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Representações do Calor em Teresina PI Carlos Sait P. de Andrade

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Prévia do material em texto

CARLOS~P.DEANDRADE 
REfRESENT A,õeS I)() CALOR EM TERESINA-PI 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO 
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS 
CURSO DE MESTRADO EM GEOGRAFIA 
REPRESENTAÇÕES DO CALOR EM TERESINA- PI 
Disserta.ção apresentada ao Cu,...') de Mestrado 
em Geografia, Programa de Pós-Graduação da 
Unive~idade Federa! de Pemambuco, como 
requisito parcial à obtenção do grau de Mestre. 
Orientador. Prnf. Or. Jm Bitoun 
Recife, 2000 
CARLOS SAlT P. DE ANDRADE 
Comissão Examinadora 
Orientador. 
Professor Doutor Jan Bitoun 
Recife (PE). _ __ de ______ 2.000 
emIa imagem e idéÚJ .j{)bre o mundo é compOJta. entjjo. de íuperiêncía 
pes..!on[ aprendizado. imaginação e memórin. O" /usareJ em que oioemo.1. 
aquele,j que oi.,i!nmo" e percorremOJ. eM m11fldOJ .wb1'e 0., quoÍJ lemOJ e aemru. 
em Imbnlho.! de (Ir/e. e 0.1 domílll'oJ dt1 imoginação e de cada jt1nlaJía conlribuem 
pam IM nfÀMO,j imagl!flJ da nnluf(>UJ e do homem. f .. j 9T .wperfíde do % 1'1'0 ri 
elabormja pom (.ada pes..!oa pela 1'ejmçlio, almoru da;> knle., Ui/fumi" e 
peJ..!oaÍJ de co.~lJmeJ e jant'1.TiaJ. <rOdo.l ná, .1Omru arli.JhM e arquífelo.s de 
fMÍJagl!llJ . crinndo ordem e o1'gnníuJnrlo a.y)()çOJ. tl!mpo e CDuMIJdade. de 
acordo Com nO,\.\II" percepçóe.J e preJíleçi'Je.J. .W Geoflmjia +Í uniJiUlJa .Jomenle 
pl;!la /ógíUl e ótico bumanaJ. peL, luz e cor do arlífice. pel., (monjo Jewralíoo e 
pelaJ idéia., do hom. da verdade e da beleza. 
91 ôocorrinho, minha compM!Nira. que muito contribuiu com .:;ua 
coragem e finneza no acompanhamento da educaç,io de no.sJOJ filho.s, nos 
momenlos em que ",ti"" ousenle: \ 
910$ mew filhos. !fl7drid CltJrt1 . G'"ío e 9ilaria CarolíntJ. pela 
força que me passam afrar:xis de,srlll amor; 
9los meu,s pelis 8uca e (Dom. por acreditarem no meu projelo de 
oidd: 
9los meu'!' Cjrm5ru. pelo carinbo conslanle e presente, 
AGRADECIMENTOS 
A realização deste trabalho consistiu em um processo de construção de 
uma maturidade intelectual, que só foi alcançada através da contribuição de pessoas 
amigas e de profissionais competentes: por isso, os m~s agradecimentos: 
Ao Praf. Jan Bitoun, orientador, que tanto contribuiu com Sua experiência 
profissional e copacidade de fazer o orientando pensar: 
AoS professores do Departamento de Ciências GeDgráficas da 
Universidade Federal de Pernambuco , que muito me ensinaram durante a realização 
dos créditos: 
AoS colegas professores e alunos do Departamento de Geograf ia e 
História do Universidade Federal do Piauí, por estimularem o desenvolvimento de 
minha temót ico de estudo: 
À professora Iradlde, pelos ensinamentos desde o curSo de graduação: 
Ao amigo e professor Chico Filho, do Departamento de Letras do 
Universidade Federal do Piauí. por Suo enorme contribuição como ouvinte de minhas 
inquietações intelectuais e pelo Seu trobolho de revisão de linguagem da dissertação: 
AoS colegas de turma do mestrado, pelos tnomentos vividos; 
À Onilda Bezera, colega de turma do mestrado, que me ajudou em todos oS 
momentos durante esta caminhada; 
AoS funcionários do Departamento de Geografia e História da 
Universidade Federal do Piauí, pela amizade a mim dispensada, especialmente nesse 
período: 
Aos funcionários do .... rquivo Público do Estado do Piauí, pela incansável 
presteza que me dedicaram: 
À C .... PES. através do Programa Institucional de Capacitação de Docente e 
Técnico (PICDT), que me premiou com uma bolsa de pesquisa. 
À Jonice, pela revisão final e organização deste trabalho. 
SUMÁRIO 
LISTA DE QUADROS ...................................................................... ............. .... 11 
LISTA DE TABELAS .................. .... ..... ......... .. ............ .. ........... ..... .......... ...... ...... 12 
LISTA DE FIGURAS .................................... ..... ....... ..... ........... ..... ...... ......... ...... 13 
LISTA DE FOTOS ..................................................... ... ........................ ... ... ....... 14 
LISTA DE GRÁFICOS .................................................................................... .. 15 
RESUMO ... ........................ .. ........... .. .................................................................. 16 
INTRODUÇÃO .................... ..... .. .... ..... ... ... .. ....................... .. .. .... ........... ... ..... .. . 17 
CAPÍTULO 1 
CARACTERIZAÇÃO DE TERESINA ........ .................................... .... ..... ..... .. 32 
1. 1 A cidade ................................................................................................................. 26 
1.1.1 Retrospectiva histórica de Teresina ........................................... ,.......................... 26 
1.1.2 Teresina: a estrutura urbana e as formas espaciais atuais ............................. .... 35 
1.1.3 O núcleo central da cidade .. ..... ......... ... .. .... ... ..... ......... ,....................................... 37 
1.1.4 Espaços residenciais ............................................................................................. 39 
1.1.4. J Al to StatUS ......•............... . ........•• . . . ..•.. .. ......... ... .• ...•...... .. .•..•. ........•. . . .• ...... ..•.••..... .. 39 
! . 1.4.2 Áreas residenciais verticalizadas também de alto Stiltus ..... ... ......... ... ........ ..... .. ... 41 
1. 104.3 As favelas .. ..... ............ ........... ....... ... .......... ... ..................... .................................... 43 
1.1.5 A cidade e o calor .............. " .. ... .................. " ... " ........ " .... .. .. ................................. 46 
1.2 A natureza do sítio da cidade ........... .................... ...... .... ............................. .. ........ 53 
1.2.1 Aspectos geol6gicos, geomorfológicos e nuviais .................................... .... ....... 54 
1.2.2 A vegetação ....... ........... .............. .... .. .... .. ......... ..................................................... 63 
1.2.3 O clima .............................. ............... .. ........... .. ..................................................... 66 
1.2.3. 1 As precipitações ................................................................................................... 70 
1.2.3.2 Umidade relativa do ar .............................................. ...................... .................... . 73 
1.2.3.3 Ventos: direção e velocidade ................... .......... ........ ................. .. ............ ........... 75 
1.2.3.4 Temperatura ................. .......... ..... ...... .. ................. .............. .............. ................... 77 
CAPITuLO 2 
2 REPRESENTAÇÕES DO CALOR EM TERESINA ... ........ .......... .. ............... .. 80 
2.1 Na pista do conceito de representação e sua aplicação à Geografia ............... ... . 80 
2.2 Representações do calor na imprensa ................................................................. 92 
2.2.1 Algumas consider.1ções em corno do calor .. .. ......................... ..... .. ... .. ................. 93 
, 
2.2.2 A cidade. arquitetura e calor ................................................................................ 100 
2.3 Representações do calor na literatura ........ ... ......... ... ... ............. .. ......................... 108 
2.3.1 A leitu ra da cidade com o aporte da literatura ...... ........... ...... ............................. 108 
2.3.2 A cidade na prosa e poesia e a alusão ao calor ... .. ............ .... ...... .... ......... ... .... ..... 111 
2.4 O caJor representado no planejamento urbano ........... ....................................... 123 
2.4.1 Zoneamenco de Teresina e o calor .. ....................................................................125 
2.4.2 O Plano de Desenvolvimento Local e Integrado de Teresina - POLI e a 128 
contemplação do calo r ......................... ...................... ..................... .... ........ .. ..... .. 
