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Livro Estado Poder e Gestão

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Anna Caroline Klamas de Lucas 
Estado, Poder 
e Gestao 
INSTlTUTO FEDERAL 
Estado, Poder e Gestão
Anna Caroline Klamas de Lucas 
© 2012 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA - PARANÁ - 
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Lucas, Anna Caroline Klamas de.
 Estado, poder e gestão / Anna Caroline Klamas de Lucas. – Curitiba:
Instituto Federal do Paraná, 2012.
144 p. : il. color.
ISBN: 978-8564614-37-6
Inclui bibliografia
 1. Ciência política. 2. Poder (Ciências sociais). 3. Sistemas políticos.
4. Estado (Poder). 5. Terceiro setor. I. Título.
CDD 320
Eutália Cristina do Nascimento Moreto CRB 9/947
Irineu Mario Colombo
Reitor
Ezequiel Westphal
Pró-Reitoria de Ensino – PROENS
Gilmar José Ferreira dos Santos
Pró-Reitoria de Administração – PROAD
Silvestre Labiak
Pró-Reitoria de Extensão, Pesquisa e 
Inovação – PROEPI
Neide Alves
Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas e 
Assuntos Estudantis – PROGEPE
Bruno Pereira Faraco 
Pró-Reitoria de Planejamento e 
Desenvolvimento Institucional – PROPLAN
José Carlos Ciccarino
Diretor Geral do Câmpus EaD
Marcelo Camilo Pedra
Diretor de Planejamento e Administração 
do Câmpus EaD
Mércia Freire Rocha Cordeiro Machado
Diretora de Ensino, Pesquisa e Extensão – 
DEPE/EaD
Cristina Maria Ayroza
Assessora de Ensino, Pesquisa e Extensão 
– DEPE/EaD
Sandra Terezinha Urbanetz
Coordenação de Ensino Superior e 
Pós-Graduação do Câmpus EaD
Adriano Stadler
Coordenador do Curso de Pós-Graduação 
em Gestão Pública
Elaine Mandelli Arns
Coordenadora de e-learning
Ester dos Santos Oliveira
Coordenação de Design Instrucional
Franciane Heiden Rios
Loureni Reis
Michele Simonian
Designer Instrucional
Helena Sobral Arcoverde
Ana Luísa Pereira
Revisão Editorial
Flávia Terezinha Vianna da Silva
Capa 
Paula Bonardi
Projeto Gráfico e Diagramação
Imagens da capa:
© VLADGRIN/Shutterstock; JelleS/Creative commons; © Dmitriy Shironosov/Shutterstock; visaointerativa/Creative commons; © Robert 
Kneschke/Shutterstock; © NAN728/Shutterstock; gracey/morgueFile; dbking/Wikimedia commons; © Robert Proksa/Stock.XCHNG; © 
Yuri Arcurs/Shutterstock; © jeff vergara/Stock.XCHNG; © Andresr/Shutterstock.
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Capítulo 1 ‒ Estado: conceitos e diferentes acepções históricas – 
uma introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.1 A origem da ideia de Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2 Pensamento clássico aristotélico sobre o Estado . . . . . . . . . 12
1.3 O Estado na concepção dos pensadores contratualistas . . . 17
1.4 Ideário dos autores contratualistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Capítulo 2 ‒ Poder, dominação e democracia . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1 Aristóteles e as três formas de governo: 
uma visão clássica e tradicional da democracia e 
da distribuição do poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2 A democracia e o sistema representativo moderno . . . . . . . 34
2.3 O processo de democratização 
sob a perspectiva da conquista de direitos . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4 Críticas à democracia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Bibliografia comentada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Capítulo 3 ‒ O Estado e as formas de governo na Era Moderna . 43
3.1 Estado monárquico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.2 O processo de transição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.3 República . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.4 O Estado Moderno e as novas formas de 
organização dos poderes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.5 Elementos do Estado Moderno e a separação dos poderes . 52
3.6 Os sistemas presidencialista e parlamentarista . . . . . . . . . . 54
Capítulo 4 ‒ O regime federativo: 
a organização do poder no Estado Moderno . . . . . . 59
4.1 Desenvolvimento histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.2 Características do regime federativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
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4.3 O pacto federativo brasileiro promulgado pela 
Constituição Federal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
4.4 A Administração Pública brasileira e o sistema de 
repartição de competências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65
4.5 Princípios constitucionais da Administração Pública . . . . . . . .70
Capítulo 5 ‒ O Estado de Direito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73
5.1 Nasce o Estado de Direito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .74
5.2 Constituição Federal de 1988 – 
perspectivas para a sociedade brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77
5.3 Objetivos da República Federativa do Brasil . . . . . . . . . . . . . .82
5.4 Algumas considerações sobre os direitos e deveres 
fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988 . . . . .85
5.5 Remédios constitucionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87
Bibliografia comentada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .91
Capítulo 6 ‒ O Estado do Bem-Estar Social: a dimensão social do 
papel e da atuação do Estado ao longo do século XX . . .93
6.1 Conceito e origens históricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93
6.2 Princípios fundamentais do Estado do Bem-Estar Social . . . .97
6.3 O Estado do Bem-Estar Social no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . .97
6.4 Críticas ao Estado do Bem-Estar Social . . . . . . . . . . . . . . . . .101
6.5 A crise e o fim do Estado do Bem-Estar Social . . . . . . . . . . . .102
Capítulo 7 ‒ Estado liberal e neoliberalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .107
7.1 Consequências positivas e negativas do Estado liberal não 
intervencionista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .110
7.2 O Estado Moderno e a questão do neoliberalismo . . . . . . . . .113
7.3 A questão do neoliberalismo no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . .116
Bibliografia comentada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .122
Capítulo 8 ‒ Políticas públicas e gestão democrática: a relação Estado / 
empresas / sociedade civil / terceiro setor e a 
conquista e ampliação de direitos . . . . . . . . . . . . . . . . . .123
8.1 O terceiro setor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .124
8.2 Atores e breve histórico do terceiro setor . . . . . . . . . . . . . . . . .127
8.3 Parcerias do Estado brasileiro com o terceiro setor . . . . . . . . . .130
8.3.1 O terceiro setor sob uma perspectiva crítica . . . . . . . . . . .134
Bibliografia comentada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .137
Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .139
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .143
Apresentação
Neste livro estudaremos as formas de organização do poder 
do Estado em uma perspectiva histórica, político-sociológica 
e jurídica, com o intuito de compreendermos como esta 
instituição soberana faz a gestão da esfera pública, que tem 
por finalidade atender aos interesses coletivos. 
No Capítulo 1 abordaremos o conceito de Estado e o seu 
papel na formação das sociedades politicamente organizadas, 
em diferentes momentos históricos e a partir de pensadores 
clássicos e modernos, no intuito de refletir sobre a divisão, 
organização e controle do poder no interior da sociedade. 
Tratamos ainda da instituição e formação do Estado como 
uma instituiçãosoberana e como expressão da vontade geral, 
da vontade do povo. 
Em seguida, no Capítulo 2, apresentaremos a 
democracia sob a ótica do pensamento clássico aristotélico, 
evidenciando-a como uma das formas de governo, ou seja, 
como uma das formas de organização, titularidade e exercício 
do poder soberano, ou estatal. Tais afirmações, conceituadas 
e esclarecidas, nos permitirão refletir sobre a importância 
da democracia para a organização do poder político na 
sociedade moderna.
As características e os elementos do Estado Moderno e 
suas distintas formas de governo, a República e a Monarquia, 
bem como suas principais diferenças, serão abordadas no 
Capítulo 3. Este capítulo trará também suporte teórico sobre 
os sistemas de governo do ponto de vista da organização 
dos poderes entre Legislativo, Executivo e Judiciário, e as 
diferenças entre Presidencialismo e Parlamentarismo. 
No Capítulo 4 a forma federativa de Estado e suas 
diferenças fundamentais com o regime confederativo 
serão apresentadas. Ainda neste capítulo veremos como se 
desenvolve a soberania, a autonomia e a interdependência 
dos Estados-membros no caso do Estado brasileiro, ou seja, 
como funciona a sua organização político-administrativa. 
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Questões acerca da soberania, legitimidade e legalidade, presentes na 
dimensão jurídico-administrativa do Estado de Direito e seu desenvolvimento 
ao longo da história, serão trabalhadas no Capítulo 5. Estudaremos também, 
neste capítulo, sobre a Constituição Federal de 1988 e suas perspectivas para 
a sociedade brasileira.
O conceito do Estado de Bem-Estar Social, suas origens históricas e o 
papel específico do Estado no processo de intervenção e atuação na vida 
social moderna serão contemplados no Capítulo 6, o qual trará também as 
características desse modelo no Brasil. 
No Capítulo 7, intitulado Estado Liberal e Neoliberalismo, estudaremos as 
principais características do Estado Liberal, enfatizando os princípios e ideais 
do pensamento liberal moderno, a questão do desenvolvimento da ideia do 
“Estado mínimo” e, por fim, a questão do neoliberalismo no Estado brasileiro.
As relações entre o Estado e a sociedade civil organizada, com base 
no princípio da subsidiariedade serão conceituadas no Capítulo 8. Nesse 
ponto analisaremos as relações entre Estado e sociedade na constituição de 
parcerias para atender as demandas sociais, e ampliar assim o exercício dos 
direitos sociais previstos na Constituição Federal. 
