apesar de a satisfação orgânica ter sido alcançada, necessidade esta que vai se tornando autonomamente pulsional. Esse processo se repete em relação a todas as funções corporais a que correspondem as pulsões de autoconservação, com a constituição de zonas erógenas correspondentes, anal, genital, etc. No decorrer desse processo de
diferenciação, a pulsão sexual abandona o objeto externo e passa progressivamente a funcionar de modo auto-erótico.
ASSOCIAÇÃO LIVRE *– Método que consiste em exprimir indiscriminadamente todos os pensamentos que ocorrem ao espírito, quer a partir de um elemento dado (palavra, número, imagem de um sonho, qualquer representação), quer de forma espontânea.
ATO-FALHO *– Ato pelo qual o sujeito, a despeito de si mesmo, substitui um projeto ao qual visa deliberadamente por uma ação ou uma conduta imprevistas. Tal como em relação ao lapso, Sigmund Freud foi o primeiro, a partir da Interpretação dos Sonhos, a atribuir uma verdadeira significação ao ato falho, mostrando que é preciso relacioná-lo aos motivos inconscientes de quem o comete. O ato falho ou acidental torna-se equivalente a um sintoma, na medida em que é um compromisso entre a intenção consciente do sujeito e seu desejo inconsciente.
AUTO-EROTISMO *– Termo que designa um comportamento sexual de tipo infantil, em virtude do qual o sujeito encontra prazer unicamente com seu próprio corpo, sem recorrer a qualquer objeto externo.
BENEFÍCIO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO DA DOENÇA – Benefício da doença
designa de um modo geral qualquer satisfação direta ou indireta que um sujeito tira de sua doença. O benefício primário está ligado ao próprio determinismo dos sintomas. O benefício primário consiste na redução de tensão proporcionada pelo sintoma; este, por doloroso que seja, tem por objetivo evitar ao sujeito conflitos às vezes mais penosos: é o chamado mecanismo da “fuga para a doença”.
BISSEXUALIDADE – Noção que Freud introduziu na psicanálise onde todo o ser humano teria constitucionalmente disposições sexuais simultaneamente masculinas e femininas que surgem nos conflitos que o sujeito enfrenta para assumir o seu próprio sexo.A teoria da bissexualidade fundamenta-se, em primeiro lugar, em dados da anatomia e da embriologia: “Um certo grau de hermafroditismo anatômico é normal. Em todo o indivíduo, macho ou fêmea, encontram-se vestígios do aparelho genital do sexo oposto...Desses fatos anatômicos, conhecidos já há muito tempo, decorre a noção de um organismo bissexual na sua origem, que, no decurso de sua evolução, orienta-se para a monossexualidade conservando alguns restos do sexo atrofiado”.
Existiria um conflito entre as tendências masculinas e femininas que seria recalcado em todos os indivíduos. O sexo que domina na pessoa teria recalcado no inconsciente a representação psíquica do sexo vencido.
CANIBALESCO – Termo empregado por referência ao canibalismo praticado por certos povos – para qualificar relações de objeto e fantasias que estão em correlação com a atividade oral. O termo exprime de modo figurado as diferentes dimensões da incorporação oral: amor, destruição, conservação no interior de si mesmo e apropriação das qualidades do objeto. Fala-se por vezes de fase canibalesca como equivalente da fase oral ou, mais especialmente, como equivalente da segunda fase oral de Abraham (fase sádico-anal).
CATÁRTICO (MÉTODO)* – Método de psicoterapia em que o efeito terapêutico visado é uma “purgação”, uma descarga adequada dos afetos patogênicos. O tratamento permite ao sujeito evocar e até reviver os acontecimentos traumáticos a que esses afetos estão ligados, e ab-reagí- los.Historicamente, o “método catártico” pertence ao período (1880-1895) em que a terapia psicanalítica se definia progressivamente a partir de tratamentos efetuados sob hipnose.
CENA ORIGINÁRIA OU CENA PRIMÁRIA – Cena de relação sexual entre os pais, observada ou suposta segundo determinados índices e fantasiada pela criança, que é geralmente interpretada por ela como um ato de violência por parte do pai.
CENSURA – Função que tende a interditar aos desejos inconscientes e às formações que deles derivam o acesso ao sistema pré-consciente-consciente.