CAPÍTULO 3 
3 O CALOR E A FORMAÇÃO DE PAISAGENS 137 
J.l Na trilha do conceito de paisagem ....................................................................... 137 
3.2 Paisagens da cidade e a tentativa de superação do calor ... ............. ............ .. ...... 144 
3.2.1 As paisagens arborizadas: praças, parques. ruas e avenidas .. ..... ...................... .... 146 
3.2.2 A Rua Climatizada ................................. .... .. .............................. ......... .................. 160 
- 164 CONSIDERAÇOES FINAIS .................................. .... ................... .................... . 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................... ...................................... 167 
LISTA DE QUADROS 
Q uadro I Legislação urbana de Teresina ............... ................ , .............. .................... 125 
Q uadro 2 Relação dos Parques Municipais e Estaduais de Teresina ......................... 156 
LISTA DE TABELAS 
Tabela I Teresina : evolução demográfica ......................................................... __ .... 33 
Tabela 2 Teresina: expansão de vilas, favelas e parques residenciais ....... ............... .45 
Tabela J Médias pluviométricas - 1989/98 .... .. .. .... .................................................. .70 
Tabela 4 Precipit:lção - 1989- 1998 ......................................... .. ..................... .......... 71 
Tabela 5 Precipitações mensais ................................. ......................... ... ... ................ 72 
Tabela 6 Médias de umidade relativa do ar % ............................................... __ ....... 74 
LISTA DE FIGURAS 
Figura O I Localização de Teresina .................................. .......................................... 27 
Figura 02 Município de Teresina e vizinhos .............................................................. 30 
Figura 03 Planta da cidade planejada ... ...... ...... " ........ .... ........................................ .... 33 
Figura 04 Teresina e direção dos ventos ............................................. ...................... 50 
Figura OS Bacitli Sedimentar do Parnaib .. ......................................................... .. ..... ... 55 
Figura 06 C· I ' t · tC os tectono-magma ICOS ... ....... ............. ........ ... , ........ .... ........................ 57 
Figura 07 Sírio da cidade de Teresina ........................................................................ 60 
Figura 08 Circulação atmosférica setembro/março .... , .......... ................................... 69 
Figura 09 Perfil de rua secundária e terciária " .......................................................... 139 
Figura 10 Projeto Arquitetônico da Rua C1imatizada ................................. ............... 163 
LISTA DE FOTOS 
Foto I Residências de alto St4WS .................••..•...........••.•........•.......... -............... 39 
Foto 2 Verticalização - a exuberância do verde .......... ................. ... ... .. ........ ...... ·.42 
Foto 3 Parque de Assentamento WaU Ferraz ........................... ..... .. ...................• 44 
Foto 4 Lagoa da zona Norte de Teresina ............ .................. ... ...... ........... ........... 62 
Foto 5 Babaçu 'o ............................... o .... ... .. 0.0 ••••• • ••••••••••• ••• • ••••••• • •••••• • ••• • ••••••••••••• • ••• 64 
Foto 6 C.arnaúba .......... ... .. .............. ......... .............. .. ............ .................. ........ ....... 65 
Foto 7 Babaçu em destruição ........ ................................... .. .................................. 101 
Foto 8 Prédio da Med-Imagem ........... ............................. .. " ........................ .. ....... 105 
Foto 9 Arborização de rua e residência - bairros distintos .................................. 107 
Foto 10 Termômetro indicando a temperatura ..................................................... 14S 
Foto 1 1 Vista Panorâmica de Teresina e o verde ................................ ........ .......... 147 
Foto 12 Av. Frei Serafim e (ontes ......................................................................... .. 148 
Fotos 13 Praça Da Costa e Silva ......... .................. .................................................. .. 148 
Fotos 14 Arborização da Av. Petrônio Portela .... .. .................................................. 150 
Foto IS Caneleir"os ................. .......... .. .................................. ... ............................... 159 
Foto 16 Flamboaiã .............. ......................... ............ ............................................... 1 S9 
Foto 17 Rua Climatizada ............... .. .................... .................................................... 162 
USTA DE GRÁFICOS 
Gráfico 01 Precipitações (mm) - TeresinaJ I999 .. ........ ...... .......... ... ....... .... ........... ... .. 73 
Gráfico 02 Umidade do arl Temperatura média ..... ................................................... 75 
Gráfico 03 Médias térmicas mensais ....... .................. ,........ .. ....................... ................ 78 
Gráfico 04 Temperatura/Precipitaçào/Umidade do ar ... .............................. .. .... ...... .. 79 
RESUMO 
Este trabalho tem por objetivo analisar as Representaçóes do calor em 
Teresina, através de um enfoque ligado à teoria da geografia humanista. Para isso. foram 
analisados matérias de jornal. obras liter.írias e documentos oficiais do município. 
publicados no período de 1969 a 1999. A pesquisa revelou que as representações do 
calor apresentadas nos jornais da cidade apontam para a possibilidade de criação de 
Imagens distintas da mesma. Existem duas correntes de d iscursos que levam a imagens 
diferentes: uma primeira e minoritária considera Teresina uma cidade insuportavelmente 
desconfortável; uma segu nda. majoritária , não desconsidera os impactos das condições 
térmicas sobre seus moradores , mas reconhece outros atrativos compensatórios. Quanto 
às representações do calor nas obras literárias, observou~se que os trabalhos dos poetaS, 
contistas e cronistas analisados apontam para um .. questão que é comum: o calor não 
depreda a cidade. Teresina, apresentada nas obras literári as, constitui-se numa cidade 
"calorosa", mas de Cc110r humano. Como disse Tito Filho, "o calor de Teresina é 
extraordinário, admirâvel. mas no afeto da sua gente," Já em relação ao planejamenro 
urbano. o cillor está pouco representado. Finalmente. pôde-se nOtar que a cidade de 
Teres ina encomra-se repleta de paisagens, com morlologia e funcionalidade atribuída a 
amenização do calor. 
INTRODUÇÃO 
91 mullipliddl1di! do.\ mp.iru de inmMligo(.5a 
a que O.! g.e6l/mfo., lêm OCIMo5O por hlibílo orrliJlo 
ab,e T7oluralmenl€ a Dia para nOQ/},1 fronleira:; e 
explnrll çOO.J. 
A cidade como objeto de investigação científica tem se constituído em tema de 
interesse dos mais variados ramos do conhecimento, Por isto, as teorias e metodologias 
empregadas nos estudos variam muito de acordo com a área, visão de mundo e objetivos 
propostos pelo pesquisador. 
As características de cada cidade revelam em suas entrelinhas realidades que 
lhes sáo particulares. Cada Cidade corresponde a uma singularidade e deve ser 
compreendida através das cenas marcadas pelas atividades cotidianas de seus moradores 
que. historicamente. modelam. criam e recriam formas nas quais as relações sociais e usos 
estão implícita e explicLtamente representados. Pensar assim é concordar com FERRARA. I 
quando a.firma que "nà.o é possível estudar 'cidades',mas estuda-se sempre uma cidade 
particular .. , 
I FERRARA l ucrécla DÁlesslo. As cidades Ilegíveis: pét'cepção ilI'Tlblental e cidadania. In: O UVE1RA, Uvia 
de .. RI O. Vicente dei . (Org.). Perc~pçào ambi~ntal : a experiéf1cia brasileira São Paulo. StUdio Nobel : 
UnlvCf'sldade Federal de São Carlos. 1996. p. 6-4 . 
18 
Partindo-se dessa idéia. de que cada cidade é uma singularidade. aos olhos 
atentos de cada investigador, é que esta pesquisa se debruça sobre a cidade de Teresina. 
Contudo. mesmo pensando em Teresina como uma cidade única, torna-se impraticável 
esgotar apenas numa pesquisa todas as possibilidades de apreensão da sua realidade, o que 
impõe fazer-se recortes quanto ao enfoque teórico e metodológico a ser empregado. 
Lembrando-se, ainda, que o enfoque é recortado com base nos objetivos delineados em 
cada pesquisa. 
Por isso. o objetivo deste trabalho, como ponto de partida, é o de percorrer a 
cidade de Teresina através de representações que dela se fazem. mediadas pelo calor. E 
como pOntO de chegada. o reconhecimento da existência de paisagens no interior da 
cidade resultantes de sua realidade térmica. Isto foi delineado a partir da hipótese de que 
o calor existente em Teresina configura-se como um tema que está represencado em 
vários meios ou formas de comunicação. 
Essas representações expressam tanto o calor, quanto a necessidade de sua 
superação arravés da criação de espaços, no interior da cidade, com func ionalidade 
direcionada à produção de conforto. Estes espaços, por sua vez, caracterizados pela sua 
aprazibilidade, constituem-se, neste trabalho, em paiS3gens. 
o tema apresentado como objeto desta investigação abrange o período de 
1969 a 1999. Este recorte temporal encontra justificativa na própria história da cidade, 
que, marcada por um súbito crescimento urbano e populacional a partir da década de 70, 
proporcionou grandes mudanças na organização estrurural e em suas formas espaciais, 
como aponta. FAÇANHA) 
o Plano Diretor Local e Integrado de Teresina. elaborado em 1969, assim 
como a criação de algumas leis urbanas para o município de Teresina neste mesmo 
período exemplificam-se como preocupações proeminentes vinculadas à necessidade de 
planejar e ordenar de maneira mais racional o espaço urbano de Teresina, que passava 
por grandes transformações a partir dessa década. Eso.s transformações que continuam a 
1 FAÇANHA. Antônio Cardoso. Evolução urb."'\na de Teresina: ag~ntes. processos e fonnas espaciais 
da cidade. Recife. \ 998. Dissertação (Mestrado em Geografia), Dep3t't3mento de Gêndas Geográficas da 
UFPE. 
19 
ocorrer nos dias atuais produziram nos meios de comunicação. nas produções artísticas e 
literárias. assim como nas próprias posturas associadas ao planejamento urbano debates 
sobre o aumento do a/ar provocado pelas conseqüências do crescimento da cidade que 
aos poucos substitui elementos naturais, como a vegetação nativa, pelos concretos e 
asfaltos. 
Quanto à escolha dessa temática de esrudo. justifICa-se basicamente por três 
razões: a primeira calcada na possibilidade de abrir-se um debate. de maneira mais 
sistemática, acerca de uma situação - condições térmicas da cidade - vivida 
cotidianamente por seus moradores: uma segunda. porque se considera este tema 
importante para aqueles que vivem e razem a cidade através dos usos e das intervenções 
em seus espaços: a terceira e última razão deve-se à oportunidade de apresentar-se à 
ciência geográfica mais uma opção metodol6gica de estudo do espaço geográfico. 
A escolha da teoria utilizada neste estudo está atrelada à definição dos 
conceitos-chave, bem como dos procedimentos metodológicos empregados para a 
obtenção dos resultados objetivados, Assim, são considerados chave os conceitos de 
represenGlção, mais usualmente empregado em ouaas áreas do conhecimento, e de 
paiSilgem. definição fundante da Geografia. Ambos estão !>feSentes em toda a pesquisa e 
norteiam a direção de seu percurso, 
Quanto à teoria eleita para explicar o conceito de represenClçio no contexto 
desta pesquisa, transie1 -se pr-imeiramente pelas for-mulações de MOSCQVICIJ • através de 
sua obra 'ta psychanalyse - Son image et 50n public': Neste trabalho, o autor desenvolve 
o conceito de "representações sociais", partindo da idéia de que estas "circulam, cruzam· 
se e se crl5C!.lizam incessantemente através de uma fala, um gesto, um encontro, em nosso 
universo cotidiano. ,. Esta idéia contribui enormemente como referência para explicar e 
definir o que, nesta pesquisa, está se considerando ''representações do calor". 
J Obra publia.da origimuiamente em 196 1 na França e traduzida para a língua portuguesa em 1978 com o 
título de A Representação 50ciaJ da Psicanál ise . 
