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SELEÇÃO e TREINAMENTO DE AVALIADORES Profa. Dra. Roberta Juliano Ramos 2016-1 SELEÇÃO Devemos contar sempre com dois tipos de provadores/julgadores para realizar análise sensorial: os não treinados e os treinados Nos testes analíticos o provador é utilizado como um instrumento, portanto há necessidade de treiná-los. Porém, nos métodos afetivos não se deve utilizar um provador treinado para a realização dos testes. SELEÇÃO • Para cumprir a tarefa de avaliar e medir a qualidade de produtos, os provadores devem possuir algumas características, e por razões econômicas, a escolha geralmente é feita entre os próprios funcionários da empresa; • excluindo-se aqueles que trabalham diretamente no preparo das amostras e os que desenvolvem o produto, bem como as pessoas que tenham aversão pelo produto que está sendo testado. SELEÇÃO Os provadores podem ser treinados através de experiências diretas, especialmente elaboradas para familiarizar o indivíduo com o procedimento de teste, aperfeiçoando sua habilidade para reconhecer e identificar os atributos sensoriais, melhorando a sensibilidade e memória, consequentemente obtendo mais precisão e consistência nos seus julgamentos sensoriais. Perfil dos julgadores O perfil dos julgadores vai depender do tipo de avaliação sensorial que se quer realizar: Preferência do consumidor Determinação do grau ou nível de qualidade Detecção de uma diferença/semelhança Análise de controle de qualidade de rotina (CQ) Análise descritiva de um produto Preferência do consumidor Há necessidade de um grande número de julgadores, não menos que 50 julgadores para resposta de preferência (duas ou mais amostras), nem menos de 100 respostas independentes para aceitabilidade (uma amostra). Nesse caso, há interesse em que os julgadores sejam não treinados, estabelecendo-se o público alvo. Preferência do consumidor O perfil de interesse deverá ser definido de acordo com o objetivo do teste, e pode estar relacionado a frequência de consumo ou grau de familiaridade com o produto, ou às diferentes classes sociais, faixas etárias, regiões do país, entre outros. Importante planejar os locais de análise e o protocolo de triagem. Determinação do grau ou nível de qualidade Necessidade não somente de uma avaliação comparativa, isto é, observar se determinada amostra é ou não diferente da outra, ou se é melhor ou pior, mas também onde ela se localiza em relação a uma escala absoluta. Os julgadores para este tipo de painel devem ser adequadamente selecionados, com treinamento básico geral. O critério de qualidade para o que deve ser definido como “melhor” deve ser único e definido de forma objetiva com os avaliadores. Detecção de uma diferença/similaridade O número de julgadores para um teste de diferença não é tão crítico como para um teste de similaridade, visto que o número de julgadores irá depender do nível de sensibilidade requerida para a análise a fim de atingir os objetivos do teste. A sensibilidade de um teste varia em função de três valores: o risco α, o risco β e a proporção máxima permitida de discriminadores (Pd). Definindo-se estes fatores podemos encontrar o número mínimo de julgadores recomendado para esta análise por meio de uso de tabelas. Detecção de uma diferença/semelhança Normalmente para detecção de diferenças pode-se precisar de 12 a 60 julgadores, enquanto para provar similaridade sensorial entre os produtos, requer-se de 20 a 200 julgadores. Escolha os julgadores de acordo com os objetivos do teste, por exemplo, para projetar resultados para uma população de consumidores, julgadores com sensibilidade desconhecida podem ser selecionados, enquanto para análise da qualidade sensorial do produto, julgadores com acuidade sensorial devem ser selecionados. Nunca deve-se misturar diferentes tipos de julgadores na mesma análise. Análise de controle de qualidade de rotina (CQ) Normalmente realizada em batelada ou por lote, não é necessário mais do que um ou dois julgadores para avaliar se o produto está dentro ou fora do padrão. Os julgadores devem ser selecionados e treinados por referências ou controles. Deve-se evitar a adaptação e fadiga, através de intervalos entre as análises ou utilizando-se prova em branco. Caso uma amostra seja detectada como fora do padrão, deve ser avaliada por um segundo avaliador. Análise descritiva de um produto Um pequeno número de julgadores bem treinados, entre 10 e 12 pessoas, é indicado para estes casos. Pode-se trabalhar até com 8 experts, dependendo do tempo de experiência e quando, por meio de um número adequado de repetições, obtém-se o grau de precisão necessário. A escolha da equipe normalmente é feita, entre os membros de uma indústria, instituição ou escola. Seleção de julgadores A seleção de julgadores é imprescindível para confiabilidade dos resultados, observando-se que a sensibilidade sensorial é uma aptidão e que muitas pessoas possuem restrições nessa habilidade. Falhas no processo de seleção de julgadores podem conduzir a erros de decisão, comprometendo o resultado da análise. Seleção de julgadores São três os princípios básicos da experimentação: Repetição: refere-se ao número de vezes que um mesmo tratamento é repetido; Casualização: refere-se à distribuição dos tratamentos às unidades experimentais, de tal modo que todas as unidades tenham a mesma chance de receber um determinado tratamento (retirar da pessoa que está conduzindo o experimento toda a influência que ela possa ter na distribuição dos tratamentos, tornando as estimativas não