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PRINCÍPIOS REGENCIAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - FL. 1/5 PRINCÍPIOS: Em amplo sentido: causas primárias; idéia mestra que estrutura um sistema de idéias pressuposto de um sistema que lhe garante a validade, legitimando-o. PRINCÍPIOS JURÍDICOS: “O Direito não é idêntico à totalidade das leis escritas.” (Tribunal Constitucional Federal da Alemanha). “Princípios jurídicos constituem a base do ordenamento jurídico, „a parte permanente e eterna do Direito e também a cambiante e mutável, que determina a evolução jurídica‟; são as idéias fundamentais e informadoras da ordem jurídica da Nação” (Jésus Gonzáles Pérez). “O pensamento diretivo que domina e serve de base a formação das singulares disposições de direito de uma instituição jurídica, de um Código ou de todo o Direito Positivo. Mais elevado que uma lei ou qualquer instituição de Direito, pois é o motivo determinante, a razão do Direito.” (Clemente de Diego). “(... ) “Violar um princípio é mais grave do que transgredir uma norma qualquer” ... implica em desatenção a todo sistema de comandos, subversão aos seus valores fundamentais, corrosão de sua estrutura mestra (Celso Antonio Bandeira de Mello). A CONSTITUIÇÃO COMO SISTEMA ABERTO DE PRINCÍPIOS E REGRAS: “(...) sistema aberto porque tem uma estrutura dialógica (...), traduzida na disponibilidade e „capacidade de aprendizagem‟ das normas constitucionais para captarem a mudança da realidade e estarem abertas às concepções cambiantes da „verdade‟ e da „justiça‟” (Canotilho). “A Constituição passa a ser encarada como um sistema aberto de princípios e regras, permeável a valores jurídicos suprapositivos, no qual as idéias de justiça e de realização dos direitos fundamentais desempenham um papel central. A mudança de paradigma nessa matéria deve especial tributo à sistematização de Ronald Dworkin” (Luiz Roberto Barroso). A ERA DOS PRINCÍPIOS: “Com efeito, com relação à LICC, na era dos princípios, do neoconstitucionalismo e do Estado Democrático de Direito, tudo está a indicar que não é mais possível falar em „omissão da lei‟ que pode ser „preenchida‟ a partir da analogia (sic), dos costumes (quais?) e dos princípios gerais de direito” . O direito é um sistema íntegro, capitaneado pelos princípios, logo, não são as lacunas da lei que devem ser “preenchidas” pelos princípios, mas ao inverso, os princípios é que informam, ou “preenchem”, o sistema positivado de regras. O positivismo jurídico exige que todas as relações estejam previstas, para que haja uma vinculação expressa à letra da lei, o que deve ser superado pois o ordenamento jurídico é maior e mais complexo [...] “ (Lênio Streck). PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS – Art. 1 o da CF: SOBERANIA, CIDADANIA, DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, PLURALISMO POLÍTICO, VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE INICIATIVA. Normas com natureza de lei, de preceito jurídico, sobrepondo-se às meras regras do direito. Expressam opções políticas fundamentais, eleição de valores éticos e sociais fundantes de Estado e de Sociedade. Princípios Constitucionais Explícitos da ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: Prestam-se imediatamente a: a) orientar a ação do administrador na prática dos atos administrativos (práticas administrativas honestas e eficientes); b) garantir a boa administração, com a correta gestão dos negócios públicos e no manejo dos recursos públicos. Art. 37, “caput”, CF : (princípios constitucionais explícitos) : legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência. Vide: Art. 111 da Constituição do Estado de São Paulo : : legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade, razoabilidade, finalidade, motivação e interesse público. Art. 2 o , “caput”, da Lei Federal n o 9.784/99 (rege o processo administrativo perante a AP federal): legalidade, moralidade, razoabilidade, finalidade, motivação, proporcionalidade, eficiência, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica e interesse público (dentre outros, salienta o próprio texto de lei). Art. 4 o da Lei Paulista n o 