• MOSCQVIO . Sergl:!. A represlmração social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar. 1978. p. 41 (Versão 
ongina!, 19(1). 
la 
Outros autores, inclusive alguns brasileiros são revisitados no sentido de 
fornecerem explicações acerca do conceito de representilçio. os quais. na sua maioria. 
fundamentam-se nas formulações de MOSCOVICI. MINAYO,5 por exemplo. considera 
que as representações sociais enquanto imagens construídas sobre a base real consdcuem-
se instrumentos importantes para a pesquisa em Ciências Sodas. Ainda segundo esta 
autora, as ''representações sociais se manifestam em palavras, sentimentos e condutaS e se 
institucionalizam [ ... ] , " sua "mediação privilegiada porém é a linguagem, tomada como 
forma de conhecimento e de interação social. '16 
Esce pensamento ilustra a importância que possui como constructo teórico 
para este trabalho e também como orientação metodológica, pois explícita o conceito de 
"representações sociais" como algo mediado pela linguagem, que. por sua vez. está 
privilegiada aqui como a ronte de captação da realidade geográfica. 
A discussão sobre o conceito de "represemação··. explicado com base em 
MOSCOVICI e em seus seguidores, no campo da Sociologia e da Psicologia Social. é 
extrapolada e compreendida à luz da Geografia. 
No campo da Geografia, tal conceito está inscrito em trabalhos ligados a 
Geografia Compommental e a Geografia Humanística de Antoine S. BAllLY. 
correspondendo a um dos maiores defensores dessa idéia na Geografia. Seus trabalhos 
trilham pela linha de análise da percepção das paisagens urbanas, tomAndo-se assim um 
dos principais divulgadores da Geografia da Percepção e do Comportamento na França.' 
BAILLY "navegando" pela Geografia Comporramental e Humanista anglo-
saxónica" e ainda pela Geografia do "espaço vivido" de Fremam. pôde elaborar uma nova 
propostl epistemológica pa.1d a Geografia. Segundo HOLZER, sua proposta caraCterizava-
se como uma abordagem alternativa para a Geografia humanista que passava por uma 
grande dispersào em relação aos propósitos teóricos e metodológicos que seus defensores 
S MINAYO. Mana C. de Souza. O Conceito de representações sodõllS dentro da sociologIa clássica. tn: 
GUARESCHI , Pedrinho .. JOVO--lELOVITCH. Sandra (Org.). Textos em representações sociais. Rio de 
Janeiro: Vozes. 1995. p. I08. 
~ Id . ib id . 
7 HOLZER . Werther. A Geografia humanista: sua trajetória de 1950 a 1990. ruo de Janei ro. 1992. 
Dissertação (Mestrado) . IG: UFRj . p. 448. 
21 
haviam construído ao longo dos anos. A proposta de Bailly. nas palavras de HOLZER, seria 
a seguinte : 
o acompanhamento da obra de Bai1ly ao longo da década de 80 demonstra o seu 
co nhecimento profundo da Geografia comportamental e humanista anglo-saxônia, a 
par1ir do qual ele realiza fusões com idéias da Geografia regional dássica e do espaço 
vivido. A proposta de uma nova epistemologia para a Geografia francesa, cada vez 
mais elaborada, resultou na Geografia das representações, oferecida como uma ponte 
entre o comportamentalismoe o humanismo. como ligação entre o individuo e o 
social,e 
É a partir dessas idéias que o conceito de representlção articula-se ao de 
paisagem. Aproximam-se muito quando se considera a paisagem como uma representação 
dada pelo sujeito. de uma realidade capturada através de sua visão de mundo, emoções e 
filtros psicológicos. 
Esta construção está também influenciada pelo pensamenco de GOMES,' que 
compreende a fklisagem como objeto representado. Para ela. muitas são as maneiras de 
capcurar uma paisagem e de representá-Ia, como indica suas palavras: 
Abordagens literárias e artísticas, tanto na pintura. como poesia. música, entre outros, 
elaboram representações desse mundo comem piado abstrato o u concreto. 
atribuindo-lhes leituras ilustrativas de componentes subjetivos e estéticos permeados 
de emoções e significados simbólicos. 
As paisagens capturadas e representadas sob 35 formas anteriormente 
descritas revelam uma maneira singular de conceber a realidade espacial de determinados 
lugares. ESQ· possibilidade de conceber e representar uma paisagem está inscrita em 
propostas de trabalhos aprioristicamentc orientados pelo pensamento de autores ligados 
à Geografia Humanista. 
$ Ibld .. p. 477. 
9 GONES, Edvânia T. de Agu iar. Recortes de paisaRMs na ci dade do Recife : uma <tlordagem geognific.a. 
São PaiJ lo . 199 7. Tese (Doutorado em Geografia) • Faculdade de Filoso fia, Letras e Ciên'd as Humanas. 
Depàrramento de Geografia. U niversidade de São Paulo. p. 258. 
11 
Assim, pode-se .firmar que leituras do trabalho de TUAN, LOWENTHAL e 
BUTTIMER. forneceram os primeiros elementos teóricos para a construção deste trabalho 
e indicaram pistas acerca dos procedimentos metodológicos a serem adotados. 
Estes foram desenvolvidos seguindo basicamente três caminhos. Um primeiro, 
apoiado em uma pesquisa realizada no Arquivo Público do Estado do Piauí. A fonte 
selecionada para pesquisa foi o Jornal "O Dia", devido à sua boa periodicidade em relação 
à existência dos exemplares contidos na remporalidade desta investigação. 
o tr.lbalho de pesquisa centrou-se em levantamentos de matérias - entre 
artigos, opiniões, publicações literárias - a respeito do ca/orde Teresina. Para isso, foram 
consultados 4.220 exemplares distribuídos nos meses do segundo semestre de cada ano. 
A opção de pesquisar os jornais do segundo semestre deveu-se à hipótese de 
que existiria uma maior incidência de publicações acerca dessa temática. neste período. 
em função de as temperaturas estarem mais elevadas nesta época. Assim. conseguiu-se 
analisar aproximadamente 100 matérias que direta ou indiretamente tratavam do assunto. 
Um segundo caminho foi o de analisar o calor na cidade representado em 
trabalhos literários de autores piauienses. Prosas e poesias sobre a cidade de Teresina 
constituíram-se fontes de pesquisa. O motivo de se trabalhar com esses dois tipos de 
linguagem deve-se à razão de que o calor estaria representado de maneira diferente entre 
prosa e poesia. 
Nas prosas como as crônicas e contOS sobre <I cidade. o calor está inscrito de 
modo mais obíetivo, ou seja, através de uma linguagem mais direta e menos metaf6rica. 
Q uanto à poesia. observa-se que o alor está representado mais subjetivamente e 
expressado atravÉ':s de elementos que. de alguma forma, se associam à produção de calor. 
como o Sol. A esco lh<l dos poemas para análise foi feita a partir de uma "garimpagem", 
sendo selecionados aqueles que mais expressassem o tema alore cidade. 
23 
Quanto aos textos em prosa. são privilegiados os trabalhos de crônicas e 
contos de H. DOBAL. 'O Em suas obras. este autor busca resgatar o cotidiano de lugares 
que lhe estão ou estiveram próximos. Dessa forma Teresina. assim como outras cidades. 
constitui·se cenário de contemplação e inspiração para suas produções. 
Ainda em relação aos trabalhos em prosa, revisitam-se também os textos de 
TITO FILHO,II que publicou inúmeras crônicas. retratando a cidade de Teresina, dentre 
elas, algumas com o objetivo de se contrapor aos estere6tipos criados sobre Teresina. 
quando se tratam de suas condições térmicas. 
o terceiro e último caminho de pesquisa esteve centrado na análise de 
documentos públicos do município de Teresina. Por um lado. percorre-se à sua legislação 
urbana e. por outro, o Plano Diretor Local e Integrado de Teresina. estruturado em 1969. 
com a pretensão de amenizar os problemas gerados pela expansão da cidade nesta época 
e anos futuros. Essas duas fontes de pesquisas. em conjunto. ilustram as formas tais como 
o alorescl representado no planejamento urbano de Teresina 
Estes procedimentos possibilitaram o desenvolvimento do conteúdo eleito 
nesta pesquisa que está organizado em [rês capítulos. O primeiro. que é urna 
caracterizaçào de Teresina. está organizado em duas partes, uma que trata da cidade de 
Teresina a partir de sua história. evolução urbana e formas espadas. A outra que trata 
mais das características naturais de seu sítio. com maior enfoque no clima. 
o segundo capítulo, que trata das representações do calor em Teresina. está 
organizado em quatro partes. A primeira trata da discussão teórica sobre representação e 
sua aplicação na ciência geográfica. A segunda parte refere~se às represenClções do alor 
apresentadas na imprensa local. A terceira parte analisa as representações na literatura 
piauiense. seguindo o itinerário da prosa e poesia. A quarta e última parte discute as várias 
maneiras como o calorestá representado no planejamento urbano de Teresina ao longo 
do tempo. no período estudado. 
10 Hindemburgo Dobal TeilCeira, mais conllecido como H. DOBAL. ~ poeta. cronista e conttsta e m embro 
da Academia PI3lJiense de Letras. 
I I Arimatéia Tito Filh o foi professor. jornalista. cronista e membro da Academ ia Piauiensc de Letras. 
o terceiro capítulo discute, num primeiro momento. o conceito de paisagem 
e seu emprego nesta pesquisa. Em seguida. mostra como a cidade se organiza. através de 
suas paisagens vinculadas a elementos produtores de conforto térmico. por isso. 
amenizadoras do calor. 
CAPíTULO I 
CARACTERIZAÇÃO DE TERESINA 
Si:i d rltldil Mlmpn MOf1 rvbç5e3 C(.IIII' <'I <1OÇ;qJflflo /lO JrlU cOlljunlo. 
COI1/ JW compruJt;OO e JaJ fimc1onam~lo. COIfI &w eM.cn/oJ cOlfJliruJ" m 
/../. com .m,1 bW6ri:J. cPorlanIo. 00 _d:J qu:VIlJo mud3 " .!Od4d/J do fi() 
Jó!U coojunlQ fúlfrrlktnlo. ~ IrlJfI.~! dn ckl:tc/e nlio J/iQ OJ 
re.wflodo., ptlJ.rJnru da gliJÓn/idnrk oociD/. dfl JoUllJ m(xlíjwç;:'Jru. 9J 
c~tk J''PffldQ lnmlX!m 11 nlio 1If{!f/OJ ~lmWlk ,1a..l roü.;&JJ 00 
imI!llitJfk:fl. dOJ rdfMjjru direW r!fIlrv flJ ~ f1 f1n!pOJ f(.N! wmpiJmt a 
.fOCil'dtuJ,', 
91 . .Eefcburv 
Neste capítulo, trabalha-se com o o bjetivo de conhecer, ainda que em caráter 
de brevidade. a origem da cidade e a história do seu crescimento. tudo isso articulado às 
características morfológicas predominantes nos diversos tempos que permeiam este 
estudo. 