tendenciosas. Controle do local: os blocos devem ser o mais uniforme possível, onde na análise sensorial os blocos são os julgadores. Seleção de julgadores O procedimento preliminar para a seleção de julgadores compreende as seguintes etapas: Entrevista; Teste de reconhecimento de odores; Teste de identificação de gostos; Testes de diferença aplicados ao produto. Entrevista Principais características a serem avaliadas: • o candidato deve gozar de boa saúde e apetite – observar possíveis alergias ou intolerâncias, além de adequadas condições dentárias e capacidade de percepção visual; • deve gostar dos produtos que serão analisados; • deve apresentar capacidade intelectual; • deve ter, principalmente, boa vontade; • seriedade. Teste de reconhecimento de odores São selecionados de 16 a 20 aromas comuns e solicita-se que sejam identificados nominalmente em uma ficha. A pontuação utilizada é de um ponto inteiro para identificação (ex: orégano) ou associação (pizza) e de meio ponto para caracterização (condimento salgado). O grau de dificuldade é observado pela quantidade de acertos totais para cada aroma específico. O objetivo é que o candidato identifique no mínimo 70% dos aromas considerados, com grau de dificuldade normal, isto é, que tenha sido identificado por, no mínimo, 50% da equipe. É um teste classificatório e não eliminatório. Teste de reconhecimento de odores • Os aromas de uso comum, tais como: • devem ser preparados em copinhos de porcelana, embebidos com algodão e água morna, quando for o caso, e cobertos com uma folha de alumínio. café, queijo, chocolate, leite, fermento, vinagre, limão, cebola, extrato de tomate, especiarias, canela, cravo, orégano, pimenta, frutas e bebidas em geral Teste de reconhecimento de odores • Deixar um espaço vazio entre o algodão e a tampa, para permitir a concentração do odor. • No momento das provas são feitos pequenos furos na folha de alumino para aspiração da amostra. • Esta prova não deve ser realizada em cabines fechadas ou lugares que não possuam ventilaçãoadequada. Teste de reconhecimento de odores Modelo de ficha para aplicação de teste de reconhecimento de odores Teste de reconhecimento de gostos Uma série de soluções identificadas, correspondentes aos gostos básicos, é apresentada inicialmente aos candidatos para o seu reconhecimento e familiarização. As concentrações das soluções recomendadas, de acordo com a norma ISO 3972 (1991), são: gosto doce: solução 0,58% de açúcar refinado; gosto salgado: solução 0,12% de sal de cozinha; gosto ácido: solução 0,04% de ácido cítrico; gosto amargo: solução 0,02% de cafeína; gosto umami: solução 0,06% de glutamato monossódico Teste de reconhecimento de gostos A ISO 3972 (1991) está em processo de revisão, sem previsão para publicação. A principal polêmica está na definição do metálico como uma sensação e não como um gosto básico. Após o reconhecimento/familiarização dos gostos pelos candidatos, realiza-se o teste de identificação propriamente dito, de acordo com a ficha exemplo. Codifique todas as amostras com três dígitos e apresente-as em ordem aleatória, em copinhos de 50 ml de capacidade, repetindo no mínimo três gostos, também de forma aleatória para cada candidato, totalizando 9 a 12 amostras a serem apresentadas individualmente. Teste de identificação de gostos Modelo de ficha para aplicação de teste de reconhecimento de gostos Teste de identificação de gostos • O critério para aprovação neste teste é de 100% de identificação, isto é, o candidato deve atingir 100% de acertos. • O preparo das soluções deve ser realizado com água destilada ou deionizada, não sendo recomendado o uso de água mineral, neste caso específico, por possuir alto teor de sais minerais dissolvidos, os quais podem interagir com os sais utilizados nas soluções-padrão. • Em nenhum momento a água tratada pode ser servida ou utilizada em análise sensorial. Testes de diferença aplicados ao produto • É um teste classificatório com o foco no tipo de alimento, porque os julgadores apresentam habilidades e percepções diferenciadas de acordo com o produto em questão. Ex: Um bom julgador de cerveja não necessariamente será um bom julgador de chocolate, por exemplo. • Alguns pesquisadores consideram que os testes de aroma e sabor descritos acima não são capazes de obter uma previsão adequada sobre o desempenho do julgador porque são de estímulo simples, e que os candidatos devem ser selecionados a partir da análise direta com os produtos que serão testados, utilizando-se testes discriminativos. Testes de diferença aplicados ao produto • As amostras deverão apresentar uma pequena diferença entre si, porém significativa. • O teste discriminativo (de diferença) mais utilizado para a seleção de julgadores é o triangular. • Através de cálculos estatísticos com estes resultados é avaliada a possibilidade do julgador realizar a análise sensorial. Referências bibliográficas • ASSOCOAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 12994. Métodos de análise sensorial de alimentos e bebidas. Classificação. São Paulo: ABNT, 1993 • DUTCOSKY, S.D. Análise sensorial de alimentos. Curitiba: Champagnat, 2011. • OLIVEIRA, A.F. Análise sensorial de Alimentos. Londrina: Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2010. • OLIVEIRA, M.A.B. Análise sensorial de alimentos: práticas e experimentos. Cachoeira do Itapemirim: Noryam, 2009. • TEIXEIRA, E.; MEINART, E. M.; BARBETTA, P. A. Análise sensorial de Alimentos. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1987.
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