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Os fundamentos da “aposta em Deus” em Blaise Pascal

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FACULDADE ARQUIDIOCESANA DE MARIANA
GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA
Disciplina: História da Filosofia II 
Prof.: João Paulo Rodrigues Pereira
Aluno: Geovane Macedo da Costa
Mariana, mai. 2016 
Os fundamentos da “aposta em Deus” em Blaise Pascal
Geovane Macedo da Costa[1: Graduando em Filosofia na FAM]
INTRODUÇÃO
Blaise Pascal nasceu em Clermont, na França, no ano de 1623. Desde a sua infância, teve grande gosto pelos estudos matemáticos e científicos, tendo escrito aos 16 anos de idade a obra Tratado das Cônicas; aos 18, inventou a “máquina aritmética”, a primeira calculadora. Com 23 anos, criou a experiência do vazio, em que concluiu que os fenômenos que até então eram atribuídos ao vazio, na verdade eram causados pelo peso do ar. 
Em 1646, Pascal teve seu primeiro contato com Port-Royal, onde ocorreu sua “primeira conversão”, resolvendo abandonar as coisas mundanas para aprofundar na defesa do jansenismo. Em 1657, elaborou o projeto de Apologia do cristianismo, cujos fragmentos foram recolhidos e resultaram na obra Pensamentos. Cinco anos depois, Pascal faleceu.[2: 1Port-Royal-des-Champs é um convento, situado no sudoeste de Paris, que contribuiu muito para a discussão do jansenismo (doutrina que enfatiza a predestinação; nega o livre-arbítrio e nega que a natureza por si só seja incapaz do bem).]
Em sua obra, Blaise Pascal contribuiu muito para as discussões filosóficas de seu período. Tendo o racionalismo como base de sua filosofia, desenvolveu o argumento da “aposta em Deus”. Este artigo pautará exatamente os fundamentos de tal argumento, por isso é importante perpassar os conceitos de “espírito geométrico” e “espírito de fineza” e também no que o filósofo refere-se ao divertimento do homem como forma de fuga da realidade. Assim, no pensamento pascaliano, ficará clara a ideia de homem como um ser frágil que necessita apostar na existência de Deus. Dessa forma, o trabalho abordará esses três assuntos relevantes na filosofia de Pascal, utilizando trechos da obra Pensamentos e ainda citações de alguns comentadores.
1 “Espírito geométrico” versus “Espírito de fineza”
O filósofo Blaise Pascal sustenta que, além das realidades concebidas pelo “espírito geométrico”, existem domínios e realidades que somente o “espírito de fineza” (ou intuitivo) pode alcançar. De acordo com ele, no primeiro, os princípios são palpáveis, porém distantes do uso comum; já no segundo, os princípios estão no uso comum e é acessível a todos. 
Pascal, na obra Pensamentos, diz que:
Há, pois, duas espécies de espírito: uma, que penetra viva e profundamente as consequências dos princípios, e é no que consiste o espírito de retidão; outra, que compreende grande número de princípios sem os confundir, e é no que consiste o espírito de geometria. (PASCAL, 1979, p. 39) 
Além disso, Pascal pensa que “os homens são estruturalmente impotentes para tratar com ordem completa qualquer ciência” (REALE; ANTISIERI, 2005, p. 174), por isso há essa distinção entre os espíritos. Enquanto o “espírito geométrico” está voltado para as ciências empíricas, que leva adiante o conhecimento apenas por meio da razão – o que Blaise acredita ser, de certa forma, inútil; o “espírito de fineza” volta-se aos estudos teológicos, que têm autoridade legítima e necessária. Para o filósofo, a teologia chega as suas verdades por duas maneiras: o raciocínio e a experiência (não empírico), esta chamada de progressiva, aquela denominada eterna.[3: REALE; ANTISIERI, 2005, p. 74]
O primeiro passo de Pascal foi atacar o princípio de autoridade no plano de fundo da pesquisa racional, pois para ele os princípios da fé 
estão acima da natureza e da razão. E a mente humana, como é muito fraca para nos fazer chegar até lá apenas com seus esforços, só pode alcançar essas sublimes verdades quando levada a elas por uma força onipotente e sobrenatural (REALE; ANTISIERI, 2005, p. 175)
Diferente do que se pode pensar, Blaise Pascal não retoma o dualismo fé e razão, visto que ele acredita que a razão serve de aparato para a fé através do “espírito de fineza” nas verdades teológicas. Com isso, ele propõe seu método da “arte do persuadir”, que se divide em três partes: 1) usar de definições claras; 2) propor axiomas evidentes e 3) substituir os termos pelas definições. Nesse sentido, percebemos a retomada do método cartesiano como forma de explicar as realidades.[4: Originariamente, essa palavra significava dignidade ou valor (os escolásticos e Viço usavam-na por dignidade) e foi empregada pelos estóicos para indicar o enunciado declarativo que Aristóteles chamava de apofântico (DIÓG. L, VII, 65). Os matemáticos usaram-na para designar os princípios indemonstráveis, mas evidentes, da sua ciência.]
 Dessa forma, ele afirma nos Pensamentos que:
	
