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SISTEMA DE EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA A DISTÂNCIA PROURGEN PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM MEDICINA DE URGÊNCIA ORGANIZADO PELA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CLÍNICA MÉDICA Diretor científico Antonio Carlos Lopes Diretores acadêmicos Hélio Penna Guimarães Renato Delascio Lopes Artmed/Panamericana Editora Ltda. PROURGEN | PORTO ALEGRE | CICLO 1 | MÓDULO 2 | 2007 PROURGENC1M2-01-08.pmd 11/12/2007, 14:253 Os autores têm realizado todos os esforços para localizar e indicar os detentores dos direitos de autor das fontes do material utilizado. No entanto, se alguma omissão ocorreu, terão a maior satisfação de na primeira oportunidade reparar as falhas ocorridas. A medicina é uma ciência em permanente atualização científica. À medida que as novas pesquisas e a experiência clínica ampliam nosso conhecimento, modificações são necessárias nas modalidades terapêuticas e nos tratamentos farmacológicos. Os autores desta obra verificaram toda a informação com fontes confiáveis para assegurar-se de que esta é completa e de acordo com os padrões aceitos no momento da publicação. No entanto, em vista da possibilidade Sociedade Brasileira de Clínica Médica Rua Botucatu, 572. Conjunto 112 04023-061 - São Paulo, SP Tel (11) 5572-4285. Fax (11) 5572-2968 E-mail: sbcm@sbcm.org.br http://www.sbcm.org.br SISTEMA DE EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA A DISTÂNCIA (SEMCAD®) PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM MEDICINA DE URGÊNCIA (PROURGEN) Artmed/Panamericana Editora Ltda. Avenida Jerônimo de Ornelas, 670. Bairro Santana 90040-340 – Porto Alegre, RS – Brasil Fone (51) 3025-2550 – Fax (51) 3025-2555 E-mail: info@semcad.com.br consultas@semcad.com.br http://www.semcad.com.br de um erro humano ou de mudanças nas ciências médicas, nem os autores, nem a editora ou qualquer outra pessoa envolvida na preparação da publicação deste trabalho garantem que a totalidade da informação aqui contida seja exata ou completa e não se responsabilizam por erros ou omissões ou por resultados obtidos do uso da informação. Aconselha-se aos leitores confirmá-la com outras fontes. Por exemplo, e em particular, recomenda-se aos leitores revisar o prospecto de cada fármaco que planejam administrar para certificar-se de que a informação contida neste livro seja correta e não tenha produzido mudanças nas doses sugeridas ou nas contra- indicações da sua administração. Esta recomendação tem especial importância em relação a fármacos novos ou de pouco uso. Estimado leitor É proibida a duplicação ou reprodução deste Programa de Atualização em Medicina de Urgência, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na web e outros), sem permissão expressa da Editora. Os inscritos aprovados na Avaliação de Ciclo do Programa de Atualização em Medicina de Urgência receberão certificado de 80h/aula, outorgado pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica e pelo Sistema de Educação Médica Continuada a Distância (SEMCAD) da Artmed/Panamericana Editora, e créditos a serem contabilizados pela Comissão Nacional de Acreditação (CNA), para obtenção da recertificação (Certificado de Avaliação Profissional). PROURGENC1M2-01-08.pmd 11/12/2007, 14:252 103 P R O U R G E N S E M C A D JOSÉ GUSTAVO PARREIRA SAMIR RASSLAN ATENDIMENTO INICIAL AO TRAUMATIZADO José Gustavo Parreira – Professor Assistente – Doutor. Disciplina de Cirurgia de Emer- gência. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Médico Assistente. Divisão de Clínica Cirúrgica III. Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo Samir Rasslan – Professor Titular. Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo INTRODUÇÃO O trauma é uma doença comum em nosso meio. Estima-se que, em 2004, 127.470 pessoas morreram devido a causas externas no Brasil.1 Portanto, aproximadamente 350 pessoas são vítimas letais de lesões traumáticas por dia em nosso país. Isso seria comparável a um acidente aéreo diário. Para cada morte, acredita-se que quatro pessoas tenham seqüelas graves, comprometendo sua qualidade de vida e produ- ção econômica.2,3 A doença trauma é ainda a maior causa de mortes nas primeiras quatro décadas de vida, representando uma grande perda social e econômica, principalmente pelo acometimento de adultos jovens.2,3 LEMBRAR PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29103 104 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O As causas de morte em trauma podem ser separadas em três picos de incidência de acordo com o inter- valo de tempo entre o trauma e o óbito,3,4 conforme o Quadro 1. Quadro 1 PICOS DE INCIDÊNCIA DAS CAUSAS DE MORTE EM TRAUMA DE ACORDO COM INTERVALO DE TEMPO ENTRE TRAUMA E ÓBITO Primeiro pico Ocorre imediatamente ou minutos após o trauma, principalmente por lesões graves neuro- lógicas e hemorragia por roturas cardíacas ou de grandes vasos. Essas mortes são consi- deradas inevitáveis uma vez que o trauma ocorra e, para a sua prevenção, medidas de prevenção deveriam ser empregadas. Segundo pico Ocorre nas poucas horas que se seguem ao trauma, principalmente por hematomas intracranianos, obstrução de vias aéreas, pneumotórax hipertensivo e choque hemorrágico. Se avaliadas a fundo, muitas dessas mortes poderiam ser consideradas evitáveis ou poten- cialmente evitáveis. Dessa forma, há uma janela de oportunidade no tratamento desses doentes. A chamada golden hour não tem necessariamente 60 minutos, mas diz respeito aos momentos que se seguem ao trauma e é valiosa para o diagnóstico e tratamento de lesões potencialmente letais.2-6 Terceiro pico Ocorre dias após o trauma, principalmente por infecção e síndrome de falência de múltiplos órgãos e sistemas. Contudo, há nítida correlação entre a evolução do doente e a qualidade do atendimento inicial realizado. Períodos de hipoxia, choque prolongado e hipertensão intracraniana podem deixar seqüelas graves e propiciar o surgimento de falências orgâni- cas específicas.2-6 A distribuição trimodal das mortes em trauma é aplicável para a grande maioria das situações urbanas e rurais. Nas guerras isso é controverso. A maioria das mortes ocorre nos minutos após os ferimentos, devido à magnitude do trauma dos modernos armamentos empregados.7 O atraso no tratamento das lesões determina maior morbidade e letalidade. Até há 30 anos não havia uma sistematização apropriada para o atendimento, e o traumatizado recebia o tratamento como os porta- dores de outras doenças. Nos casos graves, que geralmente envolvem uma sobrecarga emocional consi- derável, havia dificuldade na tomada rápida de decisões, retardando o tratamento adequado e facilitando iatrogenias. Dessa forma, uma necessidade evidente de uma padronização do atendimento inicial ao traumatizado era necessária. A resposta para estas dúvidas ocorreu em 1980, com a primeira edição do curso Advanced Trauma Life Support (ATLS), desenvolvido pelo Colégio Americano de Cirurgiões.2,3 A tradução para o português ocorreu nos anos 90, com a edição do livro Suporte Avançado de Vida em Trauma (SAVT). Atualmente, o livro está na sua 7ª edição (2004) e são relatados núcleos em 47 países.3 O curso Advanced Trauma Life Support (ATLS) oferece uma maneira eficiente de atendimento inicial ao traumatizado na sua fase intra-hospitalar. Vem sendo empregado largamente em nos- so meio, o que também criou uma linguagem comum entre os médicos. O atendimento pré- hospitalar é extremamente importante para o resultado final e merece uma visão individualiza- da. Atualmente há o curso Prehospital Trauma Life Support (PHTLS), que aborda com proprie- dade essa forma específica de tratamento.8PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29104 105 P R O U R G E N S E M C A D OBJETIVOS Os objetivos deste capítulo são: ■ trazer uma abordagem prática do atendimento inicial ao traumatizado; ■ discutir, a cada passo, o que o socorrista deve ter em mente e que medidas podem ser tomadas. Não traremos à tona todas possíveis discussões sobre o tema, mas o que há de certo para se conduzir de maneira segura tal procedimento. Faremos uma revisão dos pontos mais importantes do atendimento inicial ao traumatizado em ambiente hospitalar. A base deste capítulo é o SAVT, e estimulamos a todos os médicos que atendam traumatizados a realizar esse curso visto que se trata de uma forma importante e efetiva de aprendizado. No atendimento ao traumatizado, a melhor conduta parece ser o que é mais simples e rápido. PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29105 106 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O Princípios do atendimento ao traumatizado Preparação Avaliação primária e reanimação Avaliação secundária A: Vias aéreas (Airways) com controle da coluna cervical B: Ventilação (Breathing) C: Circulação e controle da hemorragia Intubação orotraqueal Intubação nasotraqueal Cricotireoidostomia História AMPLA Mecanismo de trauma Segmento cefálico Avaliação secundária Fases no atendimento inicial ao traumatizado Avaliação primária e reanimação ESQUEMA CONCEITUAL Tratamento definitivo D: Neurológico (Disability) E: Exposição e controle da hipotermia Pneumotórax aberto Contusão pulmonar Pneumotórax hipertensivo Hemotórax maciço Medidas complementares à avaliação primária Reavaliação Segmento cervical Segmento torácico Segmento abdominal e pélvico Membros Tratamento definitivo Considerações finais Casos clínicos Exame neurológico completo PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29106 107 P R O U R G E N S E M C A D1. As causas de morte em trauma podem ser separadas em três picos de incidência de acordo com o intervalo de tempo entre o trauma e o óbito. Quais são eles? Descreva suas características. ............................