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Memória Jurisprudencial Hahnemann Guimaraes

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Ministro Hahnemann Guimarães
Memória Jurisprudencial
Brasília
2010
Supremo Tribunal Federal
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Memória Jurisprudencial
MINISTRO HAHNEMANN GUIMARÃES
MARcOS AURéLIO PEREIRA VALADÃO
Brasília
2010
Diretoria-Geral 
Alcides Diniz da Silva
Secretaria de Documentação 
Janeth Aparecida Dias de Melo
Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência 
Leide Maria Soares c orrêa c esar
Seção de Preparo de Publicações 
c íntia Machado Gonçalves Soares
Seção de Padronização e Revisão 
Rochelle Quito
Seção de Distribuição de Edições 
Maria c ristina Hilário da Silva
Diagramação: Eduardo Franco Dias e Ludmila Araujo
Capa: Jorge Luis Villar Peres
Edição: Supremo Tribunal Federal
Dados Internacionais de c atalogação na Publicação (c IP)
(Supremo Tribunal Federal – Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)
Valadão, Marcos Aurélio Pereira.
Ministro Hahnemann Guimarães / Marcos Aurélio Pereira 
Valadão. -- 1. ed. -- Brasília : Supremo Tribunal Federal, 2010. 
420 p. -- (c oleção memória jurisprudencial ; 8)
ISBN 978-85-61435-17-2
1. Ministro do Supremo Tribunal Federal, discursos. 2. 
Tribunal supremo, Brasil. I. Título.
CDD-341.419104
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Ministro Antonio cEZAR PELUSO (25-6-2003), Presidente
Ministro carlos Augusto AyRES de Freitas BRITTO (25-6-2003), Vice-Presidente
Ministro José cELSO DE MELLO Filho (17-8-1989)
Ministro MARcO AURéLIO Mendes de Farias Mello (13-6-1990)
Ministra ELLEN GRAcIE Northfleet (14-12-2000)
Ministro GILMAR Ferreira MENDES (20-6-2002)
Ministro JOAQUIM Benedito BARBOSA Gomes (25-6-2003)
Ministro EROS Roberto GRAU (30-6-2004)
Ministro Enrique RIcARDO LEWANDOWSKI (16-3-2006)
Ministra cÁRMEN LÚcIA Antunes Rocha (21-6-2006)
Ministro José Antonio DIAS TOFFOLI (23-10-2009)
Ministro Hahnemann Guimarães
APRESENTAÇÃO
A constituição de 1988 retomou o processo democrático interrompido 
pelo período militar.
Na esteira desse novo ambiente institucional, a constituição significou 
uma renovada época.
Passamos para a busca de efetividade dos direitos no campo das pres-
tações de natureza pública, como pelo respeito desses direitos no âmbito da 
sociedade civil.
é na calmaria institucional que se destaca a função do Poder Judiciário.
é inegável sua importância como instrumento na concretização dos valo-
res expressos na carta Política e como faceta do Poder Público, em que os hori-
zontes de defesa dos direitos individuais e coletivos se viabilizam.
O papel central na defesa dos direitos fundamentais não poderia ser 
alcançado sem a atuação decisiva do Supremo Tribunal Federal na construção 
da unidade e do prestígio de que goza hoje o Poder Judiciário.
A história do SUPREMO se confunde com a própria história de constru-
ção do sistema republicano-democrático que temos atualmente e com a conso-
lidação da função do próprio Poder Judiciário.
Esses quase 120 anos (desde a transformação do antigo Supremo Tribunal 
de Justiça no Supremo Tribunal Federal, em 28-2-1891) não significaram sim-
plesmente uma seqüência de decisões de cunho protocolar.
Trata-se de uma importante seqüência político-jurídica da história nacio-
nal em que a atuação institucional, por vários momentos, se confundiu com 
defesa intransigente de direitos e combate aos abusos do poder político.
Essa história foi escrita em períodos de tranqüilidade, mas houve tam-
bém delicados momentos de verdadeiros regimes de exceção e resguardo da 
independência e da autonomia no exercício da função jurisdicional.
conhecer a história do SUPREMO é conhecer uma das dimensões do 
caminho político que trilhamos até aqui e que nos constituiu como cidadãos 
brasileiros em um regime constitucional democrático.
Entretanto, ao contrário do que a comunidade jurídica muitas vezes tende 
a enxergar, o SUPREMO não é — nem nunca foi — apenas um prédio, um ple-
nário, uma decisão coletada no repertório oficial, uma jurisprudência.
O SUPREMO é formado por homens que, ao longo dos anos, abraçaram 
o munus publicum de se dedicarem ao resguardo dos direitos do cidadão e à 
defesa das instituições democráticas.
conhecer os vários “perfis” do SUPREMO.
Entender suas decisões e sua jurisprudência.
Analisar as circunstâncias políticas e sociais que envolveram determi-
nado julgamento.
Interpretar a história de fortalecimento da instituição.
Tudo isso passa por conhecer os seus membros, os valores em que acre-
ditavam, os princípios que seguiam, a formação profissional e acadêmica que 
tiveram, a carreira jurídica ou política que trilharam.
Os protagonistas dessa história sempre foram, de uma forma ou de outra, 
colocados de lado em nome de uma imagem insensível e impessoal do Tribunal.
Vários desses homens públicos, muito embora tenham ajudado, de forma 
decisiva, a firmar institutos e instituições de nosso direito por meio de seus 
votos e manifestações, são desconhecidos do grande público e mesmo ignora-
dos entre os juristas.
A injustiça dessa realidade não vem sem preço.
O desconhecimento dessa história paralela também ajudou a formar uma 
visão burocrática do Tribunal.
Uma visão muito pouco crítica ou científica, além de não prestar homena-
gem aos Ministros que, no passado, dedicaram suas vidas na edificação de um 
regime democrático e na proteção de um Poder Judiciário forte e independente.
Por isso esta coleção, que ora se inicia, vem completar, finalmente, uma 
inaceitável lacuna em nossos estudos de direito constitucional e da própria for-
mação do pensamento político brasileiro.
Ao longo das edições desta coletânea, o aluno de direito, o estudioso do 
direito, o professor, o advogado, enfim, o jurista poderá conhecer com mais pro-
fundidade a vida e a obra dos membros do Supremo Tribunal Federal de ontem 
e consultar peças e julgados de suas carreiras como magistrados do Tribunal, 
que constituem trabalhos inestimáveis e valorosas contribuições no campo da 
interpretação constitucional.
