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Direito Administrativo Professor Edilson Vitorelli Procurador da República. Ex-juiz federal. Mestre em direito pela UFMG, doutorando pela UFPR www.edilsonvitorelli.com Introdução Bibliografia: CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. Curso de Direito Administrativo. As funções do Estado • O Estado existe, em primeiro lugar, para satisfazer as necessidades do cidadão. Todavia, a forma de fazer isso variou ao longo da história. • Durante a maior parte da história da humanidade, vigorou a concentração de poderes nas mãos de algum tipo de grupo. Em Roma: • Realeza • República • Principado • Dominiato • Apesar das mudanças de governo, o poder de gerência do Estado, entendido em sentido amplo, sempre esteve concentrado. • Idade média: feudalismo – legislação local e costumeira. Domínio, pelo senhor feudal, de todos os aspectos da vida civil. • Idade moderna: absolutismo. The king can do no wrong. O Estado moderno • A idade moderna, apesar de ainda consagrar a irresponsabilidade do monarca, é a responsável pela geração do Estado moderno: • Com a Inglaterra sob os Tudors, Espanha com os Habsburgos, e França com Bourbons, a Europa embarcou em uma variedade de programas destinados a aumentar o controle político e econômico centralizado, adquirindo cada vez mais muitas dos aspectos institucionais que caracterizam o "Estado moderno". Essa centralização do poder político envolveu a delimitação das fronteiras, como monarcas europeus gradualmente derrotados ou co-optados outras linhas de poder, tais como a Igreja Católica e a nobreza. • Em lugar do sistema fragmentado das leis feudais, com muitas vezes reivindicações territoriais, grandes territórios definitivos emergiram. Este processo deu origem à alta centralização e cada vez mais formas burocráticas de leis absolutistas do séculos XVII e XVIII, quando as principais características do sistema estatal contemporâneo tomou forma, incluindo a introdução de um exército permanente, uma sistema de tributação central, relações diplomáticas permanentes com as embaixadas, bem como o desenvolvimento da política econômica do Estado mercantilista. • Segundo Weber, o Estado moderno monopoliza os meios de legítima violência física, ao longo de um território bem definido. • Elementos do Estado: – Povo – Território – Soberania • Características do Estado: • Burocracia administrativa: • Tropas permanentes: As forças militares que antes obedeciam a cada senhor feudal deixaram de existir. • Unificação das leis e da aplicação da justiça • Unificação do sistema tributário. • O Estado centralizado não é só uma conquista. É uma necessidade. O Estado moderno A separação de poderes • Uma das principais características do Estado moderno é a ideia de separação das atividades do Estado. Há uma consciência de que é ruim a concentração de todas essas atividades em apenas um órgão. • Prevalece a ideia da obra de Montesquieu: O Espírito das leis. Rigorosamente, a ideia original do filósofo era a separação de 2 poderes, Executivo e Legislativo. O Judiciário não era considerado um Poder. • Acabou prevalecendo na maior parte dos países ocidentais a divisão em 3 poderes, embora isso não seja necessário. O Brasil já teve 4 poderes e outros países do mundo têm, atualmente, mais de 3 poderes. • Mas o que é um poder? • É uma função do Estado que não se subordina a qualquer outra • A separação de poderes não é absoluta. Há uma coordenação entre os poderes. Funções do Estado • Funções do Estado em sentido formal: • Em sentido formal, os atos jurídicos são classificados segundo o poder do qual emanam: • Atos do Poder Executivo = atos administrativos • Atos do Poder legislativo = atos legislativos • Atos do Poder Judiciário = atos judiciais ou jurisdicionais • Em sentido material, entretanto, a situação é diferente: • Atos legislativos = atos que produzem normas jurídicas gerais, abstratas, obrigatórias e inovadoras. São, predominantemente, os previstos no art. 59 da Constituição: Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I - emendas à Constituição; II - leis complementares; III - leis ordinárias; IV - leis delegadas; V - medidas provisórias; VI - decretos legislativos; VII - resoluções. • Atos jurisdicionais: atos que decidem, de modo definitivo, uma controvérsia