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AULA 08-A conjuntura econômica na atualidade

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AULA 08 - A CONJUNTURA ECONÔMICA NA ATUALIDADE
AUTOR: Gustavo Cassebi Pessoti
Para finalizar o nosso curso, faremos nesta aula um balanço da atual conjuntura econômica, com base nos principais fatos que ocorreram no mundo em 2008. No plano internacional os destaques devem ser dados para a grande crise econômica vivenciada pelo EUA e que abalaram toda a economia mundial bem como para a crise financeira mundial que seguiu o rastro, diminuindo a intensidade de crescimento da economia global. No plano doméstico devem ser destacados o bom desempenho do PIB do Brasil e a manutenção do crescimento econômico na Bahia.
A CONJUNTURA INTERNACIONAL – BREVES CONSIDERAÇÕES[1]
A conjuntura econômica global em 2008 foi marcada por fatos que fizeram diminuir o ímpeto do crescimento vivenciado em 2007. Os efeitos reais da crise do mercado imobiliário norte-americano e seus impactos para o mercado financeiro global apareceram de forma devastadora, evidenciando um arrefecimento econômico nos principais países desenvolvidos. O efeito sobre as instituições bancárias expostas aos seguimentos de crédito imobiliário residencial foi muito elevado, e significaram em perdas de muitos bilhões de dólares. Conseqüentemente, a liquidez bancária diminuiu fazendo com que as autoridades monetárias de vários países, principalmente dos EUA, da União Européia, do Canadá, do Reino Unido e do Japão utilizassem os instrumentos monetários para que estes mercados mantivessem seu normal funcionamento e se estabilizem. A crise afetou o desempenho real da economia dos Estados Unidos que cresceu apenas 0,5% em 2008 em termos anuais (vide a tabela 1, que mostra o desempenho do PIB dos principais países do mundo selecionados pelo FMI) e fazendo com que as projeções para o crescimento dos países desenvolvidos diminuam como um todo. Uma crise na economia norte-americana tem proporções incalculáveis para todo o mundo, sobretudo para os países da América Latina e do Sul (pois o mercado norte americano é grande comprador dos produtos produzidos no continente americano).
	Tabela 1 - Projeções do FMI para o Crescimento Econômico Mundial
	Principais Países
	Anos
	
	2006
	2007
	2008
	2009
	PIB Mundial
	5,0
	4,9
	3,7
	3,8
	Estados Unidos
	2,9
	2,2
	0,5
	0,6
	União Européia
	3,3
	3,1
	1,8
	1,7
	Alemanha
	2,9
	2,5
	0,4
	1,0
	França
	2,0
	1,9
	0,5
	1,2
	Itália
	1,8
	1,5
	0,3
	0,3
	Japão
	2,4
	2,1
	1,4
	1,5
	Reino Unido
	2,9
	2,7
	1,3
	1,9
	China
	11,1
	11,4
	9,3
	9,5
	Índia
	9,7
	9,2
	7,9
	8,0
	Brasil
	3,8
	5,4
	5,8
	3,7
	Fonte: FMI 
ENTENDENDO A CRISE DOS ESTADOS UNIDOS E DO MERCADO MUNDIAL
Para facilitar o entendimento vou usar um texto que circulou na Internet, nos últimos meses e que retrata de uma maneira simplista, porém muito didática, o fenômeno observado no mercado financeiro dos EUA que afetou o sistema financeiro mundial, com sérias conseqüências para o desempenho da economia em 2008 e para 2009.
Vamos ao texto, cujo autor é desconhecido, pois o texto que recebi no meu e-mail não veio assinado por ninguém, contudo, julguei-o muito interessante:
Paul, um americano qualquer, comprou um apartamento, no começo dos anos 1990, por 300.000 dólares financiado em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de dólares. Aí, um banco perguntou ao Paul se ele não queria um dinheiro emprestado, algo como 800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia. Ele aceitou o empréstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares.
