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1 Prof. Mário C. Barroso MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO 2 CAL E GESSO COMO MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO 2 Prof. Mário C. Barroso 1. CAL Pela diversidade de aplicações, a cal está entre os dez produtos de origem mineral de maior consumo no planeta. - Na construção civil: elaboração das argamassas de assentamento e de revestimento e na pintura de alvenarias. - Na indústria cerâmica, indústria siderúrgica (obtenção do ferro), na indústria farmacêutica (como agente branqueador ou desodorizador), no setor ambiental, no tratamento de resíduos industriais e na indústria de papel. -Atualmente, o uso da cal está cada vez mais difundido para restauração de prédios históricos. - Estima-se que sua produção mundial esteja em torno de 145 milhões de toneladas por ano. O Brasil produz cerca de 6 milhões de toneladas por ano, o que significa um consumo " per capita" de 36 kg por ano. É obtida pela calcinação de rochas calcárias a temperaturas elevadas. Existem três tipos de cales: - cal aérea (cal virgem e cal hidratada): endurecem quando expostos ao ar e não e não resistem a ação da água; Cal hidráulica – endurecem pela ação da água, sem intervenção do ar e resistem à água depois de endurecidas. O teor de componentes argilosos (SiO2 + Al2O3) é alto. 1.1. Cal Virgem É o aglomerante resultante da calcinação de rochas calcárias (CaCO3) numa temperatura inferior a de fusão do material (850 a 900 0C). Além das rochas calcárias, a cal também é obtida de resíduos de ossos e conchas de animais. O fenômeno ocorrido na calcinação do calcário é o seguinte: Ca CO3 + calor (900 0C) ⇒ Ca O + CO2 Calcário + calor ⇒ cal virgem + gás carbônico O produto que se obtém com a calcinação do carbonato de cálcio recebe o nome de cal virgem, ou cal viva (CaO), que ainda não é o aglomerante usado em construção. O óxido deve ser hidratado para virar hidróxido de cálcio Ca(OH)2 denominado de cal extinta ou cal queimada. CaO + H2O => Ca (OH)2 Cal virgem + água => Cal extinta + calor 3 Prof. Mário C. Barroso O processo de hidratação da cal virgem é executado no canteiro de obras. As pedras são colocadas em tanques onde ocorre a sua extinção ao se misturarem com a água. O fenômeno de transformação de cal virgem em cal extinta é exotérmico, isto é, se dá com grande desprendimento de calor (250 cal/g, podendo em alguns casos a temperatura atingir 400 0C), o que torna o processo altamente perigoso. Após a hidratação das pedras, o material deverá descansar por 48 horas no mínimo, antes de ser utilizado na obra. As argamassas de cal, inicialmente, têm consistência plástica, mas endurecem por recombinação do hidróxido com o gás carbônico, presente na atmosfera (daí o nome cal aérea), voltando ao seu estado inicial de carbonato de cálcio. C a (OH)2 + CO2 ⇒ CaCO3 + H2O Cal extinta + gás carbônico ⇒ Carbonato de cálcio + água A cal viva ou cal virgem é distribuída no comércio em forma de pedras, como saem do forno ou mesmo moídas e ensacadas. 1.2. Cal Hidratada Cal hidratada é um produto manufaturado que sofreu em usina o processo de hidratação. É apresentada como um produto seco, na forma de um pó branco de elevada finura. A cal é encontrada no mercado em sacos de 20 kg. A cal hidratada oferece sobre a cal virgem algumas vantagens, entre elas: • maior facilidade de manuseio, por ser um produto pronto, eliminando do canteiro de obras a operação de extinção; • maior facilidade de transporte e armazenamento. 4 Prof. Mário C. Barroso 1.3. Cal Hidráulica Este tipo de cal é um aglomerante hidráulico, ou seja endurece pela ação da água, e foi muito utilizado nas construções mais antigas, sendo posteriormente, substituído pelo cimento Portland. 1.4. Aplicação da Cal A cal pode ser utilizada como único aglomerante em argamassas para assentamento de tijolos ou revestimento de alvenarias ou em misturas para a obtenção de blocos de solo/cal, blocos sílico/calcário e cimentos alternativos. Durante muito tempo a cal foi largamente empregada em alvenarias, que vêm atravessando muitos séculos de vida útil. Atualmente o maior emprego da cal se dá, misturada ao cimento Portland. Por causa da elevada finura de seus grãos (2 µm de diâmetro), e conseqüente capacidade de proporcionar fluidez, coesão (menor suscetibilidade à fissuração) e retenção de água, a cal melhora a qualidade das argamassas. A cal confere uma maior plasticidade as pastas e argamassas, permitindo que elas tenham maiores deformações, sem fissuração, do que teriam com cimento Portland somente. As argamassas de cimento, contendo cal, retêm mais água de amassamento e assim permitem uma melhor aderência. A cal também é muito utilizada, dissolvida em água para pinturas, na proporção de mais ou menos 1,3 gramas por litro de água. A esta solução chama-se nata de cal e sua utilização é conhecida como caiação. As tintas de cal, além do efeito estético, têm, também, efeito asséptico, devido a sua alta alcalinidade (PH alto). 