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03 Filosofia do Direito Os Sofistas

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Prof. Jorge Freire Póvoas
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Filosofia do Direito
Introdução aos Clássicos:
Os Sofistas 
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 Todo um precedente histórico, em que lendas, mitos e cultos religiosos celebram fundamentos metafísicos para a definição do justo e do injusto, antecede a formação da sofística. A mitologia, as intervenções dos deuses, a ira divina, os poderes naturais e sobrenaturais imperaram enquanto o homem não se fez, por meio de um processo histórico, senhor de seu próprio destino. 
 Esse período da história grega convencionou-se chamar pré-socrático (anterior ao século V a.C.), onde impera a preocupação do filósofo pela cosmologia (céu, éter, astros, fenômenos meteorológicos), pela natureza (causas das ocorrências naturais) e pela religiosidade (mística, culto, reverência, práticas grupais, iniciação à sabedoria oculta). 
 Rompendo com toda essa herança cultural, com toda essa tradição pré-socrática, é que surge o movimento sofístico no século V a.C.
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 O homem grego, ávido de independência em face dos fenômenos naturais e das crenças sobrenaturais, vê-se historicamente, investido de condições de alforriar-se dessa tradição. O Sofista Protágoras (Abdera, cidade grega, 490 a.C. - 415 a.C.), que diz: o homem é a medida de todas as coisas. Tendo como base para isso o pensamento de Heráclito (Éfeso, Grecia, 535 a.C. - 475 a.C.).
 Isso no sentido da libertação dos cânones homéricos e das legendárias tradições patriarcais e sacerdotais que dominavam o espírito grego. Somente no século V a.C. solidificam-se condições que facultam que as atenções humanas estejam completamente voltadas para as coisas humanas (comércio, problemas sociais, discussões políticas, guerras, etc). 
 Eis aí o mérito da sofística: principiar a fase na qual o homem é colocado no centro das atenções, com todas as suas ambiguidades e contraditórias posturas (psicológicas, morais, sociais, políticas e jurídicas).
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 O contexto de florescimento do movimento sofístico está ligado à discussão de interesses comunitários, a discursos e elocuções públicas, à manifestação e à deliberação em audiências políticas, ao convencimento dos pares, ao alcance da notoriedade no espaço da praça pública, e à demonstração pelo raciocínio dos ardis do homem em interação social. 
 A Grécia teve de aguardar o momento político, econômico, social e cultural em que esses caracteres pudessem encontrar o eco que suscitasse a formação de especialistas na arte do discurso. 
 Outro Sofista foi Górgias (Leontinos, comuna italiana 485 a.C. - 380 a.C.) que era visto como "o Niilista". Juntamente com Protágoras de Abdera, formou a primeira geração de Sofistas que constituíram um conjunto de pensadores relativamente contemporâneos, por possuírem afinidades de ideias, conceitos e modos de vida.
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 Os Sofistas notabilizaram-se por encontrar nas multidões e nos auditórios ávidos de conhecimentos retóricos seu público. Contudo, deter-se nas manifestações desses Sofistas seria já tarefa para um estudo mais aprofundado, motivo pelo qual iremos analisar somente os traços comuns a todos eles. 
 A difusão da expressão do movimento dos Sofistas nos meios filosóficos, bem como a criação de uma espécie de menosprezo pelo “modus essendi”, pelo profissionalismo do saber e pela forma do raciocínio dos Sofistas, adveio, sobretudo, com a escola socrática. 
 De fato, Sócrates destaca-se como declarado antagonista dos Sofistas, e dedica boa parte de seu tempo a provar que nada sabem, apesar de se intitularem expertos em determinados assuntos e cobrarem pelos ensinos que proferem.
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 Na seqüência do pensamento socrático, Platão incorpora esse antagonismo intelectual e o transforma em compromisso filosófico, e lega para a posteridade uma visão dicotômica que opõe diretamente as pretensões da filosofia (essência, conhecimento e sabedoria) às pretensões da sofística (aparência, opinião e retórica). 
