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O metodo pedagogico jesuitico[1] (1)

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O MÉTODO PEDAGÓGICO
JESUÍTICO
(UMA ANÁLISE DO RATIO STUDIORUM)
José Maria de Paiva
101
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
VIÇOSA – MINAS GERAIS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
O MÉTODO PEDAGÓGICO
JESUÍTICO
(UMA ANÁLISE DO RATIO STUDIORUM)
José Maria de Paiva
Auxiliar de Ensino da U.F.V.
Composto e Impresso nas Oficinas Gráficas da
Imprensa Universitária da Universidade Federal de Viçosa
Viçosa – Minas Gerais Brasil
1981
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................1
2. DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM O RATIO STUDIORUM ..........................................1
3. DA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR ............................................................................3
 3.1. Dos Graus do Ensino .....................................................................................3
 3.2. Do Processo de Avaliação .............................................................................4
4. DA METODOLOGIA DO ENSINO E DO ESTUDO .....................................................6
 4.1. Do Estudo Privado .........................................................................................7
 4.2. Das Aulas ......................................................................................................8
 4.3. Da Metodologia para as Classes Superiores ..............................................10
 4.4. Das Repetições ...........................................................................................11
 4.5. Das Disputas ...............................................................................................12
 4.6. Das Academias ............................................................................................13
5. DAS DISCIPLINAS ....................................................................................................15
6. CONCLUSÃO ............................................................................................................17
ANEXOS ........................................................................................................................19
I. Número de Jesuítas e de suas Instituições no Período de 1549 a 1759 ...................21
II. Índice das Regras do RATIO STUDIORUM .............................................................22
III. Dos Programas .........................................................................................................22
IV. Dos Autores Indicados .............................................................................................25
V. Dos Professores ........................................................................................................25
1. INTRODUÇÃO
A Companhia de Jesus, fundada em 1534, teve por propósito “não somente ocupar-se na salvação e perfeição das almas próprias, com a graça divina, mas também com ela procurar inteiramente ajudar a salvação e perfeição dos próximos” (1). Para a realização deste segundo objetivo creu-se necessária a dedicação ao ensino e a criação de escolas. O quadro, que pomos em anexo (2), revela a ênfase que a Companhia deu a este instrumento de salvação. Desde cedo, com efeito, especializaram-se os jesuítas na ação de instruir e educar, para salvar. Dado seu espírito de rigorosa ascese tornaram-se em tudo meticulosos. Com este espírito organizaram seu próprio código pedagógico, intitulado RATIO ATQUE INSTITUTIO STUDIORUM. Fundado nas Constituições e na experiência da Companhia, o RATIO foi pela primeira vez esboçado em 1586, impresso a título de experiência em 1591 e definitivamente promulgado em 1599.
O presente estudo não consistirá num resumo do que o RATIO estabelece, em termos de organização dos estudos, nem obedecerá à ordem ali registrada, mas, perpassando as normas, procurará levantar os princípios que regem os estudos, a organização curricular, a metodologia do ensino e do estudo, a disciplina construtora do ambiente, dando assim uma visão da dinâmica pedagógica que modelou a educação brasileira. Seguiremos a tradução do Pe. Leonel Franca SJ, constante do livro, O Método Pedagógico dos Jesuítas, editado pela Agir. As citações, dada a sua abundância, serão feitas no próprio texto, indicando-se a página e, em seguida, o número da Regra.
2. DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM O RATIO STUDIORUM
Por diversas vezes, define o RATIO os princípios fundamentais que informam todas as atividades, todas as instituições da Companhia, que estabelecem sua razão de ser. Dizem respeito à busca do Reino de Deus (estilizada no lema “Ad Majorem Lei Gloriam”), à salvação da própria alma e da alma do próximo e à edificação da Igreja. São princípios essencialmente religiosos, explicitando a estreita relação do homem com Deus. Submete, pois, RATIO toda a ação pedagógica à persecução do “conhecimento e amor do Criador e Redentor nosso” (119,1), da 
“formação sólida das virtudes religiosas” (113,1), da “glória de Deus e da salvação das almas”. (214,1). O colégio jesuítico só tem sentido, à medida que atender a este objetivo (119,1; 133,1; 144,1; 181,1). Repreende-se claramente do texto que a formação envolve muito mais que “saber” (133,1): a ciência está submetida à virtude; a teoria, à atitude de vida; o conhecimento filosófico, ao teológico; o conhecimento, à fé. A arquitetura do RATIO STUDIORUM ultrapassa toda a limitação da simples instrução e leva, propositadamente, a determinada educação, em que o conceito de homem é o apresentado pela Igreja do século XVI, ou seja, uma referência essencial a Deus de um ser que se caracteriza pelo uso da razão, e esta razão alcança seu apogeu, dedicando-se a seu próprio cultivo, conforme as lições dos antigos, por meio da interpretação cristã. Toda a organização da vida de estudos traduz esta direção, mas o currículo a deixa expressa. Encontramos neste laboratório pedagógico, que é o colégio jesuítico, uma comunidade perfeitamente integrada, em que cada aspecto da vida social retrata fielmente a estrutura de todo o conjunto.
A apresentação literária do RATIO STUDIORUM tem a forma de um código: um conjunto metódico e sistemático de disposições legais. Não se dá em forma de tratado teórico, mas se impõe como norma prática. Não se discute sua validade: propõe-se aprioristicamente válida. Traduz, pois, como assinalei acima (3), a dinâmica pedagógica comunitária da Companhia. O princípio estrutural, que dispõe a ordem das partes, é o princípio da autoridade hierarquizada. O índice dos títulos, que anexamos (4), é elucidativo quanto a este aspecto, pois acompanha de perto a ordem estabelecida (Provincial, Reitor, Prefeito de Estudos, Professores – e estes são indicados segundo a hierarquia das disciplinas – bedel, escolásticos e alunos externos). Encontramos freqüentes referências à imposição hierárquica (119, 1-3; 121, 10; 133, 2; 134, 6 e 8; 137, 24; 138, 1; 142, 23 e 25; 143, 30; 144, 4; 145, 6; 151, 19; 157, 7; 165, 2; 168, 8 §1; 182, 11; 218, 1; 22, 4 e 7; 223, 8.) e muitas outras.
A hierarquia implica em centralização do poder. O poder maior é a Igreja, encarnação da vida em comunhão com Deus, objetivo fundamental da Companhia. Isto se explicita em nosso documento através de múltiplas referências ao Magistério (145, 6 e 8; 152, 2; 153, 5; 159, 2 e 3), à Sagrada Escritura (145, 8; 148, 1 e 2; 149,4-7;), ao Direito Canônico (218, 12 e 13) e à Liturgia (176, 45 e 46). Em plano imediato segue a Companhia, organizada pelas Constituições (120, 8; 121, 9 §1; 133, 10; 121, 10: 11; 181, 1 e 5; 182,8 e 9; 217, 5) à cuja frente se acha o Geral (121, 10; 127, 21 §5), seguido do Provincial, Reitor, Prefeito de Estudos etc., conforme a ordem acima referida.
Conseqüências necessárias desta formação hierárquica são os princípios de centralização, de uniformidade e de invariância. Todo e qualquer colégio da Companhia deverá se organizar, segundo as normas emanadas do RATIO STUDIORUM, não importando sua localização geográfica, cultural, social, política e econômica. A meticulosidade, tão gritante na forma de organizar o currículo, a metodologia de trabalho, os 
costumes e as possíveis exceções denunciam a uniformidade e a invariância buscadas. São constantes, no texto, os exemplos (123, 16; 130, 35; 128, 23; 138, 4; 143, 30; 145, 6; 148, 2-3; 149, 7 e 9; 152, 2; 153, 7; 159, 2; 160, 9-10; 161, 11; 165, 5; 166, 8 § 2; 182, 11; 183, 15; 189, 39).
3. DA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
3.1 Dos Graus do Ensino
O RATIO STUDIORUM propõe dois graus de ensino: as Classes Inferiores e as Faculdades Superiores, integradas por um princípio externo, aqui resumido como destinação religiosa, e outro, interno, que é a preparação para o curso imediatamente superior, fundada na grandeza do saber. As Classes Inferiores desdobram-se em Gramática, Humanidades e Retórica, uma servindo de suporte para a outra e todas encaminhando para a Filosofia e a Teologia. O ciclo completo da formação jesuítica ocorre com o término dos estudos teológicos. Só então tem o estudante acesso ao pleno sentido do homem que ele deve ser e que ele deve fazer nascer, no seio da sociedade. Não se incluem, propriamente, nesta formação os estudos elementares (Escola de Ler, Escrever e Cantar), de que nos fala a História da Companhia (5).
