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TEORIA GERAL DOS RECURSOS Processo Penal III 2015.1 Recursos – Conceito, fundamento constitucional, pressupostos objetivos e subjetivos, efeitos, princípios: vedacão à reformatio in pejus, vedação à reformatio in pejus indireta e reformatio in mellius. 1- Definição O recurso é a extensão do direito de ação. Ele é exercido quando uma das partes, inconformada com a decisão proferida, novamente pede que o Estado aprecie o conflito, na expectativa de ver alterada a decisão que não lhe foi favorável. Dessa forma, o recurso é o mecanismo processual através do qual se provoca o reexame de uma decisão. 2- Pressupostos recursais (1) pressuposto lógico: É a existência de uma decisão em sentido amplo. Os atos jurisdicionais podem ser classificados em despacho ordinatório (apenas provê a marcha processual, sem qualquer natureza decisões), em decisão interlocutória (resolve uma questão incidente que não se confunde com o mérito do conflito de interesses) e em sentença (resolve o mérito do conflito de interesses). Só é possível recorrer contra uma decisão em sentido amplo, ou seja, contra uma decisão interlocutória ou contra uma sentença. A rigor inexiste recurso a ser interposto contra um despacho ordinatório. Observação: o CODJERJ (arts. 219 – 225) prevê excepcionalmente a chamada reclamação, também conhecida como correição parcial, que pode ser interposta contra algum despacho ordinatório que cause tumulto processual. (2) pressuposto fundamental: É a sucumbência, que significa desconformidade entre aquilo que se pede e aquilo que se obtém. Observações: (a) O MP pode recorrer em favor do réu? Para a minoria, o MP atua apenas como parte no processo penal e, por isso, o seu interesse se contrapõe ao interesse da defesa. Ora, se a condenação foi injusta ou a pena foi excessiva, cabe à defesa recorrer, e não ao MP. Para a maioria, o MP atua como fiscal da lei, razão pela qual não lhe interessa uma sentença injusta ou nula. Amparando esta tese há um argumento forte: o art. 654 do CPP permite que o MP impetre habeas corpus em favor do réu. (b) A defesa pode recorrer contra a absolvição? A defesa pode recorrer contra a absolvição buscando a mudança do seu fundamento. (c) Havendo discordância entre o réu e o seu defensor, qual opinião deve prevalecer? Para a doutrina majoritária, deve prevalecer a opinião do réu porque ele é que irá sofrer as consequências da condenação, e não o seu defensor. 7 Para a jurisprudência majoritária – enunciado nº 705, da súmula do STF -, deve prevalecer a opinião do defensor porque ele é que tem preparo técnico suficiente para examinar a viabilidade do recurso Há um terceiro entendimento (Afrânio Silva Jardim) que afirma que deve prevalecer a opinião de quem quer recorrer, seja o réu, seja o defensor. É que o recurso exclusivo da defesa não pode prejudicar a situação do réu. Logo, o réu não corre risco na interposição do recurso, havendo sempre a possibilidade de êxito, ainda que mínima. 8 (3) Pressupostos objetivos: A doutrina elenca os seguintes pressupostos objetivos. autorização legal: cada decisão enseja a interposição de um recurso; assim como cada conduta criminosa se adequa a um tipo penal, cada decisão se adequa a um recurso; logo, só é possível recorrer quando o legislador prevê um determinado recurso para o caso. 9 (b) tempestividade: cada recurso tem um prazo de interposição; no processo penal, os prazos variam, havendo recurso de dois dias (embargos de declaração), cinco dias (apelação), dez dias (embargos infringentes), quinze dias (recurso especial). (c) observância das formalidades legais: cada recurso tem suas peculiaridades; às vezes, o recurso é interposto para o próprio juiz que proferiu a sentença recorrida; noutros casos, ele é interposto para o tribunal; às vezes, é preciso apresentar razões recursais; noutros casos, as razões são dispensáveis; por isso, é necessário estudar cada um dos recursos, para que sejam vistas as suas peculiaridades. 10 Pressupostos subjetivos: A doutrina elenca os seguintes pressupostos subjetivos. (a) legitimidade: decorre da sucumbência; só tem legitimidade a parte sucumbente, ou seja, aquela que não obteve tudo que pediu. (b) interesse: também decorre da sucumbência; o interesse na interposição do recurso surge exatamente da desconformidade entre aquilo que foi pedido e aquilo que foi obtido. 11 Observação importante: A análise dos pressupostos recursais (lógico, fundamental, objetivos e subjetivos) constitui o chamado juízo de admissibilidade ou juízo de prelibação, o qual, se positivo, permite o exame do mérito do recurso. Dessa forma, é feito o juízo de mérito ou juízo de delibação. 