Estudar o calor de Teresina, na perspectiv.! de suas representações e ainda 
associado à construção de paisagens urbanas, consiste em uma importante tarefa devido à 
contribuição que pode ter como instrumento de auxílio ao planejamento da cidade. 
Para se compreender melhor a manifestação dos moradores de Teresina 
acerca do c.1lor, será feito um "passeio" pela história da cidade discorrendo sobre o 
processo evolutivo. estrutura urbana bem como as formas espaciais atuais . 
26 
No processo de descrever e analisar os aspectos da morfologia do tecido 
urbano de Teresina busca-se compreender como. em alguns momentos, a 
intencionalidade dos interventores públicos na recriação de espaços da cidade 
desenvolveu-se frente à necessidade de obtenção de espaços livres com uma ambiência 
mais coadunante com as características climáticas da cidade. 
Conhecer também como se manifescam as características naturais do sítio da 
cidade, principalmente as do clima. corresponde a uma tarefa importante neste capítulo 
porque o calor deve ser visto como resultado da dinâmica dos elementos da natureza 
combinados aos do espaço construído, ou seja. com a estrutura e a morfologia urbana. 
Deste modo. o capitulo está escruturado da seguinte forma: a primeira parte mostra um 
pouco da história da cidade - origem. crescimento, estrutura e formas espaciais atuais 
bem como a produção do calor: a segunda parte analisa mais diretamente as 
características naturais do sítio dando ênfase ao clima. 
1. 1 A cidade 
1.1.1 Retrospectiva histórica da cidade 
Teresina é, hoje, como tlnt25 outras cidades no Brasil. um produto dos 
interesses e das relações que a sociedade historicamente estabeleceu, objetrvando sua 
reprodução no espaço. (Fig. I). 
Figura - 01 
LOCALIZAÇÃO DE TERESINA 
REGIA O NORTE 
Org , SAIT, 2000 
Fonte, Façanha, 1998 
REGIAO 
Cf r;TRQ-OESTE 
REGhic 
9.JOE$TE 
N 
,\ 
, 
28 
Cada capítulo da história de Teresina está marcado por um conjunto de ideais 
que traduzem os interesses, os preceitos e seus desdobramentos na sociedade. Desde 3 
origem, Teresina já expressava este quadro, pois surgiu com objetivos claros e 
definidos. O começo de tudo não se deu por acaso. Sobre essa questão. ABREU comenta 
que: 
A cidade de T eres.ina fo i criada em agosto de 1852 com o objetivo de abrigar a capital 
da então província do Piauí. Sua localização - nas terras férteis à margem direita do 
rio Parnaíba, na Vila Nova - foi considerada como a mais satisfat6ria dos propósitos 
fundamentais de reanimar a combal ida economia pecuária através da agricultura e 
impedir-se a concorrência prejudicial da praça de Caxias, Maranhão, intensificando-se 
para isso a navegação do rio Pamaíba a fim de facilitar a comunicação inter e intra 
províncias,l'/. 
Ainda em 1760, já habitavam a Barra do Poti (confluência dos rios Pamafba e 
Poti) populações de pescadores, canoeiros e plantadores de fumo e mandioca. Como esse 
espaço era considerado por muitos, devido à posição geográfica e aos rios. uma região 
estratégica para o desenvolvimento de atividades comerciais - que já eram, lá, praticadas -
ele foi elevado à categoria de Vila do Poti. Em 20 de outubro de 18SI, a Câmara da Vila 
do Poti aprovou a mudança da sede para a Chapada do Corisco, surgindo então uma nova 
comunidade, com O nome de Vila Nova do Poti. A justificativa dessa mudança encontra 
sustentação no fato de que o espaço da Vila do Poti - terraços aluviais próximos à 
confluência dos rios já citados - era in3dequado para a habitação devido às condições de 
insalubridade determinadas pelas constantes inundações. Em 21 de julho de 1852, a 
Assembléia Legislatíva Provincial publicou a Resolução 315. que elevava a Vila Nova do 
Poti à categoria. de cidade com o nome de T eresina.1) A data em que atualmente se 
comemora o aniversário de Teresina - 16 de agosto - na realidade, apenas representa o 
momento em que Saraiva enviou oficio aos presidentes de outr.l$ provincias. informando 
que ele já se encontrava na nova capital à disposição dos colegas. 14 
11 ABREU . Irlane G. de. O crescimento da zona leste dê Teresina: um caso de ~egação? Rio de 
Janeiro. 1983. Dissertação (Mestrado em Geografia), Instituto de Geociências da Universidade FederaJ do 
Rio de Janeiro. p. S. 
li TITO FILHO, Arimatéa. Teresina meu amor. Teresina: COMEPI, 197 ... p. 27. 
' ·Id. lbid. 
29 
Para a formação do espaço territorial, foi desapropriada uma área de 42 Km2 
da Fazenda Chapada do Corisco. local assim chamado em virtude das (ortes trovoadas e 
freqüemes faíscas (descargas elétricas) ocorridas durante a estação chuvosa. Esse espaço 
fo i ampliado com a anexação de partes do municfpio de Campo Maior e dos municípios de 
Altos (desmembrado de Teresina em 1922), Demerval Lobão e Monsenhor Gil 
(desmembrados em 1963). (Fig. 2). 
8 
g 
fI 
'" tu 
Figura - 02 
, 
MUNICIPIO DE TERESINA 
E VIZINHOS 
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C YI /'~" União '7 / ! 
~ I 
j José de Freitas / 
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I 
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Altos// 
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,I ) 
1 . ;; 
ESCALA 1: 620.000 
Fonte: Mapa Polltico - SEMAR-PI 
--------------------- ----
- - ---------, 
Figura - 03 
PLANTA DA CIDADE PLANEJADA 
do Maranhão ~ 
" "-.. Uio f'arnu,/njlHt 
---- . 
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~ --' 
" 
, 
• 
/ 852 a /855 
Rio Poly 
Fonte Anexo do oficio da Câmara Municipa l de Teresina de 28 de abril de 1855 ao 
presidente do Piauhy. (Arquivo Público do Estado do Piaui). 
c 
o 
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, 
, 
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, 
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.. 
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, 
" 
Com a instalação definitiva da capital da Província piauiense. em 1852, em 
Teresina. iniciou-se um processo de desenvolvimento acentuado. Em junho de 1851. 
viviam na. C hapada do Corisco apenas 49 habitantes. entretanto, na segunda década após 
a transferência da capital. o número de habitances era superior a 8 mil. 's 
Aos poucos. a cidade foi crescendo e ganhando novas ediftca.çàes e sua á.rea 
urbana foi-se expandindo em detrimento da área rural. Mas. segundo MOREIRA.16 a cidade 
começou mesmo a crescer somente a partir de 1872. Ela afirma que: 
Em tomo da praça da Constituição (at ual Deodoro) começou a ddade a crescer a 
partir de Isn. quando a capital, com 21 .642 habitantes. já possuía cerca de 10,2% da 
população do Estado; estima-se para o período que vai daquele ano até 1890 um 
incremento demográfiCO de 2,5% ao ano . [ ... ] Durante a fase que va i de 1889 a 1900 
o crescimento da população de T eresina foi maior que no período anterior, com valor 
est imado de 4,5% ao aoo, Foi possivelmente nesse período que começou a maior 
expansão da cidade a partir do núcleo inicial. f .... ] Enc:re 1900 a 1920 o crescimento 
demográfico de Teresina ficou reduzido a apenas [,396 ao ano. enquanto no período 
subsequente. de 1920 a [940, toma-se menor ainda, com 0.8% ao ano.11 
A partir da década de 40. de acordo com.il. Tabela I . já havia uma tendência 
de superação do percentual da população urbandi sobre di rural no município. 
Tabela 
Te resin a: evoIuSã o demográfica 1940 - 1996 
Ano Papo Total Pop.Urbana Pa po Rural Tx Urbaninção 
1940 67.64 1 34 .695 32.946 51.29 
1950 9O.n3 5 1.~ 17 39.306 5267 
1960 142.69 1 98.329 +4.362 68,91 
1970 220.oi87 181.062 )9 .~2S 82. 12 
1900 371.988 339.0.42 38.732 89,75 
199! 599.172 556.91 1 oi2.36 1 92,93 
1996 655 ,~73 6 13.767 41.706 93.6-4 
Fonte: PM f/SEMPlAN. 1998 
, S PMTI SEMPlAN , Perfi! de Teres.ina.. 199] . 
6 MOREIRA. Amélia A. N . A Cidad e de Ten !sina. In: Boletim Geográfico. Rio de Janeiro: IBGF, n. 
130. 1972. p. I. 
! Id. ibld. 
o incremento populacional foi atingindo níveis considerados bastante 
elevados. O IBGE cadastrou, em 1940, 34.695 h.bitantes n. população urb.na e 32,946 n. 
população rural. o que iluscra a quase igualdade entre as duas. Em 1950, a população 
urbana superou em muito a rural, obtendo um registro de 51.417 contra os 39.306 
habitantes na zona rural. Em 1960, a população urbana já ulcrapassara em dobro a rural; o 
IBGE registrou 98.326 habitantes na cidade e +t463 na zona rural, momento marcante 
do crescimento populacional de Teresina. Nas décadas seguintes, a cidade continuou a 
cresce r, atingindo 556.911habitantes na zona urbana em 1991, contigente correspondente 
a 92.9% da população total do município. ficando a zona rural com uma população de 
42.361 habitantes, ou seja, com apenas 7,1% do tOtal. Em 1996, Teresina atinge uma 
população total de 655.473 habitantes, dos quais 613.767 correspondem à fatia urbana e 
os 4 1.706 restantes compõem à população rural. 
