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BOLETIM CONTEUDO JURIDICO

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BOLETIM CONTEÚDO 
JURÍDICO N. 564 
(ano VIII) 
(15/03/2016) 
 
		
ISSN	-	ͧͦ͟͢-ͣ͢͢͞	
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA ‐ 2016 
		Boletim	Conteúdo	Jurídico	-	ISSN	–	1984-0454	
 
 
 
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Conselho	Editorial	
 
COORDENADOR GERAL (DF/GO/ESP) - 
VALDINEI CORDEIRO COIMBRA: 
Fundador do Conteúdo Jurídico. Mestre em 
Direito Penal Internacional Universidade 
Granda/Espanha. 
Coordenador do Direito Internacional 
(AM/Montreal/Canadá): SERGIMAR 
MARTINS DE ARAÚJO - Advogado com 
mais de 10 anos de experiência. Especialista 
em Direito Processual Civil Internacional. 
Professor universitário 
 Coordenador de Dir. Administrativo: 
FRANCISCO DE SALLES ALMEIDA 
MAFRA FILHO (MT): Doutor em Direito 
Administrativo pela UFMG. 
Coordenador de Direito Tributário e 
Financeiro - KIYOSHI HARADA (SP): 
Advogado em São Paulo (SP). Especialista 
em Direito Tributário e em Direito Financeiro 
pela FADUSP. 
 Coordenador de Direito Penal - RODRIGO 
LARIZZATTI (DF/Argentina): Doutor em 
Ciências Jurídicas e Sociais pela 
Universidad del Museo Social Argentino - 
UMSA. 
 
 
País: Brasil. Cidade: Brasília – DF. 
Contato: editorial@conteudojuridico.com.br 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
   
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SUMÁRIO 
COLUNISTA DO DIA 
 
 
01/02/2016 Rômulo de Andrade Moreira 
» A Execução Penal no Brasil e a sua compatibilidade com a 
Constituição Federal e com o sistema acusatório 
ARTIGOS 
15/03/2016 Gustavo Bede Aguiar 
» O princípio da legalidade no âmbito administrativo 
15/03/2016 Lincoln Rafael Horacio 
» Espécies de Sucessão no Direito Civil brasileiro 
15/03/2016 Thomas Ubirajara Caldas de Arruda 
» A Defensoria Pública como expressão e instrumento da democracia no novo CPC 
15/03/2016 Felipe Arruda Aguiar Sobreira da Silveira 
» Gadamer, a verdade e a compreensão nas ciências do espírito 
15/03/2016 Isabela Maria Rosal Santos 
» O Caso dos Exploradores de Cavernas e a Introdução ao Estudo do Direito 
15/03/2016 Tauã Lima Verdan Rangel 
» Tessituras ao Comentário Geral nº 13 acerca do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais: Aprofundamento ao Direito à Educação 
15/03/2016 Lorena Carneiro Vaz de Carvalho Albuquerque 
» O direito de greve e a justa causa trabalhista 
MONOGRAFIA
15/03/2016 Álvaro Felipe câmara da Silva Fernandes 
» O Direito Fundamental à saúde e a obrigação de fazer do Estado no tratamento paliativo dos 
pacientes terminais 
 
 
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AVALIAÇÃO DAS MANIFESTAÇÕES DE RUAS 
 
KIYOSHI  HARADA:  Advogado  em  São  Paulo  (SP). 
Especialista  em  Direito  Tributário  e  em  Direito 
Financeiro  pela  FADUSP.  Professor  de  Direito 
Tributário, Administrativo e Financeiro. Conselheiro 
do Instituto dos Advogados de São Paulo. Presidente 
do Centro de Pesquisas e Estudos Jurídicos. Membro 
do Conselho Superior de Estudos Jurídicos da Fiesp. 
Ex  Procurador‐Chefe  da  Consultoria  Jurídica  do 
Município de São Paulo. 
No domingo último cerca de 3 milhões de brasileiros saíram as 
ruas demonstrando indignações contra o caos político-social e 
institucional a que conduziram os 14 anos de regime petista que se 
apossou do poder para benefício exclusivo de seus integrantes. 
A falta de pudor e o mínimo de bom senso desse governo que 
perdeu a legitimidade perante a opinião pública faz com que ele 
continue, de um lado, retirando a maior parcela das riquezas 
produzidas à dura pena pelos ordeiros trabalhadores e empresários 
honestos e, de outro lado, esbanjar bilhões de reais 
com organismos espúrios, como o MST, a CUT e outras siglas 
que nada produzem, pelo contrário, só semeiam atos de violência, 
destruição, paralisação das atividades econômicas por meio de 
movimentos sempre radicais. 
Essa concentração inusitada, que só em São Paulo reuniu 
cerca de 1,5 milhões de pessoas, deve significar algo mesmo para 
as instituições políticas em frangalhos. Deve reascender a tocha 
do impeachment com eventual revisão do rito processual definido 
pela STF que na prática inviabiliza o uso desse instrumento de 
soberania popular. 
Só que o impeachment com esse quadro político institucional 
completamente deteriorado não será fácil de viabilizar, mesmo com 
a retirada dos obstáculos processuais colocados no último 
julgamento da Corte Suprema. Ainda que o fosse possível 
 
 
 
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demandaria um tempo muito grande que o pais não pode mais 
esperar. 
Outrossim, se todo o aparelhamento estatal está 
gangrenado não cremos que a saída da Presidente irá melhorar as 
coisas. Talvez a agilização do processo de cassação de chapa, que 
elegeu os dois candidatos, pelo TSE em respeito da soberania 
popular fosse mais eficiente, pois ensejaria nova eleição direta ou 
indireta conforme a cassação ocorra na 1ª metade ou na 2ª metade 
do mando presidencial atual. 
Há ainda o perigo do golpe institucional mediante aprovação da 
Emenda que permite o atual Congresso desmoralizado implantar o 
sistema parlamentar do governo, nomeado o Primeiro Ministro 
alguém que possa dar sustentação a este regime exaurido, 
atolado até o pescoço em meio ao mar de corrupção. 
Daí porque até juristas de renome já estão sustentando a tese 
da intervenção das Forças Armadas destinadas “a defesa da 
Pátria, à garantia dos Poderes constitucionais e, por iniciativa de 
qualquer destes; da lei e da ordem”, conforme prescrição do art. 142 
da CF. 
Não se trata de intervenção militar, mas de Intervenção 
Constitucional das Forças Armadas para cumprir o seu papel 
constitucional de estabelecer a lei e ordem que não mais existem 
no momento em que vivemos. 
Se interpretado o texto do art. 142 da CF, não de forma literal 
que exigiria provocação de um dos Poderes, mas de forma 
sistemática considerando a ordem constitucional como um todo 
onde se sobressaem os valores da Democracia, de Soberania, da 
cidadania, da dignidade da pessoa humana, a separação dos 
Poderes etc. a gigantesca manifestação popular do dia 13 último 
mais do que legitima a intervenção Constitucional das Forças 
 
 
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Armadas. É do seu dever constitucional salvar a Pátria em perigo 
tanto quanto na hipótese de agressão externa. 
 
 
 
 
 
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O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE NO ÂMBITO ADMINISTRATIVO 
 
GUSTAVO BEDE AGUIAR: Advogado. 
Resumo: O presente artigo visa discorrer, de maneira sintética, a 
respeito do princípio da legalidadeno âmbito da Administração 
Pública. Para tanto, após uma breve noção introdutória a respeito 
dos princípios gerais que regem o direito administrativo, traz a 
definição de legalidade administrativa, diferenciando-a do princípio 
da legalidade enquanto direito individual do cidadão, bem como tece 
considerações acerca de sua aplicabilidade no âmbito 
administrativo atual, no qual é visto como princípio da juridicidade. 
Por derradeiro, são realizados breves comentários concernentes às 
exceções ao mencionado princípio previstas constitucionalmente. 
Palavras-Chave: Princípio. Legalidade. Administração. Pública. 
 