ou situação jurídica. • Atos administrativos: polêmica: aplicação da lei de ofício ou função residual (Diogo de Figueiredo Moreira Neto). Os poderes e as funções • Os poderes do Estado devem ser nomeados de acordo com a função que exercem de modo precípuo, mesmo que também exerçam outras funções. • Conclusão: as funções do Estado não são exclusivas dos poderes que levam seus nomes. O nome corresponde apenas à função precípua ou predominante daquele poder. • Logo, há atos: • Formalmente administrativos, materialmente administrativos: decreto expropriatório. • Formalmente administrativos, materialmente legislativos: medida provisória • Formalmente administrativos, materialmente jurisdicionais: decisão do conselho de contribuintes. Formalmente legislativos, materialmente administrativos: licitação feita pela câmara municipal. Formalmente legislativos, materialmente legislativos: lei. Formalmente legislativos, materialmente jurisdicionais: julgamento do presidente da república e dos ministros em caso de crimes de responsabilidade: art. 52, I e II da CF. Formalmente jurisdicionais, materialmente administrativos: nomeação de servidor pelo Tribunal de Justiça. Formalmente jurisdicionais, materialmente legislativos: sentença normativa da justiça do trabalho Formalmente jurisdicionais, materialmente jurisdicionais: sentença. Observações: • 1) Função Política: há quem distinga, dentro da função administrativa, também a função política, denominando os atos praticados pelos mais altos dignitários da administração de atos políticos. Ex: declaração de guerra, veto a projeto de lei. • Celso de Albuquerque Mello, “A conceituação de um crime como político é (...) um ato político em si mesmo, com toda a relatividade da política” (Extradição. Algumas observações. In: O Direito Internacional Contemporâneo. Org: Carmen Tiburcio; Luís Roberto Barroso. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 222-223).] • O STF aceitou essa distinção no caso Batisti: (Ext 1085 PET-AV, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Relator(a) p/ Acórdão: Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 08/06/2011, DJe-060 DIVULG 02-04-2013 PUBLIC 03-04-2013 EMENT VOL-02686-01 PP-00001) • 2) E o Ministério Público? 4º Poder ou compõe o executivo? Direito administrativo: conceito 1) o critério do “poder público”, baseado na distinção entre atos de império e atos de gestão, entendendo-se que o direito administrativo se ocuparia dos atos de império, decorrentes do “poder de comando”. 2) o critério da noção de “serviço público”, baseado nas atividades desenvolvidas pelo Poder Público (foi abandonada em razão da crise do serviço público). 3) O critério da “utilidade pública e interesse geral”. 4) O critério da “puissance publique” (algo parecido como Poder Público, em português), que também estaria vinculado à ideia de atos de autoridade. 5) O critério do poder público (item 4), mas como uma concepção mais ampla no sentido de “gestão pública”. • É o conjunto de normas e princípios que, visando sempre ao interesse público, regem as relações jurídicas entre as pessoas e órgãos do Estado e entre estes e a coletividade a que devem servir (José dos Santos Carvalho Filho). • Em sentido objetivo, administração pública é a função administrativa. • Em sentido subjetivo, Administração Pública é o conjunto de pessoas que exerce atividadeadministrativa, em qualquer dos Poderes. (maiúsculas e minúsculas segundo Hely Lopes Meirelles). • Função precípua da administração: atender ao interesse público (para alguns: primário=coletividade secundário= do Estado enquanto pessoa jurídica). Direito administrativo: conceito Conceito de administração pública Hely Lopes Meirelles: Formal: é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do Governo. Material: é o conjunto das funções necessárias aos serviços públicos em geral. Operacional: é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em benefício da coletividade. Objeto do direito administrativo Sistema europeu-continental: o direito administrativo tem amplitude muito maior, abrangendo o direito administrativo descritivo, que se preocupa em delimitar o estatuto dos órgãos públicos administrativos do Estado e das coletividades locais, a estrutura dos serviços púbicos e os mecanismos de procedimentos referentes a certas