10.177/98 (rege o processo administrativo perante a AP estadual): : legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade, razoabilidade, finalidade, motivação e interesse público. Princípio da LEGALIDADE : Ponto fulcral do Estado de Direito e assim princípio basilar do Estado Democrático de Direito, porquanto é lhe é inerente subordinar-se à Constituição e fundar-se na legalidade democrática. Sujeita-se ao império da lei, mas da lei que realize o princípio da igualdade e da justiça social (igualização das condições dos socialmente desiguais). O Direito Administrativo nasce com o Estado de Direito, é conseqüência dele. Ensina LVF :“ O princípio da legalidade é bem mais amplo do que a mera sujeição do administrador à lei, pois abriga, necessariamente, a submissão também ao Direito, ao ordenamento jurídico, às normas e princípios constitucionais. Legalidade e legitimidade : O princípio da legalidade no Estado Democrático de Direito funda-se no princípio da legitimidade (que significa ordem legal e justa). Entende-se pois a lei como “a realização das condições necessárias para o desenvolvimento da dignidade da pessoa humana, à existência de um sociedade justa, livre e solidária”. Poder legítimo é aquele em que quem o detém possui justo título para detê-lo. O poder legal somente será legítimo se exercido com justiça ( Bobbio ). Legitimidade Democrática exige a consagração, pela via legal, dos objetivos (valores) da democracia. O Estado Democrático irradia os valores da democracia a todos os elementos constitutivos do Estado e, também, portanto, à sua ordem jurídica José Afonso da Silva). Legalidade formal não se confunde com legitimidade. HLM aponta a legitimidade como: conformação do ato à lei + moralidade administrativa + interesse público. Para a correta interpretação da legalidade socorrem-nos alguns princípios basilares : Princípio da Finalidade Administrativa : Quem desatende o fim legal desatende à própria lei, gerando ato nulo. A lei não concede autorização de agir sem um objetivo próprio, decerto que alheio aos interesses pessoais do administrador, mas jungido ao interesse público (finalidade geral de toda lei) e à sua finalidade específica. HLM refere-se a esse princípio como o da impessoalidade, pois o fim legal é sempre impessoal. “Não se compreende uma lei, não se entende uma norma, sem entender qual o seu objetivo. Donde, também não se aplica uma lei corretamente se o ato de aplicação carecer de sintonia com o escopo por ela visado. Implementar uma lei não é homenagear exteriormente sua dicção, mas dar satisfação aos seus propósitos” (Bandeira de Mello). PRINCÍPIOS REGENCIAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - FL. 2/5 Princípio da Razoabilidade : A Administração deverá sempre atuar em obediência a critérios aceitáveis do ponto de vista racional, com o senso normal das pessoas equilibradas e respeitosas das finalidades outorgadas à competência. As condutas desarrazoadas, imprudentes, insensatas, arbitrárias, caprichosas serão, portanto, ilegítimas e, daí, invalidáveis, máxime se discricionárias. LVF, com o apoio de HLM, informa que a razoabilidade há de ser aferida segundo os “valores do homem médio”. “Não se poderia supor que a lei encampa, avaliza previamente, condutas insensatas, nem caberia admitir que a finalidade legal se cumpre quando a Administração adota medida discrepante do razoável” (Bandeira de Mello). “A razoabilidade proscreve a irracionalidade, o absurdo ou a incongruência na aplicação (e, sobretudo, na interpretação) das normas jurídicas. É inválido o ato desajustado dos padrões lógicos” (Sundfeld) Princípio da Proporcionalidade: Manifesta a posição de que deve haver proporcionalidade entre os meios e fins (interesse público) administrativos, assim em extensão e intensidade. Se os atos ultrapassarem o necessário – excesso - para alcançar o objetivo que justificao uso da competência haverá ilegitimidade. Lei Federal nº 9.784/99, art. 2°, VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público. “(...) exige proporcionalidade entre os meios de que se utilize a Administração e os fins que ela tem que alcançar. E essa proporcionalidade deve ser