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1 ANÁLISE SOBRE POSSÍVEIS CAUSAS DA EROSÃO NA PRAIA DA ARMAÇÃO, SC Isabelle Fonseca isabellelfonseca@gmail.com Jéssica Sousa jessicasousa_95@yahoo.com.br Suéllen Babeto suellenbabeto@gmail.com Obras Hidráulicas e Portos I – Professora Gisele Ortolani Resumo Palavras-chave: Morfodinâmica, Praia da Armação, Erosão, Ocupação Costeira, Sedimentos. Introdução A erosão é o processo de desagregação e transporte das partículas do solo pela água (erosão hídrica) ou pelo vento (erosão eólica). A morfodinâmica praial é um método de estudo o qual integra observações morfológicas e dinâmicas numa descrição mais completa e coerente da praia e zona de arrebentação. É possível entender os processos e a dinâmica de funcionamento de uma região costeira. Dentre os ecossistemas costeiros, as praias oceânicas estão entre os ambientes mais dinâmicos e sensíveis do planeta. Segundo Nordstrom (2010), os litorais do mundo estão sendo transformados em artefatos por meio de ações danosas, como a eliminação de dunas para facilitar a construção de edifícios e de infraestrutura urbana. O litoral catarinense que vêm apresentando processos visíveis de erosão costeira e que necessitam de medidas de recuperação urgentes (Klein et al., 1999). 2 A ocupação desordenada da zona costeira ocorreu na maioria das vezes sobre o sistema de dunas frontais com a implantação de avenidas beira-mar e construção de calçadões sobre o prisma ativo da praia. Foi verificado ainda que os locais onde foram construídos muros de contenção com o objetivo de evitar a retração da linha de costa, são os mais afetados durante os eventos de tempestades, sendo observados muitas vezes o colapso total destas obras. Muehe (2005) afirma que a identificação das causas da erosão costeira tem sido frequentemente um exercício de adivinhação devido à falta de informações sobre a tendência de variação do nível do mar, do clima de ondas e da evolução da linha de costa. Assim sendo tem sido difícil distinguir entre episódios de erosão ou as tendências de longo prazo. Soma-se a isso, em muitos casos, a falta de consenso sobre a tendência evolutiva de um dado segmento costeiro devido a diferenças metodológicas na investigação ou no período de tempo analisado temos como realidade desastres como agua invadindo moradia da população próxima a costa. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Maré de tempestade A maré de tempestade ou maré ciclônica, pode ser conceituada pela forma como, uma elevação da água junto à costa. Esse fenômeno ocorre devido a vários fatores climáticos, por exemplo, baixa pressão, quase sempre um ciclone tropical. Geralmente é causado pelos fortes ventos que impulsionam a superfície do oceano. 3 Pode-se afirmar que a maré de tempestade é uma sobre-elevação do nível do mar devida a pressão atmosférica baixa e à ação do vento sobre a superfície marinha. A costa brasileira sofre frequentemente com diversos perigos costeiros, sendo o principal deles fenômenos climáticos extremos. Esses perigos desencadeiam quatro principais processos costeiros responsáveis por danos em todo litoral brasileiro: ventos, ondas, inundações e erosão (GARES et al., 1994, apud RUDORFF, 2005 apud PEREIRA, 2010). Na ilha de Santa Catarina podemos encontrar esses quatro processos destrutivos. Os ciclones no Hemisfério Sul são centros de baixa pressão em relação às áreas circundantes, com movimento horizontal de ar, no sentido horário – no Hemisfério Norte ocorre no sentido anti-horário - podendo deslocar-se com grande velocidade (RIBEIRO, 2003 apud PEREIRA, 2010). Segundo Pereira (2010), quando um ciclone tropical, que é um distúrbio atmosférico que se propaga ao longo de frentes polares, sendo relativamente comum no Oceano Atlântico Sul, ocorre próximo à costa catarinense pode gerar ventos fortes, marés de tempestade (ressacas), elevados índices de precipitação e inundações costeiras. O maior causador de ressacas no litoral sul do Brasil, está relacionado aos ciclones extratropicais. Em geral, somente na costa Sul do Brasil no período entre abril e setembro, verificam-se, em média, cerca de dois casos de ciclones que resultam em alterações significativas nas condições do mar. Esse período pode ser chamado de “temporada de ressacas” devido à maior intensificação dos distúrbios atmosféricos. (CHAVES, 2005 apud PEREIRA, 2010) Fatos Importantes As marés de tempestade são causadas pela baixa pressão no olho de um furacão. A baixa pressão aumenta o nível de água do oceano e forma uma cúpula. 