atividades Sistema anglo-americano: mais restrito, pois grande parte das relações jurídicas é regida pelo direito comum. Princípios do direito administrativo • Normas jurídicas = regras e princípios. Diferenciação de Robert Alexy: • Princípios são mandados de otimização, normas que ordenam que algo seja feito na maior medida possível, de acordo com as possibilidades fáticas e jurídicas do caso. • Regras tem o caráter de mandados definitivos, normas que só podem ser cumpridas ou não, sendo realizadas por meio da lógica "tudo ou nada". • Solução de conflitos entre regras e colisões entre princípios: subsunção e sopesamento (ponderação de interesses). • CANOTILHO: • a) Grau de abstracção: os princípios são normas com um grau de abstracção relativamente elevado; de modo diverso, as regras possuem uma abstracção relativamente reduzida. • b) Grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto: os princípios, por serem vagos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras (do legislador, do juiz), enquanto as regras são susceptíveis de aplicação directa. c) Carácter de fundamentalidade no sistema das fontes de direito; os princípios são normas de natureza estruturante ou com um papel fundamental no ordenamento jurídico devido à sua posição hierárquica no sistema das fontes (ex.: princípios constitucionais) ou à sua importância estruturante dentro do sistema jurídico (ex.: princípio do Estado de Direito). d) “Proximidade” da idéia de direito: os princípios são “standards” juridicamente vinculantes radicados nas exigências de “justiça” (Dworkin) ou na “ideia de direito” (Larenz); as regras podem ser normas vinculativas com um conteúdo meramente funcional. e) Natureza normogenética: os princípios são fundamento de regras, isto é, são normas que estão na base ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando, por isso, uma função normogenética fundamentante Princípios implícitos e explícitos Norma básica dos princípios expressos do direito administrativo: Constituição Federal, art. 37, caput. LIMPE Celso Antônio Bandeira de Mello: a) princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado, oriundo da própria ideia de Estado; b) princípio da Legalidade; c) princípio da finalidade, oriundo do Princípio da Legalidade; d) princípio da razoabilidade - também oriundo da Legalidade; e) princípio da proporcionalidade, como aspecto específico da razoabilidade; f) princípio da motivação - exigência do Estado Democrático de Direito; g) princípio da impessoalidade; h) princípio da publicidade; i) princípio da moralidade administrativa; j) princípio do controle judicial dos atos administrativos; k) princípio da responsabilidade do Estado por atos administrativos Princípio da Legalidade • É o vetor fundamental da ideia de Estado de Direito • Rule of law, not of men • Conceito: Celso Antônio Bandeira de Mello: "é a consagração da ideia de que a Administração Pública só pode ser exercida na conformidade da lei e que, de conseguinte, a atividade administrativa é atividade sublegal, infralegal, consistente na expedição de comandos complementares à lei." • Enquanto o particular pode fazer todo o que a lei não proíbe, o administrador só pode fazer o que a lei autoriza. • Toda a comunidade se submete à lei (considerada em sentido amplo: norma geral, abstrata, obrigatória e inovadora), inclusive os mais altos detentores do poder. • Implicação mais importante: o administrador se subordina à lei. Ele não inova no ordenamento jurídico. Deve ser um fiel cumpridor de suas disposições. • Nenhum ato infralegal que contrarie a lei será considerado válido (decretos, regulamentos, portarias etc.) Princípio da Legalidade • Luís Roberto Barroso: legalidade e seus desdobramentos: • a) princípio da preeminência da lei: todo ato infralegal que não esteja de acordo com a lei será considerado invalido. • b) princípio da reserva da lei: determinadas matérias somente podem ser reguladas por lei. Carmem Lúcia Antunes Rocha: princípio da juridicidade: a Administração Pública é o próprio Direito tornada movimento realizador de seus efeitos para intervir e modificar a realidade social sobre a qual incide. Quem está submetido à lei é o administrador. Supremacia do interesse público O interesse público deve prevalecer sobre o interesse particular. 