Buscar

Respostas IED_livro_Betioli_lições_29-30-31-32-33-34-35

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
FACULDADE DE DIREITO
INTRODUÇÃO AO ESTDO DO DIREITO
	
Questões de IED
Capítulo XXIX – Interpretação do Direito
Que significa hermenêutica?
R.: Hermenêutica, no sentido mais geral, é a interpretação do sentido das palavras.
Em que acepções é usado o termo “hermenêutica jurídica”?
R.: Com frequência o termo hermenêutica jurídica é usado como sinônimo de interpretação da norma jurídica. Outros autores distinguem hermenêutica (cunho teórico) de interpretação (cunho prático). A visão mais moderna entende o termo no sentido mais amplo, ou seja, abrangendo a interpretação, a aplicação e a integração do Direito.
Qual é a sua definição de hermenêutica jurídica? Justifique.
R.: Entendo que a a definição mais moderna e ampla do conceito de hermenêutica seja a mais envolvente. Nesse sentido a hermenêutica jurídica estuda e sistematiza os processos de interpretação, aplicação e integração do direito. Em suma, estuda como o direito se realiza.
Qual é a correlação existente entre a interpretação, a aplicação e a integração do direito?
R.: A interpretação, aplicação e integração do Direito são momentos contínuos do processo contínuo de realização do Direito e não devem ser entendidos como dissociados um do outro. O direito deve ser entendido para ser aplicado e somente na sua aplicação o direito é integrado.
Em que consiste a tarefa da interpretação jurídica?
R.: A tarefa de interpretação jurídica consiste em dois momentos (hermenêuticos), um cognitivo ou de conhecimento e outro prático de realização do direito. A interpretação jurídica não se esgota em um momento de análise contemplativa uma vez que o intérprete conhece para agir, decidir, para realizar o direito. 
Que significa revelar o sentido da norma jurídica?
R.: Revelar o sentido da norma jurídica significa não só entender o significado das palavras, mas também descobrir a finalidade da norma jurídica. Assim, revelar o sentido das palavras é interpretar e interpretar é compreender o sentido, entender os fenômenos em razão dos fins para os quais foram produzidos.
Apenas as leis devem ser interpretadas? Por quê?
R.: Não. Apesar de serem o objeto principal da interpretação, as leis não são as únicas a serem interpretadas. Todas as normas jurídicas – legais, jurisdicionais, costumeiras e negociais – também estão sujeitas à interpretação. Isso ocorre pois o processo de intepretação abrange o conhecimento dos efeitos da norma à situação concreta e isso se aplica a todas as normas jurídicas conforme mencionado anteriormente. 
Qual a sua opinião sobre o brocardo in claris cessat interpretativo?
R.: O brocardo, que diz “dispensa interpretação quando o texto é claro” já parece superado. Ainda que as palavras de uma norma sejam claras não se deve deixar de interpretá-las pois, (i) clareza é um critério subjetivo, o que é claro para uns pode não ser para outros; (ii) os termos podem ter um significado no linguajar comum e adquirir outro enquanto usados em linguajar técnico ou próprio e, por fim (iii), a LINDB diz, em seu art. 5º, que todas as normas devem ser interpretadas considerando o seu fins sociais e as exigências do bem comum.
Quando a interpretação é denominada autêntica? Exemplifique.
R.: A int6erpretação é denominada autêntica quando emana do próprio poder que fez o ato cujo sentido e alcance ela declara. Assim, apesar de diferentes entendimentos, um regulamento que especifica o funcionamento de uma lei pode ser considerado autêntico. Nesse sentido ou é emanado pela mesma pessoa, ou por poder hierarquicamente igual ou superior. Mais estritamente, uma lei interpretativa, ou seja, aquela feita para explicar o funcionamento de outra lei é o caso mais claro de interpretação autêntica.
Um magistrado pode emitir uma interpretação administrativa? Por quê?
R.: Sim, pois um magistrado enquanto atuando em uma função administrativa pode proferir um uma decisão fruto de uma interpretação administrativa. Nesse caso a decisão vinculará as autoridades que estiverem naquele âmbito administrativo sob o alcance da regra interpretada, não atingindo quem estiver fora desse alcance.
Qual a diferença entre a interpretação literal e a lógico-sistemática?
R.: Enquanto a interpretação literal se atém somente ao alcance de cada uma das palavras, ou seja, ocupa-se com questões léxicas da norma, a interpretação lógico-sistemática busca descobrir o sentido e alcance da norma, situando-a no conjunto do sistema jurídico. Busca entender a norma como integrante de um todo, suas conexões com outras normas que com ela se articulam logicamente. Considera sua unidade e coerência para que a interpretação não gere conflito com outras normas.