As constituições Brasileiras (1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988) 
consubstanciaram documentos orgânicos e vivos durante suas vigências.
Elas, ao mesmo tempo em que condicionaram os rumos político-insti-
tucionais do país, também foram influenciadas pelos valores, pelas práticas e 
pelas circunstâncias políticas e sociais de cada um desses períodos.
Nesse sentido, não há como segmentar essa história sem entender a dinâ-
mica própria dessas transformações.
Há que se compreender os contextos históricos em que estavam inseridas.
Há que se conhecer a mentalidade dos homens que moldaram também 
essa realidade no âmbito do SUPREMO.
A constituição, nesse sentido, é um dado cultural e histórico, datada no 
tempo e localizada no espaço.
Exige, para ser compreendida, o conhecimento dos juristas e dos polí-
ticos que tiveram papel determinante em cada um dos períodos constitucio-
nais tanto no campo da elaboração legislativa como no campo jurisdicional de 
sua interpretação.
A constituição, por outro lado, não é um “pedaço de papel” na expressão 
empregada por FERDINAND LASSALE.
O sentido da constituição, em seus múltiplos significados, se renova e é 
constantemente redescoberto em processo de diálogo entre o momento do intér-
prete e de sua pré-compreensão e o tempo do texto constitucional.
é a “espiral hermenêutica” de HANS GEORG GADAMER.
O papel exercido pelos Ministros do SUPREMO, como intérpretes ofi-
ciais da constituição, sempre teve caráter fundamental.
Se a interpretação é procedimento criativo e de natureza jurídico-polí-
tica, não é exagero dizer que o SUPREMO, ao longo de sua história, completou 
o trabalho dos poderes constituintes que se sucederam ao aditar conteúdo nor-
mativo aos dispositivos da constituição.
Isso se fez na medida em que o Tribunal fixava pautas interpretativas e 
consolidava jurisprudências.
Não há dúvida, portanto,de que um estudo, de fato, aprofundado no 
campo da política judiciária e no âmbito do direito constitucional requer, como 
fonte primária, a delimitação do pensamento das autoridades que participaram, 
em primeiro plano, da montagem das linhas constitucionais fundamentais.
Nesse sentido, não há dúvida de que, por exemplo, o princípio federativo 
ou o princípio da separação dos Poderes, em larga medida, tiveram suas fron-
teiras de entendimento fixadas pelo SUPREMO e pela carga valorativa que seus 
membros traziam de suas experiências profissionais.
Não é possível se compreender temas como “controle de constitucionali-
dade”, “intervenção federal”, “processo legislativo” e outros tantos sem se saber 
quem foram as pessoas que examinaram esses problemas e que definiram as 
pautas hermenêuticas que, em regra, seguimos até hoje no trabalho contínuo 
da corte.
Por isso, esta coleção visa a recuperar a memória institucional, política e 
jurídica do SUPREMO.
A idéia e a finalidade é trazer a vida, a obra e a contribuição dada 
por Ministros como cASTRO NUNES, OROZIMBO NONATO, VIcTOR 
NUNES LEAL e ALIOMAR BALEEIRO, além de outros.
A redescoberta do pensamento desses juristas contribuirá para a melhor 
compreensão de nossa história institucional.
contribuirá para o aprofundamento dos estudos de teoria constitucional 
no Brasil.
contribuirá, principalmente, para o resgate do pensamento jurídico-polí-
tico brasileiro, que tantas vezes cedeu espaço para posições teóricas construídas 
alhures.
E, mais, demonstrará ser falaciosa a afirmação de que o SUPREMO deve 
ser um Tribunal da carreira da magistratura.
Nunca deverá ser capturado pelas corporações.
Brasília, março de 2006
Ministro Nelson A. Jobim
Presidente do Supremo Tribunal Federal
SUMáRIO
ABREVIATURAS 17
DADOS BIOGRÁFIcOS 19
NOTA DO AUTOR 21
1. HERMENÊUTIcA 25
 Argumento a contrario sensu 25
 Argumento histórico — Trabalhos preparatórios 25
 Argumento histórico — Origem histórica da norma 27
 Efeito repristinatório da constituição nova 27
2. cONTROLE ABSTRATO DE cONSTITUcIONALIDADE — 
REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA 32
 contextualização histórica 32
 Representação 94/RS 36
 Representação 97/PI 39
 Representação 106/GO 43
 Representação 111/AL 46
 Representação 134/PA 48
 Representação 322/GO 49
 Atos do Poder Executivo estadual — Possibilidades de controle 50
3. ADMINISTRATIVO 52
 Anulação de processo administrativo por ausência de requisitos legais 52
 Demissibilidade de funcionário público nomeado — Direito à posse 53
 Revogação de ato administrativo bilateral — Limites 56
 Revogação de ato administrativo discricionário — Limites 58
4. DESAPROPRIAÇÃO 63
 Valor da indenização 63
 Honorários na desapropriação 67
5. QUORUM 71
 A questão do quorum da maioria absoluta em Plenário 71
 Voto médio 82
6. TEMAS DIVERSOS DE DIREITO cIVIL 83
 Alienação à concubina 83
 Boa-fé do possuidor — conceito e efeitos 84
 Fraude à lei 86
 Indenização por dano moral 87
 Insolvência — compensação de dívidas vencidas 88
 Locação — Renovação, ônus da prova 90
 Natureza dos juros moratórios 92
 Natureza probante do Registro de Imóveis 93
 Responsabilidade por ato ilícito de empregado 94
 Simulação por interposta pessoa na venda de ascendente a
descendente — Prescrição 95
 Sucessão — Liberdade do testar 97
7. cOMERcIAL 98
 Execução de dívida pura 98
 Falência — Prescrição de crime falimentar 99
 Sigilo comercial e bancário 100
8. OUTROS TEMAS DE DIREITO cONSTITUcIONAL 102
 competência por prerrogativa de função — Dispositivo de
constituição estadual 102
 Liberdade de associação — Mandado de segurança e habeas corpus 103
 Liberdade de associação sindical 106
 Liberdade de expressão e liberdade de cátedra 115
 Liberdade de expressão política 119
 Liberdade de imprensa 121
 Liberdade religiosa e questões religiosas 124
 Questões políticas e o STF 128
