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1 DEFESA DO ESTADO E AS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS A Constituição traz todo um procedimento que disciplina as formas de solução de determinadas crises, bem co- mo informa o Estado e os poderes constituídos acerca dos procedimentos de manutenção da paz, ordem e segurança. José Afonso da Silva classifica as normas constitucionais em elementos distintos, de acordo com as finalidades que determinadas normas têm, as agrupando em determinados elementos, conforme sua finalidade. Segundo o referido autor, temos elementos limitativos, que são normas que limitam o poder do Estado e resguardam direitos fundamen- tais (art. 5º) e elementos orgânicos, que organizam e estruturam o Estado (títulos III e IV), mas dentre esses elementos temos um rol chamado de elementos de estabilização constitucional, os quais são conjuntos de normas que disciplinam a solução de crises constitucionais. Como elementos de estabilização podem ser citados os arts. 34, 102, I, “a” da CF/88 e o estado de sítio e de defesa. � Sistema constitucional das crises No estado de exceção, de legalidade extraordinária, alguns direitos fundamentais são relativizados, havendo res- trição de alguns deles para que o Estado adote algumas medidas visando solucionar a crise. A Constituição estabelece limites a essa relativização, apontando quais são as medidas cabíveis, inclusive, impondo formas de controle à atuação dos poderes constituídos, em especial do poder executivo. O sistema constitucional das crises é regido por três princípios basilares que devem ser observados sempre du- rante a instauração de uma das medidas excepcionais (estado de sítio e estado de defesa). O primeiro é o princípio da necessidade, segundo o qual a exceção deve ser a última saída, quando outras medidas não forem suficientes para reestabelecer a crise. Instaurado o estado de exceção sem necessidade configura verdadeiro arbítrio ou um golpe no Estado. Outro princípio é a temporariedade, que prega que o estado de exceção é sempre uma medida temporária, ou pelo prazo previsto na Constituição ou enquanto durar a crise, a depender do motivo que a fundamentou. Um estado de exceção permanente configura uma ditadura. Um terceiro princípio que rege a instauração e a execução do estado de exceção é o da proporcionalidade, de modo a não cometer excesso, mas tomando medidas ponderadas, de forma a impor o menor sacrifício possível aos direitos fundamentais, sob pena de responsabilização daqueles que adotaram a medida em desrespeito a esse princípio. a) Estado de defesa A decretação tanto do estado de defesa quanto do estado de sítio é do Presidente da República (art. 84, IX). O estado de defesa é a medida utilizada para preservar ou reestabelecer a ordem e a paz social em locais restritos e de- terminados ameaçados por grave e eminente instabilidade institucional ou calamidade pública de grandes proporções na natureza. O estado de defesa é sempre em locais restritos e determinados, pois se tem caráter nacional, a grave ameaça à ordem e a paz social deve ser invocado estado de sítio. � Decretação A competência para decretar a medida é do Presidente da República, mas antes de decretá-la, ele deve ouvir dois órgãos consultivos, o conselho de defesa nacional e o conselho da república. O parecer desses órgãos é apenas opinativo, sem caráter vinculante. Após consultar os órgãos, o Presidente irá decretar a medida, devendo constar a justificativa, o motivo e o prazo de no máximo 30 dias, prorrogável uma única vez por igual período. No decreto inter- ventivo, o presidente também deve apontar as medidas a serem adotadas e executadas, a fim de sanar a crise e rees- tabelecer ou manter a paz e a ordem. Além disso, o decreto deverá ser submetido ao controle imediato ao Congresso Nacional, no prazo de 24h, para que esse realize o controle acerca da medida adotada. Na hipótese de recesso do CN, é uma hipótese de convocação extraordinária. O presidente do Senado deverá convocar o Congresso para que se reúnam no prazo de 5 dias. Pelo voto da maioria absoluta, o Congresso poderá aprovar ou rejeitar o decreto, sendo que, se rejeitado, deve ser cessado imediatamente o estado de exceção. Todavia, se a medida for aprovada pelo CN, deverá ser instituída uma comissão formada por parlamentares para acompanhar a execução do estado de defesa. Ao final do estado de defesa, o Presidente deve enviar uma mensagem ao Congresso informando as medidas que foram adotadas, as consequências e se foi possível encontrar uma solução. Trata-se de controle posterior realizado pelo Congresso Na- cional, o qual poderá aprovar a mensagem ou rejeitá-la. Não sendo aprovado o estado de exceção pelo Congresso, o Presidente poderá ser responsabilizado. 