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05 Filosofia do Direito Platão

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Prof. Jorge Freire Póvoas
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Filosofia do Direito
Introdução aos Clássicos:
Platão
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 A principal parte do conjunto de premissas socráticas vem desembocar diretamente no pensamento platônico. De fato, Platão (427-347 a.C.), por meio de seus diálogos Fedro e República desenvolve com acuidade os mesmos pressupostos elementares do pensamento socrático: a virtude é conhecimento, e o vício existe em função da ignorância. 
 Em sua exposição do problema Ético, busca também tratar das preocupações gnosiológicas, psicológicas, e metafísicas propriamente ditas. 
 Toda a preocupação filosófica platônica decorre não de uma vivência direta e efetiva em meio às coisas humanas, mas seu sistema filosófico é decorrência de pressupostos transcendentes, como a alma, a preexistência da alma, a reminiscência das ideias e a subsistência da alma.
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 O que há é que Platão, diferentemente da proposta de Sócrates, distancia-se da política e do seio das atividades prático-políticas. 
 Se Sócrates ensinava nas ruas da cidade, Platão, decepcionado com o golpe que a cidade desferiu contra a filosofia, ensinara num lugar apartado, onde o pensamento pode vagar com tranquilidade e onde se pode desenvolver um modo de vida ao mesmo tempo que preocupado com a cidade, com suas questões políticas, poderia também propor uma continuidade da educação (Paidéia) socrática. 
 Na academia platônica o entendimento socrático via na prudência (Phrónesis) a virtude de caráter fundamental para o alcance da harmonia social. E a prudência estava incorporada a seu método de ensinar e ditar ideias, com vistas à realização da Paidéia cidadã.
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 A prudência (Phrónesis) socrática converte-se em vida teórica (Bios Theoréticos). Essa, declarada como a melhor das formas de vida, entre as possíveis e desejáveis formas de vida humana (filósofo, cavaleiro, artesão), passou a servir de modelo de felicidade humana. 
 Tudo isso com base na tripartição da alma que se caracteriza como: 
 Alma logística, correspondendo a parte superior do corpo humano (cabeça), à qual se liga a figura do filósofo. 
 Alma irascível, correspondendo à parte mediana do corpo humano (peito), caracterizada pela coragem como virtude cavalheiresca. 
 Alma apetitiva, correspondendo à parte inferior do corpo humano (baixo ventre), à qual se ligam os artesãos, os comerciantes e o povo.
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 Para melhor sintetizar as idéias de Platão, recorremos ao livro VII de A República, onde seu pensamento é ilustrado pelo famoso "mito da caverna". Platão imagina uma caverna onde estão acorrentados os homens desde a infância, de tal forma que, não podendo se voltar para a entrada, apenas enxergam o fundo da caverna. 
 Aí são projetadas as sombras das coisas que passam às suas costas, onde há uma fogueira. Se um desses homens conseguisse se soltar das correntes para contemplar à luz do dia os verdadeiros objetos, quando regressasse, relatando o que viu aos seus antigos companheiros, esses o tomariam por louco, não acreditando em suas palavras.
 A análise do mito pode ser feita pelo menos sob dois pontos de vista: o epistemológico (relativo ao conhecimento) e o político (relativo ao poder).
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 Pela dimensão epistemológica, o mito da caverna é uma alegoria a respeito das formas de conhecimento ou a teoria das idéias, nela Platão distingue o mundo sensível (dos fenômenos), e o mundo inteligível (das idéias). O mundo sensível, é o acessível aos sentidos, é o mundo da multiplicidade, do movimento, e é ilusório, por ser pura sombra do verdadeiro mundo. 
 A segunda dimensão do mito, a política, surge da pergunta: como influenciar os homens que não veem? Cabe ao sábio ensinar e governar. Trata-se da necessidade da ação política, da transformação dos homens e da sociedade. Seu posicionamento de valorização da reflexão filosófica o leva a conceber uma “sofocracia” (poder da sabedoria), porque os homens comuns são vítimas do conhecimento imperfeito, da "opinião", e portanto devem ser dirigidos por homens que se distinguem pelo saber. Platão imagina uma cidade utópica, a Callipolis (Cidade Bela). Etimologicamente, utopia significa "em nenhum lugar" (em grego, ou-topos).
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 Partindo do princípio platônico de que as pessoas são diferentes e por isso devem ocupar lugares e funções diversas na sociedade, Platão imagina que o Estado, e não a família, deveria se incumbir da educação das crianças. Para isso, propõe estabelecer-se uma forma de comunismo em que é eliminada a propriedade e a família, a fim de evitar a cobiça e os interesses decorrentes dos laços afetivos.
 O Estado orientaria as pessoas para evitar casamentos entre desiguais, oferecendo melhores condições de reprodução e, ao mesmo tempo, criando creches para a educação coletiva das crianças. A educação promovida pelo Estado deveria, segundo Platão, ser igual para todos até os 20 anos, quando dar-se-ia o primeiro corte identificando as pessoas que, por possuírem “alma de bronze”, por terem a sensibilidade grosseira devem se dedicar à agricultura, ao artesanato e ao comércio. Estes cuidariam da subsistência da cidade.