1) Toda atividade administrativa deve ser orientada no sentido de satisfazer o interesse público. Qualquer desvio nesse sentido fere a legalidade; 2) A administração atua sob o chamado regime jurídico administrativo, um conjunto de prerrogativas e sujeições que tem por objetivo, por um lado, viabilizar a atividade administrativa, colocando a administração acima dos particulares (poder de império) e, de outro, permitir que ela se submeta a controle. Indisponibilidade do interesse público: verticalidade da relação entre a administração e o particular, quando a situação está regida pelo Regime Jurídico Administrativo. Relação jurídico-administrativa: relação mantida entre a Administração Pública e os administrados. Presunção de legalidade dos atos administrativos Os atos administrativos são presumidos verdadeiros quanto aos fatos que os embasaram e legais em relação ao seu enquadramento com a lei. Presunção relativa (juris tantum). Em razão dessa presunção, os atos administrativos podem ser aplicados imediatamente, cabendo a quem deles discorda a sua impugnação. Regras de interpretação do direito administrativo (doutrina tradicional) 1) a desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados 2) a presunção de legitimidade dos atos da Administração 3) a necessidade de poderes discricionários para a Administração atender ao interesse público Princípio da indisponibilidade do interesse público O interesse público não é apenas superior ao interesse privado, mas ele também é indisponível para a administração. Consequências: A administração não pode dispor de seus bens que estejam afetados a uma finalidade pública. A administração não pode elevar os gastos públicos livremente (é preciso lei). É por isso que a administração pública, como diz Celso Antonio Bandeira de Mello, não tem poderes-deveres, mas sim deveres-poderes. Legalidade em crise • Apesar de parecer um princípio tão óbvio, a legalidade hoje vive uma crise considerável, com movimentos complementares e contraditórios: • 1) A inviabilidade de se regulamentar, por lei, um mundo tão complexo. As “soft law”. • 2) Caráter técnico de inúmeros aspectos da vida do Estado, submetidos mais a normas técnicas do que à lei. • 3) Tendência à transferência dos serviços públicos para entes privados, submetidos ao princípio de modo menos intenso. • A supremacia deve ser vista sob uma ótica democrática,não como uma justificativa para que a administração viole os direitos dos particulares. V. Gustavo Binembojm: A crise dos paradigmas do direito administrativo. A dialética entre a lógica da autoridade e a lógica da liberdade. • Será que o interesse público está sempre acima do interesse privado? Um cuidado SÚMULA Nº 636 do STF NÃO CABE RECURSO EXTRAORDINÁRIO POR CONTRARIEDADE AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA LEGALIDADE, QUANDO A SUA VERIFICAÇÃO PRESSUPONHA REVER A INTERPRETAÇÃO DADA A NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS PELA DECISÃO RECORRIDA. Sistema de aplicação da Lei O Brasil adotou o sistema de jurisdição única (ou sistema inglês), ou seja, o controle administrativo pelo Poder Judiciário, e não o sistema do contencioso administrativo ou jurisdição administrativa (sistema francês) Princípio da impessoalidade A atividade administrativa deve ser orientada pela satisfação do interesse público, não de interesses pessoais. Em relação ao administrado, a administração não pode agir com base em preferências. Em relação a si mesma, os atos praticados pelo administrador são imputados à administração, para o bem ou para o mal: Art. 37, § 1º, CF: A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. Aplicações do princípio da impessoalidade STF: RE 589.998/PI: Os empregados públicos não fazem jus à estabilidade prevista no art. 41 da CF, salvo aqueles admitidos em período anterior ao advento da EC nº 19/1998. Precedentes. II - Em atenção, no entanto, aos princípios da impessoalidade e isonomia, que regem a admissão por concurso publico, a dispensa do empregado de empresas públicas e sociedades de economia mista que prestam serviços públicos deve ser motivada, assegurando-se, assim, que tais princípios, observados no momento daquela admissão, sejam também respeitados por ocasião da dispensa. Súmula Vinculante 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal. STF: ARE 