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................... 2. Do que trata o livro Suporte Avançado de Vida em Trauma? ............................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................... 3. Por que no atendimento ao traumatizado, a melhor conduta parece ser o que é mais simples e rápido? ............................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................... PRINCÍPIOS DO ATENDIMENTO AO TRAUMATIZADO O princípio fundamental do atendimento de traumatizados é identificar e tratar as lesões que matam mais rapidamente, sem perder tempo com procedimentos que não sejam prioridade no momento.2-6 Inicialmente nos preocupamos com a hipoxia, seja por obstrução das vias aéreas ou por alterações na troca gasosa ao nível da membrana alvéolo-capilar. Uma vez que os eventuais problemas estejam resolvi- dos, voltamos a atenção para a perfusão orgânica. O choque deve ser identificado e tratado, permitindo a restauração da oferta de oxigênio para os tecidos e controle do metabolismo celular. Com essas medidas, as células voltam a produzir energia, diminuindo a morte celular decorrente da hipoxia tissular. Seguem-se a identificação e controle da hipertensão intracraniana, que se não tratada pode resultar em herniação uncal e morte por compressão do tronco encefálico. Os procedimentos devem ser realizados prontamente, na admissão do doente, evitando-se qualquer atraso relacionado a medidas diagnósticas e terapêuticas desnecessárias no mo- mento. Dessa forma, há fases que devem ser seguidas no atendimento inicial ao traumatizado, que abordaremos a seguir. LEMBRAR PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29107 108 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O LEMBRAR FASES NO ATENDIMENTO INICIAL AO TRAUMATIZADO Podemos dividir didaticamente em fases o atendimento inicial ao traumatizado: a) preparação; b) avaliação primária e reanimação; c) avaliação secundária; d) tratamento definitivo. Devemos ter em mente que muitas vezes elas se sobrepõem, dependendo do número de pessoas e recursos disponíveis para o atendimento. 2-6 PREPARAÇÃO A fase de preparação diz respeito a equipe e materiais necessários para o atendimento ade- quado ao traumatizado. O treinamento de uma equipe multidisciplinar para o atendimento ao trauma é um dos fatores de maior impacto no prognóstico. Não só o médico deve ser tecnica- mente preparado, mas também seus auxiliares. Isso permite rapidez na tomada de decisões, agilidade na disponibilidade de material e harmonia nos procedimentos operatórios. O preparo do equipamento envolve avaliação da sala de emergência, disponibilidade de respiradores, bem como a reserva de hemoderivados e sala cirúrgica. Isso deve ocorrer como um checklist diário ou a cada troca de plantão. Idealmente, a equipe de atendimento pré-hospitalar deveria comunicar a chegada de um traumatizado grave com alguma antecedência, permitindo um preparo mais específico. Por exemplo, em vítimas de ferimentos penetrantes em tronco com hipotensão arterial sistêmica, seria adequado contato com centro cirúrgico e banco de sangue, pois provavelmente esse doente precisará de hemoderivados e de tratamento operatório. Em relação ao material, sugerimos observar a disponibilidade de: ■ colar cervical dos diferentes tamanhos possíveis; ■ sonda para aspiração; ■ cânulas traqueais; ■ laringoscópio (operacional). É importante o aquecimento das soluções cristalóides a serem infundidas por via endovenosa. Deve-se ter material para realizar lavado peritoneal diagnóstico e, se possível, aparelho de ultra-som para avaliação na sala de emergência. Sondas gástricas, vesicais e material cirúrgico para toracocentese, pericardiocentese, dre- nagem torácica e toracotomia de reanimação fazem parte do equipamento necessário para o atendimento de traumatizados graves. Obviamente, pacotes com campos eaventais cirúrgi- cos são necessários para esses procedimentos operatórios. Recomenda-se checar o foco de luz, respirador, oxímetro de pulso e monitor cardíaco. Material de sutura, talas para imobilização de extremidades e compressas para curativos compressivos devem estar disponíveis. Todos os traumatizados devem ser considerados como portadores de doenças transmissíveis até que se prove o contrário. Portanto, recomenda-se o uso de material de proteção individual como gorro, máscara, óculos, luvas, avental e protetores para sapatos. Todo o cuidado deve ser empregado para se evitar aciden- tes com materiais perfurocortantes. A organização é fundamental. PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29108 109 P R O U R G E N S E M C A DAVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO A fase de avaliação e reanimação tem por objetivo o diagnóstico e tratamento das lesões que ameaçam a vida iminentemente. O recurso mnemônico é a seqüência ABCDE, a mesma proposta pelo curso SAVT (Figura 1):2-6 ■ A (Airways): desobstrução das vias aéreas com proteção da coluna cervical; ■ B (Breathing): ventilação; ■ C (Circulation): circulação com controle da hemorragia; ■ D (Disability): avaliação neurológica; ■ E (Exposure): exposição com controle da hipotermia. O diagnóstico da lesão é seguido pelo tratamento da mesma. Somente após a resolução do problema identificado é que o passo seguinte é dado. É importante lembrar que o trauma é uma doença dinâmica e que tem modificações evolutivas na sua apresentação. Portanto, a reavaliação deve ser freqüente. Há adjuntos à avaliação primária, como a passagem de sondas gástrica e vesical (se não houver contra- indicações), além da utilização de oxímetro de pulso, monitoração cardíaca e radiografias de tórax e pelve. Recomenda-se que esses adjuntos estejam presentes ao término da avaliação primária. Figura 1 – Seqüência de atendimento na avaliação primária. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A B C D E A B C D E Avaliação Reanimação PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29109 110 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA Após o diagnóstico e tratamento das lesões que ameaçam a vida iminentemente, o doente é submetido à reavaliação. Confirma-se a estabilidade dos dados vitais e se segue com a avaliação secundária. Trata- se de um exame minucioso com objetivo de identificar as demais lesões que o doente apresenta. Cada segmento corporal é avaliado clinicamente, e os exames complementares, direcionados. TRATAMENTO DEFINITIVO Com o diagnóstico definitivo, o tratamento deve ser proposto e realizado. É importante não retardar o tratamento definitivo para a realização de exames ou procedimentos que não sejam prioridade. O médico responsável pelo atendimento inicial deve avaliar os recursos disponíveis e estabelecer se há necessidade de avaliação de algum especialista (por exemplo, ortopedia) ou mesmo a transferência para a realização de exame ou tratamento não-disponível no centro do atendimento inicial. São regras do atendimento inicial: ■ não atrasar o tratamento definitivo; ■ não causar lesões adicionais; ■ não piorar as lesões já existentes. 4. Qual é o princípio fundamental do atendimento de traumatizados? ............................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................... 5. Assinale a alternativa INCORRETA em relação à fase de preparação no atendimento inicial ao traumatizado. A) O preparo do equipamento envolve avaliação da sala de emergência, da disponibilida- de de respiradores, bem como a reserva de hemoderivados e da sala cirúrgica. B) O preparo deve ocorrer como um checklist semanal ou quinzenal. C) Idealmente, a equipe de atendimento pré-hospitalar deveria comunicar a chegada de um traumatizado grave com alguma antecedência, permitindo um preparo mais específico. D) Em vítimas de ferimentos penetrantes em tronco com hipotensão arterial sistêmica, seria adequado contato com centro cirúrgico e banco de sangue, pois provavelmen- te esse doente precisará de hemoderivados e de tratamento operatório. Resposta no final do capítulo PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29110 111 P R O U R G E N S E M C A D6. Em relação aos materiais que poderão ser utilizados no atendimento inicial ao traumatizado, quais são empregados em casos graves? ............................