 Responsabilidade do Estado — Limites indenizatórios 134
9. EcONÔMIcO 139
 Limites da intervenção do Estado 139
10. ELEITORAL 142
 cabimento de recurso constitucional (recurso extraordinário) 142
 Natureza do mandato parlamentar 145
11. EXPULSÃO 150
 conceito de família 150
12. EXTRADIÇÃO 153
 Impossibilidade para o penalmente irresponsável à época do delito 153
13. HABEAS CORPUS 154
 Ilegitimidade de assistente para impugnar 154
 conversão em diligência 155
14. MANDADO DE SEGURANÇA 157
 Uso indevido do instrumento processual 157
 competência originária — Atos do Tribunal de contas da União 158
 Descabimento contra lei em tese 161
 Direito líquido e certo 168
 Ação popular e mandado de segurança — Distinções e efeitos 170
15. PENAL 176
 conceito de bem público para efeitos penais 176
 Extinção da punibilidade pelo casamento (corrupção de menores) 177
 Prescrição penal — contagem no crime continuado 179
16. PROcESSUAL cIVIL 181
 cabimento de recurso extraordinário ao STF 181
 Limites na execução da sentença 181
 Leitura da sentença em data diversa daquela em que as partes 
tiveram ciência 184
17. PROcESSUAL PENAL 187
 Ação penal privada subsidiária da pública 187
 Aprovação das contas pela Assembléia Legislativa e competência 
do Tribunal 188
 competência — Distinção: crimes comuns militares e de
responsabilidade 192
 competência por prerrogativa de função 195
 conflito de jurisdição 196
 crime político e competência do Tribunal do Júri 197
 Distinção entre absolvição da instância penal e da ação penal 205
 Nulidades — Representação sujeita a ratificação 206
 Recorribilidade das decisões do Júri — Soberania dos veredictos 206
18. PROcESSUAL DO TRABALHO 209
 Afastabilidade do interesse da União em causas trabalhistas de 
empresas da União 209
 Princípio da identidade física do juiz 210
19. TRABALHO 212
 culpa grave e dolo para atribuição de responsabilidade 212
 Demissão de administrador sindical e falta grave 213
 Demissão por falta grave e participação em greve 214
 Demissão por transferência do estabelecimento ou extinção 
da empresa 215
 Desconto de férias por falta ao trabalho 217
20. TRIBUTÁRIO 219
 Incidência do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis
Inter Vivos (ITBI) no exercício do direito de preempção em caso
de desapropriação 219
 Isenção de tributo municipal por constituição estadual — Vedação 220
 Taxa destinada à consolidação rodoviária do Rio Grande do Sul — 
Validade 221
 Imunidade tributária recíproca — Limites 222
 Imposto sobre Vendas e consignações — Bonificação recebida, 
quando da liquidação do contrato de câmbio: não-incidência 223
 Tributação e intervenção no domínio econômico 224
 Limite da constituição estadual em relação aos tributos municipais 225
 Tratado internacional — conflito com legislação nacional 226
NOTAS SOBRE O PENSAMENTO JURÍDIcO E A TécNIcA 
DEcISIONAL EM HAHNEMANN GUIMARÃES 227
 Princípios e valores 229
 Sobre a família e o divórcio 231
 Notas sobre a técnica decisional 232
 Sobre a jurisprudência 233
 Sobre princípios e regras 233
 Da precisão dos conceitos 234
 Outros aspectos 235
 Da coragem e do discernimento 235
 Estilo 235
FRASES E cONTEXTOS 236
 Sobre a atuação do STF 236
 Temas diversos 236
REFERÊNcIAS 239
WEBSITES cONSULTADOS 242
APÊNDIcE 243
ÍNDIcE NUMéRIcO 419
ABREVIATURAS
Aci Apelação cível
Acr Apelação criminal
ADI Ação Direta de InconstitucionalidadeAI Agravo de Instrumento
AR Ação Rescisória
cEXIM carteira de Exportação e Importação do Banco do Brasil
cJ conflito de Jurisdição
cc código civil
cLT consolidação das Leis do Trabalho
cP código Penal
cPc código de Processo civil
cPP código de Processo Penal
ED Embargos de Declaração
Ext Extradição
Hc Habeas Corpus
Inq Inquérito
IVc Imposto sobre Vendas e consignações
ITBI Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis Inter Vivos
MS Mandado de Segurança
OAB Ordem dos Advogados do Brasil
PPE Prisão Preventiva para Extradição
Rc Recurso criminal
RE Recurso Extraordinário
RHc Recurso em Habeas Corpus
RMS Recurso em Mandado de Segurança
Rp Representação
SE Sentença Estrangeira 
STF Supremo Tribunal Federal
TFR Tribunal Federal de Recursos 
TSE Tribunal Superior Eleitoral
TST Tribunal Superior do Trabalho
DADOS BIOGRáFICOS
HAHNEMANN GUIMARÃES nasceu em 27 de novembro de 1901, na 
cidade do Rio de Janeiro. Era filho de Norival Guimarães e de D. Rosa Maria 
Amares Guimarães.
cursou o Externato Pedro II, de 1914 a 1917, formando-se em Direito, na 
antiga Universidade do Rio de Janeiro, em 1923.
Ainda estudante de Direito, lecionou no colégio do Professor Accioly, 
revelando-se exímio latinista e conquistando, em 1926, por concurso, o lugar 
de Professor catedrático de Latim do colégio Pedro II. Na época escreveu duas 
teses: Epigrafia latina e Comentariola métrica.
Obteve a docência livre de Direito Romano da Faculdade do Rio de 
Janeiro, por concurso, em 1931, e, da mesma forma, a cátedra de Direito civil, em 
1933. Defendeu, então, as teses Da revogação dos atos praticados em fraude de 
credores segundo o direito romano e Estudos sobre a gestão de negócios.
Representou o País em vários congressos e conferências internacionais, 
entre os quais, a conferência Internacional de Ensino Superior (Paris — 1937); 
cinqüentenário do Tratado de Direito Internacional Privado (Montevidéu — 
1940), tendo chefiado a delegação brasileira ao congresso Internacional de 
Aeronáutica civil (chicago — 1944).
Integrou a comissão Revisora do código civil, que elaborou o Anteprojeto 
do código das Obrigações, e participou da comissão elaboradora do Projeto de 
Lei de Falências, da comissão do Projeto de Lei de Supressão da Enfiteuse e da 
comissão da Lei Eleitoral, juntamente com José Linhares, Lafayette de Andrada, 
Edgard costa e Sampaio Dória, baixada com Decreto-Lei 7.586, de 28 de maio 
de 1945.