medida não pelos critérios pessoais do administrador, mas segundo padrões comuns da sociedade em que vive; e não pode ser medida diante dos termos frios da lei mas diante do caso concreto.” (Di Pietro). Princípio da Motivação : Dever que a Administração possui de justificar os seus atos, apontando-lhes os fundamentos de direito e de fato, assim como a correlação lógica entre os eventos e situações que deu por existentes e a providência tomada. Para CABM, reside na cidadania, eis que a motivação corresponde a um direito político do cidadão, direito esse ao esclarecimento do “porquê” das ações daquele que gere negócios que lhe dizem respeito enquanto titular último do poder. Assim também como direito individual a não se sujeitar a decisões arbitrárias por ilegais. Esse princípio é inerente à Administração democrática, dando ensejo à eficaz apreciação, nas condutas administrativas, da observância dos princípios da legalidade, da finalidade, da razoabilidade e da proporcionalidade, especialmente pelo Poder Judiciário. Lei Federal nº 9.784/99, art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções; III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública; IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório; V - decidam recursos administrativos; VI - decorram de reexame de ofício; VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais; VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo. § 1 o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato. Princípio da MORALIDADE : Está ligado ao próprio conceito de honestidade. A imoralidade administrativa é fundamento de nulidade, porquanto a moralidade constitui pressuposto essencial de validade do ato administrativo. A violação dos princípios éticos administrativos corresponde à violação do Direito. Apresentam-se na forma dos cânones da lealdade e da boa-fé, devendo o administrador proceder sempre com sinceridade. lisura e lanheza, sendo vedado qualquer comportamento astucioso, malicioso ou propositalmente obscuro, eivado de favoritismo ou de pessoalidade, ou ainda divergente dos fins de interesse público. São os padrões comportamentais que a sociedade deseja e espera. A probidade administrativa é um dever do administrador. Diz respeito à dignidade, honestidade, retidão, honra e decoro do cargo público. Mesmos os comportamentos ofensivos à moral comum implicam ofensa ao princípio da moralidade administrativa. É reparável por meio de ação popular. Consiste no dever de servir a Administração com honestidade, sem se aproveitar dos poderes ou facilidades inerentes à sua função, quer em proveito pessoal, quer de outro qualquer. Vide ainda : mordomias, nepotismo, favorecimentos etc. Ademais, “nom omne quod licet honestum est” (nem tudo que é legal é honesto). Os Estatutos e os Códigos de Ética dos Servidores Públicos, assim como as Leis do Processo Administrativo prescrevem a obrigatoriedade do servidor de sempre considerar elemento ético para agir, de forma que além de decidir entre o legal e ilegal, justo e injusto, conveniente e inconveniente, oportuno e inoportuno, deverá também, e principalmente, optar pelo honesto em detrimento do desonesto. Lealdade: este vocábulo, consoante o dicionário Houaiss, possui as seguintes acepções: respeito aos princípios e regras que norteiam a honra e a probidade; fidelidade aos compromissos assumidos; e, caráter do que é inspirado por este respeito ou fidelidade. Fácil, portanto, identificar este princípio, quando aplicado à atividade administrativa, como a obrigação de todo agente público de atuar unicamente com vistas à realização dos fundamentos, valores e objetivos inerentes ao Estado Democrático de Direito. Boa-fé: visa criar um “clima de confiança e previsibilidade no seio da Administração Pública”. Do ponto de vista prático, obriga os agentes públicos a atuarem de forma ética, consoante as lídimas expectativas populares de contar com uma Administração Pública comprometida com os valores democráticos (justiça, honestidade, igualdade etc.). A boa-fé afasta, no plano prático, a crença de que os fins justificam os meios, obrigando o agente público a ajustar seu comportamento aos parâmetros