Esperamos que com todos esses elementos, você, aluno e aluna, internalize 
conhecimentos introdutórios sobre a questão do Estado enquanto instituição 
soberana, seu papel e suas formas de organização política no interior da 
sociedade moderna. Sabemos que refletir sobre tais questões contribui para a 
formação do pensamento crítico, e este, quando estabelecido, nos possibilita 
defendermos uma postura cidadã, responsável e legalista, do ponto de vista 
da Gestão Pública que, em última instância, trata da gestão da esfera pública, 
do bem comum e dos interesses de toda uma coletividade, administrada por 
um Estado de Direito. 
1
CapítuloEstado: conceitos e diferentes 
acepções históricas – 
uma introdução
Neste capítulo serão apresentadas e esclarecidas as 
principais teorias sobre o conceito de Estado e o seu papel 
na formação das sociedades politicamente organizadas, em 
diferentes momentos históricos. Essa conceituação inicial se 
faz necessária, pois a ideia que fazemos do Estado hoje nem 
sempre foi a mesma ao longo dos tempos. 
As concepções sobre o Estado e seu papel podem ser 
divididas em dois grupos de pensadores: o pensamento dos 
autores clássicos e o pensamento dos autores modernos. Como 
toda produção humana, que é influenciada diretamente pelo 
modo de vida dos sujeitos, cada grupo caracterizou o poder do 
Estado segundo a organização social e cultural do seu tempo, 
e refletiram sobre como deveria ser a divisão, organização 
e controle do poder no interior do modelo social em que 
estavam inseridos.
Assim, neste capítulo serão definidas questões pontuais: 
qual é o papel do Estado na sociedade, a partir de quando 
ele foi instituído e formado, por que assumiu o papel de uma 
instituição soberana (que está acima dos indivíduos), por que 
possui o poder de dirigir os homens e impor sua vontade, 
mesmo sendo a expressão da vontade geral, da vontade do povo.
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Por que existe o Estado? Já parou para pensar a respeito? Quem 
o revestiu de tanto poder e prestígio? Por que o Estado representa a 
Lei e todos obedecemos? Por que recorremos ao Estado para dirimir 
conflitos? Por que responsabilizamos o Estado pelas demandas sociais 
não atendidas? Qual é o papel e a razão de ser da própria administração 
pública estatal? 
As sociedades humanas, ao longo do tempo, sempre suscitaram a 
reflexão sobre a divisão do poder, da propriedade, sobre a forma de dispor os 
indivíduos hierarquicamente, sobre a conquista e defesa do território, sobre 
a produção e distribuição de riquezas. Observe a nossa organização social: 
vivemos no interior de um território demarcado e administrado pelo Estado, 
que detém o poder superior e define toda a ordem hierárquica possível. Mas 
ninguém está acima da lei que, representada pelo Estado institui que somos 
todos iguais. 
Definir qual seria o papel do indivíduo em relação ao coletivo e 
acordar qual seria o rol de direitos e deveres que lhe caberia proteger 
e reproduzir sempre fez parte dos agrupamentos humanos e foi objeto 
de discussão entre os homens comuns e eruditos. A questão do Estado 
e do Poder insere-se nessas questões fundamentais e, nesse contexto, o 
Estado aparece como um organismo potencialmente capaz de gerenciar 
tais questões no âmbito do espaço coletivo das relações sociais, capaz de 
garantir que tais interesses humanos se efetivem em nome de todos, em 
nome do bem comum. 
Assim, o Estado tal como o concebemos hoje, é uma instituição criada 
pelos homens a fim de garantir a sobrevivência, o bem comum, os valores 
tidos como fundamentais e a manutenção da vida em sociedade. Esses 
princípios são estabelecidos e definidos pela Constituição Federal.
Você já parou para pensar quais são os valores fundamentais protegidos 
pela nossa sociedade e que o Estado, por sua vez, tem o dever de garantir?
 Eles figuram no Título I Dos Princípios Fundamentais parágrafos 1º, 2º, 
3º e seus incisos, na Constituição Federal Brasileira de 1988. Ou seja, o Estado 
brasileiro se compromete a proteger os valores ali descritos e criar formas de 
11Capítulo 1 – Estado: conceitos e diferentes acepções históricas – uma introdução
garantir que os direitos e deveres dos cidadãos brasileiros sejam efetivados1.
Mas será que sempre foi assim? Sempre houve uma Constituição como 
Lei suprema garantida pelo Estado e que deve ser obedecida por todos? 
Não. Nem sempre foi assim. A partir de agora, vamos descobrir como 
essa ideia de Estado formou-se ao longo da história. Vamos descobrir se foi 
intencional, se foi devido a uma necessidade particular de alguns indivíduos, 
se foi fruto da imposição de alguém, ou se surgiu naturalmente como fruto 
da interação entre os indivíduos ao longo do tempo.
1.1 A origem da ideia de Estado 
Ao longo da história da humanidade, a ideia ou o conceito de Estado foi 
por vezes formulado e reformulado por filósofos, pensadores e intelectuais, 
adquirindo diferentes conotações e papéis em função das características 
particulares e específicas de cada momento histórico. De toda forma, o Estado 
constitui-se em uma das instituições mais importantes das sociedades, pois 
sempre esteverelacionado à distribuição, consolidação e manutenção da 
ideia de um poder soberano2, ou seja, o poder que se sobrepõe ao homem 
comum e atua pelo bem de todos. 
Essa noção de Estado como detentor de uma posição privilegiada em 
relação ao indivíduo comum foi alvo de diferentes leituras filosóficas do 
pensamento social clássico e moderno. Pensamento esse iniciado com as 
reflexões de Aristóteles (384 a.C. a 322 a.C.), filósofo grego, cujas ideias 
sobre política, ética e moral3 influenciaram todo o pensamento intelectual 
medieval ocidental até o pensamento atual. Tal influência configurou esse 
pensador como um expoente da Filosofia clássica. 
1 Texto da Constituição Federal na íntegra. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/legislacao/
const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2012.
2 Soberania: “é o necessário poder de autodeterminação do Estado. Expressa o poder de livre 
administração de seus negócios. É a maior força do Estado pela qual dispõe sobre a organização 
política, social e jurídica, aplicável em seu território. No plano externo a soberania significa a 
independência do Estado em relação aos demais”. (NADER, 2008, p. 132).
3 “Os juízos éticos de valor são também normativos, isto é, enunciam normas que determinam o 
dever ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos comportamentos. São juízos que enunciam 
obrigações e avaliam intenções e ações segundo o critério do correto e do incorreto. Os juízos éticos 
de valor nos dizem o que são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos éticos normativos nos dizem que 
sentimentos, intenções, atos e comportamentos devemos ter ou fazer para alcançarmos o bem e a 
felicidade. Enunciam também que atos, sentimentos, intenções e comportamentos são condenáveis 
ou incorretos do ponto de vista moral.” (CHAUÍ, 2000, p. 431).
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Outra vertente conceitual do Estado, trabalhada adiante, é a originada 
do pensamento moderno, que referencia os contratualistas – principais 
pensadores políticos modernos, que viveram entre os séculos XVI e 
XVIII. 
Quanto à origem da palavra Estado, sua primeira menção literária é 
relativamente recente, se levarmos em consideração sua origem enquanto 
instituição na literatura filosófica clássica. Sobre esse “nascimento” histórico 
da palavra Estado, elucida Dallari (2011, p. 59) “é certo que o nome, Estado, 
indicando uma sociedade política, só aparece no século XVI (...) em 
O Príncipe de Maquiavel4, escrito em (1513)”. Portanto, há pouco mais de 
quinhentos anos, apenas, é possível refletir sobre essa soberana instituição. 
É uma denominação recente e historicamente relacionada ao período 
moderno.
1.2 Pensamento clássico aristotélico sobre o Estado
Antes de tornar-se objeto de estudo das Ciências Sociais, mais 
precisamente da ciência política moderna, os estudos sobre política, poder e 
Estado remontam à Filosofia clássica, na qual podemos citar como expoente 
o filósofo grego Aristóteles. 
Aristóteles nos fornece elementos para compreendermos o que é uma 
sociedade politicamente organizada. Foi a partir de suas ideias que se passou 
a pensar em um modelo de civilização cuja organização política seria baseada 
na cidade política grega, conhecida por polis e por civita em Roma.
A polis seria uma cidade autônoma5 e soberana6, ou seja, com capacidade 
para estabelecer suas próprias leis, instituindo assim a noção de cidadania7, 
4 Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) foi historiador, escritor e pensador político renascentista italiano 
e sua célebre obra O Príncipe é considerada um tratado sobre o Estado, sobre o pensamento político 
moderno. No livro, trata das formas eficazes de como conquistar e manter o poder soberano. É sem 
dúvida um clássico, um ícone bibliográfico do pensamento político moderno. 
5 Autonomia: faculdade de se governar por si mesmo; direito ou faculdade de se reger por leis próprias; 
emancipação; independência. Ferreira (1999). E também conforme Araújo; Bridi; Motim (2009, 
p. 153) a autonomia também refere-se à plena soberania do Estado, que faz sua autoridade não 
depender de outra autoridade.
6 Soberania: ver nota supracitada - nota n. 1.
7 A cidadania decorre da pertença a um Estado-nação e é a afirmação de igualdade entre os indivíduos, 
equilibrando direitos e deveres. (ARAÚJO; BRIDI; MOTIM, 2009, p. 165).
13Capítulo 1 – Estado: conceitos e diferentes acepções históricas – uma introdução
destinando aos homens direitos e deveres organizados sob uma determinada 
hierarquia de poder, possibilitando a sua participação nas decisões políticas 
do Estado8. 
