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1 Prof. Dr. Daniel Campos de Carvalho Características e Prática do Direito Diplomático e seus temas correlatos Elementos Introdutórios 1. Prática Diplomática Noção de Diplomacia - “A diplomacia sem as armas é como a música sem os instrumentos” (Otto Von Bismarck). A prática diplomática pode ser encontrada mesmo antes do advento dos Estados Nacionais Modernos, sendo nítida herança da Antiguidade Clássica. Durante muito tempo prevaleceu a diplomacia ad hoc, sendo a diplomacia permanente algo relativamente recente. Diplomacia como arte 2. Contexto Contemporâneo do Direito Internacional _ Formas de Depreensão do Fenômeno Jurídico Internacional Constitucionalização do Direito Internacional Direito Internacional passa por um processo de depuração e escalonamento. Características: Normas de Ius Cogens Fortalecimento da Teoria das Fontes Primazia de Direitos Humanos Fragmentação do Direito Internacional Grandes áreas normativas em que se defende o surgimento de um regime jurídico próprio. Características: Proliferação de Normas e Tribunais Internacionais Diferenciação de Corpos normativos específicos Enfraquecimento da coerência Seriam ramos deste processo: O Direito do Comércio Internacional, o Direito da União Europeia, o sistema protetivo de Direitos Humanos e o Direito Diplomático. “The rules of diplomatic law, in short, constitute a self-contained regime which, on the one hand, lays down the receiving State’s obligations regarding the facilities, privileges and immunities to be accorded to the diplomatic missions and, on the other, foresees their possible abuse by members of the mission and specifies the means at the disposal of the receiving State to counter any such abuse. These means are by their nature, entirely efficacious”. (julgamento do “Caso Relativo ao Corpo Diplomático e Consular dos Estados Unidos em Teerã” [EUA vs Irã] – Corte Internacional de Justiça) 2 Plano da Aula _ Princípio básico do Direito Internacional: a noção de território. A principal limitação ao poder do Estado em se próprio território corresponde ao conjunto de situações atinentes à Imunidade de Jurisdição e ao Direito Diplomático. É possível cingir o estudo dos temas afins em três momentos: 1. Órgãos das relações entre os Estados: agentes diplomáticos; representantes consulares; Convenções de Viena de 1961 e 1963; as Missões Especiais. 2. A imunidade de jurisdição dos próprios Estados 3.Os agentes e a Imunidade de jurisdição das Organizações Internacionais 1. Órgãos das relações entre os Estados: agentes diplomáticos; representantes consulares; Convenções de Viena de 1961 e 1963; as Missões Especiais Direito de Legação. Órgãos das Relações entre os Estados: Chefe de Estado, Chefe de Governo, Ministro das Relações Exteriores, Diplomatas e Cônsules. Questão de outros atores. Principais fontes normativas do tema: Convenção de Viena sobre Relações diplomáticas (1961) e na Convenção de Viena sobre Relações Consulares (1963). Princípios a serem seguidos pelos representantes do Estado, no caso brasileiro, estão no art. 4º da Constituição: Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. 3 Agentes por excelência do Direito Diplomático: _ Diplomata: Representa o Estado de origem em assuntos de Estado (concertação política). _Cônsul: Representa o Estado de origem para cuidar de interesses privados (os seus compatriotas que ali residem ou os interesses de exportação ou de importação para o Estado de origem). Funções previstas no art.5º da Convenção de Viena sobre Relações Consulares. Caso que demonstra a importância do cônsul é o artigo 36 da CVRC (direito de assistência consular). Caso Avena. _ Privilégios: Para o bom desenvolvimento das atividades dos representantes do Estado é necessária concessão de certos privilégios, quando em missão no exterior. Privilégios Diplomáticos Exercício – quadro diplomático de carreira + quadro técnico-administrativo (desde que recrutados no Estado de origem da embaixada, por ex. tradutores, contabilistas) + familiares (desde que incluídos na lista diplomática e que não sejam nacionais do país acreditado ou tenham residência fixa nele). Espécies a) Imunidade de jurisdição civil, jurisdição penal e jurisdição tributária. Há Imunidade trabalhista? b) Não são obrigados a testemunhar. c) Detém a inviolabilidade