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cap_24_-_Farmacos_anti-helminticos

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ANOTAÇÕES EM FARMACOLOGIA E FARMÁCIA CLÍNICA 
 
Marcelo A. Cabral 
 
1
 
24) Fármacos anti-helmínticos 
 
 Os seres humanos constituem os hospedeiros primários 
(definitivos) na maioria das infecções helmínticas; em outras 
palavras, os helmintos, em sua maioria, têm a sua 
reprodução sexual no hospedeiro humano, produzindo ovos 
ou larvas que são eliminados do corpo e infectam o 
hospedeiro secundário (intermediário). 
 Existem dois tipos clinicamente importantes de 
infecções por helmintos: infecções em que o verme vive no 
tubo digestivo do hospedeiro e aquelas em que o verme 
estabelece residência em outros tecidos do hospedeiro. 
 Os principais exemplos de verme que vivem no tubo 
digestivo do hospedeiro são: 
- Tênias (Taenia saginata, Taenia solium, etc.): os 
hospedeiros habituais dessas duas tênias mais comuns são o 
gado bovino e o suíno, respectivamente. Os seres humanos 
tronam-se infectados ao consumir carne crua ou mal cozida 
contendo as larvas que se encistaram no tecido muscular do 
animal. Em algumas circunstâncias, pode ocorrer 
desenvolvimento do estágio larvar de Taenia solium nos 
seres humanos, resultando em cisticercose, uma doença 
caracterizada por larvas encistadas nos músculos e nas 
vísceras ou, nos casos mais graves, nos olhos ou no cérebro. 
- Nematódeos intestinais tais como Ascaris lubricoides, 
Enterobius vermiculares, Trichuris trichiuria, Strongiloydes 
stercolaris, Necator americanus e Ankyslostoma duodenale 
são responsáveis por um número muito grande de infecções. 
 Os principais exemplos de vermes que vivem nos 
tecidos do hospedeiro são: 
- Trematódeos (Schistosomas) causam esquistossomose. Os 
vermes adultos de ambos os sexos vivem e acasalam-se nas 
veias ou vênulas da parede intestinal ou da bexiga. A fêmea 
põe ovos que passam para bexiga ou o intestino e causam 
inflamação desses órgãos, resultando em hematúria no 
primeiro caso e, em certas ocasiões, em perda de sangue nas 
fezes, no segundo caso. Os ovos eclodem na água após 
serem eliminados do organismo e liberam miracídios, que 
penetram no hospedeiro secundário – uma determinada 
espécie de caramujo. Depois de um período de 
desenvolvimento neste hospedeiro, surgem as cercárias que 
nadam livremente. Estas possuem a capacidade de infectar o 
homem ao penetrar na sua pele. 
- Nematódeos teciduais (Trichinella spiralis, Dracunculus 
medinensis e as filárias). 
 As filárias adultas vivem nos vasos linfáticos, no tecido 
conjuntivo ou no mesentério do hospedeiro e produzem 
embriões vivos ou microfilárias, que alcançam a corrente 
sanguínea. Depois de certo período de desenvolvimento no 
interior do hospedeiro intermediário (mosquitos ou outros 
hematófagos), as larvas passam para as peças bucais do 
inseto e são reinjetadas nos seres humanos. As principais 
filarioses causam obstrução dos vasos linfáticos, produzindo 
elefantíase; outras doenças relacionadas incluem a 
oncocercíase (cegueira devido microfilárias presentes no 
olho) e aloíase (inflamação da pele e outros tecidos). 
 Alguns nematódeos que vivem habitualmente no trato 
gastrintestinal de animais podem infectar os seres humanos 
e penetrar nos tecidos. Uma infestação cutânea, denominada 
“erupção serpiginosa” ou “larva migrans cutânea”, é causada 
pelas larvas dos ancilóstomos de gatos e cães. A toxiocaríase 
ou “larva migrans visceral” é causada por larvas de 
nematódeos de gatos e cães do gênero Toxocara. 
Farmacos anti-helminticos: 
Uma droga, para ser considerado fármaco anti-
helmíntico eficaz, precisa ser capaz de penetrar na cutícula 
do verme ou ter acesso a seu trato alimentar. 
 O anti-helmíntico pode atuar ao produzir paralisia do 
verme ou ao lesar a sua cutícula, resultando em digestão 
parcial ou rejeição do verme por mecanismos imunológicos. 
Os agentes anti-helmínticos podem também interferir no 
metabolismo do verme e, como as necessidades 
metabólicas desses parasitas variam acentuadamente de uma 
espécie para outra, as drogas que se mostram altamente 
eficazes contra determinado tipo de verme podem ser 
ineficazes contra outros tipos. 
 Muitos agentes anti-helmínticos modulam a atividade 
neuromuscular dos parasitas através do aumento da 
sinalização inibitória, do antagonismo da sinalização 
excitatória (bloqueio não despolariante) ou da estimulação 
tônica da sinalização excitatória (bloqueio despolarizante). 
Benzimidazóis: 
 Os anti-helmínticos benzimidazóis incluem o 
mebendazol, tiabendazol e o albendazol. Esses compostos 
são agentes de amplo espectro, que formam um dos 
principais grupos de anti-helmínticos utilizados na clínica. 
Mecanismo de ação: 
Os benzimidázois ligam-se à beta-tubulina livre, 
inibindo a sua polimerização e, assim, interferem na 
captação de glicose dependente de microtúbulos. Exercem 
ação inibitória seletiva sobre a função microtubular dos 
helmintos, sendo 250 – 400 vezes mais potentes nos 
helmintos do que nos tecidos de mamíferos. O efeito leva 
algum tempo para se manifestar, e os vermes podem não ser 
expelidos durante vários dias. 
 O mebendazol é administrado em dose única para os 
oxiúrus e duas vezes ao dia durante três dias para as 
infecções por ancilóstomos e nematódeos. Seus efeitos 
indesejáveis são poucos, todavia em certas ocasiões, podem 
ocorrer distúrbios gastrintestinais. 
ANOTAÇÕES EM FARMACOLOGIA E FARMÁCIA CLÍNICA 
 