Qual é a diferença entre a interpretação histórica e a teleológica?
R.: A interpretação histórica indaga as condições de meio e momento da elaboração da norma jurídica bem como as causas que levaram o legislador a formulá-la à época. Considera-se, portanto, as condições da norma na dimensão do tempo em que ela se formou. A interpretação teleológica é aquela que busca o fim, os valores que a norma pretende servir ou tutelar (ratio legis)
Como se explica a possibilidade da interpretação extensiva e restritiva? Exemplifique.
R.: A interpretação extensiva é aquela feita de modo a entender que os valores e sentido de alcance da norma são mais amplos do que o teor literal da norma indica. Dessa forma o sentido teleológico é compreendido pelo intérprete de modo mais amplo que os seus termos literais indicam. Já a interpretação restritiva é o inverso, quando o texto da norma indica mais amplitude do que o intérprete conclui. Nesse caso a amplitude das palavras são limitadas pelo intérprete para que não incida além daquilo que o sentido teleológico faz crer razoável.
Quando ocorre a interpretação declarativa ou especificadora?
R.: A interpretação declarativa ou especificadora ocorre quando se limita a declarar ou especificar o pensamento expresso na norma jurídica, sem ter necessidade de estendê-la a casos não previstos ou restringi-la mediante a exclusão de casos inadmissíveis.
(Texto longo, não copiei)
R.: (C)
Assinalar a alternativa incorreta:
R.: (A)
Questões de IED
Capítulo XXX – Escolas de Interpretação
Quando a interpretação jurídica começou a se constituir como teoria?
R.: Somente após a promulgação dos Códigos de Napoleão, especialmente o Código Civil de 1804 que a interpretação jurídica ganha relevo passando a constituir uma teoria.
Que significa o dogmatismo legal da Escola da Exegese?
R.: O dogmatismo legal ou legalismo representava o pensamento dominante da Escola da Exegese e pregava a supervalorização ou autossuficiência do código, sendo esse capaz de encerrar todo o direito em si. Sendo assim, na lei positiva, especialmente no Código Civil, encontrava-se a possibilidade de solução para todos os casos que viessem a ocorrer na vida social. O código não apresentava lacunas.
Segundo os ensinamentos da Escola da Exegese, como intérprete devia comportar-se perante o texto legal e por que o Estado aparecia como único autor do direito?
R.: Os ensinamentos da Escola da Exegese ditavam que não deveria haver arbítrio por parte do intérprete uma vez que todo o direito estaria escrito nas leis. O intérprete adquiriu função mecânica pois deveria ater-se rigorosamente ao texto legal sem procurar solução fora ou estranha a ele. O Estado aparecia como único autor do direito como consequência do fato de todo o direito estar contido nas leis e o Estado deter o monopólio da criação da lei e do código.
Comente e critique, se for o caso, a importância da vontade do legislador segundo a Escola da Exegese.
R.: Segundo a Escola da Exegese seu principal objetivo ao interpretar as leis era identificar a vontade do legislador ao criar aquela regra. Prevalecia o caráter retrospectivo da ideia de fonte, cujo conteúdo ficava vinculado ao seu processo de instauração. Era, com certeza uma visão limitante ao processo de interpretação uma vez que criavauma obrigação que poderia ser impossível, ou seja, recuperar as exatas condições que levaram à criação da lei em seu momento de gênese pelo legislador.
Como a Revolução Industrial contribuiu para o declínio da Escola da Exegese?
R.: Com o advento da revolução industrial aumenta drasticamente a complexidade das situações e relações sociais. Novas tecnologias, uso de ferramentas e processos produtivos nunca antes praticados levaram ao surgimento de situações nunca antes imaginadas pelos regramentos legais. Com isso, cada vez mais surgiam lacunas nos códigos criados no começo do século XIX, o que colocou em crise e decadência a Escola da Exegese.
De que forma a Escola Histórico-Evolutiva via a lei como objeto da interpretação?
R.: A Escola Histórico-Evolutiva, de forma a se opor ao racionalismo que levou à codificação do início do século XIX, via a lei como algo a ser atualizado ao longo do tempo. Assim, o direito residia nos usos e costumes e na tradição popular. A lei, portanto, seria uma realidade histórica que se situava na progressão do tempo, desprendendo-se do legislador e acompanhando as mudanças sociais.
Que significa a interpretação atualizadora proposta pela Escola Histórico-Evolutiva?
R.: Como a lei é uma realidade histórica, ao intérprete caberia a adaptação do texto legal às novas realidades e exigências da vida social. O intérprete faz então uma leitura atualizadora dos pensamentos da época da gênese da lei para o presente.
