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3] Sternberg amor e paixão

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quarta-feira, 4 de setembro de 2013
DIÁRIO DE AULA: TEORIA TRIANGULAR
TEORIA TRIANGULAR DO AMOR
Três são os elementos que compõem uma relação amorosa, a saber: paixão, intimidade e compromisso. Atento a isso o psicólogo americano Robert Sternberg, importante estudioso sobre o amor, desenvolveu sua Teoria Triangular do Amor. Para ele a combinação desses três elementos levam a sete tipos de relacionamentos amorosos.
                A paixão diz respeito à atração física e sexual, bem característica das relações apaixonadas que possuem aquela forte anelo de querer estar junto do objeto amado, como comumente acontece no início de muitos romances. A paixão aqui revela a marca da excitação sexual e afetiva. É o componente motivacional baseado nos impulsos.
                A intimidade, por sua vez, é o elemento emocional de uma relação e é baseado no se expor ao outro e se revelar. A intimidade leva ao laço afetivo propriamente dito, bem como à confiança, afetuosidade e compartilhamento mútuo.
       Já o compromisso represente o elemento cognitivo, no sentido de se basear na decisão voluntária de querer estar com alguém e de amá-lo. O compromisso visa a permanência e o longo prazo.
                  Baseado nesses três elementos (paixão, intimidade e compromisso), que formam os vértices de um triângulo, a presença ou ausência de um, de dois ou de todos, configuram formas diferentes de amar que vai desde o amor pleno até o amor vazio. Vejamos.
                Quando os três elementos estão presentes, então estamos no âmbito do que Sternberg convencionou chamar de AMOR PLENO. Podemos ousar dizer que este é um tipo de amor bastante difícil de se alcançar, pois é limítrofe com o ideal. É um amor consumado onde a paixão convive com a intimidade e o compromisso.
                 Havendo somente paixão este relacionamento tende a ser efêmero, visto que terminando a química da paixão, termina-se a própria relação. Como paixão sozinha não é propriamente amor, talvez o melhor termo aqui a ser empregado seja “limerence”. A limerância é um estado psíquico involuntário no qual a pessoa sente forte desejo romântico e sexual por uma outra.
                Quando há paixão e intimidade, mas não compromisso, o amor é chamado de AMOR ROMÂNTICO. Há ligação emocional, como uma relação de amizade, com o tempero da atração sexual e da paixão. Mesmo próximos e ardentemente querendo ficar juntos o longo prazo (compromisso) é incerto.
                Existindo intimidade e compromisso, com ausência de paixão, o amor é um AMOR COMPANHEIRO, que faz com que as pessoas permaneçam juntas, embora já não haja atração física. Um tipo de amor muito comum nas relações familiares, nas amizades e nos relacionamentos amorosos de longo prazo.
                Por outro lado há casais em que inexiste intimidade, porém paixão e compromisso. É o clássico relacionamento de “amor à primeira vista”, quando os parceiros apaixonados têm vontade de permanecer juntos, todavia ainda não desenvolveram intimidades. Aqui predomina muito do carnal quando o compromisso é baseado nos impulsos da paixão, razão pela qual denomina-se AMOR INSTINTIVO, também conhecido como AMOR FACTUAL ou AMOR FUGAZ, pois sem intimidade a relação se dissolve tão logo esfrie a paixão.
                Uma relação onde só há o elemento da intimidade é um AMOR AMIZADE. Já em relacionamento arranjados, onde não há nem paixão).o nem intimidade, o amor é um AMOR VAZIO. Tende a se prolongar por motivos externos ao casal.
                Pelo acima exposto, com base na teoria triangular do amor, são sete as formas de amar. Durante o amadurecimento de um relacionamento afetivo esses três elementos (paixão, intimidade e compromisso) aparecem e desaparecem em maior ou menor grau. Qual é o seu?
                Para melhor estudo sobre tal teoria: A TEORIA TRIANGULAR DO AMOR DE STERNBERG E O MODELO DOS CINCO GRANDES FATORES, de Bruna Mônego e Maycoln Teodoro (http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-82712011000100011&script=sci_arttext)
               
                
Joaquim Cesário de Mello
DIÁRIO DE AULA: AMOR
Aula (post) acima citamos a etimologia da palavra paixão (pathos). Agora vamos nos dedicar ao amor. Etimologicamente sua origem é latina cuja grafia é idêntica amor, cuja raiz é amma(sonoridade infantil chamando mãe) + or (efeito ou consequência).  O sentido expresso no termo é claro: amor é uma resposta afetiva. Será? O que é amor, esta palavra tão gasta e vulgarizada em nossos dia-a-dia?