5 Prof. Mário C. Barroso Cal Virgem ou Hidratada? Algumas vezes, a qualidade das argamassas utilizadas na construção civil deixa a desejar pelo uso do tipo errado da cal. Qual o tipo de cal que devemos usar quando preparamos uma argamassa? - A resposta é simples em um primeiro momento: podemos utilizar os dois tipos. - Em determinadas regiões do Brasil, a utilização da cal virgem para argamassas de assentamento e revestimento é bem intensa. Em uma primeira etapa, são misturadas a cal, areia fina e água. Essa mistura fica “descansando” por alguns dias, perde trabalhabilidade e depois é adicionada a uma pequena parte de cimento e mais água. - Na realidade, portanto, ninguém usa cal virgem. Podemos comprar uma cal virgem e quando preparamos a argamassa, seja na obra ou em central, estamos hidratando a cal no exato momento da adição de areia e água. - Esta reação libera muito calor e uma boa cal, bem calcinada, demora aproximadamente 48 horas para hidratar bem. - Uma grande vantagem quando se compra a cal já hidratada no produtor é justamente a garantia de uma boa e completa hidratação. - Além disso, a argamassa preparada com cal hidratada pode ser utilizada logo após a sua mistura. O que pode ocorrer, quando se faz a argamassa com a cal virgem, é fazer a aplicação na obra sem a completa hidratação. - As conseqüências são trincas e quedas do material, com muito desperdício. - Qualquer que seja o tipo de argamassa (mista, industrializada ou estabilizada), a escolha correta dos materiais componentes fará a diferença para se obter um produto final de boa qualidade CAL – ALGUMAS CARACTERÍSTICAS - Elevada finura de seus grãos (2 μm de diâmetro): . Capacidade de proporcionar fluidez, coesão (menor suscetibilidade à fissuração) e retenção de água = melhora na qualidade das argamassas. - Maior plasticidade às pastas e argamassas: . Permite que elas tenham maiores deformações, sem fissuração, do que teriam com cimento Portland somente. - As argamassas de cimento, contendo cal, retêm mais água de amassamento e assim permitem uma melhor aderência. 6 Prof. Mário C. Barroso 2. GESSO 2.1. Definição Dos aglomerantes utilizados na construção civil, o gesso é o menos utilizado no Brasil. No entanto, ele apresentacaracterísticas e propriedades bastante interessantes, dentre as quais, pode-se citar o endurecimento rápido, que permite a produção de componentes sem tratamento de aceleração de endurecimento. A plasticidade da pasta fresca e a lisura da superfície endurecida são outras propriedades importantes. O gesso é um aglomerante de pega rápida, obtido pela desidratação total ou parcial da gipsita, seguido de moagem e seleção em frações granulométricas em conformidade com sua utilização. A gipsita é constituída de sulfato de cálcio mais ou menos impuro, hidratado com duas moléculas de água. As rochas são extraídas das jazidas, britadas, trituradas e queimadas em fornos. De acordo com a temperatura do forno o sulfato de cálcio bi-hidratado se transforma em três diferentes substâncias: 1ª Fase - gesso rápido ou gesso estuque (CaSO4 + 2H2O) + calor = 150 0C ⇒ (CaSO4 + ½ H2O) 2ª Fase - gesso anidro solúvel (CaSO4 + 2H2O) + 150 0C < calor < 300 0C ⇒ CaSO4 7 Prof. Mário C. Barroso 3ª Fase - gesso anidro insolúvel (CaSO4 + 2H2O) + Calor > 300 0C ⇒ CaSO4 O gesso é um aglomerante de baixo consumo energético. Enquanto a temperatura para processamento do cimento Portland é da ordem de 1450 0C, a da cal entre 800 e 1000 0C, a do gesso não ultrapassa 300 0C. As propriedades aglomerantes do gesso devem-se à hidratação do sulfato de cálcio semi-hidratado e do sulfato de cálcio solúvel que reconstituem o sulfato de cálcio bi- hidratado. 