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Antiga Pólis Grega - Atenas.
Na leitura de Aristóteles, a polis seria a constituição perfeita da cidade-
Estado na ordem de uma evolução natural da associação entre os homens, 
que começaria com uma fase pré-política, a família, evoluindo para a aldeia 
até chegar no modelo de sociedade autossuficiente, a polis. Norberto Bobbio 
(1909-2004) filósofo e historiador do pensamento político, também senador 
vitalício italiano, discorreu a respeito desta evolução “natural” do poder 
concebida por Aristóteles:
São surpreendentes a duração, a continuidade, a estabilidade, a vitalidade 
de que deu prova esse modo de descrever a origem do Estado. À medida 
que apresenta a evolução da sociedade humana como uma passagem 
gradual de uma sociedade menor para uma mais ampla, resultante 
da união de várias sociedades imediatamente inferiores, pôde fácil e 
docilmente ser estendido a outras situações, à medida que as dimensões 
do Estado, ou seja, da sociedade autossuficiente e como tal perfeita, 
cresciam, passando da cidade à província, da província ao reino, do reino 
ao império. (BOBBIO; BOVERO,1996, p. 41). 
8 Os gregos inventaram a política (palavra que vem de polis, que, em grego, significa cidade organizada 
por leis e instituições) porque instituíram práticas pelas quais as decisões eram tomadas a partir 
de discussões e debates públicos e eram adotadas ou revogadas por voto em assembleias públicas; 
porque estabeleceram instituições públicas (tribunais, assembleias, separação entre autoridade do 
chefe da família e autoridade pública, entre autoridade político – militar e autoridade religiosa) e, 
sobretudo porque criaram a ideia da lei e da justiça como expressões da vontade coletiva pública e não 
como imposição da vontade de um só ou de um grupo, em nome de divindades. Os gregos criaram 
a política porque separaram o poder político e duas outras formas tradicionais de autoridade: a do 
chefe de família e a do sacerdote ou mago (CHAUÍ, 2000, p. 31).
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Para Aristóteles o homem é um animal político: organizado socialmente 
com vistas à sobrevivência e ao desenvolvimento. É dessa concepção 
que nasce a ideia do Estado como instituição que evoluiu por meio do 
desenvolvimento natural do homem e da sua capacidade de associação voltada 
para o bem comum. Essa atividade associativa se expandiu gradativamente ao 
longo do tempo e da história, em função das necessidades de sobrevivência, 
organização e defesa dos indivíduos. Notemos que a origem da instituição 
Estado, na filosofia aristotélica, é concebida como natural, entendendo 
portanto que, para Aristóteles, a família é a forma primitiva de organização 
social natural do homem, e o Estado sua forma evoluída. O primeiro poder 
era o do pai, depois do chefe da aldeia, da cidade, do Rei e do Imperador.
Aristóteles considerava o Estado como uma instituição suprema, que 
refletia não as ambições e os desígnios de poucos, mas as necessidades 
comuns aos homens, que se reuniam por instinto, por possuírem a 
razão capaz de distinguir o bem do mal, o justo do injusto. O filósofo 
defendia a ideia de que a vida civilizada seria impossível sema figura 
do Estado. 
Ainda é importante frisar que apenas uma parcela restrita da população 
detinha o direito de participar das decisões políticas na Grécia e Roma 
antigas. Os critérios para tal divisão do poder baseavam-se em princípios 
hierárquicos de propriedade de terras e hereditariedade. Um termo 
correspondente ao da polis grega, na concepção romana, era o civitas, 
formado inicialmente por membros das famílias patrícias romanas. Assim 
como no Estado grego, o romano fundava-se na participação direta do povo 
nas decisões políticas, lembrando sempre que as decisões políticas estavam 
nas mãos de uma pequena elite, responsável pelos assuntos gerais e pelos 
interesses da população como um todo.
O poder estava associado à ideia de hereditariedade, nacionalidade e 
propriedade de terras. Era um momento histórico constituído basicamente 
por sociedades agrárias, escravistas e patriarcais, ou seja, mulheres e escravos 
não podiam participar das decisões. Na Grécia, por exemplo, quem nascia em 
uma das unidades sociopolíticas, denominadas demos (centros de poder político 
separados segundo divisões territoriais), podia participar das decisões. Daí a 
expressão democracia9, conceito que analisaremos em um capítulo oportuno. 
9 Na concepção aristotélica, democracia é a forma de governo do povo, de todos os cidadãos, ou seja, 
15Capítulo 1 – Estado: conceitos e diferentes acepções históricas – uma introdução
Em Roma, aqueles que não tinham terras, os pobres, formavam a plebe e tinham 
o direito de eleger um representante para garantir que seus interesses fossem 
assegurados junto aos que detinham o poder, ou seja, os patrícios, membros das 
famílias ricas romanas detentoras de grandes propriedades de terras. 
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Classe Econômica Proprietários de terra, artesãos e comerciantes
Garante a sobrevivência 
material da sociedade
Guerreiros
Responsável pela 
defesa da cidade
Classe Militar
Sábios, legisladores
Garante o governo da 
cidade sob as leis
Classe dos 
Magistrados
Esquema de organização social na República de Platão
É importante destacar que aqui referimo-nos a uma época anterior à 
formação dos impérios, por exemplo, o império de Alexandre, “O Grande” 
(356 a.C.) na Grécia, e os impérios dos césares em Roma, cujo precursor foi 
Caio Julio Cesar (100 a.C.). 
Portanto, a noção de uma origem da organização política de uma 
sociedade remonta a pelo menos 350 a 400 anos antes da Era Cristã, 
com o surgimento de conceitos como democracia, República, formas 
de governo e de divisão do poder com participação popular, e a 
separação entre a ordem pública da privada. 
Esse período anterior aos impérios é que inspirou o pensamento 
filosófico clássico sobre a organização do poder e o papel do Estado na 
sociedade. Depois disso, como explica Chauí10 (2000), quando Grécia e 
Roma sucumbiram à Era dos Impérios, iniciou-se um período de decadência 
daqueles que gozam dos direitos de cidadania. (BOBBIO; MATTEUCI; PASQUINO, 1995).
10 Marilena Chauí, filósofa e historiadora de filosofia brasileira.
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da política com o desaparecimento da polis e da res publica (expressão latina 
para coisa pública, em contraposição à ideia de propriedade privada), ou seja, 
república11, retrocedendo a um regime político despótico12 e sem participação 
popular, característico dos imperadores. 
A noção de Estado como síntese sofisticada da organização política dos 
homens reflete as ideias de Aristóteles e deve ser entendida como uma 
espécie de resultado da predisposição associativa natural dos homens, 
com vistas ao bem comum, à sua sobrevivência e desenvolvimento. 
Essa noção acima mencionada trata-se de uma concepção naturalista 
da gênese do Estado, que evoluiu do poder familiar para as formas mais 
sofisticadas da organização social ao longo da história. 
Vemos claramente nesta concepção a relação direta do Estado – 
organização política do poder – objetivando o bem comum e a defesa do 
coletivo como necessidades primárias do homem, e, portanto, natural, 
imprescindível. Essa visão foi, de certa forma, modificada pelos pensadores 
modernos, como veremos a seguir. 
Para os pensadores modernos, o Estado continua sendo uma instituição 
a serviço do bem comum, mas sua constituição não é considerada natural 
por parte dos autores contratualistas. Ao contrário, é uma construção 
humana racionalizada, calculada e acordada pelos indivíduos, ou seja, é 
como pensar a construção histórica da sociedade, os indivíduos optam por 
determinados regimes políticos, e esses regimes não são resultado de um 
desenvolvimento natural e evolutivo das sociedades, são resultado de uma 
escolha. Ao dizermos que se trata de uma escolha, podemos perceber a 
importância da participação da sociedade no processo de tomada de decisão 
política de seu país, escola, comunidade, empresa, e assim por diante. 
11 Modernamente refere-se a um sistema democrático de governo. Falaremos exaustivamente sobre a 
República como tal, em um capítulo oportuno.
12 Despotismo: forma de governo em que o detentor do poder o exerce de maneira absoluta, sem limites 
e arbitrária, conforme sua própria vontade. (BOBBIO; MATTEUCI; PASQUINO, 1995).
 Para um maior aprofundamento das questões de que tratam as notas 11 e 12, consultar as seguintes 
Referências: BOBBIO; MATTEUCI; PASQUINO (1995) “Dicionário de Política” da Editora 
UNB. BOTTOMORE; OUTHWAITE, (1996) “Dicionário do Pensamento Social do Século XX” 
da Editora Jorge Zahar. E ainda DALLARI (2011) “Elementos de Teoria Geral do Estado” da 
Editora Saraiva.
17Capítulo 1 – Estado: conceitos e diferentes acepções históricas – uma introdução
1.3 O Estado na concepção 
dos pensadores contratualistas
No pensamento formulado pelos autores contratualistas, o Estado é 
um produto da vontade humana, consensual e pactuada entre os homens. 
Estes autores defendem a associação humana como estritamente racional 
e não natural, e o Estado, portanto, produto de uma escolha. As origens 
históricas das ideias contratualistas podem ser encontradas no período 
compreendido entre o final do século XVI e o século XVIII, na obra de 
autores considerados como expoentes desta escola de pensamento. 
São eles: Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704), 
Montesquieu (1689-1755) e Jean Jacques Rousseau (1712-1778). 