Exerceu os cargos de consultor-Geral da República, de 13 de maio de 1941 
a 17 de maio de 1945, e Procurador-Geral da República, de 22 de maio de 1945 a 
31 de janeiro de 1946.
Nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, por decreto de 24 de 
outubro de 1946, do Presidente Eurico Gaspar Dutra, para a vaga decorrente do 
falecimento do Ministro Waldemar cromwell do Rego Falcão, tomou posse em 
30 do mesmo mês.
Juiz Efetivo do Tribunal Superior Eleitoral, exerceu a vice-presidência 
daquele órgão, no período de 19 de outubro de 1950 a 21 de janeiro de 1953.
Em sessão de 7 de dezembro de 1966, foi eleito Presidente do Supremo 
Tribunal Federal, não aceitando o cargo por motivo de seu estado de saúde.
O Ministro Gonçalves de Oliveira, no exercício da presidência da corte, 
procedeu, na sessão de 20 de setembro de 1967, à leitura da carta em que o 
Ministro Hahnemann Guimarães se despedia do Tribunal em razão de doença. 
Recebeu homenagem em sessão de 27 seguinte, quando falou em nome de seus 
pares o Ministro Victor Nunes; pela Procuradoria-Geral da República, o Prof. 
Haroldo Valladão; pelo Instituto dos Advogados Brasileiros, o Dr. Heráclito 
Sobral Pinto; pela Ordem dos Advogados do Brasil — Seção do Distrito Federal, 
o Dr. Oswaldo Rocha Mello; e, pela Universidade de São Paulo e Faculdade de 
Direito de São Paulo, o Prof. Miguel Reale. Foi aposentado por decreto de 3 de 
outubro de 1967.
Além das obras anteriormente mencionadas, foram publicados em volume 
os Pareceres do Consultor-Geral da República, 1946-1950, e inúmeros estudos, 
artigos e conferências divulgados em periódicos especializados.
Faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 13 de abril de 1980, sendo reve-
renciada a sua memória em sessão de 26 de maio seguinte, quando falou pela 
corte o Ministro Xavier de Albuquerque; pelo Ministério Público Federal, o 
Dr. Firmino Ferreira Paz; e, pelo conselho Federal da Ordem dos Advogados 
do Brasil, o Ministro Victor Nunes Leal.
Era casado com D. Elza de Sá Guimarães, que, após o falecimento do 
marido, doou os livros de sua biblioteca ao Supremo Tribunal Federal.
Dados biográficos extraídos da obra Supremo Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal: da-
dos biográficos (1828-2001), de Laurenio Lago. Este texto também pode ser encontrado no sítio do 
Supremo Tribunal Federal na Internet.
NOTA DO AUTOR
Foi com grande satisfação e muita honra que recebi o convite do Supremo 
Tribunal Federal, por seu Presidente, o Ministro Gilmar Mendes, para incum-
bir-me do volume dedicado ao Ministro Hahnemann Guimarães, dando conti-
nuidade ao projeto Memória Jurisprudencial, iniciado pelo próprio Ministro 
Gilmar Mendes e pelo Ministro Nelson Jobim, à época em exercício no STF.
O Ministro Hahnemann Guimarães atuou no STF de 30 de outubro de 1946, 
data de sua posse, a 3 de outubro de 1967, quando se aposentou. Durante sua per-
manência, o ordenamento jurídico brasileiro esteve sob a constituição de 1946, 
exceto pelo curto período entre 15 de março de 1967, data da entrada em vigor da 
constituição de 1967, e a data da aposentadoria do Ministro, seis meses depois. 
De observar que a competência do STF, durante o período em que o 
Ministro Hahnemann Guimarães lá esteve, era mais ampla do que a vigente, 
que a constituição de 1988 lhe confere. A competência recursal absorvia, em 
muitas situações, a matéria federal, não constitucional, que hoje é competência 
do STJ. Assim, muitos casos analisados nesta obra que dizem respeito a matéria 
não constitucional não são mais da competência originária do STF.
O Ministro Hahnemann Guimarães era extremamente zeloso na análise 
da admissibilidade dos recursos. Inúmeras vezes garantiu o não-conhecimento 
deles e até reverteu votos de Relatores com o argumento simples, mas funda-
mental, de que não se enquadrava no texto legal o permissivo para o cabimento 
do recurso. Era, também, muito cioso das competências do STF. Hahnemann 
Guimarães discordava da tese de Pedro Lessa de que o STF era uma terceira 
instância,1 pois considerava o Tribunal uma instância extraordinária. 
caracterizavam a atividade jurisdicional de Hahnemann Guimarães, 
de um lado, a análise minuciosa da jurisprudência — a qual em geral acom-
panhava, tergiversando apenas quando cabiam mudanças após abalizada opi-
nião — e, de outro, o estudo detalhado dos textos legais em discussão. Essas 
características do Ministro serão, a seu tempo, notadas pelo leitor, quando da 
leitura das decisões por ele prolatadas e aqui transcritas. 
Embora procurasse seguir a jurisprudência, eventualmente Hahnemann 
Guimarães mantinha-se fiel ao seu entendimento sobre a matéria, sem alterar 
seu voto, mesmo após a mudança da jurisprudência. Isso configurava espécie 
de “teimosia hermenêutica”, justificada, certamente, pela firme convicção de 
que seu raciocínio jurídico estava correto. Porém, o Ministro não se furtava a 
mudar de opinião quando convencido, e o fazia publicamente durante a própria 
1 RE eleitoral 11.682/AM, de 13-8-1947, Rel. Min. Laudo de camargo.
sessão de julgamento. Esses dois aspectos aparentemente contraditórios, na ver-
dade, são a marca dos grandes juízes, entre os quais se encontra Hahnemann 
Guimarães: firmeza e certeza das convicções, para mantê-las até o fim; e altivez 
e humildade, para reconhecer que pode errar, e nesse caso, sobranceiramente, 
voltaratrás e retificar sua opinião. 
O Ministro Hahnemann Guimarães nutria simpatia pelo pensamento 
positivista de Auguste comte.2 Porém, há que diferenciar positivismo filosófico 
e sociológico de positivismo jurídico. Hahnemann Guimarães viveu em uma 
época em que o positivismo jurídico predominava no Brasil, disso não diferiu 
para mais nem para menos do seu ambiente, porém, sem dúvida, deu demons-
trações, ao longo de sua história jurisprudencial, e nos textos que escreveu, de 
que a sua técnica jurídica dependia da moral.