Na realidade, somente a partir das décadas de 50, 60 e 70 deste século 
Teresina começou. de fato. a ganharexpressMdade como pók> de atração da sociedade. 
em função das políticas públicas de investimentos em serviços como saúde, educação, 
energia elétrica e habitação popular. Nesse momento, o governo federal implementava 
também políticas de reestruturação da economia da I'egião Nordeste com o objetivo de 
proporcionar uma matar inregração entre os diversos espaços regionais do Brasil. Essas 
políticas se materializavam na abertura de estradas e na criação de vá rios órgãos 
administrativos. atraindo para Teresina. cada vez mais, grandes fluxos de imígrantes e. 
conseqüentemente. provocando um acelerado crescimento da cidade. 1fl 
No processo de expansão urbana, muitos problemas de ordem política. 
sociocconômica e am biental começaram a surgir e, com eles. a necess idade de 
intervenções no espaço, arravés da instauração de planos e de códigos de posturas que 
pudessem normatizar e ordenar o crescimento da cidade. Depois do "Plano Saraiva". 
várias foram as iniciativas legais de intervir e conrrolar o ordenamento do espaço da 
cidade. No entanto. só em 1969 foi elaborado o primeiro plano diretor de Teresina, o 
POLI - Plano Diretor Local Integrado, feito pela empresa baiana de consultoria COPLAN-
S.A. (Construções, Planejamento) . Esse plano não o bteve os resultados esperados, tendo 
_ ._-----
8 PMT/SEMTAS. 1993. p. 13-1 >1 . 
lS 
em vista que não estava totalmente conduzido para a real idade local. Mas. o "Sistema 
Viário Radioconcêntrico e o anel rodoviário propostos neste plano foram parcialmente 
adotados"" 
Em 1987, foi elaborado pelo IPAN - Instituto de Planejamento e Administração 
Municipal - em convênio com a UnB - Universidade de Brasília - o I PET - Plano 
Estrutural de Teresina, regulamentando, entre outras, o uso do solo urbano e 
estabelecendo recomendações sobre as edificações. 
Em 1988. foi realizado 011 PET - Plano Estrutural de Teresina - que propôs 
uma estrutura diferente daquela anterior, na qual as atividades concentravam-se no centro 
da cidade - modelo radioconcêntrico. O 11 PET definiu novos pólos de interesses ou 
atividades econômicas, incentivados a partir de núcleos, os bairros distantes, porque o 
objetivo maior desse plano era descentralizar as atMdades que se realizavam intensamente 
no centro da Cidade. 
Esta sucessão de planos foi importante para a transfonnação da paisagem 
urbana. apesar de nenhum ter sido adotado na sua totalidade. 
1.1.2 Teresina: a estrutura urbana e as formas espaciais atuais 
Com relação á estrutura urbana, pode-se ver a opinião de alguns autores, 
através de suas an;Ílises. Em sua ref1exão, CLARK. ao trabalhar com a estrutura interna da 
cidade afirma que: 
Um dos traços mais característicos das cidades modernas é o seu alto nível de 
diferenciação interna. Os conjuntos de zonas. comunidades ou bairros sâo 
freqüentemente distinguíveis em termos de aparência física, composição da população 
e aspectos relacionados com as características e problemas sociais, que se repetem de 
uma cidade para outra' o 
--------
I' Ibid .. p. 38. 
~o CLAR!<. David. Introdução à geografiõll urbana. Rio de Janeiro: Ben:rand Bras.I, 1991. p. 8 1. 
" 
o pensamento de CLARK expõe uma realidade comum à grande maioria das 
cidades. Em Teresina. a diferenciação existente no incerior da cidade é visível. Do ponto 
de vista administrativo. a cidade foi dividida em cinco administrações regionais: centro , 
Norte, Sul. Leste e Sudeste. Essa divisão foi realizada com o objetivo, segundo o poder 
público municipal. de facilitar a administração pública por meio do processo de 
descentralização de obras e serviços de interesse das comunidades Iocaís. No entanto, é 
importante salientar que virias são os processos que influenciam toda a organização do 
espaço de uma cidade. tais como os determinados pelos tipos de relações existentes entre 
os agentes e atores sociais que produzem a cidade e que terminam promovendo um 
espaço caracterizado morfologica e socialmente pelas diferenças. 
Estudando a evolução urbana de Teresina, entre os anos 70 e 95, FAÇANHA1 • 
analisa os processos e formas espaciais da cidade, elegendo cinco tópicos que, segundo 
ele. induzem o processo de expansão da cidade: a trajet6ria dos conjuntos habitacionais: a 
descentralização e os núcleos secundá.rios: comérc~, serviço e indústria; o mapeamento 
das favelas na cidade: as arcas de segregação residendal de alto status' e. por fim. o 
processo de verticalização em Teresina. Esses processos contribuíram largamente para o 
crescimento da cidade. mas também serviram para caracterizar morfologicamente o 
espaço em todas as zonas administrativas. Segundo este autor: 
A produção do espaço urbano de Teresina fo i resultado das alianças e dos conflitos 
entre os agentes e os atores sociais da cidade. A produçâo desse espaço urbano 
encontra-se ;fotografad a' nas diversas paisagens geográficas que dominam o cenário 
da cidade. Essas paisagens, que são verdadeiras forrna.s espaciais, foram produzidas 
at ravés de relações sociais ao longo da hist6ria 12 
Contudo. O objetivo primordial aqui é o de percorrer trilhas que possam 
proporcionar um melhor conheômento sobre a cidade e suas formas espaciais. 
re lacionando-as à realidade térmica. Sobre a concepção de cidade, como materialidade. 
LEFEBVRE ao diferenciá-Ia do urbano a considera como uma "realidade presente. 
imediata. dado prático-sensível. arquitetônico. u lJ 
11 FAÇANHA. op . Çl t •• p.162. 
1; Id. ibid . 
11 LEFEBVRE. H. O dirl.!ito ;i cidade. s.'io P:'l.ulo: Ed. Mo raes. 199 1. p. 49. 
37 
A materialidade supracitada assume existência concreta a partir das ruas e 
avenidas, edificios, praças. arborização dos espaços, enfim. em tudo o que é objetifteado 
no espaço da cidade e que. de alguma forma. situa o homem como ator e cenário desse 
palco. Entretanto. descrever essas formas talvez corresponda a uma tarefa exauStrva. ao 
tempo em que proporciona um exercício imponante no contexto deste capítulo, visto que 
possibilitará melhor compreensão acerca do calor de Teresina como um produto 
resultante das condições naturais. além. é claro, de inOuenciado pela materialidade urbana. 
Em (unção disso. foram privilegiadas as seguintes formas espaciais: o núcleo central da 
cidade: os bairros residenciais de "alto status"; os verticalizados. também de "alto sucus"; 
e as favelas. A opção de estudar estas formas espaciais deve~se ao fato de estas se 
constituírem nas formas mais marcantes, no cenário da cidade. 
1.1 .3 O núcleo central da cidade 
É a partir do Centro que a hist6ria de Teresina se originou. Foi nesse sítio 
que O primeiro plano urbanístico da cidade foí estabelecido - o plano da construção da 
cidade de Teresina. ABREU diz que este espaço, "segundo o mapa mais antigo que se 
conhece. o de 1855, se restringia a 18 quadras no sentido Norte~S ul e a 12 quadras no 
sentido Leste-Oeste ... 1. 
Nesse plano - o "Saraiva" - foi definido basicamente a estruturação do 
sistema viário e o zoneamento urbano. As ruas estavam caracterizadas basicamente por 
serem estreitas , formarem ângulos retos e possuirem um traçado de "tabuleiro de 
xadrez". As quadras eram quase sem pre pequenas e uniformes, produzindo uma paisagem 
aparentemente homogênea ao olhar de quem não vive na cidade. Na opinião de 
NASCIMENTO, "a cidade, até o inicio da primeira década do século XX, tinha aquele 
aspecto bem característico das cidades coloniais . 'Ralamente habitada', as ruas est reitas, a 
sujeira e a presença de animais eram comuns." H 
----- -
2' ABREU. op. cit ., p. 06. 
l~ NASCI MENTO. F. Alcides . A cidade sob o fogo: modtm1ização e violê nda policial em Teresi na-
(1937-1 945). Reare. UFPE: Programa de Pós-Graduação em História. 1999. Tese (Domorado em Histón a). 
p IOS. 
3. 
A observaçãoda realidade mostra que o núcleo central é também o "carro 
chefe" da "Região Administrativa Centro", composta por 23 bairros e que, de acordo 
com os últimos dados oficiais. possuia em 1996 uma população de 134.3 17 habitantes. 
Porém, somente o bairro Centro. nesta mesma. época, apresentava uma população de 
19.813 habitan'es e uma estimativa de 20.597 habil:mtes para 1998 e 40.370 habitances 
para 1999 . )~ 
Nessa perspectiva, os aspectos que mais caracterizam o centro de Teresina 
correspondem às atividades comerdais, financeiras e de serviços em geral. O comércio. 
de acordo com a Secretaria Municipal de Planejamento "se faz presente em todos os 
segmentos de mercado, como por exemplo. o de confecção, farm.ácias, alimentos, móveis, 
papelaria, calçados , eletro-eletrônicos. é ticas e supermercados." 17 
Ainda de acordo com a Secretaria Municipal de Planejamento,26 os serviços 
que estão concentrados no centro se destacam através das atividades bancárias e 
médicas. Estas últimas, de acordo com o referido órgão, ocupam uma posição espec ial 
no Nordeste brasileiro devido à sua qualidade e ao seu progressivo desenvolvimento. 
Outros aspectos também devem ser considerados. como as praças da cidade. 
que normalmente s.io amplas, bem arborizadas, com fontes luminosas e constituindo-se 
como "lugares" de encontro entre os moradores. São 13 o número de praças existentes 
no centro da cidade, sendo que as maiores são a praça Mal. Deodoro (da Bandeira) com 
uma área de 30.600 m2• a Saraiva 30. , 10m2 e a Da Costa e Silva com 19.897 m2• 
Uma outra importante característica do centro de Teresina é que nele se 
encontra também urna grande densidade de edificações no plano horizonal. A ocupação 
do solo neste espaço é mais intensa , proporcionando assim sensações de desconforto em 
determinadas áreas. 
16 PMT/SEMPLAN. 1998. 
11 tbid .. 1999. 
