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Direito Administrativo Prof.: Aline Doval Ministério Público da União Técnico Direito Administrativo MPU Página 2 Prof. Aline Doval NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO: 1 Noções de organização administrativa. 2 Administração direta e indireta, centralizada e descentralizada. 3 Ato administrativo: conceito, requisitos, atributos, classificação e espécies. 4 Agentes públicos. 4.1 Espécies e classificação. 4.2 Cargo, emprego e função públicos. 5 Poderes administrativos. 5.1 Hierárquico, disciplinar, regulamentar e de polícia. 5.2 Uso e abuso do poder. 6 Licitação. 6.1 Princípios, dispensa e inexigibilidade. 6.2 Modalidades. 6.3 Lei nº 8.666/1993. 7 Controle e responsabilização da administração. 7.1 Controles administrativo, judicial e legislativo. 7.2 Responsabilidade civil do Estado. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA Introdução: Organização administrativa é o capítulo do Direito Administrativo que estuda a estrutura interna da Administração Pública, os órgãos e as pessoas jurídicas que a compõem. Para cumprir suas competências constitucionais, a Administração Pública dispõe de duas técnicas diferentes: a desconcentração e a descentralização. Concentração e Desconcentração: Concentração é o modo de cumprimento de competências administrativas por meio de órgãos públicos despersonalizados e sem divisões internas em repartições e departamentos. Trata-se de situação raríssima, pois pressupõe a completa ausência de distribuição de tarefas. Na desconcentração, as atribuições são repartidas entre órgãos públicos pertencentes a uma única pessoa jurídica, mantendo a vinculação hierárquica. O conceito geral da concentração e da desconcentração é a noção de órgão público. Órgão público é um núcleo de competências estatais sem personalidade jurídica própria. É uma unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da Administração indireta. São partes de uma pessoa governamental, razão pela qual também são denominadas repartições públicas. Administração Pública Direta ou Centralizada: É o conjunto de órgãos públicos. Pertencem à Administração Direta todas as entidades federativas, ou seja, União, Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios. Centralização e Descentralização: Centralização é o desempenho de competências administrativas por uma única pessoa jurídica governamental. É o que ocorre, por exemplo, com as atribuições exercidas diretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Já na descentralização, as competências administrativas são exercidas por pessoas jurídicas autônomas, criadas pelo Estado para tal finalidade. Exemplos: autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista. O instituto fundamental da descentralização é a entidade. Entidade é a unidade dotada de personalidade jurídica própria. Tendo personalidade autônoma, respondem judicialmente pelos prejuízos causados por seus agentes públicos. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 3 Desconcentração Descentralização Competências atribuídas a órgãos públicos sem personalidade jurídica Competências atribuídas a entidades com personalidade jurídica autônoma O conjunto de órgãos forma a Administração Pública Direta ou Centralizada O conjunto de entidades forma a Administração Pública Indireta ou Descentralizada Órgãos não podem ser acionados diretamente perante o Poder Judiciário Entidades descentralizadas respondem judicialmente pelo prejuízo causado a particulares Exemplos: Ministérios, Secretarias, Delegacias de Polícia ou da Receita Federal, Tribunais e Casas Legislativas. Exemplos: Autarquias, Fundações Públicas, Sociedades de Economia Mista, Empresas Públicas. Entidades da Administração Pública Indireta: A Administração Pública Indireta ou Descentralizada é composta por pessoas jurídicas autônomas com natureza de direito público ou de direito privado. De direito público De direito privado Autarquias Empresas públicas Fundações públicas Fundações governamentais Agências reguladoras Sociedades de economia mista Associações públicas ------- Autarquias: São pessoas jurídicas de direito público interno, pertencentes à Administração Pública Indireta, criadas por lei específica para o exercício de atividades típicas da Administração Pública. Exemplos: INSS, BACEN, IBAMA, CADE, INCRA, UFRGS. Na maioria das vezes, o nome instituto designa entidades públicas com natureza autárquica. Conceito legislativo: Autarquia é um serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeriam, para seus melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada. Características: São pessoas jurídicas de direito público; são criadas e extintas por lei específica; são dotadas de autonomia gerencial, orçamentária e patrimonial; nunca exercem atividade econômica; são imunes a impostos; seus bens são públicos; praticam atos administrativos; celebram contratos administrativos; o regime normal de contratação é estatutário; possuem as prerrogativas especiais da Fazenda Pública; respondem objetiva e diretamente pelos prejuízos causados a terceiros; sofrem controle dos tribunais de contas; observam regras de contabilidade pública; devem realizar licitações; estão sujeitas à vedação de acumulação de cargos e funções públicas; seus dirigentes ocupam cargos em comissão. As autarquias não estão subordinadas hierarquicamente à Administração Pública Direta, mas sofrem um controle finalístico chamado de supervisão ou tutela ministerial. Direito Administrativo MPU Página 4 Prof. Aline Doval Espécies de Autarquias Administrativas ou de Serviços INSS, IBAMA Especiais Stricto sensu SUDAM, SUDENE Agências reguladoras ANATEL, ANEEL Corporativas ou profissionais CREA, CRM,... (OBS: JAMAIS OAB) Fundacionais PROCON, FUNASA, FUNAI Territoriais Territórios Federais Agências Reguladoras: Foram introduzidas no direito brasileiro para fiscalizar e controlar a atuação de investidores privados que passaram a exercer as tarefas desempenhadas, antes da privatização, pelo próprio Estado. São autarquias com regime especial, possuíndo todas as características jurídicas das autarquias comuns, mas delas se diferenciando em razão de suas peculiaridades em seu regime jurídico: os dirigentes são estáveis; e os mandatos são fixos. Fundações Públicas: São pessoas jurídicas de direito público interno, instituídas por lei especifica mediante a afetação de um acervo patrimonial do Estado a uma dada finalidade pública. Exemplos: FUNAI, FUNASA, IBGE, FUNARTE e Fundação Biblioteca Nacional. As fundações públicas são espécies de autarquias. Podem exercer todas as atividades típicas da Administração Pública, como prestar serviços públicos e exercer poder de polícia. Fundações governamentais: São entidades dotadas de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para ao desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio própriogerido pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes. Exemplo: Fundação Padre Anchieta, fundação governamental do Estado de São Paulo, mantenedora da Rádio e TV Cultura. Fundações públicas Fundações governamentais Pessoas jurídicas de direito público Pessoas jurídicas de direito privado Criadas por lei específica Criadas por autorização legislativa A personalidade jurídica surge com a publicação da lei A personalidade jurídica surge com o registro dos atos constitutivos em cartório, após publicação de lei autorizando e do decreto regulamentando a instituição São extintas por lei específica São extintas por baixa em cartório Espécie do gênero autarquia Categoria autônoma Titularizam serviços públicos Não podem titularizar serviços públicos Associações Públicas: São pessoas jurídicas de direito público interno pertencentes à Administração Pública Indireta. Possuem alguns privilégios, tais como o poder de promover desapropriações e de instituir servidões; possibilidade de serem contratadas Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 5 pela Administração Direta ou Indireta, com dispensa de licitação; o dobro do limite para contratação, por dispensa de licitação em razão do valor. Empresas estatais: São pessoas jurídicas de direito privado pertencentes à Administração Pública Indireta, a saber: sociedades de economia mista e empresas públicas. Embora possuam a personalidade de direito privado, tais entidades sofrem controle pelos Tribunais de Contas, Poder Legislativo e Judiciário; devem contratar mediante prévia licitação; devem realizar concursos públicos; contratam pessoal em regime celetista (exceto os dirigentes que estão sujeitos ao regime comissionado). Empresas públicas: São pessoas jurídicas de direito privado, criadas por autorização legislativa, com totalidade de capital público, e regime organizacional livre. Exemplos: BNDES, CEF, ECT, EMBRAPA e INFRAERO. Prestam serviços públicos ou exercem atividades econômicas. Sociedades de economia mista: São pessoas jurídicas de direito privado, criadas por autorização legislativa, com maioria de capital público e organizadas necessariamente como sociedades anônimas. Exemplos: Banco do Brasil, Petrobras, Telebras, Eletrobras e Furnas. Prestam serviços públicos ou exercem atividades econômicas. Empresas públicas Sociedades de economia mista Totalidade do capital público Maioria do capital votante público Forma organizacional livre Forma obrigatória de S/A As da União têm causas julgadas perante a Justiça Federal Causas julgadas perante a Justiça Comum Estadual As estaduais, distritais ou municipais têm causas julgadas, como regra, em Varas de Fazenda Pública. As estaduais, distritais ou municipais têm causas julgadas em Varas Cíveis. Prestadoras de Serviço Público Exploradoras de atividades econômicas Imunes a impostos Não possuem imunidade Bens públicos Bens privados Responsabilidade objetiva Responsabilidade subjetiva O Estado responde subsidiariamente O Estado não tem responsabilidades pelos danos causados Sujeitam-se à impetração de Mandado de Segurança Não se sujeitam à impetração de Mandado de Segurança Maior influência do Direito Administrativo Menor influência do Direito Administrativo Obrigadas a licitar Obrigadas a licitar, exceto para bens e serviços relacionados com suas atividades finalísticas Ex. ECT Ex. Banco do Brasil Entes de cooperação: São pessoas jurídicas de direito privado que colaboram com o Estado exercendo atividades não lucrativas e de interesse social. Podem ser entidades paraestatais ou do terceiro setor. Não compõem o conceito de Administração Indireta. Direito Administrativo MPU Página 6 Prof. Aline Doval Paraestatais: São entidades que atuam ao lado do Estado, constituídos pelos serviços sociais autônomos (sistema S). São pessoas jurídicas de direito privado, criados mediante autorização legislativa, sem fins lucrativos e que executam serviços de utilidade pública (e não serviços públicos). Produzem benefícios para grupos ou categorias profissionais, não pertencem ao Estado, são custeados por contribuições compulsórias pagas pelos sindicalizados. Estão sujeitos ao controle estatal, inclusive por meio do Tribunal de Contas, não precisam contratar pessoas por concurso público, estão obrigadas a licitar e são imunes a impostos. Terceiro Setor: Designa atividades que não são nem governamentais (primeiro setor), nem empresariais e econômicas (segundo setor). Desse modo, o terceiro setor é composto por entidades privadas da sociedade civil que exercem atividades de interesse público, sem fins lucrativos. O regime jurídico aplicável é predominantemente privado, parcialmente derrogado por normas de Direito Público. São constituídas de Organizações Sociais ou Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. Organizações Sociais OSCIPs Lei 9.637/98 Lei 9.790/99 Exercem atividades de interesse público anteriormente desempenhados pelo Estado Exercem atividades de natureza privada Contrato de gestão Termo de parceria Outorga discricionária Outorga vinculada A qualificação depende de aprovação do Ministro de Estado ligado à área de atuação da entidade A qualificação é outorgada pelo Ministro da Justiça Podem ser contratadas por dispensa de licitação Não há previsão legal de contratação direta sem licitação Estão proibidas de receber a qualificação de Oscips Não há previsão legal equivalente ATOS ADMINISTRATIVOS Ato administrativo é toda a manifestação expedida no exercício da função administrativa, com caráter infralegal, consistente na emissão de comandos complementares à lei, com a finalidade de produzir efeitos jurídicos. FATOS ADMINISTRATIVOS Fato administrativo é toda a atividade material no exercício da função administrativa que visa a efeitos de ordem prática para a Administração, ou seja, tudo aquilo que retrata alteração dinâmica na Administração ou movimento na ação administrativa. Os fatos administrativos podem ser voluntários, quando derivados de atos administrativos ou condutas administrativas, ou naturais, quando decorrentes de fenômenos da natureza. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 7 ATOS DA ADMINISTRAÇÃO A Administração Pública, no exercício de suas tarefas, pratica algumas modalidades de atos jurídicos que não se enquadram no conceito de atos administrativos, pois nem todo o ato jurídico praticado pela Administração é ato administrativo, e nem todo o ato administrativo é praticado pela Administração. Assim, seguem as espécies de atos jurídicos que também são praticados pela Administração: a) Ato político ou de governo: não se caracterizam como atos administrativos porque são praticados pela Administração Pública com ampla margem de discricionariedade e têm competência extraída diretamente da Constituição Federal, como a declaração de guerra, decreto de intervenção federal, indulto, veto a projeto de lei, etc. b) Atos meramente materiais: consistem na prestação concreta de serviços, como a poda de uma árvore. c) Atos legislativos e jurisdicionais: são praticados excepcionalmente pela AdministraçãoPública no exercício de funções atípicas, como a edição de medidas provisórias. d) Atos regidos pelo direito privado ou atos de gestão: constituem casos raros em que a Administração Pública ingressa em relação jurídica regida pelo direito privado em situação de igualdade perante o particular, isto é, destituído do poder de império, como ocorre na locação imobiliária ou no contrato de compra e venda. e) Contratos administrativos: são relações jurídicas bilaterais, como o contrato de concessão de serviço público e parceria público-privada. SILÊNCIO ADMINISTRATIVO Há situações em que a vontade da Administração Pública se expressa sem a necessidade da emissão do ato administrativo. A omissão da Administração pode representar aprovação ou rejeição da pretensão do administrado, tudo dependendo do que dispuser a norma competente. Se a lei estabelecer que o decurso do prazo sem manifestação da Administração implica aprovação da pretensão, o silêncio administrativo adquire o significado de aceitação tácita. Nessa hipótese, é desnecessária apresentação de motivação. Contudo, se a lei determinar que a falta de manifestação no prazo estabelecido importa rejeição tácita do requerimento formulado, a Administração poderá ser instada, inclusive judicialmente, a apresentar os motivos que conduziram à rejeição da pretensão do administrado. O silêncio administrativo não é ato administrativo, porque ausente a exterioridade de comando prescritivo. Trata-se de simples fato administrativo, porque o silêncio nada ordena. Direito Administrativo MPU Página 8 Prof. Aline Doval A lei do processo administrativo (Lei 9.784/99) não admite o silêncio administrativo, uma vez que nada consta no dispositivo legal acerca do significado da omissão. ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO Os atos administrativos são revestidos de propriedades jurídicas especiais, decorrentes da supremacia do interesse público sobre o privado. Essas propriedades são atributos que diferenciam os atos administrativos de qualquer outro ato jurídico, principalmente os atos privados. Cinco são os principais atributos dos atos administrativos: a) Presunção de legitimidade: Todo o ato administrativo, até prova em contrário (presunção relativa ou juris tantum), é considerado válido para o Direito. Trata-se de uma derivação da supremacia do interesse público, razão pela qual sua existência independe de previsão legal específica. A presunção de legitimidade é atributo universal, inerente a qualquer ato da Administração. b) Imperatividade ou coercibilidade: O ato administrativo pode criar unilateralmente obrigações aos particulares, independentemente da anuência destes. É uma capacidade de vincular terceiros a deveres jurídicos derivada do chamado poder extroverso. Ao contrário dos particulares que só possuem poder de auto-obrigação (introverso), a Administração pode criar deveres para si e para terceiros. Esse atributo está presente na maioria dos atos administrativos, exceto, por exemplo, em atos enunciativos, como certidões e atestados, e em atos negociais, como permissões e autorizações. c) Exigibilidade: Atributo que permite à Administração aplicar punições aos particulares por violação da ordem jurídica, sem necessidade de ordem judicial. É o poder de aplicar sanções administrativas, tais como multas e advertências. É atributo presente na maioria dos atos administrativos, mas ausente nos atos enunciativos. d) Autoexecutoriedade: Atributo que permite à Administração realizar a execução material dos atos administrativos ou de dispositivos legais, usando a força física, se preciso for, para desconstituir situação violadora da ordem jurídica, dispensando autorização judicial, tais como o guinchamento de carro parado em local proibido, apreensão de mercadorias contrabandeadas, interdição de estabelecimento comercial irregular, confisco de medicamentos necessários para a população, em situação de calamidade pública. Apenas duas categorias de atos administrativos são autoexecutáveis: aqueles com tal atributo conferido por lei (fechamento de restaurante pela vigilância sanitária) e aqueles praticados em situações emergenciais (dispersão pela polícia de manifestação que se converte em onda de vandalismo). A autoexecutoriedade e seu controle judicial, realizado a posteriori, é balizado pelos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 9 e) Tipicidade: Atributo que representa uma garantia ao administrado, pois impede que a Administração pratique atos dotados de imperatividade e executoriedade, vinculando unilateralmente os particulares, sem que haja previsão legal. Também fica afastada a possibilidade de ser praticado ato totalmente discricionário, pois a lei, ao prever o ato, já define os limites em que a discricionariedade será exercida. É uma derivação do princípio da legalidade e impede a Administração de praticar atos atípicos ou inominados. ATRIBUTOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS ATRIBUTO SÍNTESE ABRANGÊNCIA DICA Presunção de legitimidade O ato é válido até prova em contrário. Universal. Presunção relativa que inverte o ônus da prova. Imperatividade O ato cria unilateralmente obrigações ao particular. Maioria dos atos administrativos. Deriva do poder extroverso. Exigibilidade Aplicação de sanções administrativas. Maioria dos atos administrativos. Pune, mas não desfaz a ilegalidade. Autoexecutoriedade Execução material que desconstitui a ilegalidade. Alguns atos administrativos. Só quando a lei prevê ou em situações emergenciais. Tipicidade Respeito às finalidades específicas. Todos os atos administrativos. Proíbe atos atípicos ou inominados EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA DOS ATOS ADMINISTRATIVOS Como todo o ato jurídico, o ato administrativo está sujeito a três planos lógicos: existência, validade e eficácia. O plano da existência ou da perfeição consiste no cumprimento do ciclo de formação do ato. O plano da validade envolve a conformidade com os requisitos estabelecidos pelo ordenamento jurídico para a correta prática do ato administrativo. O plano da eficácia está relacionado com a aptidão para produzir efeitos jurídicos. Assim, o ato administrativo pode ser: 1. Existente, válido e eficaz. 2. Existente, válido e ineficaz. 3. Existente, inválido e eficaz. 4. Existente, inválido e ineficaz. 5. Inexistente. Direito Administrativo MPU Página 10 Prof. Aline Doval PLANO DA EXISTÊNCIA OU DA PERFEIÇÃO: Nele, importa verificar se o ato cumpriu integralmente o ciclo jurídico de formação, revestindo-se dos elementos e dos pressupostos necessários para que seja considerado um ato administrativo. Os atos administrativos possuem dois elementos e dois pressupostos de existência. Elementos são aspectos intrínsecos e pressupostos são aspectos extrínsecos. Os elementos de existência são o conteúdo e a forma; os pressupostos de existência são o objeto e a referibilidade à função administrativa. Conteúdo é a necessidade de constatação de conduta decorrente do ato. Uma folha não preenchida do talão de multas é ato inexistentepor falta de conteúdo. Um ato que proíbe e permite uma mesma conduta também não possui conteúdo, pois a proibição e a permissão se anulam mutuamente. Também carece de conteúdo o ato materialmente impossível, como um decreto que proíbe a morte. Os atos juridicamente impossíveis também são inexistentes por vício no conteúdo, como uma ordem administrativa cujo cumprimento implica a prática de um crime. Forma é a exteriorização do conteúdo. Não haverá ato administrativo se o seu conteúdo não for divulgado pelo agente competente. Um texto de ato administrativo esquecido na gaveta é ato inexistente, pois possui conteúdo não exteriorizado. Objeto é o bem ou a pessoa a que o ato faz referência. Desaparecendo ou inexistindo o objeto, o ato administrativo que a ele faz menção é tido como juridicamente inexistente, tais como a promoção de um servidor falecido ou um alvará autorizando a reforma de prédio em terreno baldio. Por fim, para que um ato exista como ato administrativo, é necessário que tenha sido praticado no exercício da função administrativa. Se praticado por particular usurpador de função pública, não se considera existente o ato administrativo. Uma medida provisória assinada por varredor de ruas é ato inexistente. PLANO DA VALIDADE: Para que um ato administrativo seja válido, é necessário verificar se ocorreu o atendimento aos pressupostos, requisitos ou elementos fixados no ordenamento jurídico. O art. 2º da Lei da Ação Popular (Lei nº 4.717/65) divide o ato administrativo em cinco requisitos: competência, objeto, forma, motivo e finalidade. PLANO DA EFICÁCIA: Analisa a aptidão do ato para produzir efeitos jurídicos, tais como criar, declarar, modificar, preservar e extinguir direitos e obrigações. Algumas circunstâncias podem interferir na irradiação de efeitos do ato administrativo: a) Existência de vícios: alguns defeitos específicos no ato bloqueiam a produção de seus efeitos regulares. É o caso da inexistência jurídica, vício que impede a eficácia do ato administrativo. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 11 b) Condição suspensiva: suspende a produção de efeitos até a implementação de um efeito futuro e incerto. É o caso de um alvará concedido a taxista com a condição de que apresente o veículo para regularização dentro de 15 dias. c) Condição resolutiva: acontecimento futuro e incerto cuja ocorrência interrompe a produção de efeitos do ato administrativo. É o caso de uma permissão para a instalação de banca de jornal m parque público outorgada até que seja construída uma loja de revistas no local. d) Termo inicial: sujeita o início da produção de efeitos do ato a evento futuro e certo. É o caso de uma licença autorizando construção de um prédio a contar de trinta dias de sua outorga. e) Termo final: autoriza a produção de efeitos de um ato por um período determinado de tempo. É o caso da habilitação para conduzir veículos concedida pelo prazo de cinco anos. A doutrina divide os efeitos do ato administrativo em três categorias: a) Efeitos típicos: são os efeitos próprios do ato. Exemplo: A homologação da autoridade superior tem o efeito típico de aprovar o ato administrativo, desencadeando sua exequibilidade. b) Efeitos atípicos prodrômicos: são efeitos preliminares ou iniciais distintos da eficácia principal do ato. Exemplo: A expedição do decreto expropriatório autoriza o Poder Público a ingressar no bem para fazer medições. c) Efeitos atípicos reflexos: são aqueles que atingem terceiros estranhos à relação jurídica principal. Exemplo: Com a desapropriação do imóvel, extingue-se a hipoteca que garantia crédito de instituição financeira. MÉRITO DO ATO ADMINISTRATIVO Mérito ou merecimento é a margem de liberdade que os atos discricionários recebem da lei para permitir aos agentes públicos escolher, diante da situação concreta, qual a melhor forma de atender ao interesse público. É um juízo de oportunidade e conveniência, núcleo da função típica do Poder Executivo, razão pela qual é vedado ao Poder Judiciário controlar o mérito do ato administrativo. A margem de discricionariedade pode residir no motivo ou no objeto do ato discricionário. Direito Administrativo MPU Página 12 Prof. Aline Doval O juízo de oportunidade diz respeito ao momento e ao motivo ensejadores da prática do ato. A expedição de ato administrativo discricionário sem observância do momento e do motivo apropriados implica grave inoportunidade, violando o princípio da razoabilidade. O juízo de conveniência diz respeito ao conteúdo e a intensidade dos efeitos do ato jurídico praticado pela Administração. A desatenção a esses