 Chega mesmo a conceber os Sofistas como homens desconhecedores das coisas, pseudo-sábios, que têm em vista somente contraditar a tudo e a todos, criar disputas, fomentar debates inócuos e vazios de sentido, aí mora o desprestígio da arte retórica sofística. 
 Aristóteles dá continuidade ao mesmo entendimento, sedimentando-o no contexto do pensamento filosófico, de modo que se incorpora ao mundo ocidental a leitura socrático-platônica da sofística. 
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 O que robustece a manutenção desta imagem que a filosofia formou dos Sofistas é a carência de textos e manuscritos a seu respeito, bem como a sobrevivência dos textos platônicos e aristotélicos como textos de majoritária leitura no panorama filosófico ocidental. 
 Na ausência de textos dos Sofistas, salvo alguns fragmentos, e poucos textos de Antifonte (Atenas, Grecia, 480 - 411 a.C.), são principalmente os diálogos de Platão (República, Teeteto) que fornecem elementos da doutrina de muitos Sofistas e seus confrontos com o pensamento de Sócrates.
 Mas a importância dos Sofistas passa a ecoar com maior importância, quando surge a necessidade de exercer a cidadania por meio do discurso, em que a técnica oratória define o homem público. Aí estão plantadas as sementes para aqueles que haveriam de ser conhecidos pela posteridade como Sofistas.
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 Contudo, a palavra sofista, no entanto, tem cunho pejorativo, depreciativo, uma vez que assim se designa aquele que não é sábio, mas que pretende ser, ou versado em uma técnica .
 Respondendo a uma necessidade da democracia grega é que os Sofistas tiveram seu aparecimento e tiveram importância no preparo dos jovens, na dinamização dos auditórios, no fornecimento de técnica aos pretendentes de funções públicas notáveis, no fornecimento de instrumentos oratórios e retóricos para o cuidado das próprias causas e dos próprios negócios. 
 Protágoras defendia: “o cuidado adequado de seus negócios pessoais, para poder administrar melhor sua própria casa e família, e também dos negócios do Estado, para se tomar poder real na cidade, quer como orador, quer como homem de ação”. Daí vem a importância dos Sofistas, na técnica para a dominação do discurso na assembleia e suas dimensões políticas.
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 A emergência do discurso, a mercantilização da sociedade, inclusive da demanda por conhecimentos técnicos e enciclopédicos, favoreceram a proliferação de homens que, sem destino fixo, ensinavam de modo itinerante.
 Isso não há que se negar como dado comum a todos os Sofistas: são eles homens dotados de domínio da palavra, e que ensinam aos seus auditórios abertos ou círculos de iniciados a arte da retórica, com vista no incremento da arte persuasiva.
 As amplas disputas, discussões e debates que permearam todo o século V a.C., no plano da política, das estratégias de guerra, das deliberações legislativas, dos julgamentos nos tribunais populares, inclusive em virtude da presença e do desenvolvimento das escolas Sofistas, colaboraram no processo de abertura dos horizontes do pensamento grego.
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 A praça
pública (agorá), povoada por homens dotados da técnica (techne) de utilização das palavras, funcionava como oficina da intelectualidade em sua expressão oralizada. A muitos interessava o domínio da linguagem pois os discursos forenses eram encomendados a homens que se incumbiam de escrevê-los para serem lidos na tribuna perante os magistrados.
 As palavras tomaram-se o elemento primordial para a definição do justo e do injusto. A techne argumentativa facultava ao orador, por mais difícil que fosse sua causa jurídica, suplantar as barreiras dos preconceitos jurídicos e demonstrar aquilo que aos olhos vulgares não era imediatamente visível. 
 Isso favorece o desenvolvimento do discurso judiciário, pois, conquanto que bem articulado, pela força da expressão oral, e bem defendido perante os magistrados, o efeito a ser produzido pode favorecer aquele que deseja por ele ver-se beneficiado.