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 Os outros continuariam os estudos por mais dez anos, até o segundo corte. Aqueles que tivessem a "alma de prata" e a virtude da coragem essencial aos guerreiros constituiriam a guarda do Estado, os soldados que cuidariam da defesa da cidade. Os mais notáveis, que sobrariam desses cortes, por terem a "alma de ouro", seriam instruídos na arte de pensar a dois, ou seja, na arte de dialogar. 
 Aos cinquenta anos, aqueles que passassem com sucesso pela série de provas estariam aptos a ser admitidos no corpo supremo dos magistrados. Caberia a eles o governo da cidade, o exercício do poder, pois apenas eles teriam a ciência da política. Sua função seria manter a cidade coesa. Por serem os mais sábios, também seriam os mais justos, pois justo é aquele que conhece a justiça. A justiça constitui a principal virtude, a própria condição das outras virtudes. Para que o Estado seja bem governado, é preciso que os filósofos se tornem reis, ou que os reis se tornem filósofos".
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 A alma tripartite (logística, irascível e apetitiva) também pode ser usada para explicar a estrutura do Estado platônico. 
 Pois a divisão do trabalho também segue essa regra, onde as três classes dividem-se em atividades: Política (ouro), Defesa (prata) e Economia (bronze), sendo que alma racional, deve governar. Nesse sentido, a justiça na cidade é ordem e a desordem é sinônimo de injustiça. 
 A justiça é a saúde do corpo social e cabe ao Filósofo, por maiêutica, trazer à tona esse conhecimento previamente adquirido, por experiências anteriores.
 O Estado ideal platônico, descrito na República, é apenas meio para a realização da justiça. De fato, porém, esse Estado não existe na Terra, e sim no além, como modelo a se inspirar, por isso ele é utópico. 
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 Nesse Estado, a Constituição é apenas instrumento da Justiça, pois
estabelece uma ordem jurídica. De qualquer forma, para Platão, o Estado ideal deve ser liderado não por muitos (democracia), uma vez que a multidão não sabe governar, mas por um único, o filósofo, o sábio, pois este contemplou a verdade, e está apto a realizá-la socialmente. Aqui, poder e filosofia (platônica) aliam-se. 
 A educação (Paidéia) platônica tem por finalidade destinar a alma ao pedagogo universal, ao Bem Absoluto, aos Deuses que habitam para além da Abódada Celeste. 
 No mundo, a tarefa de educação das almas, para Platão, deve ser levada a cabo pelo Estado, pois essa Paidéia deve ser pública, com vistas no melhor aproveitamento do cidadão pelo Estado e do Estado pelo cidadão.
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 As diversas faculdades humanas estão dotadas de aptidão para a virtude (Aretê), uma vez que a virtude é uma excelência, um aperfeiçoamento da capacidade ou faculdade humana de ser desenvolvida e aprimorada. O virtuosismo platônico se dá com o domínio das vontades com vistas à supremacia da alma racional. 
 Virtude significa controle, ordem, equilíbrio, proporcionalidade, pois são comandos da alma racional e por ser assim soberana. Desse modo, boa será a conduta que se afinizar com os ditames da razão.
 A harmonia (Armonía) é o domínio dos instintos ferozes, do descontrole sexual, da fúria dos sentimentos que surge como consequência natural, da virtude, pois permite à alma fruir da bem-aventurança dos prazeres espirituais e intelectuais. 
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 O vício, ao contrário da virtude, está onde reina o caos entre as partes da alma. De fato, onde predomina o levante das partes inferiores com relação à alma racional, aí está implantado o reino do desgoveno, isso porque ora manda o peito, e suas ordens e mandamentos são torrentes incontroláveis (ódio, rancor, inveja, ganância, etc.), ora manda a paixão ligada ao baixo ventre (sexualidade, gula, etc.). 
 Então, buscar a virtude é afastar-se do que é tipicamente valorizado pelos homens, que é o que mais ainda o mantém ligado ao corpo e ao mundo terreno, e procurar o que é valorizado pelos deuses, e que mais o distancia do corpo e do mundo terreno. 
 O homem deve sim buscar identificar-se com o que há de melhor e mais excelente, e nesse sentido deve buscar inspiração nas faculdades que caracterizam os deuses, os mais excelentes dos seres e não os animais. 
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 Adotado o modus vivendi virtuoso, o homem tem os deuses a seu favor. Trata-se de um sacrifício que tem suas compensações sobretudo tendo-se em vista que justos e injustos, bons e maus, virtuosos e viciosos submetem-se ao julgamento dos deuses.
