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Notas de Aula de Geometria Euclidiana segundo a axioma´tica de D. Hilbert Prof. Jose´ Luiz Rosas Pinho Editorac¸a˜o: Ecila de Almeida Waltrick Helena Martins Marcos Teixeira Alves Tiara Martini Termos primitivos: termos iniciais, aceitos sem definic¸a˜o. Axiomas: verdades iniciais aceitas sem demonstrac¸a˜o. Atrave´s dos axiomas deveremos compreender os termos primitivos. Os teoremas surgira˜o a partir destes axiomas, com a intruduc¸a˜o de algumas definic¸o˜es. Grupos de axiomas: I. Axiomas de incideˆncia II. Axiomas de ordem III. Axiomas de congrueˆncia IV. Axioma das paralelas V. Axiomas de continuidade Axiomas de Incideˆncia: Termos primitivos: − ponto − reta − incidente a (ou incideˆncia). Axioma I.1: Se A e B sa˜o dois pontos enta˜o existe uma reta que passa por A e B. Axioma I.2: Se A e B sa˜o dois pontos enta˜o na˜o existe mais do que uma reta passando por A e B. Axioma I.3: Em toda reta incidem (pelo menos) dois pontos. Existem (pelo menos) treˆs pontos que na˜o sa˜o incidentes a mesma reta. Definic¸a˜o 1: Duas retas sa˜o ditas paralelas se elas na˜o teˆm nenhum ponto comum. Observac¸a˜o: A negac¸a˜o dessa definic¸a˜o e´: Duas retas na˜o sa˜o paralelas se existir um ponto comum a ambas. Definic¸a˜o 2: Duas ou mais retas sa˜o ditas concorrentes se existe um ponto incidente a todas elas. Observac¸a˜o: A definic¸a˜o 2 e a observac¸a˜o anterior nos dizem que duas retas 2 concorrentes na˜o sa˜o paralelas. Definic¸a˜o 3: Dizemos que treˆs ou mais pontos sa˜o colineares se eles sa˜o in- cidentes a mesma reta. Observac¸a˜o: A negac¸a˜o desta definic¸a˜o nos diz que treˆs ou mais pontos na˜o sa˜o colineares (ou sa˜o na˜o colineares) se, dada qualquer reta que passa por dois deles, existir um destes pontos que na˜o e´ incidente a esta reta. Teorema 1 Duas retas distintas ou sa˜o paraleas ou sa˜o concorrentes. Se elas forem con- correntes enta˜o existe um u´nico ponto comum a ambas. Dem.: Sejam r e s duas retas. Pela definic¸a˜o da lei do terceiro exclu´ıdo, r e s sa˜o paralelas ou na˜o sa˜o paralelas (concorrentes). Suponha que r e s na˜o sejam paralelas. Seja P um ponto comum a r e s, definic¸a˜o de retas concorrentes. Suponha, por absurdo, que exista um ponto Q, distinto de P , incidente a r e s. Segue-se da´ı que, r e s sa˜o duas retas distintas passando por P e Q. Chegamos a uma contradic¸a˜o com o axioma I.2. Conclusa˜o: r e s possuem um u´nico ponto comum. � Teorema 2 Existem treˆs retas distintas concorrentes duas a duas, ou seja, cada duas retas sa˜o concorrentes e as treˆs na˜o concorrem no mesmo ponto. Dem.: Pelo axioma I.3 existem treˆs pontos que na˜o esta˜o na mesma reta. Sejam A, B e C estes pontos. Sejam r a reta que passa por A e B, s a reta que passa por A e C e t a reta que passa por B e C (teorema 1). Tais retas sa˜o ditas distintas, pois os treˆs pontos na˜o esta˜o em uma mesma reta (por exemplo: se r e s fossem a mesma reta, enta˜o ter´ıamos A, B e C nessa mesma reta). As retas r e s sa˜o concorrentes em A (e somente em A - teorema 1). As retas r e t sa˜o concorrentes em B, e as retas s e t sa˜o concorrentes somente em C. � Teorema 3 Dada uma reta existe um ponto na˜o incidente a ela. Dem.: 3 Seja r uma reta qualquer. Suponha, por absurdo, que na˜o exista pontos fora de r. Enta˜o todos os pontos sa˜o incidentes a r. Portanto na˜o ha´ treˆs pontos na˜o colineares. Mas isto contradiz o axioma I.3. Logo, existe (pelo menos)um ponto na˜o incidente a r. � Teorema 4 Dado um ponto existe uma reta que na˜o passa por esse ponto. Dem.: Seja P um ponto qualquer. Suponha, por absurdo, que todas as retas passem por P . Pelo teorema 2, existem treˆs retas concorrentes duas a duas, ou seja, as treˆs retas na˜o concorrem no mesmo ponto, mas cada par de retas e´ concorrente. Assim, a hipo´tese de absurdo nos leva diretamente a uma contradic¸a˜o com o teorema 2. Portanto, na˜o podemos negar a tese, ou seja, a tese e´ verdadeira. � Teorema 5 Por todo ponto passam, pelo menos, duas retas distintas. Dem.: Seja P um ponto qualquer. Pelo teorema 4, existe uma reta r que na˜o passa por P . A reta r possui dois pontos M e N (axioma I.3). Seja s a reta que passa por P e M , e seja t a reta que passa por P e N (axiomas I.1 e I.2). As retas s e t sa˜o duas retas distintas pois, caso contra´rio, P , M e N seriam colineares (na mesma reta s ou t), o que na˜o ocorre, pois P na˜o esta´ na reta r (que passa por M e N). � Para dar exemplos de sistemas geome´tricos (ou simplesmente Geometria) sa- tisfazendo (ou na˜o) os axiomas dispon´ıveis ate´ o momento, devemos inicialmete descrever o que queremos entender como termos primitivos. A isto chamamos de interpretac¸a˜o dos termos primitivos. Dada uma interpretac¸a˜o, passamos enta˜o a verificar se os axiomas sa˜o satisfeitos. Se isto ocorrer, dizemos que aquela interpretac¸a˜o nos fornece um modelo de geometria. No momento, como so´ dis- pomos de axiomas de incideˆncia, diremos que o modelo e´ de uma Geometria de Incideˆncia. Se tivermos um modelo, enta˜o qualquer teorema demonstrado a partir dos axiomas devera´ ser va´lido neste modelo. Os modelos servem ainda como contra- exemplo. Assim, se uma determinada propriedade na˜o poˆde ser provada eventu- almente a partir dos axiomas, ela podera´ ser falsa, bastando para isso apresentar um modelo que na˜o satisfac¸a tal propriedade. Por exemplo, podemos pergun- tar se os treˆs axiomas de incideˆncia implicam que toda geometria deve possuir 4 infinitos pontos, ou se implicam na existeˆncia de paralelas. Vejamos a seguir. Exemplos Exemplo 1 Interpretac¸a˜o dos termos primitivos: “pontos” − A, B e C. “retas” − {A,B}, {A,C} e {B,C}. “incideˆncia” − um “ponto´´ e´ incidente a uma reta se ele for elemento do conjunto que e´ “reta´´. Vamos verificar se os axiomas sa˜o satisfeitos. Axioma I.1 - Dados dois “pontos” existe uma “reta”que passa por eles. OK Axioma I.2 - Por dois “pontos”passa uma u´nica “reta”. OK Axioma I.3 - Toda “reta”passa por dois “pontos”e os treˆs “pontos”A, B e C sa˜o na˜o colineares (o “ponto”C, por exemplo, na˜o esta´ na “reta”A,B). OK Enta˜o temos um modelo. Observac¸a˜o: Do modelo apresentado, constatamos que na˜o e´ poss´ıvel provar a existeˆncia de infinitos pontos, nem a existeˆncia de paralelas, a partir dos axi- omas de incideˆncia. Observe que o modelo do exemplo 1 teˆm exatamente treˆs pontos, e que as retas (somente treˆs) sa˜o concorrentes duas a duas. Definic¸a˜o 4: Dizemos que um modelo satisfaz a propriedade el´ıptica das paralelas se na˜o houver retas paralelas neste modelo. Diremos que um modelo satisfaz a propriedade hiperbo´lica das paralelas se, dados qualquer ponto na˜o incidente a esta reta, existirem mais do que uma reta paralela a`quela reta dada, passando pelo ponto dado. Dizemos que um modelo satisfaz a propriedade euclidiana das paralelas se, dados qualquer reta e qualquer ponto na˜o incidente a essa reta, existir uma u´nica reta paralela a`quela reta dada, passando pelo ponto dado. Exemplo 2 Interpretac¸a˜o dos termos primitivos: “pontos” − A, B e C. “retas” − {A,B}, {A,C}, {B,C} e {A,B,C}. “incideˆncia” − usual. Axioma I.1 - OK. Axioma I.2 - Na˜o e´ satisfeito: por A e B ha´ duas retas, {A,B} e {A,B,C}. Na˜o e´ modelo. Exemplo 3 5 Interpretac¸a˜o dos termos primitivos: “pontos” − A, B e C. “retas” − {A,B}, {A,C}, {B,C} e {C}. “incideˆncia” − usual. Observe que a “reta” {C} passa por um u´nico “ponto”, o ponto C. Portanto na˜o satisfaz o axioma I.3. Na˜o e´ modelo. Exemplo 4 Interpretac¸a˜o dos termos primitivos: “pontos” − A, B e C. “retas” − {A,B}, {A,C}, e {B,C}. “incideˆncia´´ − um “ponto”e´ incidente a uma “reta”se ele na˜o for elemento do conjunto que e´ “reta” .Observe que a “reta” {A,B} passa por um u´nico “ponto”, o “ponto” C (se- gundo a interpretac¸a˜o de incideˆncia). Portanto, na˜o satisfaz os axiomas I.1 e I.2. Na˜o e´ modelo. Exemplo 5 Interpretac¸a˜o dos termos primitivos: “pontos” − A, B, C e D. “retas” − {A,B}, {A,C}, {A,D}, {B,C}, {B,D} e {C,D}. “incideˆncia” − usual. Axioma I.1 - OK. Axioma I.2 - OK. Axioma I.3 - OK. E´ modelo. Este modelo satisfaz a propriedade euclidiana das paralelas: Sejam {X,Y } uma “reta” e Z um ponto na˜o incidente a esta “reta”. Tomando o quarto “ponto” que chamaremos de W , a “reta” {Z,W} sera´ paralela a` reta {X,Y }. Suponha que por Z passe uma outra paralela a {X,Y }, distinta de {Z,W}. Vamos chamar esta reta de r. Que pontos esta˜o em r (pelo axioma I.3, r tem pelo menos dois pontos)? Um deles e´ Z. O outro na˜o pode ser X, Y nem W . Logo, haveria um quinto ponto na minha interpretac¸a˜o de pontos, o que na˜o ocorre. 