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................... 7. Por que todos os traumatizados devem ser considerados como portadores de doenças transmissíveis? ............................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................... 8. Na fase de avaliação primária e reanimação de traumatizados, o objetivo é o diagnós- tico e tratamento das lesões que ameaçam a vida iminentemente. O recurso mnemônico é a seqüência ABCDE. Correlacione as colunas com o significado de cada letra. (1) A ( ) avaliação neurológica. (2) B ( ) exposição com controle da hipotermia. (3) C ( ) circulação com controle da hemorragia. (4) D ( ) desobstrução das vias aéreas com proteção da coluna cervical. (5) E ( ) ventilação. Respostas no final do capítulo 9. Após o diagnóstico e tratamento das lesões que ameaçam a vida iminentemente, o doente é submetido à reavaliação. No que consiste essa fase? ............................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................... AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO Agora veremos com mais profundidade cada uma das etapas propostas para o atendimento inicial ao traumatizado. Cada uma dessas etapas pode ser didaticamente compreendida emtrês prioridades (Tabela 1): ■ saber quais as situações que ameaçam a vida iminentemente; ■ saber identificar essas situações; ■ saber controlar essas situações. PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29111 112 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O A: VIAS AÉREAS (AIRWAYS) COM CONTROLE DA COLUNA CERVICAL A obstrução da passagem do ar pelas vias aéreas é o problema a ser identificado e solucionado nessa etapa. A hipoxia pode ser rapidamente letal e vários cenários clínicos ocasionam tal problema (Figuras 2A, B e C). O Quadro 2 apresenta as causas da obstrução de vias aéreas em trauma. Tabela 1 LESÕES QUE PÕEM EM RISCO A VIDA: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO NA AVALIAÇÃO PRIMÁRIA Ameaça Diagnóstico Tratamento A Obstrução de vias aéreas Respiração ruidosa. Via aérea definitiva. Risco de lesão raquimedular Todos traumatizados. Imobilização da coluna. B Pneumotórax hipertensivo Insuficiência respiratória. Toracocentese 20 EIC. MV diminuído. Drenagem torácica 50 EIC. Timpanismo. Pneumotórax aberto Insuficiência respiratória. “Curativo de três pontas”. Ferimento torácico. Drenagem torácica 50 EIC. Traumatopnéia. Contusão pulmonar Insuficiência respiratória. Oxigênio máscara. Tórax flácido. Analgesia. Respiração paradoxal. Ventilação mecânica se necessário. Hemotórax maciço Insuficiência respiratória. Drenagem torácica 5º EIC MV diminuído. Macicez à percussão. Anemia/choque. C Choque hemorrágico Taquicardia. Controle do foco hemorrágico. Diminuição da perfusão. Reposição endovenosa de líquidos. Extremidades frias. Otimização oferta de oxigênio. Hipotensão arterial. Avaliar outras causas de choque. Tamponamento cardíaco Hipotensão arterial. Pericardiocentese. Hipofonese de bulhas. Toracotomia. Estase jugular. D Hipertensão intracraniana Diminuição nível de consciência. Evitar injúria secundária. Lesões focais cirúrgicas Anisocoria. Diagnóstico precoce: TAC. Sinais de localizatórios. Drenagem precoce: neurocirurgia. E Hipotermia Todos traumatizados. Aquecimento ambiente. Uso de soluções aquecidas EV. Cobertores. PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29112 113 P R O U R G E N S E M C A D As Figuras 2A, B e C apresentam situações de risco para obstrução de vias aéreas. Quadro 2 CAUSAS DE OBSTRUÇÃO DE VIAS AÉREAS EM TRAUMA ■ Deslocamento posterior da base da língua por diminuição do nível de consciência ■ Trauma craniencefálico ■ Intoxicação exógena ■ Choque hemorrágico ■ Hipoxia ■ Aspiração ■ Sangue (fraturas de face com sangramento ativo) ■ Conteúdo gástrico ■ Corpos estranhos ■ Hematomas cervicais ■ Lesão de vias aéreas ■ Queimaduras de vias aéreas por inalação ■ Edema de glote ■ Lesão iatrogênica na tentativa de intubação orotraqueal Figura 2 – (A) Hematoma cervical (FPAF); (B) Aspiração em doente com diminuição do nível de consciência (TCE) e (C) Queimadura de vias aéreas por inalação. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A B C PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29113 114 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O A diminuição do nível de consciência determina relaxamento da musculatura que sustenta a mandíbula, o que é responsável pelo deslocamento posterior da base da língua que, por sua vez, obstrui a passagem de ar para a laringe.2, 3 Esse é um problema freqüentemente observado em vítimas de trauma craniencefálico grave ou em doentes com intoxicações exógenas. São também causas de obstrução das vias aéreas: ■ a compressão por hematomas cervicais; ■ o sangramento volumoso ocasionado por fraturas de face; ■ o trauma direto da laringe ou traquéia; ■ o edema ocasionado por queimaduras por inalação; ■ a aspiração de corpos estranhos (por exemplo, próteses dentárias) ou conteúdo gástrico. Há também casos de ferimentos penetrantes em laringe e traquéia que podem evoluir com escape de ar para o exterior e sangramento para o interior das vias aéreas, determinando insuficiência respiratória importante. Deve-se também considerar o mau posicionamento de tubo traqueal que eventualmente foi introduzido no pré-hospitalar. Inicia-se a avaliação com uma pergunta simples como “qual é seu nome?” Uma resposta ade- quada, com voz normal e sem ruídos às respirações traduz que a via aérea não está ameaçada momentaneamente. O diagnóstico de obstrução de vias aéreas é feito através da avaliação do nível de consciência, dos sintomas de insuficiência respiratória e pelos sinais específicos de obstrução alta como o estridor e a cornagem. Todos os doentes inconscientes que não respondem a estímulos ou que apresentem escala de coma de Glasgow menor do que 8, são considerados como de risco para a obstrução das vias aéreas. Agitação (freqüentemente associada à hipoxia), torpor (associado à hipercarbia), cianose central, tiragem, taquipnéia e dispnéia nos induzem a pensar em comprometimento da função respiratória. Nesse mo- mento é importante a diferenciação entre um problema relacionado à obstrução das vias aéreas ou um comprometimento da ventilação (que será avaliado e tratado no item B - Breathing). Quando escutamos respiração “ruidosa” e alteração na voz (disfonia), principalmente quando associadas à diminuição bilateral da expansibilidade torácica, o problema está mais freqüentemente nas vias aéreas. Contudo, se o doente está falando, sua voz não tem problemas e há nítida insuficiência respiratória, deve haver algum problema mais específico de troca gasosa e um exame torácico deve ser realizado. Também podemos inferir que uma via aérea esteja em risco pelo exame direto da região cervical. Esse é o caso na presença de grandes hematomas locais, bem como se houver edema e crepitação sobre as cartilagens da laringe ou traquéia. Nos casos de ferimentos penetrantes, o escape de ar e o enfisema de subcutâneo indicam a lesão das vias aéreas. Vômitos freqüentes, falta de dentes ou próteses, assim como também fraturas complexas de face com sangramento maior chamam a atenção para possibilidade de aspiração. Queimaduras em face, sobrancelhas e vibrissas nasais, expectoração carbonácea, lesões orais, bem como a história de perda de consciência ou confinamento durante um incêndio nos lembram a possibi- lidade de queimaduras das vias aéreas por inalação.2,3,5,6 PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29114 115 P R O U R G E N S E M C A DUma vez que a avaliação foi realizada, devemos decidir por duas opções de tratamento: ■ caso as vias aéreas estejam pérvias, a conduta resume-se a administrar oxigênio úmido com fluxo de 12 litros por minuto;2,3,5,6 ■ se há sinais nítidos de obstrução ou grande risco para isso, deve-se optar pela obtenção de uma “via aérea definitiva”.2,3,5,6 Devemos ressaltar a importância da imobilização da coluna cervical em todos os traumatizados até que uma lesão maior seja excluída.2,3,5,6,8-10 O trauma raquimedular está presente em aproximadamente 2% dos traumatizados que recebem atendimento hospitalar.11 Muitos traumatizados têm apenas lesões ligamentares ou ósteo-articulares sem comprometi- mento neurológico e são potencialmente recuperáveis dessa condição sem maiores seqüelas. Nesses casos, a hiperextensão da coluna cervical, como é feito para a desobstrução das vias aéreas em doentes não-traumatizados, pode causar uma lesão irreversível da medula espinhal. Isso pode ser letal ou determinar tetraplegia irreversível. Portanto, em todos os traumatizados a coluna vertebral deve ser mantida alinhada até que