Quais são as falhas do método histórico-evolutivo?
R.: Apesar de suas qualidades, o método histórico-evolutivo também foi alvo de críticas, principalmente pelo excesso de elasticidade no processo interpretativo o que tornaria exagerada essa adaptação das normas ao longo do tempo. Outra crítica que se faz é sobre a incapacidade de suprir as lacunas da lei pois seria impossível atualizar algo que não existe.
Quando a lei não correspondia mais aos fatos supervenientes, como a Escola da Livre Investigação Científica do Direito resolvia a questão?
R.: Quando se verificasse que a lei não mais correspondia aos fatos supervenientes deve-se ter a franqueza de reconhecer a lacuna e procurar por outros meios supri-las. Não se deve forçar a lei a dizer o que o legislador não idealizou para ela e sim buscar outras fontes, costumes e analogia, os mecanismos para resolver o caso concreto.
Em que consiste o trabalho da “livre pesquisa científica” do direito, segundo Gény?
R.: Quando há lacuna na lei e não existe costume supletivo para a lacuna legal observada o juiz deve realizar um “trabalho científico” de livre pesquisa do Direito com base na observação dos fatos sociais para determinar a norma jurídica que resolva o caso concreto.
Qual é a tese básica da Corrente do Direito Livre? Nela, segundo sua opinião, o que é elogiável e também objeto de crítica?
R.: A Corrente do Direito Livre foi uma expressão de revolta contra o monopólio estatista do direito e focava sua luta nas lacunas do direito, apostando na capacidade criativa dos juízes para preenchê-las. A atividade do juiz estaria então aberta de forma bastante criativa na solução de cada caso sempre com o objetivo de perseguir a justiça em cada situação concreta. 
O intérprete deve buscar o sentido da lei ou o sentido do que quis o legislador ao elaborar a lei? Justifique.
R.: O intérprete deve buscar o sentido da lei e especialmente de forma que faça sentido à realidade social de aplicação daquela lei. Procurar pelo sentido que quis dar o legislador no momento da gênese dessa lei não tem grande apelo pois o legislador pode ter feito isso com grande distanciamento no tempo e, com isso em outra realidade social, histórica e de valores. A interpretação pode ser atualizada ate quando faça sentido para os casos concretos, devendo ser então substituída para uma nova realidade social.
Interprete a afirmação de que “a lei é mais sábia do que o legislador”.
R.: A lei é mais sábia que o legislador pois muitas vezes as intenções iniciais do legislador ao criar uma norma não preveem uma série de situações a que aquela lei poderá resolver no futuro, inclusive com mudanças na complexidade das relações sociais. Por isso não se deve ater ao desejo do legislador no momento da gênese para compreender o alcance de uma norma.
Questões de IED
Capítulo XXXI – Processo do Ato Interpretativo
Quer significa o caráter unitário do ato interpretativo?
R.: A interpretação jurídica tem caráter unitário uma vez que os diferentes momentos de interpretação – literal, lógico-sistemático, histórico-evolutivo e teleológico – ocorrem de forma integrada, não sendo suscetíveis de consideração unitária e de forma isolada.
Quais são os principais momentos do processo interpretativo? Eles se excluem ou são antagônicos entre si?
R.: Os principais momentos do processo interpretativo são o literal, gramatical ou filológico, lógico-sistemático, histórico-evolutivo e teleológico ou finalístico. Nenhum desses momentos se excluem ou se antagonizam. Todos eles se implicam e se completam, ajudam-se e combinam-se para dar ainda mais sentido e alcance para a norma que está sendo interpretada.
Que vem a ser a interpretação literal ou gramatical? Que nela deve ser repudiado?
R.: A interpretação literal ou gramatical é aquela em que se procura estabelecer o sentido objetivo da lei com base em sua letra, no valor e significado das palavras, no exame da linguagem dos textos e sua função gramatical, na consideração do significado técnico dos termos.
Que busca o momento lógico-sistemático? Qual a sua importância?
R.: no momento lógico-sistemático busca-se descobrir o sentido e alcance da lei, situando-a no conjunto do sistema jurídico; considerando-a, portanto, parte integrante de um todo. Nesse momento busca-se preservar a harmonia e coerência do sistema legal.
Que se procura apreender no momento histórico-evolutivo? Nele, como a lei é vista?
R.: O momento histórico-evolutivo permite apreender as ideias e os interesses dominantes por ocasião da elaboração da lei: como surgiu, por que surgiu, quais as condições sociais do momento em que surgiu, quais os motivos que levaram à sua aprovação etc. Nesse momento o que se busca é a compreensão do espírito da lei (e não da vontade do legislador), que deve sempre corresponder às necessidades e condições sociais atuais.