As Classes Inferiores compreendam a Gramática (Inferior, Média e Superior), Humanidades e Retórica. A Classe Inferior da Gramática estuda apenas o Latim, tendo por objetivo o conhecimento perfeito dos elementos da Gramática e o conhecimento inicial da sintaxe (211, 1 ss). A Classe Média abrange o conhecimento, ainda que imperfeito, de toda a Gramática, e do Grego, os nomes contratos, os verbos circunflexos, os em mi e as informações mais fáceis (208, 1). A Classe Superior, o conhecimento perfeito da Gramática, e do Grego e as oito partes da oração (204, 1).
As Humanidades objetivam preparar, nos que terminaram a Gramática, o terreno à eloqüência. Estudam melhor a íngua, procuram erudição e se introduzem nos preceitos da Retórica. Continuam o estudo do Grego (sintaxe) (199, 1).
A retórica não se define com facilidade, dentro de limites fixos, mas, de qualquer forma, abrange regras de oratória, estilo e erudição. Ainda aí continua o estudo o grego (192, 1).
As Classes Superiores compreendem a Filosofia e a Teologia. A Filosofia abrange o estudo da Lógica (1º ano), Física e Matemática, mais alguns elementos de Geografia e Astronomia (2º ano), Psicologia, Metafísica e Ética (3º ano). A Teologia, a Dogmática segundo Santo Tomás, durante todo o curso; dois anos de moral (continuada e reforçada pelos Casos) e dois anos de Escritura, reforçados pelo estudo do Hebraico, por um ano.
Prevê-se ainda o que hoje chamaríamos de pós-graduação, em Teologia, por dois anos (121, 10; 142, 25; 216, 4-5). Vê-se bem, como diz Ferreira Deusdado, que o ciclo geral dos estudos na Companhia era longo, “porque num jesuíta a ciência é absolutamente necessária, quase 
tão necessária como a virtude” (6).
Destaca-se a aprendizagem do Latim e, em segundo lugar, a do Grego, como instrumentos de formação humanista. Sobre esta se fará a formação filosófica e teológica, também em Latim e em Grego. Para uma e para outra usam-se, de preferência, os textos originais (159, 2 e 6; 160, 9-10; 161, 11-12; 152, 2; 153, 7). O ponto de vista cristão deve, contudo, predominar nas questões filosóficas (159, 2), enquanto o “sentir com a Igreja” deve sobrepor-se às discussões teológicas (153, 5). Há, de fato, uma continuidade, tanto sob o aspecto instrumental, quanto da formação. Cumprem-se claramente os princípios propostos.
O aprofundamento no saber é o critério para a duração dos cursos. Com respeito à Retórica, diz-se: “Ainda que não seja possível prescrever a duração do curso de Humanidades e Retórica e a cargo do superior fique o decidir quanto deverá cada qual demorar-se nestes estudos, nenhum dos nossos pelo menos deverá ser enviado à Filosofia, antes de haver estudado dois anos de Retórica” (123, 18). E da Filosofia: “onde estudaram os nossos escolásticos, o curso de Filosofia deverá durar três anos e não menos” (123, 17). Permite-se, contudo, certa flexibilidade, a juízo do Reitor, não no que tange à estruturação do curso ou sua duração, mas no que concerne aos interesses ou a missões previamente estabelecidas dos alunos (170, 13; 123, 19). Normalmente, porém, a Filosofia se faz em três anos, e em quatro anos, a Teologia. As Classes Inferiores teriam cinco anos, de duração, mas insiste-se no prolongamento, sobretudo das Humanidades e da Retórica. Podemos supor, com bastante aproximação, que o curso todo seria feito em 7 ou 8 anos.
O ano letivo é longo, pois “as férias gerais do ano, nos Cursos Superiores, não devem ter duração inferior a um mês nem superior a dois meses. No curso de Retórica, a menos que não se oponha o costume da universidade, as férias devem durar um mês; em Humanidades, três semanas; no de Gramática Superior, duas; uma, nos outros cursos” (130, 37 §1). O número dos feriados precisa, antes, ser diminuído que aumentado (131, 37 §2). Há algumas férias menores; “Nos cursos Superiores, não haverá aula na véspera do Natal, até a festa da Circuncisão; os Cursos Inferiores, da tarde da mesma véspera de Natal até a festa dos Santos Inocentes” (131, 37 §4). E assim, por ocasião das grandes festas, Páscoa, Pentecostes e Corpo de Deus.
O tempo de estudo em aula é de cinco horas, distribuídas igualmente entre a manhã e a tarde. Podemos inferir que o tempo dedicado aos estudos atingia de mil a trezentas horas por ano.
3.2. Do Processo de Avaliação
A avaliação do processo de aprendizagem atende, em primeiro plano, à finalidade “a que corresponde o esforço da instrução” (119, 1). O critério interno da avaliação é tanto a virtude do examinando (123, 19 §2) quanto o grau de aproveitamento (123, 19 §3). O julgamento é feito por voto secreto (126, 19 §13), ficando a última decisão 
com o Provincial(ib.). Servir-lhe-ão, então, de critério a maior glória de Deus e o bem da Companhia. O critério de aproveitamento é ditado pela mediania, e esta “deve entender-se, no sentido em que vulgarmente se entende, quando se diz que alguém que é de talento mediano, a saber, quando percebe e compreende o que ouve e estuda, e é capaz de dar razão suficiente a quem lha pede, ainda que, em Filosofia e Teologia, não atinja o grau de doutrina que as Constituições designam com a expressão “haver nela feito, bastante progresso”, nem seja capaz de defender as teses, aí mencionadas, com o saber e a facilidade com que as defenderia, quem fosse dotado de talento para ensinar Filosofia e Teologia” (125, 19 §11).
Há dois exames de Filosofia no primeiro ano (123, 19 §1) um no começo e outro no fim da Lógica. A importância destes atos se revela pela presença do Prefeito, do Professor de Teologia, do Professor de Filosofia, do Reitor e seus consultores, quando não do próprio Provincial. Estes todos formam a banca e ajuízam secretamente do valor do examinando. O primeiro exame tem por fim estabelecer quem continuará a Filosofia ou quem será mandado diretamente para os Casos (para “formar bons párocos ou administradores dos Sacramentos) (156, 1). O segundo exame (124, 19 §4) define mais uma vez a situação dos estudantes: os que excedem a média continuam a Filosofia: os que ficam abaixo dela seguem para os Casos; os que a atingem e não a excedem em Letras vão também para os Casos; os que apenas aatingem mas têm dons para a pregação ou para o governo fazem Teologia, sob condição.
Dispõe o RATIO de normas para o exame de Metafísica (141, 20) bem como para os exames dos internos, indicando banca, forma, tempo e matéria. Também os que cursaram fora, quer Filosofia quer Teologia, deverão ser examinados pela Companhia (125, 19 §8).
Também com respeito às Classes Inferiores dita o RATIO normas precisas sobre a avaliação. A promoção geral e solene se dá uma vez por ano, depois das grandes férias. Abre-se, contudo, exceção a quem se distinguir notavelmente: promove-se então, a qualquer época do ano, por meio de exames. Eles são tanto orais quanto escritos. O exame escrito compreende, em todas as classes, um ou dois trabalhos de prosa, quando não de poesia (Para Retórica e Humanidades) e uma de Grego (170, 14). O exame oral é presidido pelo Prefeito, com duas bancas (não-professores) (170, 18). Os examinandos aproximam-se de três em três. Os examinadores, ao lhes chegar o examinando, consultam as pautas do professor para aquilatar o progresso do candidato. A avaliação de nota do exame oral baseia-se na composição escrita, na nota do professor (constante da pauta) e no próprio exame oral (171, 20 e 22). Em casos de dúvida, fazem-se novos exames, considerando então a idade, o tempo passado na mesma classe, o talento e a aplicação do examinando (171, 23). Os totalmente ignorantes são despedidos; os de todo inaptos repetem; os apenas aptos são promovidos sob condição. O exame oral consta de leitura da composição, com correção dos erros, de uma tradução com salientação das regras, da explicação de um ponto da ma-
téria. Como fecho de todo este processo longo e solene, promulga-se em reunião a lista das promoções, destacando os primeiros colocados (172, 26).