                Seja o que for amor ele é um afeto, ou faz parte da nossa vida afetiva. Inicialmente parece ter a ver com carinho e cuidado. Como todo afeto o amor é fundamental na criação de nossos laços afetivo com os outros. Uma única palavra, porém com diversos significados, tais como amor físico, amor materno, amor fraterno, amor erótico, amor platônico, amor cristão, amor ao seu time de futebol, amor à vida...
                Sábio eram os gregos, pois tinham várias palavras para significar vários tipos de amor, tais como Philia (altruísmo),Pragma (praticidade), Storge (amizade), Eros (atração), Ágape(fraterno, incondicional), entre outras.  Cada palavra, cada termo, descreve o amor em suas diversas facetas. Assim, por exemplo, quando encontramos na Bíblia, no Evangelho de João, a expressão “Deus é amor”, em grego se escreve Ágape.
                Bem, nossos ancestrais portugueses foram mais econômicos com as palavras e enxugaram tudo em uma única: AMOR. Genericamente podemos definir amor como um conjunto de sentimentos de carinho, ternura, afeição, que se desenvolvem entre os seres que possuem condições de demonstrá-los. Nossa ênfase aqui, neste momento, é nos centrar naquele amor que os gregos chamavam de Eros. Eros envolve a atração física, mas também a atração afetiva. É o amor dos casais. É o amor em sua natureza dadivosa, ou como dizia Saint-Exupéry “o verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem”.
                 Hoje vivemos uma fase em que casamento e amor estão associados, isto é, casa-se por amor, muitas vezes. Mas historicamente antes não era bem assim. Devido ao curto espaço aqui no blog orientamos os interessados na história e na ideologia do amor conhecerem o artigo “Amor, casamento e sexualidade: velhas e novas configurações”, publicado na revista Psicologia: Ciência e Profissão, de autoria de Maria de Fátima Araújo, através de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-98932002000200009&script=sci_arttext. Para maiores aprofundamentos, imprescindível o clássico livro HISTÓRIA DO AMOR NO OCIDENTE, de Denis de Rougemont. Livro difícil de encontrar, talvez nos sebos da vida.
       Herdamos de Platão a fórmula do amor: “amor é desejo, e desejo é falta”. Porém há uma aparente contradição nesta fórmula, ao menos em termos de permanência e continuidade do amor. Se amor é desejo e se desejo é falta, então amamos o que nos falta, ou a falta no direciona a amar e a buscar. Acontece que se conseguimos atingir nosso objeto de desejo (objeto do amor), então ele não mais nos falta, visto que o “possuímos”. E se desejo é falta e se não nos falta mais o objeto, então não mais desejamos. E se amor é desejo, e se já “possuímos” nosso objeto de desejo, então por não haver mais falta não há mais desejo, assim como sem haver desejo não há mais amor. Complicado, não? Imagina o imbróglio filosófico da questão.
                Pois bem. A contradição acima está na estreita relação entre amor e desejo. A saída à “sinuca de bico” nos foi dada inicialmente por Santo Agostinho. Ele, sem abandonar a ideia platônica de que amor é desejo e desejo é falta, nos propõe a compreender a questão nos seguintes termos e significados: quando se tem o objeto do desejo assim o tem no presente. O desejo permanece frente ao incerto, ou seja, o futuro. O desejo que subjaz e persiste no desejo que se realiza na “posse” do objeto amado é o desejo de continuar com o objeto, visto que o amanhã é sempre algo ainda não atingível (epor isto nos falta) e quando o amanhã chega ele não é mais amanhã é presente, presente este que é sempre e constantemente contingente e passageiro.
                Ora, caro leitor, o que isso tudo acima quer dizer é que amar é zelar e cuidar do objeto amado para que se tenha o mesmo em todos os amanhãs. O amor, portanto, busca não somente a “posse” do objeto amado, mas a permanência e a continuidade. E num é exatamente isso o que diz o poeta russo Maiakovski neste seu curto e belo poema?:
                                “Teu corpo
                                eu quero acariciar
                                como um soldado
                                mutilado pela guerra,
                                inútil,
                                sem ninguém,
                                acaricia sua única perna”.