2 � Relativização dos direitos � Liberdade de reunião; � Sigilo de comunicações e correspondências; e � Prisão (determinada por autoridade administrativa). A prisão determinada por autoridade administrativa deverá ser comunicada ao juiz imediatamente, o qual pode- rá relaxá-la ou manter a medida, tendo esta o período máximo de 10 dias. O preso não poderá ficar incomunicável, pois no Brasil não se admite essa medida, mesmo em estado de defesa. Além disso, as imunidades parlamentares se- guem intactas durante o estado de defesa. b) Estado de sítio O estado de sítio serve para regular as situações mais graves, como uma situação de grave comoção nacional; diante da ineficácia do estado de defesa ou diante de guerra ou resposta à agressão armada. O estado de sítio também é uma medida a ser decretada pelo Presidente da República, também devendo haver a consulta meramente opinativa do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional. Diferente do estado de defesa, no estado de sítio há um controle prévio do Conselho Nacional, devendo o Presidente da República requerer a autorização da decretação da medida. O CN deverá se manifestar pelo voto da maioria absoluta. Quando a decretação ocorrer em razão de grave comoção nacional ou diante da ineficácia do estado de defesa, o prazo máximo será de 30 dias, prorrogáveis sucessivas vezes pelo prazo de 30 dias, até solucionar a crise. Na hipótese de guerra ou resposta à agressão armada, o prazo será enquanto durar o motivo que justificou a decretação da medida, ou seja, enquanto du- rar a guerra. Após, o CN também irá fazer um controle concomitante, designando uma comissão que irá acompanhar de perto a execução da medida e as restrições impostas aos diversos direitos. O CN também irá realizar um controle posterior, pois assim como no estado de defesa, o Presidente da República irá enviar uma mensagem ao CN relatando tudo que aconteceu durante a medida, o qual irá apreciar, podendo rejeitar a mensagem, importando na responsabili- zação do Presidente. � Relativização dos direitos � Liberdade de reunião; � Sigilo de comunicações e correspondências; e � Prisão (determinada por autoridade administrativa); � Obrigar as pessoas a permanecerem em determinado local; � Detenção em prédios, não podendo ser no mesmo local onde estão os presos condenados; � Liberdade de imprensa; � Inviolabilidade domiciliar; � Intervenção em empresas prestadoras de serviço público; e � Requisição de bens móveis e imóveis. Com relação à inviolabilidade parlamentar, as prerrogativas parlamentares permanecem durante o estado de sí- tio, no entanto, a inviolabilidade parlamentar pode sofrer uma pequena restrição quando a manifestação se der fora do Congresso Nacional e for contrária à execução da medida. Tanto durante o estado de sítio quanto do estado de defesa poderá haver um controle judicial, auferindo a lega- lidade das medidas tomadas e sua proporcionalidade através de habeas corpus, mandado de segurança, ações ordiná- rias etc. 3 � Forças armadas As forças armadas sãoinstituições regulares e permanentes que têm por função a defesa da pátria, a garantia dos poderes, e, a pedido de qualquer destes, a proteção da lei e da ordem. As forças armadas podem ser requisitadas pelo Presidente da República (Executivo), pelo Congresso Nacional (Legislativo) ou pelo STF (Judiciário). As forças armadas são formadas pelo Exército, Marinha e Aeronáutica, as quais são fundadas em dois princípios, hierarquia e disciplina, e isso torna os servidores das forças armadas diferentes de qualquer outro servidor, tanto da iniciativa privada quanto do servidor público. Os militares devem obedecer aos seus superiores, assim, temos que eles acabam sofrendo algumas