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Apenas em Manaus, o jaraqui é o peixe mais importante, segui- do pela curimatã Prochilodus nigricans (Tabela 5). Characiformes e Siluriformes são as ordens mais importantes na Amazônia, sendo uma ou outra a responsável por mais da metade da produção em cada porto. Situação semelhante dá-se com as famílias Prochilodontidae e Pimelodidae, representando pelo menos 1/3 da pro- dução total (Tabela 5). Biologia e ecologia das espécies de peixes exploradas pela pesca Dinâmica de inundação e a produtividade das áreas alagadas O pulso de inundação é o principal fator responsável pela existência, produtividade e interação da biota que vive nas áreas periodicamente 36 A pesca e os recursos pesqueiros na Amazônia brasileira alagadas (Junk et al., 1989). Este determina as mudanças físico-químicas do ambiente e, como conseqüência, as espécies respondem com uma série de adaptações morfológicas, anatômicas, fisiológicas e etológicas, e as comuni- dades respondem com alterações em sua estrutura (Junk et al., 1997). O ciclo de inundação pode ser resumido em quatro fases: en- chente, cheia, vazante e seca. A enchente é caracterizada pelo aumen- to do nível do rio e pela acentuada expansão dos ambientes aquáticos na planície de inundação. No início deste período, dá-se a desova de várias espécies migradoras (Lowe-McConnel, 1987), que contam com a alagação para dispersar seus ovos pelas áreas recém-inundadas. A enchente alaga primeiramente os campos, em seguida uma vegetação Tabela 5. Composição em percentagem do desembarque em relação à Ordem e a Família. medrO méleB mératnaS suanaM éfeT sotiuqI aplacuP aidéM semroficarahC 8 22 29 56 37 95 35 semrofiruliS 44 36 1 5 11 52 52 semroficreP 02 8 4 01 5 4 8 semrofissolgoetsO 0 0 2 51 6 4 5 semrofiepulC 2 1 0 0 0 0 0 sodacifitnedioãN 62 6 1 5 6 8 9 ailímaF méleB mératnaS suanaM éfeT sotiuqI aplacuP aidéM eaditnodolihcorP 4 21 54 83 63 23 82 eadidolemiP 53 14 1 2 6 91 71 eadimlasarreS 1 6 42 51 8 8 11 eaditamiruC 0 0 2 3 81 31 6 eadineaicS 81 7 1 0 2 3 5 eadimlahthpopyH 1 91 0 0 3 4 5 eadicarahC 0 0 51 7 3 3 5 eadissolgoetsO 0 0 2 51 2 1 3 eadilhciC 2 1 3 9 3 1 3 eadimotsonA 1 4 6 1 2 2 3 eadiiraciroL 0 1 0 3 2 2 1 eaditnodoimeH 0 0 1 1 3 2 1 eadinirtyrE 2 0 0 0 1 0 1 eadiyhthcilaC 5 0 0 0 0 0 1 eadimiaparA 0 0 0 0 4 4 1 eadidaroD 0 2 0 0 0 0 0 eadiepulC 2 1 0 0 0 0 0 eadiirA 3 0 0 0 0 0 0 sodacifitnedioãN 62 6 1 5 6 8 9 37 Biologia e diversidade dos recursos pesqueiros da Amazônia baixa e arbustiva (chavascal), depois uma vegetação de transição entre a floresta arbórea e a vegetação arbustiva (restinga baixa) e por último a floresta arbórea (restinga alta) (Ayres, 1993). Os peixes encontram, nesta sucessão de ambientes, abrigo e alimento na forma de frutos, folhas e sementes, derivados de florestas e de campos alagados, algas planctônicas e perifíticas, que crescem nos ambientes lacustres e nas áreas alagadas menos sombreadas, e muita matéria orgânica em de- composição, derivada das macrófitas aquáticas, resto de animais e da floresta (Goulding, 1980; Lowe-McConnell, 1987; Goulding et al., 1988; Araújo-Lima et al., 1986; Forsberg et al., 1993; Araújo-Lima et al., 1995; Junk et al., 1997). Nesta fase, os peixes estão bastante dispersos e ali- mentando-se intensamente; é o período de maior taxa de crescimento para as espécies associadas às áreas alagadas (Lowe-McConnel, 1987; Junk, 1985; Oliveira, 1996; Fabré & Saint-Paul, 1998; Vieira, 1999). As áreas alagadas acabam formando um ambiente inóspito e hipoxêmico, devido à intensa decomposição da matéria orgânica que consome o oxigênio dissolvido na água e libera o gás sulfídrico. Esta condição limnológica pode causar a mortandade dos peixes que en- tram nestes ambientes em determinados períodos do ano (Santos, 1979; Lowe-McConnel, 1987). Muitas