Há um conjunto de regras específicas para as provas escritas (177, 1 - 178, 11). Mandam elas: 1º, não se pode faltar, sob pena de se perder o exame; 2º, não se podem perder as aulas, em que serão dados os avisos; o silêncio durante a prova é norma obrigatória; 3º, é preciso trazer material, para que não se tome emprestado coisa alguma de ninguém; 4º a prova será adaptada ao nível de cada classe, escrita com clareza, de acordo com as palavras do ditado e de acordo com o modo prescrito. O que for duvidoso será interpretado no sentido falso; as palavras omitidas ou mudadas sem razão, para evitar dificuldade, serão consideradas erros; 5º, tome-se cuidado com os que sentam juntos, porquanto podem colar; 6º, se, com licença, alguém sair, deve deixar tudo com o Prefeito; 7º, uma vez entregue a prova ao Prefeito, nada se pode corrigir; 8º, assinar o nome no verso; 9º, acabada a prova, o aluno a entrega ao Prefeito, carrega seu material e sai imediatamente; quanto aos outros, ninguém poderá mudar de lugar; 10º, tempo esgotado, recolher as provas; 11º, apresentando-se ao exame oral, levem (os três da banca) seus livros sobre os quais os alunos serão examinados, mas não se comuniquem: prestem atenção no que está sendo examinado.
Por diversas vezes, o RATIO refere-se à distribuição de prêmios (135, 14; 174, 35-36; 178, 1; 180, 11; 187, 31; 229, 5-6; 230, 7). Há prêmios anuais, públicos; há concursos especiais com prova e prêmios (178, 1ss): há prêmios particulares (229, 5; 174, 36). Os prêmios têm por função estimular, de maneira mais brilhante, o esforço e a dedicação na difícil tarefa de estudar. Mas não devemos nos esquecer de que o prêmio verdadeiro, que arrasta de fato o aluno, é a vitória na competição. Assim, o particular que desafia o oficial (7) e o vence, merece graduação (187, 31). Assim os que passam em primeiro lugar têm seu nome publicado na cabeça da lista (172, 26). Os que se portaram com acerto e diligência escutam a leitura do seu nome na lista dos louvados (230, 7). O próprio processo de ensino e aprendizagem dos jesuítas é altamente competitivo e, por isso mesmo, todo aproveitamento e toda vitória são tidos como os melhores prêmios. A exteriorização disso se fez nos atos solenes, com a agraciação dos méritos.
4. DA METODOLOGIA DO ENSINO E DO ESTUDO
	“A Companhia dedica-se à obra dos colégios e universidades, a fim de que nestes estabelecimentos melhor se formem os nossos estudantes no saber e em tudo quanto pode contribuir para o auxílio das almas e, por sua vez, comuniquem ao próximo o que aprenderam”, (133,1). “Os que (os) freqüentam, façam o maior progresso na virtude, nas boas letras e na ciência, para a maior glória de Deus” (138,1). Estas citações são suficientes para caracterizar a importância do ensino e do estudo no colégio jesuítico. Depreende-se, daí, que o objetivo é a aqui-
sição pelo estudante de uma ciência sólida: tudo o mais são meros instrumentos. É neste contexto que situamos todos os instrumentos didáticos e pedagógicos e, conseqüentemente, a metodologia neles implicada. Enquadramos nesta divisão, 1º, o estudo privado; 2º, as aulas; 3º, as repetições; 4º, as disputas e 5º, as Academias. Analisando sua constituição, interessamo-nos mais diretamente pelas regras metodológicas que a dinamizam. 
4.1. Do Estudo Privado
	Atendendo ao principal objetivo da presença do estudante no colégio, o estudo privado é prescrito com insistência. Provincial, Reitor, Prefeito de Estudos e Professores são responsáveis pelas condições favoráveis (132, 38; 133, 1; 143, 27; 173, 30), e por isso é que se cumpram as regras de sua organização (132, 38; 133, 4). Aos escolásticos, por exemplo, a aplicação diligente aos estudos é proposta como “a coisa mais agradável a Deus” (214, 2). Aos que repetem a Teologia se concebe “que se consagrem tranquilamente ao estudo privado” (121, 10) mas, por sua vez, dediquem-lhe “diligente aplicação e rigor” (216, 4). O estudo privado é, com efeito, a alma do processo de aprendizagem. Se as aulas levantam e explicitam a ciência; se os exames, as disputas, os desafios, os exercícios, as academias testemunham o grau de assimilação, é o estudo privado que a realiza. Poderíamos distinguir a aplicação aos estudos, da aplicação ao estudo privado, pois, enquanto o primeiro atende aos objetivos gerais, o segundo serve a um ato institucionalizado. O primeiro englobaria o segundo e todos os demais instrumentos didáticos. Cremos, no entanto, mui sutil tal distinção no contexto do RATIO, pelo simples fato de serem muito vagas as determinações específicas e mui constantes as gerais, de caráter estimulativo ( 119, 1; 133, 1; 138, 1; 144, 1; 165, 1; 214, 1-2; 216, 4; 218, 11 e 14). Diz-se, portanto, que “se apliquem aos estudos com seriedade e constância” (214, 2); “apliquem-se com diligência e rigor às questões (216, 4); adquiram “toda a erudição das ciências eclesiásticas que convém a um teólogo” (218, 11). Em termos de aprendizagem é, pois, ao redor do estudo privado que se estrutura a vida dos estudantes, mesmo que, em termos de estudo institucionalizado, as aulas sejam o eixo da vida escolar.
	Visto como um momento da vida escolar, tem o estudo privado nas Regras algumas orientações. Da parte dos mestres, urge, por exemplo, que prescrevam o método de estudar, a matéria e o horário. (143, 27; 173, 30; 215, 3; 216, 11). Manda-se-lhes, como ao professor de Moral, que identifiquem os autores nos quais possam estudar o tema (158, 8) ou, como aos professores das Classes Inferiores, que passem exercícios, orientando ainda sobre temas e sobre o método (202, 2; 206, 6; 210, 7; 213, 7). Há ainda indicações minuciosas e práticas, como quando se aconselha: “Ninguém se aplique por mais de duas horas ao trabalho de ler e escrever, sem interromper o estudo com algum breve intervalo” (216, 10). E sobre o método de estudo: “releiam em casa os apontamentos de aula, procurando entendê-los e, uma vez entendidos, formu-
lem a si mesmos as dificuldades e as resolvam,e, não conseguindo vencê-las, tem-nas, para perguntar ou despertar” (216, 11).4.2. Das Aulas
	As aulas correspondem, primeiramente aos objetivos religiosos do trabalho de Companhia, e por isso começam sempre com uma oração (144, 2; 182, 2). São dadas em latim (184, 18; 134, 8; 215, 9). São dadas de forma expositiva: lê-se Aristóteles ou Santo Tomás ou qualquer um dos autores adotados e explica-se. Este processo é freqüente que foi exposto. Isso vale para as Classes Inferiores (192, 2; 200, 2; 153, 7; 155, 11; 156, 12; 160, 9; 192, 1; 199, 1; 204, 1). Obedece a um ritmo próprio, em que os alunos prestam conta oralmente de suas lições, corrigem-se os exercícios, expõe-se a nova lição, repete-se o que foi exposto. Isso vale para as Classes Inferiores (192, 2; 200, 2; 204, 2; 208, 2; 211, 2), mas aplica-se também às Classes Superiores, porquanto prescreve-se, por exemplo, repetição ao final da aula (146,11; 163,16). A ênfase que o RATIO dispensa à repetição é impressionante, e merecerá melhor tratamento em número subseqüente. A título de exemplo do que assinalamos com respeito ao ritmo das aulas, tomemos o que se prescreve para a Gramática Superior: são cinco horas de aula, distribuídas em partes iguais, pela manhã e pela tarde. De manhã, na primeira hora, 1º, recitação de cor, aos decisões, de Cícero e da Gramática; 2º, correção pelo professor dos exercícios (enquanto os alunos se entretêm com outros exercícios); 3º, na segunda hora, repetição breve da última lição de Cícero; 4º, meia hora de explicação da nova lição de Cícero; 5º, interrogação sobre esta lição; 6º, ditado do tema; e, na última meia hora, 7º, repetição de lição de gramática; 8º explicação e interrogação da nova. De tarde, na primeira meia hora, 1º, recitação de cor de um poeta e do autor grego (o professor vê as notas dos decuriões e corrige os exercícios da manhã); na hora e meia seguinte, 2º, explicação e repetição do poeta; 3º, preleção e exercício de Grego, na meia hora afinal; 4º, desafio.