A respeito da forma como o presente volume foi planejado e executado, 
diga-se de antemão que foi uma tarefa consumidora de tempo, comportando a 
análise de mais de 10 mil julgados e a seleção daqueles que, na visão do autor, 
representam a linha decisória de um grande Ministro. Foram selecionados 
alguns temas em que o Juiz se concentrou mais e outros em função de sua 
importância, tanto no contexto histórico, quanto no contexto jurisprudencial, 
em termos de repercussão futura, o que contempla votos vencidos e obter dicta.
Importante salientar que, na distribuição dos temas, foi necessário 
organizá-los por tópicos. contudo, alguns desses tópicos poderiam constar 
de outra divisão, ou mesmo de duas. Assim, por exemplo, o tópico das inde-
nizações consta como subdivisão do Direito civil (o Ministro Hahnemann 
Guimarães era um civilista de origem)3, mas também consta como subdivisão 
de constitucional, considerando os casos em que o dever de indenizar do Estado 
tem ou teria supedâneo constitucional. Questões sobre a responsabilidade do 
Estado, que impliquem indenização, conquanto fossem enquadradas à época 
dos julgamentos como matéria tipicamente do Direito civil, foram alocadas 
como matéria de Direito constitucional, na medida em que a constitucionaliza-
ção mais detalhada da matéria atraiu o tema para esta seara do Direito. Noutro 
giro, tópicos processuais por vezes dão ensejo a questões de mérito (no sentido 
2 conferir em GUIMARÃRES, Hahnemann. Juristas, sociólogos e moralistas. Arquivos do 
Ministério da Justiça e Negócios Interiores, 9 out. 1944, p. 10. Hahnemann Guimarães publicou 
também na revista Época, dirigida por um grupo de positivistas.
3 Hahnemann Guimarães publicou obras de Direito civil sobre temas como fraude a credo-
res, o Direito civil na guerra, divórcio e também um interessante parecer sobre o anteprojeto 
de código de Obrigações (Revogação dos actos praticados em fraude a credores, segundo o 
Direito Romano. Rio de Janeiro: Tip. D A´ Encadernadora, 1930; Estudo comparativo do antepro-
jeto do código de Obrigações e do Direito vigente. Arquivos do Ministério da Justiça e Negócios 
Interiores, 3 out. 1943; O Direito Civil na guerra: atos da vida civil — requisições civis. Rio de 
Janeiro: Gab. Fotocartográfico, 1945; Sobre o divórcio. Época. Rio de Janeiro, 1947), além das 
aulas de Direito civil, na Universidade do Brasil, publicadas sob a forma de apostilas.
de mérito da questão processual), ou de determinados tipos específicos de 
ações. A divisão por temas e a alocação dos julgados foi feita de maneira a 
seguir a melhor técnica, em termos de taxionomia jurídica, e a fim de facilitar 
ao leitor a busca por assuntos de maior interesse.
Deve-se considerar, também, que a contextualização pode dizer forte-
mente respeito à época em que determinado acórdão foi exarado, e às circuns-
tâncias históricas presentes, repercutindo horizontalmente ao tempo da decisão. 
Porém, algumas vezes, a decisão repercute verticalmente para o futuro. Daí a 
necessidade de explicar — o que foi feito em algumas passagens do texto — 
como determinado assunto evoluiu até a época da decisão comentada, ou des-
dobrou-se até os dias atuais. 
Há decisões importantes, das quais participou ativamente o Ministro 
Hahnemann Guimarães, que tratam de mais de um tema relevante, conforme a 
divisão da obra. Nesses casos, analisa-se apenas o tópico daquela parte, reme-
tendo o leitor ao outro tópico, de forma a se manter a consistência temática da 
divisão por tópicos. cite-se, por exemplo, o MS 900, decidido em 18 de maio 
de 1948, no qual foram enfrentadas as questões da possibilidade de discussão 
da constitucionalidade de leis em mandado de segurança e também a questão 
da representatividade dos partidos políticos, em face do mandato concedido aos 
parlamentares, enquanto representantes do povo.
Há julgados em matéria cível, com vasta abordagem doutrinária (nacional 
e estrangeira), extremamente interessantes, que deixaram de ser colacionados e 
comentados, em virtude de sua extensão e irrelevância no contexto jurispruden-
cial. A preocupação com o tamanho da obra também levou a que se evitassem 
digressões doutrinárias detalhadas sobre os temas tratados, o que poderia levar 
a obra a ter, também, uma extensão demasiada. No que diz respei to à redação 
das partes transcritas dos acórdãos correspondentes aos votos dos Ministros, 
seguiu-se a orientação da equipe técnica do STF, primando-se pela transcri-
ção fiel do original, apesar das necessárias adaptações quanto às mudanças 
ortográficas.4 
No apêndice da obra, colacionam-se alguns acórdãos de julgados dos 
quais participou o Ministro Hahnemann Guimarães, uns transcritos na íntegra, 
outros parcialmente — apenas relatório e voto. Espera-se que o acesso a esses 
textos satisfaça os leitores interessados em mais detalhes de algumas decisões 
relevantes.
4 A título de esclarecimento prévio, informa-se que, no texto, foi substituído o sublinhado 
original, como técnica de destaque para citações em línguas estrangeiras, para o itálico (o subli-
nhado era o recurso das máquinas usadas à época em que foram redigidos os acórdãos, muitos 
deles com anotações e correções à mão) e também nos casos de erros evidentes de datilografia 
foi feita a correção (o que evita a colocação de sic, ao longo do texto).
25
Ministro Hahnemann Guimarães
1. HERMENÊUTICA
ARGUMENTO A CONTRARIO SENSU
Ao julgar o RE 11.132/MG, em 9 de novembro de 1948, Presidente o 
Ministro Orozimbo Nonato e Relator o Ministro Hahnemann Guimarães, a 
Segunda Turma do STF analisou questão processual, em ação de execução 
fiscal, em que restava decidir se caberia ou não ao Tribunal de Justiça conhe-
cer de embargos infringentes propostos pela recorrente (Fazenda Pública de 
Minas Gerais). considerava-se que havia sido unânime a decisão impugnada: 
um agravo contra sentença que acolhera ação executiva da Fazenda Estadual. 