1& lbid .. 1998. 
J9 
1.104 Espaços residenciais 
1.1.4. 1 Alto status 
A zona Leste da cidade possui alguns bair ros que se caracterizam como bairros 
"nobres" ou de alto sCJtus. A qualidade das habitações é geralmeme superior à maioria das 
habitações exis tentes nos bairros das outras zonas da cidade. (foto I) . 
Foto 1 
ReSidências de oito status ) Rua Tabe li õo J . Basílio ..,. Bairro de Fátima 
ABREU pesquisou o crescimenco da zona Leste e o conseqüente processo de 
segregação residencial e pôde afirmar. para esta área da cidade, que "o Status social da 
família pode ser estimado pelo padrão da residência, geralmente espaçosa. além da posse 
de outroS requisitos da vida moderna. ·,29 
Os bairros Jockey Club, Fátima, Planalto, Ininga, Horto Florestal, São Cristovão 
e Morada do Sol correspondem aos mais típicos quanto ao padrão de residências de alto 
SC1tuS. A densidade de domicílios por quadras é normalmente bem inferior à densidade 
existente em outros bairros da cidade. pelo fato de as casas serem construídas em grandes 
lotes. A5 ruas são normalmente largas, o que permite inferir que, somado a outras 
caracterfsticas. como o verde dos jardins e quintais, existe nesses bairros um padrão de 
conforto diferenciado dos demais da cidade. 
Por sua vez, as habitações correspondem a um indicador importante do 
padrão de vida dessa fração da população. A alta renda é, de fato, um aspectO real e 
concreto nesses bairros. ABREU. em 1983. já enfatizava em sua pesquisa que a alta 
renda dos moradores dos referidos bairros era algo comprovado e que fazia destes uma 
população diferenciada das dem<:ais. "A característica renda/alto st3tus da área pode ser 
comproVélda ( ... ]. A análise relativa à renda e seus diversos componenteS merece destaque 
por se entender que seja este um elemento discriminador e, como tal, capaz de gerar um 
processo de segregação. no componente espacial. ,,'10 
Nesses bairros, encontra-se uma realidade. de certa forma. diferenciada e 
prrvilegiada em relação ao restante da cidade. principalmente no que se refere às 
condições de infra-estrutura e de serviços essenciais oferecidos à população. De acordo 
com FAÇANHA. ;'Os bairros Jóquei. Fátima e Ininga transformaram-se. ao longo dos anos, 
em espaços privilegiados para a reprodução social da população elitizada de Teresina. A 
segregação residencial de alto status, até o ano de de 1995, nesses espaços. pode-se dizer 
que é uma realidade e não mais uma tendência. " l l 
2'J ABREU. op. dt .. p. 102. 
Xl Ibld .. p. 84. 
l , fAÇANHA. op. a t . . p. 209. 
Essas reflexões indicam, portanto, a complexidade desses espaços no contexto 
da cidade, pois aparecem como o resultado de uma dinâmica econômica, política e social 
capaz de valorizar bastante alguns e excluir a maioria de uso dos atributos que a cidade, 
em sua plenitude. pode oferecer. tais como os serviços. 
I. J .4.2 Áreas residenciais verticalizadas também de alto status 
A construção de edifícios em Teresina era inexpressiva até a década de 80. Os 
edifícios de apartamentos encontravam-se dispersos na cidade e em pequenos números. 
Resumiam-se, praticamente, aos prédios publicos e àqueles ligados à atividade comercial. 
A partir dos anos 80, outra linha na construção vertical aponta como uma nova forma de 
uso do solo urbano: são os edifícios residenciais luxuosos concentrados basicamente nos 
bairros Cent ro. Cabral e Frei Serafim. Conforme FAÇANHA. 'bs incentivos para os 
maiores investimentos do setor imobiliário ocorrerem nesses bairros. deveram -se ao 
conjunto de vantagens oferecidas nessas areas, reflexo da existência das populações de 
alto poder aquisitivo. ,,)1 
Principalmente nos bairros Frei Serafim e Cabral encontra-se a maior 
concentração de edifícios de população de alto poder aquisitivo (Foto 2). Na proximidade 
das áreas onde estão assentados esses edifícios, existe um conjunto de aspectos favoráveis 
à valorização desses imóveis. Primeiro. a proximidade do rio Poti, que possibilita uma 
visão paisagística singular e ainda funciona como um elemento de amenização do calor. 
Em segundo lugar, a própria situaçào de infra-estrutura, que é ideal para a reprodução de 
espaços residenciais com tais características. Em terceiro, a localizaçã:o em que esses 
ed ifícios se concentram, pois estão próximos ao centro da cidade. no entanto. numa área 
de re lativa calma quanto ao fluxo de veículos. FAÇANHA afirma que ''a, área próxima ao 
Rio Poti Hotel foi produzida com todas as condições que viabilizassem. ali . uma área de 
segregação espacial, alicerçada em aspectos como a acessibilidade, ventilação. " H 
11 Ibid .. p. 212. 
n Ibid .. p. 2 1"1 . 
Foto 2 
Verticolização ... a exuberância do verde à margem esquerda do rio Poti 
bairros Frei Serafim e I lhotas 
Na década de 90, houve um considerável acréscimo no plano da construção 
vertical em Teresina. Segundo VIANA,J4 na década de 70 foram construídos 3 edifícios 
com 3 e 6 pavimentos, enquanto que na década de 80, foram cons truídos 26 edificios. 
revelando um grande salto em rel,ação à década de 70. Porém o aumento mesmo desse 
tipo de construção se deu na década de 90, quando foram construídos 59 edifícios até o 
ano de 99, variando entre) e 24 pavimentos. 
Atualmence, 0$ edifícios ainda estão concentrados nos bairros centrais que 
margeiam o rio Pori. Esta concentração aumenta paulatinamente em função da ínfra-
estrutura da área. que a cada dia se consolida mais, principalmente depois da construção 
)4 VIANA. BAS. A geografia da verticalização na Cidade de Teresina. Rela.tório fina l da pesquisa de 
Iniciação Ci(!ntifica. OGH. Teresina: UFPI , /999 . (110 prelo·). p. H. 
dos dois shopping cencers da cidade - ° Teresina Shopping e o Rive~ide Shopping - na 
segunda metade da década de 90. Como a construção vertical tem-se propagado muito 
em Teresina, estimou-se que a partir do final do anode 1999 houvesse um impulso ainda 
maior em relação ao crescimento desse setor devido à implantação dos edifícios 
projetados para os anos seguintes. A ocupação, ainda que concentrada na área 
anteriormente descrita, começa a dispersar-se por outroS pontos da cidade, 
principalmente na zona Leste, redefinindo assim a paisagem urbana de Teresina, 
1.1.4.3 As favelas 
As favelas compõem uma outra forma espacial no cenário da paisagem urbana 
de Teresina, Vilas e (aveias são palavras diferentes. mas que, na realidade de Teresina, 
nomeiam uma mesma realidade socioconômica. Apesar de que, para os atuais gestores 
municipais. as favelas correspondem aos espaços caracterizados por imóveis impróprios 
para a habitação e situados em áreas de riscos. já as vilas constituem-se em os espaços 
dotados de uma infra-estrutura mínima e com imóveis superiores em qualidade de 
habitação aos das favelas . 
Nos últimos, anos (oi incorporada ao Iinguajar da cidade mais uma expressão, 
ligada à habiQção, para designar um padrão de qualidade de habitação popular. são os 
parques residenciais. Estes se caracterizam por serem á.reas de assentamentos urbanos 
promovidos pela Prefeitura Municipal e destinados essencialmente à populaçáo de baixa 
renda e àquelas removidas de ''áreas de riscos ", normalmente de favelas (Foto). 
Foto 3 
Parque de Assentamento M30 Santa 
As vilas e favelas es tão distribuídas em todas as zonas da cidade, sendo que na 
zona Centro existe o menor número: apenas sete. O to tal de favelas em Teresina, de 
acordo com o último censo feito pela Secretaria Municipal de Trabalho e I\ssistência Social 
- SEMTAS, em 1999, ê de 150 para 35.298 domicílios e 34.256 famílias cadastradas e 
118.363 pessoas (Censo de Vi las e Favelas, 1999). Esses números são elevados para uma 
cidade do porte de Teresina. com população estimada, em 1999, em 692.325 habitantes. 
No entanto, nesse mesmo censo foi revelado que entre os anos de 1993 a 1996 e 1996 a 
1999 houve uma redução no crescimento de número de favelas. conforme Tabe la 2. 
4S 
Tabela 2 
Teresina.: expansão de vi las. favelas e parques residenciais 
1993 - 1996 - 1999 
Ano Vilas Favelas PqlRes Total 
1993 92 ~9 14 I 
1996 106 39 04 149 
1999 11 7 2~ 09 ISO 
Fonte: PMTI SEMTAS. 2000 
Nesta tabela. observa-se um aspecto curioso. tendo em vista que o número de 
favelas diminui quase que na mesma proporção do aumento do número de vilas e parques 
residenciais. principalmente de 1996 para 1999. o que leva a se pensar que houve uma 
substituição, quanto à nomenclatura. de acordo com do classificação da pr6pria prefeitura, 
de favelas por vilas e parques residenciais. 
De acordo com os técnicos da Prefeitura de Teresina. este decréscimo está 
relacionado às políticas municipais implantadas no sentido de resolver o problema da 
moradia e, conseqüentemente. os problemas de saneamento básico. dos serviços de 
saúde, recuperação e preservação ambiemal. l5 o que possibilitou a transformação de 
algumas favelas em bairros, comprovando a tese supramencionada. 
Sobre esse assunto, FAÇANHA diz que um aspecto importante. quanto à 
evolução das favelas em Teresina, diz respeito aos tipos de áreas ocupadas onde: 
A maio ria das favelas. localizadas nas áreas de risco, em leito de rua e em áreas 
alagadiças, sofrem uma redução significativa quanto ao número de domicílios. Ap~r 
disso. houve aumento muito expressivo nas áreas consideradas de tipo normal. Em 
1993, existiam 6.69 1 domicílios nessa situação e, em 1996. esses valores chegaram a 
20.628 domicílios, o que demonstra, em parte, o resultado de inúmeras intervenções 
do poder público nas favelas da cidade.36 
- -----
h PMT/SEMTAS, 1996. p. 17. 