Thomas Hobbes
(1588-1679)
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Biografia
Matemático, teórico político e filósofo inglês. Viveu em uma época 
em que a Inglaterra passava por muitas guerras, o que pode ter 
influenciado suas ideias marcantemente pessimistas sobre o homem 
e a sociedade. 
Nasce no ano em que a Inglaterra estava prestes a ser invadida pelos 
espanhóis em uma batalha que seria conhecida como a “Invencível 
Armada”, tentativa frustrada por parte dos espanhóis, que sequer 
desembarcaram em terra. 
Precisou exilar-se em Paris devido à Guerra Civil Inglesa (entre 1642 a 1649).
Principais Obras
Leviatã (1651): o nome da obra seria uma referência ao “monstro 
marinho” citado na bíblia em Jó. 
Na obra de Hobbes, o Leviatã é mencionado como metáfora de um 
poder central que a todos alcança com seus “braços ou tentáculos”.
Síntese das Ideias
O soberano, na figura do Príncipe ou do Monarca, possui poderes ilimitados e o Estado é o único capaz de 
garantir a ordem e a paz social. 
O homem no “estado de natureza” é uma ameaça constante ao seu semelhante, e por isso, precisa ser 
dirigido por um poder soberano.
O Estado é uma evolução de um mundo caótico para um mundo organizado politicamente. 
Não era contrário ao regime da Monarquia absolutista.18
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Síntese das Ideias
Defesa dos direitos naturais dos homens, ou seja, aqueles com os 
quais já nascemos e que fazem parte do rol de direitos fundamentais 
(jusnaturalismo), dos direitos políticos e dos direitos individuais. 
O homem no “estado de natureza” vive sem a regulação de normas 
jurídicas, o que considerava como irracional e primitivo em relação à 
sociedade politicamente organizada. 
O Estado representaria o tratamento isonômico a todos os indivíduos, 
considerados iguais perante a lei. Seria, portanto, um Estado justo. 
John Locke
(1632-1704)
Biografia
Filósofo inglês e defensor do liberalismo, ou seja, das ideias liberais 
de defesa das liberdades individuais e da propriedade privada. Seus 
estudos influenciaram as Revoluções Francesa, Inglesa e Estadunidense. 
Principais Obras
Ficou conhecido por sua obra Dois Tratados sobre o Governo (1689).
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Síntese das Ideias
Famoso pela ideia da separação dos Poderes: Legislativo; Executivo e 
Judiciário. 
O homem possui um desejo universal pela paz, portanto no “estado 
de natureza” o homem não é vil. 
O Estado deve ser dividido para que o poder não volte a concentrar-se 
nas mãos de um único homem, e estes poderes devem ser limitados e 
vigiados em sua atuação um em relação ao outro. 
Charles de 
Montesquieu
(1689-1755)
Biografia
Político, filósofo e escritor francês. Aristocrata e filho de nobres, 
recebeu uma educação jurídica e humanista. 
Criticou severamente a Monarquia absolutista. 
Principais Obras
Sua célebre obra: O Espírito das Leis (1748).
19Capítulo 1 – Estado: conceitos e diferentes acepções históricas – uma introdução
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Síntese das Ideias
Rousseau acreditava que todos os homens eram bons por natureza e que a vida em sociedade é que os 
corrompia. 
O estado de natureza é o estado de pura liberdade; não o concebe como primitivo ou caótico em relação ao 
“estado de sociedade”, sua transição é um fato, fruto de um “acordo fictício” realizado, ou pactuado entre 
os homens.
O Estado politicamente organizado deve garantir a soberania popular e a liberdade individual.
Principal defensor da democracia.
Jean Jacques Rousseau
(1712-1778)
Biografia
Filósofo, pensador político e compositor autodidata. Suíço, nasceu em 
Genebra, foi criado pelo pai até os dez anos de idade e posteriormente 
foi viver no campo, onde recebeu educação cristã e humanista. 
Suas ideias influenciaram diretamente os ideais da Revolução 
Francesa.
Também criticou severamente o regime monárquico absolutista.
Questionou o fato de a democracia representativa constituir a melhor 
forma de governo por temer que o político eleito representante, 
uma vez no poder, passasse a representar seus próprios interesses. 
Acreditava no autogoverno do povo.
Principais Obras
Sua principal obra é intitulada: Do Contrato Social (1762).
Esses pensadores, embora tenham desenvolvido premissas diferentes 
sobre o poder soberano13, concordam que a associação dos homens por meio 
do “contrato social”14 é um movimento civilizatório que estabelece a vida em 
sociedade, organizada por meio de regras capazes de garantir a sobrevivência 
dos homens e seu desenvolvimento mútuo. Esta forma de organização social 
se contrapõe ao “estado de natureza”15. No “estado de natureza” os homens 
viveriam supostamente em estado de solidão, originariamente isolados uns 
dos outros. Tal hipótese serve como parâmetro para a concepção de que, fora 
da sociedade, não há condições razoáveis de vida para os homens. 
13 Poder soberano: aquele que está acima dos indivíduos e que visa à manutenção do bem comum.
14 O contrato social é um termo utilizado para designar a associação voluntária dos homens à vida 
social, à sociedade, no sentido comunitário e politicamente organizada. É uma construção da vontade 
e da razão humana em prol da sobrevivência e da preservação dos valores sociais fundamentais.
15 O estado de natureza é uma metáfora utilizada pelos contratualistas para designar a vida fora da 
sociedade politicamente organizada. Remete à ideia do homem em seu estado animal original ou de 
uma sociedade sem regras ou leis.
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É importante percebermos aqui que esse modelo civilizatório foi fruto 
da organização social europeia do período, e que, devido à sua precedência 
histórica filosófica e mais tarde, tecnológica, científica, material e militar sobre 
outras nações e civilizações, tornou-se modelo para os países ocidentais e não 
ocidentais. Nosso modelo de civilização e organização foi por este influenciado. 
E esses pensadores contribuíram para a formação da nossa concepção 
ocidental de Estado, contribuíram com a ideia de que sem o Estado a vida 
social ficaria comprometida. Era um momento histórico em que estava vigente 
o poder monárquico absolutista, que estudaremos em capítulo próprio. Alguns 
desses pensadores se posicionaram a favor da monarquia e outros, contra. 
Independentemente do regime de governo, vamos pensar: seria possível 
imaginar a nossa vida sem a presença reguladora do Estado? Seria possível 
imaginar que pela simples associação todos os indivíduos simplesmente 
viveriam em harmonia e de acordo com os valores sociais, sem a interferência 
do Estado como ordem normativa e jurídica, ou seja, como Lei?
De qualquer forma o que é importante perceber é que, a partir deste período, o 
Estado passou a ser visto como uma instituição central, diferente do pensamento 
clássico e dos povos antigos (gregos e romanos antes dos imperadores) que 
concebiam o poder como algo experienciado em coletividade, em público. 
A partir dos contratualistas será o Estado a instituição que fará a 
administração do poder entre os homens, concepção que se estende 
até os dias hoje em nossa própria sociedade. Mas não podemos nos 
esquecer de que isto foi produto de uma escolha, de um contrato, um 
acordo entre os homens.
1.4 Ideário dos autores contratualistas
É a partir do ideário contratualista que se torna possível entender a 
concepção atual de Estado. Para tanto, é necessário conhecer as ideias desses 
autores, as localizando em suas épocas, em seus contextos. 
Thomas Hobbes acreditava que antes da constituição de uma sociedade 
baseada no Estado, enquanto poder soberano, os homens viviam em uma 
espécie de estado de natureza que significava os estágios mais primitivos da 
história dos homens. Hobbes também invoca a noção de estado de natureza 
para se referir à ideia de caos generalizado em que vivem os indivíduos 
quando não estão sob o direcionamento de um poder que lhes seja superior, 
capaz de conter suas paixões, egoísmos e impulsos à agressividade. 
21Capítulo 1 – Estado: conceitos e diferentes acepções históricas – uma introdução
Hobbes acreditava que os homens precisavam ser controlados em seus 
desejos ilimitados porque, em seu estado natural, são egoístas e violentos. 
No estado de natureza, que é uma ficção – contrária à noção de sociedade 
politicamente organizada – prevalece um estado de guerra de todos contra 
todos16, no qual o homem não é senão uma ameaça para si mesmo e para 
os outros, um estado em que predominam as paixões humanas (misérias, 
egoísmos, violência, o homem na sua condição animalesca) e não a razão. 
Como no estado de natureza todos os homens são iguais e 
potencialmente perigosos, vive-se o temor de que uns agridam ou 
roubem os outros, e, desta forma, seus atos são também potencialmente 
agressivos, como defesa prévia, à possibilidade de agressão do outro. 
Atualmente serviria como exemplo aquele ditado popular que diz: “é a lei 
da selva, o mais forte sobrevive”, ou até mesmo a frase do próprio Hobbes 
“O Homem é o lobo do homem”17. Nestecaso, o mais forte domina o mais 
fraco. Vamos imaginar uma situação diária com a qual convivemos quase 
todos os dias, como por exemplo o comportamento potencialmente perigoso 
dos indivíduos no trânsito: como seria a vida se não houvesse leis que 
regulassem nossa convivência diária neste espaço público?
É por isso que o poder do Estado é soberano, superior aos homens, porque 
no âmbito da igualdade os homens são potencialmente perigosos. Isso exige, 
na concepção de Hobbes, um poder que se coloque acima de todos. 
Observe que Hobbes chama a atenção para o fato de que os 
indivíduos não poderiam governar a si mesmos e defender seus 
interesses, sem um governo que os dirigisse e garantisse a ordem. 