ético-jurídicos, notadamente extraídos da Constituição. Princípio da IMPESSOALIDADE : Significa, primeiramente, que os atos e procedimentos da Administração são imputados não ao funcionário que os pratica, mas ao órgão ou entidade administrativa em nome do qual age. Destarte, o administrado não se confronta com o agente X ou Y que expediu o ato, mas com a entidade cuja vontade foi manifestada PRINCÍPIOS REGENCIAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - FL. 3/5 por intermédio desse servidor. Dessa forma a própria CF proíbe “nome, símbolos, imagens, que caracterizem promoção pessoal de autoridades públicas (art. 37, § 1º). A responsabilidade para com o terceiro é sempre do Estado. A “personalização” somente surge lícita quando da imputação de ilícito funcional, para a responsabilização do agente (JAS). Depois, como afirma CABM, o princípio traduz a idéia que a Administração tem que tratar todos os administrados sem discriminação, sem perseguições ou favoritismos. O interesse pessoal não pode interferir na atividade administrativa. Trata-se de clara manifestação do Princípio constitucional da IGUALDADE (isonomia) dos administrados em face da administração (da não discriminação). Todos são iguais perante a Administração (vide institutos da licitação e do provimento de cargos públicos mediante concurso). Dever da Administração em dispensar tratamento justo e eqüitativo a todos os administrados. Os órgãos dos poderes públicos são representativos de todos os cidadãos (art. 1º, parágrafo único, e 37, I e II, da CF). STF - Súmula Vinculante nº 13: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.” Princípio da PUBLICIDADE : Obrigação do Poder Público ser transparente, dando conhecer aos administrados sua atuação. Trata-se de dever inerente ao Estado democrático. Bobbio aponta a a Democracia como “governo do poder público em público”. Lembra CABM que é um direito político dos cidadãos – os titulares do poder na res publica – sempre saber o que os seus representantes estão fazendo (lembrar princípio da motivação). Vide instrumentos constitucionais como o direito de informação previsto no art. 5 o , XXXIII, o qual, ademais, dispõe sobre a excepcionalidade do sigilo público (quando em jogo a segurança nacional - da sociedade e do Estado - ver Decreto federal nº 79.099/7, investigações policiais ou interessesuperior da Administração a ser preservado em processo previamente declarado sigiloso nos termos da Lei 8.159/91 e Decreto 2.134/97. Idem quanto à administração dos Poderes Judiciário ( segredo de justiça – art. 5º, LX, CF) e Legislativo (seção e voto secreto). Aduz-se, ainda nesse sentido, a necessidade de preservação da intimidade, da vida privada, da honra, da imagem das pessoas (interesse público – a não ser que esse mesmo interesse deduza a publicidade, como em alguns casos de segurança pública ), consoante art. 5 o , X. Garantem também a publicidade os Direitos de Petição e de Certidão, e o Habeas Data. Topicamente disposições em leis específicas, como aquele voltada à disciplina das licitações e contratos administrativos. Lei nº 12.527/11 – Lei do Acesso à informação ou da da Transparência Administrativa. Art. 1 o Esta Lei dispõe sobre os procedimentos a serem observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fim de GARANTIR O ACESSO A INFORMAÇÕES previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do ̕§ 3º do art. 37 e no ̕§ 2º do art. 216 da Constituição Federal. Art. 5 o É dever do Estado garantir o direito de acesso à informação, que será franqueada, mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão. Princípio da EFICIÊNCIA : Fazer com eficiência significa fazer com racionalidade, alcançando considerável grau de utilidade, observada a relação custo-benefício. A eficiência, assim um conceito tipicamente econômico, deve ser entendido, no âmbito administrativo, a partir da idéia de um melhor emprego de recursos existentes (humanos, materiais e institucionais) com vista à otimizada satisfação das necessidades da população, num regime de igualdade de usuários. Implica, pois, na organização e utilização racional desses meios para a prestação de serviços públicos de maior qualidade a todos os consumidores/administrados. Ao agente, sob o qual recai o dever de eficiência, o princípio induz à realização de suas funções com presteza, perfeição e rendimento. Compreende não só a produtividade do agente público, como a adequação do seu trabalho aos princípios regenciais da AP, sempre observando a devida técnica administrativa. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS IMPLÍCITOS : essenciais do regime jurídico administrativo Art. 5º. § 2º, CF: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. INTERESSE PÚBLICO: (vide art. 111 da Constituição do Estado de São Paulo) eis o único interesse que legitima o Poder Público a agir, pois trata da própria razão de ser do Estado, o motivo que leva a sociedade a organizar-se politicamente. Não se deve confundir, entrementes, o interesse público com o produto da soma de todos interesses individuais circunstancialmente identificados. Nem pode ser aleatoriamente presumido em face de uma determinada situação, devendo ser antes pesquisado e aferido junto à Constituição, a Lei Fundamental, onde estará plasmado como o princípio e fim do Estado. Alude aos valores (no mais das vezes de raízes históricas) que alicerçam o Estado e norteiam e legitimam todas as atividades dos Poderes Públicos. Num Estado Democrático de Direito como o nosso pode ser facilmente identificado, logo no Titulo I da nossa Lei Maior, como a realização dos valores da dignidade humana, da soberania nacional e popular, da cidadania, da liberdade, da igualdade, da solidariedade etc. A doutrina italiana, citada por CABM, nos oferta a seguinte distinção. Interesse Público ou Primário: os interesses da coletividade. O único legitimamente perseguível pelo administrador em proveito geral, pois diz respeito a toda a sociedade. Interesse Secundário: os interesses do Estado ( enquanto sujeito de direitos), independente de sua qualidade de servidor de interesses da coletividade. Os interesses que somente condizem com a própria Administração. Um bom exemplo é o do Estado que resiste ao pagamento de indenizações, ainda que procedentes, no afã de despender o mínimo de recursos. Assim não estaria atendendo ao interesse público ( primário ), que é aquele que a lei aponta como sendo o PRINCÍPIOS REGENCIAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - FL. 4/5 interesse da coletividade : o de observância da ordem jurídica e o de bem curar o interesse de todos. Não são válidos se não coincidentes com os primários, os únicos que podem ser perseguidos. “É imprescindível ponderar, também, a distinção entre INTERESSE PÚBLICO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO. Este é meramente o interesse patrimonial da administração pública, que deve ser tutelado, mas não sobrepujando o interesse público primário, que é a razão de ser do Estado e sintetiza-se na promoção do bem-estar social. Nos dizeres de Celso Antônio Bandeira de Mello: "O Estado, concebido que é para a realização de interesses públicos (situação, pois, inteiramente diversa da dos particulares), só poderá defender seus próprios interesses privados quando, sobre não se chocarem com os interesses públicos propriamente ditos, coincidam com a realização deles" (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 19ª edição. Editora Malheiros. São Paulo, 2005, pág. 66.) (STJ. REsp 1356260/SC - Ministro HUMBERTO MARTINS - T2 - SEGUNDA TURMA - 07/02/2013 - DJe 19/02/2013). “AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. GARANTIA DE MEIA ENTRADA AOS DOADORES REGULARES DE SANGUE. ACESSO A LOCAIS PÚBLICOS DE CULTURA ESPORTE E LAZER. 4. Brasil em seu artigo 199, § 4º, veda todo tipo de comercialização de sangue, entretanto estabelece que a lei infraconstitucional disporá sobre as condições e requisitos que facilitem a coleta de sangue. 5. O ato normativo estadual não determina recompensa financeira à doação ou estimula a comercialização de sangue. 6. Na composição entre o princípio da livre iniciativa e o direito à vida há de ser preservado o interesse da coletividade, interesse público primário. 7. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente”. (STF - ADI 3512 / ES –Min. EROS GRAU - Julgamento: 15/02/2006 - Tribunal Pleno - DJ 23-06-06 PP- 03) “1. Na análise da tipicidade material da conduta, para a aplicação do princípio da insignificância, não se mostra razoável a consideração isolada do valor do bem material furtado, desacompanhada da análise do prejuízo causado. 2. No presente caso, por haver ofensa tanto ao interesse público primário (acesso da comunidade universitária aos livros) quanto ao secundário (patrimônio de autarquia federal), não se mostra mínima a ofensividade da conduta, a ponto de possibilitar a aplicação do princípio da bagatela, uma vez que se verifica afronta de alguma gravidade ao bem jurídico protegido. Precedentes. 3. Agravo regimental improvido” (STJ. AgRg no REsp 1049156 / CE – Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR - T6 - SEXTA TURMA - 18/12/2012 - DJe 01/02/2013). É o grande princípio informativo de todo Direito Público (Cretella). Dele extraímos as seguintes conseqüências : Princípio da SUPREMACIA (PREPONDERÂNCIA) DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO: Deste princípio procedem as seguintes conseqüências : posição privilegiada do órgão encarregado de zelar pelo interesse público e de exprimi-lo, nas relações com os particulares; posição de supremacia do órgão nas mesmas relações. São as prerrogativas que a ordem jurídica confere à Administração Pública a fim de assegurar a devida proteção aos interesses públicos, instrumentando os órgãos que os representam para um bom, expedito e resguardado desempenho de sua missão (presunção de veracidade e legitimidade dos atos administrativos, maiores prazos para intervenção no processo judicial, prazos especiais para prescrição de ações em que é parte o Poder Público, poderes etc. ). Tal supremaciasomente se justifica, contudo, em face do correto desempenho da função administrativa, sempre voltada à satisfação de interesses públicos, da coletividade. Logo tais poderes são instrumentais, ou seja, funcionam como instrumento que o administrador DEVE utilizar para alcançar os fins do Estado, ou seja, para satisfazer o interesse público. Portanto “poderes-deveres” ( HLM ) ou deveres-poderes ( CABM ), a serem exercidos no interesse alheio. Importante salientar que a versada supremacia jamais poderá levar ao desprezo e/ou ao aniquilamente dos interesses individuais, constitucionalmente assegurados e que assim devem ser respeitado pela Lei e pela AP. A Lei, e conseqüentemente a AP ao executa-la, somente poderá limitar o exercício dos direitos individuais, na exata medida exigida para o desenvolvimento da vida social. “2. Verifica-se que a remoção para acompanhamento de cônjuge exige prévio deslocamento de qualquer deles no interesse da Administração, inadmitindo-se qualquer outra forma de alteração de domicílio. 4. Ressalto que a jurisprudência deste Tribunal Superior é rigorosa ao afirmar que a remoção requerida pelo servidor para acompanhar cônjuge é ato discricionário, embasado em critérios de conveniência e oportunidade, em que prevalece a supremacia do interesse público sobre o privado” (STJ - REsp 1305040 / RJ - Ministro Herman Benjamin - T2 - segunda turma - 06/09/2012 - DJe 24/09/2012). Princípio da Indisponibilidade (inalienabilidade), pela Administração, do Interesse Público : Segundo este princípio, os bens, direitos, interesses e serviços públicos não estão à livre disposição dos órgãos públicos, aos quais cabe apenas curá-los (dever), como mero gestor da coisa pública, sempre presos à sua finalidade específica. São inapropriáveis. A ordem legal se impõe como a única vontade do administrador. O titular dos interesses públicos será sempre o Estado e nunca a Administração, à qual apenas cabe realizar a vontade estatal consagrada em lei. Não terá, portanto, disponibilidade sobre os interesses públicos confiados à sua guarda e realização (caráter meramente instrumental). Desse princípio decorre a ilegalidade da venda dos bens públicos, sem o preenchimento de determinados requisitos, bem como que a licitação se impõe antes da contratação. A administração, em face de seus fins, não pode alienar e nem ser despojada de seus direitos, que a lei consagrou como internos ao poder