a presença de uma fratura vertebral e/ou lesão raquimedular tenham sido excluídos.2,3,5,6,9,10 Todas as manobras para desobstrução das vias aéreas devemser realizadas com o alinhamen- to manual da coluna cervical. Freqüentemente são necessárias duas pessoas para realizar es- sas manobras. Enquanto uma mantém a coluna alinhada, a outra trabalha nas vias aéreas. Ressalta-se que o colar cervical isoladamente não é suficiente para impedir a mobilização da coluna. Sugere-se a seqüência para controle das vias aéreas em traumatizados apresentada na Figura 3. Inicial- mente a boca é aberta e a cavidade oral examinada. Os dedos do socorrista não devem ser colocados na cavidade oral, pois, se o doente reagir, podem ocorrer lesões graves. Se houver necessidade de retirar corpos estranhos, devemos utilizar pinças específicas. Usa-se um aspira- dor rígido para a aspiração da cavidade oral, tomando-se o cuidado de não estimular o palato mole, pois isto pode induzir ao reflexo de vômito. Manobras de desobstrução temporária das vias aéreas podem ser empregadas nesse momento, como a elevação do queixo (chin lift) e a tração anterior da mandíbula (jaw thrust).2,3 Nesse momento, já podemos ter idéia da necessidade ou não de uma via aérea definitiva (VAD). PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29115 116 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O Por “via aérea definitiva” entende-se que um tubo seja locado na traquéia, com balonete (cuff) insuflado, fixado adequadamente e conectado com fonte de oxigênio.2,3 Dessa forma, além de permitir a passagem direta de oxigênio para as porções mais distais, também há proteção contra aspiração de sangue ou con- teúdo gástrico refluído. São as opções mais freqüentemente empregadas nos traumatizados: ■ intubação orotraqueal; ■ intubação nasotraqueal; ■ cricotireoidostomia cirúrgica. Figura 3 – Seqüência sugerida para controle das vias aéreas em traumatizados. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. AAvaliação do valiação do AA Obstrução presente ouObstrução presente ou Alto risco de obstruçãoAlto risco de obstrução VVAA pérviaspérvias Baixo risco deBaixo risco de obstruçãoobstrução InconscienteInconsciente CombativoCombativo SedaçãoSedação CurarizaçãoCurarização AspiraçãoAspiração Retirada de CERetirada de CE AAvaliação dificuldadevaliação dificuldade Desobstrução temporáriaDesobstrução temporária GuedelGuedel OxigenaçãoOxigenação IOTIOT InsucessoInsucesso SucessoSucesso Insuf.Insuf. respiratóriarespiratória gravegrave Risco de vidaRisco de vida iminenteiminente RespiraçãoRespiração presentepresente Sem fraturasSem fraturas em faceem face Checar posiçãoChecar posição Insuflar Insuflar cufcufff VVentiladorentilador Fixação cânulaFixação cânula Imobil. da colunaImobil. da coluna CricotireoidostomiaCricotireoidostomia INTINT O2 máscaraO2 máscara ImobilizaçãoImobilização da colunada coluna InsucessoInsucesso AAvaliação do Bvaliação do B PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29116 117 P R O U R G E N S E M C A DSe houver indicação de VAD, sugere-se que o doente seja previamente oxigenado. Se houver história prévia de vômitos, a ventilação está contra-indicada. Após imobilização da coluna cervical, o colar cervical pode ser aberto para facilitar a abertura da boca (mantendo-se o alinhamento manual da coluna cervical). A cavidade oral deve ser aspirada e examinada quanto à presença de corpos estranhos e, a seguir, uma cânula orofaríngea é inserida (nos inconscientes). Aplica-se uma máscara com ambu que, por sua vez, tem conexão com fonte de oxigênio. A oximetria de pulso auxilia na obtenção do valor da saturação de hemoglobina por oxigênio, que nos dá idéia da pressão parcial de oxigênio arterial. Os valores devem ser interpretados com cuidado, pois muitos fatores interfe- rem nos resultados, como, por exemplo, a diminuição da perfusão presente no choque hemorrágico. Idealmente devemos trabalhar com saturação acima de 95%. Intubação orotraqueal A primeira VAD a ser tentada geralmente é a intubação orotraqueal. Nesse momento, uma avaliação da necessidade de curarização e sedação deve ser realizada. Em doentes com diminuição do nível de consciên- cia, por vezes não há necessidade desse passo. Contudo, em doentes combativos, uma seqüência rápida de sedação com ou sem curarização associada pode ser empregada. Esse é um passo muito perigoso. A experiência na avaliação da dificuldade de intubação orotraqueal é um fator importante. Se houver dúvidas quanto à capacidade técnica de IOT, devemos chamar por equipe auxiliar de anestesiologia ou mesmo um colega mais experiente. O material para a obtenção de uma via aérea cirúrgica deve estar preparado, caso a IOT não seja possível. O curso SAVT sugere a utilização de sedação (etomidato 0,3mg/kg ou midazolam 2 a 5mg por via endovenosa), seguida da curarização com succinilcolina (1 a 2mg/kg). Durante esse procedi- mento, deve ser realizada a manobra de Sellick pela compressão da cartilagem cricóide, com objetivo de impedir o refluxo de conteúdo digestivo para a faringe, o que dificultaria tecnicamen- te a IOT e resultaria em aspiração.2,3,5,6 A intubação orotraqueal em adultos é realizada com laringoscópio e lâmina curva. Após a visualização direta das cordas vocais, a cânula deve ser introduzida gentilmente, durante a ins- piração (se possível), preferencialmente sem guia. Na urgência, as lesões iatrogênicas durante a IOT são mais freqüentes.12,13 Isso ocorre muitas vezes pelo uso inadequado do guia metálico, que lesa a parede membranosa da traquéia caso o ângulo de introdução não seja ideal. Uma vez que a cânula esteja na traquéia, observa-se que há passagem de ar pela mesma e, se o doente não estiver completamente curarizado, algum esforço de tosse. O balonete deve ser insuflado, e a posição do tubo, checada. Com a ventilação com ambu, ausculta-se o epigástrio e os campos pulmonares. Ruídos em epigástrio falam a favor de intubação do esôfago, especialmente se a saturação estiver caindo. Mesmo com a cânula na traquéia, há possibilidade de intubação sele- tiva, quando o murmúrio vesicular fica diminuído à esquerda. Trata-se de um diagnóstico dife- rencial com hemotórax esquerdo, atelectasia por outras causas ou mesmo hérnia diafragmática esquerda. Uma vez que a posição esteja correta, a cânula deve ser fixada e conectada a um respirador, ajustado para oferecer altas frações de oxigênio inspirado nessa fase inicial. PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29117 118 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O Intubação nasotraqueal A intubação nasotraqueal pode ser realizada nos doentes em que a IOT não é tecnicamente possível. Isso ocorre principalmente nos doentes brevilíneos, com pescoço curto e com diminuição do nível de consciên- cia. Para sua realização, deve haver respiração espontânea e, preferencialmente, ausência de fraturas de face.2,3,5,6 A cânula deve ser escolhida com base no diâmetro da narina. Lidocaína gel deve ser aplicada na narina, e a ponta da cânula, introduzida pela mesma até a orofaringe. Nesse momento, a curvatura da cânula traqueal deve ser posicionada de forma que sua ponta esteja direcionada para a laringe, anteriormente. Toma-se atenção ao ruído de entrada e saída de ar pela cânula e, durante um movimento de inspiração, o tubo deve ser introduzido na traquéia. Trata-se de uma intubação realizada sem o auxílio de laringoscópio ou pinças especiais. As manobras para checar o posicionamento da cânula descritas acima devem ser realizadas. Atualmente se descrevem várias alternativas técnicas para a obtenção de vias aéreas em casos em que a IOT não é possível. São exemplos a IOT guiada pela passagem de fio através de punção da membrana cricofaríngea, uso de máscara laríngeaou mesmo a IOT com fibroendoscópio.3,14-16 Devemos lembrar que essas opções demandam certo tempo e estabilidade do doente. Em traumatizados, tais opções são pouco empregadas devido à situação crítica de uma via aérea difícil. Devemos lembrar também que a máscara laríngea não protege o doente de aspiração de conteúdo gástrico refluído. Há certa experiência com o uso de combitube (cânula esofágica multilúmen) em cenários pré-hospitalares.8,17 O combitube é um dispositivo com duas cânulas paralelas e dois balonetes que é posicionado através da boca. Um dos tubos automaticamente ganha acesso à laringe e o outro ao esôfago. Dessa forma, é possível a rápida obtenção de vias aéreas, mesmo em situações críticas. Em nosso país são poucos os centros que dispõem desse dispo- sitivo para uso na sala de emergência. Cricotireoidostomia A cricotireoidostomia por punção da membrana cricotireóidea com gelco calibroso (14 ou 16) pode ser uma opção temporária, mas que não funciona bem se houver secreção nas vias aéreas. O gelco é conectado à fonte de oxigênio através de tubo de borracha com um orifício na porção distal, que é obstruído e liberado (1 segundo: 