física e dos seus domicílios (que incluem os automóveis), não podendo o lugar da missão ou as residências dos representantes diplomáticos (e do corpo técnico administrativo) serem passíveis de busca e apreensão. _ Inviolabilidade da missão Só é possível entrar no edifício da representação com o consentimento do chefe da missão. Não pode haver busca, requisição, embargo ou medida de execução (art.22 da CVRD). _ Declaração de Persona non grata – art.9º da CVRD Privilégios Consulares _ Exercício: 4 a) Imunidades penal e civil e a inviolabilidade existem apenas no tocante a aos atos de ofícios (aqueles desempenhados durante o trabalho). Não abarca, deste modo, os familiares. A imunidade tributária pode atingir a família e os funcionários consulares, mas apenas quanto à questão tributária e de forma bem específica (art.49). b) Inviolabilidade da missão consular e do domicilio apenas no tocante às questões de ofício. Reenfocando _ Privilégios Diplomáticos x Privilégios Consulares _ A imunidade de jurisdição no Estado acreditado não isenta a jurisdição do Estado acreditante (art.31 da CVRD). Sobre este assunto, ver art.102 da CF. _Renúncia O Estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição. A renúncia deve ser feita pelo Estado, deve ser expressa e não implica na renúncia às medidas de execução da sentença. Caso Balmaceda-Waddington (1906). Missões Especiais Chefe de Estado – Funções do Chefe de Estado brasileiro nas Relações Internacionais (art.84 da CF). Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; (...) XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional; XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional; As imunidades e privilégios previstos na “Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas” devem ser estendidas aos chefes de Estado em missão no exterior (assim com a sua comitiva [inclusive familiares] e nos casos de viagens particulares ou de férias). Deste modo, o Chefe de Estado detém imunidade cível e penal, inviolabilidade pessoal e da área de hospedagem, imunidade tributária, etc. Esta extensão não impede, contudo, que um chefe de Estado seja demandado frente aoTribunal Penal Internacional (art.27 do Estatuto de Roma). Questão controversa da imunidade de ex-chefe de Estado: Historicamente a imunidade de antigos chefes de Estado era admitida, contudo atualmente há uma flexibilização nesta questão – especialmente nos casos envolvendo crimes contra humanidade, mesmo em cortes nacionais. 5 Ministro das Relações Exteriores – O mesmo regramento do chefe de Estado se aplica ao ministro das Relações Exteriores em missão no exterior. Definições Relevantes Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (1961) Artigo 1 – Para os efeitos da presente Convenção: a) "Chefe de Missão" é a pessoa encarregada pelo Estado acreditante de agir nessa qualidade; b) "Membros da Missão" são o Chefe da Missão e os membros do pessoal da Missão; c) "Membros do Pessoal da Missão" são os membros do pessoal diplomático, do pessoal administrativo e técnico e do pessoal de serviço da Missão; d) "Membros do Pessoal Diplomático" são os membros do pessoal da Missão que tiverem a qualidade de diplomata; e) "Agente Diplomático" é o Chefe da Missão ou um membro do pessoal diplomático da Missão; f) "Membros do Pessoal Administrativo e Técnico" são os membros do pessoal da Missão empregados no serviço administrativo e técnico da Missão; g) "Membros do Pessoal de Serviço" são os membros do pessoal da Missão empregados no serviço doméstico da Missão; h) "Criado particular" é a pessoa do serviço doméstico de um membro da Missão que não seja empregado do Estado acreditante, i) "Locais da Missão" são os edifícios, ou parte dos edifícios, e terrenos anexos, seja quem for o seu proprietário, utilizados para as finalidades da Missão inclusive a residência do Chefe da Missão. Convenção de Viena sobre Relações Consulares (1963) Artigo 1º Definições 1. Para os fins da presente Convenção, as expressões abaixo devem ser entendidas como a seguir se explica: a) por "repartição consular", todo consulado geral, consulado, vice-consulado ou agência consular; b) por "jurisdição consular", o território atribuído a uma repartição consular para o exercício das funções consulares; 6 c) por "chefe de repartição consular", a pessoa encarregada de agir nessa qualidade; d) por "funcionário consular", toda pessoa, inclusive o chefe da repartição consular, encarregada nesta qualidade do exercício de funções consulares; e) por "empregado consular", toda pessoa empregada nos serviços administrativos ou técnicos de uma repartição consular; f) por "membro do pessoal de serviço", toda pessoa empregada no serviço doméstico de uma repartição consular; g) por "membro da repartição consular", os funcionários consulares, empregados consulares, e membros do pessoal de serviço; h) por "membros do pessoal consular", os funcionários consulares com exceção do chefe da repartição consular, os empregados consulares e os membros do pessoal de serviço; i) por "membro do pessoal privado", a pessoa empregada exclusivamente no serviço particular de um membro da repartição consular; j) por "locais consulares", os edifícios, ou parte dos edifícios, e terrenos anexos, que, qualquer que seja seu proprietário, sejam utilizados exclusivamente para as finalidades da repartição consular; k) por "arquivos consulares", todos os papéis, documentos, correspondência, livros, filmes, fitas magnéticas e registros da repartição consular, bem como as cifras e os códigos, os fichários e os móveis destinados a protegê-los e conservá-los. 2. A imunidade de jurisdição dos Estados: origem, fundamentos e limites. Imunidade de execução Base legal _ Imunidade é dada pelo costume internacional e não por tratados internacionais. Histórico Durante décadas, não se reconhecia a possibilidade de um Estado se submeter à corte de outro Estado (“Par in Parem no habet imperium”). A maior parte da doutrina reconhece hoje haver uma Imunidade Relativa dos Estados. Distinção entre atos de império e atos de gestão. A impossibilidade de uma corte nacional julgar um Estado pelo cometimento de atos de império. Tal posição é seguida pela jurisprudência interna (a) e pela internacional (b): 7 _ (A) insucesso da tentativa de se processar a república alemã pelo afundamento de barco pesqueiro durante a 2ª Guerra (RO72-RJ/2009). _ (B) Caso “Imunidade Jurisdicional do Estado” (Alemanha vs. Itália/2012) da Corte Internacional de Justiça. As cortes da Itália vinham reiteradamente condenando o Estado alemão a indenizar uma série de italianos por atos cometidos durante a 2ª Guerra. A corte deu ganho de causa à Alemanha, entre outros argumentos, pela atuação do Estado alemão em questão remeter a atos de império. _ Apesar de a imunidade de ser relativa, há outra questão: o processo de execução. Quanto ao processo de execução, a imunidade continua sendo absoluta (jurisprudência, inclusive, do STF). O que fazer neste caso? Duas Hipóteses principais: Pagamento voluntário do Estado Localização de bens desafetados, ou seja, bens que não sejam utilizados para funções públicas (exemplo, Villa Vigoni). Imunidade de Jurisdição de Estado em Seara Trabalhista _ NÃO HÁ IMUNIDADE DE ESTADO ESTRANGEIRO EM SEARA TRABALHISTA. Isto é ponto pacífico na doutrina e na jurisprudência. O problema diz respeito ao fato de que a não há imunidade no processo de conhecimento, mas há no processo de execução. Mesma saída: pagamentos voluntários ou bens desafetados. 3. Imunidade de jurisdição das Organizações Internacionais Imunidade Geral Tese da Imunidade relativa Tese da Imunidade absoluta (mais recente), caso RR-104100-29.2008.5.15.0116. Análise do TST sobre a imunidade de Organizações Internacionais: “A Comissão de Jurisprudência e de Precedentes Normativos do Tribunal Superior do Trabalho, em cumprimento ao disposto no art. 175 do Regimento Interno, publica a edição das Orientações Jurisprudenciais de nºs 412 a 417 da Subseção I Especializada em Dissídios Individuais desta Corte: (...) 416. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. ORGANIZAÇÃO OU ORGANISMO INTERNACIONAL. As organizações ou organismos internacionais gozam de imunidade absoluta de jurisdição quando amparados por norma internacional incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro, não se lhes aplicando a regra do Direito Consuetudinário relativa à natureza dos atos praticados. Excepcionalmente, prevalecerá a jurisdição brasileira na hipótese de renúncia expressa à cláusula de imunidade jurisdicional.” (DO de 15/02/2012) 8 Caso do Haiti. Imunidade de Funcionários de Organização Internacional Caso DSK
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