680288 AgR/RS: A faculdade de que dispõe a administração pública de criar cargos de livre nomeação e exoneração deve observar, além do princípio da legalidade, a disposição constitucional que determina a realização de concurso público de provas ou de provas e títulos para a investidura em cargos públicos, reservando-se a possibilidade de contratação pela via comissionada somente a determinadas exceções constitucionais, a fim de garantir o amplo acesso da comunidade aos cargos públicos, corolário que é do princípio da impessoalidade. Aplicações do princípio da impessoalidade Princípio da moralidade administrativa Há uma polêmica se está abrangido ou não pela legalidade. Há uma moral institucional que a administração deve respeitar, a partir de um senso de honestidade, ética e justiça. Lei 9.784/99, art. 2º: a administração deve atuar de acordo com padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé. A violação à moralidade administrativa é causa de improbidade administrativa. Lei 8.429/92, art. 11. Dúvida: como controlar judicialmente a moralidade? Adilson Dallari e Sérgio Ferraz: não se deve impor à sociedade as concepções morais do Ministério Público e do Poder Judiciário. Princípio da proteção da confiança Seria uma decorrência do princípio da moralidade. A administração não pode agir contra as legítimas expectativas que criou em seus administrados. É o princípio da boa-fé administrativa.Proibição do venire contra factum proprium. Dever de agir com boa-fé, lealdade e transparência, respeitando as expectativas legítimas geradas nos administrados. Ex: a administração dá posse a servidor em situação irregular, o servidor trabalha e a administração se recusa a efetuar o pagamento. Princípio da especialidade Quando o Estado cria pessoas jurídicas públicas administrativas - as autarquias - como forma de descentralizar a prestação de serviços públicos, com vistas à especialização de função, a lei que cria a entidade estabelece com precisão as finalidades que lhe incumbe atender, de tal modo que não cabe aos seus administradores afastar-se dos objetivos definidos na lei. É um princípio que vem sendo bastante relativizado. Princípio do controle ou tutela Segundo este princípio, compete à administração direta o exercício de controle sobre as entidades da administração indireta que ela mesma cria. Ele assegura o princípio da especialidade. Princípio da autotutela Enquanto pela tutela a Administração exerce controle sobre outra pessoa jurídica por ela mesma instituída, pela autotutela o controle se exerce sobre os próprios atos, com a possibilidade de anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou inoportunos, independentemente de recurso ao Poder Judiciário (Súmulas 346 e 473 do STF). SÚMULA Nº 346 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PODE DECLARAR A NULIDADE DOS SEUS PRÓPRIOS ATOS. SÚMULA Nº 473 A ADMINISTRAÇÃO PODE ANULAR SEUS PRÓPRIOS ATOS, QUANDO EIVADOS DE VÍCIOS QUE OS TORNAM ILEGAIS, PORQUE DELES NÃO SE ORIGINAM DIREITOS; OU REVOGÁ-LOS, POR MOTIVO DE CONVENIÊNCIA OU OPORTUNIDADE, RESPEITADOS OS DIREITOS ADQUIRIDOS, E RESSALVADA, EM TODOS OS CASOS, A APRECIAÇÃO JUDICIAL. Condições para o exercício da autotutela O exercício da autotutela não é incondicionado. A jurisprudência estabeleceu condições: 1) Obediência ao devido processo legal: STF: A jurisprudência predominante do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que a Administração Pública pode anular os seus próprios atos quando ilegais, conforme o disposto na Súmula 473 do Supremo Tribunal, desde que observado o devido processo legal, para desconstituir as situações jurídicas consolidadas que repercutem no âmbito dos interesses individuais dos administrados. (AI 730928 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 26/05/2009) STF: O entendimento da Corte é no sentido de que, embora a Administração esteja autorizada a anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais (Súmula 473 do STF), não prescinde do processo administrativo, com obediência aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório. Precedentes (AI 710085 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 03/02/2009) 2) Prazo: Lei 9.784/99, Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. § 1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2º Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato. No STJ: O art. 54 da Lei 9.784/99 prevê um prazo decadencial de 5 anos, a contar da data da vigência do ato administrativo viciado, para que a Administração anule os atos que gerem efeitos favoráveis aos seus destinatários. Após o transcurso do referido prazo decadencial quinquenal sem que ocorra o desfazimento do ato, prevalece a segurança jurídica em detrimento da legalidade da atuação administrativa. (MS 18.554/DF, Rel. MinistroNAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 11/12/2013, DJe 07/02/2014) Princípio da segurança jurídica Art. 2.