                Amor é um sentimento que nos predispõe a dirigir nosso desejo a um outro, querendo deste outro reciprocidade. É isto: amor quer reciprocidade. Amor é reciprocidade. Enquanto que paixão é revolução, amor é evolução. Não existe amor de fato se não houver intimidade e reciprocidade, e isto só vem com o tempo e com a convivência. Enquanto a paixão idealiza o objeto com perfeito, o amor tolera as imperfeições do objeto. O amor convive com a ambivalência.
         O amor, neste momento para finalizar o presente texto, é um sentimento que se expressa na forma de desejo, desejo pelo outro. E neste movimento que nos conduz em relação a outro alguém, e mais ainda que cimentiza as próprias relações humanas, ele tem fundamental função na vida psíquica. Este sentimento (inicialmente  de ser amado, posteriormente amar) em sua dupla face são experiência que constroem o Eu humano. E como meu olhar sobre o assunto é um olhar impregnadamente clínico, remeto o leitor ao texto “Do Amor e da Dor: Representações Sociais Sobre o Amor e o Sofrimento Psíquica” (http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-166X2005000100009&script=sci_arttext).
                Vamos, agora, dar uma outra rápida paradinha no tema para que o leitor que até aqui chegou possa dar uma respirada, ir ao banheiro, tomar um cafezinho, assaltar o refrigerador ou até fumar um cigarrinho. Logo abaixo, após o espaço publicitário, retornamos com a TEORIA TRIANGULAR DO AMOR. Considerem este novo post extra como mais uma espécie de bônus, afinal num é toda quarta-feira que temos três aulas seguida e geminadas.
                Porém, tem mais. Afinal, quem disse que estudar, estudar mesmo, é moleza? Para não empanturrar o blog neste momento de aulas, daremos outra rápida parada e continuaremos abaixo com um post sobre "a escolha do objeto amoroso". As aulas e a vida têm de continuar. E o tempo não para...
Joaquim Cesário de Mello
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
DIÁRIO DE AULA: PAIXÃO X AMOR
PAIXÃO X AMOR
                Muitos acreditam que paixão e amor é a mesmo coisa, muda apenas a intensidade. Outros creem que a paixão vem primeiro e o amor depois, ou seja, que a paixão com o tempo se transforma em amor. Já há quem ache que paixão e amor são dois lados de uma mesma moeda. Deixemos logo claro nossa posição – e abaixo tentaremos explicitar porque – que é a de que paixão e amor são sentimentos distintos que, embora tragam características semelhantes algumas vezes, têm qualidades diferentes, isto é, a natureza da paixão e a natureza do amor são divergentes.
                Comecemos mais uma vez pelo começo de tudo que é a própria palavra que empregamos para falar de paixão e de amor. Paixão vem do latim passione ou passionis que está relacionado ao ato de suportar sofrimento e traz em seu bojo o significado de passividade. Em grego utiliza-se o termo pathos(padecimento). Pathos, por sua vez, também significa emoção (vide a palavra “apatia”) e doença (vide a palavra “patologia”). Como diz Marilena Chauí é ser afetado por uma experiência, emoção ou sofrimento. Pathos é o oposto de práxis (atividade, ação) no sentido em que se recebe o sofrimento. Por isto na semana santa celebra-se a paixão de Cristo, isto é, o sofrimento de Cristo.
                Em uma rápida ida a um Wikipédia da vida temos paixão definida como uma emoção ampliada de maneira quase doentia, ou até mesmo doentia. É um sentir tipicamente doloroso e limítrofe com a patologia onde aquele que é acometido pela paixão perde sua individualidade psíquica devido a atração e o fascínio que o objeto da paixão proporciona. Em sua natureza passiva o apaixonado é representado pela pessoa que se vê “flechado” (acometido) pela paixão. Quem não reconhece nesta imagem a figura do Cupido, por exemplo?
       Paixão, literalmente, é pois uma patologia amorosa, caracterizado pela superlatividade fantasiosa que se tem da realidade do outro (objeto da paixão). Subjetivamente há na paixão um sentimento de fusionamento com o objeto da paixão, pois este é idealizado e quem está apaixonado crê que com ele todas suas carência não mais existirão. Nesta busca narcisista de fusão objetiva-se ilusoriamente a simbiose que um dia tivemos (bebê-mãe) e perdemos. Lembram da última aula (post quarta passada), pois é, o que restou em nossas mentes daquela época primeva e originária do psiquismo onipotente, auto suficiente, grandioso, completo e perfeito, convencionamos chamar de EGO IDEAL. Parece que o objeto amado representa algo deste Ego Ideal projetado nele, e assim tem-se a ilusão de que a união do sujeito apaixonado com o objeto da paixão será uma relação perfeita, um par completo e completamente feliz. O outro como a sua cara-metade. Juntos formam uma unidade plena.