o homem é visivelmente feito para pensar; é toda a sua dignidade e todo o seu mérito; e todo o seu dever consiste em pensar corretamente. Ora, a ordem do pensamento é de começar por si, e pelo seu autor e sua finalidade. (PASCAL, 1979, p. 77) 
Apesar de a dignidade do homem estar na sua capacidade intelectiva, Pascal acredita que o homem não está realizado por completo apenas por ser racional, visto que há ainda a condição humana que às vezes o faz escapar da atividade pensante, voltando-se à satisfação dos seus desejos. Então, surge o divertimento como forma de fuga da realidade. É o que será desenvolvido no tópico seguinte.
2 O divertimento 
Blaise Pascal acredita que a grandeza humana está exatamente na capacidade de reconhecer-se mísero. Assim, temos aqui um paradoxo antropológico: “o homem é um nada em relação ao infinito, é um todo em relação ao nada, é algo intermediário entre o nada e o todo” (PASCAL, 1979, p. 52). Em Pascal, a grandeza e a miséria humana se unem e a prova disso é o divertimento, como válvula de escape em busca da felicidade. Então, faz-se necessário aqui a busca de uma antropologia no campo filosófico, entrando em conformidade com o pensamento de Montaigne.
Para Pascal, “o homem nada mais é que um caniço, o mais fraco da natureza – mas é um caniço pensante” (REALE; ANTISIERI, 2005, p. 179), por isso é esse ser que necessita de uma fuga diante da percepção lúcida da miséria humana. Blaise Pascal afirma que o divertimento (divertissement) é uma perturbação ou um aturdimento que desvia o homem da realidade. Nos Pensamentos ele afirma que:
assim, o homem é tão infeliz que se aborreceria mesmo sem nenhum motivo de aborrecimento, pelo próprio estado de sua compleição; e é tão vão que, estando cheio de mil causas existenciais de tédio, a menor coisa, como um taco e uma bola que empurra, basta para divertí-lo. (PASCAL, 1979, p. 73)
Segundo Pascal, “sem divertimento não há alegria, com divertimento não há tristeza” (PASCAL, 1979, p. 74). A partir da análise da condição humana no pensamento de Blaise Pascal, percebemos que se o homem se lança à confusão e perturbação, estará renunciando sua própria dignidade e também às verdades que o pensamento pode alcançar. Chegando à verdade da miséria e fragilidade humana, o filósofo propõe o argumento da “aposta em Deus”, já que a razão, única e exclusivamente, não pode levar a nenhuma conclusão acerca de Deus, visto que a fé (vista como dom) é de fundamental importância. Nisso, fundamentaremos a última parte do presente artigo.
3 A “aposta” em Deus
É algo que se faz necessário apostar em Deus, visto que a razão tem seus limites. Ao traçar esse caminho, em seu argumento, Pascal também fala da incompreensibilidade de Deus: “Se existe um Deus, ele é infinitamente incompreensível, porque, não tendo partes ou limites, não tem nenhuma relação conosco” (REALE; ANTISIERI, 2005, p. 189). 
Deus existe ou não existe. Em meio a essas duas proposições, a razão nada pode determinar. Porém o homem, segundo Pascal, deve fazer sua aposta na existência de Deus, visto que se vencer, ganhará tudo; se perder, nada perderá: 
[...] há um caos infinito que nos separa. Na extremidade dessa distância infinita joga-se cara oucoroa. Em apostareis? Pela razão, não podereis atingir nem uma nem outra; pela razão, não podereis defender nem uma nem outra. Não acuseis, pois, de falsidade os que fizeram uma escolha, já que nada sabeis. – “Não acusá-los-ei, porém, de terem feito, não essa escolha, mas uma escolha; porque, embora o que torna a cruz e o outro cometam igual erro, ambos estão em erro; o certo é não apostar. – Sim: mas é preciso apostar. Não é coisa que dependa da vontade, já estamos metidos nisso... se ganhardes, ganhareis tudo; se perderdes, não perdereis nada. Apostai, pois, que ele existe, sem hesitar. (PASCAL, 1979, p. 95) 
O pensamento pascaliano desemboca numa crítica à metafísica vigente, pois o filósofo acredita que ela está distante do modo comum de pensar dos homens, além disso, é confusa e não facilita em nada a compreensão dos conceitos, por isso torna-se ineficaz. A partir disso, Pascal propõe que “rir-se da filosofia significa filosofar verdadeiramente” (REALE; ANTISIERI, 2005, p. 183). Blaise pensa que Deus é sensível não à razão, mas ao coração: “O coração tem razões que a própria razão desconhece” (REALE; ANTISIERI, 2005, p. 183).
Por isso, segundo o filósofo, Deus “se oculta àqueles que o experimentam e se revela àqueles que o buscam” (REALE, ANTISIERI, 2005, p. 184). Há no homem um paradoxo: ele é indigno de Deus e, ao mesmo tempo, capaz d’Ele. A corrupção o faz indigno, enquanto a natureza primitiva o faz capaz. Assim, está consolidado o argumento de Pascal: a “aposta” em Deus.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Em síntese, podemos destacar que Blaise Pascal trouxe enormes contribuições à filosofia, desde uma fundamentada crítica à metafísica até os limites da razão. Como vimos, o filósofo acredita que ao invés de propor novas provas da existência de Deus (como faz a metafísica), o caminho do êxito seria tentar eliminar as paixões que impedem o homem de “apostar” na existência de Deus. Além disso, a razão tem seus limites, que devem ser reconhecidos. Por isso, rir da filosofia é uma nova forma de filosofar, visto que ela não pode apoiar única e simplesmente na razão.
Com sua filosofia, Pascal trouxe contribuições ao pensamento de Descartes ao pensar nos métodos da “arte do persuadir”: conceber os conceitos claramente, propor axiomas evidentes e valorizar as definições. Além disso, contribuiu na concepção das regras gerais no pensamento de Montaigne. 
Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad.: Alfredo Bosi. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
PASCAL, Blaise. Pensamentos. 2. ed. Trad.: Sérgio Melliet. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
REALE, Giovanni; ANTISIERI, Dante. História da Filosofia v. 4 – De Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. 
ROCHA, Arlindo. Blaise Pascal – O caniço pensante. Disponível em: <https://blaisepascalogenio.blogspot.com.br/2013/10/a-compreensao-do-homem-blaise-pascal.html>. Acesso em 28 de maio.

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