Com os 800.000 dólares, Paul, vendo que imóveis não paravam de valorizar, comprou 3 casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares.  A diferença, 400.000 dólares que Paul recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou carro novo pra ele(alemão), deu um carro (japonês) para cada filho e com o resto do dinheiro comprou tv de plasma de 63 polegadas, 43 notebooks, e outros tantos itens que ele sequer precisava. Tudo financiado, tudo a crédito.
Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam caindo. As casas que o Paul tinha dado entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez.
O negócio era refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro. Fácil... Parecia fácil. Só que todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo. As taxas que o Paul pagava começaram a subir (as taxas eram pós-fixadas) e o Paul percebeu que seu investimento em imóveis se transformara num desastre.
Milhões tiveram a mesma idéia do Paul. Havia casas pra vender como nunca.
Paul foi agüentando as prestações de seu apartamento refinanciado, mais as das 3 casas que ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações dos carros, dos notebooks, da tv de plasma e do cartão de crédito.
Aí as casas que o Paul comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela. Só que neste momento Paul achava que já teria revendido as 3 casas, mas, ou não havia compradores ou os que havia só pagariam um preço muito menor que o Paul havia pago. Paul se revoltou. Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa em que ele morava e das 3 casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul.
Paul optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos - que não quiseram acordo. Paul entregou aos bancos as 3 casas que comprou como investimento perdendo tudo que tinha investido. Paul quebrou. Ele e sua família pararam de consumir outros produtos da economia norte americana e destruiu todos os seus cartões de crédito.
Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis. Os bancos haviam transformado os empréstimos de milhões de Pauls em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor de face. Com a inadimplência dos Pauls esses títulos começaram a valer pó.
Bilhões e bilhões em títulos passaram a nada valer e esses títulos estavam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos.
Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos baseados num preço de mercado desse imóvel. Preço que despencou. Um empréstimo foi feito baseado num imóvel avaliado em 500.000 dólares e de repente passou a valer 300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores.
Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, especulação pura. A inadimplência dos milhões de Pauls atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de dólares. A farra do crédito fácil um dia acaba. Acabou.
Com a inadimplência dos milhões de Pauls, os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os Pauls pararam de consumir porque não tinham crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado.
O medo de perder o emprego fez a economia travar. Recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir.
O pior pesadelo para uma economia aconteceu: a crise bancária, correntistas correndo para sacar suas economias, boataria geral, pânico. Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu, em uma segunda feira, quebrado, insolvente. O mercado e as pessoas seguem sem saber o que nos espera na próxima segunda-feira. E assim, a economia mundial segue em compasso de espera.
BREVE PANORAMA DA ECONOMIA MUNDIAL NA ATUALIDADE
Os primeiro sintomas do contágio da crise financeira mundial podem ser observados na diminuição da intensidade do crescimento dos principais países do mundo, e inclusive pelas notícias que chegam da Europa, com a queda no PIB da Alemanha e Itália, chegando a apresentar uma leve recessão no terceiro trimestre de 2008.
O que se constatou é que a crise não se restringiu ao mercado imobiliário, pois como todas as grandes empresas mundiaisinvestem no mercado financeiro para complementar as receitas de suas atividades produtivas, muitos empresários, governos e instituições privadas perderam muito dinheiro em questão de minutos. Assim, por exemplo, a General Motors, a Ford, a Bradesco, o Banco do Brasil, o Votorantin, a Petrobrás, a Aracruz, entre outras tantas empresas globais (que também atuam no Brasil) apostaram e perderam dinheiro no mercado financeiro.
Assim sendo, para entendermos o que está acontecendo com o mundo, é importante ter clareza no seguinte fato: de um lado, a economia de mercado, aquela que não necessitava do estado para se auto-regular, começou a dar sinais de esgotamento. De outro, há que se ressaltar que os países mundiais experimentaram um grande e consistente crescimento econômico nos últimos anos, mas a falta de novos investimentos produtivos, bem como o desemprego e a inflação, foram as responsáveis diretas pela diminuição no consumo das famílias européias e, com isso, houve retração da economia mundial. Mercado financeiro e produção real diminuíram o ímpeto de crescimentos das grandes potências econômicas do mundo
Quando se fala em economia real, quer-se dizer que o PIB desses países está apresentando recessão (isto é, queda na taxa de crescimento) em comparação com anos anteriores. Como vimos na tabela 1 anterior, excetuando a China, todos os demais países desenvolvidos, apresentaram apenas um crescimento vegetativo de sua economia em 2008, num percentual bastante abaixo de anos anteriores.
Entre os países que chegaram a registrar ao longo dos dois primeiros trimestres de 2008 taxas negativas no PIB estão: França, Itália, Alemanha e Espanha. Muitos outros, como Portugal, Holanda, Suécia e Hungria apresentaram taxas de crescimento entre o segundo e o terceiro trimestre do ano de 2008 de apenas 0,1%, praticamente uma estabilidade em relação a 2007.
Com a diminuição no crescimento dos principais países da Europa e com a crise tendo atingido em cheio a maior potência mundial, os Estados Unidos e o Japão que também não saiu sem respingos dessa crise, diminuíram as encomendas de produtos que são comercializados principalmente pelos países emergentes. O resultado foi uma grande diminuição no comércio internacional, razão pela qual, todos, até mesmo aqueles que não tinha nada a ver com a crise (como analisou o presidente Lula) sentiram os reflexos da crise em suas economias internas.
A crise revelou para o mundo que grandes instituições financeiras, que passaram anos como as mais sólidas, com maior faturamento, tinham sérios problemas escondidos por trás da simbologia de suas marcas. Bancos de investimentos internacionais como o Lehman Brothers e Merrill Lynch foram os primeiros a sucumbir, diante da desconfiança dos seus acionistas e investidores, que numa espécie de efeito manada retiraram todos seus recursos em questão de minutos (essa velocidade está relacionada à globalização financeira e à velocidade nas comunicações).
Mas, em minha opinião, o fato que revela como essa crise tem impactado o chamado lado real da economia é o fenômeno que acontece com as montadoras de veículos automotores, antes grandes símbolos da supremacia norte-americana no mercado mundial, agora empresas falidas e desesperadas pelo socorro do Estado. A General Motors (GM), que durante os anos 1990 e início dos 2000, foi a líder mundial em vendas e faturamento, hoje (novembro de 2008, quando esta aula estava sendo escrita) não tinha dinheiro em caixa para honrar seus compromissos devedores até o mês de dezembro. Apostou e ganhou muito dinheiro no mercado financeiro e se descuidou de sua função primeira, de buscar aperfeiçoamentos nos desenhos de seus carros, mais flexíveis às mudanças no perfil dos consumidores americanos (que já não queriam mais os carrões que consumiam muito combustível).
O valor de mercado da GM em 2008 estava situado, depois da crise, no mesmo patamar que a empresa valia em 1930, pouco menos de US$3 bilhões. Apenas para que a gente tenha uma referência de valor, vocês já ouviram falar nas empresas brasileiras Weg (produtora de motores) ou na Fosfertil (fábrica de fertilizantes)? Pois é, se sua resposta foi não, saiba que essas duas empresas valem mais, para um investidor que quiser ser dono das companhias, do que a GM mundial.
Outra gigante americana, com uma unidade inclusive na Bahia, a Ford Company segue os mesmos passos da GM. Em 2008, suas ações tiveram uma perda de 80% e seu valor de mercado caiu para cerca de US$ 4,5 bilhões (valor mais barato do que a Natura). A empresa em 2007 valia pouco mais de R$22 bilhões. Não fossem pelas vendas realizadas nas filiais brasileiras esse valor de mercado seria menor ainda. As quebras dessas duas gigantes podem custar cerca de 500 mil empregos em todo o mundo e perdas de outros milhares de empregos nas empresas fornecedoras de autopeças. Seria uma verdadeira catástrofe e dinheiro nenhum no mundo seria capaz de evitar uma depressão mundial.
A solução para essa crise indica que a economia de mercado vive um verdadeiro colapso. Inicialmente, o governo americano, numa clara medida de defesa da economia mundial, aprovou um pacote de ajuda governamental ao sistema financeiro internacional de aproximadamente US$800 bilhões (valor que é quase duas vezes maior que o PIB da Argentina). Esse dinheiro deveria ser usado na aquisição de ações do mercado financeiro que mais se desvalorizaram de empresas descapitalizadas, cuja possibilidade de calote fosse grande. Como ninguém no mundo, diga-se, nenhum investidor tem interesse em adquirir tais papéis, o governo americano aprovou esse pacote para evitar uma quebradeira ainda maior, de empresas que se acostumaram a ganhar muito dinheiro com esses papéis.
Além de sinalizar para o mercado financeiro, o governo aprovou outro pacote de mais US$800 bilhões para disponibilizar em créditos para que os consumidores voltem às compras. Um dos grandes problemas das montadoras é, por exemplo, que o consumidor americano está sem dinheiro para realizar compras à vista e as instituições financeiras que acumularam perdas estão quase sem recursos para oferecer ao setor produtivo. Sem tais recursos, as vendas ficam estagnadas e o comércio diminui as encomendas da indústria que, por sua vez, demanda menos insumos da agricultura. A bola de neve termina com a diminuição do PIB do país, o aumento do desemprego e o desaquecimento da economia mundial.
As exportações brasileiras para os Estados Unidos representam aproximadamente 30% de todo o comércio internacional do Brasil. Se aquele país diminui seu ritmo de crescimento, por tabela deixa de precisar comprar produtos de outras economias e acaba provocando um efeito multiplicador destrutivo em muitas economias, principalmente naqueles países chamados de emergentes ou periféricos.
Quando essa aula estava em fase final de sua redação era impossível mensurar as perdas reais para a economia mundial. Entretanto, o que ficou claro para todo o mundo é que uma nova onda de recessão e quebras de empresas, antes tidas como as mais sólidas do mundo, estava por vir. Se as proporções dessa crise serão maiores que a grande depressão de 1929 só o tempo dirá, mas o fato é que o mundo espera com cautela qual a próxima notícia que ainda receberemos quando abrirmos o caderno de economia dos jornais do dia seguinte. Essa foi a tônica do ano 2008.
A CONJUNTURA ECONÔMICA ATUAL DO BRASIL
Se 2008 não tivesse sido o ano da crise financeira internacional e da desaceleração da economia mundial (EUA e Europa), certamente entraria para a história como um dos melhores anos, do ponto de vista econômico, no Brasil dos últimos 50 anos. Todos os fundamentos macroeconômicos foram cumpridos pelo governo brasileiro e a economia, pelo menos até o primeiro semestre do ano, comemorou recordes: na geração de empregos com carteira informal, por tabela na diminuição da informalidade no país, pelas diminuições consecutivas nas taxas de desemprego e pelo crescimento do PIB na ordem de 6%, conforme previsto no âmbito do Programa de Aceleração doCrescimento. Talvez, só para baixar um pouco a bola, estaríamos dizendo que foi um ano difícil no combate à inflação, pelo aumento da demanda mundial, principalmente no segmento de alimentos, o que forçou o Banco Central a aumentar as taxas de juros para evitar a desvalorização do Real.
Em 2008 também o Brasil comemorou um acontecimento típico das economias de mercado, das quais ele é participante ativo: foi-nos concedido, pelas empresas mundiais que avaliam o risco do investimento em países, o chamado Grau do Investimento. Isso é uma simbologia que serve de referência para investidores de todo o mundo, uma espécie de selo de garantia. Países que têm esse “selo” são considerados as mais seguras praças para o investimento financeiro, o quer dizer que aqueles investidores estrangeiros que para cá direcionassem os seus dólares poderiam dormir tranqüilos, com a certeza de que ganhariam dinheiro sem a preocupação de um calote, por parte do governo ou das empresas brasileiras.
Depois de ser reconhecido pelos organismos mundiais como uma economia de confiança, após anos utilizando os fundamentos da macroeconomia liberal, isto é aquela que defende pouca intervenção governamental na economia e deixa o livre mercado, a partir das forças de demanda e oferta, que temos discutido desde as nossas primeiras aulas do curso, o Brasil teve a sua moeda (o Real) valorizado tanto em relação ao Euro como o Dólar. Chegou-se a um patamar de US$ 1,00 ser igual a R$ 1,65, isto é, uma grande valorização da moeda, o que permitia aumentar as importações e baratear os preços do mercado interno pelo aumento da concorrência dos produtos importados.
O comércio brasileiro seguiu a sua tendência de alta dos últimos anos. Crédito abundante, crescimento do emprego e aumento da massa de salários dos brasileiros garantiram a diminuição nos estoques das empresas e aumento nas encomendas feitas para a indústria, sobretudo, nos ramos de consumo durável e semidurável como os eletrodomésticos e os veículos automotores. Diferentemente do que ocorria no mercado americano, as montadoras com filias no Brasil seguiram boa parte de 2008 com vendas recordes, faturamento alto e investimentos previstos nas linhas de montagem. A Ford paulista, por exemplo, com o desenvolvimento do novo modelo do Ka, conseguiu maior inserção no mercado brasileiro de veículos e garantiu bons resultados para a matriz americana.
O PIB do Brasil cresceu 5,8% em 2008, em relação a igual período de 2007, segundo as estimativas preliminares do FMI. Entre os setores que contribuíram para esse resultado, destacaram-se a Agropecuária (7,1%), seguida pela Indústria (5,7%) e pelos Serviços (5,5%). Esses percentuais são a prova inequívoca de que, apesar dos efeitos devastadores da crise financeira mundial, até mesmo pela inércia do movimento, os efeitos sobre a economia brasileira só deverão ser observados a partir de 2009.
Para que a crise tivesse afetado a economia brasileira ainda em 2008 era preciso que o país já viesse apresentando sinais de esgotamento nos seus investimentos ou ainda ter apresentado anos consecutivos de altos crescimentos na sua economia, de tal sorte que necessitasse de novos investimentos para continuar crescendo. O que pode acontecer é uma desaceleração na intensidade de crescimento no último trimestre do ano, principalmente nos meses de novembro e dezembro.
Um bom indicador dessa perspectiva é o fato que está acontecendo em alguns setores da indústria brasileira, principalmente aqueles mais diretamente ligados ao mercado externo. Diversas montadoras (todas praticamente, inclusive as fornecedoras de peças e mesmo a indústria metalúrgica que fabrica o aço que vai na chaparia dos veículos) anunciaram férias coletivas a partir de 1/12/2008. Quem trabalha na iniciativa privada sabe que férias coletivas, em períodos incomuns, significam possibilidade real de corte no número de empregos. Entretanto, esse corte aconteceria em 2009, de sorte que os efeitos da crise financeira mundial seriam mais intensamente sentidos pela economia brasileira somente no desenrolar do ano que vem.
Em relação aos possíveis efeitos para 2009, todos os especialistas em análise econômica são unânimes em afirmar que o país deverá enfrentar um desaquecimento na demanda (interna e externa) e, portanto, deverá ter um PIB menor em 2009. Mas ninguém fala abertamente em recessão como a que está acontecendo nos Estados Unidos e Europa em 2008 e que, ao que tudo indica, continuarão com problemas no ano seguinte. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, por exemplo, um importante órgão de pesquisa econômica do Brasil, ao lado da FGV, estima que a economia brasileira sairá de um patamar de crescimento próximo de 6% em 2008, para no máximo 3% em 2009. Portanto, não teremos recessão, mas diminuição na intensidade do crescimento.
Alguns fatos corroboram essas perspectivas. Um deles é o adiamento de investimentos da Petrobrás em direção de uma nova refinaria em Pernambuco, além dos investimentos programados no parque da indústria petroquímica do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte. Com a conjuntura internacional imprevisível e com a diminuição nos preços do barril de petróleo (o que deveria ser uma boa para um consumidor que vive em um país sério), a companhia brasileira diminuiu seus lucros (principalmente com desvalorização de suas ações na bolsa de valores), o que deve dificultar, inclusive novas pesquisas em direção ao pré-sal, pelo menos no curto prazo.
Também no campo, as notícias não são nada animadoras para 2009. Com a diminuição nos preços das commodities no mercado internacional, muitos produtores esperam plantar menos, em função da possibilidade de não conseguirem bons negócios no mercado internacional. Esse fato, para alguns produtos como a soja, o café e o algodão pode significar retração na produção de até 10% em 2009.
Também os setores exportadores não têm muitas razões para comemorar. Apesar da desvalorização do Real (que chegou, no final de 2008 a patamares de R$2,40 por dólar, principalmente depois da crise), as exportações do Brasil encolheram muito no final do ano, em função da recessão da economia mundial. O prejuízo só não foi maior, pois muitas encomendas já tinham sido realizadas e normalizadas em contratos de vendas anteriormente à crise, de sorte que não diminuíram de imediato as compras realizadas pelos países do mundo (Japão, Alemanha, Estados Unidos, etc.). Entretanto, com a diminuição do consumo nos principais países da Europa, Ásia e Estados Unidos, os preços dos produtos no mercado internacional também deverão baixar desestimulando as vendas externas. Como afirma o presidente Lula: a economia brasileira em 2009 vai depender, sobretudo, do nível de atividade interna, isto é, vai depender do consumo e investimentos dos brasileiros.
Para tanto, é de fundamental importância que a confiança do brasileiro na economia não diminua, assim como do investidor, principalmente no segmento industrial. A idéia do governo é a de que o país pode lucrar com a crise, se os consumidores brasileiros não diminuírem o ímpeto de suas vendas. O consumo interno deve ser o divisor de águas para um maior ou menor crescimento econômico do país em 2009. Se o clima de pânico, que normalmente ocorre nessas situações, for minimizado, pode-se inclusive esperar que os brasileiros financiem bons negócios internamente. É, por exemplo, o caso do turismo interno, que deve ser favorecido, em função da diminuição de pacotes no exterior.
Para tanto, o governo brasileiro tem se esforçado em manter a oferta de crédito disponível para o consumo. Nesse sentido, o governo tem procurado rever sua política monetária, dando maior liberdade aos bancos comerciais para que não reduzam o montante de empréstimos ao setor produtivo, principalmente nas áreas de construção civil, mercado imobiliário, comércio e também para a indústria automobilística.
Incerteza, variável bastante analisada na esfera da economia, passou a ser o item mais importante para os diagnósticos das “cenas dos próximos capítulos”na economia brasileira no pós-crise.
A CONJUNTURA ECONÔMICA DA BAHIA NA ATUALIDADE
A análise da conjuntura econômica da Bahia em 2008 deve levar em consideração um fator de ordem metodológico, pois, se para o Brasil ainda não existem informações concretas para mensurar os impactos da crise para a economia, que dirá ao descer essa análise ao nível de uma unidade da federação, que não é nem de longe uma dais mais importantes, em termos de indústrias, número de consumidores, disponibilidade financeira, como as economias do Centro Sul do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, etc). Assim sendo, vou colocar em análise aquilo de mais atual que existe, em termos de informações regionais, de forma que muitos dados serão de estimativas e projeções.
O Produto Interno Bruto do Estado da Bahia em 2008 também apresentou uma taxa expressiva de crescimento, levando-se em consideração que os efeitos da crise financeira mundial começaram a ser percebidos no último trimestre do ano, - principalmente em dezembro, quando as indústrias automotivas, de borracha e plástico e de papel e celulose anunciaram férias coletivas para diminuir o volume de estoques. O balanço prévio do desempenho econômico indica que o ritmo de crescimento acompanhou o da economia brasileira situando-se em 2008 em um patamar de 5% no indicador do PIB.
As primeiras estimativas para o balanço do ano de 2008, indicam que, a despeito do bom desempenho do setor de serviços, os principais destaques ficarão por conta da agropecuária e do segmento industrial, por razões completamente similares. A agropecuária, por apresentar durante dois anos consecutivos incremento superior a 5% na atividade, devendo encerrar 2008 com uma expansão de aproximadamente 5,5% e bater o recorde na produção de grãos com aproximadamente 6,4 milhões de toneladas. A soja, devidamente recuperada das perdas do ano de 2007, apresentou uma expansão de aproximadamente 20%, com uma safra estimada em 2,7 milhões de toneladas. Outras culturas que apresentaram bons resultados foram o milho, o feijão e o café, este último com expansão de 11% na produção baiana.
O segmento industrial deverá configurar-se, mais uma vez, como grande destaque da economia baiana, sobretudo, pelos resultados da indústria de transformação e da construção civil - cerca de 4,5% e 8%, respectivamente. Destaca-se que o segmento industrial continua sendo alvo de maciços investimentos pelo governo estadual a partir de sua política induzida de atração de investimentos industriais que, segundo os dados da Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado, implementou R$2 bilhões em novos investimentos ao longo do período 2007-2008 (SICM, 2008). O quadro a seguir mostra o balanço do ano com base nas primeiras estimativas realizadas pela equipe de Contas Regionais da SEI.
Tabela 2 - Taxa de Crescimento dos Principais Setores do PIB
	Bahia - 2008
	%
	Atividades
	1ª Estimativa de Crescimento para 2008
	Agropecuária
	5,5
	Agricultura
	7,0
	Indústria
	5,5
	Ind. Transformação
	4,5
	Construção Civil
	8,0
	Serviços
	4,6
	Comércio
	8,0
	PIB
	5,0
	Fonte: SEI/Coordenação de Contas Regionais
Reflexo imediato da finalização das obras do metrô de Salvador, bem como do chamado boom imobiliário - que tem expandido a oferta de imóveis em média a 40% ao ano -, a construção civil, segmento que absorve uma elevada quantidade de mão-de-obra, voltou a apresentar expansão na atividade, com crescimento de 8% em 2008 em relação ao mesmo período de 2007. As expectativas para o resultado do ano são de manutenção desse desempenho em 2009, em que pese alguns reflexos da crise financeira mundial começarem a ser sentidos no segmento da construção ainda no final do ano. Segundo os dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (CAGED) a construção civil criou em 2008, na Bahia, aproximadamente 15 mil empregos com carteira assinada, segundo setor mais importante em geração de empregos (somente atrás do comércio).
No bojo dessa análise merece especial destaque o setor do comércio que, conforme mencionado, gerou aproximadamente 18.800 novos postos de trabalho em todo o estado, no período compreendido entre janeiro e dezembro de 2008. Corroborando esse resultado, há de se mencionar o bom desempenho do comércio da Bahia, que há 60 meses consecutivos apresenta incremento real na atividade. No ano de 2008, o comércio baiano apresentou uma expansão de 8% de incremento nas vendas e quase 13% no faturamento bruto.
Em 2008, foram justamente os setores mais ligados ao crediário, aqueles que apresentaram as mais significativas expansões na atividade. Por isso, o clima de cautela deve imperar a partir de 2009, quando o crescimento da atividade deverá ser mais lento em função da crise financeira mundial. Diferentemente do que acontece no mercado internacional (principalmente nos EUA), as vendas de veículos automotores continuam em alta na economia baiana. Em 2008, o incremento nas vendas chegou a 15% em comparação ao ano de 2007. Mas, nos últimos meses do ano, principalmente em novembro e dezembro, houve uma diminuição nas vendas de carros e motos em função das expectativas e do receio dos consumidores baianos com compromissos de longo prazo. Esse fato sinaliza que tanto o governo estadual como o federal terão que continuar incentivando a oferta de crédito para não paralisarem as vendas dos chamados bens de consumo durável (eletrodomésticos, carros, etc.).
Para finalizar, esse breve balanço de conjuntura econômica de 2008, cumpre evidenciar o desempenho do setor de serviços que também apresentou um bom resultado em suas principais atividades, devendo encerrar o ano como uma expansão de aproximadamente 4,6%. A despeito da conjuntura econômica, o setor de serviços foi o que mais empregos criou no período entre janeiro e dezembro de 2008.
Estima-se para 2008 que diversas atividades ligadas ao setor de serviços apresentem expansão no nível da atividade, entre elas os setores ligados ao turismo que deverão se favorecer em decorrência do aumento do dólar, que enfraquece as viagens para o exterior. O setor de alojamento e alimentação deverá apresentar uma expansão de 5%, como reflexo imediato do incremento turístico esperado. A análise do setor de transporte aéreo corrobora com os resultados estimados. Em 2008, o fluxo de passageiros desembarcados na Bahia aumentou cerca de 14%.
Além disso, em função da diminuição do desemprego na Região Metropolitana de Salvador que, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), teve os postos de trabalhos aumentados em 4% na comparação com o ano de 2007, as expectativas que os demais serviços venham a apresentar resultados satisfatórios é bastante grande. Revela a mesma pesquisa que a evolução dos ocupados no setor de serviços atingiu 6,2% nos últimos doze meses, resultado que também está atrelado ao bom desempenho econômico dos segmentos industriais que acabam contratando serviços terceirizados para complementar a sua produção.
Assim, a despeito da crise econômica financeira internacional e do arrefecimento das principais economias da Europa, Japão e Estados Unidos, países que mantêm relações comerciais com a Bahia, a economia baiana novamente apresentou uma taxa de incremento do PIB seguindo a tendência da economia brasileira. O patamar estimado para 2008 se configura como o mais alto desde 2004. A soma de todas as riquezas produzidas na Bahia certamente será superior aos R$110 bilhões.
SÍNTESE
A conjuntura econômica mundial foi bastante singular em 2008, mas a crise econômica financeira foi decisiva para entender o desaquecimento da economia dos países mais desenvolvidos. O investimento produtivo deu lugar para a especulação no mercado de ações e o resultado foi bastante catastrófico para aqueles que apostaram nessa equação. O que ficou evidente é que aquela economia (EUA), antes tida como inabalável, viu seus maiores ícones do mercado financeiro e de ramo automobilístico “com o pires na mão” desesperados por um socorro governamental. É evidente que todosos países do mundo sentiram o abalo em suas economias, mas a bem da verdade é que o Brasil, um dos líderes dos chamados “emergentes”, tinha feito sua lição de casa nos últimos anos, quando incentivou o investimento e criou o ambiente macroeconômico favorável à expansão de negócios. Em 2008 a economia brasileira cresceu na casa dos 5% e deverá ter em 2009, na pior das hipóteses um crescimento de 2,5% do PIB. Na Bahia, o cenário também foi favorável à expansão da economia. Puxado pelos setores agropecuário e industrial, a economia baiana logrou mais um ano de bons resultados com o PIB se expandindo 5% e o nível de emprego crescendo aproximadamente 6%. Em 2009, espera-se uma diminuição também no crescimento baiano, que poderá não ser tão ruim, se o governo local souber vender o axé baiano para as outras praças do turismo interno.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Se a crise financeira mundial não tivesse acontecido, poderiam o Brasil e a Bahia ter apresentado uma taxa de expansão econômica ainda maior em 2008?

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