1. Introdução 
Os princípios fundamentais que norteiam a atuação da 
administração pública encontram-se, explícita ou implicitamente, na 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Muito 
embora se observe em atos normativos infraconstitucionais a 
referência ou enumeração dos mais diversos princípios 
administrativos, todos são decorrência lógica do texto 
constitucional. 
Dentre os princípios orientadores da atuação da 
administração pública, avultam importância os expressos no art. 
37, caput da Carta Magna, o qual, após a Emenda Constitucional nº 
19/1998, estabeleceu que a administração pública direta e indireta 
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal 
 
 
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e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. 
Da leitura do aludido dispositivo constitucional, infere-se que 
os princípios ali enumerados são de observância cogente para 
todos os Poderes, quando do exercício de suas funções 
administrativas, e para todos os entes públicos federativos, 
alcançando, inclusive, a administração direta e a indireta. 
No âmbito infraconstitucional, os princípios que regem a 
administração pública podem ser encontrados na Lei nº 9.784/99, a 
qual preconiza, no caput de seu art. 2º, que essa deve atenderá 
atender aos postulados da legalidade, finalidade, motivação, 
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, 
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. 
Dentre os referidos princípios administrativos, merece 
destaque o da legalidade, um dos corolários do Estado Democrático 
de Direito. Maria Sylvia di Pietro, majestosamente, leciona que o 
princípio da legalidade nasceu com o Estado de Direito e constitui 
uma das principais garantias de respeito aos direitos individuais. 
Para a ilustre autora, a lei, ao mesmo tempo em que os define, 
estabelece também os limites da atuação administrativa que tenha 
por objeto a restrição ao exercício de tais direitos em benefício da 
coletividade.[1] 
2. As acepções do princípio da legalidade no direito público 
e no direito privado 
Muito embora o texto constitucional não traga a definição do 
princípio da legalidade no âmbito administrativo, a doutrina se 
encarrega desse mister com muita propriedade. Marcelo 
Alexandrino e Vicente Paulo assim conceituam o aludido postulado 
(ALEXANDRINO; PAULO, 2008, p. 194): 
 
 
 
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“A legalidade traduz a ideia de que a 
administração pública somente tem 
possibilidade de atuar quando exista lei que o 
determine (atuação vinculada) ou autorize 
(atuação discricionária), devendo obedecer 
estritamente ao estipulado na lei, ou, sendo 
discricionária a atuação, observar os termos, 
condições e limites autorizados na lei.” 
José dos Santos Carvalho Filho, por sua vez, afirma que “o 
princípio da legalidade é a diretriz básica da conduta dos agentes 
da Administração. Significa que toda e qualquer atividade 
administrativa deve ser autorizada por lei. Não o sendo, a atividade 
é ilícita.” [2] 
 Verifica-se que, sob o manto do direito público, a 
legalidade traduz o critério de subordinação ou vinculação positiva 
à lei, uma vez que a atuação dos agentes públicos, direta ou 
indiretamente, depende de previsão legal. Consoante as lições de 
Alexandre Mazza: 
 “A característica fundamental da função 
administrativa é a sua absoluta submissão à lei. 
O principio da legalidade consagra a 
subordinação da atividade administrativa aos 
ditames legais. Trata-se de urna importante 
garantia do Estado de Direito: a Administração 
Pública só pode fazer o que o povo autoriza, por 
meio de leis promulgadas por seus 
representantes eleitos. É o caráter infralegal da 
função administrativa.” 
No direito privado, por seu turno, o referido princípio traz 
consigo a ideia de não contradição ou vinculação negativa à lei, haja 
 
 
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vista ser permitido, ao administrado, pautar suas ações da maneira 
que melhor lhe aprouver, desde que não contrariem o texto legal. 
O princípio da legalidade, sob esse enfoque, encontra-se no 
rol dos direitos individuais e está presente no art. 5º, inciso II da 
CFRB/88, o qual dispõe que “ninguém será obrigado a fazer ou 
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.” 
Frise-se que a previsão constitucional do princípio da 
legalidade no âmbito privado obteve inspiração do artigo 4º da 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, o qual 
preconiza, ipsis litteris: 
"A liberdade consiste em fazer tudo aquilo 
que não prejudica a outrem; assim, o exercício 
dos direitos naturais de cada homem não tem 
outros limites que os que asseguram aos 
membros da sociedade o gozo desses mesmos 
direitos. Esses limites somente podem ser 
estabelecidos em lei". 
Ora, ante as considerações acima referidas, infere-se que o 
princípio da legalidade apresenta, para a administração pública, um 
conteúdo mais restritivo em relação ao direito privado, o qual é 
regido pela autonomia da vontade. Nesse último, o referido 
postulado constitucional funciona como uma garantia para os 
cidadãos contra possíveis arbitrariedades dos agentes públicos. 
Em síntese, pode-se afirmar que enquanto que os particulares 
podem fazer tudo que a lei não proíbe, os agentes públicos apenas 
podem fazer o que a lei determine ou autorize. Em não havendo 
previsão legal, não subsiste a possibilidade de atuação 
administrativa. 
3. Abrangência do princípio da legalidade administrativa 
 
 
 
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Muito se discute a respeito da abrangência do princípio da 
legalidade administrativa e para que se entenda a amplitude do 
termo para a doutrina moderna, é necessária a realização de uma 
breve digressão histórica. 
O princípio da legalidade floresceu juntamente com os ideais 
do Estado Liberal, modelo de organização político cuja principal 
preocupação consistia na imposição de limites à atuação estatal – 
Estado Absolutista -, funcionando a legalidade como uma 
verdadeira ferramenta limitadora de poder. De acordo com o 
principio da legalidade, na época entendida de maneira estrita, o 
Poder Público poderia tão somente agir dentro dos limites 
estabelecidos pelas normas aprovadas pelos representantes do 
povo. 
Ocorre que, com a ascensão do Estado Social, a ampliação 
do rol das atividades administrativas, a necessidade de prestaçõespositivas por parte do Estado e a utilização da vinculação estrita 
como justificativa, muitas vezes, para realização de arbitrariedades, 
passou a se falar não mais em legalidade, mas em princípio da 
juridicidade administrativa, segundo o qual a atuação administrativa 
deve se dar em conformidade não apenas com a lei, mas com todo 
o ordenamento jurídico vigente. 
A partir da noção de juridicidade administrativa, passa a se 
admitir a prática de atos administrativos praeter legem. Caso 
emblemático que obteve enorme repercussão na sociedade foi a 
declaração de constitucionalidade da Resolução nº 7, editada pelo 
Conselho Nacional de Justiça, a qual vedava a prática do 
nepostismo. 
Na ocasião, o Supremo Tribunal Federal, através da ADC 12, 
de Relatoria do Ministro Ayres Britto, decidiu que mesmo sendo um 
ato administrativo, o CNJ tem competência dar densidade normativa 
 
 
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ao texto constitucional sem a necessidade de intermediação de uma 
lei em sentido estrito: 
AÇÃO DECLARATÓRIA DE 
CONSTITUCIONALIDADE, AJUIZADA EM 
PROL DA RESOLUÇÃO Nº 07, de 18.10.05, DO 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. ATO 
NORMATIVO QUE "DISCIPLINA O EXERCÍCIO 
DE CARGOS, EMPREGOS E FUNÇÕES POR 
PARENTES, CÔNJUGES E COMPANHEIROS 
DE MAGISTRADOS E DE SERVIDORES 
INVESTIDOS EM CARGOS DE DIREÇÃO E 
ASSESSORAMENTO, NO ÂMBITO DOS 
ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO E DÁ 
OUTRAS PROVIDÊNCIAS". PROCEDÊNCIA 
DO PEDIDO. 1. Os condicionamentos impostos 
pela Resolução nº 07/05, do CNJ, não atentam 
contra a liberdade de prover e desprover cargos 
em comissão e funções de confiança. As 
restrições constantes do ato resolutivo são, no 
rigor dos termos, as mesmas já impostas pela 
Constituição de 1988, dedutíveis dos 
republicanos princípios da impessoalidade, da 
eficiência, da igualdade e da moralidade. 2. 
Improcedência das alegações de desrespeito ao 
princípio da separação dos Poderes e ao 
princípio federativo. O CNJ não é órgão estranho 
ao Poder Judiciário (art. 92, CF) e não está a 
submeter esse Poder à autoridade de nenhum 
dos outros dois. O Poder Judiciário tem uma 
singular compostura de âmbito nacional, 
perfeitamente compatibilizada com o caráter 
estadualizado de uma parte dele. Ademais, o art. 
 
 
 
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125 da Lei Magna defere aos Estados a 
competência de organizar a sua própria Justiça, 
mas não é menos certo que esse mesmo art. 
125, caput, junge essa organização aos 
princípios "estabelecidos" por ela, Carta Maior, 
neles incluídos os constantes do art. 37, cabeça. 
3. Ação julgada procedente para: a) emprestar 
interpretação conforme à Constituição para 
deduzir a função de chefia do substantivo 
"direção" nos incisos II, III, IV, V do artigo 2° do 
ato normativo em foco; b) declarar a 
constitucionalidade da Resolução nº 07/2005, do 
Conselho Nacional de Justiça. 
Ampliada a noção tradicional de legalidade para juridicidade, 
a doutrina criou o chamado “Bloco de Legalidade”, devendo os 
agentes públicos observância às leis ordinárias, às leis 
complementares, às leis delegadas, à Constituição, às medidas 
provisórias, aos tratados e convenções internacionais, atos 
administrativos normativos, dentre outros. 
Alexandre Mazza, com maestria, discorre a respeito da 
questão: 
“O princípio da legalidade não se reduz ao 
simples cumprimento da lei em sentido estrito. A 
Lei federal n. 9.784/99 (Lei do Processo 
Administrativo), no art. 2°, paragrafo único, I, 
define a legalidade como o dever de atuação 
conforme a lei e o Direito. A redação do 
dispositivo permite contemplar o que a doutrina 
estrangeira tem chamado de princípio da 
juridicidade, isto é, a obrigação de os agentes 
públicos respeitarem a lei e outros instrumentos 
normativos existentes na ordem jurídica. A 
 