6 Observac¸a˜o: Note que, neste exemplo, temos treˆs pares de retas paralelas: {A,B} e {C,D}; {A,C} e {B,D}; {B,C} e {A,D}. Exemplo 6 Interpretac¸a˜o dos termos primitivos: “pontos” − A, B e C. “retas” − {A,B,C}, {A,D}, {B,D} e {C,D}. “incideˆncia” − usual. Axioma I.1 - OK. Axioma I.2 - OK. Axioma I.3 - OK. E´ modelo, e satisfaz a propriedade el´ıptica das paralelas. Exemplo 7 Interpretac¸a˜o dos termos primitivos: “pontos” − todos os pontos (infinitos) de uma reta r (no sentido conhecido da geometria euclidiana e mais um ponto P que na˜o esta´ nessa reta. “retas” − a reta r e todos os conjuntos da forma {P,Q}, onde Q esta´ em r. “incideˆncia” − usual. Axioma I.1 - OK, pois se tomarmos dois “pontos” A e B que sa˜o pontos de r, enta˜o a “reta” que passa por esses pontos e´ a pro´pria r. Se considerarmos dois “pontos”, um deles em r, digamos X, e o outro sendo P , a “reta” que passa por esses dois pontos e´ {P,X}. Axioma I.2 - OK, da pro´pria descric¸a˜o de “retas”. Axioma I.3 - OK, pois: toda reta tem pelo menos dois pontos, e ha´ treˆs pontos na˜o colineares (P , X e P , onde Q e X esta˜o em r). E´ modelo, e satisfaz a propriedade el´ıptica das paralelas. Exemplo 8 Interpretac¸a˜o dos termos primitivos: “pontos” − A, B, C, D e E. “retas” − {A,B}, {A,C}, {A,D}, {A,E}, {B,C}, {B,D}, {B,E}, {C,D}, {C,E} e {D,E}. “incideˆncia” − usual. Axiomas I.1 e I.2 - OK. Axioma I.3 - OK. E´ modelo, e satisfaz a propriedade hiperbo´lica das paralelas. (Por exemplo, dados a “reta” {A,B} e o “ponto” C, na˜o incidente a`quela “reta”, ha´ duas pa- ralelas a {A,B} passando por C: {C,D} e {C,F}). 7 Argumentando de forma geral: Seja {X,Y } uma das “retas” do modelo, onde X e Y sa˜o dois entre os “pontos” A, B, C, D ou E. Seja Z um terceiro “ponto”, distinto de X e Y . Note que Z na˜o e´ incidente a {X,Y}. Sobraram dois “pontos”. Chamemos estes pontos de P e Q. Enta˜o {Z,P} e {Z,Q} sa˜o “retas” do modelo (pela construc¸a˜o feita). Tais “retas” sa˜o paralelas a reta {X,Y}, pois Z, P e Q sa˜o “pontos” distintos de X e Y . Exemplo 9 Interpretac¸a˜o dos termos primitivos: “pontos” − A, B, C, D ,E e F. “retas” − {A,B}, {A,C}, {A,D}, {A,E}, {A,F}, {B,C}, {B,D}, {B,E}, {B,F}, {C,D}, {C,E}, {C,F}, e {D,E, F}. “incideˆncia” − usual. Axiomas I.1 e I.2 - OK. Axioma I.3 - OK. E´ modelo. Exemplo 10 Interpretac¸a˜o dos termos primitivos: “pontos” − A, B, C, D ,E e F. “retas” − {A,B}, {A,C}, {A,D}, {A,E}, {A,F}, {B,C}, {B,D}, {B,E}, {B,F}, {C,D,E, F}. “incideˆncia” − usual. Axiomas I.1 e I.2 - OK. Axioma I.3 - OK. E´ modelo. Na˜o satisfaz nenhuma propriedade das paralelas: 1) Dada a “reta” {A,D}, e dado o “ponto” B, na˜o incidente a {A,D}, as “retas” {B,C} e {B,E} sa˜o paralelas a {A,D}. 2) Dada a “reta” {A,B}, e dado o ponto C, na˜o incidente a {A,B}, ha´ uma u´nica paralela a {A,B} passando por C: a “reta”{C,D,E,F}. Exemplo 11 Interpretac¸a˜o dos termos primitivos: 8 “pontos” − todas as (infinitas) retas (como usualmente conhecemos) do plano. “retas” − todos os (infinitos) pontos (como usualmente conhecemosplano. “incideˆncia” − um “ponto” e´ incidente a uma “reta” se a reta, que e´ “ponto”, passar pelo ponto, que e´ “reta”. Axioma I.1 Fura.Pois: por dois “pontos”, que sa˜o retas paralelas no plano, na˜o passa uma “reta”, isto e´, tais retas na˜o teˆm ponto comum, que seria a “reta” passando pelos dois “pontos”. Na˜o e´ modelo. Exemplo 12 Interpretac¸a˜o dos termos primitivos: “pontos” − todas as (infinitas) retas (como usualmente conhecemos) do exemplo 7. “retas” − todos os (infinitos) pontos (como usualmente conhecemosdoexemplo7. “incideˆncia” − um “ponto” e´ incidente a uma “reta” se a reta, que e´ “ponto”, passar pelo ponto, que e´ “reta”. Axioma I.1: OK. (na˜o ha´ paralelismo, no sentido euclidiano). Axioma II.1: OK, pelo fato de que duas retas concorrem em um u´nico ponto. Axioma III.1: OK, toda “reta” possui pelo menos dois “pontos” (ha´ exa- tamente uma “reta” com infinitos “pontos”, a reta r, e infinitas “retas” com exatamente dois “pontos”). Existem treˆs “pontos” na˜o colineares: P e mais dois “pontos” incidentes a` reta r. E´ modelo, e satisfaz a propriedade el´ıptica das paralelas. Problema: Explique porque em uma geometria finita com um total de 8 pontos, na˜o e´ poss´ıvel construir um modelo onde as retas tenham exatamente 3 pontos. Para satisfazer os axiomas I.1 e I.2, devemos ter, a cada dois pontos, uma u´nica reta passando por eles, ou seja: Dados A, B, C, D, E, F, G e H, ter´ıamos as retas: {A,B,C}, {A,D,E}, {A,F,G}, {A,H,? Falta um ponto para a reta {A,H,?}. Isso acontecera´ quando tivermos um nu´mero par de pontos, pois fixando um ponto, cada reta deveria ter mais dois pontos. No entanto restam sempre um nu´mero ı´mpar de pontos (2k-1), ou seja, faltaria um ponto. Axiomas de Ordem: Termo primitivo: estar entre. Axioma II.1: Se um ponto B esta´ entre os pontos A e C, enta˜o A, B e C sa˜o treˆs pontos 9 distintos e colineares. Ale´m disso, B esta´ entre C e A. Axioma II.2: Para cada dois pontos A e C ha´ pelo menos um ponto B na reta que oassa por A e C tal que C esta´ entre A e B. Obs.: Este axioma esta´ dizendo ainda que existe um ponto D na reta que passa por A e C tal que A esta´ entre C e D. Pore´m na˜o e´ poss´ıvel distinguir D de B. Exemplo: Interpretac¸a˜o: “Estar entre”: dados treˆs pontos colineares qualquer um deles esta´ entre os outros dois. Axioma II.3: Dados treˆs pontos distintos e colineares na˜o ha´ mais do que um que esta´ entre os outros dois. Obs.:(i) O axioma permite que nenhum deles esteja entre os outros dois. (ii) O asioma II.2 e´ um axioma de existeˆncia. Ele nos diz que toda reta pos- sui pelo menos treˆs pontos (na˜o necessariamente quatro pontos - veja exemplo acima). E, pelo exerc´ıcio 8 da lista 1, os modelos (ate´ aqui) devem possuir pelo menos 7 pontos. (iii) O axioma II.3 nos diz agora que, usando tambe´m o axioma II.2, toda reta deve possuir pelo menos quatro pontos. Vamos verificar isto. Antes adotemos a seguinte notac¸a˜o: “B esta´ entre A e C”: A ∗B ∗ C ou C ∗B ∗A O axioma II.2 nos diz que dados dois pontos (distintos) A e C, existe um ponto B tal que A∗C ∗B. Esse axioma nos diz tambe´m que existe um ponto D tal que D ∗A ∗C. Pore´m como foi verificado em um exemplo anterior, o ponto D pode ser o ponto B. Agora, com o axioma II.3 necessariamente D e B sa˜o distintos pois, caso contra´rio, ter´ıamos A∗C ∗B ou B∗A∗C, contrariando o axioma II.3. Exemplo de um modelo que satisfaz todos os axiomas ate´ o axioma II.3 (inclu- sive), onde ha´ treˆs pontos colineares tal que nenhum deles esta´ entre os outros dois. Interpretac¸a˜o: “Pontos”: sa˜o todos os infinitos pontos do plano (como conhecemos), exceto os pontos que pertencem a (infinitas) circunfereˆnciasconceˆntricas, de centro no ponto O, e raios 1, 2, 3 ... DESENHO 10 “Retas”: sa˜o as retas no sentido como conhecemos no plano, exceto por se- rem “esburacadas” pela falta dos pontos das circunfereˆncias citadas acima. “Incideˆncia”: usual. “Estar entre”: dados treˆs “pontos” colineares um (e somente um) deles es- tara´ entre os outros dois somente se existir algum ponto de alguma das cir- cunfereˆncias retiradas que esta´ entre (no sentido usual) dois dos treˆs pontos considerados. Assim, se isso na˜o ocorre, nenhum dos treˆs pontos “estara´ entre” os outros dois. Na figura temos A ∗ B ∗ C mas, com os treˆs pontos M , N e P diremos que nenhum deles “esta´ entre” os outros. Pergunta: Dados todos os axiomas ate´ o axioma II.3 (inclusive), podemos ga- rantir a existeˆncia de infinitos pontos em uma reta? FIGURA A resposta para essa pergunta e´: na˜o. Antes de ver o exemplo consideremos outra pergunta: Podemos garantir, com os axiomas dados ate´ aqui, que dados dois pontos existe um ponto entre esses dois? A resposta e´: na˜o. Basta ver os pontos M e P no exemplo anterior. Ali N na˜o esta´ entre M e P . Vamos ver agora um exemplo onde as retas teˆm exatamente 5 pontos e os axi- omas sa˜o todos satisfeitos. Considere uma reta com os pontos A, B, C, D e E. Uma poss´ıvel interpretac¸a˜o: FIGURA A ∗ B ∗ C, B ∗ C ∗ D, C ∗ D ∗ E, D ∗ E ∗ A, E ∗ A ∗ B. Note que na˜o ha´ pontos entre: A e B, B e C, C e D, D e E, E e A. Temos ainda: A ∗D ∗ C, D ∗ A ∗ B, D ∗ E ∗D, E ∗ B ∗ C, C ∗ E ∗ A, E ∗ C∗? este u´ltimo ponto na˜o podera´ ser A, D ou B. Outra interpretac¸a˜o: A ∗ B ∗ C, B ∗ C ∗D, C ∗D ∗ E, D ∗ E ∗ A, E ∗ A ∗ B, A ∗D ∗ B, B ∗ E ∗ C, C ∗A ∗D, D ∗B ∗ E, E ∗ C ∗A. A e B { A ∗B ∗ C B ∗A ∗ E Afinal, qual e´ o modelo? O modelo e´ dado com 21 pontos e 21 retas, todas com exatamente 5 pontos cuja relac¸a˜o “estar entre” foi dada acima. DESENHO Axioma II.4 : 11 Se A, B e C sa˜o treˆs pontos na˜o colineares, e se r e´ uma reta que na˜o passa por A, B ou C mas passa por um ponto do segmento AB enta˜o a reta r passa por um ponto do segmento AC ou do segmento BC. A CB r Definic¸a˜o 5: O segmento de reta de extremidades A e B, denotado por AB, e´ o conjunto formado pelos pontos A, B e todos os pontos C tais que C esta´ entre A e B. Obs,: Com os axiomas II.1, II.2 e II.3 na˜o podemos garantir ainda, que todo segmento de reta possui, pelo menos, treˆs pontos. Na˜o podemos tambe´m ga- rantir que, dados treˆs pontos colineares, um deles estara´ entre os outros dois. Definic¸a˜o 6: A semi-reta de origem A passando por C, denotada por −→ AC, e´ o conjunto formado por todos os pontos do segmento AC e os pontos P tais que C esta´ entre A e P . Obs.: Das duas definic¸o˜es (e dos axiomas va´lidos ate´ aqui) podemos verifi- car que AC ⊂ −→ AC, sendo que ha´ mais pontos na semi-reta do que no segmento. Quem garante isso e´ o axioma II.2: dados A e C, existe um ponto P tal que A ∗ C ∗ P . Portanto P esta´ em −→ AC mas na˜o em esta´ em AC (pois P e´ distinto de A e C, e P na˜o esta´ entre A e C; isto decorre de A∗C ∗P e do axioma II.3). A Definic¸a˜o 6 e os axiomas garantem que toda semi-reta possui pelo menos treˆs pontos. Da mesma forma, a reta que passa por A e C, denotada por ←→ AC, conte´m a semi-reta −→ AC, sendo que ha´ mais pontos na reta do que na semi-reta. Isto