4 Essa quantidade maior de água viaja com a tempestade, criando ondas de mais de seis metros que eventualmente atingem o litoral e causam uma enorme inundação. Enrocamento A barragem de enrocamento é aquela que são utilizados blocos de rocha de tamanho variável e uma membrana impermeável na face de montante. O custo para a produção de grandes quantidades de rocha, para a construção desse tipo de barragem, somente é econômico em áreas onde o custo do concreto fosse elevado ou onde ocorresse escassez de materiais terrosos e houvesse, ainda, excesso de rocha dura e resistente. Deve-se lembrar que a rocha de fundação adequada para uma barragem de enrocamento pode não ser aceitável para uma de concreto. (MARANGON, 2004). Atualmente existe um tipo de enrocamento utilizado para contenção de cheias em praias, pode-se exemplifica-la como: Enrocamento de Pedra Jogada Pode-se dizer que o enrocamento de pedra jogada, nada mais é que, estruturas constituídas de pedras de mão arrumada, matacões ou por pedras jogadas, sem emprego de aglomerante, que podem ser utilizados na construção de contenções, diques e dissipadores de energia, recuperação de erosões e proteção de taludes e de obras. (Schramm, s.d.) O enrocamento de pedras jogadas podem ser utilizados para: Proteção de aterros contra os efeitos erosivos ou solapamentos, causadas pelas águas provenientes do curso d’água próximos, em épocas de enchentes. (CEHOP) (Figura 1). 5 Figura 1- Estrutura de pedra jogada Transporte Sedimentar Para ter uma melhor compreensão do transporte sedimentar, precisa-se conhecer sobre sedimentos e suas características. Os sedimentos são pedaços de solo ou de rochas deteriorados em pequenas partes, ou até em pó ou poeira. Quando esses sedimentos se aglutinam, dão origem às rochas sedimentares. A formação de sedimentos pode ser ocasionada pela água ou pelos ventos. Denomina-se sedimentos, toda partícula derivada das rochas ou de materiais biológicos capaz de ser transportada por um fluido. (CARVALHO et. al., 2000 apud BARTELLI, 2012). As praias são ambientes costeiros formados por sedimentos, geralmente arenosos, que são acumulados e frequentemente transportados pela ação das ondas, correntes e marés (SIMÓ, 2003 apud PEREIRA, 2010). De acordo com Souza (1997) apud Pereira (2010), os processos sedimentares que ocorrem em uma praia são fruto de fatores oceanográficos/hidrológicos, meteorológicos/climáticos, geológicos e antrópicos. As características granulométricas e a magnitude do depósito sedimentar praial estão relacionadas à natureza e abundância da área fonte e à capacidade das 6 ondas e correntes costeiras resultantes em deslocar, transversal e longitudinalmente à linha de costa, o material sedimentar disponível. (ABREU, 2011) Ainda para Abreu (2011), considerando uma determinada fonte de sedimentos, com base nos pressupostos de que partículas mais leves (ou mais finas) apresentam maior probabilidadede serem transportadas e de que partículas mais densas (ou mais grossas) têm maior probabilidade de serem depositadas durante o processo de transporte, postula-se que algumas tendências refletem a direção preferencial do transporte sedimentar. Em relação a uma área fonte hipotética, independentemente das condições iniciais de erosão (maior ou menor competência do agente em erodir partículas mais grossas), um depósito pode se tornar mais fino, melhor selecionado e assimetricamente