Em seu voto, o Ministro Hahnemann Guimarães manejou com maestria a fun-
damentação jurídica, utilizando-se do argumento a contrario sensu. O voto foi 
exarado como transcrito a seguir:
Dispõe o Decreto-Lei 960, de 17 de dezembro de 1938, no art. 73: “Não 
se admitirá recurso algum, na instância superior, contra o julgamento confir-
matório da decisão recorrida e proferido no agravo ou na carta testemunhável 
destinada a torná-lo efetivo. Parágrafo único. Se a parte vencida for a Fazenda, 
a decisão só será irrecorrível quando unânime.”
Daí podem tirar-se as seguintes regras: 1) quando o recorrente for o 
devedor, a decisão que, em segunda instância, rejeitar o agravo ou a carta tes-
temunhável não admitirá embargos infringentes; 2) quando o recorrente for a 
Fazenda, a decisão de segunda instância, contrária ao agravo ou à carta teste-
munhável, não admitirá embargos infringentes, se for unânime; 3) a decisão que 
acolher o agravo ou a carta testemunhável admite embargos infringentes.
A terceira regra funda-se no argumentum a contrario. Se a lei dispõe que 
a confirmação pela segunda instância não admite recurso algum, deve-se con-
cluir que, em caso de reforma, cabe recurso, que, na instância de segundo grau, 
consistirá em embargos ofensivos.
Em seguida, o Ministro reafirmou ser esta a jurisprudência do Tribunal 
e votou conhecendo do recurso extraordinário e dando provimento para que o 
Tribunal deJustiça de Minas Gerais julgasse os embargos infringentes, no que 
foi seguido à unanimidade pelos outros Ministros da corte.
ARGUMENTO HISTÓRICO — TRABALHOS PREPARATÓRIOS
No MS 767/DF, Presidente o Ministro José Linhares e Relator o Ministro 
Hahnemann Guimarães, o STF analisou duas questões importantes: preliminar-
mente, o que se poderia discutir em sede de mandado de segurança (como pre-
liminar) e, no mérito, a constitucionalidade da intervenção sindical.5 Durante o 
5 Ver os seguintes tópicos específicos sobre essas questões: item 8. OUTROS TEMAS 
DE DIREITO cONSTITUcIONAL, subtema “Liberdade de associação sindical”; e item 
14. MANDADO DE SEGURANÇA, subtema “Descabimento contra lei em tese”.
26
Memória Jurisprudencial
julgamento, que seu deu em 9 de julho de 1947, o Ministro Hahnemann 
Guimarães, em sua sustentação de mérito, teceu considerações hermenêuticas 
sobre a utilização das discussões parlamentares que precedem a aprovação das 
leis e constituições para sustentar seu argumento no sentido de ser mais impor-
tante o elemento sistemático da interpretação do que os acontecimentos que se 
sucederam no Parlamento. Um trecho de seu voto destaca-se:
Dir-se-á, porém, que a discussão provocada na Assembléia constituinte 
sobre o art. 164, § 27, do projeto de 27 de maio de 1946, e o art. 158 do projeto 
então examinado, mostra ser inadmissível a intervenção nos sindicatos, havendo 
ficado prejudicada pelo princípio de que é livre a organização sindical a emenda 
do Sr. Ferreira de Souza, que, em casos excepcionais, admitia a intervenção 
(Diário da Assembléia, de 1º de setembro de 1946. p. 4550-4552).
Os trabalhos preparatórios da lei não têm a autoridade de interpretação 
autêntica; são apenas um precedente histórico, menos valioso que o elemento 
sistemático.
O Ministro Orozimbo Nonato, que votou a seguir, contestou o raciocínio 
de Hahnemann Guimarães. Para isso, procurou extrair dos trabalhos prepa-
ratórios da constituição de 1946 algo que embasasse seu argumento e, após 
sustentar que realmente não era possível dar aos trabalhos preparatórios da lei 
consistência de elemento terminativo para a interpretação, afirmou:
Mas, se os trabalhos preparatórios não apresentam grande momento 
considerado a essa luz — dizia Ferrara que o Parlamento é um mito, é um ser 
impalpável, ninguém sabe as razões que confluíram para a decretação de deter-
minada lei; se isto é exato, tem alcance definir o momento histórico em que a 
lei apareceu e quais as correntes jurídicas que inspiraram certo instituto e a que 
tendências gerais dominantes obedeceu certo princípio legal. Aí, a opinião 
dos parlamentares vale, não como interpretação autêntica [aqui concorda com 
Hahnemann Guimarães], mas como índice da existência dessa corrente, que 
preparou o surto de lei e que de resto pode ser surpreendida através de outros 
elementos.
Ora, a constituição atual — disse o eminente Sr. Ministro Ribeiro da 
costa — é impregnada de profundo senso de liberdade. [E aqui prossegue na 
justificativa pela inconstitucionalidade de lei que permite a intervenção nos sin-
dicatos, em face da liberdade sindical prevista na constituição de 1946.]
Veja-se que ambos sustentam o não-uso dos debates parlamentares como 
argumento hermenêutico. Porém, o Ministro Orozimbo Nonato consegue 
extrair um argumento sociológico para embasar seu ponto de vista (o “senso de 
liberdade”). Deve-se ressaltar que o Judiciário brasileiro não muito se utiliza 
dessa técnica, bastante comum no sistema do common law, quando da interpre-
tação dos statutes.
contudo, no polêmico MS 900/DF, decidido em 18 de maio de 1949 e 
no qual se discutia a perda do mandato de deputados do Partido comunista do 
27
Ministro Hahnemann Guimarães
Brasil, cujo registro fora cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral,6 o Ministro 
Hahnemann Guimarães, Relator, voltou a manobrar o argumento dos trabalhos 
preparatórios, mas, desta feita, com mais ênfase em proveito do seu ponto de 
vista, ao citar a argumentação ao anteprojeto de Lei 7.568, que admitia candi-
dato avulso.
ARGUMENTO HISTÓRICO — ORIGEM HISTÓRICA DA NORMA
No RE 31.363/MG, julgado em 7 de maio de 1957, Presidente o Ministro 
Lafayette de Andrada e Relator o Ministro Ribeiro da costa, foi decidida ques-
tão referente à simulação na venda de ascendente a descendente.7 O recurso 
foi provido por unanimidade. Em seu voto, o Ministro Hahnemann Guimarães 
utilizou-se do argumento histórico, buscando a solução na origem da norma:
Senhor Presidente, lamento divergir do eminente Sr. Ministro Vilas 
Boas, porque tenho entendido que a disposição do art. 1.132 do código civil 
não pode ser interpretada com abstração da sua razão histórica, que é dada pelo 
antigo direito português, das Ordenações, porque essa disposição de lá vem. 