 
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juridicidade é uma ampliação do conteúdo 
tradicional da legalidade. Além de cumprir leis 
ordinárias e leis complementares (lei em sentido 
estrito), a Administração está obrigada a 
respeitar o denominado bloco da legalidade. 
Significa dizer que as regras vinculantes da 
atividade administrativa emanam de outros 
veículos normativos, a saber: a) Constituição 
Federal, incluindo emendas constitucionais; b) 
Constituições Estaduais e Leis Orgânicas; c) 
medidas provisórias; d) tratados e convenções 
internacionais; e) costumes; f) atos 
administrativos normativos, como decretos e 
regimentos internos; g) decretos legislativos e 
resoluções (art. 59 da CF); h) princípios gerais 
do direito.” [3] 
4. Restrições ao princípio da legalidade 
Consoante as lições de Celso Antônio Bandeira de Melo, o 
princípio da legalidade pode sofrer constrições diante de situações 
excepcionais mencionadas expressamente na Constituição da 
República Federativa do Brasil, as quais preveem que é facultado 
ao Presidente da República a adoção de providencias incomuns 
para enfrentar situações anômalas as quais exijam uma atuação 
sumária ou eventos gravíssimos que requeiram uma ação 
particularmente energética. É o caso das medidas provisórias, do 
estado de defesa e do estado de sítio.[4] 
5. Conclusão 
À guisa de conclusão, percebe-se a importância do postulado 
da legalidade – ou juridicidade – no âmbito da Administração 
Pública. Ao limitar as condutas dos agentes públicos apenas àquilo 
que é permitido em lei, assim entendida latu sensu, nos termos e 
 
 
 
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limites por ela estabelecidos e segundo o interesse público, o 
princípio da legalidade constitui uma verdadeira ferramenta de 
limitação de poder e um instrumento de garantia aos administrados, 
consagrando a segurança jurídica no Estado Democrático de 
Direito. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
MELO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito 
administrativo. São Paulo: Malheiros, 2009, página 105/106. 
PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Vicente. Direito 
Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: 
MÉTODO, 2008, página 194. 
FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de direito 
administrativo. São Paulo: atlas, 2015, página 20. 
MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. São 
Paulo: Saraiva, 2015, página 101. 
MELO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito 
administrativo. São Paulo: Malheiros, 2009, página 105/106. 
NOTAS: 
[1] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. São 
Paulo: Atlas, 2013. Página 64/65 
[2] FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de direito 
administrativo. São Paulo: atlas, 2015, página 20. 
[3] MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. São 
Paulo: Saraiva, 2015, página 101. 
[4] MELO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito 
administrativo. São Paulo: Malheiros, 2009, página 105/106. 
 
 
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ESPÉCIES DE SUCESSÃO NO DIREITO CIVIL BRASILEIRO 
 
LINCOLN RAFAEL HORACIO: Graduado em Direitopela 
Universidade Estadual de Londrina (UEL) no ano de 2014. 
Pós Graduando em Direito Penal pela Faculdade Damásio 
de Jesus. Aprovado e nomeado em concurso para técnico 
administrativo da UTFPR no ano de 2014. Aprovado e 
convocado em concurso para advogado da Sociedade de 
Economia Mista Sercomtel Telecomunicações no ano de 
2016. Aprovado em concurso para Procurador do Estado 
do Paraná (PGE-PR) no ano de 2015. 
RESUMO: Em que pese haja mais de uma modalidade de 
sucessão post mortem no direito civil brasileiro, o crescente desuso 
na atualidade da modalidade de sucessão testamentária faz com 
que os operadores do direito deixem de aprofundar seus estudos 
sobre esta modalidade de sucessão que, muitas vezes, melhor 
atende aos interesses do autor da herança, já que permite a esse 
dispor de parte de seu patrimônio para depois de sua morte como 
entender melhor ou, quem sabe, mais justo. Desta forma, conhecer 
as espécies de sucessão, suas modalidades, assim como as 
características específicas de cada uma é que se pretende através 
do estudo esposado neste trabalho. 
PALAVRAS CHAVE: Espécies de sucessão. Sucessão post 
mortem. Sucessão legítima. Sucessão testamentária. 
 
INTRODUÇÃO 
O direito sucessório brasileiro é regido por suas 
modalidades de sucessão: legítima e testamentária. A primeira 
comporta regras de natureza cogente, não abrindo margem a 
manifestação de vontade já que quando de sua aplicação não é 
possível fugir do que estritamente definido na lei. Trata-se, pois, de 
modalidade de sucessão mais próxima a natureza de ato jurídico, 
onde não se há manifestação de vontade dos envolvidos, mas tão 
 
 
 
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somente, incidência das disposições legais e produção dos efeitos 
que lhes são atinentes. A segunda, por sua vez, abre margem para 
que o autor da herança manifeste sua vontade no tocante à 
disposição de seu patrimônio para depois da morte, tendo, portanto, 
a natureza jurídica mais assemelhada a dos negócios jurídicos, 
incidindo sobre si, inclusive, o regime das nulidades civis. 
1 ESPÉCIES DE SUCESSÕES PÓS-MORTE 
A sucessão tem por finalidade dar continuidade à relação 
jurídica de propriedade patrimonialmente valorada com a 
transmissão dos bens do de cujus para os seus sucessores. 
Por expresso comando constitucional, as dívidas do 
falecido não são repassadas aos herdeiros, senão até o limite do 
patrimônio transmitido para esses na sucessão. 
Existem dois tipos de sucessão em caso de morte, a 
sucessão testamentária no caso de o falecido ter deixado 
disposição de última vontade quanto ao seu patrimônio e a legítima 
que advém dos preceitos legais, cujas disposições devem ser 
estritamente observadas. Resumidamente, a sucessão pode ser 
legítima ou testamentária. 
Assim dispõe o artigo 1.786 do Código Civil: 
Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por 
disposição de última vontade. 
Também neste sentido ensina Washington Monteiro de 
Barros: 
Efetivamente, o art. 1.786 do Código Civil de 
2002, a exemplo do que dispunha o de 1916, 
preceitua que “a sucessão dá-se por lei ou por 
disposição de última vontade”. Prevista se 
 
 
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acham, neste dispositivo legal, as duas formas 
de sucessão do nosso ordenamento jurídico, a 
legítima, resultante da lei, e a testamentária, 
decorrente do testamento. (MONTEIRO, 2003, 
p.10). 
Vejamos em separado cada uma delas com as suas 
definições e principais características. 
2 SUCESSÃO LEGÍTIMA 
A sucessão legítima, também conhecida como 
sucessão ab intestato ou ainda não testamentária, é aquela 
decorrente das disposições legais. Não havendo testamento, 
necessariamente a sucessão será legítima, passando o patrimônio 
do falecido na ordem da vocação hereditária às pessoas indicadas 
pela lei, chamados herdeiros (CAHALI, 2003, p. 28). Regra geral, a 
presença uma classe de herdeiros mais próxima por vínculos 
hereditários ou legais com o autor da herança conforme 
enumeração legal exclui a classe subseqüente da partilha. 
Sobre esse tipo de sucessão, Washington de Barros assim 
se pronuncia: 
Se não há testamento, se o falecido não deixar 
qualquer ato de última vontade, a sucessão é 
legítima ou ab intestato, deferido todo o 
patrimônio do de cujus às pessoas 
expressamente indicadas pela lei, de acordo 
com a ordem de vocação hereditária (CCB, art. 
1829). Assim estabelece o art. 1788: ‘morrendo 
a pessoa sem testamento, transmite a herança 
aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá 
quanto aos bens que não forem compreendidos 
no testamento; e subsiste a sucessão legítima se 
 
 
 
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o testamento caducar, ou for julgado nulo. A 
essas hipóteses acrescenta-se a revogação do 
testamento (MONTEIRO, 2003, p.9). 
Em outras três hipóteses a sucessão também será 
realizada pelas disposições da legítima. Primeira, quando em seu 
ato de última vontade o autor da herança não dispõe da 
integralidade de seus bens, isto é, consta parte deles em testamento 
e sobre outra parte nada manifesta. Segunda, caso houver 
caducidade do testamento ou, por fim, se o testamento for 
considerado nulo. Nesse caso, a sucessão será deferida na ordem 
legal de vocação hereditária às pessoas expressamente indicadas 
no art. 1.829 do CC. Sucessão legítima, portanto, é a que é deferida 
por determinação legal (MONTEIRO, 2003, p. 9). 
 Preceitua o art. 1.829 do CC: 
Art. 1.829 - A sucessão legítima defere-se na 
ordem seguinte: 
I- aos descendentes, em concorrência com o 
cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com 
o falecido no regime da comunhão universal, ou 
no da separação obrigatória de bens (art. 1640, 
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão 
parcial, o autor da herança não houver deixado 
bens particulares; 
II- aos ascendentes, em concorrência com o 
cônjuge; 
III- ao cônjuge sobrevivente; 
IV- aos colaterais. 
 