e´ devido novamente ao axioma II.2: dados os pontos A e C existe um ponto Q tal que ∗Q∗A∗C. Vimos que, pelo axioma II.3, o ponto Q e´ distinto de P (que esta´ na semi-reta −→ AC). Este ponto Q na˜o esta´ em overrightarrowAC pois, Q e´ distinto de A e C, Q na˜o esta´ entre A e C, e C na˜o esta´ entre A e Q, ja´ que Q ∗ A ∗ C e e´ va´lido o axioma II.3. Portanto Q e´ um ponto da reta ←→ AC mas na˜o esta´ na semi-reta −→ AC. Observe ainda que, da Definic¸a˜o 5 e do axioma II.1, AB e´ o mesmo que BA. Pergunta: A semi-reta −→ AC e´ a mesma que a semi-reta −→ CA? A resposta e´: na˜o. Basta olhar o que foi comentado acima: o ponto Q na˜o esta´ em −→ AC (note 12 que Q∗A∗C e´ o mesmo que C∗A∗Q e, pela definic¸a˜o de semi-reta, Q esta´ em −→ CA. Teorema 6 Dados dois pontos A e C, existe um ponto D que esta´ entre A e C. Dem.: Seja B um ponto na˜o incidente a` reta ←→ AC (teorema 3). Pelo axioma II.2, A B P C Q D dados os pontos A e B, existe um ponto P tal que A ∗B ∗ P . Note que P na˜o esta´ na reta ←→ AC pois, caso contra´rio, a reta ←→ AC seria a mesma que a reta ←→ AP , e neste caso B (que esta´ em ←→ AP ) estaria na reta ←→ AC. Dados os pontos P e C, existe um ponto Q tal que C esta´ entre P e Q (axioma II.2). Note que as retas ←→ PA e ←→ PC sa˜o distintas, pois caso contra´rio os pontos A, C e P seriam colineares, o que na˜o ocorre conforme demonstrado anteriormente. Segue-se que os pontos Q e B sa˜o distintos, pois P e´ o u´nico ponto comum a`s retas ←→ PB e ←→ PQ (teorema 1). Considere a reta ←→ BQ (axioma I.1). Esta reta na˜o passa pelos pontos A, C ou P , pois caso contra´rio, concluir´ıamos que as retas ←→ PA (ou ←→ PB) e ←→ PC sa˜o coin- cidentes. Enta˜o A, P e C sa˜o treˆs pontos na˜o colineares, e a reta ←→ BQ passa por um ponto que esta´ entre A e P (o ponto B). Pelo axioma II.4 a reta ←→ BQ deve passar por um ponto do segmento PC. As retas ←→ BQ e ←→ PQ sa˜o distintas (pois B na˜o esta´ em ←→ PQ). A reta ←→ BQ na˜o passa por um ponto do segmento PC pois, caso contra´rio, tal ponto seria Q (o u´nico ponto de intersecc¸a˜o das retas ←→ BQ e ←→ PQ), e neste caso Q estaria entre P e C, mas isto na˜o ocorre porque C esta´ entre P e Q e pelo axioma II.3. Logo, ←→ BQ passa por um ponto D do segmento AC (distinto de A e C), ou seja, D esta´ entre A e C. � Teorema 7 Dados treˆs pontos A, B e C colineares, um deles estara´ entre os outros dois. Obs.: Este teorema, juntamente com o axioma II.3 nos diz que dados treˆs 13 pontos colineares, um e somente um deles estara´ entre os outros dois. Dem.: A B C G F D E Suponhamos que A na˜o esteja entre B e C, e que C na˜o esteja entre A e B. Vamos provar que, neste caso, B estara´ necessariamente entre A e C. Seja D um ponto na˜o incidente a` reta ←→ AC (teorema 3). A B C D Pelo axioma II.2 existe um ponto G tal que D esta´ entre B e G. A B C G D Note que G na˜o e´ incidente a` reta que passa pelos pontos A, B e C. Pois, caso contra´rio, a reta ←→ GB seria a mesma que a reta ←→ AC, e da´ı tera´mos D na reta ←→ AC, o que na˜o ocorre. Enta˜o os pontos B, C e G sa˜o na˜o-colineares, e a reta ←→ AD (axiomas I.1 e I.2) passa por um ponto que esta´ entre B e G (o ponto D) e na˜o passa por B, C ou G (pois D na˜o esta´ em ←→ AC). Segue-se, pelo axioma II.4, que a reta ←→ AD passa por um ponto do segmento CG ou do segmento BC. A reta ←→ AD na˜o passa por um ponto do segmento BC, pois caso contra´rio, tal ponto seria o ponto A (o ponto de intersecc¸a˜o das retas ←→ AD e a reta que conte´m B e C). Mas enta˜o A estaria entre B e C, o que contradiz a hipo´tese feita no in´ıcio da demonstrac¸a˜o. Portanto a reta ←→ AD passa por um ponto que esta´ entre C e G. Seja E este ponto. 14 A B C D G A B C D G E Analogamente, considerando-se os pontos na˜o-colineares A, B e G, e a reta ←→ CD encontra-se um ponto F que esta´ entre A e G. A B C G F D E Considere agora os pontos na˜o colineares A, G e E (tais pontos na˜o sa˜o colineares pois, caso contra´rio, A estaria na reta ←→ GE, que conte´m C, e portanto A, C e G seriam colineares), e considere a reta ←→ CF (que passa por um ponto do segmento AG - o ponto F ). Observe que a reta ←→ CF na˜o passa por A, E ou G. Pelo axioma II.4 a reta ←→ CF deve passar por umponto do segmento GE ou do segmento AE. A reta ←→ CF na˜o passa por um ponto de GE pois, caso contra´rio, tal ponto seria C, e enta˜o ter´ıamos C entre G e E, o que na˜o ocorre pois E esta´ entre G e C (conclusa˜o anterior e o axioma II.3). Logo, a reta ←→ CF passa por um ponto do segmento AE. Mas este ponto so´ pode ser D (o ponto de intersecc¸a˜o das retas ←→ CF e ←→ AE ). Acabamos de concluir que D esta´ entre A e E. Finalmente considere os pontos na˜o colineares A, E e C, e considere a reta ←→ GD que passa por um ponto do segmento AE (o ponto D). A reta ←→ GD na˜o 15 passa pelos pontos A, E ou C. Pelo axioma II.4, a reta ←→ GD deve passar por um ponto do segmento CE ou do segmento AC. Mas a reta ←→ GD na˜o passa por um ponto de CE pois, caso contra´rio, tal ponto seria o ponto G, e da´ı G estaria entre E e C. Portanto a reta ←→ GD passa por um ponto de AC. Mas este ponto so´ pode ser B (o ponto de intersecc¸a˜o das retas ←→ GD e ←→ AC). Logo, B esta´ entre A e C. � Teorema 8 Sejam A, B e C treˆs pontos na˜o colineares, e seja r uma reta que na˜o passa por A, B ou C. Se r passa por um ponto do segmento AC enta˜o r passa por um ponto de somente um dos segmentos AB ou BC. Obs.: Este teorema nos diz que, nas condic¸o˜es do axioma II.4, uma reta so´ pode interceptar dois segmentos dentre os treˆs formados por A, B e C. Dem.: r P C Q L M A B N Suponhamos, por absurdo, que r passe por um ponto M de AB e por um ponto N de BC. Seja P o ponto de intersecc¸a˜o de r com AC. Considere os pontos na˜o colineares M , B e C (note que C na˜o esta´ na reta ←→ AB, que e´ a reta ←−→ MB), e considere a reta ←→ AN (note que A na˜o esta´ na reta ←→ BC, e potanto A e´ distinto de N , use enta˜o o axioma I.1). A reta ←→ AN na˜o passa pelos pontos N , B ou C pois, caso contra´rio, A, B e C seriam colineares, contradizendo a hipo´tese. Pelo axioma II.4, a reta ←→ AN deve passar por um ponto do segmento MB ou por um ponto do segmento MC. A reta ←→ AN na˜o passa por um ponto de MB pois, caso contra´rio, tal ponto deveria ser A (o ponto de intersecc¸a˜o das retas ←→ AN e ←−→ MB), e da´ı ter´ıamos que A estaria entre M e B, o que na˜o ocorre pois de in´ıcio admitimos que M esta´ entre A e B (axioma II.3). Logo, a reta ←→ AN 16 passa por um ponto Q de MC. Considere agora os pontos na˜o colineares M , P e C (note que M na˜o esta´ na reta ←→ PC, que e´ a reta ←→ AC, pois caso contra´rio ter´ıamos A, B e C colineares), e considere a reta que passa por A e Q ( ←→ AQ). Esta reta na˜o passa pelos pontos M , P ou C pois, caso contra´rio, os pontos A, B e C seriam colineares. Pelo axioma II.4, a reta ←→ AQ deve passar por um ponto do segmento MP . A reta ←→ AQ na˜o passa por PC pois, caso contra´rio, tal ponto deveria ser o ponto A (o ponto de intersecc¸a˜o das retas ←→ AQ e ←→ PC) e enta˜o A estaria entre P e C, o que na˜o ocorre pois, por hipo´tese, P esta´ entre A e C (e pelo axioma II.3). Logo, a reta ←→ AQ passa por um ponto L de MP . Mas L esta´ na reta r (que passa por M e P ) e, como esta´ tambe´m na reta ←→ AQ (que passa por A e N que esta´ em r), enta˜o A estaria na reta que passa por L e N , que e´ a reta r. Isto e´ uma contradic¸a˜o com a hipo´tese. Logo, a reta r na˜o pode passar por um ponto do segmento AB e por um ponto do segmento BC. � Definic¸a˜o 7: Seja r uma reta e sejam A e B os dois pontos na˜o incidentes a r. Dizemos que A e B esta˜o no mesmo lado de R se r na˜o intercepta o segmento AB. Caso contra´rio, diremos que A e B esta˜o em lados opostos de r. Teorema 9 Seja r uma reta e sejam A, B e C treˆs pontos na˜o incidentes a r. Enta˜o: (i) Se A e B esta˜o no mesmo lado de r, e se A e C esta˜o no mesmo lado de r, enta˜o B e C esta˜o no mesmo lado de r. (ii) Se A e B esta˜o em lados opostos de r, e se A e C esta˜o em lados opostos de r, enta˜o B e C esta˜o no mesmo lado de r. (iii) Se A e B esta˜o no mesmo lado de r, e se A e C esta˜o em lados opostos de r, enta˜o B e C esta˜o em lados opostos de r. Dem.: Vamos demonstrar o teorema no caso em que A, B e C sa˜o na˜o colineares (o outro caso fica como exerc´ıcio). (i) Suponha que B e C na˜o estejam no mesmo lado de r. Enta˜o r intercepta BC em um ponto P (que esta´ entre B e C). Pelo axioma II.4, e pelo teorema 8, r deve interceptar um, e apenas um, dos segmentos AC ou AB. 17 A B C r Suponha que r intercepte AC. Enta˜o A e C estariam em lados opostos de r, contradizendo a hipo´tese. (ii) A B C r A reta r intercepta AB e AC. Pelo teorema 8, r na˜o pode interceptar BC. Logo, B e C esta˜o no mesmo lado de r. (iii) C A B r A reta r intercepta AC e na˜o intercepta AB. Pelo axioma II.4, r deve in- terceptar BC. Logo, B e C esta˜o em lados opostos de r. Obs.: Nos casos em que A, B e C sa˜o colineares, devemos obter um ponto auxiliar de modo a formar trios de pontos na˜o colineares. Por exemplo, para demonstrar (i): Vejamos: 18 A B C Q r P Seja P um ponto de r que na˜o esta´ na reta que passa por A, B e C (note que, pelo axioma I.3, a reta r possui pelo menos dois pontos; se um deles esta´ tambe´m na reta que passa por A, B e C, enta˜o o outro na˜o estara´ nesta reta). Considere