dois aspectos implica grave inconveniência, violando o princípio da proporcionalidade. REQUISITOS (de validade) DO ATO ADMINISTRATIVO COMPETÊNCIA OU SUJEITO: É o poder atribuído pela lei ao agente da Administração para o desempenho de suas funções. É um requisito vinculado, pois é sempre a lei quem define as competências conferidas a cada agente. A competência administrativa possui as seguintes características: Natureza de ordem pública: sua definição é estabelecida pela lei, estando fora do alcance das partes sua alteração; Não se presume: O agente somente terá as competência expressamente outorgadas pela legislação; Improrrogabilidade: diante da falta de uso, a competência não se transfere a outro agente; Inderrogabilidade ou irrenunciabilidade: a Administração não pode abrir mão de suas competências porque são conferidas em benefício do interesse público; Obrigatoriedade: o exercício da competência administrativa é um dever do agente público; Incaducabilidade ou imprescritibilidade: a competência administrativa não se extingue, exceto por vontade legal; Delegabilidade: em regra, a competência administrativa pode ser transferida temporariamente mediante delegação ou avocação. Porém, são indelegáveis as competências exclusivas, a edição de atos administrativos e a decisão de recursos. OBJETO: É o conteúdo do ato, a ordem por ele determinada, ou o resultado prático pretendido ao se expedi-lo. Todo ato administrativo tem por objeto a criação, modificação ou comprovação de situações jurídicas concernentes a pessoas, coisas ou atividades sujeitas à ação da Administração Pública. O objeto é requisito, em regra, discricionário. FORMA: É requisito vinculado, envolvendo o modo de exteriorização e os procedimentos prévios exigidos na expedição do ato administrativo. Em regra, os atos administrativos deverão observar a forma escrita. MOTIVO: É a situação de fato e o fundamento jurídico que autorizam a prática do ato. É requisito em regra discricionário, pois pode abrigar margem de liberdade outorgada por lei ao agente público. Exemplo: a ocorrência da infração é o motivo da multa de trânsito. Não se confunde com motivação, que é a explicação por escrito das razões que levaram à prática do ato. FINALIDADE: Requisito vinculado. A finalidade é o objetivo de interesse público pretendido com a prática do ato. Sempre que o ato for praticado por motivo alheio ao interesse público, será nulo por desvio de finalidade. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 13 REQUISITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS COMPETÊNCIA OU SUJEITO VINCULADO OBJETODISCRICIONÁRIO FORMA VINCULADO MOTIVO DISCRICIONÁRIO FINALIDADE VINCULADO VÍCIOS EM ESPÉCIE QUANTO AO SUJEITO (quatro defeitos) 1. Usurpação de função pública: ocorre quando ato privativo da Administração é praticado por particular que não é agente público. Causa a inexistência do ato administrativo. Exemplo: multa de trânsito lavrada por particular. 2. Excesso de poder: ocorre quando um agente público ultrapassa os poderes de sua competência. Causa a nulidade do ato administrativo. Exemplo: destruição, pela fiscalização, de veículo estacionado em local proibido. 3. Funcionário de fato: exerce função de fato o indivíduo que ingressa irregularmente no serviço público, em decorrência de vício na investidura. Exemplo: ocupar cargo que exige provimento via concurso público, em decorrência de nomeação política. Se o funcionário agir de boa-fé, ignorando a irregularidade de sua condição, em nome da segurança jurídica e da proibição de o Estado enriquecer sem causa, seus atos são mantidos válidos e a remuneração recebida não precisa ser restituída. Os atos do funcionário de fato, nesse caso, são anuláveis, com eficácia ex nunc, sendo suscetíveis de convalidação. Se o funcionário agir de má-fé, porque ciente da ilegalidade de sua investidura, os atos por ele praticados são nulos, e a remuneração por ele recebida deve ser restituída ao Erário. 4. Incompetência: caracteriza-se quando o ato não se inclui nas atribuições legais do agente que o praticou. A incompetência torna anulável o ato, sendo suscetível de convalidação. QUANTO AO OBJETO (dois defeitos) 1. Objeto materialmente impossível: ocorre quando o ato exige uma conduta irrealizável, como um decreto proibindo a morte. É causa de inexistência do ato administrativo. Direito Administrativo MPU Página 14 Prof. Aline Doval 2. Objeto juridicamente impossível: a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa violação de lei, regulamento, ou outro ato normativo. É o defeito que torna nulo o ato, quando seu conteúdo determina um comportamento contrário à ordem jurídica. Porém, se o comportamento constituir crime, o ato torna-se inexistente. QUANTO À FORMA: O vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato. O defeito tora anulável o ato administrativo, sendo possível sua convalidação. QUANTO AO MOTIVO (dois defeitos) 1. Inexistência do motivo: Quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido. Ato nulo. 2. Falsidade do motivo: Quando o motivo alegado não corresponde àquele efetivamente ocorrido, o ato é nulo. Se a Administração pune servidor que não praticou infração alguma, o motivo é inexistente; se o servidor é punido pela prática de ato diverso do realmente praticado, o motivo é falso. QUANTO À FINALIDADE: Ocorre desvio de finalidade quando o agente pratica ato visando fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência. Torna o ato nulo. VÍCIOS EM ESPÉCIE DEFEITO CARACTERIZAÇÃO CONSEQUÊNCIA Usurpação de função pública Particular pratica ato privativo de servidor. Ato inexistente. Excesso de poder Ato praticado por agente competente, mas excedendo os limites de sua competência. Ato nulo. Funcionário de fato Indivíduo que ingressou irregularmente no serviço público. Agente de boa-fé: ato anulável Agente de má-fé: ato nulo Incompetência Servidor pratica ato fora de suas funções. Ato anulável. Objeto materialmente impossível Ato exige conduta irrealizável. Ato inexistente. Objeto juridicamente impossível Ato exige comportamento ilegal Exigência ilegal: ato nulo. Exigência criminosa: ato inexistente Omissão de formalidade indispensável Descumprimento da forma legal para a prática do ato. Ato anulável. Inexistência do motivo O fundamento de fato não ocorreu. Ato nulo. Falsidade do motivo O motivo alegado não corresponde com o que de fato ocorreu. Ato nulo. Desvio de finalidade Ato praticado visando fim alheio ao interesse público. Ato nulo. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 15 CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS ATOS VINCULADOS E ATOS DISCRICIONÁRIOS Atos vinculados são aqueles praticados pela Administração sem qualquer margem de liberdade, pois a lei define todos os aspectos da conduta, como ocorre na regra da aposentadoria compulsória de servidor público. Não podem ser revogados, pois não possuem mérito, mas podem ser anulados por vícios de legalidade. Atos discricionários, por sua vez, são praticados pela Administração dispondo de margem de liberdade para que o agente decida, diante do caso concreto, qual a melhor forma de atingir o interesse público, como ocorre com o decreto expropriatório. São caracterizados pela existência de um juízo de conveniência e oportunidade no motivo ou no objeto. Podem ser anulados por vícios de legalidade, ou revogados por razões de interesse público. ATO VINCULADO ATO DISCRICIONÁRIO Praticado sem margem de liberdade. Praticado com margem de liberdade. Ex. Aposentadoria compulsória. Ex. Decreto expropriatório. Não tem mérito. Possui mérito. Pode ser anulado, jamais revogado. Pode ser anulado ou revogado. Sofre controle judicial. Sofre controle judicial, exceto quanto ao mérito. ATOS SIMPLES, COMPOSTOS E COMPLEXOS Atos simples são aqueles que resultam da manifestação de um único órgão, singular ou colegiado. Atos compostos são aqueles praticados em um único órgão, mas que dependem de homologação, anuência, visto, aprovação, verificação ou “de acordo” por parte de outro agente, como condição de exequibilidade. Atos complexos são aqueles que dependem da conjugação da vontade de mais de um órgão, sendo que a manifestação da vontade do segundo órgão é requisito de existência do ato. -------------------------------------- SIMPLES COMPOSTO COMPLEXO Mecanismo de formação Manifestação de um único órgão. Praticado por um agente, mas sujeito à aprovação de outro. Conjugação de vontades de mais de um órgão. Exemplo Decisão do conselho de contribuintes. Investidura de Ministro do STF. Isenção de IPI. Dica A vontade do único órgão torna o ato perfeito. A vontade do segundo agente é condição de exequibilidade do ato. A vontade do segundo órgão é elemento de existência do ato. O que guardar Mesmo se o órgão for colegiado, o ato é simples. Apareceu na prova “condição de exequibilidade” o ato é composto. No ato complexo, as duas vontades se fundem na prática de ato uno. Direito Administrativo MPU Página 16 Prof. Aline Doval OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DOS ATOS ADMINISTRATIVOS QUANTO AOS DESTINATÁRIOS Atos gerais ou regulamentares Dirigidos a uma quantidade indeterminável de destinatários. Edital de concurso público. Atos coletivos ou plúrimos Dirigidos a um grupo definido de destinatários Alteração no horário de funcionamento de repartição pública. Atos individuaisSão direcionados a um destinatário específico. Promoção de servidor público. QUANTO À ESTRUTURA Atos concretos Regulam apenas um caso, esgotando-se após a primeira aplicação. Ordem de demolição de prédio com risco de desabar. Atos abstratos ou normativos Tem aplicação continuada. A competência para sua expedição é indelegável. Regulamento do IPI. QUANTO AO ALCANCE Atos internos Produzem efeitos dentro da Administração. Portaria e instrução ministerial. Atos externos Produzem efeitos perante terceiros. Licenças. QUANTO AO OBJETO Atos de império Praticados pela Administração em condição de superioridade diante do particular. Desapropriação, multa, interdição de atividade. Atos de gestão Praticados pela Administração em condição de igualdade perante o particular. Locação de imóvel, alienação de bens públicos. Atos de expediente Dão andamento a processos administrativos. São atos de rotina. Numeração dos autos do processo. QUANTO À MANIFESTAÇÃO DE VONTADE Atos unilaterais Dependem de somente uma vontade. Licença. Atos bilaterais Dependem da anuência das duas partes. Contrato administrativo. QUANTO AOS EFEITOS Atos ampliativos Aumentam a esfera de interesse do particular. Concessão, permissão, autorização. Atos restritivos Limitam a esfera de interesse do particular. Sanções administrativas. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 17 QUANTO AO CONTEÚDO Atos constitutivos Criam novas situações jurídicas. Admissão de aluno em escola pública. Atos extintivos Extinguem situações jurídicas. Demissão de servidor. Atos declaratórios Preservam direitos. Certidões e atestados. Atos alienativos Realizam transferência de bens. Venda de bem público. Atos modificativos Alteram situações preexistentes. Alteração do local de reunião. Atos abdicativos Em que o titular abre mão de um direito. Renúncia à função pública. QUANTO À SITUAÇÃO JURÍDICA QUE CRIAM Atos-regra Criam situações gerais, abstratas e impessoais, não produzindo direitos adquiridos e podendo ser revogados a qualquer tempo. Regulamentos. Atos subjetivos Criam situações particulares, concretas e pessoais. Podem ser modificados pela vontade das partes. Contratos. Atos-condição Praticados quando alguém se submete a situações criadas pelos atos-regra, sujeitando-se a alterações unilaterais. Aceitação de cargo público. QUANTO À EFICÁCIA Atos válidos Praticados pela autoridade competente atendendo a todos os requisitos exigidos pela ordem jurídica. Atos nulos Expedidos em desconformidade com as regras do sistema normativo. Possuem defeitos insuscetíveis de convalidação, especialmente nos requisitos objeto, motivo e finalidade Atos anuláveis Praticados pela Administração com vícios sanáveis na competência ou na forma. Admitem convalidação. Atos inexistentes Possuem um vício gravíssimo no ciclo de formação, impeditivo da produção de qualquer efeito jurídico. Atos irregulares Portadores de defeitos formais levíssimos que não produzem qualquer consequência na validade do ato. QUANTO À EXEQUIBILIDADE Atos perfeitos Atendem a todos os requisitos para sua plena exequibilidade. Atos imperfeitos São aqueles incompletos na sua formação. Ordem não exteriorizada. Atos pendentes Preenchem requisitos de validade e existência, mas dependem de condição suspensiva ou de termo inicial para produzir efeitos. Permissão outorgada para produzir efeitos daqui a doze meses. Atos consumados ou exauridos Produziram todos os seus efeitos. Edital de concurso público exaurido após a posse de todos os candidatos. Direito Administrativo MPU Página 18 Prof. Aline Doval QUANTO À RETRATABILIDADE Atos irrevogáveis Diz-se dos atos vinculados, exauridos, geradores de direitos subjetivos e os protegidos pela imutabilidade da decisão administrativa. Lançamento tributário. Atos revogáveis Possibilidade de extinção por revogação a qualquer tempo. Autorização para bar instalar mesas sobre a calçada. Atos suspensíveis Possibilidade de ter os efeitos interrompidos temporariamente, diante de situações excepcionais. Autorização permanente para circo-escola utilizar área pública nos finas de semana, mas que pode ser suspensa quando o local for cedido para outro evento. Atos precários Criam vínculos jurídicos efêmeros e temporários, passíveis de desconstituição a qualquer tempo. Autorização para instalação de banca de flores na calçada. QUANTO AO MODO DE EXECUÇÃO Atos autoexecutórios Podem ser executados sem necessidade de prévia autorização judicial. Requisição de bens. Atos não autoexecutórios Dependem de intervenção judicial para produzir efeitos. Execução fiscal. QUANTO AO OBJETIVO VISADO PELA ADMINISTRAÇÃO Atos principais Não dependem de outros atos para existir. Decisão do conselho de contribuintes. Atos complementares Aprovam ou confirmam o ato principal, desencadeando a produção de efeitos deste. Visto da autoridade superior aposto em auto de infração. Atos intermediários ou preparatórios Concorrem para a prática de um ato principal e final. A publicação do edital é ato preparatório dentro do procedimento licitatório. Atos-condição Praticados como exigência prévia para a realização de outro ato. Concurso é ato-condição para posse na magistratura. Atos de jurisdição Envolvem decisão sobre matéria controvertida. Decisão de órgão administrativo colegiado revisando ato de agente singular. QUANTO À NATUREZA DA ATIVIDADE Atos de administração ativa Criam uma utilidade pública Admissão de aluno em universidade pública. Atos de administração consultiva Esclarecem, informam ou sugerem providências indispensáveis para a prática de ato administrativo. Pareceres opinativos. Atos de administração controladora Mecanismos de exame de da legalidade ou do mérito dos atos controlados. Homologação de procedimento por autoridade superior. Atos de administração verificadora Apuram a existência de certos direitos ou situações. Certidão de casamento. Atos de administração contenciosa Decidem questões litigiosas no âmbito administrativo. Decisão de tribunal administrativo. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 19 QUANTO À FUNÇÃO DA VONTADE ADMINISTRATIVA Atos negociais ou negócios jurídicos Produzem diretamente efeitos jurídicos Promoção de servidor público. Atos puros (ou meros atos administrativos) Não produzem diretamente efeitos, mas funcionam como requisito para desencadear, no caso concreto, efeitos emanados diretamente da lei. Certidão. ESPÉCIES DE ATOS ADMINISTRATIVOS 1. Atos Normativos: São aqueles que possuem comandos, em regra, gerais e abstratos, para viabilizar o cumprimento da lei. a) Decretos e regulamentos: Atos administrativos privativos dos chefes do executivo e expedidos para dar fiel execução à lei. Decreto é forma, regulamento é conteúdo. Como regra geral, decretos e regulamentos não podem criar obrigações de fazer ou de não fazer a particulares. b) Instruções Normativas: São atos normativosde competência dos Ministros, para viabilizar a execução de leis e outros atos normativos. c) Regimentos: Decorrem do poder hierárquico e são praticados para disciplinar o funcionamento interno de órgãos colegiados e casas legislativas. d) Resoluções: São atos inferiores aos decretos e regulamentos, expedidos por Ministros de Estado, presidentes de tribunais, de casas legislativas e de órgãos colegiados, versando sobre matéria de interesse interno dos respectivos órgãos. e) Deliberações: São atos normativos ou decisórios de órgãos colegiados. 2. Atos Ordinatórios: São manifestações internas da Administração decorrentes do poder hierárquico disciplinando o funcionamento de órgãos e a conduta de agentes públicos. a) Instruções: São ordens escritas e gerais para a disciplina e execução de determinado serviço público, expedidos pelo superior hierárquico aos seus subordinados. b) Circulares: São atos escritos de disciplina de determinado serviço público voltados a servidores que desempenham tarefas em situações especiais. c) Avisos: Atos exclusivos de Ministros de Estado para regramento de temas de competência interna do Ministério. Direito Administrativo MPU Página 20 Prof. Aline Doval d) Portarias: Atos internos que iniciam sindicâncias, processos administrativos, ou promovem designação de servidores para cargos secundários. Nunca podem ser baixadas pelos Chefes do Executivo. e) Ordens de Serviço: Determinações específicas dirigidas aos responsáveis por obras e serviços governamentais, autorizando seu início, permitindo a contratação de agentes temporários ou fixando especificações técnicas sobre a atividade. Não são atos gerais. f) Ofícios: São convites ou comunicações escritas dirigidas a servidores subordinados ou particulares sobre assuntos administrativos ou de ordem social. g) Despachos: São decisões de autoridades públicas manifestadas por escrito em documentos ou processos sob sua responsabilidade. 3. Atos Negociais: Manifestam a vontade da Administração em concordância com o interesse de particulares. a) Licença: Ato unilateral, declaratório e vinculado que libera a todos os que preencham os requisitos legais o desempenho de atividades em princípio vedadas pela lei. É manifestação do poder de polícia administrativo. Ex. licença para construir. b) Autorização: Ato unilateral, discricionário, constitutivo e precário expedido para a realização de serviços ou a utilização de bens públicos no interesse predominante do particular. Ex. autorização para portar arma de fogo. c) Permissão: Ato unilateral, discricionário e precário que faculta o exercício de serviço de interesse coletivo ou a utilização de bem público. Permissão é outorga no interesse predominante da coletividade. Ex. permissão para taxista. d) Concessão: Ato bilateral, precedido de concorrência pública, pelo que o Estado transfere a uma empresa privada a prestação de serviço público mediante remuneração paga diretamente pelo usuário. e) Aprovação: Ato unilateral e discricionário que realiza a verificação prévia ou posterior da legalidade e do mérito de outro ato como condição para usa produção de efeitos. f) Admissão: Ato unilateral e vinculado que faculta, a todos os que preencherem os requisitos legais, o ingresso em repartições governamentais, ou defere certas condições subjetivas. Ex. admissão de usuário em biblioteca pública. g) Visto: Ato vinculado expedido para controlar a legitimidade formal de outro ato de particular ou agente público. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 21 h) Homologação: Ato unilateral e vinculado de exame de legalidade e conveniência de outro ato de agente público ou de particular. A homologação é condição de exequibilidade do ato controlado. i) Dispensa: Ato discricionário que exime o particular do desempenho de certa tarefa. j) Renúncia: Ato unilateral, discricionário, abdicativo e irreversível pelo qual a Administração Pública abre mão de crédito ou de direito próprio em favor do particular. k) Protocolo Administrativo: Manifestação administrativa em conjunto com o particular versando sobre a realização de tarefa ou abstenção de certo comportamento em favor dos interesses da Administração e do particular, simultaneamente. 4. Atos Enunciativos (ou de pronúncia): Certificam ou atestam uma situação existente, não contendo qualquer manifestação de vontade da Administração Pública. a) Certidões: Cópias autenticadas de atos ou fatos permanentes de interesse do requerente constantes de arquivos públicos. b) Atestados: Atos que comprovam fatos ou situações transitórias que não constem de arquivos públicos. c) Pareceres técnicos: Manifestações expedidas por órgãos técnicos especializados referentes a assuntos submetidos a sua apreciação. d) Pareceres normativos: São pareceres que se transformam em norma obrigatória quando aprovados pela repartição competente. e) Apostilas: Equiparam-se a uma averbação realizada pela Administração declarando um direito reconhecido por norma legal. 5. Atos Punitivos: Aplicam sanções a particulares ou a servidores que pratiquem condutas irregulares. a) Multa: Punição pecuniária imposta a quem descumpre disposições legais ou determinações administrativas. b) Interdição de atividade: É a proibição administrativa do exercício de determinada atividade. c) Destruição de coisas: É o ato sumário de inutilizarão de bens particulares impróprios para o consumo ou de comercialização proibida. Direito Administrativo MPU Página 22 Prof. Aline Doval EXTINÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO REVOGAÇÃO: É a extinção do ato administrativo perfeito e eficaz, com eficácia em nunc, praticada pela Administração Pública e fundada em razões de interesse público (conveniência e oportunidade). Por envolver questão de mérito, só pode ser praticada pela Administração Pública, e não pelo Judiciário. A revogação é de competência da mesma autoridade que praticou o ato revogado. O ato revocatório deve ser fundamentado. Não podem ser revogados os atos que geram direitos adquiridos; os atos exauridos; os atos vinculados, por não envolverem questão de mérito; os atos enunciativos e os atos preclusos. ANULAÇÃO: Anulação ou invalidação é a extinção de um ato ilegal, determinada pela Administração ou pelo Judiciário, com eficácia ex tunc. Em princípio, a anulação de ato administrativo não gera dever de indenizar o particular prejudicado, salvo se comprovadamente sofreu dano especial para a ocorrência do qual não tenha colaborado. A anulação não pode ser realizada quando: ultrapassado o prazo legal; houver consolidação dos efeitos produzidos; for mais conveniente para o interesse público manter a situação fática já consolidada do que determinar a anulação (teoria do fato consumado); houver possibilidade de convalidação. CASSAÇÃO: Modalidade de extinção que ocorre quando o administrado deixa de preencher a condição necessária para a manutenção da vantagem. Ex. Habilitação cassada porque o condutor ficou cego. CADUCIDADE: Consiste na extinção do ato em virtude de superveniência de norma legal proibindo situação que o ato autorizava. Aqui temos uma lei indo de encontro ao ato, diferentemente do que ocorre na CONTRAPOSIÇÃO, segundo a qual um ato é extinto pela expedição de um segundoato com efeito contraposto. CONVALIDAÇÃO: É uma forma de suprir defeitos leves do ato para preservar sua eficácia. Constitui meio para restaurar a juridicidade de um ato. Pode se dar através de ratificação, confirmação ou saneamento. Só podem ser convalidados atos com vício de competência ou forma. CONVERSÃO: É o aproveitamento de ato defeituoso como ato válido de outra categoria, como um contrato de concessão outorgado mediante licitação em modalidade diversa da concorrência, convertido em permissão de serviço público. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 23 AGENTES PÚBLICOS São todas as pessoas físicas que sob qualquer liame jurídico e algumas vezes sem ele prestam serviços à Administração Pública ou realizam atividades que estão sob sua responsabilidade. CLASSIFICAÇÃO Agentes Políticos são os titulares dos cargos estruturais à organização política do País, isto é, são os ocupantes dos cargos que compõem o arcabouço constitucional do Estado, e portanto, o esquema fundamental do poder. Sua função é a de formadores da vontade superior do Estado. Ex. Presidente da República, Vice Presidente, Governadores, Prefeitos, Ministros de Estados, Secretários Estaduais e Municipais, Senadores e Deputados e Vereadores. Investidura: eleição ou nomeação. Agentes de Colaboração são pessoas físicas que prestam serviços à Administração Pública por vontade própria, por requisição ou com a sua concordância. Função Pública. Ex. por vontade própria: médico, em tempo de guerra ou calamidade pública; por requisição: mesários, escrutinadores, jurados e os recrutados pelo serviço militar obrigatório; com a concordância: contratados e delegados de função, ofício (tabeliões, comissários de menor, diretores de faculdades particulares) ou serviço público (concessionários ou permissionários). Agentes Temporários são os que se ligam à Administração Pública, por tempo determinado, para o atendimento de necessidades de excepcional interesse público, consoante definidos em lei (art. 37, IX CF/88). São admitidos mediante processo seletivo simplificado. Empregados Públicos são os que se ligam à Administração Pública Direta, Autárquica e Fundacional por um vínculo de natureza contratual, regulado pela Consolidação das Leis Trabalhistas. Sempre são contratados mediante concurso público. Servidores Estatutários são os que se vinculam a Administração Pública direta, autárquica e fundacional mediante um liame de natureza institucional. Concurso público ou livre escolha (cargos em comissão). Agentes Militares são todas as pessoas que, permanente ou temporariamente, desempenham atividade militar no âmbito federal ou estadual, percebendo por esse desempenho um subsídio. São agentes militares os integrantes das Forças Armadas (Exército Marinha e Aeronáutica), os pertencentes às Policias Militares e os integrantes dos Corpos de Bombeiros Militares. Direito Administrativo MPU Página 24 Prof. Aline Doval CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO PÚBLICA Cargo Público é o menor centro hierarquizado de competências da Administração direta, autárquica e fundacional pública, criado por lei ou resolução, com denominação própria e número certo. a) em comissão – que é ocupado transitoriamente por alguém, sem direito de nele permanecer definitivamente, de livre nomeação e exoneração; b) efetivo – é o que confere ao seu titular, em termos de permanência, segurança, após estágio probatório (Súmula 21 STF). Estabilidade refere-se ao serviço público não ao cargo. c) vitalício – é o cargo destinado a receber um ocupante em caráter permanente, definitivo. Ex. magistrados (art. 95, I, CF), membros do Ministério Público (art. 128, § 5°, I, a), Ministros de Tribunais de Contas (art. 73, §3º) e os de oficiais militares (art. 142, VI). Súmula 36 STF Segundo a posição do cargo no quadro funcional: a) cargo de carreira é o que se escalona em classes, para acesso privativo de seus titulares, até o da mais alta hierarquia profissional. a1) classe é um agrupamento de cargos da mesma profissão ou atividade, com idênticas atribuições, responsabilidades e vencimentos. a2) carreira é um agrupamento de classes da mesma profissão ou atividade, escalonada segundo a hierarquia do serviço, para acesso privativo dos titulares dos cargos que a integram, mediante provimento originário. b) isolados é o que não se escalonam em classes, por ser o único na sua categoria. O conjunto de carreiras, cargos isolados e funções gratificadas de um mesmo serviço, órgão ou Poder forma o quadro. Emprego é a denominação dada à mais simples unidade de poderes e deveres estatais a serem expressos por um agente, sob o regime contratual. Função é a atribuição ou o conjunto de atribuições que a Administração confere a cada categoria profissional ou comete individualmente a determinados servidores para a execução de serviços eventuais. Funções Permanentes – Servidores Estatutários. Funções Provisórias – Agentes Temporários (art. 37, inciso IX). Funções de Confiança são centros unitários com atribuições de direção, chefia e assessoramento, criados por lei e titularizáveis por servidores públicos ocupantes de cargos efetivos e da confiança da autoridade com poderes de nomeação. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 25 PODERES DA ADMINISTRAÇÃO Para o adequado cumprimento de suas competências constitucionais, a legislação confere à Administração Pública competências especiais. Sendo prerrogativas ligadas a obrigações, as competências administrativas constituem poderes-deveres instrumentais para a defesa do interesse público. PODER VINCULADO: Ou poder regrado, ocorre quando a lei atribui determinada competência definindo todos os aspectos da conduta a ser adotada, sem atribuir margem de liberdade para o agente público escolher qual a melhor forma de agir. PODER DISCRICIONÁRIO: O legislador atribui certa competência à Administração Pública, reservando uma margem de liberdade para que o agente público, diante da situação concreta, selecione entre as opções qual é a mais apropriada para defender o interesse público. PODER DISCIPLINAR: Consiste na possibilidade de a Administração aplicar punições aos agentes públicos que cometam infrações funcionais. Trata-se de poder interno, não permanente e discricionário. PODER HIERÁRQUICO: É o de que dispõe o Executivo para distribuir e escalonar as funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação de seus agentes, estabelecendo a relação de subordinação entre servidores do seu quadro de pessoal. É um poder interno, permanente e está ligado aos fenômenos da delegação e da avocação de competências. PODER REGULAMENTAR: Decorre do poder hierárquico e consiste na possibilidade de os Chefes do Poder Executivo editarem atos administrativos gerais e abstratos, ou gerais e concretos, expedidos para dar fiel execução à lei. PODER DE POLÍCIA: É a atividade da Administração Pública, baseada na lei e na supremacia geral, consistente no estabelecimento de limitações à liberdade e propriedade dos particulares, regulando a prática de ato ou a abstenção de fato, manifestando-se por meio de atos normativos ou concretos, em benefício do interesse público. LEI Nº 8.666, DE 21 DE JUNHO DE 1993 Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providênciasO PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Direito Administrativo MPU Página 26 Prof. Aline Doval Capítulo I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Seção I Dos Princípios Art. 1o Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei, além dos órgãos da administração direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Art. 2o As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões, permissões e locações da Administração Pública, quando contratadas com terceiros, serão necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei. Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se contrato todo e qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares, em que haja um acordo de vontades para a formação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada. Art. 3o A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. § 1o É vedado aos agentes públicos: I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedades cooperativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão da naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto do contrato, ressalvado o disposto nos §§ 5o a 12 deste artigo e no art. 3o da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991; II - estabelecer tratamento diferenciado de natureza comercial, legal, trabalhista, previdenciária ou qualquer outra, entre empresas brasileiras e estrangeiras, inclusive no que se refere a moeda, modalidade e local de pagamentos, mesmo quando envolvidos financiamentos de agências internacionais, ressalvado o disposto no parágrafo seguinte e no art. 3o da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 27 § 2o Em igualdade de condições, como critério de desempate, será assegurada preferência, sucessivamente, aos bens e serviços: II - produzidos no País; III - produzidos ou prestados por empresas brasileiras. IV - produzidos ou prestados por empresas que invistam em pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia no País. § 3o A licitação não será sigilosa, sendo públicos e acessíveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quanto ao conteúdo das propostas, até a respectiva abertura. § 5o Nos processos de licitação previstos no caput, poderá ser estabelecido margem de preferência para produtos manufaturados e para serviços nacionais que atendam a normas técnicas brasileiras. § 6o A margem de preferência de que trata o § 5o será estabelecida com base em estudos revistos periodicamente, em prazo não superior a 5 (cinco) anos, que levem em consideração: I - geração de emprego e renda; II - efeito na arrecadação de tributos federais, estaduais e municipais; III - desenvolvimento e inovação tecnológica realizados no País; IV - custo adicional dos produtos e serviços; e V - em suas revisões, análise retrospectiva de resultados. § 7o Para os produtos manufaturados e serviços nacionais resultantes de desenvolvimento e inovação tecnológica realizados no País, poderá ser estabelecido margem de preferência adicional àquela prevista no § 5o. § 8o As margens de preferência por produto, serviço, grupo de produtos ou grupo de serviços, a que se referem os §§ 5o e 7o, serão definidas pelo Poder Executivo federal, não podendo a soma delas ultrapassar o montante de 25% (vinte e cinco por cento) sobre o preço dos produtos manufaturados e serviços estrangeiros. § 9o As disposições contidas nos §§ 5o e 7o deste artigo não se aplicam aos bens e aos serviços cuja capacidade de produção ou prestação no País seja inferior: I - à quantidade a ser adquirida ou contratada; ou II - ao quantitativo fixado com fundamento no § 7o do art. 23 desta Lei, quando for o caso. Direito Administrativo MPU Página 28 Prof. Aline Doval § 10. A margem de preferência a que se refere o § 5o poderá ser estendida, total ou parcialmente, aos bens e serviços originários dos Estados Partes do Mercado Comum do Sul - Mercosul. § 11. Os editais de licitação para a contratação de bens, serviços e obras poderão, mediante prévia justificativa da autoridade competente, exigir que o contratado promova, em favor de órgão ou entidade integrante da administração pública ou daqueles por ela indicados a partir de processo isonômico, medidas de compensação comercial, industrial, tecnológica ou acesso a condições vantajosas de financiamento, cumulativamente ou não, na forma estabelecida pelo Poder Executivo federal. § 12. Nas contratações destinadas à implantação, manutenção e ao aperfeiçoamento dos sistemas de tecnologia de informação e comunicação, considerados estratégicos em ato do Poder Executivo federal, a licitação poderá ser restrita a bens e serviços com tecnologia desenvolvida no País e produzidos de acordo com o processo produtivo básico de que trata a Lei no 10.176, de 11 de janeiro de 2001. § 13. Será divulgada na internet, a cada exercício financeiro, a relação de empresas favorecidas em decorrência do disposto nos §§ 5o, 7o, 10, 11 e 12 deste artigo, com indicação do volume de recursos destinados a cada uma delas. Art. 4o Todos quantos participem de licitação promovida pelos órgãos ou entidades a que se refere o art. 1º têm direito público subjetivo à fiel observância do pertinente procedimento estabelecido nesta lei, podendo qualquer cidadão acompanhar o seu desenvolvimento, desde que não interfira de modo a perturbar ou impedir a realização dos trabalhos. Parágrafo único. O procedimento licitatório previsto nesta lei caracteriza ato administrativo formal, seja ele praticado em qualquer esfera da Administração Pública. Art. 5o Todos os valores, preços e custos utilizados nas licitações terão como expressão monetária a moeda corrente nacional, ressalvado o disposto no art. 42 desta Lei, devendo cada unidade da Administração, no pagamento das obrigações relativas ao fornecimento de bens, locações, realização de obras e prestação de serviços, obedecer, para cada fontediferenciada de recursos, a estrita ordem cronológica das datas de suas exigibilidades, salvo quando presentes relevantes razões de interesse público e mediante prévia justificativa da autoridade competente, devidamente publicada. § 1o Os créditos a que se refere este artigo terão seus valores corrigidos por critérios previstos no ato convocatório e que lhes preservem o valor. § 2o A correção de que trata o parágrafo anterior cujo pagamento será feito junto com o principal, correrá à conta das mesmas dotações orçamentárias que atenderam aos créditos a que se referem. § 3o Observados o disposto no caput, os pagamentos decorrentes de despesas cujos valores não ultrapassem o limite de que trata o inciso II do art. 24, sem prejuízo do que Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 29 dispõe seu parágrafo único, deverão ser efetuados no prazo de até 5 (cinco) dias úteis, contados da apresentação da fatura. Capítulo II Da Licitação Seção I Das Modalidades, Limites e Dispensa Art. 20. As licitações serão efetuadas no local onde se situar a repartição interessada, salvo por motivo de interesse público, devidamente justificado. Parágrafo único. O disposto neste artigo não impedirá a habilitação de interessados residentes ou sediados em outros locais. Art. 21. Os avisos contendo os resumos dos editais das concorrências, das tomadas de preços, dos concursos e dos leilões, embora realizados no local da repartição interessada, deverão ser publicados com antecedência, no mínimo, por uma vez: I - no Diário Oficial da União, quando se tratar de licitação feita por órgão ou entidade da Administração Pública Federal e, ainda, quando se tratar de obras financiadas parcial ou totalmente com recursos federais ou garantidas por instituições federais; II - no Diário Oficial do Estado, ou do Distrito Federal quando se tratar, respectivamente, de licitação feita por órgão ou entidade da Administração Pública Estadual ou Municipal, ou do Distrito Federal; III - em jornal diário de grande circulação no Estado e também, se houver, em jornal de circulação no Município ou na região onde será realizada a obra, prestado o serviço, fornecido, alienado ou alugado o bem, podendo ainda a Administração, conforme o vulto da licitação, utilizar-se de outros meios de divulgação para ampliar a área de competição. § 1o O aviso publicado conterá a indicação do local em que os interessados poderão ler e obter o texto integral do edital e todas as informações sobre a licitação. § 2o O prazo mínimo até o recebimento das propostas ou da realização do evento será: I - quarenta e cinco dias para: a) concurso; b) concorrência, quando o contrato a ser celebrado contemplar o regime de empreitada integral ou quando a licitação for do tipo "melhor técnica" ou "técnica e preço"; II - trinta dias para: a) concorrência, nos casos não especificados na alínea "b" do inciso anterior; Direito Administrativo MPU Página 30 Prof. Aline Doval b) tomada de preços, quando a licitação for do tipo "melhor técnica" ou "técnica e preço"; III - quinze dias para a tomada de preços, nos casos não especificados na alínea "b" do inciso anterior, ou leilão; IV - cinco dias úteis para convite. § 3o Os prazos estabelecidos no parágrafo anterior serão contados a partir da última publicação do edital resumido ou da expedição do convite, ou ainda da efetiva disponibilidade do edital ou do convite e respectivos anexos, prevalecendo a data que ocorrer mais tarde. § 4o Qualquer modificação no edital exige divulgação pela mesma forma que se deu o texto original, reabrindo-se o prazo inicialmente estabelecido, exceto quando, inqüestionavelmente, a alteração não afetar a formulação das propostas. Art. 22. São modalidades de licitação: I - concorrência; II - tomada de preços; III - convite; IV - concurso; V - leilão. § 1o Concorrência é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto. § 2o Tomada de preços é a modalidade de licitação entre interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação. § 3o Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas. § 4o Concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado na imprensa oficial com antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias. Direito Administrativo MPU Prof. Aline Doval Página 31 § 5o Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a venda de bens móveis inservíveis para a administração ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista no art. 19, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação. § 6o Na hipótese do § 3o deste artigo, existindo na praça mais de 3 (três) possíveis interessados, a cada novo convite, realizado para objeto idêntico ou assemelhado, é obrigatório o convite a, no mínimo, mais um interessado, enquanto existirem cadastrados não convidados nas últimas licitações. § 7o Quando, por limitações do mercado ou manifesto desinteresse dos convidados, for impossível a obtenção do número mínimo de licitantes exigidos no § 3o deste artigo, essas circunstâncias deverão ser devidamente justificadas no processo, sob pena de repetição do convite. § 8o É vedada a criação de outras modalidades de licitação ou a combinação das referidas neste artigo. § 9o Na hipótese do parágrafo 2o deste artigo, a administração somente poderá exigir do licitante não cadastrado os documentos previstos nos arts. 27 a 31, que comprovem habilitação compatível com o objeto da licitação, nos termos do edital. Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo anterior serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da contratação: I - para obras e serviços de engenharia: a) convite - até R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais); b) tomada de preços - até R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais); c) concorrência: acima de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais); II - para compras e serviços não referidos no inciso anterior: a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais); b) tomada de preços - até R$ 650.000,00 (seiscentos e cinqüenta mil reais); c) concorrência -
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