	A metodologia das aulas já se acha delineada pelos próprios verbos indicativos de seu ritmo: verificação do estudo empreendido, correção, repetição, explicação ou preleção, interrogação, ditado. O conteúdo abrange tanto a matéria da última aula quanto a matéria da última aula quanto a matéria nova. Observemos alguns tópicos desta metodologia.
	1º, diz-se preleção. (Cumpre notar que esta palavra não aparece senão quando se tratar das Classes Inferiores). Preleção quer dizer leitura prévia. Aquilo que hoje chamamos de aula é, para o RATIO, uma preparação da aula. Lectio, traduzido por lição, era o método de ensinar próprio da Idade Média e se fazia mediante a leitura e comentário de um texto (de autoridade). O RATIO propõe a preleção de tal forma que, como assinalamos acima, há quatro momentos de referência à lição passada e quatro outros de referência à nova lição. Assim, as salas de aula passam a ser lugar de convívio social, favorável ao processo de aprendizagem. O termo preleção aparece muitas vezes (173, 33; 186, 27-28; 187, 29; 188, 33; 194, 6; 197, 13 e 15; 201, 5; 203, 9; 206, 5; 
207, 9; 209, 6; 210, 8; 213, 6; 214, 8; 226, 7). Propõem-se dois tipos de preleção: as teóricas que dizem respeito às regras, e as estilísticas que dizem respeito às orações (194, 6). A metodologia indicada para as primeiras preceitua: “Em primeiro lugar, torne-se claro o sentido da regra; se oferecer alguma obscuridade e os intérpretes não estiverem de acordo, comparem-se as suas opiniões. Em segundo lugar, citem-se outros autores retóricos que tratam do mesmo assunto, ou do mesmo autor outros lugares em que ensina a mesma coisa. Em terceiro lugar, apresente-se alguma razão da regra. Em quarto lugar, aduzem-se alguns trechos, semelhantes e bem notáveis, de oradores e poetas, em que se aplique a regra. Em quinto lugar, acrescente-se, se for o caso, alguma coisa de história e erudição de várias fontes relativas ao assunto. Mostre-se, enfim, como a regra se pode aplicar às circunstâncias atuais, e faça esta aplicação com o maior apuro na escolha e elegância das expressões” (195, 7). Quanto às orações, este é o método preceituado: “Exponha-se em primeiro lugar o sentido, se obscuro, e critiquem-se as diferentes interpretações. Em segundo lugar, esquadrinhe-se toda a arte da composição: a invenção, divisão e exposição; com que habilidade se insinua o orador com que propriedade se exprime, ou em que lugares vai buscar argumentos para persuadir, ornar ou comover; como, freqüentemente, num só trecho aplicam-se muitas regras; de que modo reveste as razões que convencem com figuras de pensamento, e, por sua vez, às figuras de pensamento associam-se as figuras de palavras. Em terceiro lugar, citem-se alguns trechos semelhantes pelo conteúdo ou pela forma e façam referência outros ou poetas que se serviram da mesma regra para provar ou narrar coisa parecida. Em quarto lugar, se for o caso, confirme-se o pensamento com a autoridade de homens de saber. No quinto lugar, procure-se na História, na Mitologia e em todos os domínios do conhecimento o que possa contribuir para esclarecer a passagem. Por último, ponderem-se as palavras, a sua propriedade, elegância, riqueza e harmonia. Os pontos acima foram indicados, não para que o professor os percorra sempre todos, senão para que, dentre eles, escolha os que caírem mais a talho” (195, 8).
	2º, os exercícios, que os professores devem passar aos seus alunos (202, 2; 206, 6; 210, 7; 213, 7), para melhor entendimento do exposto em aula, sejam eles os da própria aula ou sejam os de casa, os há de dois tipos: os escritos e os de memória (184, 19 e 20). Quanto aos primeiros, prescreve-se seu uso diário (184, 20). A correção se faz individualmente com o aluno, em voz baixa, apresentando “no princípio ou no fim da aula alguns espécimes, ora dos melhores ora dos piores” (184, 21). Indica-se também o método de correção: perguntar como se poderá emendar, mandar que os rivais corrijam publicamente o erro, indicando a regra transgredida, elogiar enfim tudo o que é perfeito (184, 22). Em outras passagens, explicita-se mais ainda a forma de proceder à correção destes exercícios. (194, 4; 201, 3; 205, 3; 209, 3; 212, 30. Tomemos um exemplo, da Gramática Média: “Na correção dos exercícios aponte as faltas cometidas contra as regras da Gramática, ortografia e pontuação; note se evitou as dificuldades; explique tu-
do, de acordo com as normas das regras gramaticais, e aproveite para relembrar as conjugações e as noções elementares” (209, 3). Quanto aos segundos, os exercícios de memória, a classe é dividida em seus grupos permanentes, sob um decurião. A este recitam os alunos a lição decorada. Os decuriões, por sua vez, a um decurião-chefe ou ao professor (184, 19).
3º, o desafio é uma das formas indicadas para a metodologia das aulas. Recurso eminentemente estimulativo por ser competitivo “deve ser tido em grande conta e posto em prática, sempre que o permitir o tempo, a fim de alimentar uma digna emulação, que é de grande estímulo aos estudos” (187, 31). Assim é citado freqüentemente (173, 33;187, 31; 188, 34; 194, 6; 196, 12; 202, 7; 207, 10; 210, 10; 214, 9; 230, 6). O método deve ser estabelecido previamente (173, 33) e compreende uma grande variedade de formas: um contra um, grupo contra grupo, um contra vários, um oficial contra um oficial, um particular contra um oficial (a ele cabendo graduação, em caso de vitória). Classe Inferior contra Classe Superior, por meio de perguntas e respostas, preestabelecidas ou não. O desafio, que é instrumento didático da aula, pode ser usado também fora da aula, como ser verá.
4º, do ditado se diz pouco. A regra básica e não ditar: “é preferível que não dite” (145, 9). Para isso é que se exigem alhures livros em abundância (130, 33; 172, 27-88; 143, 30; et alii).
4.3. Da Metodologia para as Classes Superiores
No que se refere, porém, às Classes Superiores o tratamento metodológico do RATIO é outro, em termos. O primeiro princípio consiste na fidelidade ao consenso universal dos doutores (145, 6) e aos autoresadotados (152, 2; 159, 2 e 6) – o que, de resto, se estende às Classes Inferiores (182, 12). Todo distanciamento deles deverá ter razão suficiente. É preciso observar a ordem das matérias, o tempo a se gastar com cada uma e, por isso mesmo, que haja brevidade na refutação, na demonstração, nas citações (145, 7-8). Só desta forma, com efeito, é que se poderá cumprir o programa, insistência constante nas Regras (138, 5; 151, 18; 154, 8). Às objeções se dê importância à medida que aclararem as questões (145, 6-8). As regras indicadas às Classes Inferiores não lhes são exclusivas: Se é imprescindível aos professores que preparem as aulas e leiam, nelas o que para elas escreveram (186, 27), a fim de que sigam fielmente o conteúdo e o método, também aos professores das Classes Superiores se manda que se atenham ao método ou à forma. Com efeito, lê-se nas Regras para o Professor de Filosofia, ao tratar das disputas, “nada deve envergonhar tanto como apartar-se do rigor da forma” (163, 20) e, nas Regras para o Professor de Sagrada Escritura abre-se visivelmente uma exceção: “não trate com método escolástico as questões próprias da Sagrada Escritura” (150, 13). O mesmo se diz ao Professor de Moral (157, 4). Confirma-se a suposição com o que se diz ao Professor de Filosofia sobre a explicação de Santo Tomás: 1º, lê-se o título; 2º, explica-se seu conteúdo; 3º, explicam-se as distinções, em função das conclusões; 4º; es-
tabelece-se a primeira conclusão de Santo Tomás; 5º, estabelecem-se as demais conclusões, e, 6º, se for preciso, acrescentem-se algumas razões elaboradas por ele (155, 11). Há muita insistência para que não se discutam extensamente as questões (145, 7-8; 150, 12; 156, 12); para que não se invada seara alheia (151, 16; 155, 9 §1-4; 157, 3; 162, 1); para que se remeta o estudante aos textos originais e a autores; no primeiro caso para conhecimento das próprias fontes e no segundo, para aproveitamento do tema (146, 10; 151, 18; 148, 3; 154, 8; 159, 2; 161, 12). É neste sentido que se dissuade, o professor de combater erros desconhecidos (149, 5; 150, 10) e pular questões de pouca importância (162, 14; 154, 9). Ainda com respeito à análise de textos célebres, dão-se indicações expressas de metodologia e crítica, comparação das interpretações, análise do contexto e das expressões originais, da autoridade dos intérpretes e do peso, das razões (162, 13). Prescreve-se como fazer a ordem das questões e como intercalar novas questões (162, 14-15).