É neste momento que, pela interposição da razão humana, os 
homens optam por celebrar o contrato social, em que renunciam 
a seus desejos e aos seus direitos naturais de autopreservação e os 
transferem ao Estado, uma espécie de corpo artificial, um poder 
superior, capaz de garantir a preservação de todos e a paz social. 
O Estado será, portanto, o guardião do estado de sociedade. 
16 HOBBES, Leviatã, Parte I, Cap. XVIII. In: Dallari, 2011, p. 24 . 
17 Essa máxima aparece na obra Sobre o Cidadão, de Hobbes, em que, juntamente com outras obras do 
autor refere-se ao “estado de natureza”, ou seja, aquele que caracteriza o homem antes do seu ingresso 
no estado social. In: HOBBES, Thomas (1983), Coleção Os Pensadores, Abril Cultural. 
22
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Para Hobbes, o estado de natureza está ligado à ideia de barbárie, 
e o estado de sociedade está ligado à ideia de civilização, de ordem, de 
autopreservação. Porém, o estado de natureza não se refere apenas ao homem 
primitivo; segundo o autor, a qualquer momento da história podemos 
retroceder a este estado, a esta condição particular, caso o Estado falhe no seu 
papel de soberano de manter a ordem e o controle social. Imaginemos uma 
cidade acometida de uma catástrofe ambiental, uma enchente que torne tudo 
um caos. Quais são as primeiras notícias que a mídia costuma veicular 
passados alguns dias? “Saques a comércio, residências, os cidadãos com 
medo e inseguros”18. E por que isso ocorre? Geralmente porque o Estado 
não consegue garantir a segurança pública e a ordem de maneira efetiva, 
e porque os homens encontram-se circunscritos a necessidades básicas de 
sobrevivência, à sua condição natural. Voltamos à lei da selva. 
E como o Estado mantém a ordem e o controle social? Para tanto, o 
Estado possui o “monopólio da violência”, segundo Cavalcante (1991), ou 
conforme Max Weber (1982, p. 98), “pretende, com êxito, o monopólio do 
uso legítimo da força física, dentro de um determinado território”. Ou seja, 
podemos dizer que o Estado detém a prerrogativa do uso da força física e 
deve fazer uso desta, nos limites do seu dever e compromisso de manter 
a ordem, em nome de todos e do bem comum. Esse contrato retirou do 
indivíduo comum a possibilidade de fazer justiça com suas próprias mãos e 
transferiu ao Estado este dever. 
O Estado pode fazer uso da força física, dentro dos limites 
estabelecidos por lei. Se o Estado perder de vista estes objetivos, ocorre 
abuso de poder e desvio de finalidade, questões que atualmente têm 
estado presentes na mídia brasileira, com diversas denúncias sobre 
abusos cometidos pelo Estado, representado por seus agentes, pelos 
policiais. Quando isso ocorre, a sociedade entra em um estado de 
alerta e insegurança, e é imprescindível a participação dos cidadãos, 
comunidades, escolas e instituições sociais nesse debate. Um policial 
também é um servidor público, que tem o dever de assegurar a vida, a 
ordem e a paz, porque age em nome do Estado e não pode desviar-se 
dessa finalidade e agir conforme seus próprios impulsos e de acordo 
com a sua própria vontade, pois isso é intolerável em uma sociedade 
civilizada, racional e regida por leis. 
18 Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/apos-enchente-moradores-de-cidades-de-santa-
catarina-temem-saques-2700290>. Acesso em: 26 fev. 2012. 
23Capítulo 1 – Estado: conceitos e diferentes acepções históricas – uma introdução
Hobbes ainda tratou da questão do controle social. Neste ponto 
acreditava que o poder do governante não deveria sofrer limitações e que 
deveria ser respeitado com obediência, pois mesmo tornando-se um tirano, 
um mau governo ainda seria melhor do que o estado de natureza. 
Uma interpretação possível do pensamento de Hobbes seria a 
de que o soberano é aquele que detém o poder de todos para agir 
ilimitadamente em nome de todos. 
É importante contextualizar o momento em que Hobbes viveu: um 
período de governo monárquico absoluto e com muitas guerras. Hobbes 
não defendia necessariamente a tirania, mas sim o poder soberano, porque 
acreditava que os indivíduos não eram capazes de viver em ordem por si 
mesmos e temia o constante horror das guerras. 
Atualmente, sabemos que governos cuja concentração do poder está 
nas mãos de uma única pessoa podem tornar-se tiranos e até mesmo uma 
ameaça para os cidadãos. Temos exemplos atuais das revoltas do mundo 
árabe contra governos ditatoriais, mas temos exemplos no próprio Brasil, que 
viveu um período ditatorial entre as décadas de 1964 e 1985. Temos também 
exemplos de regimes autoritários dentre os vizinhos latino-americanos, 
como Cuba, governada por Fidel Castro de 1976 a 2008, e Venezuela, por 
Hugo Chávez. Outro exemplo universalmente marcante do perigo de um 
governo autoritário foi a ditadura instaurada na Alemanha nazista entre os 
anos de 1933 e 1945 por Adolf Hitler.
Outro importante autor da corrente contratualista foi John Locke, 
considerado um defensor do liberalismo19, doutrina político-filosófica que 
mais tarde, no século XIX, defenderá o livre-comércio, a democracia e a 
autodeterminação nacional. Vamos estudar o liberalismo nos capítulos 
subsequentes. Porém, é necessário que se faça um parênteses nesse ponto, foi 
19 Doutrina político-filosófica moderna com desdobramentos econômicos e sociais, que defende, 
sobretudo a liberdade individual e a autorrealização dos indivíduos, que pretende autonomizar a 
livre-competição dos indivíduos na esfera social e econômica, e defende o Estado como garantidor da 
lei comum e propulsor do desenvolvimento e das iniciativas autônomas da sociedade civil da maneira 
menos interventora possível. (BOTTOMORE; OUTHWAITE, 1996). 
24
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o liberalismo a inspiração para a retomada das ideias acerca da democracia20 
na era moderna, e também da demarcação da separação da sociedade civil 
enquanto esfera econômica e privada do Estado, entendido como esfera 
política pública, burocrática e regradora da vida social. 
Locke entende o Estado moderno como público. Essa separação 
entre as instâncias públicas e privadas da organização social é uma 
construção do pensamento político moderno.
Locke acreditava na coesão social21, ou seja, na ausência de conflitos, como 
condição necessária para a acumulação do capital22. A coesão social, aqui 
entendida como integração social, seria possibilitada pelo Estado. Diferente de 
Hobbes, Locke defendeu a divisibilidade do poder, para quem o ser humano 
é por natureza racional, livre e autônomo. O “estado de natureza” em Locke 
representava a irracionalidade e a ausência de regras jurídicas, que são as 
únicas capazes de garantir essa liberdade inata aos homens. 
A ordem jurídica23 deveria garantir a boa convivência social, e o contrato 
social seria um acordo entre os homens, que se concretizaria não pela renúncia 
dos direitos individuais, como defendia Hobbes, mas pelo consentimento 
mútuo entre os homens, em que ninguém estaria acima ou representaria 
sozinho a lei. Era contrário às tendências absolutistas do poder defendidas por 
Hobbes, acreditava que o Direito e a justiçase estabelecem de forma igualitária 
a todos, como forma de se preservar a liberdade individual, os direitos, a 
propriedade24 e a liberdade econômica. 
20 Ver nota supracitada, nota n. 8.
21 A ideia de coesão social refere-se a um conceito sociológico elaborado por Émile Durkheim (1858 – 
1917), autor considerado um dos fundadores da Sociologia. Neste texto utilizaremos a expressão coesão 
social ligada mais precisamente à ideia de integração social de um modo geral, embora o conceito seja 
mais amplo: refere-se à integração dos indivíduos no interior de uma sociedade por meio da divisão 
social do trabalho, das tarefas que contribuem para o bem social coletivo. Para melhor aprofundamento 
sobre o conceito, sugerimos a obra Sociologia, um olhar crítico, de Araújo, Bridi, Motim, 2009.
22 O sistema capitalista já era vigente neste período, mas os estudos relacionados ao processo de 
acumulação do capital ganharam destaque mais tarde na obra de Karl Marx (1818 a 1883), 
economista e cientista social alemão.
23 A ordem jurídica é característica da sociedade organizada segundo a lei.
24 “Propriedade, para esses fins, inclui vida, a liberdade e as posses” de um indivíduo (BOTTOMORE; 
OUTHWAITE, 1996, p. 421).
25Capítulo 1 – Estado: conceitos e diferentes acepções históricas – uma introdução
Locke acreditava que mesmo no estado de natureza os homens eram 
seres morais, e que ao abandonarem esse estado por meio de um acordo 
concederam poderes limitados de coerção ao Estado, que não poderia 
ultrapassar tais limites, porque a ordem decorre da legalidade, do direito e da 
justiça e não da força violenta e suprema do aparelho estatal.
A lei e os princípios e valores sociais nela expressos não deveriam 
ser violados nem pelos homens e nem mesmo pelo próprio Estado. 
O acordo, o pacto social realizado pelos indivíduos, é o movimento 
gerador do direito, da justiça, que deveria ser observado, protegido e 
promovido pelo Estado. 
Observemos por um momento a evolução do conceito de Estado e poder 
em relação à Hobbes e Locke. Enquanto Hobbes defendia o poder todo 
concentrado nas mãos de um único soberano, Locke entendia o Estado como 
uma instituição a serviço da sociedade e amparada nos limites da legalidade, 
ou seja, da Lei. 