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 No plano do debate filosófico, o resultado dessa mudança de eixo da cultura grega, com relação à tradição anterior ao século V a.C. (Homero, Hesíodo), não foi senão a relativização da justiça. 
 Os Sofistas foram mesmo radicais opositores da tradição, e grande parte dos esforços teóricos e epistemológicos deles recaiu exatamente contra definições absolutas, conceitos fixos e eternos das tradições inabaláveis. O que surge é o relativo, o provável, o possível, o instável. Essa posição diante dos fatos e valores desencadeou reflexão acerca do justo e do injusto. 
 Isso porque, no debate entre o prevalecimento da natureza das leis (physis - Φysis) e o prevalecimento da lei humana (nómos), os Sofistas optaram, em geral, pela segunda hipótese, sobretudo os partidários das teses históricas acerca da evolução humana, a lei seria responsável pela libertação humana dos laços da barbárie.
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 Muitos dos cultores de movimento sofístico, embasados em tal dicotomia, advogaram a idéia de que existiria uma oposição intrínseca entre a lei da natureza (physis), o que equivale a dizer a lei do mais forte sobre o mais fraco, e a lei convencionada pelo homem (nómos), lei esta que seria artificial e que atentaria contra a ordem natural das coisas. 
 Pois coerentemente com seus ideais, que defendiam ser o homem o princípio e a causa de si mesmo, e não a natureza, a deliberar sobre qual será o conteúdo das leis é atividade preponderantemente humana, pois a natureza (physis) faria com que as leis fossem idênticas em todas as partes, tendo-se em vista que o fogo arde em todas as partes da mesma forma. 
 Preconizavam também que os homens deveriam submeter-se ao poder daquele que ascendesse ao controle da cidade por meio da força, a justiça é vantagem para aquele que domina e não para aquele que é dominado.
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 Para os Sofistas “a noção de justiça é relativizada, na medida em que seu conceito é igualado ao conceito de lei. Logo, o que é o justo é o que está na lei. 
 O que está na lei é o que está dito pelo legislador, e é esse o começo, o meio e o fim de toda justiça. Nada do que se pode dizer absoluto (imutável, perene, eterno, incontestável) é aceito pela sofística. Está aberto o campo para o relativismo da justiça. 
Eis aí o início de um debate que haverá de se perpetuar na tradição filosófica grega pós-socrática, sobretudo evidenciada em Platão e Aristóteles, tendo-se em vista que deram azo à formação da questão: é a lei natural ou convencional? 
 Outro debate acendeu-se com o fomento dessa questão, a saber: são os gregos superiores aos bárbaros?
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 A emergência do discurso, a proliferação de escolas de ensino de técnicas retóricas, a construção de práticas políticas e jurídicas que requeriam a sapiência de recursos persuasivos levaram ao nascimento, fortalecimento e a divulgação do vento sofístico. 
 Esmaecidas essas condições, no século IV a.C., deixaram de representar um dado prevalecente da cultura grega, quando se iniciou a polêmica com os pensamentos socráticos. 
 Nem as deusas da justiça, Thémis e Diké, dão origem às leis humanas, mas somente os homens podem fazer regras para o convívio social. 
 As leis são atos humanos e racionais que se forjam no seio de necessidades sociais, o que só é possível por meio da discussão comum, da deliberação consensual, da comunicação participativa e do discurso. 
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 No campo do direito e da justiça, a sofística mobilizou conceitos no sentido de afastar todo tipo de ontologia ou mesmo todo tipo de metafísica ou mistificação em tomo dos valores sociais. 
 De fato, o que há de comum entre os Sofistas é o fato de, em sua generalidade, apontarem para a identidade entre os conceitos de legalidade e de justiça, de modo a favorecer o desenvolvimento de ideias que associavam à inconstância da lei e do justo.
 Confronto maior ainda se evidencia com a interlocução dos Sofistas com Sócrates, que haverá de construir todo um conjunto de ideias claramente antagônico ao dos Sofistas.
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