agora os pontos P e B (ou P e A, ou P e C). Pelo axioma II.2, existe um ponto Q tal que B esta´ entre P e Q. Note que o ponto Q na˜o esta´ na reta r pois, caso contra´rio, a reta ←→ PQ seria a pro´pria reta r, e enta˜o o ponto B (que esta´ em ←→ PQ) estaria em r. Note ainda que o ponto Q na˜o esta´ na reta que passa por A, B e C pois, caso contra´rio, a reta ←→ QB seria aquela reta e, neste caso P (que esta´ em ←→ QB) estaria na reta que passa por A, B e C. Os pontos B e Q esta˜o no mesmo lado de r pois, caso contra´rio, existiria um ponto de r que estaria entre B e Q, mas tal ponto so´ poderia ser P ( o ponto de intersecc¸a˜o da reta r com a reta ←→ QB). Mas enta˜o ter´ıamos P entre B e Q, o que na˜o pode ocorrer pois B esta´ entre P e Q (e o axioma II.3 completa o argumento). Agora, usando repetidas vezes a parte inicial do teorema 9 (ja´ demonstrada) temos: (a) A e Q esta˜o no mesmo lado de r pois, A e B esta˜o no mesmo lado de r (hipo´tese) e B e Q esta˜o no mesmo lado de r (acabamos de demonstrar). (b) Q e C esta˜o no mesmo lado de r pois, A e C esta˜o no mesmo lado de r (hipo´tese) e A e Q esta˜o no mesmo lado de r (item (a)). (c) Finalmente, B e C esta˜o no mesmo lado de r, pois Q e C esta˜o no mesmo lado de r (item (b)) e Q e B esta˜o no mesmo lado de r (provado acima). (Fazer (ii) e (iii), no caso colinear, como exerc´ıcio). Definic¸a˜o 8: Seja r uma reta e seja P um ponto na˜o incidente a r. O semi-plano definido por r que conte´m o ponto P e´ o conjunto dos pontos Q tais que P e Q esta˜o no mesmo lado de r. (Notac¸a˜o: Sr.P , ou SP caso esteja claro que o semi-plano e´ definido por r). Teorema 10 Toda reta define exatamente dois semi-planos disjuntos. 19 Obs.: Este teorema nos diz que, dada uma reta r qualquer, todo ponto ou esta´ em r, ou esta´ em um (e somente um) dos semi-planos definidos por r. Dem.: Seja r uma reta qualquer. Vamos mostrar que existem dois semi-planos de- finidos por r que sa˜o distintos e depois mostraremos que na˜o ha´ mais do que estes dois semi-planos. A P B r Seja A um ponto na˜o incidente a r (teorema 3). Enta˜o SA e´ na˜o vazio (A esta´ neste semi-plano). Seja P um ponto de r (axioma I.3), e seja P um ponto tal que P entre A e B (axioma II.2). Os pontos A e B esta˜o em lados opostos de r (definic¸a˜o), ou seja, B na˜o esta´ em SA. Segue-se que SB (na˜o vazio, pois B esta´ neste semi-plano) e´ distinto de SA. Vamos mostrar agora que na˜o ha´ mais semi-planos definidos por r. Sejaenta˜o C um ponto qualquer na˜o incidente a r. Suponha que C na˜o esteja em SA. Na˜o estar em SA significa que C e A esta˜o em lados opostos de r. Pelo teorema 9, B e C esta˜o no mesmo lado de r. Logo, C esta´ em SB . Note que, se C for B enta˜o C esta´ em SB . Vamos mostrar agora que SA ∩ SB = φ. Seja M um ponto qualquer de SA. Enta˜o M e A esta˜o no mesmo lado de r. Mas, A eB esta˜o em lados opostos de r, pelo teorema 9, segue-se que M e B esta˜o em lados opostos de r, ou seja, M na˜o esta´ em SB . Conclu´ımos que SA ∩ SB = φ. � Corola´rio: Seja r uma reta. Todo ponto P de r divide esta reta em duas semi-retas 20 cujo u´nico ponto comum e´ aquele ponto (P ). B Q C A C r s P Dem.: Seja P um ponto de r. Seja A um ponto distinto de P em r (axioma I.3), e seja B tal que P esta´ entre A e B (axioma II.2). Note que B tambe´m esta´ em r. Seja Q um ponto na˜o incidente a r (teorema 3). Seja s a reta que passa por P e Q (axiomas I.1 e I.2). A reta s e´ distinta da reta r. Considere as semi-retas −→ PA e −−→ PB, ambas contidas em r. O ponto P pertence a essas duas semi-retas (da definic¸a˜o de semi-retas). Vamos mostrar que qualquer ponto de r distinto de P pertence a uma, e somente uma, das semi-retas −→ PA ou −−→ PB. Os pontos A e B esta˜o em lados opostos de s, pois s conte´m um ponto do segmento AB (o ponto P , que e´ o ponto de intersecc¸a˜o de r com s). Considere os semi-planos SA e SB , respectivamente definidos por s contendo os pontos A e B. Como B na˜o esta´ em SA, segue-se, pelo teorema 10, que SA ⋂ SB = φ. Seja C um ponto qualquer da semi-reta −→ PA distinto de P . Se C for A, enta˜o C esta´ em SA. Se C for distinto de A, enta˜o ou C esta´ entre P e A ou A esta´ entre C e P . Em qualquer um destes casos, C e A esta˜o no mesmo lado de s pois, caso contra´rio, existiria um ponto de s entre C e A, mas este ponto so´ poderia ser P (o ponto de intersecc¸a˜o da reta s com a reta ←→ CA, ou seja, a reta r). Mas isto na˜o pode ocorrer, pelo que foi estabelecido anteriormente (ou seja, C ∗A ∗ P ou A ∗ C ∗ P ), e pelo axioma II.3. Segue-se, portanto, que C esta´ no semi-plano SA. Conclu´ımos que, se C 6= P esta´ em −→ PA, enta˜o C esta´ em SA. Analogamente, se C 6= P esta´ em −−→ PB enta˜o C esta´ em SB . Como SA ⋂ SB = φ, segue-se que −→ PA ⋂−−→ PB = P . � 21 Definic¸a˜o 9: Sejam A, P e B treˆs pontos tais que P esta´ entre A e B. As semi-retas −→ PA e −−→ PB sa˜o ditas semi-retas opostas. Obs.: Pelo corola´rio acima, temos que as semi-retas opostas esta˜o contidas na mesma reta, teˆm a mesma origem, e esta origem e´ seu u´nico ponto comum. Teorema 11 Todo segmento de reta conte´m infinitos pontos. Demonstrac¸a˜o esboc¸o: Seja AB um segmento de reta. Pelo teorema 6, existe um ponto A1 talque A1 esta´ entre A e B. A A A B r 1 2 O ponto A1 e´ distinto de A e B (axioma II.1). Pelo teorema 6, existe um ponto A2 entre A e A1. O ponto A2 e´ distinto de A e A1 (axioma II.1). O ponto A1 divide a reta r, que passa por A e B, em duas semi-retas opos- tas (corola´rio), as semi-retas −−→ A1A e −−→ A1B. O ponto A2 esta´ na semi-reta −−→ A1A (definic¸a˜o- A ∗A2 ∗A1). Segue-se que A2 e´ distinto de B. Seja agora A3 um ponto que esta´ entre A e A2 (teorema 6). Enta˜o o ponto A3 esta´ na semi-reta −−→ A2A, oposta a` semi-reta −−−→ A2A1. Mas B esta´ em −−−→ A2A1. Segue-se que A3 e´ distinto de A, A1, A2 e B. E assim sucessivamente, provamos que ha´ infinitos pontos em AB. Axiomas de Congrueˆncia Termo primitivo: congrueˆncia (“congruente a”). Estudaremos congrueˆncia entre segmentos, aˆngulos e depois, figuras em ge- ral. Axiomas de congrueˆncia entre segmentos Axioma III.1 22 Sejam AB um segmento, e uma semi-reta de origem C. Enta˜o existe um ponto D, distinto de C, nessa semi-reta, tal que AB e´ congruente a CD. Sim- bolicamente escrevemos: AB ≡ CD. Obs.: Ate´ o momento, na˜o sabemos se AB ≡ CD implica CD ≡ AB (simetria), nem sabemos se AB ≡ BA. No axioma III.1, na˜o esta´ garantido que D e´ u´nico. Axioma III.2 Se AB e´ congruente a EF , e se CD e´ congruente a EF , enta˜o AB e´ congru- ente a CD. Simbolicamente: AB ≡ EF e CD ≡ EF ⇒ AB ≡ CD. Obs.: Com este axioma, podemos provar as propriedades reflexiva, sime´trica e transitiva da congrueˆncia entre segmentos: Reflexiva: Seja AB um segmento qualquer, e seja P um ponto qualquer. Seja uma semi-reta com origem P . Pelo Axioma III.1, existe um ponto Q nesta semi-reta tal que AB ≡ PQ. Enta˜o, de AB ≡ PQ e AB ≡ EF temos, pelo Axioma III.2, que AB ≡ AB. Simetria: Seja AB ≡ CD. De CD ≡ CD e AB ≡ CD temos, pelo Axioma III.2, que CD ≡ AB. Transitividade: Sejam AB ≡ CD e CD ≡ EF . Segue, por simetria, que CD ≡ AB. Sendo CD ≡ EF , obtemos, pelo Axioma III.2, AB ≡ EF . Portanto, a partir de agora, podemos falar simplesmente em dois segmentos congruentes (na˜o importando a ordem). Axioma III.3 Sejam A, B e C pontos tais que B esta´ entre A e C. Sejam A′, B′ e C ′ tais que B′ esta´ entre A′ e C ′. Se AB ≡ A′B′ e BC ≡ B′C ′, enta˜o AC ≡ A′C ′. A B C A’ B’ C’ Obs.: Sejam A, B e C treˆs pontos colineares. AB e BC teˆm um u´nico ponto comum se, e somente se, B estiver entre A e C. (Prove!) Exerc´ıcios 1. Com as hipo´teses do Axioma III.3, e supondo ainda que D seja tal que C esta´ entre B e D, e D′ seja tal que C ′ esta´ entre B′ e D′ e CD ≡ C ′D′, prove que AD ≡ A′D′. 2. Se −−→ BA e −−→ BC sa˜o semi-retas opostas, enta˜o a reta r que passa por A, B e C e´ −−→ BA ∪ −−→ AB. 23 Definic¸a˜o 10: Duas semi-retas distintas, de mesma origem e na˜o opostas defi- nem um aˆngulo. Em outras palavras, se −→ OA e −−→ OBsa˜o distintas, e A, O e B na˜o sa˜o colineares, enta˜o −→ OA e −−→ OB definem um aˆngulo. Notac¸a˜o: ∠AOB (ou ∠BOA). A origem comum O das semi-retas −→ OA e −−→ OBe´ chamada ve´rtice do aˆngulo ∠AOB. As semi-retas −→ OA e −−→ OB sa˜o chamadas lados do aˆngulo ∠AOB. B A O Definic¸a˜o 11: Um ponto P e´ dito ponto interior ao aˆngulo ∠AOB, se P e A esta˜o no mesmo lado da reta OA. Pergunta: O interior de um aˆngulo e´ na˜o vazio? Obs.: Seja ∠AOB um aˆngulo. Sejam M e N pontos nos lados −→ OA e −−→ OB res- pectivamente, distintos de A e de B. Enta˜o, −→ OA = −−→ OM e −−→ OB = −−→ ON (veja exerc´ıcio 7, item (b), da Lista 2). Portanto, ∠AOB e´ o mesmo que ∠AON , ou ainda, ∠MOB (prove!). Pergunta: Existem pontos interiores a um aˆngulo ∠AOB? A resposta e´ SIM. Teorema 12: Seja ∠AOB um aˆngulo. Enta˜o os pontos da reta ←→ AB sa˜o pontos interiores no aˆngulo ∠AOB se, e somente se, esses pontos estiverem entre A e B. Dem.: O B P A Q Seja P um ponto que esta´ entre A e B (Teorema 6). Enta˜o P e B esta˜o no mesmo lado da reta OA pois, caso contra´rio, haveria um ponto da reta OA entre P e B, mas tal ponto so´ poderia ser o ponto A (o ponto de intersec¸a˜o das retas OA e PB que e´ a reta AB). Mas isso na˜o ocorre pois P esta´ entre A e B (pelo Axioma II.3). Analogamente, prova-se que P e A esta˜o no mesmo lado da reta OB. Logo P e´ ponto interior, e portanto existem pontos interiores ao aˆngulo ∠AOB. Como ∠AOB e´ um aˆngulo qualquer, todo aˆngulo possui pontos interiores. 