mais negativo quando sofre deposição total. Em caso de deposição seletiva do material durante o transporte, os depósitos sucessivos podem manter o tamanho médio do grão ou se tornar mais finos ou mais grossos no sentido do transporte, mas sempre devem apresentar melhor grau de selecionamento e assimetria mais positiva. Outro caso, que reflete a granulométrica remanescente de um depósito após ter sido erodido, é caracterizado pelo incremento na granulometria média, melhor seleção dos sedimentos e assimetria mais positiva. Erosão Costeira Pode-se definir erosão como um desgaste da superfície terrestre causada pela ação mecânica e química da água corrente, das intempéries ou outros agentes geológicos. No Brasil, os estudos sobre erosão costeira são relativamente recentes, ganhando grande expressão a partir da década de 1990 (Souza et al., 2005 apud Souza, 2009). As causas da erosão costeira no Brasil são atribuídas a uma gama de fatores naturais e a diversas intervenções antrópicas na ZC, como mostra a Tabela 1. 7 Tabela 1- Causas naturais e antrópicas da erosão costeira no Brasil (Souza et al., 2005; Souza, 2009) A identificação das causas da erosão costeira tem sido frequentemente um exercício de adivinhação devido à falta de informações sobre a tendência de variação do nível do mar, do clima de ondas e da evolução da linha de costa. Assim sendo tem sido difícil distinguir entre episódios de erosão ou progradação de tendências de longo prazo. Soma-se a isso. Em muitos casos, a falta de consenso sobre a tendência evolutiva de um dado segmento costeiro devido a diferenças metodológicas na investigação ou no período de tempo analisado. No Brasil, a maior parte do litoral encontra-se em erosão, tendo um panorama geral da distribuição de áreas de erosão na costa brasileira sido apresentado por (Muehe, 2006). Particularmente no Estado de Santa Catarina, onde cerca de sessenta e oito por cento da população encontra-se na zona costeira, a erosão vem causando sérios danos materiais. Estudos apontam que ela é, em grande parte, consequência da ocupação indevida da orla, sendo que a maior parte dos danos ocorre durante eventos de tempestades extratropicais, especialmente quando associadas a marés de sizígia (Komar, 1976, Komar et al. 1999; Simó & Horn Filho; Rudorffet al., 2005 apud RUDORFF, 2010). 8 Molhe O molhe pode ser definido como um paredão nos portos marítimos, a modo de cais, destinado a proteger das vagas do mar as embarcações, podendo dispor de berços para atracação; quebra-mar. Os molhes são obras de proteção costeira perpendiculares a linha de costa, geralmente construídos em material rochoso. O histórico de impacto dos molhes no litoral brasileiro é bastante conhecido pela literatura. A partir da década de 1970 evidencia-se intensa construção de molhes ao longo da costa brasileira, que por não possuírem estudos prévios ou completos de dinâmica costeira local e regional, acarretaram em sérios problemas costeiros. Os efeitos atribuídos à presença de molhes são diversos. (PEREIRA, 2010) De acordo com a obra Ecossistema Brasileiros: Manejo e Conservação, organizada por Claudino Sales (2003), estudos relacionados às ciências biológicas indicam que tais construções podem promover perturbações no ambiente natural. [...], porém, os molhes também podem trazer benefícios a comunidades de seres vivos. (PEREIRA, 2010) Perfil Praial O perfil praial é um perfil de equilíbrio móvel. O material que compõe, sob ação de uma hidrodinâmica própria, é frequentemente deslocado. A partir das condições momentâneas, um perfil praial estabelece rapidamente seu equilíbrio, como nas tempestades, quando se modifica instantaneamente e se reestrutura na sucessão de dias com o tempo bom. (KOHLER, 2000) A praia é capaz de manter-se em equilíbrio dinâmico com seu meio ambiente devido à mobilidade inerente de seus grãos (PETRICK, 1984 apud KOHLER, 2000) De acordo com Derruau (1966) apud Koler (2000) “o perfil da praia se