º, da Lei n.º 9.784/99 – veda a aplicação retroativa de nova interpretação de lei no âmbito da Administração Pública: Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação. Princípio da Hierarquia Os órgãos da Administração Pública são estruturados de tal forma que se cria uma relação de coordenação e subordinação entre uns e outros, cada qual com atribuições definidas na lei. É diferente do Judiciário e do Ministério Público, que são organizados com base na independência funcional. Institutos da delegação e da avocação: Lei 9.784/99: Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior. Princípio da Hierarquia Se uma determinada competência pode ser delegada, automaticamente, esta poderá ser avocada, porquanto são dois institutos jurídicos conexos e de "mão dupla", em decorrência da própria disposição do princípio da hierarquia que estrutura a Administração Pública. (MS 15.165/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/02/2012, DJe 05/03/2012) Princípio da continuidade do serviço público O serviço público, sendo a forma pela qual o Estado desempenha funções essenciais ou necessárias à coletividade, não pode parar. No STJ: 1. O princípio da continuidade do serviço público, assegurado pelo art. 22 do Código de Defesa do Consumidor, deve ser temperado, ante a regra do art. 6º, § 3º, II, da Lei nº 8.987/95, que prevê a possibilidade de interrupção do fornecimento quando, após aviso, permanecer inadimplente o usuário, considerado o interesse da coletividade. Precedentes. 2. A prestação de serviço de água não pode ser interrompida por existência de débito anterior consolidado contraído por antigo usuário. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1133507/RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/04/2010, DJe 29/04/2010) Princípio da publicidade Exige a ampla divulgação dos atos praticados pela Administração Pública, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas em lei. Também chamado de Princípio da TRANSPARÊNCIA. Deve ser entendido como o oposto de SECRETO, mas pode ser confundido com PROPAGANDA. Lei 12.527/11: Lei de acesso à informação: Art. 5º É dever do Estado garantir o direito de acesso à informação, que será franqueada, mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão. Art. 6º Cabe aos órgãos e entidades do poder público, observadas as normas e procedimentos específicos aplicáveis, assegurar a: I - gestão transparente da informação, propiciando amplo acesso a ela e sua divulgação; II - proteção da informação, garantindo-se sua disponibilidade, autenticidade e integridade; e III - proteção da informação sigilosa e da informação pessoal, observada a sua disponibilidade, autenticidade, integridade e eventual restrição de acesso. Art. 7º O acesso à informação de que trata esta Lei compreende, entre outros, os direitos de obter: I - orientação sobre os procedimentos para a consecução de acesso, bem como sobre o local onde poderá ser encontrada ou obtida a informação almejada; II - informação contida em registros ou documentos, produzidos ou acumulados por seus órgãos ou entidades, recolhidos ou não a arquivos públicos; III - informação produzida ou custodiada por pessoa física ou entidade privada decorrente de qualquer vínculo com seus órgãos ou entidades, mesmo que esse vínculo já tenha cessado; IV - informação primária, íntegra, autêntica e atualizada; V - informação sobre atividades exercidas pelos órgãos e entidades, inclusive as relativas à sua política, organização e serviços; VI - informação pertinente à administração do patrimônio público, utilização de recursos públicos, licitação, contratos administrativos; e VII - informação relativa: a) à implementação, acompanhamento