CLIVAGEM DO EGO – Expressão usada por Freud para designar o fenômeno muito particular – que ele vê operar sobretudo no fetichismo e nas psicoses – da coexistência, no seio do ego, de duas atitudes psíquicas para com a realidade exterior quando esta contraria uma exigência pulsional. Uma leva em conta a realidade, a outra nega a realidade em causa e coloca em seu lugar uma produção do desejo. Estas duas atitudes persistem lado a lado sem se influenciarem reciprocamente.
COMPLACÊNCIA SOMÁTICA – Expressão introduzida por Freud para referir a “escolha da neurose” histérica e a escolha do órgão ou do aparelho corporal sobre o qual se dá a conversão. O corpo – especialmentenos histéricos – ou determinado órgão em particular forneceria um material privilegiado à expressão simbólica do conflito inconsciente.
COMPLEXO – Conjunto organizado de representações e recordações de forte valor afetivo, parcial ou totalmente inconscientes. Um complexo constitui-se a partir das relações interpessoais da história infantil, pode estruturar todos os níveis psicológicos: emoções, atitudes, comportamentos adaptados.
COMPLEXO DE CASTRAÇÃO – Complexo centrado na fantasia de castração, que proporciona uma resposta ao enigma que a diferença anatômica dos sexos (presença ou ausência de pênis) coloca para a criança. Essa diferença é atribuída à amputação do pênis na menina. A estrutura e os efeitos do complexo de castração são diferentes no menino e na menina. O menino teme a castração como realização de uma ameaça paterna em resposta às suas atividades sexuais, surgindo daí uma intensa angústia de castração. Na menina, a ausência do pênis é sentida como um dano sofrido que ela procura negar, compensar ou reparar.O complexo de castração está em estreita relação com o complexo de Édipo e, mais especialmente, com a função interditória e normativa.
COMPLEXO DE ÉDIPO * – Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança sente em relação aos pais. Sob a forma dita positiva, o complexo apresenta-se como na história de Édipo-Rei: desejo de morte do rival que é a personagem do mesmo sexo e desejo sexual pela personagem do sexo oposto. Sob a forma negativa, apresenta-se de modo inverso: amor pelo progenitor do mesmo sexo e ódio ciumento ao progenitor do sexo oposto. Na realidade, essas duas formas encontram-se em graus diversos na chamada forma completa do complexo de Édipo. Segundo Freud, o apogeu do complexo de Édipo é vivido entre os três e os cinco anos, durante a fase fálica; o seu declínio marca a entrada no período de latência. É revivido na puberdade e é superado com maior ou menor êxito num tipo especial de escolha de objeto. O complexo de édipo desempenha papel fundamental na estrutura da personalidade e na orientação do desejo humano. Para os psicanalistas, ele é o principal eixo de referência da psicopatologia; para cada tipo patológico eles procuram determinar as formas particulares da sua posição e da sua solução. A antropologia psicanalítica procura encontrar a estrutura triangular do complexo de Édipo, afirmando a sua universalidade nas culturas mais diversas, e não apenas naquelas em que predomina a família conjugal.
COMPULSÃO À REPETIÇÃO – Ao nível da psicopatologia concreta, processo incoercível e de origem inconsciente, pelo qual o sujeito se coloca ativamente em situações penosas, repetindo assim experiências antigas sem se recordar do protótipo e tendo, pelo contrário, a impressão muito viva de que se trata de algo plenamente motivado na atualidade. É referida fundamentalmente ao caráter mais geral das pulsões: o seu caráter conservador.É evidente que a psicanálise se viu confrontada desde a origem com fenômenos de repetição. Se focalizarmos particularmente os sintomas, por um lado alguns deles são manifestamente repetitivos (rituais obsessivos, por exemplo), e, por outro, o que define o sintoma em psicanálise é precisamente o fato de reproduzir, de maneira mais ou menos disfarçada, certos elementos de um conflito passado (é nesse sentido que Freud qualifica, no início da sua obra, o sintoma histérico como símbolo mnêmico). De um modo geral, o recalcado procura “retornar” ao presente, sob a forma de sonhos, de sintomas, de atuação...”o que permaneceu incompreendido retorna; como uma alma penada, não tem repouso até que seja encontrada solução e alívio.