público. Princípios da Obrigatoriedade do desempenho da atividade pública e da CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO: traduz dever da Administração em face da lei. O interesse público tem que ser perseguido e prosseguido, uma vez que a lei assim determinou. Daí segue-se o Princípio da Continuidade do Serviço Público, derivado do primeiro e da própria indisponibilidade. Nesse caso, cumpre à Administração assumir e continuar os serviços que os concessionários, com ou sem culpa, não prosseguiram convenientemente. Proibição de dissolução “sponte propria” das pessoas administrativas. Sempre age sob o influxo da legalidade e nos seus limites. Ver a questão das greves. PRINCÍPIOS REGENCIAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - FL. 5/5 Princípio da AUTOTUTELA: A Administração Pública está obrigada a policiar, em relação ao mérito e à legalidade, os atos (administrativos) que pratica, retirando do ordenamento jurídico os atos inconvenientes e inoportunos, pela revogação, e anulando os ilegítimos. Vide Súmulas nº 346 do STF : “a administração pública pode decretar a nulidade dos seus próprios atos” e nº 473 : “a administração pode anular os seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos, ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial”. Previsão hoje basilar das Leis do processo administrativo. Lei Federal nº 9.784/99, art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos. Lei SP nº 10.177/98, art. 8º - São inválidos os atos administrativos que desatendam os pressupostos legais e regulamentares de sua edição, ou os princípios da Administração, especialmente nos casos de: I - incompetência da pessoa jurídica, órgão ou agente de que emane; II - omissão de formalidades ou procedimentos essenciais; III - impropriedade do objeto; IV - inexistência ou impropriedade do motivo de fato ou de direito; V - desvio de poder; VI - falta ou insuficiência de motivação. REVOGAÇÃO: invalidação do ato lícito que não satisfaz o interesse público. ANULAÇÃO: invalidação do ato ilícito. Obs.: não confundi-lo com o princípio da TUTELA ADMINISTRATIVA. , que se prende ao controle que os órgãos da AP Direta realizam sobre as entidades da AP Indireta a eles vinculados, para efeitos de controle finalístico (poder de que dispõe o Estado de conformar o comportamento das suas pessoas auxiliares aos fins que lhe foram legalmente atribuídos – supervisão ministerial). Princípio do CONTROLE JURISIDICIONAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS: De nada valeria a sujeição da Administração à CF e às leis se não fosse possível, perante um órgão imparcial e independente, contrastar seus atos com as exigências dela decorrentes, fulminando-os quando inválidos, de modo a ensejar as reparações patrimoniais cabíveis. Na Europa esse controle geralmente é feito por órgãos independentes e autônomos da própria Administração. No Brasil adotamos o modelo anglo-americano (felizmente para CABM), cabendo exclusivamente ao Poder Judiciário essa atividade de controle (art. 5º, XXXV, da CF). Princípios do DEVIDO PROCESSO LEGAL E DA AMPLA DEFESA: arts, 5º, LIV e LV, da CF, ressaltando-se a expressa menção ao processo administrativo. Entende que aí está consagrada a exigência de um processo formal, regular e justo para que sejam atingidas a liberdade e a propriedade de qualquer pessoa, cabendo à Administração, antes de tomar decisões gravosas a um cidadão, oferecer-lhe a oportunidade de contraditório e ampla defesa, bem como de recorrer das decisões tomadas. Destaque-se a importância do processo administrativo, atualmente regulado por leis específicas - vide União (nº 9.784/99) e SP (nº 10.177/98). Princípio da HIERARQUIA: Conforme CABM e MSZDP é um princípio técnico de organização típico da Administração Pública, inexistente nas funções legislativa e judiciária. Diz respeito à relação de coordenação e subordinação entre os órgãos da Administração estruturados. Dele decorrem certas prerrogativas à Administração, como as de rever os atos dos subordinados, de delegar e avocar atribuições, bem assim o dever de obediência pelo subordinado.
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