estabelece muito rapidamente em equilíbrio com as condições momentâneas, as tempestades o modificam subitamente e a sucessão de dias o modifica lenta, mas constantemente. ” Os perfis praias podem ser classificados em: 9 1. No estado dissipativo a zona de surfe é larga, apresenta baixo gradiente topográfico e elevado estoque de areia na porção subaquosa da praia. Condições dissipativas são favorecidas pela ocorrência de ondas altas e de elevada esbeltez (tempestade) ou pela presença de areias de granulometria fina. Geralmente, em tais condições, a zona de surfe é "saturada", ou seja, as ondas arrebentam longe da face da praia, decaindo progressivamente em altura à medida que dissipam sua energia através da arrebentação. 2. O estado refletivo, ao contrário, é caracterizado por elevados gradientes de praia e fundo marinho adjacente, o que reduz sensivelmente a largura da zona de surfe. Tende a prevalecerem praias fortemente compartimentadas, em zonas protegidas entre promontórios, na presença de areias grossas ou após longos períodos de acresção. 3. O intermediário apresenta propriedades de ambos extremos, dissipativo e refletivo. São geralmente caracterizados por uma progressiva redução da largura da calha longitudinal (longshore trough), em decorrência da migração do banco submarino da zona de arrebentação em direção à praia o que por sua vez, é uma resposta às variações nas características hidrodinâmicas. A praia da Armação é limitada pelo promontório rochoso do morro das Pedras ao norte, e pelo tômbolo formado entre a praia e aIlha das Campanhas, ao sul, denotando uma enseada ou embaiamento em espiral. Estende-se por cerca de 3500 m, orientada no sentido N-S, e apresentando perfil refletivo ao norte passando a intermediário, nas porções centrais, e a dissipativo no Sul (Castilhos, 1995). Consiste numa praia exposta às ondulações dos quadrantes (leste e sul), e apresenta um grau de ocupação crescente de norte a sul. (MAZZER & DILLENBURG, 2009). ÁREA DE ESTUDO A Ilha de Santa Catarina está localizada no Litoral Central do Estado de Santa Catarina. Com uma área de 401 km², a Ilha apresenta na sua face oeste 10 paisagens bem mais ligadas ao espaço urbano de Florianópolis. Na sua face leste, exposta ao mar aberto, às ondas oceânicas, aos ventos prevalentes e aos dominantes, as planícies são margeadas por praias extensas e cordões, ornadas com dunas vivas ou recobertas por vegetação (CRUZ, 1998). Apresenta uma forma alongada no sentido norte/sul com 54 km de extensão; e com largura máxima de 18 km no sentido leste (IPUF, 2008). A Ilha é totalmente banhada pelo Oceano Atlântico e individualizada do continente pelas baías Norte e Sul através de um estreito de aproximadamente 500 metros de largura. Na porção sudeste da Ilha está inserida a área de estudo deste trabalho (Figura 10). A Praia da Armação é classificada por Abreu de Castilhos (1995) como sendo do tipo logarítmico-espiral, com orientação oblíqua em relação às ondulações dominantes de NE e S-SE e associada à presença em sua extremidade Sul da Ponta das Campanhas. Figura2 Localização da área de estudo 11 Fisiografia e Geomorfologia A Praia de Armação do pântano do Sul é localizada em um município de Florianópolis-SC, fica situada a 25 quilômetros de centro de Florianópolis (Figura 3). Além disso a praia de armação se localiza na Ilha de Santa Catarina que possui uma área de 424,40km², compreendendo uma extensão de 54km no sentido norte-sul e 18km no sentido Leste-Oeste (IPUF, 2004) e corresponde à parte insular do município de Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina. Figura 3- Localização da praia de Armação Na perspectiva geomorfológica, a planície costeira da Ilha de Santa Catarina é denominada Planície Litorânea (Rosa & Herrman, 1986), possuindo uma largura variável, sendo constituída por feições como barreiras arenosas, lagunas, lagoas costeiras, dunas ativas e inativas, planícies de cristas praiais e áreas alagadiças associadas a