24 Seja agora Q um ponto da reta ←→ AB que na˜o esta´ no segmento AB. Enta˜o, uma e somente uma, das possibilidades ocorrera´: (i) Q ∗A ∗B, ou (ii) Q ∗B ∗A. Se (i) ocorre, enta˜o os pontos Q e B esta˜o em lados opostos da reta ←→ OA (pois A, que e´ ponto da reta ←→ OA, esta´ entre Q e B), e portanto Q na˜o e´ ponto interior ao aˆngulo ∠AOB (da negac¸a˜o da Definic¸a˜o de ponto interior a um aˆngulo). O caso (ii) e´ ana´logo. Portanto, existem pontos que na˜o sa˜o interiores a um aˆngulo. Acabamos de provarque, se um ponto da reta ←→ AB na˜o esta´ no segmento AB, enta˜o ele e´ ponto interior. Da contrapositiva desta afirmac¸a˜o, obtemos que se um ponto da reta ←→ AB e´ ponto interior, enta˜o ele esta´ no segmento AB. � Definic¸a˜o 12: Seja ∠AOB um aˆngulo. O conjunto dos pontos interiores a esse aˆngulo e´ chamado interior do aˆngulo ∠AOB. Um ponto que na˜o pertence aos lados nem esta´ no interior de ∠AOB e´ chamado ponto exterior a ∠AOB. O conjunto dos pontos exteriores a ∠AOB e´ chamado exterior do aˆngulo ∠AOB. Teorema 13: Seja ∠AOB um aˆngulo. Enta˜o: (i) Toda semi-reta de origem O e distinta de −→ OA e de −−→ OB esta´ toda no interior, ou toda no exterior (exceto o ponto O) do aˆngulo ∠AOB. (ii) Se todos os pontos de uma semi-reta de origem O, exceto o pro´prio ponto O, estiverem no interior de ∠AOB, enta˜o essa semi-reta intercepta o segemento AB em um ponto entre A e B (Teorema da Barra Transversal). (iii) Se P e´ um ponto interior a ∠AOB, enta˜o todos os pontos da semi-reta −−→ OP , exceto O, sa˜o pontos interiores a ∠AOB, e todos os pontos da semi-reta oposta a −−→ OP , exceto O, sa˜o pontos exteriores a ∠AOB. Dem.: A O B PQ P (i) Seja uma semi-reta com origem O, distinta de −→ OA e de −−→ OB. Enta˜o, nenhum ponto desta semi-reta exceto O, esta´ nos lados −→ OA e −−→ OB de ∠AOB. Seja P um ponto dessa semi-reta distinto de O. Enta˜o P e´ ponto interior ou e´ ponto exterior a ∠AOB. 25 Se P e´ ponto interior a ∠AOB, enta˜o seja Q um ponto da semi-reta −−→ OP , distinto de O. Se Q for P , enta˜o Q e´ ponto interior. Se Q for distinto de P , enta˜o uma, e somente uma das possibilidades ocorrera´: (a) O ∗Q ∗ P , ou (b) O ∗ P ∗Q. Se (a) ocorre, enta˜o Q e P esta˜o no mesmo lado da reta OA e esta˜o no mesmo lado da reta OB pois, caso contra´rio, existiria um ponto entre Q e P que estaria na reta OB. Mas tal ponto so´ poderia ser o ponto O (o ponto de intersec¸a˜o das retas OP , OA e OB). Mas isso na˜o ocorre por (a). Analogamente prova-se que se (b) ocorre, enta˜o Q e P esta˜o no mesmo lado da reta OA e esta˜o no mesmo lado da reta OB. Mas P e´ ponto interior a ∠AOB. Isto significa que P e A esta˜o no mesmo lado da reta OB, e P e B esta˜o no mesmo lado da reta OA. Conclu´ımos, pelo Teorema 9, que Q e A esta˜o no mesmo lado da reta OB e Q e B esta˜o no mesmo lado da reta OA, ou seja, Q e´ ponto interior a ∠AOB. Seja agora P um ponto da semi-reta com origem O exterior a ∠AOB. Enta˜o, P e B esta˜o em lados opostos da reta OA ou P e A esta˜o em lados opostos da reta OB ( ou os dois!) Suponhamos que P e B estejam em lados opostos da reta OA (o outro caso, isto e´, P e A em lados opostos da reta OB, e´ ana´logo), e seja Q um ponto de OP , distinto de O. Se Q for P , enta˜o Q e´ ponto exterior a ∠AOB. Se Q for distinto de P , enta˜o uma, e somente uma das situac¸o˜es ocorrera´: (a) O ∗Q ∗ P (b) O ∗ P ∗Q No caso (a), P e Q esta˜o no mesmo lado da reta OA pois, caso contra´rio, existiria um ponto da reta OA entre P e Q, mas tal ponto so´ poderia ser o ponto O (o ponto de intersec¸a˜o da reta OA com a reta PQ). Mas enta˜o ter´ıamos P ∗O ∗Q, o que na˜o ocorre (por (a) e pelo Axioma II.3). Pelo Teorema 9, Q e B esta˜o em lados opostas da reta OA. Logo, Q e´ ponto exterior a ∠AOB. Portanto, todos os pontos da semi-reta −−→ OP , exceto O, sa˜o pontos exteriores a ∠AOB. O caso (b) e´ ana´logo. (ii) S Q O B P A D Considere uma semi-reta com origem O tal que todos os seus pontos, exceto O, sejam pontos interiores a ∠AOB. Seja P um ponto distinto de O dessa semi-reta (que e´ portanto denotada por −−→ OP ). Seja Q um ponto da semi-reta oposta a semi-reta a semi-reta −→ OA, distinto de O. Enta˜o o ponto O esta´ entre A e Q. 26 Seja S um ponto distinto de O na semi-reta oposta a` semi-reta −−→ OP . Enta˜o O esta´ entre S e P . Segue-se que S e P esta˜o em lados opostos da reta OB. Por outro lado, como P e´ ponto interior a ∠AOB, temos que P e A esta˜o no mesmo ladoda reta OB. Pelo Teorema 9, temos que S e A esta˜o em lados opostos da reta OB. Isto significa que existe um ponto D entre S e A que esta´ na reta OB. Vamos mostrar que O esta´ entre D e B. Os pontos S e P esta˜o em lados opostos da reta OA, pois O esta´ entre S e P . Os pontos S e D esta˜o no mesmo lado da reta OA pois, caso contra´rio, existiria um ponto entre S e D que estaria na reta OA. Mas tal ponto so´ poderia ser A (o ponto de intersec¸a˜o das retas OA e SD), e, enta˜o, ter´ıamos S ∗A ∗D, o que na˜o ocorre (porque ja´ temos S ∗D ∗A, e pelo Axioma II.3). Pelo Teorema 9, os pontos P e D esta˜o em lados opostos da reta OA. Mas P e B esta˜o no mesmo lado da reta OA (P e´ ponto interior - hipo´tese). Segue-se, pelo Teorema 9, que os pontos B e D esta˜o em lados opostos da reta OA. Isto significa que O esta´ entre B e D. Segue-se que B e D esta˜o em lados opostos da reta OP . Agora, os pontos A e D esta˜o no mesmo lado da reta OP pois, caso contra´rio, existiria um ponto entre A e D que estaria na reta OP . Mas tal ponto so´ pode ser S (o ponto de intersec¸a˜o da reta OP com a reta AD). Enta˜o ter´ıamos D ∗ S ∗A, o que na˜o ocorre (pois S ∗D ∗A e Axioma II.3). Pelo Teorema 9, conclu´ımos que A e B esta˜o em lados opostos da reta OP . Isto significa que existe um ponto N entre A e B que esta´ na reta OP . Pelo item (i) deste Teorema, o ponto N e´ ponto interior a ∠AOB. O ponto N na˜o esta´ na semi-reta oposta a semi-reta −−→ OP , pois caso contra´rio, ou N seria O ( o que na˜o ocorre, pois ele e´ ponto interior), ou ter´ıamos N ∗ O ∗ P . Mas N e P estariam em lados opostos da reta OA e como P e B esta˜o no mesmo lado da reta OA, concluir´ıamos, pelo Teorema 9, que N e B estariam em lados opostos da reta OA, contradizendo o fato de N ser ponto interior a ∠AOB. (iii) Foi demonstrado acima (veja com atenc¸a˜o a u´ltima parte de (ii)). Exerc´ıcios propostos 1. Prove que se P e Q sa˜o pontos interiores a ∠AOB, enta˜o todos os pontos do segmento PQ sa˜o pontos interiores a esse a˜ngulo. 2. Seja ∠AOB um aˆngulo e seja P um ponto do lado OA distinto de O. Prove que existe uma reta passando por P que conte´m uma semi-reta com origem P cujos pontos sa˜o exteriores a ∠AOB (exceto P ), e tal que sua semi-reta oposta esta´ no interior de ∠AOB (exceto P ). 3. Seja ∠AOB um aˆngulo. Prove que existe uma reta passando por O tal que todos os seus pontos (exceto O) sa˜o exteriores a ∠AOB. 4. Seja ∠AOB um aˆngulo. (a) Prove que existe uma reta tal que todos os seus pontos sa˜o exteriores a ∠AOB. (b) Prove que na˜o existe uma reta passando por O tal que todos os seus pontos (exceto O) sa˜o interiores a ∠AOB. 27 (c) Dar um exemplo de um modelo que e´ um contra-exemplo para o item (b) (nesse caso, na˜o devem valer alguns dos axiomas de ordem). Obs.: O modelo deve ter infinitos pontos. Axiomas de Congrueˆncia sobre Aˆngulos Axioma III.4 Seja ∠AOB um aˆngulo e −−→ O′A′ uma semi-reta. Enta˜o existe, em um dos semi-planos definidos pela reta O′A′, uma u´nica semi-reta O′B′ tal que o aˆngulo ∠AOB e´ congruente ao aˆngulo ∠A′O′B′. Ale´m disso, todo aˆngulo e´ congruente a si pro´prio (reflexividade). Obs.: Notac¸a˜o: ∠AOB ≡ ∠A′O′B′. Definic¸a˜o 13: Um triaˆngulo fica definido por treˆs pontos A, B e C na˜o colinea- res, e pelos treˆs segmentos de reta AB, BC e AC. Notac¸a˜o: 4ABC (ou 4ACB, ou 4BAC, ou BCA, ou 4CAB, ou 4CBA). Axioma III.5 Seja 4ABC e 4A′B′C ′ dois triaˆngulos tais que AB≡A′B′, AC≡A′C ′ e ∠BAC≡∠B′A′C ′. Enta˜o ∠ABC≡∠A′B′C ′. A B A’ B’ C’C Obs.: Trocando a ordem das congrueˆncias de segmentos na hipo´tese, e mantendo a congrueˆncia dos aˆngulos, obtemos diretamente do axioma que: ∠ACB≡∠A′C ′B′. Portanto, o axioma nos diz que, sendo va´lidas as hipo´teses, os outrs dois aˆngulos do triaˆngulo sera˜o congruentes. Comenta´rio: Vimos um axioma(III.3) que tratava da “aditividade”de segmen- tos: Se { A ∗B ∗ C e A′ ∗B′ ∗ C ′ AB≡A′B′ e BC≡B′C ′. , enta˜o AC≡A′C ′. E´ poss´ıvel demonstrar o seguinte: Se { A ∗B ∗ C e A′ ∗B′ ∗ C ′ AB≡A′B′ e AC≡A′C ′. , enta˜o BC≡B′C ′? Na˜o e´ poss´ıvel agora. Definic¸a˜o 14: Dois aˆngulos sa˜o ditos adjacentes se eles teˆm o mesmo ve´rtice, um lado comum, e os outrs dois lados esta˜o, respectivamente, em semi-planos distintos em relac¸a˜o a` reta que conte´m o lado comum. 