O Estado continua soberano, mas o poder aqui sai da esfera individual 
e retorna para a perspectiva coletiva, o Estado deve soberanamente 
regular e controlar a sociedade, mas de maneira isonômica, ou seja, de 
maneira igualitária e justa. 
Locke falou em um governo civil à semelhança da polis grega, referia-se 
ao domínio da sociedade civil, do cidadão politicamente ativo, compreendia a 
ideia de uma sociedade civilizada, baseada no princípio da legalidade, em um 
sistema de leis. Ressurge aí os delineamentos de uma concepção de Estado 
Democrático, baseado na garantia de direitos, na justiça e na igualdade, tal 
como o concebemos atualmente.
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Um exemplo atual desta concepção de Estado de John Locke é o inciso III, 
Parágrafo Único, do art. 2º da Lei n. 9.784/1999 (Lei que regula o processo 
administrativo no âmbito da Administração Pública Federal) que diz: 
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre 
outros, os critérios de:
I - atuação conforme a lei e o Direito;
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção 
pessoal de agentes ou autoridades;
O que significam estes incisos e que princípios a lei está defendendo no âmbito 
da atuação do Estado? Defendem o princípio da legalidade e da supremacia 
do interesse público, bem como os princípios da impessoalidade e da isonomia. 
Significa que o Estado e seus agentes, ou seja, os servidores públicos, não podem 
desviar-se do que manda a lei, não podem desviar-se de suas finalidades, devem 
atuar dentro da lei com fins a atingir o interesse público e não podem utilizar-se 
de seus cargos a fim de obterem vantagens sobre os cidadãos comuns. 
A partir de John Locke e dessa concepção de separação da esfera 
pública e privada da institucionalização das relações políticas, Montesquieu, 
nosso terceiro autor contratualista, ocupou-se de pensar qual seria então a 
estrutura ideal das bases legalistas do Estado e suas formas de atuação. 
No contexto do pensamento contratualista também defendeu a tese de 
que a sociedade não existiria sem um governo. Aqui seria apropriado mais 
uma vez nos perguntarmos: a sociedade não existiria sem um governo? 
Após aprender as concepções de Hobbes e John Locke acerca do Estado, 
um defendendo o poder concentrado e outro o poder institucionalizado e 
legalista, poderíamos nos questionar se seria possível que nossa sociedade 
fosse capaz de se organizar sem um poder dirigente. Lembremo-nos que 
para os contratualistas a organização social e política da sociedade, em 
torno de um poder soberano, não ocorreu por obra do acaso, mas como fruto 
de um contrato social, de uma vontade, de um acordo entre os homens, 
portanto, de uma escolha. Essas reflexões nos levariam ainda a outra questão: 
qual seria a forma ideal de atuação deste Estado?
A importância de Montesquieu para o pensamento político moderno se 
deu devido à defesa que realizou, da separação dos poderes do Estado entre 
Legislativo, Executivo e Judiciário25, para que houvesse uma limitação das 
25 A separação dos poderes é típica do Estado democrático de direito. O Poder Legislativo encerra 
as funções de legislar, prescrever e fiscalizar as leis. O Poder Executivo tem por função fazê-las 
cumprirem-se no interior da sociedade, além de efetuar a prática dos atos de chefia do Estado, 
27Capítulo 1 – Estado: conceitos e diferentes acepções históricas – uma introdução
atuações de cada um no cumprimento de seus papéis, e da mesma maneira, 
um autocontrole da máquina estatal de si mesma, no sentido de evitar 
qualquer abuso de poder por parte do soberano, a fim de impedir qualquer 
tipo de tirania. 
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Divisão de poderes 3 Poderes Legislativa –
Poder Legislativo
Função Administrativa –
Poder Executivo
Função Judicial –
Poder Judiciário
Estado Poder Função
Outro pensador político contratualista e igualmente importante, foi Jean 
Jacques Rousseau. Em sua principal obra intitulada Do Contrato Social (1762), 
o autor adotou uma posição muito distinta da de Hobbes quanto ao homem 
no estado de natureza e quanto ao estabelecimento do poder político soberano. 
As ideias de Rousseau influenciaram a Revolução Francesa (1789)26 e a 
defesa dos direitos inalienáveis dos homens; inalienáveis porque eram por 
ele concebidos como naturais e, portanto, universais e invioláveis. Rousseau 
acreditava que o homem em sua essência era bom, a corrupção do homem se 
dá na vida em sociedade. Para Rousseau os homens nascem livres e iguais. 
de governo e de administração. O Poder Judiciário, além de administrar a justiça, é considerado o 
“guardião da lei”. In: Moraes (2009). 
26 A Revolução Francesa alterou profundamente o quadro político da França em 1789, o povo 
revoltado contra os privilégios do Clero e da Monarquia derrubou o regime monárquico e proclamou 
a defesa dos direitos dos homens sob princípios que seriam universalmente reconhecidos nos regimes 
democráticos subsequentes: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Para conhecer mais sobre a 
Revolução Francesa acesse: <http://www.infoescola.com/historia/revolucao-francesa/>. Acesso em: 
22 out. 2011.
 Podemos também citar, para maior aprofundamento do tema, a obra A Era das Revoluções, de autoria 
de Eric Hobsbawn, publicada em São Paulo pela Paz e Terra em 2003.
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A liberdade em Rousseau é vista como um bem supremo,e a associação 
dos homens por meio do contrato social configurou uma espécie de 
limitação social à liberdade suprema e inata dos indivíduos. Essa 
associação livre e consensual dos homens por meio de um contrato 
constituirá o “estado de sociedade” que, em detrimento da liberdade 
individual, vai instituir a liberdade civil, mediante certos limites da 
atuação dos homens e do Estado, impostos por uma ordem jurídica. 
Para Rousseau, o povo é o único titular da soberania e o interesse 
do Estado deve corresponder ao interesse e à vontade geral, ao interesse 
comum. Está presente nas ideias de Rousseau a defesa de alguns princípios 
da democracia, em que a vontade da maioria obriga o todo, partindo-se do 
pressuposto de que todos os homens são iguais perante a lei. As leis devem, 
portanto, garantir a liberdade e a igualdade de todos.
Rousseau destaca-se dentre os autores contratualistas no sentido de 
conceber a igualdade total dos indivíduos, e a lei como um mecanismo 
garantidor desta igualdade. Locke e Montesquieu defenderam a 
institucionalização legal do poder e da atividade estatal, mas Rousseau é o 
autor que deixou claro que o poder emana do povo, é apenas administrado 
pelo Estado: se um Estado deixar de atender aos interesses comuns, perde 
sua razão de ser. Por que é importante conhecer as ideias desses autores? 
Porque hoje seus ideais se transformaram em lei e foram sendo 
progressivamente incorporados pela nossa Constituição Federal. Há 
instituições internacionalmente reconhecidas que tratam também de garantir 
que a igualdade, a liberdade e a dignidade da pessoa humana não sejam tolhidas 
por abusos de poder e desvios de finalidade por parte dos Estados-nação ao 
redor do mundo. Como exemplo é possível citar a ONU (Organização das 
Nações Unidas), mas também podemos observar esses exemplos no nosso dia 
a dia, principalmente no âmbito da administração pública. 
A administração pública é regida por princípios legais que garantem aos 
servidores públicos o tratamento respeitoso por parte dos seus superiores, 
proíbe os abusos de poder e protege os servidores no âmbito do exercício de 
suas atribuições, ao mesmo tempo em que também limita a atuação desses 
mesmos servidores quando agem em nome do Estado. A lei também garante 
proteção aos cidadãos contra os abusos do Estado, que deve agir dentro dos 
limites por ela estabelecidos, sob pena de infringir princípios constitucionais 
assegurados em nosso país desde 1988. 
29Capítulo 1 – Estado: conceitos e diferentes acepções históricas – uma introdução
A concepção atual de Estado como instituição política central e fundamental 
da vida social é uma construção histórica e uma opção dos homens que 
acordaram pela institucionalização de um poder soberano. Vimos ao longo 
deste capítulo que o poder do Estado esteve, por vezes, concentrado nas mãos 
de poucos, nas mãos de um único indivíduo e que, com o passar do tempo, 
verificou-se que tal poder deveria ser posto a serviço de todos, do bem comum 
e dos interesses da coletividade. A sociedade politicamente organizada é fruto 
da construção de um modelo civilizatório europeu moderno em que a paz 
e a ordem social configuram-se como uma condição da vida em sociedade 
e é o Estado a instituição escolhida pelos indivíduos para administrar seus 
interesses e garantir o bem comum, mas que, embora soberano, deve agir 
em conformidade com a lei, afastando qualquer concepção totalitária e 
autoritária de poder. 
Trabalhamos o conceito de Estado como instituição soberana e o seu papel 
na constituição política da sociedade, desde as concepções clássicas até o 
pensamento moderno e seus principais pensadores. Estudaremos no próximo 
capítulo, de maneira mais específica e detalhada, a questão da democracia na 
sociedade moderna e seu papel na formação do Estado. 
Síntese
2
CapítuloPoder, dominação 
e democracia
Como vimos no capítulo anterior, as sociedades humanas 
estabeleceram e institucionalizaram o poder politicamente, 
organizaram-se para garantir a manutenção da vida e 
das condições de desenvolvimento dos homens, de suas 
potencialidades e de seus esforços, direcionados a objetivos mais 
ou menos comuns a todos os indivíduos. Esse poder político foi 
organizado de maneira hierarquizada, com regras que devem ser 
por todos obedecidas visando ao bem comum. É preciso lembrar 
que quando falamos em poder institucionalizado, queremos 
dizer que é um poder soberano que se sobrepõe a todos os 
indivíduos. Esse é o poder estatal, analisado no capítulo anterior. 