 
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 A partilha do patrimônio do autor da herança é realizada 
por classes, havendo hierarquia de preferência da primeira em 
relação às demais que lhe estão abaixo, da segunda em relação às 
demais que lhe estão abaixo e assim por diante, de acordo com a 
ordem hierárquica de parentesco estabelecida pela lei. Há uma 
presunção de que a relação escalonada de preferências na ordem 
de vocação hereditária seria o desejo do autor da herança. 
Assim, o artigo 1.829 do Código Civil adotou a seguinte 
ordem de preferência no chamamento à herança: descendentes, 
ascendentes, cônjuge e colateral até o quarto grau, sendo que o 
cônjuge concorre com descendentes, salvo se casado este com o 
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação 
obrigatória de bens (art. 1640, parágrafo único); ou se, no regime 
da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens 
particulares, ou com os ascendentes, em não havendo 
descendentes (TARTUCE, 2012, p. 1275). 
Na falta de todos os herdeiros listados nos incisos do art. 
1.829 ou de companheiro ou em caso de renúncia de todos eles, o 
direito sucessório será transmitido ao Município ou ao Distrito 
Federal. Osbens passam ao domínio do Poder Púbico por meio de 
sentença declaratória de vacância dos bens após cinco anos da 
abertura da sucessão. 
Vale ressaltar que o Poder Público não é considerado 
herdeiro, não lhe sendo reconhecido o direito de saisine que decorre 
do conhecido Princípio da Saisine segundo o qual a herança 
transmite-se automaticamente no momento da abertura da 
sucessão, ou seja, no momento da ocorrência do evento morte. Por 
isso, não entra na posse e propriedade da herança pelo fato da 
abertura da sucessão, mas sim por força de sentença. 
(CARVALHO, 2002, p. 74). 
3 SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA 
 
 
 
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Testamento pode ser definido como negócio jurídico 
solene pelo qual alguém, nos termos da lei, dispõe de seus bens, no 
todo ou em parte, para depois de sua morte (CAHALI, 2003, p. 28). 
Neste sentido dispõe o artigo 1.857 do Código Civil: 
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, 
por testamento, da totalidade dos seus bens, ou 
de parte deles, para depois de sua morte. 
§ 1o A legítima dos herdeiros necessários 
não poderá ser incluída no testamento. 
§ 2o São válidas as disposições 
testamentárias de caráter não patrimonial, ainda 
que o testador somente a elas se tenha limitado. 
Há maior número de artigos regulamentando a sucessão 
testamentária do que a sucessão legítima em nossa lei civil. 
Em síntese, a sucessão testamentária é conduzida pelo 
testamento, sendo que este instrumento pode contemplar herdeiros, 
que sucedem a título universal, ou legatários, que sucedem a título 
singular. 
Além disso, o testamento assume natureza de negócio 
jurídico por se tratar de uma declaração de vontade que produz 
efeitos jurídicos, ainda que post-mortem. Assume também o caráter 
de instrumento solene, pois somente pode ser escrito e sempre 
atendendo as formalidades previstas na lei, sob pena de ser 
declarado inválido (GAMA, 2006, p. 364). 
Há limites ao direito de testar. O autor da herança tem 
grande liberdade, mas a lei impõe limites a serem observamos em 
favor dos herdeiros necessários. 
É neste sentido o texto do artigo 1.846 do Código Civil: 
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros 
necessários, de pleno direito, a metade dos bens 
da herança, constituindo a legítima. 
 
 
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É possível que o testamento contenha cláusulas 
extrapatrimoniais, como é a cláusula que reconhece a paternidade 
ou estabelece determinações sobre o funeral via testamento, 
porém, a regra, é que se disponha via testamento de bens 
patrimoniais do autor da herança (Código Civil, artigos 1.857, 1.609, 
III e 1.634, IV). 
Merecem destaque, ainda, as seguintes características do 
testamento (RODRIGUES, 2002, p. 145). 
 Primeira. O testamento é revogável. Seu autor pode se 
arrepender e mudar alguma disposição testamentária ou mesmo 
revogá-lo por completo. Assim dispõe o Código Civil: 
Art. 1.858. O testamento é ato 
personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer 
tempo. 
Vale anotar, inclusive, que não é possível ao autor da 
herança renunciar o direito de revogar o testamento, sobretudo 
porque este instrumento de disposição de últimas vontades apenas 
produz efeitos após a sua morte (TARTUCE, 2010, p. 296). 
Segunda. O testamento é ato pessoal, ou seja, só o autor 
da herança pode testar, de modo individual e exclusivo, não se 
admitindo testamento por terceiros, ainda que com procuração. 
Também não se admite testamento feito em comunhão por duas ou 
mais pessoas. Neste sentido é a norma do Código Civil (GAMA, 
2006, p. 365): 
Art. 1.863. É proibido o testamento 
conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou 
correspectivo. 
 Também é característica do testamento a possibilidade 
de dispor que filhos não concebidos até a morte do testador podem 
também adquirir parte de seu patrimônio se houver previsão, desde 
que o testador indique a pessoa que conceberá seu filho e esta 
esteja viva quando da abertura da sucessão. Integram este rol os 
filhos nascidos por reprodução assistida. Assim estabelece a 
previsão legal do Código Civil: 
 
 
 
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Art. 1.799. Na sucessão testamentária 
podem ainda ser chamados a suceder: 
I - os filhos, ainda não concebidos, de 
pessoas indicadas pelo testador, desde que 
vivas estas ao abrir-se a sucessão; 
4 CONCLUSÃO 
Com base das definições, conceituações e características 
das modalidades de sucessão descritas acima, podemos concluir 
que na legislação brasileira, a sucessão patrimonial não se reduz à 
sucessão legítima, uma vez que, ainda que em desuso, a sucessão 
testamentária conta com ampla regulamentação legal e, muitas das 
vezes, vem de encontro aos interesses do autor da herança, 
possibilitando-lhe manifestá-los através de sua disposição de última 
vontade. 
5 REFERÊNCIAS 
CAHALI, F. J., Curso Avançado de Direito Civil: Direito das 
Sucessões. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo, p. 28, 2003. 
CARVALHO, L. C. P., Saisine e astreinte. Editora Revista dos 
Tribunais. São Paulo: v. 802, 2002. 
CARVALHO NETO, I. Introdução ao direito das sucessões. 
In: Cassetari, Christiano; Menin, Márcia Maria (Coords.). Hironaka, 
Giselda M. Novaes (Org). Direito das Sucessões. v. 8, São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2008. 
GAMA, R. Dicionário Básico Jurídico. Editora Russel. 
Campinas, 2006. 
MONTEIRO, W. B. Curso de Direito Civil: direito das 
sucessões. Editora Saraiva, São Paulo, p. 1-32, 1998. 
 
 
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MONTEIRO, W. B. Curso de Direito Civil Direito das 
Sucessões. Editora Saraiva, São Paulo, ed 35, v.6, p. 9-10, 2003. 
RODRIGUES, S. Direito Civil. Editora Saraiva. São Paulo. Ed 
25, v.7, p.3-25. 2002. 
TARTUCE, F. Manual de Direito Civil – Volume 
Único. Editora Método. São Paulo. 
 
 
 
 
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A DEFENSORIA PÚBLICA COMO EXPRESSÃO E INSTRUMENTO DA 
DEMOCRACIA NO NOVO CPC 
 
THOMAS  UBIRAJARA  CALDAS  DE  ARRUDA:  Advogado. 
Assistente  Jurídico  da  Defensoria  Pública  de  Segunda 
Instância  de Mato Grosso.  Pós‐graduando  em Direito  Civil 
Contemporâneo pela UFMT. 
Às vésperas de entrar em vigor (março/2016), o novo 
Código de Processo Civil vem gerando grande ansiedade (e dores 
de cabeça) nos operadores do direito. Não poderia ser diferente, já 
que as mudanças são significativas. São novos princípios e normas 
que ganham destaque por romperem os paradigmas encrustados 
no CPC de 1973, primando pela interdisciplinaridade como auxílio à 
atividade hermenêutica. É o que se chama de constitucionalização 
do direito processual civil, característica que se denota já no artigo 
preambular: “o processo civil será ordenado, disciplinado e 
interpretado conforme os valores e as normas fundamentais 
estabelecidos na Constituição da República Federativa do 
Brasil”. 
Foram mais de cinco anos de intensos debates e 
incontáveis audiências públicas, com a participação de juristas de 
renome, para alcançar um modelo normativoprocessual que 
realmente considerasse as diretrizes da Constituição Federal de 
1988 e os ideais de racionalidade e objetividade que há muito tempo 
vinham sendo clamados pela doutrina e jurisprudência. 
A incorporação de novos institutos, extinção de outros 
e a flexibilização de procedimentos judiciais reflete o antigo desejo 
de otimização do processo e desapego a formalismos exagerados. 
A própria concepção do cooperativismo processual logo no art. 6º 
do código concretiza a ideia de necessidade de colaboração entre 
as partes que integram o processo para a obtenção de uma decisão 
justa, célere e efetiva. Na verdade, dá luz à noção de 
policentricidade, ou seja, todos os sujeitos da relação jurídico-
processual são igualmente responsáveis para que o processo seja 
conduzido e finalizado de acordo com os princípios processuais 
constitucionais. 
 