Marcelo A. Cabral 
 
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 O tiabendazol é administrado duas vezes ao dia, 
durante três dias, para infestações por Dracunculus e por 
estrongilóides, e por um período de até cinco dias para 
triquinose e para a larva migrans cutânea. Os efeitos 
colaterais com o tiabendazol são mais freqüentes do que 
com o mebendazol, porém geralmente transitórios; os mais 
comuns incluem distúrbios gastrintestinais, embora se tenha 
relatado a ocorrência de cefaléia, tonteira e sonolência, 
podendo ocorrer reações alérgicas. 
 O albendazol, o benzimidazol mais recentemente 
introduzido no mercado, é um anti-helmíntico de amplo 
espectro. É administrado por via oral. A concetração 
plasmática do metabólito ativo é 100 vezes maior do que a 
do mebendazol. Os efeitos indesejáveis – principalmente 
distúrbios gastrintestinais – não são comuns e, em geral, não 
exigem a interrupção do fármaco. 
 Praziquantel 
 O praziquantel é um anti-helmíntico de amplo 
espectro. Trata-se da droga de escolha para o tratamento de 
todas as espécies de esquistossomo, sendo eficaz na 
cisticercose, que antigamente não tinha tratamento eficaz. 
Mecanismo de ação: 
O praziquantel atua ao alterar a homeostasia do cálcio 
nas células do verme. Isso provoca contração da musculatura 
e, por fim, resulta em paralisia e morte do helminto. 
O praziquantel afeta não apenas os esquitossomos 
adultos, como também as formas imaturas e as cercárias – a 
forma do parasita que infecta o homem ao penetrar na sua 
pele. Por outro lado, ele não exerce nenhum efeito 
farmacológico no homem na posologia indicada. 
Ocorrem efeitos indesejáveis leves que consistem em 
distúrbios gastrintestinais, tonteira, dor muscular e articular, 
erupções cutâneas e febre baixa. 
 Piperazina 
 A piperazina pode ser utilizada no tratamento de 
infecções pela lombriga e pelo oxiúrus. 
Mecanismo de ação: 
A piperazina inibe reversivelmente a transmissão 
neuromuscular no verme, provavelmente ao atuar como o 
GABA, o neurotransmissor inibitório sobre os canais de 
cloreto operados por GABA no músculo do nematódeo. Os 
vermes paralisados são expelidos ainda vivos. 
 A piperzina é administrada por via oral. Seus efeitos 
indesejáveis são raros; todavia em certas ocasiões, ocorrem 
distúrbios gastrintestinais, urticária e broncoespasmo, e 
alguns pacientes apresentam tonteira, parestesias, vertigem e 
descoordenação. Quando utilizada no tratamento de 
infecções por nematódeos,é usada em dose única. Para os 
oxiúros, é necessário um curso mais prolongado (sete dias) 
com doses menores. A piperazina foi susbtituida, em grande 
parte, pelos benzimidazóis. 
 Pirantel 
 Acredita-se que o pirantel atue ao despolarizar a junção 
neuromuscular dos helmintos, causando espasmo e paralisia. 
Este fármaco é geralmente considerado droga segura. Os 
efeitos indesejáveis são leves e consistem principalmente em 
distúrbios gastrintestinais. O pirantel foi substituído, em 
grande parte, pelos benzimidazóis. 
 Niclosamida 
 A niclosamida era a droga de escolha para o tratamento 
da teníase; todavia, foi em grande parte suplantada pelo 
praziquantel. 
Mecanismo de ação: 
A niclosamida lesa irreverssivelmente o escólex 
(cabeça do verme com órgãos que se fixam às células 
intestinais do hospedeiro) e o segmento proximal. O verme 
separa-se da parede intestinal e é expelido. 
Para a T. solium a droga é administrada em dose única 
após uma refeição leve, seguida de purgativo duas horas 
mais tarde. O purgativo se faz necessário porque os 
segmentos lesados da tênia podem liberar ovos, que não são 
afetados pelo medicamento, existindo, portanto, uma 
possibilidade teórica de desenvolvimento de cisticercose. 
Para outras infecções por tênias, não há necessidade de se 
administrar um purgativo após a administração da 
niclosamida. Os efeitos indesejáveis são poucos, 
infrequentes e transitórios. Podem ocorrer náuseas e 
vômitos. 
 Oxamniquina 
 A oxamniquina mostra-se ativa contra Schistossoma 
mansoni, afetando as formas maduras quanto imaturas. O 
mecanismo de ação pode envolver a intercalação no DNA, e 
sua ação seletiva pode estar relacionada com a capacidade 
de o parasita concentrar a droga. 
 Os efeitos indesejáveis consistem em tonteira e cefaléia 
transitórias, cuja ocorrência é relatada em 30 – 95% dos 
pacientes. Podem ocorrer sintomas causados pela 
estimulação do SNC, incluindo alucinações e episódios 
convulsivos. 
Levamisol 
 O levamisol mostra-se eficaz nas infecções por 
lombriga. Exerce ação semelhante à da nicotina, 
estimulando e, posteriormente, bloqueando as junções 
neuromusculares. Os vermes paralizados são então 
eliminados nas fezes. Os ovos são destruídos. 
 O levamisol atravessa a barreira hematoencefálica. Os 
efeitos indesejáveis são poucos. Consistem em distúrbios 
gastrintestinais, tonteira e erupções cutâneas. 
 