Estudaremos neste capítulo a democracia segundo o 
pensamento clássico aristotélico, como uma das formas de 
governo, ou seja, como uma das formas de organização, 
titularidade e exercício do poder soberano ou estatal. 
Também estudaremos a concepção moderna da palavra 
democracia e poderemos refletir sobre seu real significado e 
importância para a história das sociedades humanas.
Sabemos que a democracia, nos dias de hoje, é vista como 
a perspectiva concreta de conquista e ampliação de direitos 
no interior da nossa sociedade, a sociedade moderna. Mas já 
parou para pensar como foi que se chegou a essa concepção 
de democracia? Ou por que todas as vezes em que alguém 
reclama pelos direitos conquistados coletivamente, a palavra 
democracia surge quase como uma palavra de ordem? 
Neste capítulo veremos que existem critérios teóricos que 
norteiam a discussão sobre as formas de organização do poder 
na sociedade, sua distribuição e o nível de sujeição dos homens 
em relação ao poder institucionalizado. Esses critérios estão 
presentes em uma dada classificação tradicional, elaborada por 
Aristóteles, que leva em consideração o número de titulares 
no poder. Porém, o número de pessoas no poder não é um 
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critério exclusivo quando se trata de discutir as formas de governo. Para 
além da questão quantitativa, a discussão em torno das formas de governo 
também leva em consideração um critério qualitativo que corresponderia ao 
questionamento sobre qual seria a forma ideal de governo já estabelecida ao 
longo da história.
A questão que a Filosofia e a Ciência Política, tanto clássica quanto 
moderna, nos faz refletir é a seguinte: qual seria o governo ideal, aquele 
que melhor traduziu os anseios dos homens que buscam a melhor forma 
de viver em sociedade, e, por conseguinte, a melhor sociedade para se viver? 
2.1 Aristóteles e as três formas de governo: 
uma visão clássica e tradicional da 
democracia e da distribuição do poder 
Conforme a tradicional classificação de Aristóteles, são três as formas 
de governo possíveis que se diferem entre si de acordo com o número ou a 
quantidade de titulares no poder. São elas: a Monarquia, a Aristocracia e a 
Democracia1. 
A Monarquia é uma forma de governo caracterizada pelo poder e 
domínio de um só indivíduo. O monarca é, portanto, o soberano absoluto, 
e representa a lei de maneira individualizada. O monarca é o soberano e ao 
mesmo tempo é a lei. 
A Aristocracia configura o governo de poucos, dos melhores, dos 
considerados mais bem preparados e capazes, configura um governo 
composto por algum tipo de elite. 
A Democracia, terceira forma de governo, configura o governo de todos, 
e neste sentido a ideia de democracia é atribuída à noção de liberdade e 
igualdade. Trata-se da participação dos cidadãos nas decisões políticas, 
reunidos em assembleia. 
Aristóteles, ao discorrer sobre as formas de governo, também estabeleceu 
uma distinção entre o que denominou de formas de governo puro e as formas 
de governo impuro. As formas de governo puro corresponderiam àquelas em 
que o titular ou titulares do poder soberano exercem tal poder tendo como 
norte de suas ações o interesse comum, enquanto que nas formas de governo 
1 Aristóteles trata das formas de governo naobra A Política, livros III e IV. 
33Capítulo 2 – Poder, Dominação e Democracia
impuro, prevaleceria o interesse pessoal e particular dos governantes sobre 
o interesse de todos, ou seja, sobre o interesse comum e geral da coletividade. 
As formas de governo impuro corresponderiam à degeneração do poder 
pelo Estado, em que, no lugar de realizar a manutenção do interesse coletivo 
na gestão dos negócios públicos, o governante usurpa o poder em prol de 
interesses próprios. Neste sentido, a monarquia, na qual o soberano não 
respeitasse as leis, degeneraria em tirania, a aristocracia degeneraria em 
oligarquia usurária2 e a democracia em demagogia3. 
No pensamento clássico, a democracia deve ser entendida como uma 
forma de governo em que o titular do poder político e soberano é o 
povo. Significa o poder de todos, o poder da maioria, em oposição 
à ideia do poder de poucos (aristocracia), ou do “poder de um” 
(monarquia). 
Essa concepção, elaborada por Aristóteles, traduz a titularidade e o 
exercício do poder por todos, lembrando que a ideia de todos estava ligada 
à questão da polis grega, ou seja, traduz o governo de todos aqueles que 
gozavam dos direitos de cidadãos. Não se estendia, portanto, aos escravos, 
mulheres e estrangeiros. Os cidadãos gregos das cidades-Estado, ou polis, 
como titulares de direitos, tomavam decisões coletivas de maneira direta, 
reunidos na Ágora (praça pública), local destinado à reunião para discussão 
das questões políticas e de deliberação das questões coletivas, por meio do 
voto direto. 
2 Oligarquia: governo de poucos em benefício próprio. Um exemplo da oligarquia no Brasil foram 
os coronéis, que se revezaram no comando do Brasil entre os anos de 1889-1930, na política 
denominada “política café-com-leite”. Para ler mais sobre o assunto acesse: <http://www.infoescola.
com/politica/oligarquia/>. Acesso em: 23 out. 2011.
3 Corrupção e manipulação da maioria. Rousseau, por exemplo, via o sistema representativo moderno 
com muito pessimismo, já que considerava o parlamento e seus membros representantes e mandatários 
do povo como passíveis de corrupção, o que significava, portanto, risco à violação da liberdade como 
direito inalienável e valor supremo da sociedade. O ideal de democracia rousseauniano era, portanto, 
a figura da democracia direta exercida pelo povo em assembleia. In: Jean Jacques Rousseau, Coleção 
Os Pensadores (1983), Editora Abril Cultural.
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Compreende-se daí que o processo democrático de constituição 
e organização do poder político, na visão clássica, se dá pela reunião e 
expressão da vontade de todos, por meio do debate livre e público, em um 
espaço igualmente de todos. As leis nascem, portanto, da confrontação de 
ideias, da convenção direta dos cidadãos livres em praça pública. Isso mudou 
um pouco no período moderno, pois o poder político, como um corpo 
artificial, foi separado da sociedade, conforme os intelectuais e pensadores 
contratualistas; já no pensamento clássico, esse poder foi exercido por todos, 
em um espaço público. 
No pensamento contratualista moderno, visto no capítulo anterior, o 
Estado esteve separado dos indivíduos, embora representasse seus interesses, 
diferentemente da noção clássica de democracia direta (assembleia de 
cidadãos). Na Era moderna, portanto, a noção de representação política, 
ou de democracia representativa, só aparecerá no processo de formação 
do Estado Moderno (século XVI em diante), sendo ensejada pelos anseios 
liberais de garantia de direitos, igualdade e liberdade dos indivíduos e será 
pautada na construção de um Estado mandatário do poder dos cidadãos. 
O Estado se tornará o gestor dos interesses públicos e o povo participará 
indiretamente dessa gerência.
2.2 A democracia e o sistema 
representativo moderno
O sufrágio, ou voto popular, caracteriza a forma de exercício democrático 
da soberania popular nos Estados Modernos, ou seja, o povo participa da 
vida política de seu país em maior ou menor grau, por meio de eleições de 
seus governantes (democracia representativa), e da consulta direta realizada 
à população por parte do Estado (democracia participativa ou semidireta).
Ao longo dos séculos XIX e XX, pensadores políticos liberais defenderam 
a ideia de que a democracia representativa, ou o parlamento4, seria a única 
forma de democracia possível de ser estabelecida em conformidade com o 
Estado liberal5.
4 Sistema de governo em que o chefe de Estado não é escolhido por voto popular e não acumula as 
funções de chefe de governo, assumida pelo primeiro-ministro. É o sistema vigente na Inglaterra. 
Estudaremos este sistema de maneira pormenorizada no próximo capítulo deste livro. 
5 O Estado liberal será o objeto de estudo dos Capítulos 3 e 7.
35Capítulo 2 – Poder, Dominação e Democracia
Na democracia representativa, os cidadãos podem escolher seus 
representantes mediante o voto, como também serem eleitos, em 
conformidade com os ordenamentos jurídicos de cada nação. Essa 
liberdade de votar e ser eleito consiste na atribuição de uma capacidade 
jurídica própria dos regimes democráticos modernos, que vai além da 
mera liberdade de expressão, reunião e associação de indivíduos livres, 
para a efetiva participação na vida política do país. 
Há também outra espécie de participação popular, ou democracia 
participativa, consagrada sob as formas de plebiscitos e referendos, em 
que a população é consultada pelo Estado quanto a questões consideradas 
prementes e que afetam diretamente suas vidas. Embora plebiscitos e 
referendos populares constituam formas de consulta direta à população, são 
considerados institutos da democracia semidireta e possuem diferenças entre 
si. Vejamos: no plebiscito, o Estado consulta a população antes de uma lei 
ser sancionada, sendo o povo quem vai aprovar ou não a criação da norma 
no lugar do Estado. Já o referendo consiste em uma consulta popular direta 
sobre uma norma que já foi criada. Seu objetivo é buscar a confirmação ou 
não do povo desta norma. Percebe a democracia em prática? A busca, por 
parte do Estado, da vontade geral? 