:ui FAÇANHA. op. àl., p.196. 
.. 
Em relação às á.reas ocupadas por estes tipos de habitações. pode-se conferir 
alguns pomos importantes quanto à qualidade de conforto ambiental. principalmente nas 
áreas de assentamentos, em que a intervenção do poder público municipal se dá de 
maneira mais direta. O ponto mais importante refere-se à falta de um planejamento 
quanco ao preparo dos lotes para a implantação de novos assentamentos. Estes. quase 
sempre localizados na periferia da cidade. ocupam espaços que anteriormente escavam 
,"abertos pela vegetação nativa, que é completamente desmatada para dar lugar a essas 
habitações. A Prefeitura Municipal, como gestora desses programas, não planeja, de 
maneira mais racional. a ocupação desses espaços. EstaS atintdes. de substituição da 
vegetação sem nenhum planejamento pelos loteamentos, possibilitam aumento de calor no 
assentamento e na cidade. 
1.1.5 A cidade e o calor 
Teresina está assentada em um sítio com sua posição geográfica bast:a.nte apta 
à produção do calor. apesar de este fato ter se tomado mais evidente apenas nas últimas 
décadas. O calor tem sido. historicamente. uma temática representada pelos moradores 
da cidade arraves de poemas. crônicas, contos, bem como da comunicação informal 
diária . 
As manifestaçóes acerca do calor se intensificaram a partir das últimas 
décadas, coincidindo com o pico do crescimento da cidade. No encanto, não se 
pretende. com isso. justificar que Teresina é quente devido apenas a05 aspectos físicos 
construídos pelo homem. O que se busca é apontar para O fato de que Teresina, sendo 
constituída por uma variedade de formas espaciais. e portanto. por várias paisagens. 
encontra-se neles condições de diferenciação quanto ao conforto térmico. 
Compreender o calor na dimensão da cidade sugere que se busque o 
conhecimento da conjugação construção humana versus natureza. Por exemplo, as feições 
do relevo influenciaram o plano de estruturação da cidade, já que ela cresceu, no 
pr incípio, obedecendo às características naturais do SítiO e, portanto, da configuração do 
relevo_ Este, por sua vez. constitui-se em um importante influenciador nas condições de 
temperatura. e, portanto. do calor. Assim, a cidade, no seu processo de construção. vai 
adquirindo uma relação íntima com a natureza. 
Em Teresina, o t:r.1çado urbano deveria estar organizado a partir da realidade 
cl imática. A forma das ruas e avenidas é muito importante como determinante da situação 
de conforto, sendo esta uma preocupação que já havia desde as primeiras dé<:adas deste 
século. Em SU3 tese de doutora.do sobre os projetos de modernização da cidade de 
Teresina. no final dos anos 30 e primeira metade da década de 40. NASClMENTO J1 
observa várias passagens em que os interventores se preocupavam com a arborização das 
r uas devido às condições do clima. Sobre esta questào. ele afirma que: 
Para o Diretor de O bras do Município, um aspecto negativo do ~ Pbno Saraiva" é o 
pequeno número de espaços .... az)os que a cidade possui. ou seja. espaços destinados a construção 
de praças. parques etc. No inicio dos anos quarenta, Pires Cha .... es, avaliando a zo na urbana de 
Teresina. determinou que cerca de 3.()(X).OOO m1 aproximadamente [ ... ] constituíam o que chamou 
de es paço livre. Considera este número reduzido para uma cidade que possui clima com 
temperatura média de 2SO ele 
É certo que Pires Chaves tinha, também, outras preocupações como o 
proJeto de higienizaçào da cidade. Entretanto. já existia uma consciência do c.l/or na cidade 
e da necessidade de se construir espaços livres públicos que fossem mais agradáveis do 
pomo de .... ista do conforto. Esta é uma preocupação pertinente. pois a rua. segundo 
MASCARÓ. constitui-se como: 
O espaço urbano de uso público que tem como função organizar e relacionar os (atos 
arquitetõnicos na trama urbana Constitui o marco da arquitetura. proporciona ar e 
luz ao espaço urbano e aos edifícios. prod uzindo microclimas que infl uendam sobre a 
insolação. os ventos, a temperat ura, a umidade do climalocal e no consumo de 
energia de seus edifícios.)9 
lJ NASCIMENTO, op. at., p.12S. 
J~ Id . ibid . 
n MASCARO, Lúda. Ambíencia umm3. Porto AJegre: Sagra. 1996. p. 89. 
4. 
É por isso que, no processo de construção das ruas e avenidas, devem ser 
levados em consideração :a direção dos vemos, a insolação e outros elementos da 
natureza. Quando se orienta a construção das ruas, a partir da realidade do clima local. 
como a direção dos vencos, pode-se obter condições de maior aprazibilidade no interior 
de uma cidade ou mesmo de uma edificação. No caso de Teresina, uma cidade que 
possui altas temperaturas, esta prática imprimiria uma condição de conforto produzida 
pelo alívio do caior, a partir da circulação do vento em corredores. A figura a seguir 
exemplifica com maior nitidez a relação existente entre o traçado das ruas, avenidas e a 
direção dos ventOS na cidade de Teresina ( f ig. 4). 
NW 
W 
SW 
DistribuilÇaO Anual dos Ventos 
Fonte: PMT, 1970 
Figura - 04 
N 
S 
NE 
E 
SE 
Velocidade _ 2m1seg 
I 
I ' , 
Fonte: PMT. SEMPlAN. 1999 
CIDADE DE TERESINA 
" 
-it ' ' 
" / 
, 
ESCAlA: 1/125.000 
51 
o conhecimento dos espaços livres públicos em Teresina, como as ruas e as 
avenidas, as praças e os parques corna-se importante nesClJ ancilise. Esses espaços 
caracterizam-se como elementos de lazer , circulação e sensação de liberdade, e têm, 
ai nda, para Teresina, a função de amenizar o calor. Espaços livres são considerados aqui 
como as "áreas não edificadas, podendo receber pavimentação ou alguns componentes 
construídos de apoio. essenciais, esparsamente distribuidos, além de cobertura vegetal em 
um ou vários estratos.'040 
São exemplos de espaços livres os parques ambientais e de lazer, praças, 
jardins, ruas. estacionamentos. campos de " pelada", margens de rios, cemitérios, jardins 
botânicos. zoológicos, reservas e lagoas. 
Em Teresina. a existência dos espaços livres arborizados estão associados à 
importância que possuem frente às condições térmicas existentes. A cidade, com suas 
elevadas temperaturas, necessiGl muito da presença de árvores, tanto pela produção de 
sombras quanto pela possibilidade de um maior controle sobre os problemas gerados 
pela grande radiação solar e, conseqüentemente, pela temperatura do ar. Sobre essa 
questão MASCARÓ afirma que: 
A planta poderá obstruir ou filtrar a radiação incidente e refletida. A obstrução se 
caracteriza pe lo bloqueio da radiação, sendo proporcional à sua absorção. A filtragem 
se caracteriza peja interceptação parcial da radiação. A interação desses efeitos 
relacionados às caracteristicas de cada espécie determina a infl uência da vegetação nas 
características climáticas do ambiente constnJído.~ 1 
o controle da radiação solar feito pelas plancas é de vital importância para 
Teresina. onde eI radiação atuei intensamente, produzindo elevadas temperarurêlS. Sobre 
esta questão, MASCARÓ diz ainda que "sob grupamentos arbóreos. a temperatura do 
ar é de 3C: C a 4°C menor que nas áreas expostas à radiação solar,''''2 
Este dado evidencia a real importância do verde para Teresina. Os projetos 
de arbo rização de espaços livres públicos sào crescenteS e se confirmam através do 
aumento do número de praças nos últimos anos, da quantidade de plantaS arbóreas 
40 pe R, 1996, p. I. 
4 1 MASCARÓ. cp. cit .. p. 69. 
<1 Ibid., p.77. 
52 
implantadas nos passeios centrais das avenidas e, ainda, através da política de criação de 
parques municipais. 
A quantidade de verde nos espaços públicos de Teresina aponta para um 
quadro bastante significativo no futuro próximo quanto ao seu aumento, pois existem 
muitas plantas ainda em processo de crescimento fixadas nas ruas e avenidas da cidade. 
Um detalhe importante sobre o verde de Teresina merece ser notificado: é que ele é 
bastante expressivo nos quintais de residências, já que a cidade é caracterizada mais pela 
ocupação no plano horizontal. Esta realidade está atualmente em processo de muit! 
discussão em Teresina. pois os quintais estão sendo substituídos por grandes prédios 
residenciais e comerciais 
Por outro lado, Teresina atinge em 1999 um valor de 6,00 m1 de verde - em 
espaços públicos - para cada habitante:) Este é um dado que tem crescido. pois, em 
1993 não chegava a 3,0 m2Jhabitante, apesar de ser ainda considerado bastante reduzido 
para uma cidade com as condições climáticas como Teresina. 
Ainda sobre os espaços livres, merece atenção o conhecimento da rede viária. 
As ruas e avenidas são classificadas hierarquicamente em vias estruturais (vias 
interurbanas), vias coletoras (vias de segunda grandeza, coletam e distribuem o tráfego 
por bairros), vias locais (vias de acesso direto às residências, comércios e indústrias). As 
ruas e avenidas do centro de Teresina são quase que na sua totalidade pavimentadas com 
asfalto, enquanto nos bairros predomina a pavimentação em pedras poliédricas. Estes 
dados são muito importantes nesta análise porque. em combinação com o verde existente, 
propiciam uma situação diferenciada de conforto térmico. Esta discussão já é histórica em 
Teresina, apesar de que nem sempre esteve bem esclarecida para a maioria da população. 
Em 1969, quando estava sendo elaborado o Plano de Desenvolvimento Local 
Integrado de Teresina, muitas matérias foram veiculadas na imprensa local sobre o 
assunto. Quanto aos CUidados com a pavimentação, que sugeria o plano. a população não 
entendia. pois tinha o desejo de ver a sua cidade coberta por asfalto. Trechos de uma 
matéria de jornal revelam essa situação: 
4 ) Dado fomecldo pelo chefe do DPJ/SEMAMlPMT. 