28 C O A B Definic¸a˜o 15: Dois aˆngulos sa˜o ditos adjacentes suplementares se eles forem adjacentes e se os lados na˜o comuns forem semi-retas opostas. Ex.: Os aˆngulos ∠AOB e ∠BOC da figura abaixo sa˜o adjacentes suplementares (note que −→ OA e −−→ OC sa˜o semi-retas opostas). C O A B Obs.: Dizemos que cada um deles e´ suplemento do outro. Definic¸a˜o 16: Um aˆngulo e´ dito reto se ele for congruente a um suplemento dele. Obs.: (1) Todo aˆngulo ∠AOB possui dois suplementos: um obtido pela semi- reta oposta ao lado −→ OA (e −−→ OB comum), e o outro pela semi-reta oposta a −−→ OB (e −→ OA comum). C O A B D O B A (2) Se ∠AOB e´ um aˆngulo reto e ∠BOC e´ seu suplemento tal que ∠AOB≡∠BOC, enta˜o ainda na˜o e´ poss´ıvel dizer que ∠BOC tambe´m e´ reto (pois na˜o temos a propriedade da simetria na congrueˆncia de aˆngulos). C O A B (3) A definic¸a˜o de aˆngulo reto na˜o implica na existeˆncia de um tal aˆngulo. Na˜o fica claro tambe´m que aˆngulo reto e´ de um u´nico tipo. 29 C O A B C O A B ’ ’ ’ ’ Ainda na˜o sabemos se ∠AOB≡∠A′O′B′. Definic¸a˜o 17: Dois aˆngulos sa˜o ditos opostos pelo ve´rtice se eles possuem o mesmo ve´rtice e os lados de um deles sa˜o respectivamente semi-retas opostas aos lados do outro. Ex.: O C B D A Definic¸a˜o 18: Um triaˆngulo e´ dito iso´sceles se ele possui dois lados congruentes. Obs.: Vimos que um triaˆngulo e´ formado por treˆs pontos na˜o colineares e pe- los treˆs segmentos cujas extremidades sa˜o aqueles pontos. Os treˆs pontos sa˜o chamados ve´rtices do triaˆngulo, e os treˆs segmentos sa˜o chamados lados do triaˆngulo. Se 4ABC e´ um triaˆngulo, enta˜o os treˆs aˆngulos ∠A (ou ∠BAC), ∠B (ou ∠ABC) e ∠C (ou ∠ACB) sa˜o chamados aˆngulos internos, ou simplesmente, aˆngulos do triaˆngulo 4ABC. Exerc´ıcio: Prove que existem triaˆngulos iso´sceles. Teorema 15: Seja 4ABC um triaˆngulo iso´sceles tal que AB≡AC. Enta˜o ∠B≡∠C e ∠C≡∠B. Dem.: Considere os triaˆngulos 4ABC e 4ACB (mesmo triaˆngulo). CB C B AA De AB≡AC, AC≡AB (simetria) e ∠BAC≡∠CAB (Axioma III.4). Temos, pelo Axioma III.5, que ∠B≡∠C e ∠C≡∠B. � 30 Definic¸a˜o 19: Um triaˆngulo 4ABC e´ congruente a um triaˆngulo 4A′B′C ′ (em notac¸a˜o: 4ABC≡4A′B′C ′) se AB≡A′B′, AC≡A′C ′, BC≡B′C ′ e, ainda, ∠A≡∠A′, ∠B≡∠B′ e ∠C≡∠C ′. Teorema 16: (Primeiro Caso de Congrueˆncia de Triangulos - LAL) Sejam4ABC e4A′B′C ′ dois triaˆngulos. Se AB≡A′B′, AC≡A′C ′ e ∠A≡∠A′, enta˜o 4ABC≡4A′B′C ′. Dem.: A B C A’ B’ C’D Pelo Axioma III.5, temos que ∠B≡∠B′ e ∠C≡∠C ′. Para provar, pela De- finic¸a˜o 19, que 4ABC≡4A′B′C ′, falta provar que BC≡B′C ′. Suponha, por absurdo, que BC e B′C ′ na˜o sejam congruentes. Enta˜o, pelo Axioma III.1, existe um ponto D na semi-reta −−−→ B′C ′ tal que BC≡B′D, e, pela hipo´tese do absurdo, D e´ distinto de C ′. Observe que ou D esta´ entre B′ e C ′, ou C ′ esta´ entre B′ e D. Em qualquer uma das situac¸o˜es, considere o triaˆngulo 4A′B′D. Note que as semi-retas −−→ A′D e −−→ A′C ′ sa˜o distintas, pois, caso contra´rio, A′, C ′ e D seriam colineares e, como C ′, D e B′ sa˜o colineares, ter´ıamos A′, B′ e C ′ colineares, o que na˜o ocorre. Agora, temos que AB≡A′B′ (hipo´tese), BC≡B′D (estabelecido acima pelo Axioma III.2) e ∠B≡∠B′ (conclu´ıdo atrave´s do Axioma III.5). Pelo Axioma III.5, obtemos que ∠≡∠B′A′D. Mas t´ınhamos, por hipo´tese, que ∠A≡∠B ′A′C ′ (ou ∠A′). Observando que as semi-retas (distintas) −−→ A′D e −−→ A′C ′ esta˜o em um mesmo semi-plano em relac¸a˜o a` reta A′B′ (pois C ′ e D esta˜o no lado da reta A′B′ - porqueˆ?) chegamos a uma contradic¸a˜o com a unicidade da semi-reta citada no Axioma III.4. Logo, BC≡B′C ′ e, portanto, 4ABC≡4A′B′C ′. � Teorema 17: (Segundo Caso de Congrueˆncia de Triaˆngulos - ALA) Sejam 4ABC e 4A′B′C ′ dois triaˆngulos tais que AB≡A′B′, ∠A≡∠A′ e ∠B≡∠B′. Enta˜o, 4ABC≡4A′B′C ′. Dem.: A C B A’ B’ C’ D 31 Vamos provar que AC≡A′C ′. Se isso ocorrer, pelo Teorema 16, temos que 4ABC≡4A′B′C ′. Suponha, por absurdo, que AC e A′C ′ na˜o sejam congruentes. Enta˜o, pelo Axioma III.1, existe um ponto D, distinto de C ′ na semi-reta −−→ A′C ′, tal que AC≡A′D. Enta˜o temos: AC≡A′D(estabelecido acima) AB≡A′B′(hipo´tese) ∠A≡∠B′A′D(ou∠A) Pelo Teorema 16, temos que 4ABC≡4A′B′D. Segue-se, da Definic¸a˜o de congrueˆncia de triaˆngulos, que ∠ABC(ou∠B)≡∠A′B′D. Mas, por hipo´tese, ∠ABC≡∠A′B′C ′. Chegamos a uma contradic¸a˜o com o Axioma III.4. � Exerc´ıcio: Sejam A, B e C tais que A∗B ∗C, e seja B ′ um ponto na semi-reta −−→ A′C ′. Se AC≡A′C ′ e AB≡A′B′. Mostre que B′ esta´ entre A′ e C ′. Teorema 18: Sejam ∠AOB e ∠BOC, e ∠A′O′B′ e ∠B′O′C ′, respectivamente dois pares de aˆngulos adjacentes suplementares. Se ∠AOB≡∠A′O′B′, enta˜o ∠BOC≡∠B′O′C ′ (ou seja, ao final teremos que suplementos de aˆngulos congruentes sa˜o congru- entes). Dem.: ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� A B C O ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� ������������������� A’ B’ C’ O’ Suponhamos, sem perda de generalidade, que OA ≡ O′A′, OB ≡ O′B′ e OC ≡ O′C ′. Enta˜o, como por hipo´tese ∠AOB ≡ ∠A′O′B′, teremos, pelo teorema 16 (1o caso de congrueˆncia de triaˆngulos), que: ∠AOB ≡ ∠A′O′B′ Segue-se, pela definic¸a˜o de congrueˆncia de triaˆngulos que: AB ≡ A′B′ e ∠BAO ≡ ∠B′A′O′. Observe agora que, como OA ≡ O′A′ e OC ≡ O′C ′, teremos pelo axioma III.3, a congrueˆncia AC ≡ A′C ′. Enta˜o, de AB ≡ A′B′, AC ≡ A′C ′ e ∠BAO ≡ ∠B′A′O′ (que e´ o mesmo que ∠BAC ≡ ∠B′A′C ′)temos, pelo teorema 16 (1o caso), que: 4BAC ≡ 4B′A′C ′. 32 Segue-se, pela definic¸a˜o de congrueˆncia de triaˆngulos, que BC ≡ B ′C ′ e ∠BCO ≡ ∠B′C ′O′. Agora, de BC ≡ B′C ′, ∠BCO ≡ B′C ′O′ e CO ≡ C ′O′ temos, pelo teorema 16, que: 4BCO ≡ 4B′C ′O′. Conclu´ımos da´ı que ∠BOC ≡ ∠B′O′C ′. � Este teorema resulta em duas consequ¨eˆncias importantes: Teorema 19: Aˆngulos opostos pelo ve´rtice sa˜o congruentes. Dem.: Sejam ∠AOB e ∠COD aˆngulos opostos pelo ve´rtice, com −→ OA e −−→ OC semi- retas opostas, e −−→ OB e −−→ OD semi-retas opostas. A BC D O Vamos mostrar que ∠AOB ≡ ∠COD e que ∠COD ≡ ∠AOB. Os aˆngulos ∠AOB e ∠AOD sa˜o adjacentes suplementares, e ∠AOD e ∠COD tambe´m sa˜o adjacentes suplementares. Pelo teorema 18, e como ∠AOD ≡ ∠AOD (axioma III.4), temosque ∠AOB ≡ ∠COD e tambe´m que ∠COD ≡ ∠AOB. � Observac¸o˜es: 1. Segue-se que ∠AOD ≡ ∠BOC e ∠BOC∠AOD. 2. Vimos que todo aˆngulo possui dois aˆngulos adjacentes suplementares, e agora estamos vendo que tais aˆngulos sa˜o congruentes. Teorema 20: Existem aˆngulos retos. Dem.: Seja −→ OA uma semi-reta qualquer e seja B um ponto na˜o incidente a` reta ←→ OA. 33 Seja −−→ OD a semi-reta do semi-plano definido pela reta ←→ OA que na˜o conte´m o ponto B, tal que ∠AOB ≡ ∠AOD (axioma III.4). A B O D Suponhamos, sem perda de generalidade, que OB ≡ OD. Consideremos enta˜o o segmento BD. Como B e D esta˜o em semi-planos distintos em relac¸a˜o a` reta ←→ OA, temos que B e D esta˜o em lados opostos da reta ←→ OA. Isto significa que existe um ponto C, entre B e D, que esta´ na reta ←→ OA. Ha´ enta˜o treˆs possibilidades: (i) C e´ o ponto O; (ii) C esta´ em −→ OA e e´ distinto de O; (iii) C esta´ na semi-reta oposta a` semi-reta −→ OA e e´ distinto de O. Se (i) ocorre, enta˜o: A B D O C as semi-retas −−→ CB e −−→ CD sa˜o opostas e como, por hipo´tese, ∠AOB ≡ ∠AOD (ou seja, ∠ACB ≡ ∠ACD) os aˆngulos ∠ACB e ∠ACD sendo adjacentes suplemen- tares, temos que ∠AOB e´ reto (definic¸a˜o de aˆngulo reto). (ii) C 6= O e C esta´ em −→ OA: 34 A B C D O De OB ≡ OD, ∠COB ≡ ∠COD e OC ≡ OC temos, pelo teorema 16 (1o caso de congrueˆncia de triaˆngulos), que os triaˆngulos 4COB ≡ ∆COD. Conclui-se da´ı que ∠BCO ≡ ∠DCO. Como C esta´ entre B e D temos que −−→ CB e −−→ CD sa˜o semi-retas opostas. Segue-se que ∠BCO e ∠DCO sa˜o adjacentes suplementares. Conclu´ımos enta˜o, pela definic¸a˜o, que ∠BCO e´ reto. (iii) C 6= O e C esta´ na semi-reta oposta a` semi-reta −→ OA: A B C D O Neste caso, como ∠COB e ∠AOB sa˜o adjacentes suplementares, ∠COD e ∠AOD tambe´m sa˜o adjacentes suplementares e, ale´m disso, ∠AOB ≡ ∠AOD, teremos pelo teorema 18, que ∠COB ≡ ∠COD. Segue-se enta˜o, de OB ≡ OD e OCOC que, pelo teorema 16, 4COB ≡ 4COD. Conclu´ımos da´ı que ∠BCO ≡ ∠DCO. Como C esta´ entre B e D, temos que −−→ CB e −−→ CD sa˜o semi-retas opostas. Segue-se que ∠BCO e ∠DCO sa˜o adjacentes suplementares. Conclu´ımos enta˜o, pela definic¸a˜o, que ∠BCO e´ reto. � Exerc´ıcio: Prove, admitindo a simetria e transitividade na congrueˆncia entre aˆngulos, que se um aˆngulo e´ congruente a um aˆngulo reto, enta˜o ele tambe´m e´ aˆngulo reto. Teorema 21: Sejam −→ OA, −−→ OB e −−→ OC treˆs semi-retas distintas com origem O, e sejam −−→ O′A′, −−−→ O′B′ e −−−→ O′C ′ treˆs semi-retas distintas com origem O′. Suponha que uma das situac¸o˜es ocorra: (a) −−→ OB e −−→ OC esta˜o no mesmo semi-plano definido pela reta ←→ OA, e −−−→ O′B′ e −−−→ O′C ′ esta˜o no mesmo semi-plano definido pela reta overleftrightarrowO′A′. 