Qual a concepção de “fim da lei”, segundo Jhering e Miguel Reale?
R.: Para Jhering fim da lei significava a finalidade da lei, muito calcando-se no sentido de uma forma de interesse da lei. Para Miguel Reale a lei é antes vista como um valor cujo legislador teve como intenção preservar ou atualizar, armando-o de sanções; assim como pode ser da lei a finalidade de impedir um desvalor. Assim toda interpretação jurídica é de natureza teleológica (finalística) fundada na coexistência axiológica (valorativa) do Direito.
O nosso direito positivo sufragou a exegese teleológica? Justifique.
R.: Sim, as normas positivadas pelo nosso direito indicam em vários momentos seu caráter teleológico como por exemplo nas leis trabalhistas: o aviso prévio tem por fim possibilitar ao empregado a obtenção de novo emprego, as férias a restauração de suas energias etc.
Que significa, no terreno interpretativo, a consagração legislativa dos princípios contidos no art. 5º da LINDB?
R.: Significa que o direito brasileiro acolheu a exegese teleológica uma vez que determina que na aplicação da lei o magistrado deverá atender aos fins sociais a que a lei se destina e às exigências do bem comum. Essa é então uma diretriz básica do ordenamento brasileiro com poder de vincular o aplicador do direito.
Demonstre a legitimidade de uma lógica jurídica.
R.: A lógica jurídica é uma lógica valorativa. Entendendo-se lógica como a ciência do raciocínio subdivide-se em lógica formal e lógica material, ou seja, aquela que leva em conta a forma e também o conteúdo, a regra. Assim, para o Direito, não se pode levar em consideração somente a lógica formal mas também a lógica material, aquela queleva em conta o conteúdo específico das regras jurídicas e a matéria sobre que incide a decisão jurídica à luz dos valores que se quer preservar.
Que significa dizer que o trabalho do intérprete é de natureza lógico-axiológica?
R.: Significa dizer que a atividade de interpretação leva, além das questões formais em seu processo, as questões materiais, ou seja, os valores envolvidos e que devem ser preservados no processo lógico.
Explique a dupla visão da norma no processo interpretativo: retrospectiva e prospectiva.
R.: Considerando-se que a interpretação de toda norma jurídica é de natureza teleológica ou finalística, o intérprete deve sempre buscar a finalidade social da norma no seu tempo. A interpretação busca a apreciação dos fatos e valores nos quais a norma se originou (visão retrospectiva) e em função dos fatos e valores que a norma terá que cuidar futuramente (visão prospectiva). 
Comente esta afirmação de Emilio Betti: “Interpretar não é apenas renovar o conhecimento de uma manifestação do pensamento, mas tornar a conhece-la para integrá-la na vida de relação”. 
R.: A atividade de interpretação jurídica, diferente de outras atividades interpretativas, permite e requer do intérprete um trabalho criador constante em que a cada momento o levará a uma nova compreensão do texto legal segundo ponderações valorativas que se alteram e se modificam ao longo do tempo. Essa nova interpretação com o passar do tempo pode dar à norma um novo sentido, às vezes muito diferente do proposto no momento inicial pelo legislador no momento de sua gênese. 
Questões de IED
Capítulo XXXII – Aplicação e Integração do Direito
Em que consiste a aplicação do direito, em sentido técnico?
R.: A aplicação do direito no sentido técnico ocorre quando a execução da lei é feita por uma autoridade judicial ou administrativa, por dever de ofício. Nesse sentido, a a aplicação do direito consiste, então, em submeter o fato concreto à norma que o regula. Transforma a norma geral e abstrata em norma individual e concreta.
Como se dá a aplicação de uma lei para aqueles que a reduzem à estrutura de um silogismo?
R.: Para aqueles que reduzem a aplicação da lei a um silogismo o processo consiste em deduzir uma conclusão de duas premissas que a antecedem (premissa maior, premissa menor e conclusão). Assim, na aplicação da lei por essa estrutura a lei seria a premissa maior, a enunciação do fato a premissa menor e a decisão da sentença a conclusão. Essa é uma compreensão formalista do direito, do normativismo jurídico, daqueles que consideram o direito essencialmente um conjunto de normas.
A aplicação do direito consiste numa questão de lógica formal?
R.: Não. Para boa parte dos pensadores mais modernos a aplicação do direito é uma atividade muito mais complexa, pois envolve uma correlação de fatores lógicos, axiológicos e fáticos. Com base nos elementos fáticos o juiz irá então aplicar a norma sem deixar de ponderar os valores envolvidos em questão.
Por que a sentença do juiz não é mero silogismo?