Baseava-se a disposição das Ordenações numa presunção absoluta de simula-
ção. Esta disposição passou ao direito brasileiro vigente. Não é possível, na apli-
cação do princípio do art. 1.132, descuidar-se o intérprete de verificar se houve 
simulação ou não.
EFEITO REPRISTINATÓRIO DA CONSTITUIÇÃO NOVA
No MS 782/DF, julgado em 1º de abril de 1947, Presidente o Ministro José 
Linhares, Relator o Ministro Hahnemann Guimarães, o STF enfrentou questão 
acerca da competência para julgamento de mandado de segurança contra ato 
do Ministro da Guerra quando ainda inexistente o TFR. No caso, tratava-se 
de mandado de segurança contra ato de Ministro de Estado. A questão que se 
colocava era a seguinte: a competência para julgar os mandados de segurança 
de atos de Ministros de Estado, na vigência da carta de 1937, era do STF, atribu-
ída pela Lei 191, de janeiro de 1936. Porém, a lei foi derrogada nessa parte (não 
houve revogação expressa) pelo Decreto-Lei 6, de 16 de novembro de 1937, e 
pelo código de Processo civil de 1939 — atos editados sob regime de exceção, 
que coartava garantias individuais contra os abusos do Estado —, que veda-
ram mandado de segurança contra atos do Presidente, de Ministros de Estado, 
6 Ver tópicos específicos sobre mandado de segurança e Direito Eleitoral, nos quais os aspectos 
próprios são analisados.
7 Ver mais detalhes no item 6. TEMAS DIVERSOS DE DIREITO cIVIL, subtema “Simulação 
por interposta pessoa na venda de ascendente a descendente — Prescrição”.
28
Memória Jurisprudencial
Governadores e Interventores.8 com a criação do TFR, pela constituição de 
1946, essa competência foi a este deferida.9 contudo, antes da instalação do 
TFR, mandados de segurança contra atos de Ministro de Estado haviam sido 
impetrados, conforme se afigurava neste mandado de segurança. Assim, surgiu 
a dúvida sobre se seria cabível mandado de segurança contra ato de Ministro 
de Estado, em face da constituição de 1946, antes de ser instalado o TFR, e, se 
cabível, a quem competiria o julgamento.10
O Ministro Hahnemann Guimarães conheceu do mandado de segurança, 
construindo votação unânime, no sentido de que a circunstância da não-insta-
8 Lei 191, de janeiro de 1936:
“Art. 5º compete processar e julgar originariamente pedido de mandado de segurança;
l — nos casos de competência da Justiça Federal:
a) contra atos do Presidente da República, de Ministro de Estado ou de seu Presidente, à corte 
Suprema;”
Decreto-Lei 6, de 16 de novembro de 1937:
“Art. 16. continua em vigor o remédio do mandado de segurança, nos termos da Lei 191, de 
16 de janeiro de 1936, exceto a partir de 10 de novembro de 1937, quanto aos atos do Presidente 
da República e dos Ministros de Estado, Governadores e Interventores.
Parágrafo único. Os mandados de segurança contra atos das demais autoridades federais são, 
no Distrito Federal, da competência de um dos três juízes da Fazenda Pública, a que se refere 
o art. 9º desta lei, e, nos Estados e Territórios, dos juízes da capital a quem couber o feito nos 
termos do art. 108 da constituiçãoFederal.”
O art. 319 do código de Processo civil de 1939 estatuía:
“Art. 319. Dar-se-á mandado de segurança para defesa e direito certo e incontestável, amea-
çado ou violado por ato manifestamente inconstitucional, ou ilegal, de qualquer autoridade, 
salvo do Presidente da República, dos Ministros de Estado, Governadores e lnterventores.”
9 constituição de 1946:
“Art. 103. O Tribunal Federal de Recursos, com sede na capital Federal compor-se-á 
de nove juízes, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pelo 
Senado Federal, sendo dois terços entre magistrados e um terço entre advogados e membros do 
Ministério Público, com os requisitos do art. 99.
Parágrafo único. O Tribunal poderá dividir-se em câmaras ou Turmas.
Art. 104. compete ao Tribunal Federal de Recursos:
(...)
b) os mandados de segurança, quando a autoridade coatora for Ministro de Estado, o próprio 
Tribunal ou o seu Presidente;”
10 O art. 14, § 3º, do Ato das Disposições constitucionais Transitórias de 1946, tinha a seguinte 
redação:
“Art. 14. Para composição do Tribunal Federal de Recursos na parte constituída de ma-
gistrados, o Supremo Tribunal Federal indicará, a fim de serem nomeados pelo Presidente da 
República, até três dos juízes secionais e substitutos da extinta Justiça Federal, se satisfizerem 
os requisitos do art. 99 da constituição. A indicação será feita, sempre que possível, em lista 
dupla para cada caso.
(...)
§ 3º Enquanto não funcionar o Tribunal Federal de Recursos, o Supremo Tribunal Federal 
continuará a julgar todos os processos de sua competência, nos termos da legislação anterior.” 
(Grifamos.)
Ocorria que, nos termos da legislação anterior, o STF não podia julgar mandado de segurança 
contra ato de Ministro de Estado.
29
Ministro Hahnemann Guimarães
lação do TFR não poderia obstaculizar a aplicação das normas constitucionais, 
com base no entendimento seguinte:
O Ato das Disposições constitucionais Transitórias estabelece que, 
enquanto não funcionar o Tribunal Federal de Recursos, o Supremo Tribunal 
Federal continuará a julgar todos os processos de sua competência, nos termos 
da legislação anterior (art. 14, § 3º).
A Lei 191, de janeiro de 1936, atribuía à corte Suprema competência 
para processar e julgar originalmente o pedido de mandado de segurança contra 
atos de Ministros de Estado (art. 5º, I, a).
Mantendo a Lei 191, o Decreto-Lei 6, de 16 de novembro de 1937, não 
permitiu que pudessem ser julgados no processo especial os atos dos Ministros 
de Estado (art. 16), e assim também dispôs o art. 319 do código de Processo 
civil.