manguezais, apicuns, marismas e canais de maré. (desconhecido) Clima O clima do litoral do Estado de Santa Catarina caracteriza-se, por sua exposição às influências do clima temperado meridional, subtropical e tropical, caracterizando uma zona de transição climática. Dados climáticos referentes à Ilha 12 de Santa Catarina indicam temperatura média anual de 21,5° e precipitação média anual de 1492 mm. Tais características climáticas ocorrem pela influência de quatro principais sistemas atmosféricos: Baixa Pressão Móvel Polar, Anticiclone do Atlântico Sul, Anticiclone do Pacífico Sul e, Centro de Baixa Pressão do “Chaco” (Bigarella et al., 1994 apud Autor desconhecido) Esses sistemas associam se aos principais eventos meteorológicos, os quais têm influência direta nos processos morfodinâmicos da linha de costa na forma de geração de ondas marítimas e de marés meteorológicas. Estas são controladas basicamente por três mecanismos: sistemas frontais, ciclones extra-tropicais e atuação semi-permanente do sistema de alta pressão, ou Anticiclone do Oceano Atlântico Sul. Os dois primeiros mecanismos apresentam amplos gradientes de pressão atmosférica, gerando consequentemente ventos de forte intensidade do quadrante sul, enquanto o anticiclone ocorre em caráter semipermanente, representando 80 % das ocorrências de vento na zona costeira catarinense ao longo do ano (Porto F°, 1993 apud MAZZER & DILLENBURG, 2009). No estado de Santa Catarina é mais comum a formação de ventos intensos que favorecem o fenômeno das marés meteorológicas associadas a ondas de tempestade no inverno. Esses ventos são formados a partir do forte gradiente de pressão entre o Anticiclone Polar e o ciclone extratropical. Os ciclones extratropicais mais severos na região geralmente apresentam ventos com intensidade que variam entre 89 a 117 km/h (MARCELINO e MARCELINO, 2006 apud MULER, 2012). Ocupação do solo A Praia da Armação apresenta trechos de construções intercaladas com áreas vegetadas e trechos de ocupação/construções em 54% de seu backshore (retropraia), sendo os 46% restantes dunas vegetadas (norte). Vale ressaltar que no reverso dessa feição de dunas está presente a Rodovia SC-406, a uma distância aproximada de 100 metros da linha de costa. Nesta praia, nota-se a urbanização avançando no sentido sul-norte. O maior trecho com ocupação/construções (suscetibilidade muito alta) é encontrado na extremidade sul, seguido pelo trecho de 13 vegetação com construções dispersas (setor central; 120 suscetibilidade moderada), chegando-se ao norte com dunas vegetadas (suscetibilidade muito baixa). Figura 4 Tipo de backshore e classes de suscetibilidade. O acelerado processo de urbanização verificado no litoral centro-norte de Santa Catarina acarretou um incremento populacional considerável, especialmente nos últimos 30 anos. Uma tendência de “unificação” das zonas urbanas dos municípios por meio do processo de conurbação foi verificado, sobretudo, a partir da construção da BR-101 na década de 70 sem, no entanto, levar em consideração planejamentos locais e regionais efetivos. A ocupação destas áreas ocorreu, inicialmente, através da construção de ranchos de pesca, que foram gradativamente substituídos pela infraestrutura turística impulsionada pelo crescente processo imobiliário a partir da década de sessenta. (Klein, et al.) ESTUDO DE CASO A zona costeira do Estado de Santa Catarina está sujeita a fenômenos que incluem eventos periódicos extremos, como ciclones extratropicais e passagem de sistemas frontais e processos contínuos tais como ventos, ondas e marés. Devido à intensidade e abrangência destes fenômenos eles podem constituir um perigo ao 14 sistema social costeiro. Os processos costeiros perigosos consistem de quatro componentes primários: vento, ondas, inundações e erosão (Komar, 1983). Na Ilha de Santa Catarina as mudanças na linha de costa, especialmente aquelas associadas às intervenções de natureza antrópica, vêm sendo significativas