Temos, assim, em conjunto as regras metodológicas referentes à aula, seja na ordem das questões, no ritmo de desenvolvimento e seja ainda no próprio processo de ensino. A presente exposição quis deixar clara a importância que o RATIO confere a este instrumento.
4.4. Das Repetições
A repetição tem no RATIO um lugar de realce como instrumento de aprendizagem. É freqüentemente indicada (121, 10; 133, 5; 146, 11-13; 151, 19; 162, 16; 164, 3; 167, 8 §§ 3-4; 185, 25-26; 188, 33; 191, 48; 198, 20; 225, 2-3; 229, 2; 213, 5). Compreende o reestudo da matéria dada, “para que assim exercitem as inteligências e melhor se esclareçam as dificuldades ocorrentes” (146, 12). Repetir, decorar, expor: eis a pretensão da repetição (198, 20). Há três tipos de repetição: em aula (146, 11; 162, 16; 185, 25), em casa (146, 12; 151, 19; 198, 20; 225, 2; 229, 2; 213, 5) e as gerais (146, 13; 167, 8 §3; 185, 26). Quanto ao tempo, elas podem ser diárias (146, 12; 185, 25; 225, 2), semanais (151, 19; 185, 26), bimensais (164, 3), mensais (164, 3) anuais (146, 13). – Que se repete? Repete-se a matéria dada, desde a última repetição do mesmo gênero. Assim, repete-se Teologia, Sagrada Escritura, Filosofia, Moral, Matemática, Retórica, Humanidades, Gramática. A repetição dura normalmente uma hora (146, 12; 225, 2). A metodologia empregada não difere e nem pode diferir muito da metodologia do desafio: um ou dois memorizem, um ou dois objetem, um ou dois respondam, e, se ainda houver tempo, apresentem dúvidas (146, 12); um exponha toda a matéria ou vários exponham a mesma matéria dividida em parte: perguntam-se os pontos mais importantes e mais úteis, primeiro aos mais adiantados e depois aos demais; os êmulos corrigirão aos erros ou anteciparão a resposta, em caso de demora (185, 25); um defenda toda a matéria contra todos, nas sabatinas (“não fique isso sem recompensa”) (185, 26). O mesmo procedimento se usa nas reuniões acadêmicas. Nas exposições, deve o defendente seguir rigorosamente a argumentação em forma silogística (146, 12): não somente se diz o método mas urge sua 
observância. Assim a repetição reforça o ensino e o estudo com dupla utilidade: a de fixar mais profundamente o que foi percorrido várias vezes e a de justificar a promoção mais rápida dos mais adiantados (167, 8 §4).
4.5 Das Disputas
À semelhança do desafio das Classes Inferiores, encontramos a disputa das Classes Superiores. A disputa, contudo, além de ser um recurso metodológico, acha-se institucionalizada tal como o estudo privado, a aula, a repetição, a Academia. – Em que consiste? A disputa poderia ser muito bem designada como defesa de tese. A tese pode abranger parte da matéria dada ou toda ela (139, 8-9; 141, 19). A importância de que se revestem estas disputas é caracterizada pela participação ativa do Prefeito de Estudo e dos professores, quando não do Reitor (133, 3), e na determinação da matéria, na orientação, correção dos trabalhos e na presidência dos atos (138, 6; 139, 8; 140, 10; 141, 18; 142, 25). Por outro lado, as qualidades que se exigem dos defendentes confirmam esta importância: sempre que possível, um doutor (139, 8); (falando dos externos) “que completaram, com distinção, o currículo de teologia” (140, 12); poucos escolásticos, bem preparados, capazes de desempenhar-se com dignidade desta incumbência, isto é, aqueles que fizerem progressos superiores à mediania (141, 19; nas disputas públicas só deverão tomar parte os alunos mais distintos (147, 17). As disputas variam em grau e brilho, segundo forem particulares ou gerais, privadas ou públicas, semanais ou mensais de um lado e periódicas e anuais, de outro. A forma deve ser rigorosamente obedecida já na forma de presidir (138, 6; 140, 13; 147, 18), já na forma de exposição. Quanto à primeira: “Presida de maneira que ele mesmo pareça lutar nos dois campos que lutam; louve o que se diz de bom e chame a atenção de todos. Quando se propuser alguma dificuldade mais séria, sugira alguma idéia que ajude o que defende ou oriente o que argüi. Não se conserve muito tempo calado, nem fale sempre, para que também os discípulos possam mostrar o que sabem; corrija ou desenvolva o que propõem os alunos; mande o argüente prosseguir, enquanto não estiver resolvida a dificuldade; aumente-lhe mesmo a força e não passe por cima, se o argumento deslizar para outra objeção”. (147, 18). Quanto à exposição indicam-se normalmente três argüentes (139, 8; 142, 24; 156, 14; 162, 17), embora possa haver mais, conforme a ocasião (140, 14). Se para os Casos de Consciência as disputas obedecem, ao esquema de perguntas e respostas (157, 6), o mesmo não se dá com a Filosofia: “Desde o início da Lógica se exercitam os alunos, de modo que nada se envergonhem tanto, como de se apartar do rigor da forma; e coisa alguma deles exija o professor com maior severidade do que a observância das leis e ordem da argumentação. Por isso, o que responde repita as proposições acrescentando “nego” ou “concedo” a maior, a menor, a conseqüência. Algumas vezes, poderá também distinguir; raras, porém, acrescente explicações ou razões, sobretudo quando lhe não são pedidas” (163, 20).
Das disputas teológicas participem todos: professores e teólogos. Das disputas filosóficas, professores de Teologia e de Filosofia, filósofos e teólogos. Nas disputas mensais dos filósofos, dispute de manhã umteólogo contra um metafísico, um metafísico contra um físico, um físico contra um lógico. À tarde, um metafísico contra um metafísico, um físico contra um físico e um lógico contra um lógico. (162, 17). Nas disputas solenes, convidem-se também doutores e externos (140, 12), outros religiosos e professores para argüir, “a fim de despertar um entusiasmo proveitoso aos nossos estudos” (163, 19).
4.6. Das Academias
As academias exercem um papel muito importante na dinâmica pedagógica jesuítica. Além de, por diversas vezes, ser citada ao longo do texto, há quarenta e sete regras específicas sobre o tema. Com efeito, é por meio delas que se pratica todo tipo de exercício didático pedagógico. Embora pertençam aos instrumentos constitucionais da pedagogia jesuítica, tomam ares de independência, pois conferem aos estudantes o poder da iniciativa e, por isso mesmo, exercem um poder de estimulação inigualável.
“Sob o nome de Academia, entendemos uma união de estudantes, distintas pelo talento e pela piedade, escolhidos entre todos os alunos que, sob a presidência de um membro da Companhia, se congregam para entregar-se a certos exercícios relacionados com os assuntos” (221, 1). É esta a definição mais precisa dada pelas próprias Regras. Assinalam-se como fins, ainda, a exercitação dos acadêmicos nas várias formas de atividade (224, 3); a fixação mais profunda dos exercícios literários (173, 34); a fuga da ociosidade e das más companhias (191, 45); o honrar, em particular e um público, o conhecimento e a dignidade das línguas (Grego e Hebraico) (134, 7); e, por fim, a atração aos estudos “por meio destas horas aprazíveis” (230, 8).
Fazem parte automaticamente das Academias os membros da Congregação Mariana e os religiosos-estudantes. Ao Reitor caberá, onde houver o costume, abrir exceções (137, 23; 222, 3). Dos membros, contudo, exigem-se várias qualidades: talento e piedade (221, 1); virtudes cristãs e piedade, aplicação aos estudos, observância da disciplina escolar, mais que o comum (222, 3); freqüência e empenho nos exercícios (222, 6); freqüência e diligência, observância rigorosa das regras da Academia (224, 2).