35 (b) −−→ OB e −−→ OC esta˜o em semi-planos distintos, definidos pela reta ←→ OA, e −−−→ O′B′ e −−−→ O′C ′ esta˜o em semi-planos distintos, definidos pela reta ←−→ O′A′. Se ∠BOA ≡ ∠B′O′A′ e ∠COA ≡ ∠C ′O′A′, enta˜o ∠BOC ≡ ∠B′O′C ′. Ana´lise: (a) A B C O A B C O’ ’ ’ ’ (b) ’O ’A ’C ’B O A C B Dem.: Vamos demonstrar inicialmente o caso (a). O A BC D A’ B’C’ D’ O’ Neste caso, ou −−→ OC esta´ no interior do aˆngulo ∠AOB, ou −−→ OB esta´ no interior do aˆngulo ∠AOC. Consideremos este u´ltimo caso (o outro caso e´ ana´logo). Suponhamos, sem perda de generalidade, que OA ≡ O′A′ e OC ≡ O′C ′. Segue-se, pelo teorema 13 parte (ii) (teorema da barra transversal), que a semi-reta −−→ OB intercepta o segmento AC em um ponto D (entre A e C). Seja D′ o ponto da semi-reta −−−→ O′B′ tal que OD ≡ O′D′ (axioma III.1). De OA ≡ O′A′, ∠AOC ≡ ∠A′O′C ′ e OC ≡ O′C ′ temos, pelo teorema 16, que 4AOC ≡ 4A′O′C ′. Segue-se da´ı que AC ≡ A′C ′, ∠OAC ≡ ∠O′A′C ′, e ∠OCA ≡ ∠O′C ′A′. De OA ≡ O′A′, ∠AOD ≡ ∠A′O′D′ e OD ≡ O′D′ temos, pelo teorema 16, que AD ≡ A′D′ e ∠OAD ≡ ∠O′A′D′. Observando que ∠OAC e´ o mesmo que ∠OAD e, do que foi conclu´ıdo acima, que ∠OAC ≡ ∠O′A′C ′ e ∠OAD ≡ ∠O′A′D′, temos, pelo axioma III.4, que as semi-retas −−→ A′C ′ e −−−→ A′D′ sa˜o a mesma semi-reta. 36 Como AC ≡ A′C ′, AD ≡ A′D′ e como D esta´ entre A e C segue-se, de um exerc´ıcio da aula anterior, que D′ esta´ entre A′ e C ′. Segue-se de outro exerc´ıcio (subtratividade para segmentos) que CD ≡ C ′D′. Agora, como OC ≡ O′C ′, ∠OCD ≡ ∠O′C ′D′ e CD ≡ C ′D′ temos, pelo teorema 16, que 4OCD ≡ 4O′C ′D′. Segue-se da´ı que ∠COD ≡ ∠C ′O′D′, ou seja, ∠COB ≡ ∠C ′O′B′. O caso (b) pode ser provado a partir do caso (a), observando que: A B C D O A’ B’ C’ D’ O’ (Exerc´ıcio) Teorema 22: Sejam ∠AOB e ∠A′O′B′ tais que ∠AOB ≡ ∠A′O′B′. Seja −−→ OC uma semi- reta no interior de ∠AOB. Enta˜o existe uma u´nica semi-reta −−−→ O′C ′ no interior de ∠A′O′B′ tal que ∠AOC ≡ ∠A′O′C ′ e ∠BOC ≡ ∠B′O′C ′. A B C O A’ B’ C’ O’ Dem.: Pelo axioma III.4 existe uma u´nica semi-reta −−−→ O′C ′, no mesmo semi-plano, definido pela reta ←−→ O′A′, da semi-reta −−−→ O′B′ tal que ∠AOC ≡ ∠A′O′C ′. Devemos provar que −−−→ O′C ′ esta´ no interior de ∠A′O′B′. No teorema 21 vimos que existe um ponto da semi-reta −−−→ O′C ′ que esta´ entre A′ e B′. Segue-se, do teorema 12, que aquele ponto e´ interior ao aˆngulo ∠A′O′B′. Ainda do teorema 21, temos que ∠BOC ≡ ∠B ′O′C ′. � Teorema 23: Sejam Z1 e Z2 dois pontos em semi-retas distintas definidos pela reta ←→ XY tais que XZ1 ≡ XZ2 e Y Z1 ≡ Y Z2. Enta˜o ∠XY Z1 ≡ ∠XY Z2 (e ∠XY Z2 ≡ ∠XY Z1) e ∠Y XZ1 ≡ ∠Y XZ2 (e ∠Y XZ2 ≡ ∠Y XZ1). 37 Z 1 Z 2 X Y Dem.: Suponha que X, Z1 e Z2 na˜o sejam colineares, nem Y , Z1 e Z2. O triaˆngulo4XZ1Z2 e´ iso´sceles. Pelo teorema 15 temos ∠XZ1Z2 ≡ ∠XZ2Z1 (e ∠Y Z2Z1 ≡ ∠Y Z1Z2). Da mesma forma temos que 4Y Z1Z2 e´ iso´sceles, e portanto ∠Y Z1Z2 ≡ ∠Y Z2Z1 (e ∠Y Z2Z1 ≡ ∠Y Z1Z2). Pelo teorema 21 temos que angleXZ1Y ≡ ∠XZ2Y (e, como consequ¨eˆncia das relac¸o˜es sime´tricas da congrueˆncia, neste caso, ∠XZ2Y ≡ ∠XZ1Y ). Se X, Z1 e Z2 sa˜o colineares: Z1 Z2 X Y Enta˜o Y , Z1 e Z2 na˜o sera˜o colineares (porqueˆ?) e enta˜o trabalhamos apenas com 4Y Z1Z2 e teremos ∠Y Z1X ≡ ∠Y Z2X (e ∠Y Z2X ≡ ∠Y Z1X). Segue-se, do teorema 16 (1o caso de congrueˆncia de triaˆngulos) que4XY Z1 ≡ 4XY Z2 (aqui tambe´m temos4XY Z2 ≡ 4XY Z1). Conclu´ımos da´ı que ∠XY Z1 ≡ ∠XY Z2 (e ∠XY Z2 ≡ ∠XY Z1), e tambe´m que ∠Y XZ1 ≡ ∠Y XZ2 (e ∠Y XZ2 ≡ ∠Y XZ1). � Teorema 24 - (3o caso de congrueˆncia de triaˆngulos - LLL) Sejam 4ABC e 4A′B′C ′ dois triaˆngulos tais que AB ≡ A′B′, AC ≡ A′C ′ e BC ≡ B′C ′. Enta˜o 4ABC ≡ 4A′B′C ′ (e 4A′B′C ′ ≡ 4ABC). Dem.: 38 B 0 A B C C’ B’ A’ B" Sejam −−−→ A′B0 e −−−→ A′B′′ as semi-retas em semi-planos distintos em relac¸a˜o a` reta ←−→ A′C ′, tais que ∠BAC ≡ ∠B0A ′C ′ e ∠BAC ≡ ∠B′′A′C ′ (axioma III.4), com B0 e B ′ no mesmo semi-plano. Suponha, sem perda de generalidade, que AB ≡ A′B0 e que AB ≡ A′B′′. De AB ≡ A′B0, ∠BAC ≡ ∠B0A ′C ′ e AC ≡ A′C ′, temos pelo teorema 16, que: 4ABC ≡ 4A′B0C ′. Segue-se que BC ≡ B0C ′. Analogamente teremos 4ABC ≡ 4A′B′′C ′. Segue-se que BC ≡ B′′C ′. Conclu´ımos, do axioma III.2, que B0C ′ ≡ B′′C ′. Tambe´m, de AB ≡ A′B0 e AB ≡ A′B′′, temos que A′B0 ≡ A′B′′. Do teorema 23, temos que, ∠B′′A′C ′ ≡ ∠B0A ′C ′. Por outro lado, das hipo´teses AB ≡ A′B′ e BC ≡ B′C ′, obtemos que A′B′ ≡ A′B′′ e B′C ′ ≡ B′′C ′. Pelo teorema 23 temos que ∠B′′A′C ′ e ∠B′A′C ′. Conclu´ımos enta˜o que as semi-retas −−−→ A′B0 e −−−→ A′B′ coincidem (axioma III.4), e portanto B0 = B ′. Segue-se que 4ABC ≡ 4A′B′C ′. A prova de que 4A′B′C ′ ≡ 4ABC e´ a mesma ”trocando-se as figuras”. � Teorema 25: Sejam ∠A′O′C′, ∠A′′O′′C ′′ e ∠AOC tais que ∠AOC ≡ ∠A′O′C ′ e ∠AOC ≡ ∠A′′O′′C ′′. Enta˜o ∠A′O′C ′ ≡ ∠A′′O′′C ′′. Dem.: A C O A’ O’ C’ A" O" C" 39 Suponha, sem perda de generalidade, que OA ≡ O′A′ e OA ≡ O′′A′′ , e que OC ≡ O′C ′ e OC ≡ O′′C ′′. Enta˜o de ∠AOC ≡ ∠A′O′C ′ temos, pelo teorema 16, que4AOC ≡ 4A′O′C ′. Segue-se que AC ≡ A′C ′. Agora, de ∠AOC ≡ ∠A′′O′′C ′′ temos, pelo teorema 16, que 4AOC ≡ 4A′′O′′C ′′. Segue-se que AC ≡ A′′C ′′. Da simetria e transitividade na congreˆncia de segmentos, obtemos que O′A′ ≡ O′′A′′, OC ≡ O′′C ′′ e A′C ′ ≡ A′′C ′′. Pelo teorema 24, conclu´ımos que4A′O′C ′ ≡ 4A′′O′′C ′′ e 4A′′O′′C ′′ ≡ 4A′O′C ′).Segue-se da´ı que ∠A′O′C ′ ≡ ∠A′′O′′C ′′ (e ∠A′′O′′C ′′ ≡ ∠A′O′C ′. Observac¸a˜o: Suponha que ∠AOB ≡ ∠A′O′B′. De ∠AOB ≡ ∠AOB (axi- oma II.4) e do teorema 25, obtemos ∠A′O′B′ ≡ ∠AOB (simetria). Agora suponha ∠ABC ≡ ∠DEF , e que ∠DEF ≡ ∠GHI. Da simetria obtemos, ∠DEF ≡ ∠ABC e ∠DEF ≡ ∠GHI nos da´, pelo teorema 25, ∠ABC ≡ ∠GHI (transitividade). A partir de agora podemos falar em aˆngulos congruentes e tambe´m em triaˆngulos congruentes. Teorema 26 Sejam ∠AOB e ∠A′O′B′ dois aˆngulos. Seja −−−→ O′B′ a u´nica semi-reta, no mesmo semi-plano da semi-reta −−−→ O′D′, tal que ∠A′O′B′ ≡ ∠AOB. Seja ainda −−→ OD a u´nica semi-reta, no mesmo semi-plano da semi-reta −−→ OB, tal que ∠AOB ≡ ∠A′O′D′. Se −−−→ O′B′ esta´ no interior de ∠A′O′D′, enta˜o −−→ OD esta´ no exterior de ∠AOB, e reciprocamente. ’ ’ ’ ’A B OA B O DD Obs: Se a situac¸a˜o do enunciado do teorema acima ocorre, diremos que o aˆngulo ∠AOB e´ menor do que o aˆngulo ∠A′O′D′ (ou que ∠A′O′B′ e´ menor menor do que ∠AOD), e escrevemos: ∠AOB < ∠A′O′D′. Ou que ∠A′O′D′ e´ maior do que ∠AOB, ∠A′O′D′ > ∠AOB. Dados dois aˆngulos α e β uma, e somente uma, das situac¸o˜es podera´ ocorrer: α < β, α = β, β < α 40 Nesta relac¸a˜o de menor que (ou maior que) vale a transitividade: Se α < β e β < γ, ou se α < β e β ≡ γ, ou se α ≡ β e β < γ, enta˜o α < γ. Dem: Suponha que a semi-reta −−→ OD na˜o esteja no exterior do aˆngulo ∠AOB. Enta˜o ou −−→ OD coincide com −−→ OB, ou −−→ OD esta´ no interior de ∠AOB. Se −−→ OD coincide com −−→ OB, enta˜o ∠AOD ≡ ∠AOB. ’ ’ ’ ’A B OO DD B A Mas, por hipo´tese, ∠AOB ≡ ∠A′O′B′. Mas tambe´m, por hipo´tese, ∠A′O′B′ < ∠A′O′D′ e ∠A′O′D′ ≡ ∠AOD. Por transitividade, obtemos: ∠AOD < ∠AOD. Absurdo. Se −−→ OD esta´ no exterior de ∠AOB : ’ ’AO AO E’ B’B D D’ Enta˜o, pelo teorema 22, existe uma u´nica semi-reta −−−→ O′E′, no interior de ∠A′O′B′, tal que ∠A′O′E′ ≡ ∠AOD. Mas, por hipo´tese, ∠A′O′D′ ≡ ∠AOD e, como −−−→ O′E′ e −−−→ O′D′ sa˜o distintas (porqueˆ?), teremos uma contradic¸a˜o com o axioma II.4. Logo, −−→ OD esta´ no exterior de ∠AOB. A rec´ıproca e´ ana´loga. � Obs: As semi-retas −−−→ O′E′ e −−−→ O′D′ sa˜o distintas porque −−−→ O′E′ esta´ no interior de ∠A′O′B′ e −−−→ O′D′ esta´ no exterior de ∠A′O′B′. Pois −−−→ O′B′ esta´ no interior de ∠A′O′D′: 41 ’ ’ ’ ’A B O D Teorema 27 Todos os aˆngulos retos sa˜o congruentes entre si. Dem: Sejam ∠AOB e ∠A′O′B′ aˆngulos retos. Seja C um ponto na semi-reta oposta a −→ OA, e seja C ′ um ponto na semi-reta oposta a −−→ O′A′. ’ ’A B AO O’ D B C’C Enta˜o, por definic¸a˜o (de aˆngulos retos), temos: ∠AOB ≡ ∠BOC e ∠A′O′B′ ≡ ∠B′O′C ′. Suponha, por absurdo, que ∠AOB e ∠A′O′B′ na˜o sejam congruentes. Seja −−→ OD a semi-reta no mesmo semi-plano de −−→ OB (em relac¸a˜o a` reta ←→ OA) tal que ∠AOD ≡ ∠a′O′B′ (axioma III.4). Enta˜o ou −−→ OD esta´ no interior de ∠AOB, ou −−→ OD esta´ no exterior de ∠AOB. Suponha que −−→ OD esteja no interior de ∠AOB. Enta˜o, pelo teorema 18, ∠DOC ≡ ∠B′O′C ′ Mas, por hipo´tese, ∠B′O′C ′ ≡ ∠A′O′B′. Segue-se, por transitividade, que ∠DOC ≡ ∠A′O′B′ (1) Por outro lado, como −−→ OD esta´ no interior de ∠AOB, enta˜o −−→ OB esta´ no interior de ∠DOC (por queˆ?). Segue-se que ∠DOC > ∠BOC. Mas, por definic¸a˜o, ∠BOC ≡ ∠AOB. Ainda, como −−→ OD esta´ no interior de ∠AOB, temos ∠AOB > ∠AOD, e como, por construc¸a˜o (e axioma III.4), ∠AOD ≡ ∠A′O′B′, 42 temos, por transitividade, que ∠DOC > ∠A′O′B′ (2) Contradic¸a˜o entre (1) e (2). Se −−→ OD esta´ no exterior de ∠AOB chegamos, analogamente, a uma con- tradic¸a˜o. � Obs: A comparac¸a˜o entre segmentos e´ uma consequeˆncia da unicidade do ponto no axioma III.1. A B C P D Se C ∗ P ∗D, enta˜o AB < CD. Se C ∗D ∗ P , enta˜o AB > CD. Definic¸a˜o 20 Se um aˆngulo α e´ menor do que um aˆngulo reto, enta˜o dizemos que α e´ um aˆngulo agudo. Se α e´ um aˆngulo maior do que um aˆngulo reto, dizemos que α e´ um aˆngulo obtuso. Isto e´ equivalente a dizer que um aˆngulo agudo e´ menor do que seu suple- mento, e um aˆngulo obtuso e´ maior do que seu suplemento. Definic¸a˜o 21 Os aˆngulos ∠ABC, ∠BAC e ∠ACB de um triaˆngulo 4ABC sa˜o chamados aˆngulos (internos) de 4ABC. Os suplementos daqueles aˆngulos sa˜o chamados aˆngulos externos de 4ABC. A B C Teorema 28: (Teorema dos aˆngulos externos) Qualquer aˆngulo externo de um triaˆngulo e´ maior do que os aˆngulos internos na˜o adjacentes a ele. Dem: 43 A B C D D’ Seja 4ABC um triaˆngulo qualquer e seja D um ponto na semi-reta oposta a` semi-reta −−→ AB tal que AD ≡ DC. Vamos provar que ∠CAD > ∠ACB. Inicialmente provaremos que ∠CAD e ∠ACB na˜o sa˜o congruentes. Suponha, por absurdo, que ∠CAD ≡ ∠ACB. Enta˜o, 4CAD ≡ 4ACB, pois AD ≡ BC, ∠CAD ≡ ∠ACB e CA ≡ CA (teorema 16 - LAL) Segue-se que ∠DCA ≡ ∠BAC. Mas enta˜o, como ∠BAC e´ suplemento de ∠DAC teremos, pelo teorema 18, que o suplemento de ∠ACB e´ congruente a ∠BAC. Mas enta˜o, pelo axioma II.4, ∠DCA e´ o suplemento de ∠ACB. Segue-se que −−→ CD e −−→ CB sa˜o opostas, ou seja, D esta´ na reta ←→ BC, e como D, A e B sa˜o