2.2. PROPRIEDADES FÍSICO QUÍMICAS E MECÂNICAS DO GESSO: -As propriedades específicas do gesso são: . Elevada plasticidade da pasta; . Pega e endurecimento rápido; . Finura equivalente ao cimento; . Absorção e liberação de umidade ao ambiente; . Alta solubilidade em água. 2.3. FATORES QUE INFLUENCIAM NAS PROPRIEDADES DO GESSO: - GRAU DE CRISTALIZAÇÃO: . Dependendo da calcinação ocorrem 2 cristalizações distintas: 1. Alfa – cristais bem formados e homogêneos Consequência: produtos com maior tempo de pega, maior resistência (por ser menos solúvel), e que necessitam de menos água de emassamento. 2. Beta – cristais mal formados e heterogêneos Consequência: produtos com menor tempo de pega, menor resistência, e que necessitam de menos água de emassamento. Na construção, o gesso empregado é o gesso tipo beta. - HOMOGENEIDADE: . Gessos com grau de cristalização ou de desidratação diferentes aceleram o tempo de pega e diminuem a resistência mecânica do produto final. - FINURA: . Quanto menores forem as partículas de gesso mais rápido será a pega, pois a superfície de contato será maior e, consequentemente, mais saturada será a mistura, favorecendo a cristalização, diminuindo o tempo de pega e aumentando a resistência final. 8 Prof. Mário C. Barroso - CONSISTÊNCIA (FATOR ÁGUA GESSO): . Quanto maior for este fator, maior quantidade d’água em relação à massa de gesso, maior o tempo de pega e menor será sua resistência final. Prof. Aline Fernandes - INFLUÊNCIA DA MISTURA COM AREIA: . A mistura de gesso com areia para formar argamassa é possível, porém as propriedades físico-mecânicas diminuem sensivelmente: a consistência, o tempo de pega e a resistência mecânica decrescem proporcionalmente com o acréscimo da proporção de areia. - TEMPERATURA: . O aumento da temperatura favorece as reações de cristalização, diminuindo sensivelmente o tempo de pega. 2.4. UTILIZAÇÃO DO GESSO: 1. REVESTIMENTOS: . Como revestimento de paredes, no lugar da massa fina; . Não pode haver contato com a água . Necessidade de superfície regular . Não há retração 2. PRÉ MOLDADOS: . Chapas de Dry Wall (gesso entre 2 folhas de papelão) . Placas para forro (60x60cm) . Molduras . Blocos para alvenaria (para áreas internas secas – isolamento termo acústico) 1. FIBROGESSO: Pasta de gesso (frágil) + Fibras (ductilidade) . As fibras ajudam a ter resistência à flexão adequada a painéis do edifício . As fibras são: Fibras de Vidro, Fibras de Celulose e Fibras Plásticas OUTRAS CARACTERÍSTICAS DO GESSO . Leveza: paredes, divisórias e peças de gesso são mais leves do que peças feitas de outro material e podendo serem usadas em apartamentos, sem alterar a estrutura; 9 Prof. Mário C. Barroso . Facilidade de manuseio para execução de detalhes; . Apesar da inevitável sujeira - seu ponto fraco, não há como evitá-la -, muitos preferem ter uma parede de gesso no apartamento à sujeira de cimento, pedra, cal e água; . Rapidez de aplicação; . Recebe bem todos os tipos de pintura e acabamento; . Sua manutenção é simples: basta pano úmido e sabão de coco; . Saiba que o gesso não suporta água. Por isso os profissionais recomendam sua aplicação apenas em ambientes internos ou protegidos da chuva. Porém, existem placas Resistentes à Umidade (RU), produzidas especialmente para utilização em áreas molhadas. Possuem na composição do gesso, aditivos especiais que as tornam mais resistentes aos vapores e aos fungos resultantes da ação da umidade. Para as áreas constantemente molhadas (ex. Box de chuveiros) é indispensável a impermeabilização. . Por suas propriedades físico-químicas, o gesso é considerado isolante térmico e acústico natural; É possível fazer uma parede de gesso acartonado com um isolamento acústico muito superior ao de paredes de tijolos. ISOLAMENTO ACÚSTICO -As formas conhecidas de se obter isolamento acústico são: . Lei da massa - quanto mais pesada a barreira acústica maior o impedimento para o som passar de um lado para o outro desta barreira; . Lei da massa + mola + massa - quanto mais alternância de materiais com espessuras e densidades diferentes, maior o isolamento acústico. . Com uma simples parede de gesso acartonado com 16cm de espessura, com lã de vidro no interior, conforme mostra a Figura, pode-se obter o mesmo isolamento acústico do que um muro de concreto de 18cm de espessura, ou seja, isolamento de 60dB, com a grande vantagem da parede de gesso pesar apenas 40 Kg/m², contra os 414 Kg/m² do muro de concreto.
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