         
          Atentem que não estamos no conceito “vulgar” de paixão, no sentido popular e romanceado que damos ao mesmo. Em filmes como “Love Story” a paixão é resumida em frases do tipo “amar é ter jamais que pedir perdão”. Ora se amor fosse isto (jamais pedir perdão) significaria que jamais magoaríamos a pessoa amada ou seríamos magoados por ela. E só há uma maneira de nunca magoarmos alguém: sendo tudo o que é ela quer que eu seja, isto é, ser o seu objeto pleno de desejo. E vice versa. 
       Quando uma pessoa se vê acometido pela paixão ela tem fortes sensações de arrebatamento. O coração dispara, não consegue deixar de pensar na pessoa “amada”, sente-se ansiosa e angustiada na ausência desta, quer sempre estar perto da mesma, eleva-se a estratosfera o apetite e a atração sexual dirigido ao objeto da paixão, altera-se o sono, a alimentação e o humor, por aí vai. Tal arrebatamento é consequência de alterações neurofisiológicas no organismo do apaixonado, pois o cérebro se encontra banhado de neurotransmissores e hormônios, entres eles a adrenalina, a noradrenalina e a dopamina. Esta última é responsável pela sensação de dependência em que se acha a pessoa apaixonada em relação a seu objeto de desejo. Também há uma diminuição da liberação de serotonina, fazendo com que a pessoa fique obsessivamente pensando no amado(a) de maneira fixante. Não nos esqueçamos do papel dos feromônios no fenômeno da paixão, afinal estes hormônios propiciam a “comunicação química” entre os apaixonados.
                Pois é. Embora a imagem da paixão esteja associada ao coração (ele dispara), a flecha do cupido não atinge este órgão muscular vital à vida, mas sim o cérebro. Este sim é responsável pelas loucuras da paixão. A respeito do assunto leiam essa reportagem publicada na revista Superinteressante titulada de "A Química da Paixão": http://super.abril.com.br/cotidiano/quimica-paixao-446309.shtml.
              Resistir à paixão não é fácil não. O queimar da euforia proporcionado pela paixão pode acometer qualquer um a qualquer momento, porém é mais comum na adolescência, a tal ponto que chamamos este período desenvolvimental de “o tempo das paixões”. A explosão química da paixão é capaz de viciar, e há pessoas assim viciadas que tão logo termina uma paixão já está rumando para outra em busca de endorfinas e sensações.
             A adolescência é por natureza o período de vida das grandespaixões, haja vista ser uma fase evolutiva caracterizada pela exuberância hormonal, impulsos e emotividade. O jovem ali se vê em meio a um redemoinho de desejos, sentimentos, dúvidas, que se confundem pela incipiente capacidade cognitiva e emocional de discernir prazer, êxtase, gozo e harmonia interior. Na imaturidade afetiva inerente à adolescência, o amor-paixão toma roupagens idealizantes e, às vezes, possessivas. São sentimentos fortes e avassaladores onde predomina a avidez e a urgência dos afetos. Quando dizemos que “o amor é cego” estamos de fato falando da paixão em seu espírito puramente juvenil.
                Se na adolescência as paixões são uma espécie de teste drive para as futuras relações amorosas da maturidade, no adulto a paixão tem seu caráter regressivo. Não importa a idade que o adulto tenha, apaixonado ele se torna emocionalmente um verdadeiro adolescente.
                No tocante às paixões da adolescência remeto você à coleção da revista Mente & Cérebro titulada de “O OLHAR ADOLESCENTE”, mais precisamente o segundo volume “O Tempo das Paixões”. Uma coleção que merece estar em sua estante e que pode ser encontrada através de https://www.lojaduetto.com.br/edicoes_especiais/?revista=mec
Decididamente paixão não é amor, mesmo que em nome da paixão digamos ao outro "eu te amo". A paixão na adolescência é necessária e normal para o desenvolvimento emocional do indivíduo. Todavia a paixão quando acomete um adulto ela é nada mais nada menos que uma patologia do amor. Fica aqui uma sugestão para aqueles que querem adentrar mais no tema: "A Patologia do Amor - Da Paixão à Psicopatologia", de Tiago Lopes Lino (http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0146.pdf)
               Como o tema é amplo e profundo, vamos dar um "xixi break" e após, abaixo, continuar no assunto. Boa leitura.
 Joaquim Cesário de Mello

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