Por exemplo, o primeiro referendo realizado no Brasil foi em outubro 
de 2005, sobre a proibição da venda ou comercialização de armas de fogo 
e munição no país6. Esse referendo foi realizado para consultar a população 
sobre o que dispõe o Art. 35 da Lei n. 10.826/2003, também conhecida 
como Estatuto do Desarmamento. Quanto a exemplos de plebiscitos, 
temos dois no Brasil, o primeiro quando o presidente João Goulart (governo 
vigente entre 1961 a 1964) consultou a população brasileira para deliberar 
se mantinha ou não o sistema parlamentarista ou se optava por retornar 
ao presidencialista. Realizado o plebiscito em 1963, o povo decidiu pelo 
presidencialismo. E em 1993 a população foi novamente consultada para 
decidir a forma de governo no Brasil, entre monarquia constitucional ou 
república e entre parlamentarismo ou presidencialismo. O povo decidiu por 
manter a forma republicana e o sistema presidencialista. 
6 Para mais informações sobre o referendo acesse: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2005/
referendododesarmamento/ >. Acesso em: 12 nov. 2011.
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A Constituição brasileira de 1988, no Artigo 14, caput e incisos I, II e III, 
ainda prevê como forma de expressão da soberania popular, além do voto, 
plebiscito e do referendo, a iniciativa popular, em que o povo pode propor 
projetos de lei, mediante alguns critérios descritos na própria Constituição. 
2.3 O processo de democratização 
sob a perspectiva da conquista de direitos
Sob uma perspectiva histórica, o processo de democratização que visa 
cumprir o exercício da titularidade do poder soberano por parte do povo 
foi longo e assumiu contornos específicos e diferenciadosem diferentes 
países, principalmente no que se refere ao Ocidente moderno. As restrições 
quanto ao direito ao voto foram diminuindo até que se chegasse à ideia de 
sufrágio universal, em que esse direito foi ampliado a todos os cidadãos 
indistintamente7. Porém, até os dias atuais o mundo ainda comporta a 
existência de formas de governos autoritários, ditatoriais e teocráticos8, 
regimes em que os direitos fundamentais dos indivíduos são constantemente 
violados, nas mais variadas formas, por seus governantes.
A Revolução Francesa de 1789, que consagrou por meio da Assembleia 
Nacional Francesa a Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão9, configura um marco na luta pela democracia contra os regimes 
autoritários, e desde então a ideia de direitos fundamentais, políticos, 
7 Conforme a Constituição Federal de 1988, em seu Capítulo IV – Dos Direitos Políticos, art. 14, 
parágrafo 1º e seus incisos, ora transcritos: 
 § 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:
 I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
 II - facultativos para:
 a) os analfabetos;
 b) os maiores de setenta anos;
 c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
8 O termo teocrático significa associação da religião com o poder político.
9 É um documento célebre que indicamos a consulta. Disponível em: <http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/
atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/direitos-humanos/declar_dir_homem_cidadao.pdf>. 
Acesso em: 22 nov. 2011.
 Serviu de base para a posterior Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e 
proclamada pela ONU em 1948. Disponível em: <http://www.oas.org/dil/port/1948%20
Declara%C3%A7%C3%A3o%20Universal%20dos%20Direitos%20Humanos.pdf>. Acesso em: 22 
nov. 2011.
37Capítulo 2 – Poder, Dominação e Democracia
civis e sociais foi amplamente discutida e influenciou diversos Estados-
nação e suas Constituições, tanto no Ocidente quanto no Oriente, devido 
ao seu caráter universal e à defesa que faz aos valores fundamentais da 
pessoa humana. 
Jacques-Louis David: Le Serment du Jeu de paume, 1791. 101,2 cm × 66 cm. Musée national du 
Château de Versailles.
Parlamento Francês.
É a partir da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 
que o indivíduo passou a ser valorizado enquanto ser humano, 
conquistando os direitos fundamentais de liberdade individual, de 
propriedade, de segurança, de resistência à opressão, de respeito à 
dignidade da pessoa humana. Esses princípios passaram a nortear 
as Cartas Constitucionais dos Estados, que incorporaram o papel de 
fornecer a garantia desses direitos. 
Sabemos que os direitos não foram todos conquistados de uma só vez, 
e que atualmente considera-se pelo menos quatro gerações de direitos 
fundamentais. Em relação a essas variações conceituais, Moraes (2009) insere 
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o termo dimensões de direitos10, que busca explicar a expressão: a geração de 
direitos não se reduz à ideia de evolução de diretos, no qual o mais recentemente 
conquistado exclui os anteriores. Ou seja, trata-se de um rol de direitos 
conquistados pela sociedade moderna, ao longo dos anos, no qual o conjunto de 
direitos foi sendo alargado e conquistado em diferentes momentos históricos, 
segundo as especificidades próprias da história de cada país. No quadro Direitos 
Fundamentais comparamos as quatro dimensões em seu tempo histórico.
Direitos Fundamentais
Os direitos 
fundamentais de 
primeira dimensão – 
Séc. XIX
Os direitos 
fundamentais de 
segunda dimensão – 
Séc. XX
Os direitos 
fundamentais de 
terceira dimensão – 
Séc. XX
Os direitos 
fundamentais de 
quarta dimensão – 
Séc. XXI
Características:
São direitos de caráter 
civil e políticos, que visam 
à proteção do indivíduo 
contra o Estado.
Características:
São direitos de caráter 
social, cultural e 
econômico, tratados 
em uma perspectiva 
coletivista.
Características:
São geralmente 
concebidos como direitos 
de solidariedade e 
fraternidade.
Características:
Referem-se à proteção 
e garantias por parte 
dos Estados daqueles 
direitos já adquiridos por 
muitas nações, porém se 
apresentam a partir de 
uma perspectiva da sua 
reafirmação.
Exemplos:
Proteção ao direito: 
- à vida; 
- à intimidade;
- à inviolabilidade de 
domicílio;
- à propriedade privada; 
- de igualdade perante 
a lei.
Exemplos:
Visam garantir aos 
indivíduos mínimas 
condições de dignidade, 
proteção aos mais fracos 
e a busca pela diminuição 
das desigualdades sociais.
Exemplos:
Estão relacionados ao 
direito ao meio ambiente 
equilibrado, à paz, 
à proteção ao que é 
considerado patrimônio 
comum da humanidade, ao 
direito de autodeterminação 
dos povos.
Exemplos:
O direito à democracia, 
o direito à informação, o 
direito ao pluralismo. 
Apresenta também a 
discussão acerca do 
biodireito, ou da bioética 
no Direito.
Fonte: a autora (2011). 
Queremos aqui chamar a atenção aos direitos de quarta dimensão 
apresentado no quadro Direitos Fundamentais. Observe que este rol de 
direitos leva em consideração o quadro de desenvolvimento tecnológico 
global, que prescreve a necessidade de pensarmos o futuro da sociedade, ou de 
pensarmos em termos de uma sociedade aberta para o futuro11. Por exemplo, 
atualmente retomou-se a discussão sobre a questão da proteção à vida, mas 
agora, tendo como norte o desenvolvimento das pesquisas relacionadas 
à biogenética, que levantam questões sobre o patrimônio genético dos 
10 Conforme TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2002.
11 Para um maior aprofundamento do tema sugerimos a leitura do artigo de Adriano dos Santos 
Lurconvite sobre as dimensões de direitos intitulado: “Os direitos fundamentais: suas dimensões 
e sua incidência na Constituição”. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.
php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4528>. Acesso em: 22 nov. 2011.
39Capítulo 2 – Poder, Dominação e Democracia
indivíduos e até onde a Ciência deve ir, sem violar a dignidade da pessoa 
humana, dos animais, além da preocupação com o meio ambiente como uma 
forma de preservação da vida. Desta forma, a ideia da construção de rol de 
direitos de quarta dimensão se impõe diante de um mundo globalizado, 
em franco desenvolvimento tecnológico, e convida a sociedade a pensar o 
seu provir e o seu futuro, tendo como norte os princípios fundamentais da 
democracia, da proteção à vida e à dignidade da pessoa humana. 
2.4 Críticas à democracia
Observe que a discussão em torno da democracia enseja a questão da 
reivindicação de direitos e do justo posicionamento da titularidade do 
poder no interior na sociedade, seu exercício e suas formas de organização. 
Em Rousseau, quem tem legitimidade de administração do poder 
é o soberano, e o governo é uma espécie corpo intermediário que 
atua entre o povo e o soberano. O governo é encarregado do poder 
executivo, capaz de fazer cumprir as leis, de realizar a manutenção 
da liberdade civil, política e individual, mas a titularidade do poder 
soberano, daquele que institui e revoga as leis gerais que alcançarão 
a todos na sociedade, é sempre do povo, e o Estado não pode abusar 
do poder que lhe foi conferido como simples mandatário da vontade 
do povo. 
Mas a democracia também é alvo de inúmeras críticas. O próprio 
Rousseau, um expoente defensor da liberdade, levantou o problema da 
corrupção que os regimes democráticos enfrentam. Conforme Bobbio, 
Matteucci e Pasquino (1995, p. 320), Platão considerou a democracia como 
a menos boa das formas boas de governo e a menos má das formas más 
de governo, isso devido ao processo de pulverização do poder em pequenas 
frações distribuídas entre muitos, mas se comparada às formas de governo 
autoritários que violam as leis, ela é a melhor. 
12 Neste caso estamos

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