R.: A sentença do juiz não é mero silogismo pois a norma não vem antes e o fato depois como prega o silogismo rígido, esses elementos surgem concomitantemente, ou seja, as normas são interpretadas no contexto da situação de fato e os fatos, por sua vez, devem ser entendidos a partir de sua referência legal. Por isso o juiz vai da norma ao fato e vice-versa a todo momento até formar sua convicção jurídica sobre a situação.
Por que a atitude do aplicador do direito não pode ser aquela de um “ente inanimado”, concebida por Montesquieu?
R.: A atitude do aplicador do direito não pode ser de um ente inanimado pois cada situação fática depende de uma interpretação da norma de forma valorativa e não de forma automática. A mesma norma não necessariamente se aplica da mesma forma em duas situações distintas, a não ser em situações muito simples.
Que são as lacunas? Sua existência é possível?
R.: Lacunas são aqueles momentos em que se verificam fatos que não conseguem ser tratados pelas normas jurídicas pois não foram previstos. Sua existência é possível anda mais nos tempos atuais em que as transformações sociais são muito mais rápidas do que a capacidade do legislador de se adaptar a essas mudanças.
Que vem a ser a integração do direito? Qual a diferença entre autointegração e heterointegração?
R.: Sempre que se verificar uma lacuna no direito esta deverá ser preenchida pelo aplicador mediante a integração do direito. Sendo assim, a integração do direito é o processo de preenchimento das lacunas existentes na lei. A autointegração é o processo pelo qual o próprio ordenamento se completa, recorrendo à própria lei (processo de analogia). A heterointegração é a técnica pela qual a ordem jurídica se completa, lançando mão de fontes diversas da dominante, como por exemplo o costume e a equidade.
Os elementos de integração constituem fontes do direito? Por quê?
R.: Não, os elementos de integração não se confundem com as fontes do direito ou com os processos de interpretação pois não formulam diretamente a norma jurídica, apenas orientam o aplicador para localizá-las. Igualmente não é atividade de interpretação porque não se ocupa em definir o sentido e o alcance das normas jurídicas.
Qual a diferença entre a interpretação jurídica e a integração do direito?
R.: A integração do direito não se ocupa em definir o sentido e alcance da norma jurídica. A interpretação parte da norma existente e na integração parte-se da inexistência da lei.
O juiz pode deixar de sentenciar, alegando lacuna na lei?
R.: Não. Se for verificada lacuna na lei, quer seja voluntária ou involuntária, o juiz deve lançar mão de outras ferramentas para resolver a questão, quais sejam elas a analogia, os costumes e os princípios gerais. Pois, apesar de se verificarem lacunas em pontos específicos, o ordenamento jurídico deve ser capaz de tratar de todas as situações fáticas que surgirem.
Explique o princípio ou postulado jurídico que torna possível a integração do direito.
R.: O postulado da “plenitude da norma jurídica” indica que ordenamento jurídico não pode deixar de conter soluções para todas as questões que surgirem na vida de relação social. No ordenamento jurídico existem princípios e normas latentes capazes de solucionar situações não previstas expressamente pelo legislador.
Por que meios se integra o direito? A equidade tem também a função de colmatar lacunas?
R.: O direito se integra por meio da analogia, costumes, princípios gerais e equidade. A equidade, apesar de não estar prevista no art. 4° da LINDB e na CF atual, já esteve prevista anteriormente na CF de 1934 e é aceita como forma de integração pelos juízes.
O uso da analogia exclui de antemão o recurso a outro meio de integração, como os princípios gerais de direito?
R.: Apesar de alguns autores entenderem que sim, outros, como Miguel Reale entendem que o apelo à analogia não impede que recorramos, concomitantemente, aos costumes e princípios gerais. Dessa forma, a analogia ganha ainda mais força se correlacionada aos princípios gerais.
Qual a sua opinião sobre o chamado “direito alternativo”?
R.: O direito alternativo parte do pressuposto de que em face do conflito de normas ou da sua imprecisão significativa, deve o intérprete optar por aquela interpretação que esteja mais comprometida com a democracia e os interesses das classes e grupos menos privilegiados dentro do contexto social. Essa é uma forma de interpretação do direto que atende muitas das discrepâncias sócias visíveis atualmente e depende fortemente do uso da hermenêutica para sua aplicação.
Na aplicação do direito, o juiz tem autonomia de ação? Justifique.
R.: Sim, o juiz tem autonomia de ação na aplicação do direito uma vez que deve, a cada caso concreto realizar uma interpretação valorativa das normas para que sejam aplicadas de forma mais adequada (e não automatizadas) à questão.