A Academia, qualquer que seja ela, se encontra organizada da seguinte forma: um Prefeito, um Reitor, dois Conselheiros e um Secretário. O Prefeito, que é indicado pelo Reitor do Colégio (222, 4), garante, por sua presença, o cumprimento das Regras, a ordem hierárquica e, neste espírito, o estímulo ao estudo e à piedade. O ofício do Reitor é “promover a Academia, marchar à frente dos demais, na virtude e na aplicação e, no princípio ou no fim de seu reitorado, desempenhar algum dos atos mais importantes da Academia” (223, 8). Seguem-se-lhe, em ordem, e em hierarquia, os dois Conselheiros, cujas funções devem ser atribuições pelo Prefeito (223, 9). Por fim, vem o Secretá-
rio, encarregado dos livros das atas, dos membros, dos anais, bem como dos avisos públicos (223, 10). O mandato da reitoria da Academia é de três ou quatro meses. Por ocasião das eleições, faz-se uma assembléia, em que os membros são convidados a opinar sobre o desenvolvimento da Academia.
Há diversos tipos de Academia, de acordo com os diversos tipos de objetivos ou de estudos. Assim, fala-se em Academia de Formação de Professores (129, 30; 134, 9), Academia de Línguas (134, 7), embora as referências comuns sejam para as Classes: Academia dos Teólogos e Filósofos, Academia dos Retóricos e Humanistas, Academia dos Gramáticos. Se o número, dos estudantes for muito grande, pode-se instituir uma Academia para cada Classe.
Nas Regras para o Reitor se diz que “na Academia se praticam, exercícios literários” (137, 23); mais adiante: “nas Academias se realizam preleções e outros exercícios de um bom estudante” (173, 34). Para os Teólogos e Filósofos, os exercícios são de quatro espécies: “repetições diárias das preleções, disputas, preleções ou disputas, cientificas, atos solenes de defesa pública de teses” (225, 1). Para os Retóricos, Humanistas e Gramáticos os exercícios se prendem diretamente à matéria que estudam (228, 2-3; 229, 1). Quanto à forma e ao método destes atos, observem-se as prescrições já vistas para cada um em separado. Sempre se insiste que tudo passe pelas mãos do Prefeito. “Nas repetições diárias se observem a mesma forma e meneira de repetir, argumentar e disputar, que seguem os nossos estudantes nas repetições domésticas; nos atos, porém e na defesa de outras teses atenha-se ao método comum” (227, 1). Quanto ao tempo, há diversas indicações. Aos acadêmicos de línguas se manda que se exercitem “duas ou três vezes por semana, durante tempo determinado, como, por exemplo durante as férias” (134, 7). “Nos dias festivos” (191, 45), “sobretudo nos dias feriados” (227, 4), “nos domingos ou, se for mais conveniente, nos dias feriados” (228, 1) são expressões que voltam muitas vezes. As Academias funcionam, pois, normalmente em dias não letivos. É neste contexto que se pôs: “a fim de evitar a ociosidade e as más companhias” (19, 45). Não terminam as Regras da Academia sem referência às sanções, prêmios e castigos; prêmios aos melhores trabalhos, castigos para “os que faltarem muitas vezes ou recusarem o desempenho dos exercícios que lhes tocarem e principalmente (para) os que, por usa imodéstia, perturbarem e escandalizarem os outros”; a pena, no caso, será a despedida (222, 6). “Poderá o Prefeito impor, como penalidade, um trabalho literário e mandar ler em público os nomes dos que se portaram com menos acerto e diligência” (230, 7).
Temos, assim, na Academia, um perfeito instrumento didático-pedagógico, como assinalamos na introdução deste tema. A Academia retrata, como já dissemos no início deste trabalho (8), a estrutura de todo o conjunto, seja ele a sociedade modelo, seja a Companhia, seja o próprio colégio.
5. DA DISCIPLINA
Por disciplina entende-se um sistema particular, e neste caso o do colégio jesuítico organizado pelo RATIO STUDIORUM, de crenças e valores, normas e costumes. A disciplina identifica os membros do grupo e gera entre eles expectativas mútuas quanto ao comportamento. É neste sentido que pesquisaremos agora o texto do RATIO. A primeira Regra propõe a razão de ser do colégio: “um dos ministérios da Companhia” (119, 1). E diz que ela se alcança por meio de disciplinas: “ensinam ao próximo todas as disciplinas... de modo a levá-lo ao conhecimento e ao amor do Criador e Redentor nosso”. A confirmação deste princípio fundamental se faz supérflua, tal a abundância de citações. A título de exemplo leiam-se 119, 1; 133, 1; 138, 1; 144, 1; 148, 1; 152, 1; 158, 1; 181, 1; 214, 1. Deste valor básico decorrem outros: a prática das virtudes e da piedade (121, 10; 123, 19 §2; 144, 3; 214, 2; 219, 1; 231, 12; 224, 1), o cultivo do saber, em função do serviço de Deus (119, 1; 121, 10; 132, 10; 133, 1; 2314, 1; 137, 23), a boa formação cristã (137, 21; 169, 12; 221, 15), a obediência, que no esquema certamente ocupa a função capital (119, 2; 122, 16; 132, 38; 138, 4; 144, 4; 165, 2 e 4; 182, 11; 214, 3; 216, 1; 218, 1; 220, 8; 224, 2), a disciplina dos costumes (132, 10), o cumprimento dos deveres (119, 2; 148, 20), a modéstia (144, 5; 215, 7), a humildade e a mortificação (125, 19 §9), o apostolado (133, 1; 214, 1; 132, 10). Já vimos acima (9) em que contexto acontecem, estas virtudes: não há por que repeti-lo aqui. Lembre-se apenas de que tais crenças e valores determinarão todas as normas e costumes, que passamos agora a analisar.
A regra básica da disciplina jesuítica é a observância e a invariância (138, 3-4; 145, 6; 153, 5; 165, 2 e 5 173, 31; 224, 4) que parecem transmitir o caráter de veracidade a tudo aquilo que se prescreve. Daí se compreende a função de fiscalização que exercem Provincial (132, 40), Reitor (133, 3), Prefeito de Estudos (165, 6), bedel (148, 19), decurião (174, 37). Ao mesmo tempo em que existe o zelo pelo progresso dos alunos na ciênciae na piedade, prescreve-se um distanciamento deles, para que não haja familiaridade (148, 20; 191, 47; 215, 8). Diz a Regra: “Não se mostre mais familiar com um do que com outro; fora da aula, não fale com os alunos senão por pouco tempo, de coisas sérias e em lugar visível, isto é, não dentro da aula, mas fora, à porta, no pátio ou na portaria do colégio, para que se dê mais edificação” (191, 47). E aos escolásticos: “As conversas dos que tiverem licença de falar com os estudantes externos versem exclusivamente sobre assuntos literários ou relativos ao aproveitamento espiritual, conforme parecer a todos mais conveniente, para a maior glória de Deus” (215, 8). Qual o conceito de homem, de convivência humana, que se acha subjacente, eis um tema importante para a compreensão da pedagogia jesuítica. Há um tratamento com os estudantes em prol da fé (152, 1; 153, 5-6; 159, 3-4; 182, 10), em prol dos estudos (148, 20; 191, 50), mas não há, em caso algum um envolvimento pessoal de relações afetivas.