e resultados dos programas, projetos e ações dos órgãos e entidades públicas, bem como metas e indicadores propostos; b) ao resultado de inspeções, auditorias, prestações e tomadas de contas realizadas pelos órgãos de controle interno e externo, incluindo prestações de contas relativas a exercícios anteriores. § 1º O acesso à informação previsto no caput não compreende as informações referentes a projetos de pesquisa e desenvolvimento científicos ou tecnológicos cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. § 2º Quando não for autorizado acesso integral à informação por ser ela parcialmente sigilosa, é assegurado o acesso à parte não sigilosa por meio de certidão, extrato ou cópia com ocultação da parte sob sigilo. § 3º O direito de acesso aos documentos ou às informações neles contidas utilizados como fundamento da tomada de decisão e do ato administrativo será assegurado com a edição do ato decisório respectivo. § 4º A negativa de acesso às informações objeto de pedido formulado aos órgãos e entidades referidas no art. 1º, quando não fundamentada, sujeitará o responsável a medidas disciplinares, nos termos do art. 32 desta Lei. § 5º Informado do extravio da informação solicitada, poderá o interessado requerer à autoridade competente a imediata abertura de sindicância para apurar o desaparecimento da respectiva documentação. § 6º Verificada a hipótese prevista no § 5o deste artigo, o responsável pela guarda da informação extraviada deverá, no prazo de 10 (dez) dias, justificar o fato e indicar testemunhas que comprovem sua alegação. Art. 8º É dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências, de informações de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas. Princípio da proporcionalidade e/ou razoabilidade A conduta administrativa deve ser proporcional e razoável: Razoável – correlação entre o fim e meio (Ex: apreensão de mercadorias vencidas) Proporcional – adequação da intensidade com o fim (Ex: lacração do estabelecimento) Princípio da motivação O administrador deve, em regra, expor os motivos que o levam a praticar os atos administrativos. Lei 9.784/99: Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções; III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública; IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório; V - decidam recursos administrativos; VI - decorram de reexame de ofício; VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais; VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo. § 1º A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriorespareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato. § 2º Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados. § 3º A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito. No STJ: Não merece prosperar a alegada violação do princípio da motivação dos atos administrativos. A decisão que indeferiu a solicitação de dispensa da multa contratual indicou os fundamentos de fato e de direito necessários para a imposição da sanção administrativa. O motivo de direito foi a previsão legal e contratual expressa da multa. O motivo de fato foram a inexecução contratual e a conduta culposa da impetrante. 5. Recurso ordinário desprovido. (RMS 21.949/PR, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 02/02/2010) Princípio da motivação: dúvidas Há fundadas dúvidas acerca da necessidade de motivação de todos os atos administrativos. É certo que as hipóteses previstas na lei acabam abarcando quase todas as situações, mas há autores que afirmam que qualquer tipo de ato administrativo, seja ele vinculado ou discricionário. Trata-se de mais um princípio que revela a preocupação de possibilitar maior controle da Administração Pública pelo Poder Judiciário, porque, por meio da motivação, é possível verificar a existência e veracidade dos motivos e a adequação do objeto aos fins de interesse público impostos pela lei. Problemas dessa concepção: e o ato de exoneração de cargo de provimento em comissão? Teoria dos motivos determinantes A validade do ato se vincula aos motivos indicados como seu fundamento, de tal modo que, se inexistentes ou falsos, implicam a sua nulidade. A veracidade e legitimidade dos motivos condicionam a validade do ato administrativo, tanto nos atos discricionários ou vinculados. Questionamento: há quem