4 segundos) para se proporcionar a insuflação de oxigênio (jet insufflation).2,3 Apesar da melhora da oxigenação, a ventilação fica comprometida e há retenção de CO 2 . Há casos de pneumotórax iatrogênico associados a erros na técnica de insuflação de ar pela cricotireoidostomia por punção.18 PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29118 119 P R O U R G E N S E M C A DNos casos de insuficiência respiratória grave, com diminuição da saturação e impossibilidade de IOT, cabe a realização de via aérea cirúrgica. Na maioria das vezes, a cricotireoidostomia cirúrgica é a opção mais rápida e efetiva. Se houver tempo, recomenda-se anti-sepsia da pele, assepsia e anestesia local. A incisão da pele é transversal e ao nível da membrana cricotireóidea (entre a borda inferior da cartilagem tireóide e a borda superior da cartilagem cricóide). É importante que tanto o cirurgião como o auxiliar imobilizem a laringe com as mãos para o reconhecimento dos parâmetros anatômicos. Com o bisturi, são incisados os planos da pele, tecido celular subcutâneo, musculatura e mem- brana cricotireóidea, o que é possível em segundos. Não se devem dissecar os planos, mas incisar os tecidos diretamente até a via aérea. Ao penetrar a via aérea, o cabo do bisturi (parte posterior) é introduzido e rodado 90º, de maneira a abrir espaço para a colocação de cânula traqueal. O balão (cuff) é insuflado, e a via aérea, aspirada. É importante checar o posicionamento pela ausculta pulmonar, bem como fixar a cânula e conectá-la ao respirador adequadamente. Outra situação limítrofe ocorre nos ferimentos cervicais penetrantes com lesão de vias aéreas. Pode haver sangramento ativo concomitante à perda de ar pelo ferimento. Muitas vezes, o paciente se encontra em nítida insuficiência respiratória. Nesses casos, consideramos de importância conhecer as manobras de intubação orotraqueal distalmente ao ferimento e intubação traqueal através do ferimento cervical. Se houver condições para a tentativa de intubação orotraqueal, a cânula deve ser introduzida distalmente ao ferimento e, com a insuflação do balão (cuff), assegura-se a ventilação. Caso o cenário seja crítico, procede-se à intubação através do ferimento cervical, se possível na sala de emergência. Para tanto, é necessário iluminação, auxílio e material adequados. Recomenda-se anti-sepsia, assepsia e anestesia lo- cal, caso haja possibilidade. As bordas da ferida devem ser afastadas para expor os planos mais profundos e, uma vez identificado o local de saída de ar, introduz-se a cânula traqueal através do mesmo, sem dissec- ções mais amplas. A traqueostomia foi muito empregada em traumatizados. Entretanto, a chance de lesões iatrogênicas e o tempo até a canulação da via aérea são maiores do que nas cricotireoidostomias. Dessa forma, atualmente sua indicação fica restrita a casos de fraturas de laringe ou crianças (menores de 12 anos) com necessidade de via aérea cirúrgica.2,3 Uma vez que a via aérea esteja segura, imobiliza-se a coluna e segue-se para a próxima etapa, a ventilação (B). PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29119 120 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O 10. Complete o quadro com os possíveis diagnósticos e tratamentos de lesões na avaliação primá- ria que põem em risco a vida. Use como auxílio, as informações contidas na coluna “Ameaça”. Ameaça Diagnóstico Tratamento A Obstrução de vias aéreas Risco de lesão raquimedular B Pneumotórax hipertensivo Pneumotórax aberto Contusão pulmonar Hemotórax maciço C Choque hemorrágico Tamponamento cardíaco D Hipertensão intracraniana Lesões focais cirúrgicas E Hipotermia 11. A obstrução da passagem do ar pelas vias aéreas é o problema a ser identificado e solucio- nado na etapa A da abordagem primária do trauma. Quais são suas possíveis causas? ............................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................... PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29120 121 P R O U R G E N S E M C A D12. De que forma se faz o diagnóstico de obstrução das vias aéreas? ............................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................... 13. Assinale a alternativa INCORRETA em relação às vias aéreas do paciente traumatizado. A) Agitação (freqüentemente associada à hipoxia), torpor (associado à hipercarbia), cianose central, tiragem, taquipnéia e dispnéia nos induzem a pensar em compro- metimento da função respiratória. B) Quando escutamos respiração “ruidosa” e alteração na voz (disfonia), principalmen- te quando associadas à diminuição bilateral da expansibilidade torácica, o problema está mais freqüentemente nas vias aéreas. C) Se o doente está falando, sua voz não tem problemas e há nítida insuficiência respi- ratória, não deve haver problema mais específico de troca gasosa, não necessitan- do exame torácico. D) Vômitos freqüentes, falta de dentes ou próteses, como também fraturas complexas de face com sangramento maior chamam a atenção para possibilidade de aspiração. 14. Que informação sobre a manobra de desobstrução das vias aéreas do paciente traumatizado é INCORRETA? A) Todas as manobras para desobstrução das vias aéreas devem ser realizadas com o alinhamento manual da coluna cervical. B) O colar cervical isoladamente é suficiente para impedir a mobilização da coluna. C) Para o controle das vias aéreas em traumatizados, inicialmente a boca é aberta, e a cavidadeoral, examinada. D) Usa-se um aspirador rígido para a aspiração da cavidade oral, tomando-se o cuida- do de não estimular o palato mole, pois isso pode induzir ao reflexo de vômito. Respostas no final do capítulo 15. Complete o quadro com as opções mais freqüentes de VAD, suas técnicas e indicações. VAD Técnica Características Tipo de paciente Intubação orotraqueal Intubação nasotraqueal Cricotireoidostomia cirúrgica PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29121 122 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O B: VENTILAÇÃO (BREATHING) O objetivo nessa etapa é assegurar a troca gasosa ao nível da membrana alvéolo-capilar através de uma ventilação adequada. As lesões que ameaçam a vida nesse ponto são:2,3,5,6 ■ pneumotórax hipertensivo; ■ pneumotórax aberto; ■ contusão pulmonar (com ou sem tórax flácido associado); ■ hemotórax maciço; ■ grandes hérnias diafragmáticas. A falha na ventilação observada nas lesões altas de medula espinhal também pode ser entendida como uma urgência nessa fase. Pneumotórax hipertensivo Define-se pneumotórax pela presença de ar no espaço pleural, que normalmente é virtual. O pneumotórax é dito hipertensivo quando há um mecanismo valvulado que permite a entrada (mas não a saída) de ar no espaço pleural. O aumento da pressão colapsa o pulmão e o comprime contra o mediastino, que é rechaçado para o lado contralateral, o que determina o chamado “balanço mediastinal”. Isso diminui o volume de sangue que entra no átrio direito, determinando redução do débito cardíaco. Clinicamente, essa situação extrema é reconhecida pela grave insuficiência respiratória, taquipnéia, dispnéia, bem como pela cianose central, diminuição de murmúrio vesicular à ausculta e timpanismo à percussão no lado acometido. Há também taquicardia, diminuição da perfusão de extremidades e hipotensão arterial. Eventualmente, ao exame da região cervical, se observa o ingurgitamento das veias jugulares externas e desvio da traquéia para o lado contralateral. A morte é iminente e não se devem realizar exames comple- mentares. A conduta deve ser tomada com base no diagnóstico clínico. Para o pneumotórax hipertensivo, recomenda-se a toracocentese com gelco 14 no 2o espaço intercostal, na linha hemiclavicular (Figura 4A). Esse procedimento deve ser seguido da drena- gem de tórax no 5o espaço intercostal, entre as linhas axilar média e anterior (Figura 4B). A técnica da drenagem inclui a anti-sepsia de pele, anestesia local, incisão de pele, dissecção com pinça hemostática até a costela, que deve ser contornada pela sua borda superior, e penetração na cavidade pleural. O dedo indicador do cirurgião deve ser introduzido na cavidade pleural para avaliação da presença de ruptura do diafragma ou de aderências pleurais. LEMBRAR PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29122 123 P R O U R G E N S E M C A DO dreno (36 a 40 French) deve ser conectado a selo de água (com coluna líquida aproximada de 10cm) e fixado à pele. Figura 4 – (A) Toracocentese; (B) Drenagem torácica. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Após a drenagem, é fundamental checar o funcionamento do dreno e do sistema através da ausculta pulmonar e do oxímetro de pulso. Freqüentemente há uma perda aérea grande inicial com tendência à diminuição progressiva. Se houver persistência da perda aérea, deve-se suspeitar de falha no sistema de drenagem ou de lesão de via aérea (traquéia ou brônquios centrais). A B PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29123 124 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O Pneumotórax aberto Outra situação de risco imediato de vida é o pneumotórax aberto. Nesse caso, há uma solução de continui- dade da parede torácica maior do que 2/3 do diâmetro da traquéia. Durante a inspiração, o rebaixamento do diafragma torna a pressão intratorácica negativa, o ar entra pelo ferimento e ganha acesso à cavidade pleural. Progressivamente há insuficiência respiratória tanto pelo colabamento pulmonar como pela dimi- nuição da entrada de ar pelas vias aéreas. O diagnóstico do pneumotórax aberto é clínico e determinado pela presença do ferimento e de traumatopnéia, definida pelo ruído da entrada e saída de ar através do ferimento da parede torácica. Não há necessidade de exames complementares. O tratamento do pneumotórax aberto consiste na oclusão do ferimento com o “curativo de três pontas”, no qual um dos lados é deixado aberto para permitir a saída de ar da cavidade pleural na expiração, enquanto impede a entrada do mesmo durante a inspiração. Esse procedimento é seguido de drenagem torácica. Contusão pulmonar A contusão pulmonar freqüentemente está associada a fraturas de costelas. Isso é menos comum em crianças pela maleabilidade óssea. Se houver fraturas de duas ou mais costelas em dois ou mais pontos forma-se um segmento isolado da parede torácica. Isso é chamado de tórax flácido, e a respiração para- doxal é uma das características dessa situação. Observa-se que esse segmento instável apresenta uma movimentação contrária à fisiológica, direcionando-se “para dentro” do tórax na inspiração e “para fora” durante a expiração. É importante ressaltar que a insuficiência respiratória associada a essa condição é secundária, na maioria das vezes, à contusão pulmonar. Há reação inflamatória aguda secundária ao trauma e distúrbios de distribui- ção do fluxo sangüíneo que comprometem a troca gasosa na membrana alvéolo-capilar. Dessa forma, a con- tusão pulmonar determina distúrbio de ventilação-perfusão que pode resultar em hipoxia grave. O tratamento da contusão pulmonar varia de acordo com a gravidade da mesma e, caso haja falência respiratória na sala de emergência, deve-se realizar a intubação orotraqueal e respira- ção assistida com oferta de altas frações de oxigênio (FIO 2 ). Hemotórax maciço O hemotórax maciço pode resultar em insuficiência respiratória. O acúmulo de sangue na cavidade pleural é freqüentemente causado por lesões pulmonares, mas também está associado a lesões de artérias inter- costais, artéria torácica interna, vasos do hilo pulmonar ou mesmo lesões cardíacas. O diagnóstico é clínico, sendo baseado na presença de taquipnéia, dispnéia, cianose central, anemia, taquicardia, bem como diminuição do murmúrio vesicular à ausculta e macicez à per- cussão do lado acometido. PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29124 125 P R O U R G E N S E M C A DO tratamento é a drenagem torácica no 50 espaço intercostal, entre a linha axilar anterior e média. Deve-se fazer o diagnóstico diferencial com situações que determinem atelectasia pul- monar (intubação seletiva, aspiração de corpos estranhos, sangue ou conteúdo gástrico, lesão de brônquio) e com hérnias diafragmáticas. Uma vez que essas situações tenham sido identificadas e tratadas, seguimos para a próxima fase, a circu- lação (C). 16. Complete o quadro com as lesões que mais ameaçam a vida na fase de ventilação (B): Ameaça Diagnóstico Tratamento Pneumotórax hipertensivo Pneumotórax aberto Contusão pulmonar Hemotórax maciço 17. Qual a causa mais freqüente de hemotórax traumático? A) Lesão pulmonar. B) Lesão de artérias intercostais. C) Lesão cardíaca. D) Lesão de artéria mamária. Resposta no final do capítulo CIRCULAÇÃO E CONTROLE DA HEMORRAGIA A ameaça iminente de vida nessa etapa é o choque, definido como diminuição da perfusão tecidual com conseqüente redução da oferta de oxigênio e da produção de energia pela célula.2,3,5,6 O resultado é a morte celular. Em trauma, até que se prove o contrário, a causa do choque é hemorragia. O diagnósticoé clínico pela constatação de diminuição da perfusão e temperatura das extremi- dades, taquicardia e diminuição da amplitude do pulso, hipotensão arterial, agitação ou torpor, taquipnéia e diminuição do débito urinário. Contudo, muitas vezes o quadro clínico é mais sutil. Todo traumatizado que se apresentar com taquicardia e diminuição da perfusão periférica deve ser considerado em choque até que se prove o contrário. PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29125 126 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O O curso SAVT propõe a classificação da hemorragia em quatro classes: ■ na hemorragia classe I, há perda de até 15% da volemia e o doente não apresenta sinais clínicos; ■ na hemorragia classe II, a perda volêmica alcança 15 a 30%, o traumatizado apresenta taquicardia, diminuição da perfusão periférica e da pressão de pulso (diferença entre as pressões sistólica e diastólica); ■ na hemorragia classe III, com 30 a 40% de perda volêmica, há hipotensão arterial, piora da taquicardia e o doente está freqüentemente agitado e ansioso; ■ na hemorragia classe IV há perda de mais de 40% da volemia, taquicardia intensa, hipotensão arterial grave, já com comprometimento do nível de consciência.2,3 O tratamento do doente em choque hemorrágico se baseia em dois princípios: controle da hemorragia e reposição volêmica. A reanimação volêmica agressiva não substitui o controle da hemorragia. O foco de sangramento deve ser pesquisado na sala de emergência (Tabela 2), e a reposição volêmica, iniciada. Nos ferimentos penetrantes, o local de entrada auxilia na identificação do foco mais provável de hemorragia. Nos traumas fechados, a identificação pode ser mais difícil. Devemos procu- rar por hemorragia externa, foco hemorrágico torácico (hemotórax), abdominal ou ósteo- muscular. Algumas vezes, os ferimentos de couro cabeludo podem sangrar bastante, principalmente se a artéria temporal for acometida. O sangramento para o tórax deveria ter sido, provavelmente, identificado no item B, e a drenagem de tórax, realizada. O sangramento abdominal é de difícil diagnóstico clínico, pois muitas vezes não há dor abdominal ou sinais de irritação peritoneal. Exames complementares como a lavagem peritoneal diagnóstica (LPD) ou o Focused Assessment Sonography for Trauma (FAST) podem ser empre- gados para a identificação de sangramento abdominal. Avalia-se a presença de fraturas em ossos longos, que podem ser focos importantes de hemorragia. Estima-se que o sangramento de uma fratura de fêmur possa alcançar até 1.500mL e o de uma fratura em perna ou braço, até 750mL.2,3 Outra fonte importante a ser pesquisada são as fraturas de bacia. Depen- dendo do tipo, uma fratura pélvica pode ser causa de morte por hemorragia, principalmente na presença de instabilidade horizontal (open book) ou vertical (Malgaigne). Portanto, aplica-se força sobre as cristas ilíacas e, na presença de dor, uma fratura deve ser suspeitada. LEMBRAR PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29126 127 P R O U R G E N S E M C A D O tratamento proposto para o controle do foco de hemorragia na sala de emergência é a com- pressão dos ferimentos que apresentam sangramento externo, o alinhamento e estabilização das fraturas de ossos longos e a aplicação de algum dispositivo para restaurar o volume pélvico, como, por exemplo, o envolvimento da mesma com lençol, talafix® ou PASG (pneumatic anti- shock garment) (Figura 5). Tabela 2 OPÇÕES DE INVESTIGAÇÃO E TRATAMENTO PARA OS FOCOS HEMORRÁGICOS MAIS FREQÜENTES Local Externo Tórax Cavidade peritoneal Retroperitônio Membros Problema Lesões de pele, fáscia, musculatura e vasos. Fraturas expostas. Amputações traumáticas. Hemotórax. Lesão de vasos mediastinais (tamponada). Ferimento cardíaco. Hemoperitônio. Fraturas de bacia. Lesões renais. Lesões vasculares. Fraturas. Lesões vasculares. Diagnóstico Inspeção. Mecanismo de trauma. Diminuição murmúrio vesicular. Macicez à percussão. Radiografia de tórax. Mecanismo de trauma. Múltiplas fraturas em tórax. Ferimentos mediastinais. Radiografia de tórax. Ferimento precordial. Abafamento de bulhas. Estase jugular. Hipotensão arterial. FAST. Mecanismo: indicadores de lesão. Ferimentos penetrantes. Distensão abdominal. Dor abdominal. Lavagem peritoneal diagnóstica. FAST. Dor à mobilização da bacia. Instabilidade da bacia. Radiografia de pelve. Hematúria. Diminuição pulso femoral. Ferimentos penetrantes. Desvio. Dor. Hematoma. Crepitação. Perda funcional. Ferimentos penetrantes. Tratamento Curativo compressivo. Suturas hemostáticas. Garroteamento (exceção). Amputação. Drenagem torácica. Toracotomia. Angiografia. Toracotomia. Pericardiocentese. Toracotomia. Tratamento não-operatório. Laparotomia exploradora. Imobilização pélvica. Fixação externa precoce. Angiografia e embolização. Angiografia