Como conciliar o princípio de que “tudo o que não está proibido está permitido”, com a afirmaçãoda existência e lacunas nas leis? 
R.: O princípio de que tudo que não está proibido está permitido é compatível com o reconhecimento de que existem lacunas na lei, porém o ordenamento jurídico jamais pode ter lacunas. Assim, todo comportamento ou está definido por uma norma específica (positiva) ou se encontra qualificado por uma norma geral negativa ou exclusiva (tudo o que não está proibido, está permitido).
Das asserções a seguir relacionadas, é verdadeira a que afirma:
R.: (D)
Questões de IED
Capítulo XXXIII – Analogia
Como você descreve o processo analógico?
R.: A analogia vem a ser um recurso técnico que consiste em se aplicar a um caso não previsto pelo legislador uma norma jurídica prevista para um outro caso fundamentalmente semelhante ao não previsto.
A analogia é fonte do direito? Justifique.
R.: A analogia não é fonte do direito pois não está formulando uma norma, somente auxiliando o intérprete e aplicador do direito a localizar a forma de resolver a situação concreta colocada. 
Que vem a ser “paradigma”, no processo analógico?
R.: No processo analógico, paradigma é a norma prevista pelo legislador e que apresenta semelhança fundamental, não apenas acidental, com o caso não previsto. A tarefa do aplicador do direito será localizar no ordenamento jurídico vigente esse paradigma.
Explique o princípio jurídico que justifica o uso da analogia.
R.: A analogia fundamenta-se no princípio da igualdade jurídica, o qual exige que os casos semelhantes devem ser regulados por normas semelhantes. É necessário, então, que haja semelhança material (uma propriedade que seja comum a ambos) de casos e identidade de razão (mesmo motivo ou razão para que o caso não previsto pelo legislador seja decidido de igual modo).
Qual a distinção entre analogia legis e analogia juris?
R.: A analogia legis ou legal consiste na aplicação de uma norma existente destinada a reger caso semelhante ao não previsto. O paradigma, no caso, se localiza em determinado ato legislativo. A analogia juris ou jurídica se fundamenta em um conjunto de normas para extrair elementos que possibilitem sua aplicabilidade ao caso não previsto (várias disposições legais que disciplinem instituto semelhante descobre-se a norma aplicável ao caso não previsto – pela combinação de muitas outras).
Além de uma operação lógica, há de se falar também em uma valoração na analogia? Por quê?
R.: Sim, pois a analogia não se reduz a um processo lógico-formal. Nesse processo também se verifica uma averiguação valorativa ou axiológica, ou seja, uma ponderação de valores. Numa situação de analogia os juízos devem ser utilizados para chegar a uma igualdade não apenas verdadeira, mas também justa.
Qual o pensamento de Reale quanto à distinção entre analogia legis e analogia juris?
R.: Miguel Reale entende que somente existe a analogia legis como espécie de analogia. A analogia juris nada mais representaria do que o aproveitamento dos princípios gerais do direito, deixando de ser analogia e penetrando no campo daqueles princípios gerais para suprir a deficiência legal.
Como você diferencia a analogia da interpretação extensiva?
R.: Na interpretação extensiva o caso é diretamente previsto pela lei, mas com insuficiência verbal ou impropriedade de linguagem, já que a interpretação da lei revela um alcance maior da lei. Não há que se falar aqui em lacuna da lei. Na analogia parte-se do princípio de que há lacuna na lei e não se trata de insuficiência verbal ou impropriedade da linguagem. Daí a pesquisa que se faz na legislação a fim de se localizar um paradigma, um fato-tipo semelhante ao não previsto em lei. 
Em que campos do direito se exclui o uso da analogia? Exemplifique.
R.: Exclui-se a analogia no direito penal para efeitos do enquadramento em figuras delituosas, em penas ou como fator de agravamento destas, no direito fiscal quando for para impor tributos ou penas ao contribuinte e também no tocante às normas de execução, que restringem ou suprimem os direitos.
Que vem a ser o princípio da reserva legal? Que espécie de analogia é admitida no direito penal?
R.: O princípio da reserva legal consiste em considerar que a conduta não prevista legalmente como crime é penalmente lícita. Nesse sentido só se admite o uso da analogia no direito penal para os casos em que haja benefício ao réu, como por exemplo a exclusão da pena nos casos de aborto praticados por mulheres vítimas de atentado violento ao pudor. 
Questões de IED
Capítulo XXXIV – Princípios Gerais do Direito
Que são princípios, em sentido lógico?
R.: Princípios em sentido lógico são verdades ou juízos fundamentais que servem de alicerce ou de garantia de certeza a um sistema de conhecimento, filosófico ou científico.
Coimo você define os princípios gerais do direito?