limitações aos seus direitos. A hierarquia e a disciplina faz com que as forças armadas rece- bam um tratamento diferenciado, por exemplo, é vedado expressamente pela Constituição a sindicalização e a greve dos militares. Ademais, o serviço militar é obrigatório, ou, caso a pessoa não queira prestar o serviço militar obrigatório, pode- rá cumprir uma prestação alternativa (Lei n. 8.239/81), sob pena de perder os direitos políticos (art. 15, IV, CF/88). Em relação às forças armadas, pode-se citar a súmula vinculante n. 6: “não viola a Constituição o estabelecimen- to de remuneração inferior ao salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial” e, em relação ao limite de idade, a Constituição autoriza essa imposição para ingressar nas forças armadas. � Segurança pública � Das polícias Existe o poder de polícia na administração pública (art. 78, CTN), que não se confunde com a polícia da seguran- ça pública. A polícia da segurança pública se divide em duas, administrativa (ostensiva/preventiva) e a judiciária (inves- tigativa). A polícia administrativa visa manter a incolumidade dos bens e pessoas, prevenindo qualquer dano aos bens e aos indivíduos. No âmbito federal, o policiamento ostensivo é realizado por três instituições: polícia federal, polícia rodoviária federal e a polícia ferroviária federal. Já na esfera estadual, a polícia militar realiza o policiamento ostensivo e o corpo de bombeiros militar. A polícia judiciária é investigativa, ou seja, ela atua após o cometimento do crime, investigando os fatos para chegar à autoria e a solução dos crimes. No âmbito federal, o policiamento é realizado pela polícia federal, e na esfera estadual pela polícia civil. Assim, percebe-se que a polícia federal atua de forma investigativa e preventiva. Já os muni- cípios não têm polícias, assim, os guardas municipais não devem ser confundidos com a polícia. No Distrito Federal, a polícia tem natureza híbrida, vejamos: a súmula n. 647 do STF dispõe “compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil e militar do Distrito Federal”. Todavia, o governador do Distrito Federal (art. 144, § 6º, CF/88) é o chefe da polícia. � Força de segurança nacional É um programa criado principalmente em decorrência de alguns movimentos grevistas de polícias de alguns es- tados, segundo o qual a União firma um convênio com os estados, a pedido destes, para tentar auxiliá-los com a segu- rança pública. A força de segurança nacional se restringe ao policiamento ostensivo, não podendo atuar de forma in- vestigativa. Por fim, após várias greves realizadas pelas polícias, a jurisprudência do STF vem afirmando que nenhuma polícia pode realizar greve, tendo em vista a dispensabilidade e a essencialidade das suas funções. 4 � Funções essenciais à justiça A Constituição Federal de 1988 optou por disciplinar quais são as funções essenciais à justiça: o Ministério Públi- co, as Procuradorias, a advocacia privada e a Defensoria Pública. a) Ministério Público O Ministério Público tem previsão constitucional nos arts. 127 a 130 da CF/88, sendo um órgão permanente e autônomo, não integrando nenhum dos três poderes. A função do MP é a manutenção da ordem, da lei e da defesa dos interesses sociais, individuais e disponíveis, assim, nada mais justo do que manter sua distância com os demais órgãos. No Brasil, durante a Constituição de 1967/69, o Ministério Público estava muito vinculado ao Poder Executivo, sendo que hoje ele não pode fazer a defesa de nenhuma entidade pública. Ao analisar os princípios constitucionais que regem o MP, percebe-se sua autonomia e permanência, consisten- tes nos princípios da unidade, indivisibilidade e independência institucional. O MP é um só, tendo apenas uma divisão institucional e administrativa, portanto, é indivisível e, assim, seus membros podem se substituir uns aos outros. A independência funcional significa que ele não sofre qualquer tipo de ingerência na sua atuação típica, portanto, pode escolher livremente como irá atuar. O Ministério Público da União atua perante as justiças da união, através do MPF, que atua na justiça federal; o MPT, que atua perante a justiça do trabalho; o MPM e os procuradores militares, que atuam na justiça militar; o MPDFT e o MPE, que