e embolização. Laparotomia exploradora. Angiografia. Laparotomia exploradora. Alinhamento membro. Imobilização do membro. PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29127 128 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O Há situações em que o sangramento em membros põe em risco a vida, como nos casos de amputações traumáticas ou fraturas expostas graves. Nesses casos, se recomenda a utilização judiciosa de garroteamento do membro. Contudo, na maioria das vezes o foco de sangramento pode ser controlado apenas com compressão local. A reposição volêmica deve ser realizada através de gelcos calibrosos (14 ou 16) em membros superiores (se possível). Atualmente, a recomendação é a reposição de Ringer lactato, de 1.000 a 2.000mL inicialmente.2,3 Com o objetivo de evitar a hipotermia, essa solução deve ser infundida aquecida (37 a 39ºC). Há muitas pesquisas sobre a reposição volêmica em traumatizados. O debate na utilização de cristalóides versus colóides foi recentemente reavivado, com os mesmos resultados observados anteriormente.19-21 A utilização de cristalóides isotônicos tem resultados comparáveis ao uso de colóides, com custo e rea- ções transfusionais menores.21 Outras opções vêm sendo testadas como o Ringer piruvato e a solução salina hipertônica.22,23 Em nosso país, vários estudos demonstraram a eficácia da reposição de solução salina hipertônica (NaCl 7,5%) em recuperar rapidamente as condições hemodinâmicas no choque hemorrágico experimental e clínico.23,24 Essa solução também apresenta outras vantagens, principalmente na área de resposta imunológica.25,26 Contudo, sua utilização ainda não é recomendada pelo curso SAVT. No momento da punção venosa, deve ser colhida amostra para tipagem sangüínea e exames complemen- tares. A indicação de reposição de concentrados de hemácias varia de acordo com vários aspectos. Há três possibilidades: tipo O negativo, tipo-específico e com prova-cruzada. Se houver risco iminente de morte, usa-se pelo menos a primeira unidade de O negativo. Caso houver possibilidade, preferencialmente, se indicam concentrados de hemácias com prova cruzada, para diminuir os riscos de reações transfusionais. Figura 5 – Imobilização pélvica com talafix® nos casos de suspeita de fratura instável de bacia. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29128 129 P R O U R G E N S E M C A DO atraso na indicação de transfusão de concentrados de hemácias pode ser deletério. Nos traumatizados com hemorragia ativa e grave, esperar por exames laboratoriais para iniciar transfu- são é um erro. A experiência do cirurgião em reconhecera ameaça iminente à vida permite a indicação, sem demora, de reposição de hemácias. Há pesquisas com substitutos da hemoglobina, com resultados variados.19 Ainda não se dispõe de dados para uma recomendação formal de uso. O objetivo do tratamento do choque hemorrágico é restaurar a oferta de oxigênio aos tecidos. Portanto, a utilização de drogas vasoativas ou bicarbonato de sódio é de exceção. Contudo, há relatos de melhora dos parâmetros hemodinâmicos refratários à infusão de volume com a utilização de vasopressina.27 O curso SAVT não recomenda o uso de drogas vasoativas na reanimação inicial do traumatizado. Cabe res- saltar que a infusão endovenosa de grandes volumes de cristalóides isotônicos não é indene, uma vez que estimula a resposta inflamatória e ativa neutrófilos. É também prejudicial nos casos de contusões pulmona- res e trauma craniencefálico por aumentar o líquido intersticial, o que piora a função pulmonar e aumenta a pressão intracraniana.2,3,5,6,16,21 Se não houver possibilidade de punção venosa, uma flebotomia deve ser realizada. A passagem de cate- teres centrais nessa situação traz um risco elevado de iatrogenias, além de não oferecer um fluxo adequa- do para a infusão rápida de volume. O procedimento mais rápido é a dissecção da veia safena magna anteriormente ao maléolo interno. Outras opções são as veias basílica, cefálica ou braquial em membros superiores. Se houver material adequado, há possibilidade de puncionar a veia femoral pela técnica de Seldinger, com passagem de um fio guia e cateter de grosso calibre. Em crianças com até 6 anos de idade, a infusão intra-óssea é uma opção rápida e segura.2,3 O próximo passo no tratamento do traumatizado está na dependência da resposta hemodinâmica à reanimação volêmica. Três situações podem acontecer: ■ recuperação dos parâmetros hemodinâmicos. O doente permanece hemodinamicamente normal após a reposição inicial. Nesse caso, devemos ter em mente que, provavelmente, houve sangramento, e as causas possíveis devem ser pesquisadas; ■ recuperação transitória dos parâmetros hemodinâmicos. Nesse caso, após atingir o status de hemodinamicamente normal, há nova deterioração dos dados vitais. Esse sinal nos alerta para a possi- bilidade de haver sangramento ativo. Os possíveis focos hemorrágicos devem ser investigados pronta- mente, na sala de emergência. Mais líquido deve ser infundido, sendo freqüentemente necessária a transfusão de concentrados de hemácias; ■ ausência de recuperação hemodinâmica. O doente permanece hemodinamicamente anormal. Há três possibilidades: sangramento ativo de grande monta, reposição inadequada de líquidos e causa não hemorrágica de choque. Se houver hemorragia grave e ativa, muitas vezes a hemostasia só será possível em centro cirúrgico, através de toracotomias, laparotomias, reparos vasculares ou amputações. O re- conhecimento dessa situação deve ser precoce, e o doente, encaminhado prontamente para uma “reanimação” em sala operatória, sem a realização de exames complementares. Nes- ses casos, o controle da hemorragia é prioritário e outros problemas concomitantes devem ser resolvidos posteriormente. As vítimas de trauma penetrante em tronco admitidas com hipotensão arterial são exemplo dessa situação. LEMBRAR PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29129 130 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O Quando a perda volêmica é muito grande, a reposição inicial com 2.000mL de Ringer lactato não é suficien- te. São exemplos os doentes com múltiplas lesões associadas e fraturas complexas de bacia. Freqüentemente há necessidade de reposição de grandes volumes de cristalóides e concentrados de hemácias. Uma terceira possibilidade a ser considerada é uma causa não-hemorrágica de choque. Avalia-se a pos- sibilidade de pneumotórax hipertensivo pela ausculta do tórax. O acúmulo de sangue no saco pericárdico pode dificultar a entrada de sangue no coração, diminuindo a pré-carga, o que é conhecido como tamponamento cardíaco. É mais freqüente em vítimas de trauma penetrante e pode ser reconhecido pela tríade de Beck: hipotensão arterial, estase jugular e abafamento de bulhas cardíacas à ausculta. O comple- xo QRS pode estar com amplitude diminuída. Atualmente, dispomos do FAST para a investigação da pre- sença de líquido no pericárdio na sala de emergência. O tratamento temporário proposto é a punção de Marfan (pericardiocentese) até que a toracotomia seja possível. Inicia-se com a monitoração cardíaca e, com uma agulha longa, punciona-se o ângulo entre o processo xifóide e a reborda costal esquerda, com angulação de 45º com a pele, direcionando-se a agulha para o ombro esquerdo. Essa conduta é controversa, uma vez que se um cirurgião treinado estiver disponível na sala de emergência, provavelmente uma toracotomia de emergência teria melhores resultados do que a punção. Devido às possíveis iatrogenias, consideramos a punção de Marfan como uma conduta de exceção, que deve ser realizada apenas por pessoas treinadas, em condições de morte iminente. As lesões cardíacas por trauma fechado também podem manifestar-se com hipotensão arterial. Em al- guns casos, arritmias e/ou alterações de repolarização no eletrocardiograma são observadas. Eventual- mente, há sinais de insuficiência cardíaca como estertores crepitantes e estase jugular. O FAST ajuda no diagnóstico diferencial com tamponamento cardíaco. O tratamento é selecionado a cada caso e envolve um suporte clínico em terapia intensiva. O choque neurogênico ocorre pela perda do tônus simpático, determinando vasodilatação e bradicardia. É observado nas lesões raquimedulares altas e em estágios terminais de trauma craniencefálico. É reco- nhecido pela presença de hipotensão arterial associada a extremidades coradas e ausência de taquicardia. O tratamento é a reposição volêmica e, caso seja necessária, a utilização de drogas vasoativas. Mesmo os doentes com trauma raquimedular podem ter hemorragia interna oculta, e a presença do déficit neurológico não assegura o diagnóstico de choque neurogênico. Também é oportuno lembrar que o trauma craniencefálico não deve ser considerado como causa de choque até que a possibilidade de hemorragia tenha sido descartada. LEMBRAR PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29130 131 P R O U R G E N S E M C A DUma vez que o estado hemodinâmico tenha sido avaliado e os possíveis focos de hemorragia sejam iden- tificados, as manobras para hemostasia, tomadas e a infusão volêmica, iniciada, passa-se para a próxima prioridade, a avaliação neurológica (D). 