e encontram-se a uma taxa de erosão interdecadal média de 0,52 m/ano em praias dominadas por ondas no sul da Ilha (Mazzer & Dillenburg - no prelo). Simó & Horn Fº (2004) apontaram as praias do Pântano do Sul, Armação, Ingleses, Canasvieiras, como áreas de risco de erosão relacionados à ressacas na Ilha de Santa Catarina. Tais apontamentos indicam que o processo erosivo das praias e linha de costa, é um fenômeno consolidado no litoral catarinense. Figura 5- Variações temporais na posição da linha de costa na Praia da Armação de 1938 a 2002 O caso da Praia da Armação do Pântano do Sul é um dos mais críticos correspondente a uma rápida e intensa erosão sobre a linha de dunas e de zoneamento urbano na Praia da Armação do Pântano do Sul, sudeste da Ilha de Santa Catarina, município de Florianópolis, cujo processo intensificou-se durante os meses de abril e maio de 2010, como apresentado na Figura 5. 15 A erosão extrema na Praia da Armação pode causar um desastre natural sem precedentes na Lagoa do Peri que poderá ter suas águas salgadas se além da construção do muro (enrocamento), que foi executado em 2010, não for executada uma recuperação efetiva da faixa de areia. A conclusão faz parte de um parecer técnico elaborado pelo geógrafo Alexandre Felix, mestrando em Geologia Marinha e Geomorfologia Costeira da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, e pelo geógrafo José Maurício de Camargo. Figura 6- Avanço do mar entre abril e maio de 2010, Praia da Armação – SC A natureza busca um equilíbrio estável para o perfil de praia. Quando ocorrem mudanças nas quantidades de sólidos transportados, o perfil reage conforme as alterações impostas. Se a carga sólida é grande, haverá a tendência de formação de depósitos, ocorrendo o assoreamento da costa. Pelo contrário, se a carga sólida é pequena, o mar responde com a erosão da praia (CARVALHO, 2008). Em condições normais, a forma da praia se estabiliza com os fenômenos cíclicos de erosão e reposição de forma natural. Por outro lado, em condições de tempestades com elevação do nível do mar e da altura das ondas, podem ocorrer efeitos devastadores de erosão costeira (Sunamura, 1988). Neste caso, as ondas podem ultrapassar a zona subaérea e atingir a região de dunas. Como estas zonas 16 são altamente vulneráveis ao ataque das ondas, um inesperado e intenso processo erosivo é deflagrado, acarretando grandes quantidades de materiais depositados no fundo da zona de surfe e da antepraia. Dependendo da nova configuração da praia pós-tempestade, a ação normal das ondas pode tanto restaurar a forma original quanto tornar a nova configuração da praia permanente, e foi issoque aconteceu na Praia da Armação. Figura 7 - Antes e depois da praia de Armação As obras de Engenharia Costeira alteram o equilíbrio estabelecido em um litoral, alterando o regime natural de transporte de sedimentos. Assim, torna-se imprescindível ao engenheiro civil que se ocupa de trabalhos marítimos conhecer o modo e a intensidade com que se processa o caminhamento das areias. Infelizmente nem todas as construções marinhas existentes no país foram acompanhadas durante seu projeto e execução, pois foram concebidas antes da criação de legislações para controle. Este é o caso do molhe existente na Praia da Armação, em Florianópolis-SC. 17 Figura 8 - Molhe construído entre a praia da Armação (à esquerda) e a foz do rio Quincas (à direita). Na Armação, de acordo com o presidente da Associação de Pescadores, Fernando Sabino, a obra foi feita em 1772, pela Companhia Baleeira da Armação. Não se sabe bem ao certo com que finalidade ele foi construído, mas o pescador acredita que o molhe foi feito para auxiliar de alguma forma os moradores da época, que viviam da caça às baleias (Diário Catarinense, 2010). Castilhos (1995) diz que o fechamento do canal existente entre a Ilha das Campanhas e a linha de costa, na divisa entre as praias da Armação e do Matadeiro, pode ser considerado como um fator contribuinte para o estado de desequilíbrio que vem causando a erosão extrema na praia da Armação. 