espécies apresentam adaptações para viverem em ambientes hipoxêmico (Junk et al. ,1997), algumas apre- sentam adaptações permanentes, como a bexiga natatória do pirarucu já mencionada (Sawaya, 1946), e outras temporárias, como o inchaço dos lábios de várias espécies de caracídeos (Winemiller, 1989). A cheia ocorre quando o nível da água atinge o seu máximo, caracteriza-se pela curta duração, pouca oscilação do nível e pelo domínio do ambiente aquático na planície de inundação. Na vazante, os peixes começam a se agrupar, pois o ambiente aquático passa a se contrair. As espécies migradoras começam a formar cardumes e a iniciar sua migração de dispersão, que vai durar por toda a seca até o início da enchente (Ribeiro & Petrere, 1990). O período de seca é dramático para a maioria das espé- cies, pois o ambiente aquático está bastante reduzido, oferecendo pou- co alimento e abrigo. Por outro lado, este é o período mais favorável aos predadores, que passam a perseguir os cardumes de caracoídeos e siluroídeos que se encontram migrando no canal do rio ou presos nos lagos (Lowe McConnel ,1987; Barthem & Goulding, 1997) (Figura 5). 38 A pesca e os recursos pesqueiros na Amazônia brasileira Figura 5. Relação entre ciclo hidrológico, a dinâmica sazonal das áreas alagáveis e seus efeitos sobre as comunidades ictiofaunísticas e a pesca (baseado em Lowe McConnel, 1987). etnehcnE aiehC etnazaV aceS sotnemacolseD soirótargim oxiabaoiR sanoãsrepsiD sadagalasaerá sópagie amicaoiR mesodanifnoC setneibma socitáuqa setnenamrep oãçudorpeR avoseD osuopeR osuopeR oãçaraperP avosedarap otnemicserC sópaodarelecA avoseda odarelecA oãçiunimiD levíssope adamoter eoãçiunimiD levíssop adamoter assamoiB edoãçudorP snevoj otnemercnI odipár sadreP oãçuderatlA acseP sonasnetnI aetnarudsoir oiroãçargim soneoxiaba sogal adoãçiunimiD ,edadilibarutpac atlaalep eoãsrepsid edoãçailpma etatibáh soigúfer measnetnI soiresogal aetnarud oiroãçargim amica adoãçiunimiD ,edadilibarutpac edatlafalep .edadilibisseca edadilibinopsiD setneibmaed soigúfered 39 Biologia e diversidade dos recursos pesqueiros da Amazônia Migração e sedentarismo As características do ambiente e o comportamento dos peixes permitem diferenciar três grandes grupos de espécies de peixes: os sedentários, mais relacionadas com os sistemas lacustres; os migradores, que usam tanto os ambientes lacustres como fluviais; e os grandes migradores, relacionadas principalmente com a calha dos rios (Barthem et al., 1997; Batista, 2001) (Tabela 6). Tabela 6. Classificação das espécies segundo seu comportamento de deslocamento, reprodutivo e dieta alimentar. airogetaC seicépsE ateiD etneibmamatibaH:soirátnedeS esogalmemavoseD;ertsucal ;latnerapodadiucmatneserpa ociténegoxulfoxiabaaicnêdneT edoãçamrofesametsisertne .sianoicalupopsopurgbus sagigamiaparA ,)ucurarip( mussolgoetsO musohricib ,)ãnaura( alhciC .pps ,)séranucut( sutonortsA )sáraca(.ps sorovínraC siladrapsucrassopiL iraca( ,)ódob munretsolpoH .ps )átaumat( sorovítirteD setneibmaotnatmatibaH:serodargiM latotavoseD;siaivulfomocsertsucal adaicnêdneT;edadidnucefatla,oiron edsopurgertneociténegoxulfotla .siaivulfsametsissetnerefid atamiruC .ps ,)sahniuqnarb( sudolihcorpameS .pps ,)siuqaraj( sudolihcorP snacirgin )ãtamiruc( sorovítirteD sumlathpopiH .pps )sárapam( ogafótcnalP mumoporcamamossoloC ,)iuqabmat( sutcaraiP .ps ,)agnitiparip( suelyM .ps ,)sucap( suetropirT .ps )ahnidras( sorovígurF mudozihcS .ps )sucara( nocirB pps . )ãhcnirtam( sorovínmO amotsytalpoduesP .ps )sniburus( orovínraC otnatmatibaH:serodargiMsednarG ;onirautseomocsiaivulfsetneibma edsoirsodsariecebacsanlatotavoseD .edadidnucefatla,acnarbaugá eociténegoxulfotlaaaicnêdneT .sametsissonsoenêgomohsopurg amotsytalpyhcarB iitnaliav )abatumarip( amotsytalpyhcarB snacivalf )adaruod( sorovínraC 40 A pesca e os recursos pesqueiros na Amazônia brasileira