 
ANOTAÇÕES EM FARMACOLOGIA E FARMÁCIA CLÍNICA 
 
Marcelo A. Cabral 
 
3
Ivermectina 
 A ivermectina é um agente semi-sintético derivado de 
um grupo de substâncias naturais, as avermectinas, obtidas 
de um actinomiceto. Esse fármaco possui potente atividade 
anti-helmíntica contra microfilárias no homem, constituindo 
a droga de escolha no tratamento da oncocercose, que causa 
a “cegueira dos rios”. Porém, a droga não mata as filarias 
dultas. O fármaco é empregado para prevenir a lesão ocular 
mediada pelas microfilárias e diminuir a transmissão entre 
seres humanos e vetores, entretanto, não tem a capacidade 
de curar o hospedeiro humano com infestação por 
Onchocerca volvulus. 
 Como a ivermectina não é curativa, é tipicamente 
administrada a indivíduos infestados a cada 6 a 12 meses 
para a espectativa de vida dos vermes adultos (de 5 a 10 
anos). 
A droga também produziu bons resultados na infecção 
por Wuchereria bancrofti, que causa elefantíase. 
 A ivermectina reduz em até 80% a incidência da 
cegueira por oncocercose. A droga também exibe atividade 
contra infecções por alguns nematódeos: ascaris, trichuris, 
enterobios, mas não contra os ancilóstomos. 
 
 
Mecanismo de ação: 
Acredita-se que a droga paralisa o verme ao abrir os 
canais de cloreto mediado pelo GABA e ao aumentar a 
condutância do cloreto regulada pelo glutamato. O resultado 
consiste em bloqueio da transmissão neuromuscular e 
paralisia do verme. 
A iermectina não interage com os receptores de GABA 
nos vertebrados, porém a sua afinbidade pelos receptores 
GABA dos invertebrados é de cerca de 100 vezes maior. Os 
cestódeos e os trematódeos carecem de receptores de 
ivermectina de alta afinidade, o que pode explicar a 
resistência desses organismos ao fármaco. A ivermectina 
não atravessa a barreira hematoencefálica, motivo pelo qual 
também não atua sobre os receptores gabaergicos humano. 
Os efeitos adversos da ivermectina são habitualmente 
atribuídos a respostas inflamatórias ou alérgicas às 
microfilárias que estão morrendo (reação de tipo Mazzoti) e 
consistem em erupções cutâneas, febre, tonteira, cefaléia e 
dores musculares, articulares e nos linfonodos, fraqueza, dor 
abdominal e hipotensão. Em geral, a droga é bem tolerada. 
 
 
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Referências Bibliográficas 
 
1. RANG, H. P. et al. Farmacologia. 4 edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001; 
2. KATZUNG, B. G. Farmacologia: Básica & Clinica. 9 edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006; 
3. CRAIG, C. R.; STITZEL, R. E. Farmacologia Moderna. 6 edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005; 
4. GOLAN, D. E. et al. Princípios de Farmacologia: A Base Fisiopatológica da Farmacoterapia. 2 edição. Rio de 
 Janeiro: Guanabara Koogan, 2009; 
5. FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L.; FERREIRA, M. B. C. Farmacologia Clínica. 3 edição. Rio de Janeiro: Guanabara 
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6. GILMAN, A. G. As Bases farmacológicas da Terapêutica. 10 edição. Rio de Janeiro: Mc-Graw Hill, 2005. 
7. CONSTANZO, L. S. Fisiologia. 2 edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 
 8. PORTH, C. M. Fisiopatologia. 6 edição. Rio de Janeiro: Ganabara Koogan, 2004 
 
 
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