R.: Na definição de Reale, princípios gerais de direito são enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas. São ideias fundamentais e informadoras do ordenamento jurídico; inspiram e lhes dão embasamento.
Os princípios gerais de direito são omnivalentes, plurivalentes ou monovalentes. Justifique.
R.: São omnivalentes enquanto válidos em qualquer ciência, como os de identidade, de causa eficiente e da não contradição; plurivalentes quando se aplicam a vários campos do conhecimento, como o da finalidade; e monovalentes quando são válidos somente para determinada ciência, como é o caso dos princípios gerais de direito, aplicáveis somente à ciência do direito.
Aos princípios gerais de direito cabe apenas a tarefa de suprir as lacunas encontradas na legislação?
R.: Não, os princípios cumprem função muito mais ampla do que somente suprir as lacunas da legislação. Os princípios dão consistência ao direito enquanto os valores dão-lhe sentido. Os princípios têm valor metodológico quando são usados para orientar o conhecimento, a interpretação e a aplicação das normas; e uma função axiológica quando exprimem valores fundamentais que inspiram o legislador e legitimam o direito positivo (justiça, segurança, bem comum etc).
Os princípios gerais de direito precisam constar do texto legal para serem eficazes?
R.: Não, os modelos hermenêuticos ou dogmáticos, como os princípios gerais de direito não precisam necessariamente constar do texto legal para que sejam eficazes. De qualquer forma eles representam enunciações doutrinárias fundamentais.
Cite exemplos de princípios gerais de direito que, entre nós, encontram-se inseridos em texto legal.
R.: Princípio da isonomia, ou seja, da igualdade de todos perante a lei; princípio de irretroatividade da lei para proteção dos direitos adquiridos; princípio da legalidade, isto é, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; ou ainda a previsão de ninguém pode se eximir de cumprir a lei alegando que não a conhece e o previsto no art. 112 do CC/02 que diz que a declaração de vontades se atenderá mais a intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. 
Como ocorre a inserção de princípios gerais de direito no ordenamento jurídico?
R.: A inserção dos princípios gerais de direito no ordenamento jurídico opera-se através das fontes do direito, a começar pelo processo legislativo, mas, mais frequentemente, através da atividade jurisdicional e a formação de precedentes judiciais, bem como através dos usos e costumes e da prática dos atos negociais.
Como o positivismo jurídico explica a natureza dos princípios gerais de direito?
R.: O positivismo jurídico defende a tese de que os princípios gerais de direito são os consagrados pelo próprio ordenamento jurídico. Estão implícitos na legislação positiva, da qual são abstraídos por um processo de abstração e indução. São, portanto, originários das normas positivadas.
Como Miguel Reale explica a natureza e origem dos princípios gerais de direito?
R.: Miguel Reale aceita uma concepção transcendentaldo direito natural, no sentido de só admiti-lo em função da experiência histórica. A experiência jurídica implica uma constante valorativa que, ao longo do tempo se revelam constantes éticas inamovíveis, como os conceitos de pessoa humana, dignidade etc.
Qual a diferença entre princípios gerais de direito imediatos e mediatos?
R.: Os princípios gerais de direito imediatos expressam, de maneira direta, os valores essenciais e conaturais a qualquer forma de convivência ordenada. São considerados imediatos em relação às constantes axiológicas de que promanam. Os princípios gerais de direito mediatos, que se harmoniza com os primeiros e que a eles se subordinam, ou representam exigências jurídicas características de todo um ciclo histórico, ou então traduzem formas de compreensão que fundamentam o ordenamento jurídico de cada povo. 
Os brocardos jurídicos sempre traduzem princípios gerais de direito? Justifique.
R.: Não, nem sempre. Alguns brocardos traduzem sim princípios gerais de direito porém outros reproduzem dizeres que hoje já estão amplamente superados, até mesmo considerados erros, como por exemplo o que diz interpretativo cessat in claris (dispensa-se a interpretação quando o texto é claro).
Qual deve ser a atitude do jurista na aplicação dos brocardos jurídicos em geral? Justifique.
R.: O jurista não deve nem desprezar e nem super-valorizar os brocardos jurídicos. Uma vez que existem situações que os brocardos reproduzem “erros”, situações já superadas e outros que reproduzem valores de forma bastante fiel, eles devem ser considerados com bastante critério por parte de quem os analise e utilize.
Quando preencho uma lacuna por meio de um princípio geral de direito, posso usar o princípio em suas duas modalidades: como modelo hermenêutico e como modelo jurídico stricto sensu? Explique.