Quanto ao comportamento que se exige dos estudantes, dividi-lo-emos em dois tipos: um, ascético-espiritual, e outro, puramente regimental. Deste tipo faria parte, por exemplo, o uso obrigatório do Latim (134, 8; 184, 18; 215, 9); a freqüência e a assiduidade às aulas e demais exercícios (133, 4; 190, 41; 215, 4-6; 220, 9); a proibição de porte de armas (“Nenhum aluno entre no colégio com armas, espadins, canivetes e outros instrumentos proibidos, segunda a diversidade do lugar e do tempo”. (220, 5); a tranqüilidade e o silêncio (“Nas aulas não vão de um lado para o outro; mas fique cada um no seu lugar, modesto e silencioso, atento a si e aos seus trabalhos. Sem licença do professor não saiam da aula. Não estraguem nem manchem os bancos, a cátedra, as cadeiras, as paredes, portas e janelas ou outros lugares com desenhos, ou escrituras, com canivetes ou de outra maneira”. (221, 10); as normas para provas e exames, concursos e Academias. Por outro lado, o comportamento ascético-espiritual estaria discriminado por um conjunto de regras: oração, exame de consciência, freqüência aos sacramentos da penitência e da eucaristia, missa diária, assistência aos sermões (144, 3), exortações espirituais, terço diário, ofício de Nossa Senhora (181, 5), ladainha de Nossa Senhora, leitura espiritual e da vida dos santos (182, 7-8) e sobretudo os colóquios espirituais (182, 6; 224, 1) como normas positivas; e como normas negativas, fuga dos maus costumes dos vícios (144, 3), dos maus livros (221, 12; 182, 8), das más companhias (221, 11), dos espetáculos e teatros (221, 13), “de juramentos, insultos, injúrias, detrações, mentiras, jogos proibidos, lugares perniciosos ou interditos pelo Prefeito das aulas, numa palavra, de quanto possa ofender à honestidade dos costumes” (220, 6; 175, 43). Da confissão, em dias e horas marcadas, uma vez por mês, se diz: “haja vários confessores” (129, 31); “durante o tempo das confissões entre algumas vezes na igreja e se esforce, para que os meninos se portem com modéstia e piedade” (176, 46); “procure que ninguém omita a confissão mensal; prescreva que entreguem todos aos confessores um cartão com o próprio nome, cognome e classe para que, depois, pela verificação dos cartões, saiba os que faltaram” (182, 9). Quanto à missa, “procure que na igreja a entrada e saída dos alunos se faça sem rumor; não assistam à missa senão acompanhados por um ou mais professores; a ela não só assistam todos, cada dia e com devoção, mais ainda dispostos com correção e ordem” (176, 45; 181, 3). Vê-se que, mesmo nestes dispositivos de formação espiritual, a insistência recai sobre o caráter disciplinar. Completando os dados sobre o comportamento ascético-espiritual, temos a assinalar o ensino da religião (181, 4; 220, 4), o esforço pela conservação da pureza da alma e da reta intenção, em tudo pela glória a Deus e a salvação das almas (214, 1), a construção de virtudes sólidas e da vida religiosa (214, 2).
Para que se consigam tantas virtudes, prevê o RATIO um esquema de fiscalização e estímulo. Os mestres são constantemente solicitados (144, 1; 148, 1; 152, 1; 159, 1; 165, 1; 181, 1; 224, 1). O Prefeito não só tome a iniciativa (175, 43 e 44; e outros) como também aja por meio de censores, corretores e bedéis. Cada Classe terá um censor, dis-
tinguido com algum privilégio, que fiscalizará o comportamento de seus colegas (“se passeia pelo pátio antes do sinal, se entra em outra aula ou deixa a própria aula ou lugar; ... enfim, qualquer falta cometida em aula, na ausência ou em presença do professor”) (174, 37). Ofício semelhante é o do bedel (219, 7). Aos faltosos repreende-se com palavras e exortações. Se isso não bastar, nomeie-se um corretor (que não seja da Companhia). As faltas são relativas aos bons costumes ou à aplicação: não as de casa mas as do colégio, a menos que haja motivos mui sérios (174, 38; 220, 7). Os que recusarem os castigos físicos, por uma outra razão, sejam afastados do colégio (175, 39; 220, 7). Se a própria eliminação ainda for insuficiente, cuide o Reitor de tomar providências convenientes (175, 41).
Aspecto positivo da disciplina jesuítica é o que se expressa na Regra 189, 39: “Nada mantêm tanto a disciplina quanto a observância das regras. O principal cuidado do professor, portanto, que os alunos não só observem tudo quanto se encontra nas suas regras, mas sigam todas as prescrições relativas aos estudos: o que será obtido melhor com as esperança da honra e da recompensa e o temor da desonra do que por meio de castigos físicos”. Use todos os recursos à mão, antes de castigar (190, 40), inclusiva a audiência com os pais. Temos, assim, em conjunto, os aspectos disciplinares, bem como sua forma de execução.
6. CONCLUSÃO
Fizemos, neste trabalho, uma análise interna do código pedagógico dos jesuítas, o RATIO STUDIORUM. Arrolamos os princípios que regem a organização dos estudos da Companhia. Analisamos o currículo no que diz respeito à graduação do ensino, à sua distribuição no tempo, ao processo de avaliação, e, em apêndice, o conteúdo programático, os autores adotados, as qualificações dos professores. Passamos à análise dos recursos didáticos e de sua respectiva metodologia: o estudo privado, as aulas, as repetições, as disputas e as Academias. Finalmente, fazendo o fecho entre os princípios e a prática, percorremos as regras disciplinares.
Numa crítica muito sumária, podemos caracterizar a ação pedagógica dos jesuítas como sendo perfeitamente integrada. Ela é fundada, com efeito, na visão unívoca do homem: a do homem inteiramente endereçado para Deus, mediante a Igreja Católica. Esta vocação deve realizar-se em todas as manifestações da vida humana. O RATIO STUDIORUM espelha fielmente esta univosidade de visão e, por isso, não desvincula educação de instrução, instrução de vida cristã, ciência de fé, vida profana de vida espiritual. O interesse do pesquisador não pode situar-se em termos de resquícios jesuíticos na educação brasileira atual: seria insignificante. Temos que, primeiramente, situar o próprio texto ao redor de um eixo, no caso a visão monocórdia do homem, para, em seguida, buscar as explicações históricas. Uma vez em mãos esta explicação, devemos prosseguir a pesquisa: saber localizar as mudanças 
de explicação e, apesar disso, a conservação das formas.
Nosso trabalho, como ficou bem definido no início (10), quis oferecer subsídio para um estudo da educação à época da vigência do RATIO STUDIORUM, sobretudo nas sociedades portuguesa e brasileira. Este estudo pressupõe o conhecimento da ideologia reinante e de seus suportes. Por outro lado, a simples leitura do nosso estudo, sugere possíveis explicações sobre a própria formação do homem brasileiro.
 
ANEXOS
�
	Número de Jesuítas e desuas Instituições no Período de 1549 a 1759
	ANO
	NÚMERO
DE JESUÍTAS
	PROVÍNCIAS
	CASAS OU RESIDÊNCIAS
	COLÉGIOS
OU UNIVERSIDADES
	SEMINÁRIOS
	RESIDÊNCIAS DE MISSÕES
	NOVI-
CIADOS
	1540
	10
	1
	Nenhuma residência
Fixa.
	
	
	
	
	1556 (+ S. Ig)
	1.000
	12
	79 (100)
	(29)
	-
	-
	-
	1574
	4.000
	17
	35
	125
	-
	-
	11
	1608
	10.640
	31
	21 casas professas.
	303
	-
	65
	40
	1616
	13.112
	32
	123
	372
	-
	-
	41
	1626
	16.060
	36 (38)
2 Vice-províncias
	24 casas professas.
	446
(471)
	(37)
	230
	49
	1640 1º Século
	16.000 e mais
	35 e 3
Vice-províncias
	24 casas professas.
	521
	49
	280
	54
	1679
	17.650
	Idem
	25 casas professas.
	612 e 24
	38
	266
	48
	1710
	19.978
	37 e 1
Vice-províncias
	24 casas professas.
	universidades
	157
	340
(em 200 missões)
	59
	1750
	22.126
	-
	25 casas professas.
	578
	150
	195
(em 172 missões)
	60
	1759
	-
	(41)
	-
	(609-728) (8)
	-
	-
	-
(8) Alguns apresentam 609; mas, segundo outras informações (HUGHES, LOYOLA, págs. 69-77), seriam 728 os colégios; V.MESCHLER, pág. 260
Extraído de MADUREIRA, J. M. SJ, A liberdade dos Índios, A Companhia de Jesus, sua Pedagogia e seus Resultados. Rio, Imprensa Nacional, 1929, p. 7.
�
ANEXO III
ÍNDICE DAS REGRAS DO RATIO STUDIORUM *
Regras do Provincial ............................................................................................................................................119
Regras do Reitor ...................................................................................................................................................133
Regras do Prefeito dos Estudos ..........................................................................................................................138
Regras Comuns a Todos os Professores das Faculdades Superiores ...............................................................144
Regras do Professor de Sagrada Escritura ........................................................................................................148
Regras do Professor de Língua Hebraica ...........................................................................................................151
Regras do Professor de Teologia (Escolástica) ..................................................................................................152
Regras do Professor de Casos de Consciência (de Teologia Moral) ................................................................156
Regras do Professor de Filosofia .........................................................................................................................158
Regras do Professor de Filosofia Moral .............................................................................................................163
Regras do Professor de Matemática ...................................................................................................................164
Regras do Professor de Estudos Inferiores ........................................................................................................165
Normas da Prova Escrita .....................................................................................................................................177
Normas para a Distribuição de Prêmios ............................................................................................................178
Regras Comuns aos Professores das Classes Inferiores ....................................................................................181
Regras do Professor de Retórica .........................................................................................................................192
Regras do Professor de Humanidades ................................................................................................................199
Regras do Professor da Classe Superiores de Gramática .................................................................................204
Regras do Professor da Classe Média de Gramática ........................................................................................208
Regras do Professor da Classe Inferior de Gramática ......................................................................................211
Regras dos Escolásticos da Nossa Companhia ...................................................................................................214
Diretivas para os que Repetem Privadamente a Teologia em Dois Anos ........................................................216
Regras do Ajudante do Professor ou Bedel ........................................................................................................218
Regras dos Alunos Externos da Companhia .....................................................................................................219
Regras da Academia .............................................................................................................................................221
Regras do Prefeito da Academia .........................................................................................................................224
Regras da Academia dos Teólogos e Filósofos ...................................................................................................225
Regras do Prefeito da Academia dos Teólogos e Filósofos ...............................................................................227
Regras da Academia dos Retóricos e Humanistas .............................................................................................228
Regras da Academia dos Gramáticos .................................................................................................................229
* A paginação corresponde à obra, já citada, do Pe. Leonel Franca SJ.