18 Figura 9 - Localização do molhe na Praia da Armação, Florianópolis, Santa Catarina Fonte: Google Maps O molhe existente na Praia da Armação possui aproximadamente 116 metros de comprimento e a separa da Praia do Matadeiro. Entre as praias há ainda o canal do Rio Quincas Antônio e sangradouro da Lagoa do Peri, maior manancial de água doce e responsável pelo abastecimento de 113 mil habitantes. 19 Figura 10 - Canal do Rio Quincas Antônio e sangradouro da Lagoa do Peri Fonte: Google Maps Além do molhe, foi construído um enrocamento na praia da Armação com recursos emergenciais do governo federal, que destinou 12 milhões de reais em 2010 para a obra (CREA-SC). Devido às características emergenciais da construção, não foi feito nenhum estudo de impacto para a colocação das pedras na linha da costa. Em 2011, a prefeitura chegou a fazer um projeto básico para a recuperação da praia da Armação, que compreendia dragagem do canal de acesso do rio Quincas Antônio, engordamento de uma faixa de 50 m de praia ao longo de 1600 m, proteção do engordamento com geotubos e além de outras medidas. Tal projeto foi orçado em mais de 16 milhões, mas não foi executado ainda. Em fevereiro de 2016, a Justiça Federal determinou que a prefeitura cumpra o TAC firmado em 2010 e, finalmente, contrate a empresa responsável pelos estudos. Além dos processos naturais a intensificação dos processos erosivos está ainda intimamente relacionada com as ocupações indiscriminadas que se instalam junto á praia. Definem-se assim as evidências erosivas como associadas a processos naturais e ação antrópica. Tabela 2 apresenta tais processos. 20 Tabela 2 - Fatores relacionados à erosão costeira (Projeto Básico de revitalização da Praia da Armação, 2011) Tais fatores além de diminuírem a faixa de área da praia e os consequentes recuos da linha da costa, comprometem as ocupações próximas à praia, pois favoreçam o avanço do mar em episódios de tempestades (Klein at el. 2006). A Figura 11 mostra onde ocorrem os processos. Figura 11 - Evidências erosivas ao longo do litoral da ilha de Santa Catarina Fonte: SIMÓ,2003 21 Segundo levantamento das áreas com risco de destruição e danos nas edificações, a Praia da Armação esta entre as praias com alto grau de riscos, apresenta na Figura 12. Os graus de risco baseiam-se em dois critérios: características geológicas e oceanográficas da ilha de Santa Catarina e registros encontrados de destruição de edificações ao longo de um período de estudo (SIMÓ,2003). Figura 12 - Superfície contínua de suscetibilidade na Praia da Armação Fonte: Rudorff & Bonetti, 2010 A Figura 13 mostra em maior detalhe o setor central. No ponto A a suscetibilidade esteve muito alta. Nota-se uma praia seca muito estreita, a duna frontal com indícios de escarpamento ativo e a presença de uma casa praticamente sobre a duna frontal, cujo morador construiu um muro de madeira para conter o avanço do mar (ver foto). Já no entorno do ponto a ausência de casas sobre as dunas proporcionou a diminuição da suscetibilidade para alta. Entretanto, mais ao sul a suscetibilidade aumenta novamente para muito alta. Nas Figura 13 B, C e D, observa-se indícios de erosão severa, a duna frontal foi totalmente removida e a os muros das casas estão praticamente na praia. Ao sul do ponto D a suscetibilidade diminui rapidamente para moderada. As dunas frontais, apesar de baixas e 22 escarpadas, estão preservadas e com vegetação bem estabelecida (Rudorff & Bonetti, 2010). Figura 13 - Superfície contínua de suscetibilidade - Praia da Armação. Localização das fotos no mapa (A, B, C e D, respectivamente) Fonte: Rudorff & Bonetti, 2010 A ocupação da costa pode gerar impactos imperceptíveis ou consequências catastróficas. O ambiente praial responde rapidamente às perturbações introduzidas, sendo estas de ordem natural ou antropológica. Pode-se afirmar com base na literatura