 Se a justiça humana é impune para recriminar condutas, e se a Ética humana é insuficiente para controlar os desregramentos humanos, existe a continuidade da vida para provar que os que se desigualam dos demais pela virtude terão suas recompensas, e que os que se desigualam dos demais pelo vício terão suas punições. 
 O platonismo, ao contrário do que faz o aristotelismo, como veremos adiante, prima pelo idealismo e não pelo realismo. Isso porque o núcleo da teoria platônica repousa na noção de ideia (eidos), que penetra inclusive o entendimento do que seja o bem supremo do homem. 
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 Às ideias de Ética e de virtude ligam-se diretamente a ideia de conhecimento como algo necessário. De fato, o platonismo não nega sua herança socrática, e faz o conhecimento derivar do Mundo ideal. É por reminiscência que se podem recuperar as ideias que estão latentes na alma humana. 
 Recuperar o conhecimento latente na alma humana é reacender labaredas de vidas precedentes, uma vez que dessas vivências anteriores se podem extrair os conceitos primordiais já aprendidos e efetivamente adquiridos pela alma. 
 Assim, incumbe à alma logística a contemplação da verdadeira realidade, de onde se extraem os conhecimentos certos e definitivos para serem seguidos pelos homens.
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 O que é inteligível, perfeito, absoluto e imutável pode ser contemplado e é do resultado dessa atividade contemplativa que se devem extrair os princípios ideais para o governo, tarefa delegada ao filósofo.
 Mesmo estando a ideia da Justiça distante dos olhos dos homens comuns, sua presença se faz sentir desde o momento presente na vida de cada indivíduo. Existe, para além da ineficaz e relativa justiça humana (a mesma que condenou Sócrates à morte), uma Justiça, infalível e absoluta, que governa a ordem (Kósmos) e da qual não se pode furtar qualquer infrator. 
 A Justiça não pode ser tratada unicamente do ponto de vista humano, terreno e transitório. Ela é questão metafísica, e possui raízes no Hades (além-vida), onde a doutrina vige como forma de Justiça Universal. Pois o homem justo entende e participa da ideia do justo, e por isso, é virtuoso.
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 A cosmovisão platônica, que segue rigorosamente passos pitagóricos (Samos, 571 a.C. e 570 a.C), permite a abertura da questão da justiça a caminhos mais largos que aqueles tradicionalmente trilhados no sentido de se determinar seu conceito. 
 O que a proposta platônica contém é uma redução dos efeitos racionais da investigação e uma maximização dos aspectos metafísicos do tema. 
 Nesse sentido, toda alma que perpassa a sombra e a incógnita da morte encontrará seu julgamento, que será feito de acordo com os impecáveis mandamentos da Justiça. 
 A conduta Ética e seu regramento possuem raízes no além, de modo que o sucesso e o insucesso terreno não podem representar critérios de mensurabilidade do caráter de um homem (se justo ou se injusto). 
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 No reino das aparências (mundo terreno, sensível), o que parece ser justo, em verdade, não o é. O que parece ser injusto, em verdade também não o é. 
 A inversão ético-valorativa operada por Platão, faz com que todo o equilíbrio das relações humanas sejam baseados em critérios palpáveis, acessíveis aos sentidos, passíveis de serem discutidos pela opinião (dóxa). O que há é que se cria uma expectativa de justiça, somente realizável no além, apesar de por vezes, mediatizar-se na vida terrena. 
 A Justiça agrada a Deus, e a injustiça o desagrada. Mais que isso, a Justiça é causa de bem para aquele que a pratica e causa de mal para aquele que a transgride. Passam à direita e para cima de Deus as almas que se destinam a fruir os gozos celestes e passam à esquerda e para baixo de Deus as almas destinadas ao cumprimento de penas.
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 Assim, para Platão ao justo caberá o melhor e ao injusto o pior. Aqui residem ligação com a doutrina pitagórica (o fim da vida é a libertação da alma) de um dualismo Escatológico (Escatologia é uma parte da Teologia e Filosofia que trata dos últimos eventos na história do mundo). 
 Ao justo, a ilha dos bem-aventurados e ao injusto, o Tártaro (cárcere da punição e da pena). Nesse sentido, o mecanismo é implacável, pois toda alma comparecerá diante de um tribunal, que sentenciará os acertos e os erros, determinando o fim de cada qual no além.
 A ordem política platônica estrutura-se como uma necessidade para a realização da justiça, um imperativo para o convívio social, onde governados obedecem e governantes ordenam. E nesta
ordem, onde uns obedecem e outros ordenam, deve haver uma cooperação entre as partes para que se realize a justiça.
 
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 Logo, Justiça, Ética e Política movimentam-se, no sistema platônico, num só ritmo, sob a melodia de uma única e definitiva sonata, cujas notas são as ideias metafísicas que derivam da ideia primordial do Bem.
 Tamanho idealismo filosófico haveria de produzir condições favoráveis para o desenvolvimento de uma corrente de pensamento igualmente contundente, mas profundamente empírica: o aristotelismo.
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