53 
Vi o plano de asfaltamento da cidade, preparado com base nas opiniões de um Sr. 
Climatólogo, cujo nome não chegou a ser citado. Não acredito para início de 
conversa, que êsse homem seja climatólogo, um técnico entendido em climatologia 
[ ... ] Em resumo ele defende o seguinte : todo o perímetro cerw:ral deve ser calçado 
com pedra bruta ou paralelepípedo. Revestimento asfáltico só nos bairros, na zona 
suburbana. Por quê? porque o asfalto no centro da cidade virá aumentar o calor dos 
"brÓs". Esta a teoria do notável técnico: asfalto faz aumentar o calor. Não acredito 
que o Coronel Jofre tenha aceito este plano estapafúrdio.~ 4 
Hoje, está mais daro para a população o preço que paga pelo desejo de cidade 
asfaltada. Sabe-se que os maiores impactos do calor são registrados comumente em áreas 
cobertas com pavimentação asfáltica e de concreto, posto que são exatamente nessas 
onde ocorrem as maiores temperaturas devido às propriedades térmicas que possuem. 
Enfim, o calor corresponde a um elemento marcante na vida da cidade. A 
forma como é representado dá-se de maneira especial e espontânea no dia-a-dia de seus 
moradores. O calor sentido e vivido é, talvez, uma das principais marcas do povo 
teresinense. 
1.2 A natureza do sítio da cidade 
Teresina, do ponto de vista do quadro natural, possui características físicas 
específicas e peculiares à espacialidade onde está inserida. Pelo fato de encontrar-se em 
uma região de baixa latitude, no interior do continente e na transição entre as paisagens 
do Cerrado, Caatinga e Floresta Amazônica, desenvolveu-se nesta área a paisagem do 
babaçu, da carnaúba e de outras palmeiras. como o tucum e a macaúba. Teresina é 
tiimbém dona de um clima com características especialmente particulares. Em função 
disso. o seu ambiente deve ser compreendido pela combinação de todos os componentes 
físicos que a caracterizam. No entanto, devido se estar trabalhando com o calor. dar-se-á 
nesta pesquisa, uma maior ênfase .às características do clima da cidade. 
40! O DIA. 12. I 3/ 10/69. 
J .2.1 Aspectos geológicos, geomorfológicos e fluviais 
/J.scondições geológicas e geomorfol6gicas do sítio de Teresina devem ser 
compreendidas à luz do processo de origem e evolução da .Bacia Sedimentar do Parnaíba. 
que. por sua vez, engloba quase a tota lidade dos Estados do Piauí e Maranhão e ainda 
parte dos Estados de Tocamins e Ceará (Fig. 5). 
I 
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Figura - 05 
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BACIA SEDIMENTAR DO PARNAIBA 
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OepÓ!iõ ltcJs Cen OloiCC5 ~-,..:.j 
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[:{2I Basal t o 
r -, pastos Bons e Sombcico 
L_":""J 
1~ PednJ de Fogo e Moluc.a 
EI:'~ . P UJUI 
Fonte PETR I, S. e FÚFARO, V. J ., 1983 
1---- soa 1(",_ _ ___ ..; 
t.:: dJ Longó 
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i0'.-C1 ~ CObt!ioS 
e;:. •. t:j Serra Grande 8 pi rnen to,rOii ... 
. . 
[i~ Embasome nto Gflstolmo 
56 
A origem da Bacia do Parnaíba deveu-se à existência de diversos e sucessivos 
eventos de natureza geotectõnica, ocorridos desde a Era Pré-Cambriana até o início da 
Era Paleoz6ica. marcando, a partir desse momento, o início da fase de sedimentação. Os 
depósitos sedimentares mais antigos - datados pelos f6sseis - são do período Devoniano. 
Esses eventos tectônicos são caracterizados essencialmente pela grandeza, em 
escala continental, e pela intensidade das atividades de metamorfismos, magmatismos e de 
falhamentos e dobramentos. A figura seguinte ilustra com maior precisão a ocorrência dos 
diversos ciclos. 
Figura - 06 
BRASIL 
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CICLOS TECTONO- MAGMATICOS 
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Fonte: Schobbenhaus, C et ai .. 1984 
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58 
Todos estes ciclos. segundo SCOBBENHAUS,45 contribuíram muito com a 
origem e formação das atuais estruturas geológicas existentes no espaço brasileiro. 
Contudo, o Ciclo Brasiliano corresponde a um dos principais eventos, tendo sido 
caracterizado por uma grande incidência de dobramentos, o que possibilitou. segundo 
alguns geólogos. a sinéclise, que posteriormente foi preenchida com sedimentos. dando 
origem à bacia sedimentar do Parnaíba. A formação das camadas sedimentares foi 
possível porque logo ap6s a ocorrência do Ciclo Brasiliano houve a estabilização da 
plataforma. ou seja. o processo de consolidação plataformal estava definitivamente 
efetivado. Depois desses processos, ocorreu, no espaço que atualmente corresponde ao 
território brasileiro, o preenchimento com sedimentos em caráter de sinédises das bacias 
do Parnaíba. Paraná e Amazonas. 
Somente no periodo Jurássico é que houve uma reativação plataforma I com a 
ocorrência do evento Sul-Atlantiano. Foi justamente esse evento o responsável pela 
separação do Continente Sul-Americano do Continente Africano, como também o foi pela 
origem das bacias costeiras do Brasil que se formaram a partir de grandes atividades de 
falhamentos. Como ele não afetou de forma significativa o interior da plataforma, também 
não foram afetadas as bacias do interior do cnton. Contudo, ° cenário geológico do 
momento, que estava voltado para a sedimentação das bacias do interior, se transferiu 
para as bacias da borda - as costeiras. 
o conhecimento desses eventos e da hist6ria geológica das bacias 
sedimentares encaminha para a compreensão. em linhas gerais, das condições de 
configuração do relevo. As bacias sedimentares, por exemplo, são caracterizadas pela 
calma tectônica e, por isso mesmo, por um relevo pouco acidentado. As formas do relevo 
são normalmente suaves em função do tipo de atividades geológicas predominantes, 
caracterizadas normalmente pelo contínuo e sucessivo processo de sedimentação 
marcado pela pouca ou quase nula existência de eventos de natureza geotectônica. As 
maiores altitudes, aproximadamente 900m. podem ser encontradas na área de limite do 
Piauí com o Ceará, na serra Grande e na serra da lbiapaba. 
4~ SCHOBBENHAUS, Carlos et alíI. (Coord.). Geologia do Bl"3.Sil. BrasfUa: DNPM. 1984, 
59 
Em Teresina, que está na porção central da bacia, pode-se observar a 
suavidade do relevo. As feições são normalmente marcadas pela existência de Colinas e 
Chapadas. 
As menores altitudes do município estão em torno de 50 e 6Om, localizando-se 
próximas ao rio Parnaíba. Já as maiores estão entre 180 a 210m. sendo que no perímetro 
urbano as cotas variam entre 50 a 130 m de altitude (Fig. 7). 
Figura - 07 
SíTIO DA CIDADE DE TERESINA 
• 
Fonle: MOREIRA, 1972 - Adaptado por Ésio Cordeiro, 2000 
LEGENDA 
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" 
Quanto aos aspectos geológicos e geomorfol6gic05. na concepção de 
MOREIRA os que mais caracterizam Teresina são os seguintes: os rios Parnaíba e Poti ; os 
terraços al uviais: as vertentes; os ba.ixos niveis interfluviais; e as chapadas .oU. 
Teresina está assentada no médio curso do Parnaiba. que nasce na Chapada 
das Mangabeiras. ao Sul do Estado. no contato com os vizinhos Estados do Maranhão e 
Tocamins. O seu principal formador d'água é o riacho Água Quente. localizado a 709m de 
altitude. O Parnaíba é um rio perene e percorre todo o Estado, de Sul a Norte, até 
desembocar no oceano Atlânctico em forma de delta. Seu leito é preenchido 
essencialmente por sedimentos arenosos e argilosos. 
Este rio merece grande atenção. devido sua importância par.! Teresina e para 
todo o Estado do Piauí. H istoricamente ele exerceu grande influência para a economia 
piauiense em geral e para a teresinense em particular. A própria escolha do sítio de 
Teresina para implantação da capital da província, anteriormente Oeiras, teve como 
critério básico a proximidade do rio, que, na época, se configurava como um excelente 
meio para o transporte e. por conseqüência. para o desenvolvimento do comércio. 
o rio Poti. também perene. possui sedimentos arenosos e arena-argilosos. 
Constitui-se como o principal afluente do rio Parnaíba. Para MOREIRA. ~ 7 ele é um rio 
"oriundo de regiões sertanejas marcadas por semi-aridez" do território cearense. LIMA 
faz uma caracterização geomorfol6gica da bacia hidrográfica deste rio. Segundo UMA " a 
bacia hidrográfica do Poti apresenta uma área de aproximadamente 49.800 km2• estando 
localizada na porçáo centro-norte do Estado do Piauí e oeste do Estado do Ceará. entre 
4° e 6° 50 ' de latitude stJI e entre 40° e ·43° a oeste de Grenwich,<I& 
LIMA, ao estudar a bacia do Poti, diz que a geologia do trecho onde o Poti 
tem as suas nascentes é marcada pelos terrenos cristalinos. onde predominam as rochas 
gn3Í5sicas, destacando-se a biodCl-gtJ3isse cinza associada a al1fibolito quartzizos e 
°b MOREIRA., op. d t .. p. 10. 
0' Id. ibid . 
• ~ UMA Iracilde M. de M. Fé. Caracterização geomorfolágica da bacia hidrográfica do Poti. Rio de 
Janeiro . 1982.Dissen:ação (Mestrado em Geografia). IG/UFRJ. p. 11. 
62 
micaxisros datados do Pré-cambriano . ~~ Nessa mesma região. as chuvas estão 
concentradas em poucos meses, são torrenciais e caracterizadas por enxurradas. 
Quanto ao médio e baixo cursos da bacia, li. geologia é determinada pela 
presença de terrenos sedimentares, formados a parti r do Siluriano e Devoniano. Esses 
cursos est.10 totamente inseridos no contrexto da bacia sedimentar do Parnaíba. No baixo 
curso, já no município teresinense, pode ser

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