que as mudanças no balanço sedimentológico refletem em erosão e consequentemente recuo da linha da costa. O balanço controla ainda a interação entre antepraia, praia e dunas frontais. Estes três elementos funcionam de forma solidária: quando há muita ondulação os sedimentos da praia são carreados para a antepraia, onde são mobilizados pelo vento e formam as dunas frontais. Porém na presença de ações de ondas em situações tempestuosas o processo é inverso: os processos erosivos sobre a praia são atenuados a partir da transferência de material da duna frontal em direção à praia, em resposta ao ataque do pós-praia pelas ondas nestas ocasiões. 23 Figura 14 - Terminologia adotada neste trabalho para os subsistemas praiais. Logo, quando há ocupação da área das dunas frontais, como aconteceu na praia da Armação, os processos não mais se equilibram. As dunas foram substituídas por um alinhamento de muros e o enrocamento que destruíram a defesa natural da praia contra a ação das ondas. ANÁLISE A modificação das características morfológicas e sedimentológicas originais dos sedimentos praiais e dos depósitos da planície costeira à retaguarda tem sido fundamental para que se realize pronunciada erosão na duna frontal e pós – praia. O molhe ali construído serve de armadilha de sedimentos, bloqueando todo o aporte direto de material proveniente da desembocadura do Rio Quincas Antônio e sangradouro da Lagoa do Peri para a Praia da Armação, mas não é o responsável pela erosão. Segundo Castilhos (1995) a presença da construção não alterou significativamente o quadro geral da praia. Seu posicionamento, no entanto, impediu a passagem de sedimentos oriundos da Praia do Matadeiro e da desembocadura do Rio Quincas. A ocupação desregulada da costa mostra-se muito mais impactante diante da situação de erosão da Praia da Armação. Ao construir barreiras artificiais na região do pós-praia interrompeu-se a troca de sedimentos entre ela e a praia, o que tornou o estirâncio mais plano, reduzindo a capacidade de amortecimento das ondas durante o espraiamento o que acarreta em ondas mais fortes arrebentando na área. Quando ondas mais fortes se aproximamda região com predomínio de areia fina, a retirada de sedimentos da parte emersa durante o refluxo das águas aumenta, após os dados apresentados, sabe-se que a retirada é maior do que a deposição, logo a erosão acontecerá devido à quebra no balanço sedimentar. 24 CONCLUSÃO Este trabalho visou a revisão e compilação de estudos sobre o que ocorreu na Praia da Armação em 2010 e suas causas no intuito de melhor entender os processos atuantes. Concluiu-se que a linha costeira da praia da armação é altamente vulnerável às ações erosivas nela existentes. O setor Sul apresentou recuo elevado nos últimos anos, tornando preocupante a situação de moradores da região além da possibilidade de salinização do principal manancial de abastecimento da ilha, a Lagoa do Peri. A fragilidade natural da praia somada a uma ocupação inadequada da costa perturba ainda mais os processos praiais, podendo tornar o perfil ainda mais vulnerável a futuros episódios erosivo causado por situações climáticas comuns da região. Com o que foi exposto percebe-se a importância do entendimento dos processos litorâneos para avaliar o planejamento das áreas passíveis de ocupação para que não haja alteração na dinâmica natural do ambiente. REFERÊNCIAS Abreu , J. J. (2011). Tese de pós-graduação. TRANSPORTE SEDIMENTAR LONGITUDINAL E MORFODINÂMICA PRAIAL: EXEMPLO DO LITORAL NORTE DE SANTA CATARINA. Florianópolis, Santa Catarina. Marangon, M. D. (2004). BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO. Acesso em 02 de 2016 de 2016, disponível em http://www.ufjf.br/nugeo/files/2009/11/togot_unid05.pdf Bartelli, G. (junho de 2012). Monografia. Estudo do transporte de sedimentos em suspensão na bacia hidrográfica do arroio Garapiá - Maquine - RS. Lajeado. CEHOP. (s.d.). 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