 
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O novo CPC reservou à Defensoria Pública um título 
exclusivo, assim como ao Ministério Público e à Advocacia Pública, 
onde são enumeradas, dentre outros, as finalidades institucionais 
do órgão, como se vê do texto insculpido no artigo 185: “A 
Defensoria Pública exercerá a orientação jurídica, a promoção 
dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e 
coletivos dos necessitados, em todos os graus, de forma 
integral e gratuita”. 
O reconhecimento formal da Defensoria Pública no 
NCPC é reflexo da importância revelada pelo órgão no cumprimento 
de sua missão institucional nos últimos anos, fator que implica em 
evidente fortalecimento como signo de “expressão e instrumento do 
regime democrático” (art. 1º, Lei Complementar nº 80/94). 
Nas palavras do professor Elpídio Donizetti, membro 
da Comissão de Juristas encarregada da elaboração do Anteprojeto 
do Novo CPC e autor da proposta que inseriu um título específico 
para a Defensoria Pública, “o enquadramento da Defensoria 
Pública como garantia fundamental constitucional, incumbida, 
principalmente, da promoção do acesso à justiça – direito 
fundamental consubstanciado no art. 5º, XXXV, da Constituição 
de 1988 – levou a instituição a ser considerada pela maioria da 
doutrina como integrante do núcleo essencial de um Estado 
Democrático de Direito”.¹ 
A doutrina admite até mesmo que, em razão do grau 
de importância, a Defensoria não pode ter suas atribuições 
restringidas nem mesmo por meio de emenda constitucional, “sob 
pena de indefensável retrocesso no cumprimento do objetivo 
fundamental de construção de uma sociedade livre, justa e 
solidária”.² 
A previsão no artigo 7º do NCPC, da paridade de 
tratamento entre as partes, desdobra do princípio da igualdade 
processual, assegurando a garantia da prestação jurisdicional sem 
qualquer discriminação e reduzindo as dificuldades do acesso à 
justiça. Em essência, traduz os objetivos primários da Defensoria 
Pública, dispostos na Lei Complementar nº 80/1994, dentre eles a 
primazia da dignidade da pessoa humana, a afirmação do Estado 
 
 
 
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democrático de Direito, a redução das desigualdades sociais, a 
prevalência e efetividade dos direitos humanos e a garantia da 
ampla defesa e do contraditório, princípios aplicáveis também no 
âmbito processual. 
Em prestígio à legislação especial que rege a 
instituição, restou consagrado na nova norma, mais 
especificamente no artigo 72, parágrafo único, o exercício da 
curatela especial da Defensoria Pública nos processos em que 
forem partes: I) o incapaz que não possuir representante legal ou se 
os seus interesses colidirem com os daquele, enquanto durar a 
incapacidade e; II) o réu preso revel, bem como o réu revel citado 
por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído 
advogado. A intenção da norma processual é proteger não somente 
os necessitados financeiramente, mas também os juridicamente 
hipossuficientes. 
Destaca-se, também, a previsão no §5º do artigo 95 
da vedação da utilização de recursos do fundo de custeio da 
Defensoria Pública para o pagamento dos honorários periciais em 
ação judicial. Percebe-se aqui uma clara reafirmação da autonomia 
administrativa e financeira da defensoria nos moldes do §2º do 
artigo 134 da Constituição Federal, introduzida pela Emenda 
Constitucional nº 45/2004. 
Outro ponto que merece especial atenção é o artigo 
186 e parágrafos seguintes, que traz a reprodução das 
prerrogativas da intimação pessoal e da contagem em dobro dos 
prazos processuais para a Defensoria Pública, conforme já 
previstas na Lei 1.060/50 e Lei Complementar nº 80/94, observando 
que a contagem em dobro não prevalece quando há previsão de 
prazo específico para a instituição – art. 186, §4º. Ressalte-se que 
a prerrogativa do prazo em dobro passa a ser aplicada também aos 
núcleos de prática jurídica das faculdades de Direito e às entidades 
que prestam assistência jurídica em convênio com a Defensoria (art. 
186, §3º). 
O §1º do art. 186 do NCPC dispõe que o prazo iniciar-
se-á com a intimação pessoal do defensor público, nos termos do 
art. 183, §1º. Já este último afirma que a intimação pessoal será 
 
 
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realizada por meio de carga, remessa ou meio eletrônico. Neste 
caso parece que o legislador quis que as duas formas – intimação 
pessoal e eletrônica - se equivalessem (para garantir maior 
agilidade e eficiência na prestação jurisdicional), em atenção Lei nº 
11.419/2006 que trata da comunicação eletrônica dos atos 
processuais, onde dispõe o art. 4º, §6º: “as intimações feitas na 
forma deste artigo, inclusive da Fazenda Pública, serão 
consideradas pessoais para todos os efeitos legais”. 
 Ao inaugurar um título exclusivo para a Defensoria, 
o novo CPC fez questão de dirimir um imbróglio instalado na 
doutrina e jurisprudência há algum tempo: quando se inicia a 
contagem dos prazos para a Defensoria Pública? 
Enquanto uns afirmavam que o termo inicial seria a 
data em que o defensor tomava ciência do ato processual, outros 
defendiam a tese de que os prazos começariam a correr no 
momento em que os autos adentravam a instituição. Pois bem, 
neste aspecto a celeuma foi solucionada. 
Quando a intimação for realizada por meio de 
remessa ou carga, não restam dúvidas de que a contagem dos 
prazos para interposição de recurso pelo Ministério Público ou 
Defensoria Pública começa a fluir da data do recebimento dos 
autos, com vista do respectivo órgão, e não da ciência do seu 
membro no processo, conforme entendimento já fixado no 
julgamento do Habeas Corpus nº 126663. Na ocasião, o relator 
Ministro Gilmar Mendes consignou que, “a despeito da presença do 
defensor público em audiência, a intimação pessoal da Defensoria 
somente se concretiza com a entrega dos autos com vista, em 
homenagem ao princípio constitucional da ampla defesa”. 
Importante destacar que a retirada dos autos do cartório ou da 
secretaria pelo defensor implicará em intimação de qualquer 
decisão constante no processo, conforme dispõe o §6º, do art. 272 
do NCPC. 
Quanto ao termo inicial dos prazos quando se tratar 
de intimação eletrônica já há previsão legal expressa no sentido de 
que a intimação se efetiva na data em que o intimando realizar a 
consulta eletrônica. Como já ocorre no microssistema dos juizados28 
 
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especiais (PROJUDI), a consulta eletrônica deverá ser feita em até 
10 dias corridos contados da data do envio da intimação, 
considerando-se automaticamente realizada no término deste prazo 
(art. 5º, §§1º e 3§ da Lei nº 11.419/2006). No entanto, cabe ressaltar 
que a intimação eletrônica somente será perfectibilizada quando o 
intimando estiver credenciado em portal próprio do Poder Judiciário 
(PJE) e em processos que tramitem integralmente na forma 
eletrônica, caso contrário o ato processual deverá ser praticado de 
acordo as regras processuais ordinárias. Veremos quais serão as 
orientações do Conselho Nacional de Justiça em relação a este e a 
outros pontos que induvidosamente serão objetos de controvérsias 
na prática forense (o art. 196 do NCPC dispõe expressamente que 
caberá ao CNJ e, supletivamente, aos tribunais, a regulamentação 
da prática e a comunicação oficial dos atos processuais). 
O parágrafo 2º do artigo 186 reconhece a 
precariedade estrutural das Defensorias Públicas e demonstra um 
olhar atento do legislador às dificuldades enfrentadas diariamente 
pelos defensores, tanto na limitação orçamentária (e consequente 
déficit de recursos humanos), quanto no excesso de trabalho 
despejado nos gabinetes dos defensores. O texto legal prevê a 
prerrogativa do membro da Defensoria Pública de requerer a 
intimação pessoal do assistido, quando a efetivação do ato 
processual depender de providência ou informação que somente 
por ele possa ser realizada ou prestada. A norma, que deverá ser 
obrigatoriamente observada pelo magistrado, facilitará 
sobremaneira a atuação dos defensores que sofrem para se 
comunicar com os assistidos, viabilizando maior amplitude à defesa 
técnica. 
Na hipótese acima, importante levantar uma 
observação quanto ao termo inicial do prazo para a prática do ato 
processual. A melhor lógica indica que o prazo começa a correr a 
partir da intimação pessoal do próprio assistido, posteriormente ao 
requerimento do defensor público e não da intimação pessoal deste 
último. Ora, a norma seria vazia se a contagem do prazo iniciasse 
antes mesmo da intimação da parte, pois ao revés de assegurar o 
contraditório e a ampla defesa, estaria limitando-os, o que seria 
inconcebível. 
 