colineares, ter´ıamos que C estaria na reta ←→ AB, contradizendo o fato de que 4ABC e´ um triaˆngulo. Vamos provar agora que ∠CAD na˜o e´ menor do que ∠ACB. Suponha, por absurdo, que ∠CAD ≡ ∠ACB. A B C D E Enta˜o existe uma u´nica semi-reta no interior do aˆngulo ∠ACB com origem C tal que o aˆngulo formado por esta semi-reta e pela semi-reta −→ CA e´ congruente a ∠CAD. Pelo teorema da barra trasversal (teorema 13, item (b)), aquela semi-reta intercepta AB em um ponto E que esta´ entre A e B. Mas enta˜o, o aˆngulo ∠CAD, externo ao triaˆngulo4ACE em A, e´ congruente ao aˆngulo interno ∠ACE, contradizendo o que foi provado anteriormente. Logo, o aˆngulo ∠CAD > ∠ACB. Analogamente prova-se que o aˆngulo externo ao aˆngulo ∠BAC, que e´ oposto pelo ve´rtice a ∠CAD, e´ maior do que ∠ABC. 44 � Consequeˆncias do teorema dos aˆngulos externos Teorema 29 (Existeˆncia de paralelas) Dada uma reta r qualquer, existe uma reta paralela a r. Dem: Seja P um ponto na˜o incidente a r. Vamos provar que por P passa uma reta paralela a r. A r C P B Q Sejam A e B pontos de r. Seja −−→ PC a semi-reta no semi-plano distinto do semi-plano do ponto B em relac¸a˜o a` reta ←→ PA, tal que ∠APC ≡ ∠PAB (axioma III.4). Considere a reta s que passa por P e C. Veremos que s e´ paralela a r. Suponha que s e r na˜o sejam paralelas. Enta˜o elas se interceptam em um ponto Q. Se Q esta´ no mesmo semi-plano que B enta˜o ∠APC e´ aˆngulo externo ao triaˆngulo 4APQ e e´ congruente ao aˆngulo interno ∠PAQ, contradizendo o teorema dos aˆngulos externos. Se Q esta´ no semi-plano distinto de B enta˜o ∠PAB e´ aˆngulo externo do 4PAQ que e´ congruente ao aˆngulo interno ∠APQ, contradizendo o teorema dos aˆngulos externos. Logo, s na˜o intercepta r, ou seja, tais retas sa˜o paralelas. � Teorema 30Dados dois lados na˜o congruentes de um triaˆngulo, ao maior deles opoˆe-se o maior aˆngulo. Dem: 45 A B C C’ Suponha que AB > BC. Vamos provar que ∠ACB > ∠BAC. Seja C ′ o ponto entre A e B tal que BC ′ ≡ BC (axioma III.1 e teorema 14). Enta˜o a semi-reta −−→ CC ′ esta´ no interior de ∠ACB, e portanto ∠BCC ′ < ∠ACB. O triaˆngulo 4BCC ′ e´ iso´sceles, com BC ′ ≡ BC. Segue-se, do teorema 15, que ∠BC ′C ≡ ∠BCC ′. O aˆngulo ∠BC ′C e´ externo em C ′ do 4AC ′C. Segue-se, pelo teorema dos aˆngulos externos, que ∠C ′AC < ∠BC ′C. Por transitividade temos ∠BAC < ∠ACB. � Obs: Vale a rec´ıproca: dados dois aˆngulos na˜o congruentes de um triaˆngulo, ao maior deles opo˜e-se o maior lado. (Prove) A B C Teorema 31 - Rec´ıproca do teorema 15 Se um triaˆngulo possui dois aˆngulos congruentes enta˜o ele e´ iso´sceles. Dem: Seja 4ABC um triaˆngulo com ∠BAC ≡ ∠ABC. A B C Vamos provar que BC ≡ AC. Suponha, por absurdo, que BC na˜o seja congruente a AC. Enta˜o BC > AC, ou BC < AC. 46 Se BC > AC teremos, pelo teorema 30, que ∠BAC > ∠ABC, contradizendo a hipo´tese. Analogamente chega-se a uma contradic¸a˜o se BC < AC. � Teorema 32 - Caso especial de congrueˆncia de triaˆngulos Sejam 4ABC e 4A′B′C ′ dois triaˆngulos tais que AB ≡ A′B′, ∠A ≡ ∠A′ e ∠C ≡ ∠C ′. Enta˜o 4ABC ≡ 4A′B′C ′. D C A B A’ B’ C’ Dem: Vamos provar que AC ≡ A′C ′. E enta˜o, pelo 1o caso de congrueˆncia de triaˆngulos (teorema 16) teremos que 4ABC ≡ 4A′B′C ′. Suponha que AC e A′C ′ na˜o sejam congruentes. Suponha A′C ′ < AC (o caso AC < A′C ′ e´ ana´logo). Seja D o ponto entre A e C tal que AD ≡ A′C ′. Enta˜o 4ABD ≡ 4A′B′C ′, pois: AD ≡ A′C ′, ∠A ≡ ∠A′ e AB ≡ A′B′ (1o caso - teorema 16). Segue-se que ∠ADB ≡ ∠C ′. Mas, pelo teorema dos aˆngulos externos, teremos que ∠ADB > ∠ACB (∠C), e por hipo´tese, ∠C ≡ ∠C ′. Chegamos a uma contradic¸a˜o. � Definic¸a˜o 22 Um ponto P e´ dito ponto me´dio de um segmento AB se AP ≡ BP . Obs: Desta definic¸a˜o deduzimos que um ponto me´dio de um segmento esta´ entre as extremidades deste segmento (se existir um tal ponto me´dio) - Exerc´ıcio. Na˜o sabemos ainda se todo segmento possui um ponto me´dio e, se possui, se ele e´ u´nico. Definic¸a˜o 23 Dado um aˆngulo ∠AOB, uma semi-reta −−→ OP e´ dita bissetriz de ∠AOB se ∠AOP ≡ ∠BOP . Obs: Da definic¸a˜o na˜o podemos inferir a existeˆncia e a unicidade da bissetriz de um aˆngulo. se existir tal bissetriz, enta˜o ela sera´ uma semi-reta no interior do aˆngulo. (Exerc´ıcio) 47 Teorema 33 Todo segmento possui um u´nico ponto me´dio. Dem: Seja AB um segmento qualquer. Seja C um ponto fora da reta ←→ AB. No semi-plano distinto do semi-plano (em relac¸a˜o a` reta ←→ AB) que conte´m o ponto C, marquemos um aˆngulo ∠ABD tal que ∠BAC ≡ ∠ABD (axioma III.4). Sem perda de generalidade, podemos considerar que overlineBD ≡ AC. Os pontos C e D esta˜o em semi-planos distintos (em relac¸a˜o a` reta ←→ AB), ou seja, C e D esta˜o em semi-planos distintos da reta ←→ AB. Portanto existe um ponto M na reta ←→ AB que esta´ entre C e D. Vamos provar agora que M esta´ entre A e B. Se M for A (ou B): A M B C D Teremos uma contradic¸a˜o com o teorema dos aˆngulos externos pois, por construc¸a˜o, o aˆngulo externo ∠BAC, de 4ABD e´ congruente ao aˆngulo interno ∠ABD desse triaˆngulo. Se M na˜o pertence a AB (suponha que B esteja entre A e M - o outro caso, M ∗A ∗B, e´ ana´logo), A B D C M enta˜o novamente teremos uma contradic¸a˜o pois, pelo teorema dos aˆngulos ex- ternos, ∠ABD > ∠BMD (∠ABD e´ externo ao 4BMD), e ∠BMD > ∠MAC 48 (∠BMD e´ externo ao 4AMC), ou seja, ∠BMD > ∠BAC. Por transitividade teremos ∠ABD > ∠BAC, contradizendo a construc¸a˜o feita no in´ıcio desta demonstrac¸a˜o. Logo, M esta´ entre A e B. A B C D M Considere agora os triaˆngulos 4AMC e 4BMD. Temos: ∠MAC ≡ ∠MDB (construc¸a˜o) AC ≡ BD (construc¸a˜o) ∠AMC ≡ ∠BMD (opostos pelo ve´rtice - teorema 19) Segue-se, pelo caso especial de congrueˆncia de triaˆngulos (teorema 32), que 4AMC ≡ 4BMD. Segue-se que AM ≡ BM , e portanto M e´ ponto me´dio de AB. Vejamos agora que M e´ o u´nico ponto me´dio de AB. Suponha, por construc¸a˜o, que exista um ponto N , distinto de M , tal que AN ≡ BN . Sabemos que N deve estar entre A e B. Enta˜o N esta´ entre B e M , ou N esta´ entre A e M . Suponha que N esteja entre B e M (o outro caso e´ ana´logo). Enta˜o M esta´ entre A e N (exerc´ıcio 5 da lista 2). Segue-se que: AN > AM (1) Mas, AM ≡ BM (2) Por outro lado, de M ∗N ∗B, temos BM > BN (3). Por transitividade de (1), (2) e (3), obtemos: AN > BN. Contradic¸a˜o. Logo, M e´ o u´nico ponto me´dio de AB. � Teorema 34 49 Todo aˆngulo possui uma u´nica bissetriz. Dem: Seja ∠AOB um aˆngulo qualquer. Suponha, sem perda de generalidade, que OA ≡ OB. A B MO Pelo torema 33, AB possui um ponto me´dio M (AM ≡ BM) que esta´ no interior de ∠AOB (teorema 12). Enta˜o, 4MOA ≡ 4MOB, pois: OA ≡ OB (hipo´tese) AM ≡ BM ( M ponto me´dio) e OM ≡ OM caso LLL - teorema 24. Segue-se que ∠BOM ≡ ∠AOM , ou seja, −−→ OM e´ bissetriz de ∠AOB. Unicidade: (exerc´ıcio). Definic¸a˜o 24 Duas retassa˜o ditas perpendiculares se elas se interceptam em um ponto O que e´ ve´rtice de um aˆngulo reto cujos lados sa˜o semi-retas respectivamente con- tidas em cada uma daquelas retas. Ja´ provamos, no teorema 20, que dado um ponto P fora de uma reta r, existe uma reta perpendicular a` reta r, passando por P . Vejamos que esta reta perpendicular e´ u´nica. Teorema 35 Por um ponto P fora de uma reta r passa uma u´nica reta perpendicular a r. Dem: Suponha, por absurdo, que existam retas s e t, perpendiculares a r, passando por P . 50 A B D s t r C P Sejam A e B as intersecc¸o˜es de s e t respectivamente com r. Sejam C e D na reta ←→ AB tais que C ∗A∗B e A∗B ∗D. Enta˜o ∠PAC e´ reto e externo ao triaˆngulo 4PBA (reto, teorema 37). Contradic¸a˜o com o teorema dos aˆngulos externos. Logo, existe uma u´nica perpendicular. � Definic¸a˜o 25 Um triaˆngulo e´ dito retaˆngulo se ele possui um aˆngulo interno reto. Definic¸a˜o 26 Uma reta e´ dita mediatriz de um segmento se ela for perpendicular a` reta que conte´m esse segmento no ponto me´dio dele. Obs: Como consequeˆncia do teorema 33 e da existeˆncia e unicidade da perpen- dicular a` uma reta por um ponto desta reta, temos que todo segmento possui uma u´nica mediatriz. Teorema 36 Dado um segmento AB e um ponto P , tem-se que PA ≡ PB se, e somente se, P for incidente a` mediatriz de AB. Dem: Seja P um ponto da mediatriz de AB. Se P for M , o ponto me´dio de AB, enta˜o, por definic¸a˜o, temos PA ≡ PB. Se P na˜o for o ponto me´dio de AB enta˜o P na˜o e´ incidente a` reta ←→ AB, e portanto4PMA e4PMB sa˜o triaˆngulos. A BM P 51 Mas enta˜o 4PMA ≡ 4PMB, pois: PM ≡ PM ∠PMA ≡ ∠PMB AM ≡ BM caso LAL (teorema 16). Segue-se que PA ≡ PB. Seja agora P um ponto tal que PA ≡ PB. Se P for M enta˜o P , por difinic¸a˜o esta´ na mediatriz de AB. Se P na˜o for M enta˜o, como PA ≡ PB, resulta da unicidade do ponto me´dio, que P na˜o esta´ na reta ←→ AB. Segue-se que P , A e B sa˜o na˜o colineares. A M B P Considere os triaˆngulos 4PMA e 4PMB. Enta˜o 4PMA ≡ 4PMB, pois: PA ≡ PB (hipo´tese) AM ≡ BM (M ponto me´dio) PM ≡ PM caso LLL (teorema 24). Segue-se que ∠PMA ≡ ∠PMB. Mas tais aˆngulos sa˜o suplementares. Segue- se, por definic¸a˜o, que ∠PMA e ∠PMB sa˜o retos. Enta˜o a reta ←−→ PM e´ perpen- dicular a` reta ←→ AB e passa pelo ponto me´dio M de AB. Logo, ←−→ PM e´ mediatriz de AB, e P e´ incidente a ela. � Teorema 37 Seja ∠AOB um aˆngulo e seja P um ponto no interior de ∠AOB e sejam A′ e B′ pontos nos lados −→ OA e −−→ OB
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