12 3- Princípios Dentre os princípios aplicáveis à teoria geral dos recursos, dois merecem o máximo destaque neste momento. (1) Princípio da Unirrecorribilidade: Em regra, cada decisão desafia um único recurso. Entretanto, há uma exceção que deve ser ressaltada. O art. 26 da Lei 8038/90 determina que contra o acórdão do TJ, em tese, é possível interpor simultaneamente o recurso especial para o STJ (art. 105 da CF) e o recurso extraordinário para o STF (art. 102 da CF). 13 Observação: a doutrina minoritária (Paulo Rangel) entende que o caso acima não é uma exceção ao princípio da unirrecorribilidade, alegando que, em verdade, é interposto um único recurso contra cada parte da sentença ou do acórdão, embora haja mais de um recurso na totalidade. 14 (2) Princípio da fungibilidade recursal: O art. 579 do CPP dispõe que o recurso interposto de forma equivocada deve ser recebido como se fosse o recurso adequado, salvo se houver má-fé da parte recorrente. 15 O que se entende como má-fé? Para a doutrina, há dois critérios para o exame da má-fé. critério objetivo: entende-se que há má-fé quando o recurso equivocado é interposto fora do prazo do recurso adequado. (b) critério subjetivo: entende-se que há má-fé quando há um erro grosseiro na interposição do recurso. 16 4- Efeitos dos recursos (1) efeito devolutivo: o efeito devolutivo significa que a matéria recorrida será levada de novo ao Poder Judiciário, muito embora o órgão que apreciará o recurso seja distinto daquele que proferiu a sentença recorrida. (2) efeito regressivo: trata-se de uma variação do efeito devolutivo porque significa que a matéria será novamente levada ao Poder Judiciário, justamente para o órgão que proferiu a sentença recorrida, e não para outro órgão. 17 (3) efeito suspensivo: a interposição do recurso suspende a execução da sentença recorrida. No caso de sentença absolutória, a atual redação do art. 596 do CPP, de forma expressa, afasta o efeito suspensivo. Isso significa que, uma vez absolvido, o réu será colocado em liberdade, ainda que a acusação recorra. (4) efeito extensivo: é previsto no art. 580 do CPP; havendo mais de um réu, a decisão relativa ao recurso interposto por um deles estende-se ao outro, desde que não seja embasado em motivos exclusivamente pessoais. 18 5- Classificação dos recursos (a) recurso voluntário: é a regra geral; a sua interposição depende da vontade da parte, a qual decide pela sua interposição ou não. (b) recurso obrigatório: trata-se de exceção; na verdade, o juiz deve enviar os autos ao tribunal, ainda que as partes não interponham recurso; isso ocorre nos seguintes casos: art. 574, I e II, do CPP; art. 746 do CPP; art. 7º, da Lei 1521/51; o recurso obrigatório também é chamado de recurso de ofício. 19 Alguns autores entendem que a expressão “recurso de ofício” é imprópria porque o recurso pressupõe o inconformismo do recorrente e o seu desejo de ver a decisão recorrida alterada. Ora, é óbvio que o juiz não está inconformado com a sua própria decisão, nem pretende alterá-la. Ele apenas envia os autos ao tribunal de justiça porque a lei obriga. Tecnicamente, o caso é de “duplo grau obrigatório de jurisdição”. 20 6- Desistência recursal Inexiste qualquer dúvida quanto ao fato da defesa desistir do recurso que tenha interposto. Entretanto, o art. 576 do CPP, de forma expressa, dispõe que o MP não pode desistir do recurso que tenha interposto. A doutrina majoritária prestigia tal dispositivo, sustentando que o art. 576 do CPP adota o princípio da indisponibilidade, segundo o qual o MP não pode abandonar o processo. Entretanto, há uma corrente minoritária que critica tal dispositivo. 21 7- Deserção A deserção é uma causa atípica de extinção do recurso. Em regra, o recurso e extinto com a própria apreciação do mérito da pretensão recursal. A deserção pode ocorrer no seguinte caso: O art. 806, § 2º, do CPP: a falta de pagamento das custas, no caso de ação de iniciativa privada, se o recorrente não for pobre, acarreta a deserção, impedindo o julgamento do mérito da pretensão recursal. 22 8- Vedação à reformatio in pejus O recurso exclusivo da defesa não pode prejudicar o réu (art. 617 do CPP). 23 Observação importante: A doutrina majoritária também sustenta a vedação à chamada reformatio in pejus indireta, a qual impede que o réu seja prejudicado pela nova sentença proferida em decorrência do recurso interposto pelo réu que acarretou o reconhecimento da nulidade da sentença inicialmente proferida. A doutrina minoritária (Paulo Rangel) sustenta que a sentença inicialmente proferida, uma vez declarada nula, não pode servir de parâmetro para a nova sentença, a qual poderá ser mais prejudicial ao recorrente. 24 Outra observação importante: O tribunal do júri garante a soberania dos jurados integrantes do conselho de sentença (art. 5º, XXXVIII, da CF). Por isso, a questão da reformatio in pejus ganha um colorido especial. A nova sentença provocada pelo recurso do réu pode lhe prejudicar? E a soberania dos veredictos? 25 9- Permissão à reformatio in melius O recurso exclusivo do MP pode melhorar a situação do acusado. 26
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