 
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Talvez um dos mais importantes institutos criados 
pelo NCPC seja o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas 
(IRDR), baseado no procedimento-modelo do direito alemão 
(Musterverfahren), que será cabível quando houver, 
simultaneamente, efetiva repetição de processos com controvérsia 
referente a idêntica questão de direito e risco de ofensa à isonomia 
e segurança jurídica. Trata-se de instrumento para erradicar as 
divergências interpretativas em processos envolvendo causas 
congêneres. E reconhecendo o papel da Defensoria como 
instituição essencial a função jurisdicional do Estado, foi que o 
legislador atribuiu legitimidade ao órgão para a propositura do IRDR 
(art. 977, III), bem como para fiscalizar o cumprimento dos prazos 
previstos em lei de modo a garantir o princípio constitucional da 
duração razoável do processo (art. 233 e 235). 
Outra inovação importantíssima e que será muito 
utilizada na rotina dos defensores públicos está contida no texto dos 
artigos 554, §1º e 565, §2º. A primeira disposição trata da 
obrigatoriedade de intimação da Defensoria Pública nas ações 
possessórias multitudinárias, ou seja, aquelas compostas de vários 
demandados e que envolvam pessoas em situação de 
hipossuficiência, já a segunda refere-se à intimação do órgão nos 
litígios coletivos pela posse de imóvel proveniente de turbação ou 
esbulho quando houver parte beneficiária da justiça gratuita. Nos 
dois casos, percebe-se que a atuação da Defensoria se dá de 
acordo com o seu perfil institucional e como meio de garantir aos 
seus assistidos o exercício do direito ao contraditório e ampla 
defesa, com recursos e meios a estes inerentes. 
Por fim, como previsto no código anterior, o novo 
diploma processual civil, carregando em sua natureza medidas que 
estimulam a mediação e autocomposição, valoriza a Defensoria 
Pública como solucionadora de conflitos ao manter o instrumento 
de transação referendado pelo órgão defensorial no rol de títulos 
executivos extrajudiciais (art. 784, inciso IV). 
Como se vê, o NCPC atesta a existência da 
Defensoria Pública, especificando o seu papel dentro do processo 
civil. Sob a ótica do novo código, a defesa integral dos 
hipossuficientes somente é possível com o fortalecimento do ente 
 
 
 
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que os representa e a sistematização da sublime função do 
defensor público. Muito mais que isso, reitera a importância desta 
instituição para a sociedade em geral, de modo a preservar o 
acesso à justiça aos necessitados e garantir a aplicação dos 
princípios constitucionais ao sistema processual. 
NOTAS 
1 DONIZETTI, Elpídio. A Defensoria Pública e o novo CPC. 
Disponível em: 
http://portalied.jusbrasil.com.br/artigos/293075746/a-defensoria-
publica-e-o-novo-cpc 
2 GIUDICELLI, Gustavo Barbosa. A Defensoria Pública Enquanto 
Garantia Fundamental Institucional. Releitura do papel da 
Defensoria Pública no cenário jurídico brasileiro. Disponível 
em:https://www.anadep.org.br/wtksite/cms/conteudo/17278/A_Def
ensoria_P_blica_enquanto_direito_fundamental_institucional.pdf 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BAHIA, Alexandre Melo Franco; NUNES, Dierle;PEDRON, Flávio 
Quinaud; THEODORO JR., Humberto. Novo CPC: fundamentos e 
sistematização. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 
 
 
 
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GADAMER, A VERDADE E A COMPREENSÃO NAS CIÊNCIAS DO 
ESPÍRITO 
FELIPE ARRUDA AGUIAR SOBREIRA DA SILVEIRA: 
Resumo: Objetiva-se estudar e analisar a hermenêutica jurídica à 
luz de Hans-Georg Gadamer, com ênfase na sua principal obra, 
“Verdade e Método: elementos de uma hermenêutica filosófica”, 
mais especificamente na segunda parte dela, denominada “a 
extensão da questão da verdade à compreensão nas ciências do 
espírito”. Iniciar-se-á com um breve histórico dos principais autores 
da hermenêutica que antecederam Gadamer, com foca em 
Heidegger, base do pensamento gadameriano. Traçado esse 
panorama histórico, passa-se à apreciação do objeto precípuo 
desse trabalho, a teoria gadameriana, segundo pontos livremente 
designados pelo autor como fundamentais para o entendimento da 
matéria. 
Palavras-chave: Hermenêutica. Heidegger. Gadamer. 
Abstract: Purpose-to study and analyze the legal interpretation in 
the light of Hans-Georg Gadamer, with emphasis on its main work, 
"Truth and Method: elements of a philosophical hermeneutics", 
specifically in the second part of it, called "the extent of question of 
fact to understand the science of the spirit ". It will start with a brief 
history of the main authors of hermeneutics leading Gadamer, with 
focuses on Heidegger, base gadameriano thought. Tracing this 
historical overview, it goes to the appreciation of the preciput object 
of this work, Gadamer's theory, according to point freely designated 
by the author as fundamental tothe understanding of matter. 
Key words: Interpretation. Heidegger. Gadamer. 
SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO. 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA. 3 A 
HERMENÊUTICA FILOSÓFICA DE GADAMER. 3.1 A Negativa da 
Busca pelo Método e a Inexistência de uma Verdade Absoluta. 3.2 
 
 
 
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O Preconceito como Condição da Compreensão. 3.3 O Círculo 
Hermenêutico. 3.4 A Importância da Distância Temporal. 3.5 O 
Papel Fundamental da Aplicação. 3.6 Noções de Experiência 
Hermenêutica . 3.7 A Consciência Verdadeiramente Histórica. 3.8 A 
Dialética Gadameriana . 3.9 A Estrutura da Interrogação e a Fusão 
de Horizontes . 4 CONCLUSÃO . REFERÊNCIAS . 
 
1 INTRODUÇÃO 
Hans-Georg Gadamer, filósofo alemão, foi uma figura 
decisiva no desenvolvimento da Hermenêutica do século XX, sendo 
bastante influenciado pelos estudos de Martin Heidegger, de quem 
foi aluno e assistente na Philipps-Universität Marburg. 
Por meio de sua obra-prima Verdade e Método: elementos de 
uma hermenêutica filosófica, publicada pela primeira vez em 1960, 
Gadamer revolucionou a hermenêutica ocidental moderna. Em um 
único volume, ele apresenta ao mundo não só uma revisão crítica 
da estética moderna e da teoria da compreensão histórica, como 
também uma nova hermenêutica filosófica baseada na ontologia da 
linguagem[1]. 
Com a publicação de Verdade e Método, o estudo dessa 
ciência da interpretação entra em uma nova e importante fase, 
denominada de Hermenêutica Filosófica. Isso se deve, 
principalmente, ao fato desta deixar de se definir enquanto auxiliar 
das disciplinas humanas, passando a buscar, a partir da 
experiência, compreender o próprio ser, constituindo uma tentativa 
filosófica de avaliar a compreensão enquanto processo ontológico 
do homem. 
Hans-Georg exprime, em sua obra, de um modo totalmente 
sistemático, as concepções de Heidegger acerca da compreensão, 
transpondo para a sua teoria os entendimentos básicos deste 
 
 
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filósofo acerca do pensamento, da linguagem, da história e da 
experiência humana, a partir dos quais Gadamer forma o alicerce 
da sua obra hermenêutica e filosófica. 
O próprio estatuto do método é posto em causa na obra de 
Gadamer. Isso pode ser notado a partir do título do seu livro, 
mostrando-se este irônico, uma vez que o método não é, na 
verdade, o caminho para a verdade. Pelo contrário, a verdade 
zomba do homem metódico. 
O presente trabalho intenta estabelecer um esboço da 
hermenêutica de Hans-Georg Gadamer, dando ênfase na segunda 
parte de sua obra, denominada a extensão da questão da verdade 
à compreensão nas ciências do espírito. 
Para tanto, faz-se necessário estabelecer, em princípio, um 
breve histórico, perpassando, inicialmente, pelo advento do período 
iluminista, que se postou veementemente adverso à idéia de pré-
conceito, para então, simplificadamente, explanar em que consistiu 
a tendência romântica na hermenêutica, encabeçada 
principalmente por Shcleirmacher e por Dilthey. Posteriormente, 
traçar-se-á as noções da hermenêutica filosófica de Heidegger, 
hermenêutica essa que serviu como base para a formulação da 
teoria gadameriana. 
Após essa lacônica aclaração acerca do processo evolutivo 
que precedeu a publicação da obra prima de Gadamer, iniciar-se-á, 
de fato, a exposição daquilo que consiste o objeto desse trabalho: 
a teoria gadameriana. 
Sendo assim, alguns pontos a respeito da segunda parte da 
obra Verdade e Método foram livremente designados como 
fundamentais para o entendimento da teoria gadameriana, 
constituindo o desenvolvimento do estudo em questão. 
 