atuam perante a justiça estadual. A justiça eleitoral tem peculiaridades, pois não tem estrutura e carreira própria. No TSE e no TRE atuam membros do MPF e, perante o âmbito estadual, os membros do MPE. O chefe do MPU é o Procurador-Geral da República, o qual é escolhido pelo Presidente da República e aprovado pela maioria absoluta do Senado. Seu mandato será de 2 anos, permitidas sucessivas reconduções. Para destituir o Procurador-Geral da República também é necessária a manifestação do chefe do executivo e a aprovação do Senado. No âmbito estadual, o chefe é o Procurador-Geral de Justiça, o qual é escolhido pelo Governador do estado, a- pós a elaboração de lista tríplice pelo MPE. O mandato é de 2 anos, permitida uma recondução, e sua destituição ocor- re pelo voto da maioria da assembleia legislativa. � Garantias institucionais � Autonomia administrativa: significa o poder para escolher sua direção, elaborar regimento interno e se administrar como um todo. � Autonomia financeira: significa capacidade para elaborar sua própria proposta orçamentária. � Garantias funcionais � Vitaliciedade: adquirida após dois anos da investidura no cargo, os membros do MP não podem perder o cargo, salvo em razão de decisão judicial transitada em julgado; � Inamovibilidade: não se admite uma remoção compulsória, salvo a hipótese do art. 83, VIII, CF/88; e � Irredutibilidade de subsídios: não pode haver a redução dos subsídios. � Impedimentos Os membros do MP não podem exercer a advocacia, receber custas, participações nos processos ou contribui- ções, seja de pessoas físicas, como jurídicas, nem podem participar de sociedades ou exercer outro cargo ou função pública, salvo a atuação no magistério. Também não podem exercer atividade político-partidária, fazer consultoria e representação de nenhum ente público ou exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se ausentaram antes de decorridos três anos. 5 � Função investigatória A teoria dos poderes implícitos afirma que quando a Constituição atribui uma função ao órgão, implicitamente impõe instrumentos para que ele exerça a função e, como o MP é o titular da ação penal, ele também tem poderes para investigar. � Conselho Nacional do Ministério Público No art. 103-A da CF/88 encontramos o CNMP, o qual tem as funções de fiscalização administrativa, orçamentária e financeira do MP, assim como zela pelo cumprimento dos deveres funcionais dos membros do MP. b) Advocacia Pública A advocacia pública faz a representação jurídica dos entes públicos, na União, pela AGU; nos estados, pela PGE e, nos municípios, através do PGM. Com relação à AGU, ela surgiu a partir da constituição de 1988, sendo dividida em quatro órgãos distintos: a procuradoria federal,que faz a defesa das autarquias e fundações públicas federais; a PFN, que faz a execução da dívida ativa da união; a advocacia da união, que fica a cargo das demais ações e interesses da união e o procurador do Banco Central. O Advogado-Geral da União é um cargo de livre nomeação e exoneração pelo Presidente da República, tendo como requisitos ter mais de 35 anos, notório saber jurídico e a reputação ilibada, não sendo necessário ser membro de carreira. Ademais, o AGU tem status de ministro de estado, e isso faz com que ele tenha algumas prerrogativas, assim, ele é julgado por crime comum pelo STF, mas por crime de responsabilidade ele é julgado pelo Senado Federal. Esses cargos têm estabilidade após três anos de exercício c) Advocacia privada A advocacia privada é exercida por advogados, e tem como órgão fiscalizatório a Ordem dos Advogados do Bra- sil. d) Defensoria Pública A Defensoria Pública, prevista no art. 134 da CF/88, é a instituição que tem a função de prestar assistência jurídi- ca integral e gratuita aos necessitados, ou seja, aqueles que não têm condições de contratar um advogado. Os defensores públicos têm as seguintes prerrogativas: inamovibilidade, salvo por interesse público e voto da maioria absoluta, irredutibilidade, independência funcional, vedação do exercício da advocacia e recebimento de hono- rários. A Defensoria Pública da União atua perante as justiças da união e é chefiada pelo Defensor Público-Geral Fede- ral.
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