COMPULSÃO, COMPULSIVO – Clinicamente falando, é o tipo de conduta que o sujeito é levado a realizar por uma imposição interna. Um pensamento (obsessão), uma ação, uma operação defensiva, mesmo uma sequência complexa de comportamentos, são qualificados de compulsivos quando a sua não-realização é sentida como tendo de acarretar um aumento de angústia.
CONDENSAÇÃO* – Um dos modos essenciais do funcionamento dos processos inconscientes. Uma representação única representa por si só Várias cadeias associativas. Vemos operar a condensação no sintoma e, de um modo geral, nas diversas formações do inconsciente. Foi no sonho que melhor se evidenciou. Traduz-se no sonho pelo fato de o relato manifesto, comparado com o conteúdo latente, ser lacônico: constitui uma tradução resumida.
CONFLITO PSÍQUICO – Em psicanálise fala-se de conflito quando, no sujeito, opõe-se exigências internas contrárias. O conflito pode ser manifesto (entre um desejo e uma exigência moral, por exemplo, ou entre dois sentimentos contraditórios) ou latente, podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se, particularmente, pela formação de sintomas, desordens do comportamento, perturbações do caráter, etc. a psicanálise considera o conflito como constitutivo do ser humano, e isto em diversas perspectivas: conflito entre o desejo e a defesa, conflito entre os diferentes sistemas ou instancias, conflitos entre as pulsões, e por fim o conflito edipiano, onde não apenas se defrontam desejos contrários, mas onde estes enfrentam a interdição.
CONSCIÊNCIA PSICOLÓGICA – No sentido descritivo: qualidade momentânea que caracteriza as percepções externas e internas no conjunto dos fenômenos psíquicos. Segundo a teoria metapsicológica de Freud, a consciência seria função de um sistema, o sistema percepção-consciência (Pc-Cs). Do ponto de vista tópico, o sistema percepção-consciência está situado na periferia do aparelho psíquico, recebendo ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as provenientes do interior, isto é, as sensações que se inscrevem na série desprazer-prazer e as revivências mnésicos. Caracteriza-se pelo fato de dispor de uma energia livremente móvel, suscetível de sobre-investir este ou aquele elemento (mecanismo da atenção).
CONTEÚDO LATENTE – Conjunto de significações a que chega a análise de uma produção do inconsciente, particularmente do sonho. Uma vez decifrado, o sonho deixa de aparecer com uma narrativa em imagens para se tornar uma organização de pensamentos, um discurso, que exprime um ou vários desejos.
CONTEÚDO MANIFESTO – Designa o sonho antes de ser submetido à investigação analítica, tal como aparece ao sonhante que o relata. Por extensão, fala-se do conteúdo manifesto de qualquer produção verbalizada – desde a fantasia à obra literária – que se pretende interpretar segundo o método analítico.
CONTRACATEXIA (ou CONTRAINVESTIMENTO) – Processo econômico postulado por Freud como suporte de numerosas atividades defensivas do ego. Consiste no investimento pelo ego de representações, atitudes, etc., suscetíveis de criarem obstáculo para o acesso à consciência e à motilidade das representações e desejos inconscientes.
CONVERSÃO – Mecanismo de formação de sintomas que opera na histeria e mais especificamente na histeria de conversão. Consiste numa transposição de um conflito psíquico e numa tentativa de resolvê-lo em termos de sintomas somáticos, motores (paralisias, por exemplo) ou sensitivos (anestesias ou dores localizadas, por exemplo). O que especifica os sintomas de conversão é a sua significação simbólica: eles exprimem, pelo corpo, representações recalcadas.
DEFESA – Sigmund Freud designa por esse termo o conjunto das manifestações de proteção do eu contra as agressões internas (de ordem pulsional) e externas, suscetíveis de constituir fontes de excitação e, por conseguinte, de serem fatores de desprazer. As diversas formas de defesa costumam ser agrupadas na expressão “mecanismos de defesa”.
DEFORMAÇÃO – Efeito global do trabalho do sonho: os pensamentos latentes são transformados em um produto manifesto dificilmente reconhecível.
DESAMPARO (ESTADO DE) – Termo da linguagem comum que assume um sentido específico na teoria freudiana. Estado do lactente que, dependendo inteiramente de outrem para a satisfação das suas necessidades (sede, fome), é impotente para realizar

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