 
 
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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
No início da Idade Moderna, influenciados por uma corrente 
de pensamento denominada Iluminismo, diversos pensadores e 
filósofos propuseram o rompimento de toda e qualquer influência do 
passado recente no modo de pensar atual. Intitulada, por eles 
mesmos, de Idade das Trevas, a Era Medieval era um período a ser 
esquecido, uma vez que, no decorrer dos séculos que a compõem, 
não teria sido promovido para a posteridade nenhum 
engrandecimento intelectual. Destarte, eles acreditavam que a 
verdade das coisas só poderia ser apreendida mediante o 
sepultamento de todas as tradições, porquanto, só assim, o homem 
poderia pensar de forma totalmente racional[2]. Seria necessário, 
para isso, desconsiderar a historicidade dos sujeitos, na medida em 
que os pré-conceitos dela oriundos representavam um entrave à 
razão. 
Os pré-conceitos, conforme defendiam os iluministas, 
portanto, adviriam do respeito à autoridade, desprovida de qualquer 
critério, o que induziria ao erro. Para superar todo esse 
condicionamento, os homens deveriam valer-se do próprio 
entendimento, norteados por um método, um procedimento passível 
de ser refeito e comprovado por todo aquele que assim o desejasse. 
Posteriormente, em contrapartida a esse entendimento, o 
teólogo-liberal Schleiermacher propôs o retorno à valorização da 
tradição. Representando um dos propulsores dessa nova tendência 
de pensamento, que se convencionou chamar de Romantismo, 
esse pensador defendia que, no processo interpretativo, era 
necessário entender o autor melhor que ele mesmo, afirmando a 
possibilidade de reconstruir na compreensão a determinação 
original de uma obra. Para tanto, dever-se-ia realizar, inicialmente, 
uma interpretação gramatical e posteriormente uma interpretação 
técnica, que, por sua vez, dividir-se-ia em: divinatória e comparativa. 
 
 
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Nesta, o sentido intencional do autor deveria ser buscado a partir da 
comparação de diversos elementos objetivos, tais como: escritos, 
fatores históricos, gênero literário, entre outros. Somando-se a esse 
método objetivo, era proposta também uma metodologia subjetiva, 
a partir da qual o interprete colocar-se-ia no lugar do autor, na busca 
de entender sua seara psicológica, apreendendo assim o sentido 
real do texto. 
Uma vez que o também teólogo Schleiermacher considerou a 
Bíblia como um simples texto de natureza histórico-literária, ele 
propôs um método que passou a servir para a elucidação não só da 
Escritura, mas também de todos os textos que possuíssem essa 
natureza. Por conseguinte, sua teoria acabou por repercutir 
posteriormente no Direito, principalmente por meio da ênfase 
exagerada dada à vontade do legislador[3]. 
Malgrado essa revalorização do passado, empreendida 
inicialmente por Schleiermacher, parecer ter se libertado dos ideais 
iluministas, passou-se a verificar, na verdade, uma prisão ao 
objetivismo e à verdade inquestionável conferida pela crítica 
histórica.[4] Esse cárcere só foi superado com os ensinamentos de 
Heidegger e de Gadamer acerca principalmente da historicidade e 
da tradição. 
Dilthey, filósofo e biógrafo de Schleiermacher, representando 
outro expoente desse período, não se opôs ao entendimento de seu 
predecessor, corroborando para a efetivação de uma hermenêutica 
metodológica. 
Ele teve como principal contribuição o fato de haver levado a 
hermenêutica para as especulações mais profundas, introduzindo-
ana epistemologia e tornando-a reconhecida como teoria científica 
da interpretação. 
 
 
 
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Dilthey foi responsável, ainda, por fornecer uma das bases 
que alicerçaram a interpretação sistemática da ciência jurídica, 
segundo a qual se entende as normas pelo ordenamento jurídico e 
o ordenamento pelas normas. Segundo ele, um texto deveria ser 
estudado pelo contexto, sendo o autor instrumento do espírito de 
sua época. No entanto, a unidade da vida (percebida por um 
mergulho nas forças sentimentais de uma época) seria conhecida 
pelas objetivações do espírito nas diversas produções culturais. 
Assim, a parte (objetivações do espírito) seria compreendida pelo 
todo (unidade da vida) e o todo, pela parte, em uma circularidade 
hermenêutica[5]. 
Esse filósofo explicitou ainda a relação que existiria entre 
compreensão e interpretação. Para ele, aquela seria gênero, 
enquanto esta seria espécie, de modo que compreensão referir-se-
ia a qualquer objeto cultural e interpretação teria ligação apenas 
com a compreensão de textos. 
Essa tendência romântica, representada aqui por 
Schleiermacher e Dilthey, só foi superada após os ensinamentos de 
Martin Heiddeger, professor e maior entusiasta da teoria 
gadameriana. 
Para esse filósofo, a hermenêutica não estabeleceria um 
método ou uma teoria normativa da compreensão, como 
propunham os seus antecessores, uma vez que, segundo seu 
entendimento, as produções culturais não tinham um sentido 
objetivo igualmente válido para todos, mas, antes, eram 
instrumentos para a manifestação do Ser. Cada intérprete, segundo 
seu mundo existencial e sua historicidade, percebia uma abertura 
diferente do Ser.[6] 
Segundo Heidegger, a hermenêutica seria filosófica, e não 
científica; ontológica, e não epistemológica; existencial, e não 
metodológica. Seria responsável por procurar a essência da 
 
 
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compreensão, e não a normatização do processo compreensivo. O 
estudo da compreensão confundir-se-ia com o estudo da existência, 
uma vez que permitiria o conhecimento do Ser. 
Heidegger deu um desenvolvimento filosófico à idéia de 
círculo hermenêutico, contrariando o pensamento diltheriano e 
contribuindo sobremaneira com a filosofia de Gadamer. Segundo 
seu entendimento, o círculo hermenêutico heideggeriano 
estabelece que partimos inicialmente de uma pré-compreensão 
para chegarmos a uma compreensão mais aprimorada, pois, se 
partíssemos do vazio, não chegaríamos a nenhuma conclusão, uma 
vez que não haveria de onde extrair os desdobramentos da 
compreensão. Nesse sentido, ensina Emerich Coreth que teríamos, 
inicialmente, um conhecimento intelectivo (sintético) do todo e, em 
seguida, um conhecimento racional (analítico), através da divisão 
em partes, procedendo-se à nova formação do todo, ensejando a 
repetição do processo em direção ao infinito. 
Heidegger lecionava, ainda, que a pré-compreensão é 
condicionada por nosso horizonte, o qual seria a dimensão externa 
ou o limite de nosso mundo antropológico ou existencial, distinto do 
mundo cosmológico ou da natureza. 
3 A HERMENÊUTICA FILOSÓFICA DE GADAMER 
3.1 A Negativa da Busca pelo Método e a Inexistência de uma 
Verdade Absoluta 
É salutar, inicialmente, compreender a distinção entre a 
hermenêutica filosófica de Gadamer e a hermenêutica que se 
orienta para os métodos e para a metodologia, empreendida 
principalmente por Shcleiermacher e Dilthey. Gadamer, ao contrário 
destes, não se preocupa diretamente com os problemas práticos da 
formulação de princípios interpretativos corretos, mas antes 
 
 
 
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pretende esclarecer o próprio fenômeno da compreensão. Isso não 
significa que ele negue tais princípios; pelo contrario, ele os 
reconhece como necessários às disciplinas interpretativas. Isso 
significa, na verdade, que Gadamer tem por objetivo maior a 
indagação sobre uma questão preliminar e fundamental, qual seja: 
como é possível a compreensão, não só nas humanidades, mas em 
toda a experiência humana sobre o mundo?[7] Essa é uma questão 
que, malgrado se colocar também às disciplinas da interpretação 
histórica, vai muito além delas. 
Sendo assim, Gadamer conclui que a verdade não pode ser 
alcançada metodicamente, mas dialeticamente, vez que o método 
seria incapaz de revelar uma nova verdade, apenas explicitando a 
verdade já implícita no próprio método. 
Pode-se deduzir, portanto, da teoria gadameriana, que 
é insustentável a idéia de um conhecimento universalmente válido, 
de uma verdade absoluta que poderia ser generalizada a partir de 
uma experiência particular e histórica, uma vez que 
inexistequalquer método científico que garanta uma certeza jurídica 
ou uma verdade hermenêutica. Isso se deve, em parte, pelo fato de 
a compreensão do texto estar sempre condicionada por pré-
conceitos ou pré-juízos. 
3.2 O Preconceito como Condição da Compreensão 
Contrariando Shleiermacher e Dilthey, que defendiam, com 
grande abertura de espírito, que uma época histórica não deveria 
ser julgada em termos de outra, Gadamer aponta que não podemos 
abandonar o presente e enveredar pelo passado, de modo que o 
significado de uma obra passada não pode ser visto unicamente sob 
seus próprios termos. Pelo contrário, o significado da obra passada 
define-se em termos das questões que se lhe colocam a partir do 
presente. 
 