ANEXO III
DOS PROGRAMAS
1. Sagrada Escritura
Não se determina claramente o conteúdo programático da matéria. Em 151, 17 se diz que “em anos alternados interprete o Novo e o Antigo Testamento”.
2. Língua Hebraica
No começo do ano: os rudimentos da Gramática. Em seguida, “inter-prete algum dos livros mais fáceis da Sagrada Escritura” (152, 3).
3. Teologia (escolástica).
1º esquema: dois professores
1º ano: I* 1-13						II II (virtudes: Justiça, Direito, Religião.)
2º ano: I II 1-21						III (Encarnação e Sacramentos, em geral.)
3º ano: I II 55 ou 71 in finem.		III (Batismo, Eucaristia, e se houver tempo: Ordem e Confirmação.)
4º ano: II II (Fé, Esperança e caridade.)			III (Penitência e Matrimônio.)
2º esquema: três professores
1º ano: I 1-26		II II (Escritura, Tradição, Igreja, Concílios e Romano Pontífice)
							III (Encarnação)
*As citações se referem à Summa Theologica, de Santo Tomás, e são feitas segundo a praxe.
2º ano: I 27 in finem.					II II (Fé, Esperança e Caridade)
							III (Sacramentos em geral, Batismo e Eucaristia.)
3º ano: I II (O que puder, até 81)				II II (Justiça, Direito, Usura, Contratos.)
							III (Penitência e Matrimônio.)
4º ano: II II (o quanto puder.)				II II (Contratos, Vida Religiosa, Estados de vida.)
							III (Censuras e os outros Sacramentos).
4. Teologia Moral
 1º ano: Todos os Sacramentos e Censuras.
Todo o Decálogo.
 2º ano: Estados de Vida: Deveres e Estado.
5. Filosofia*
1º ano: Lógica		1. Introdução: se é ciência, objeto da Lógica, gêneros e espécies, elementos sobre os universais.
							2. Dos predicamentos: os pontos mais fáceis, 
analogia, relação.
							3.II Analíticos e I-II dos Analática Priora.
4. Sobre a ciência, abstração, especulação, prático, subalternação. Introdução à Física. Método da Física e da Matemática (II Físicos). Da definição (II De Anima).
2º ano: Física		1. Oito Livros da Física: sumariamente o VI e o VII. (Do Primeiro, começar com asopiniões dos antigos.)
2. De Coelo: sumariamente o II, III e IV. (Elementos, céu, substância e influências.)
							3. Meteorológicos.
							4. De generatione.
3º ano Metafísica					1. II De generatione.
							2. De Anima.
3. Metafísica: sumariamente sobre Deus, sobre o mundo das idéias. Com cuidado, o Proêmio, o VII e o XII. Dos demais, alguns textos mais importantes.
* Os textos aqui usados são os de Aristóteles: Lógica (Da Interpretação, os Analíticos (Primeiros e Segundos): Física (Do céu, Da Geração e da Corrupção, os Meteorológicos); Da alma e Metafísica.
6. Filosofia Moral
 Os dez livros de Ética, de Aristóteles
7. Matemática
 Os elementos de Euclides. Elementos de Geografia e Elementos da Esfera.
8. Retórica
 Regras de oratória. Regras de estilo. Regras de erudição: História e costumes dos povos, conhecimentos gerais.
9. Humanidades
 Conhecimento da língua (latim) e do Grego. Alguma erudição. Introdução breve aos preceitos da Retórica.
10. Gramática Superior: repetição da sintaxe; explicação da construção figurada e da Retórica.
 De Grego: os rudimentos.
11. Gramática Média: Livro II (Pe. Alvarez) até a construção figurada.
 De Grego: nomes contratos, verbos, circunflexos, verbos em mi e as formações mais fáceis.
12. Gramática Inferior: conhecimento perfeito dos elementos da Gramática; conhecimento inicial da sintaxe.
ANEXO IV
DOS AUTORES INDICADOS
1. Teologia: Santo Tomás e outros peritos e doutores.
2. Sagrada Escritura: Vulgata, Papas, Concílios e Padres. Cuidado com os rabinos e os judeos depois de Cristo. 
 Cuidado também com os originais hebraico e grego.
3. Filosofia: Aristóteles, Santo Tomás, Toledo e Fonseca. Cuidado com os autores infensos aos cristianismo, entre 
 os quais Averróis e Alexandre.
4. Retórica: Cícero, Aristóteles, Demóstenes, Platão, Tucídides, Homero, Hesíodo, Píndaro, S. Gregório
 Nazianzeno, S. Basílio e S. João Crisóstomo. Cuidado: expurgar sempre os textos!
5. Humanidades: Cícero, Salústio, César, Lívio, Curtus, Virgílio (Éclogas e Eneida), Horácio (Odes seletas). 
 Manual: Cirpiano Soares.
6. Gramática: Pe. Alvarez SJ.
Gramática Superior: Cícero, Ovídio, Catulo, Tibulo, Propércio, Virgilio (Éclogas), S. João Crisóstomo, Esopo, 
 Agapetos.
Gramática Média: Cícero, Ovídio, Catecismo Grego, Tábua de Cebes.
Gramática Inferior: Cícero.
ANEXO V
DOS PROFESSORES
“Com grande antecedência proveja os professores de cada faculdade, observando os que em cada disciplina parecem mais competentes, os mais eruditos, aplicados e assíduos, os mais zelosos pelo progresso dos alunos não só nas aulas, senão também nos outros exercícios literários”. (120, 4)
Professor de Escritura:
“... homens não só conhecedores de línguas (o que é de primeira necessidade), mas ainda versados em Teologia e nas demais ciências, em História e outros ramos do saber e, se possível, também eloqüentes” (120, 5).
Professor de Hebraico:
“Onde não houver incoveniente, ensine a língua hebraica o professor de Sagrada Escritura, ou, ao menos, um teólogo; é para desejar 
que seja, outrossim, versado em línguas, não só em Grego, por causa do Novo Testamento e da versão dos LXX, mas também no Siro e no Caldeu pelo muito que destas línguas se encontra nos livros canônicos” (120, 7) .
Professor de Filosofia:
“Os professores de filosofia (exceto caso de gravíssima necessidade) não só deverão ter concluído o curso de Teologia, senão ainda consagrado dois anos à sua revisão, a fim de que a doutrina lhes seja mais segura e mais útil à Teologia. Os que forem inclinados a novidade ou demasiado livres nas suas opiniões deverão, sem hesitações, ser afastados do magistério” (122, 16).
Professor de Gramática e Retórica:
“...seja, no maior número possível, permanentes” (128, 24).
NOTAS
1. Serafim LEITE, História da Companhia de Jesus no Brasil, Lisboa e Rio, Livraria Portugália e Civilização 
 Brasileira, 1938, t. 1, p. 10.
2. Ver p. 36.
3. Ver p. 1.
4. Ver p. 37.
5. Serafim LEITE, op. cit. p. 72.
6. ib. p. 71.
7. Oficial é o nome designativo de cargos na Academia, como o indica a Regra 222, 7: “Os oficiais que, em cada Academia, de três em três ou de quatro em quatro meses deverão ser eleitos pela maioria dos acadêmicos, em votação secreta, são, por via de regra, os seguintes: o reitor da Academia, dois conselheiros e um secretário”. Ao oficial se contrapõe, como simples membro, o particular.
8. Ver p. 2, Ad 2.
9. Ver p. 2, Ad 2, sobretudo p. 4.
10. Ver p. 1.
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
21
22
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24
25
26

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