diga que a teoria gera uma incoerência: se o administrador motiva ato que não precisava motivar, estará sujeito à nulidade. Se simplesmente não motiva, não estará. Princípio da eficiência O art. 97 da Constituição da Itália o define como uma organização que assegure o bom andamento e a imparcialidade da administração. Surge no Brasil com a EC-19, o que faz com que seja associado ao chamado movimento da reforma (neoliberal) do Estado e, por isso, mal visto por muitos: Celso Antônio Bandeira de Mello: Quanto ao princípio da eficiência, não há nada a dizer sobre ele. Trata-se, evidentemente, de algo mais do que desejável. Contudo, é juridicamente tão fluido e de tão difícil controle ao lume do Direito, que mais parece um simples adorno agregado ao art. 37 ou o extravasamento de uma aspiração dos que burilam no texto. De toda sorte, o fato é que tal princípio não pode ser concebido (entre nós nunca é demais fazer ressalvas obvias) senão na intimidade do princípio da legalidade, pois jamais suma suposta busca de eficiência justificaria postergação daquele que é o dever administrativo por excelência. Finalmente, anote-se que este princípio da eficiência é uma faceta de um princípio mais amplo já superiormente tratado, de há muito, no Direito italiano: o princípio da ‘boa administração’" Princípio da Eficiência Alexandre de Moraes: princípio da eficiência é o que impõe à administração pública direta e indireta e a seus agentes a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade, rimando pela adoção dos critérios legais e morais necessários para melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitarem-se desperdícios e garantir-se maior rentabilidade social. Maurício Antônio Ribeiro Lopes: eficiência não é princípio, mas consequência da atuação administrativa. Nada é eficiente por princípio. Lúcia Valle Figueiredo o associa com a economicidade. O grande problema é que eficiência só pode ser medida em relação a um fim. Então, a discussão se desloca para qual deve ser o fim da administração. Gastar menos? Atender mais aos cidadãos? Fazer mais investimentos? Promover atividades culturalmente elevadas? Ou atividades populares? Deve produzir riqueza econômica? Princípio da eficiência Dentre outros Ótimo de Pareto: Uma situação econômica é ótima no sentido de Pareto se não for possível melhorar a situação, ou, mais genericamente, a utilidade de um agente, sem degradar a situação ou utilidade de qualquer outro agente econômico. Lógica utilitarista: maximização de benefícios. Conclusão Há uma inflação de princípios no meio jurídico brasileiro. A doutrina se esforça em desenvolver princípios, cada vez em maior quantidade, cada vez com menos determinação. Os princípios, ainda que cumpram um papel importante, estão abrindo caminho para um grande aumento da subjetividade e da insegurança no direito. Mas, ruim com eles, pior sem eles... Direito Administrativo Introdução Slide Number 3 Slide Number 4 Slide Number 5 Slide Number 6 Slide Number 7 Slide Number 8 Slide Number 9 Slide Number 10 Direito administrativo: conceito� Slide Number 12 Conceito de administração pública Objeto do direito administrativo Slide Number 15 Slide Number 16 Princípios implícitos e explícitos Slide Number 18 Slide Number 19 Supremacia do interesse público Presunção de legalidade dos atos administrativos Regras de interpretação do direito administrativo (doutrina tradicional) Princípio da indisponibilidade do interesse público Slide Number 24 Um cuidado Sistema de aplicação da Lei Princípio da impessoalidade Aplicações do princípio da impessoalidade Slide Number 29 Princípio da moralidade administrativa Princípio da proteção da confiança Princípio da especialidade Princípio do controle ou tutela Princípio da autotutela Condições para o exercício da autotutela Slide Number 36 Slide Number 37 Princípio da segurança jurídica Princípio da Hierarquia Princípio da Hierarquia Princípio da continuidade do serviço público Princípio da publicidade Slide Number 43 Slide Number 44 Slide Number 45 Princípio da proporcionalidade e/ou razoabilidade Princípio da motivação Slide Number 48 Princípio da motivação: dúvidas Teoria dos motivos determinantes Princípio da eficiência Princípio da Eficiência Princípio da eficiência Conclusão
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