18. Correlacione as colunas de acordo com a classificação da hemorragia proposta pelo curso SAVT. (1) Hemorragia classe I ( ) Com 30 a 40% de perda volêmica, há hipotensão arterial, piora da taquicardia, e o doente está freqüentemente agitado e ansioso. (2) Hemorragia classe II ( ) Há perda de mais de 40% da volemia, taquicardia inten- sa, hipotensão arterial grave, já com comprometimento do nível de consciência. (3) Hemorragia classe III ( ) A perda volêmica alcança 15 a 30%, o traumatizado apre- senta taquicardia, diminuição da perfusão periférica e da pressão de pulso (diferença entre as pressões sistólica e diastólica). (4) Hemorragia classe IV ( ) Há perda de até 15% da volemia e o doente não apre- senta sinais clínicos. Respostas no final do capítulo PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29131 132 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O Local Externo Tórax Cavidade peritoneal Retroperitônio Membros Problema Diagnóstico Inspeção. Mecanismo de trauma. Diminuição murmúriovesicular. Macicez à percussão. Radiografia de tórax. Mecanismo de trauma. Múltiplas fraturas em tórax. Ferimentos mediastinais. Radiografia de tórax. Ferimento precordial. Abafamento de bulhas. Estase jugular. Hipotensão arterial. FAST. Mecanismo: indicadores de lesão. Ferimentos penetrantes. Distensão abdominal. Dor abdominal. Lavagem peritoneal diagnóstica. FAST. Dor à mobilização da bacia. Instabilidade da bacia. Radiografia de pelve. Hematúria. Diminuição pulso femoral. Ferimentos penetrantes. Desvio. Dor. Hematoma. Crepitação. Perda funcional. Ferimentos penetrantes. Tratamento Curativo compressivo. Suturas hemostáticas. Garroteamento (exceção). Amputação. Drenagem torácica. Toracotomia. Angiografia. Toracotomia. Pericardiocentese. Toracotomia. Tratamento não-operatório. Laparotomia exploradora. Imobilização pélvica. Fixação externa precoce. Angiografia e embolização. Angiografia e embolização. Laparotomia exploradora. Angiografia. Laparotomia exploradora. Alinhamento membro. Imobilização do membro. 19. Complete o quadro com os possíveis focos hemorrágicos mais freqüentes em traumatizados. Utilize as informações de diagnóstico e tratamento como apoio. PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29132 133 P R O U R G E N S E M C A D 20. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito do tratamento do choque hemorrágico em traumatizados. A) O objetivo do tratamento do choque hemorrágico é restaurar a oferta de oxigênio aos tecidos. B) A utilização de drogas vasoativas ou bicarbonato de sódio é de exceção. C) O curso SAVT recomenda o uso de drogas vasoativas na reanimação inicial do traumatizado. D) A infusão endovenosa de grandes volumes de cristalóides isotônicos não é indene, uma vez que estimula a resposta inflamatória e ativa neutrófilos. 21. Complete as definições a partir dos conceitos no quadro. recuperação transitória dos parâmetros hemodinâmicos - recuperação dos parâmetros hemodinâmicos - ausência de recuperação hemodinâmica. A) ..................................................: O doente permanece hemodinamicamente normal após a reposição inicial. Nesse caso, devemos ter em mente que, provavelmente, houve sangramento, e as causas possíveis devem ser pesquisadas. B) ..................................................: Nesse caso, após atingir o status de hemodinamicamente normal, há nova deterioração dos dados vitais. Esse sinal nos alerta para a possibilidade de haver sangramento ativo. Os possíveis focos hemorrágicos de- vem ser investigados prontamente, na sala de emergência. Mais líquido deve ser infundi- do, sendo freqüentemente necessária a transfusão de concentrados de hemácias. C) ....................................................: O doente permanece hemodinamicamente anor- mal. Há três possibilidades: sangramento ativo de grande monta, reposição inadequada de líquidos e causa não-hemorrágica de choque. Respostas no final do capítulo D: NEUROLÓGICO (DISABILITY) Nessa etapa, a ameaça é a hipertensão intracraniana.2,3,5,6 A herniação do uncus resultante comprime o tronco encefálico, determinando alterações no sistema nervoso autônomo que põem em risco a sobrevivên- cia. Realiza-se um “mini” exame neurológico com objetivo de identificar potenciais candidatos à descompressão cirúrgica de lesões intracranianas focais. São avaliados o nível de consciência, as pupilas e a resposta motora. Doentes com diminuição do nível de consciência, com anisocoria e/ou sinais de localizatórios são considerados portadores de lesões focais de tratamento cirúrgico até que seja provado o contrário. LEMBRAR PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29133 134 A T E N D IM E N T O I N IC IA L A O T R A U M A T IZ A D O O tratamento é evitar a injúria secundária, bem como acelerar a realização de tomografia computadorizada de crânio e a avaliação neurocirúrgica. Entende-se por injúria neurológica secundária aquela causada por hipoxia, hipercarbia, anemia e/ou hipotensão arterial. Portanto, o tratamento ideal é assegurar a reanima- ção feita até o momento, mantendo oxigenação, ventilação e perfusão tecidual adequadas. A realização da tomografia de crânio deve ser a prioridade, em conjunto com a avaliação neurocirúrgica. Caso constata- das lesões de tratamento operatório, o doente deve ser encaminhado ao centro cirúrgico para a descompressão sem atraso. Uma vez que seja realizada a avaliação neurológica, passamos para a próxima fase, a exposição e con- trole da hipotermia (E). E: EXPOSIÇÃO E CONTROLE DA HIPOTERMIA Nesse momento o doente deve ser totalmente despido. A hipotermia é uma ameaça à vida em traumatizados, não apenas pelas alterações de condução cardíaca, mas principalmente pela acidose metabólica e coagulopatia que determina. Portanto, todas as medidas na tentativa de evitá-la são prioritárias. Aqueci- mento da sala de emergência, uso de cobertores, utilização de soluções aquecidas a serem infundidas são algumas das possibilidades. Se o dorso não foi ainda avaliado, devemos proceder com a rotação em bloco do paciente, tomando-se o cuidado para não mobilizar a coluna vertebral. Para tanto, são necessárias três pessoas para a rotação e uma para a avaliação da região posterior. Enquanto uma pessoa imobiliza a coluna cervical e comanda verbalmente os passos do movimento, outras duas exe- cutam o rolamento (Figura 6). O médico restante realiza a palpação da coluna vertebral e a procura ativa de orifícios de projéteis de arma de fogo ou outros ferimentos. O toque retal pode ser realizado nessa oportunidade, sendo avaliada a ampola retal, presença de sangue ou espículas ósseas e, nos homens, a próstata. Figura 6 – Posicionamento da equipe para realizar o rolamento do paciente em bloco. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. PROURGENC1M2-103-152.pmd 11/12/2007, 14:29134 135 P R O U R G E N S E M C A DMEDIDAS COMPLEMENTARES À AVALIAÇÃO PRIMÁRIA Consideramos complementares à avaliação primária a sondagem gástrica e vesical, monitoração cardíaca e oxímetro de pulso, bem como a realização de radiografia de tórax e bacia. O FAST ou a LPD podem também ser considerados medidas complementares quando há suspeita de sangramento intra-abdominal ou tamponamento cardíaco. Nos doentes em choque, a gasometria arterial pode nos fornecer dados impor- tantes sobre a efetividade da reanimação volêmica. A sondagem nasogástrica está contra-indicada na suspeita de fraturas de base de crânio pelo risco de penetração da sonda no encéfalo durante a introdução da mesma pela narina. Os sinais clínicos que indicam fraturas em base de crânio são otorragia, nasoliquorréia (perda de liquor pelo nariz), otoliquorréia (perda de liquor pelo ouvido), equimose periorbital (sinal do guaxinim), equimose retroauricular (sinal de Battle), fraturas graves na face e paralisia do VII par craniano. Nessa eventualidade, a passagem da sonda deve ser reservada aos indivíduos com diminuição do nível de consciência, por via orogástrica. A sonda vesical está contra-indicada nos casos de suspeita de ruptura de uretra, pelo risco de piorar a lesão já existente e/ou formação de falso trajeto. Os sinais clínicos são a uretrorragia, equimose perineal ou de bolsa escrotal, bem como o deslocamento cranial da próstata ao toque retal. A realização de uma uretrografia dá o diag- nóstico e orienta a conduta. As radiografias de tórax e bacia nos fornecem informações importantes e que podem não estar aparentes no exame físico, como alargamentos de mediastino sugerindo lesões de vasos mediastinais, hérnias diafragmáticas ou mesmo fraturas de bacia. REAVALIAÇÃO Em qualquer momento,
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