R.: Sim, pois o preenchimento de uma lacuna por um princípio geral de direito pode se valer de um princípio que esteja positiviado, e dessa forma estará sendo usado de forma strictu sensu ou, caso o princípio não esteja positivado, pode ser usado como modelo hermenêutico, ou seja, como modelo axiológico para interpretação do caso e aplicação do princípio.
Questões de IED
Capítulo XXXV – Equidade
Qual o critério distintivo da equidade?
R.: A equidade tem como caráter distintivo o fato de sempre levar em conta o que há de particular em cada caso concreto, em cada relação, para dar-lhe a solução mais justa.
Como elemento de integração, qual a função da equidade e como pode ser definida?
R.: Como elemento de integração, a equidade exerce função supletiva quanto às lacunas involuntárias e, às vezes, voluntárias. Nessa função a equidade pode ser vista como o direito do caso concreto. Leva em conta o que há de particular no caso concreto, em cada relação, para dar-lhe a solução mais justa.
Qual a função da equidade como elemento de adaptação por ocasião da aplicação do direito e como pode ser definida?
R.: Enquanto na função de elemento de adaptação por ocasião da aplicação do direito a equidade exerce um papel corretivo para sanar defeitos oriundos da generalidade das leis. 
Por que a equidade, como elemento de adaptação, é necessária?
R.: Uma vez que a norma pode ser concebida de forma genérica demais, pode ser difícil a sua correta aplicação. Como as normas não podem se adaptar espontaneamente à evolução dos costumes e tábua de valores da sociedade, sua rigidez pode causar uma desproporção entre a regra e às necessidades sociais. Nesse sentido a equidade tem função de diminuir ou eliminar essa rigidez da norma e humanizar o direito positivado.
Como você interpreta a lição vinda dos romanos expressa na afirmação: summum jus, summa injuria?
R.: A aplicação rígida e automática da lei pode tornar-se um instrumento de injustiça, que é o que esse provérbio nos traz de lição, mostra que a equidade pode ser o elemento que equilibra essa balança, ou seja, impede que o excesso de justiça se torne uma injustiça. A aplicação excessivamente rígida da norma pode levar a uma decisão injusta.
Que dizer da parêmia dura lex, sed lex (a lei é dura, mas é lei) em contraposição à equidade?
R.: A função da lei não é ser dura, mas ser justa. A equidade está presente para justamente atenuar a “dureza” da lei e fazer com eu ela seja aplicada de forma justa ao caso concreto.
Explique por que Aristóteles comparava equidade à “Régua de Lesbos”.
R.: A régua de lesbos era uma régua que permitia medir certos blocos de granito. A régua se adaptava às irregularidades desses blocos sem ter que modificar os blocos. Assim é a equidade que adapta as normas vigentes aos casos concretos e não o inverso.
A autorização expressa do legislador é indispensável para o uso da equidade pelo juiz? Justifique.
R.: Apesar de estar previsto em nosso ordenamento jurídico a possibilidade do legislador fazer uso da equidade para soluço dos casos concretos não é indispensável que seja assim. Está implícito em uma série de normas que o juiz deve recorrer à equidade para efeitos de sua aplicação. Ainda que de forma implícita a equidade pode ser usada pelo magistrado.
A equidade, segundo Aristóteles, é “um meio de corrigir a lei”. Pergunta-se: a) Qual a razão dessa correção? b) Como a equidade corrige a lei?
R.: A equidade cumpre uma função de “correção da lei” uma vez que a todo momento opera uma questão valorativa sobre os casos concretos, ou seja, a norma precisa ser ponderada a cada caso em discussão para que seja aplicada da forma mais justa a cada caso em cada relação social.
(bla bla bla, texto longo que não copiei). A partir do argumento do Estrangeiro, discuta o papel e o alcance da lei ao regular a ação humana.
R.: A lei, na sua função de regular a ação humana, precisa a todo momento ser atualizada para efeitos de aplicação, quer seja pelo passar do tempo e constante mudança dos valores sociais, quer seja pelas diferenças que a aplicação dessas normas exige em cada caso concreto ainda que no mesmo momento histórico. Dessa forma, para que se atinja o máximo de justiça na regulação das ações humanas é preciso sopesá-las de acordo com as características de cada situação concreta.
(bla bla bla texto longo). Perante essa afirmação, qual é o papel e significado da equidade dentro da ordem jurídica?
R.: Segundo essa afirmação a equidade, que se encontra fora do ordenamento jurídico enquanto fonte tem papel fundamental de integração, ou seja, carrega uma capacidade de tornar a lei mais justa em sua aplicação. A norma, enquanto na sua forma escrita pode levar a situações nem sempre justas e a equidade carrega essa capacidade de promover o caminho entre a intenção da norma e sua aplicação aos casos concretos.
13

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes