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Apresentação Guimarães Rosa - Manuelzão e Miguilim

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Apresentação
Comunicação da obra: 
Manuelzão e Miguilim de João Guimarães Rosa
Murilo Américo e Vitor Azevedo
Espaço e Contextualização
“Um certo Miguilm morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Vereda-do-Frango-d'água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em um ponto remoto, no Mutum. No meio dos Campos Gerais, mas num covão em trecho de matas, terra preta, pé de serra.”
“É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre...”
Traços da cultura regional
Vovó Izidra e Vó Benvinda em volta, o pai mandava: _ “traz o trem...” Traziam o tatu, que guinchava, e com a faca matavam o tatu, para o sangue escorrer por cima do corpo dele pra dentro da bacia. _ “Foi de verdade mãe? _ ele indagava, muito tempo depois; e a mãe confirmava: dizia que ele tinha estado muito fraco, saído de doença, e que o banho no sangue vivo do tatu fora para ele poder vingar.
Os cabritinhos viajavam dentro, junto com agente, berravam pela mãe deles, toda a vida. A coitada da cabrita _ então ela por fim não ficava cansada?_ A bem está com os peitos cheios, de derramar...”
A Mãe de Miguilim
filhos
Drelina era bonita: tinha cabelos compridos, louros. O Dito e Tomezinho eram ruivados. Só Miguilim e a Chica é que tinha cabelo preto, igual ao da mãe. O Dito se parecia muito com o pai, Miguilim era o retrato da mãe. Mas havia ainda um irmão, o mais velho de todos, Liovaldo, que não morava no Mutum. Ninguém se lembrava mais de que ele fosse de que feições.
O marido
O pai gostava de mamãe, muito, demais. Até, para agradar mamãe, ele afagava de alisar o cabelo de Miguilim, enquanto falava gracejo.
Hereditário
“Vovó Izidra não era mãe dela, mas só irmã da mãe dela. Mãe de Mãe tinha sido Vó Benvinda. Vó Benvinda, antes de morrer, toda vida ela rezava, dia e noite, e ralhava mole com os meninos. Um vaqueiro contou ao dito, de segredo, Vó Benvinda quando moça tinha sido mulher-atoa. Mulher-atoa é que homens vão em casa dela e ela quando morre vai para o inferno.”
Inovação linguística: neologismo, incorporação do discurso coloquial, primazia pela forma
A Rosa dizendo que Mãitina rezava porqueado: “Véva Maria zela de graça, pega na Zesú põe no saco de mombassa...” Mãitina era preta de um preto estúrdio, encalcado, transmanchada de mais grosso preto, um preto de boi. Quando estava pinguda de muita cachaça soflagrava umas palavras que agente não tinha licença de ouvir, a Rosa dizia que eram nomes de menino não saber, coisas pra mais tarde.
Seo Deográcias ria com os dentes desarranjados de fechados, parecia careta cã, e sujo amarelal brotava por toda a cara dele, um espim de uma barba.
Seo Deográcias cuspia longe, em tris, asseava a boca com as costas da mão e rexingava: “_ Assim mais do que assim, as coisas não podem demasiar. Por causa de uma e dessas, eu vou no papel! _ vou na tinta!”
A REVOLUÇÃO ROSEANA
A palavra é de extrema importância para a significação em Rosa. Não somente em Campo Geral como em toda a sua obra, podemos enxergar a inovação da linguagem literária, que provém, em boa parte, dos Gerais. O próprio autor diria em entrevista concedida a Günter Lorenz: “... meu método... implica na utilização de cada palavra como se ela tivesse acabado de nascer, para limpá-la das impurezas da linguagem cotidiana e reduzi-la a seu sentido original.”
Sobre o aspecto linguístico da revolução roseana, devemos acentuar a maneira criativa com que o autor trabalha os recursos expressivos da linguagem. Tomando como matéria-prima a fala do sertanejo mineiro, submete-a a um cuidadoso processo de estilização, depurando-a e enriquecendo-a com recursos estilísticos eruditos. Alguns pontos são:
apropriação de recursos lexicais já existentes na língua moderna ou arcaica: uso de regionalismos e de vocábulos de origem indígena e os termos e expressões arcaicos, eruditos (latinismos, por exemplo, como “o Magnificat era o que se rezava”) e coloquiais (plebeísmos, ou seja, corruptelas para fixar a linguagem popular - “Miguilim, me dá um beijim”);
neologismos - criação de palavras a partir de radicais já existentes. ex.: devagaroso, gordotes, destemestes, devôo, visluz, sonhosa, manhanil, ninhagem — de pássaros —, mortescência, adormorrer”: adormecer + morrer, malcriar-se, centaurizar etc.
ênfase através da repetição de palavras - Ex.: “Queria que fosse tudo igual ao igual, sem esparrame nenhum, nunca”; “Um certo Miguilim morava (...) longe, longe daqui...”
desarticulações ou desvios sintáticos e lexicais - “A gente vamos lá!”.
emprego de aliterações, assonâncias, onomatopeias “Vagalume, lume, lume, seu pai, sua mãe, estão aqui!...”; “O vento viív..., viív... Assoviava nas folhas dos coqueiros”; “...o pio do sanhaço grande, o ioioioim deles...”
inclusão de cantos e modinhas populares no discurso narrativo - “Olerê, lerê, lerá, morena dos olhos tristes, muda esse modo de olhar...”
Oliveira, Franklin de. “Revolução Roseana” in Guimarães Rosa. Org. Coutinho

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