 
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Os pré-conceitos, na filosofia gadameriana, são muito mais 
do que simples juízos individuais. São, na verdade, elementos 
essenciais para a formação da realidade histórica do ser, 
representando a base da capacidade que temos de compreender a 
história. Desse modo, não temos a faculdade de aceitá-los ou 
recusá-los, eles farão parte do processo de compreensão 
independentemente da nossa vontade. 
Contrariando os filósofos esclarecidos, Gadamer não atribui, 
portanto, à expressão pré-conceito ou pré-juízo um sentido 
pejorativo, mas afirma que elas indicariam apenas a evidente 
existência de conceitos pressupostos à interpretação. Passou-se a 
reconhecer, assim, o valor da tradição decorrente da herança 
histórica, e não da autoridade[8]. 
O fato de o homem pertencer a uma realidade histórica faz 
com que sua visão de mundo e, consequentemente, suas 
possibilidades de conhecimento partam dos preconceitos que o 
cercam, tornando-se impossível extirpá-los por completo para que 
se possa ter uma verdade absoluta, conforme apregoavam os 
iluministas.[9] 
Pode-se enunciar, portanto, que não pode haver qualquer 
interpretação desprovida de pressupostos. A compreensão, posto 
que seja uma estrutura básica historicamente acumulada e 
historicamente operativa, está subjacente, até mesmo na 
interpretação científica. 
Destarte, diante da impossibilidade de existir uma 
interpretação sem pressupostos, pode-se inferir, conforme o 
supramencionado, que a noção de interpretação absolutamente 
correta é um ideal impensável. 
No entanto, diante da imprescindibilidade de existência de 
pré-conceitos no processo de compreensão, torna-se necessário40 
 
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que o intérprete examine esses pré-juízos no que diz respeito a sua 
origem e a sua validade; averiguando, no decorrer da interpretação, 
a legitimidade de cada conceito prévio, sob consequência de 
comprometer a validade da compreensão, caso os devidos 
cuidados não sejam tomados. Isso remete ao conceito de círculo 
hermenêutico. 
3.3 O Círculo Hermenêutico 
O círculo hermenêutico, de acordo com a ótica de Gadamer, 
tem um sentido ontologicamente positivo na compreensão, 
porquanto, segundo ele, o intérprete sempre elabora um projeto 
sobre aquilo que se vai interpretar, de modo que, no decorrer da 
interpretação, a elaboração de novos projetos se faz 
sucessivamente necessária. Destarte, os preconceitos 
provenientes da historicidade do intérprete são devidamente 
analisados em sua veracidade, possibilitando assim uma 
compreensão verdadeiramente coerente. 
A circularidade, portanto, está no fato de que a interpretação 
inicia-se com conceitos prévios, que, com o passar do tempo, são 
geralmente substituídos por outros mais adequados. Dessa forma, 
o primeiro projeto vai se corrigindo na medida em que o objeto vai 
sendo decifrado. Isso se daria, ainda, na forma de um espiral, uma 
vez que o sentido seria inesgotável e a compreensão, sempre 
sujeita a ampliações e a aprofundamentos. 
Portanto, partindo do raciocínio de Gadamer, pode-se afirmar 
que todos pertencemos a um contexto, seja ele histórico ou cultural, 
o qual nos fornece os pressupostos para nos relacionarmos com o 
mundo. Sempre que vamos ao encontro do novo, temos 
antecipadamente pré-compreensões que favorecem a 
compreensão daquilo que até então era estranho e desconhecido. 
 
 
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Alexandre Araújo Costa faz uma interessante analogia com a 
primeira vez em que se assiste a um filme sem final previsível: tem-
se uma primeira idéia, um entendimento motivado pela leitura da 
sinopse e por outros fatores, como a experiência de vida e os 
valores de cada um. Assim, atribui-se determinado sentido a uma 
cena inicial, mas, no decorrer da exibição, suspende-se o juízo da 
primeira pré-compreensão, considerando que se refletiu e foram 
obtidas novas informações, podendo isso acontecer inúmeras 
vezes[10]. 
3.4 A Importância da Distância Temporal 
A distância temporal entre o intérprete e o objeto a ser 
interpretado representa um papel fundamental no processo que 
analisa os pré-juízos decorrentes da historicidade do Ser. Com a 
ontologia fundamental, essa distância deixou de constituir um 
abismo, passando a ser, nos dizeres de Almeida “o fio condutor que 
liga horizontes distintos e que, pelo processo dialógico, torna 
possível a fusão entre eles”[11]. 
Para evidenciar a importância que tem a distância temporal 
na elaboração de uma analise idônea sobre determinado objeto, 
cita-se o exemplo da dificuldade que tem a crítica de arte para 
examinar e interpretar as produções contemporâneas, uma vez que 
nestas os preconceitos encontram-se profundamente arraigados. 
Verifica-se que, apenas com o tempo, o que realmente é 
significativo na obra se destaca daquilo que não o é, sendo esta é 
a função do tempo: eliminar aquilo que não é essencial, deixando 
que o verdadeiro significado oculto da coisa torne-se evidente. 
A despeito disso, cumpre ressaltar que Gadamer não defende 
a possibilidade de neutralidade do interprete em relação ao objeto, 
mesmo porque tal façanha seria impossível. Ele, na verdade, 
sugere que haja abertura por parte do intérprete, de modo que este 
permita a existência de um diálogo, de um confronto de opiniões 
 
 
 
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entre ele e o texto. Ele sugere, pois, a existência de uma dialética, 
matéria a ser analisada posteriormente. 
Nesse sentido, aduz o próprio Gadamer em sua obra Verdade 
e Método: 
Quem quiser compreender um texto deve 
estar pronto a deixar que ele lhe diga alguma 
coisa. Por isso, uma consciência educada 
hermeneuticamente deve ser preliminarmente 
sensível à alteridade do texto. Essa sensibilidade 
não pressupõe 'neutralidade' objetiva nem 
esquecimento de si mesmo, mas implica numa 
precisa tomada de consciência das próprias 
pressuposições e dos próprios pré-juízos 
(...).[12] 
3.5 O Papel Fundamental da Aplicação 
Gadamer, por meio da historicidade da compreensão, veio 
relembrar a importância de um fator que durante muito tempo fora 
desprezado na hermenêutica histórica e literária: a aplicação. 
Segundo esse filósofo, em contrapartida ao entendimento de 
Shleiermacher, a aplicação não seria uma etapa distinta do 
processo de compreensão; constituindo, na verdade, parte deste, 
de modo que possui um papel fundamental na atividade 
hermenêutica, uma vez que não haveria nenhum caso em que a 
compreensão e a explicação geral de um texto far-se-iam 
suficientes para restar concluído o processo interpretativo. Conclui-
se, portanto, necessário tornar explícito o modo como o texto fala à 
condição presente. 
Gadamer não pretende, assim, que nos entreguemos 
acriticamente às exigências do texto, negando o presente; requer, 
na verdade, que deixemos as reclamações do texto mostrarem-se 
 
 
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tais quais são, por meio principalmente da fusão de horizontes, 
questão a ser analisada posteriormente. 
A interpretação deve incluir, portanto, não só a explicação do 
que o texto significa no seu próprio mundo, como também o que 
significa em termos do momento atual. Ou seja, compreender o 
texto é sempre já aplicá-lo[13]. 
O significado que determinada obra tem para nós é um 
produto de integração da obra com o nosso atual contexto, de forma 
que em todo ato de compreensão se dá uma aplicação ao presente. 
A ilusão de que, ao lermos uma peça de Shakespeare, por exemplo, 
regressamos ao seu mundo só nos mostra que o encontro estético 
conseguiu tornar invisível o fator da aplicação[14]. 
A aplicação não se trata, no entanto, de dar literalmente ao 
passado as aparências do presente; trata-se sim de trazer o que é 
essencial do passado para o presente pessoal. 
3.6 Noções de Experiência Hermenêutica 
Gadamer começa a análise da experiência hermenêutica 
criticando o conceito dominante que tende a defini-la de um modo 
orientado totalmente para o conhecimento científico. 
Na ótica científica, experiência é tudo aquilo que pode ser 
repetido por quem quer que deseje a qualquer tempo, ou seja, liga-
se fundamentalmente a um método objetivador do conhecimento. 
Logo, não se pode falar de qualquer historicidade interna da 
experiência, já que esta é a própria retirada das contingências em 
favor da cientificidade[15]. 
Dessa forma, Gadamer faz uma revisão do conceito ora 
analisado, perpassando diversos matizes filosóficos, para que se 
livre das amarras de sua intrínseca correlação com as ciências 
 
 
 
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naturais e se permita vislumbrar sua possibilidade hermenêutica, 
até alcançar a real nuance

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