A constituição deu, entretanto, competência ao Tribunal Federal de 
Recursos para processar e julgar originalmente os mandados de segurança 
requeridos contra atos de Ministros de Estado (art. 104, I, b), abolindo a exceção 
criada pelo Decreto-Lei de 1937.
Dar-se-á que a abolição do preceito derrogatório não restituiu à vigência 
o disposto no art. 5º, I, a, da Lei 191. A afirmação encontrará apoio no art. 2º, 
§ 3º, da Lei de Introdução ao código civil.11
As disposições constitucionais que dão a tutela do mandado de segu-
rança contra atos do Presidente da República e de seus Ministros devem ser con-
sideradas; porém, como exige o citado artigo da Lei de Introdução ao código 
civil, repristinatórias, capazes de revigorar a legislação anterior, na parte derro-
gada pelo Decreto-Lei 6, no art. 16, e depois pelo código de Processo civil. Foi, 
assim, restaurada a competência do Supremo Tribunal Federal para conhecer, 
embora transitoriamente, dos mandados de segurança pedidos contra os atos de 
Ministros de Estado.
O preceito do art. 14, § 3º, do Ato das Disposições constitucionais 
Transitórias significa que, até o funcionamento do Tribunal Federal de Recursos, 
o Supremo Tribunal Federal continuará a julgar os processos de sua competên-
cia, definida, em matéria de mandado de segurança, contra os atos de Ministros 
de Estado pela lei de 1936, que ficou, assim, revigorada nesta parte somente.
Doutro modo, não haveria, até aquele funcionamento, Tribunal que 
pudesse prestar contra os atos mencionados a garantia dada pela constituição, 
no art. 141, § 24.
Quanto ao prazo para solicitar a proteção nos casos excetuados pelo 
art. 319 do código de Processo civil, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que 
o termo inicial é a data em que começar a vigorar a constituição (processos de 
mandados de segurança 768 e 760, julgados, respectivamente, em 5 de dezem-
bro de 1946 e 30 de janeiro último).
11 Diz o citado dispositivo da Lei de Introdução ao código civil:
“Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique 
ou revogue.
(...)
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não 
revoga nem modifica a lei anterior.”
30
Memória Jurisprudencial
Não há, pois, nenhum obstáculo contra a apreciação do licenciamento do 
oficial da reserva convocado ao serviço ativo. é o licenciamento que o reque-
rente pretende impugnar, e não o despacho de arquivamento, de 14 de março de 
1946, pois nenhum defeito se apontou no referido despacho.
Veja-se que, mesmo estando derrogada a norma que admitia o recebi-
mento pelo STF de mandado de segurança de atos dos Ministros de Estado, a 
corte admitiu seu recebimento em virtude de que os atos dos Ministros pas-
saram a ser contestados por essa via, agora com base constitucional, sendo o 
segundo passo hermenêutico a definição de que seria o STF competente para 
tal, enquanto não se instalasse o TFR — entendimento que deu efeito repristi-
natório, não expresso à constituição de 1946. Adiante o Ministro Hahnemann 
Guimarães passou a julgar o mérito, entendendo pelo indeferimento do man-
dado, no que foi seguido por unanimidade.
No mandado de segurança mencionado pelo Ministro Hahnemann 
Guimarães, acima comentado,12 o STF decidiu também interessante questão 
a respeito do procedimento aplicável ao mandado de segurança contra ato do 
Presidente da República, considerando a legislação aplicável a processo anterior 
ao regime da constituição de 1946. Seu voto, vencido, manifestou interessante 
opinião (que neste aspecto prevaleceu), que se transcreve a seguir:
Os requerentes alegam que têm o direito de exigir por ação executiva o 
pagamento que lhes deve Irmãos Andrade; consideram violado seu direito pelo 
despacho que, em 1º de maio de 1946, exarou o Senhor Presidente da República 
na exposição de motivos apresentada pelo Ministério da Fazenda.
Dois pressupostos processuais devem ser examinados: o primeiro é rela-
tivo à competência do Supremo Tribunal Federal; o segundo concerne à possi-
bilidade de ser examinado no processo sumário do mandado de segurança, ato 
praticado pelo Presidente da República sob a constituição de 1937.
Pretende-se excluir a competência do Supremo Tribunal Federal, porque 
a instância surgida com a propositura da ação executiva foi suspensa por ato do 
Juiz, e não pelo despacho presidencial. A competência é, porém, no caso, defi-
nida pela origem do ato contrário ao direito. Desde que se dá como ilegal, ou 
abusivo, ato do Presidente da República, o Tribunal competente é o indicado no 
art. 101, I, i, da constituição. A controvérsia sobre se a alegada violação resultou 
do despacho presidencial, de atos da câmara de Reajustamento ou do juiz da 
ação executiva excede o domínio dos pressupostos processuais e envolve maté-
ria de mérito. é preciso indagar se aquele despacho ofendeu ou não o pretendido 
direito. Ao Supremo Tribunal Federal cabe, sem dúvida, fazer essa indagação, 
acolhendo ou rejeitando o pedido.
Aqui o Ministro Hahnemann Guimarães passa a analisar o outro ponto, que 
é a possibilidade de ser examinado no processo sumário do mandado de segurança 
12 MS 760/SP, decidido em 29 de janeiro de 1947, Presidente o Ministro JoséLinhares, Relator 
o Ministro Hahnemann Guimarães, Relator para o acórdão o Ministro Ribeiro da costa.
31
Ministro Hahnemann Guimarães
ato praticado pelo Presidente da República sob a constituição de 1937. Para isso, 
lembra que já havia manifestado posição favorável a tal possibilidade no julgamento 
do MS 768, quando acompanhou o voto do Relator neste sentido e prossegue:
O mandado de segurança é um praeceptum, um interdictum, uma sen-
tença condenatória, e, assim, título executivo (código de Processo civil, 
art. 325, II) que determina providências cautelares de direito não amparado por 
habeas corpus e ameaçado, ou violado, por ato ilegal ou abuso de poder de qual-
quer autoridade (cF, art. 141, § 24).
A ação destinada a obter o mandado de segurança e a sentença que o 
concede não apresentam nenhuma peculiaridade; constituem ação e sentença 
de coordenação; pertencem a uma das classes em que se distribuem as ações, 
ou as sentenças.
A peculiaridade está no processo, que não segue o solennis ordo iudicia-
rius, mas é sumário, como se vê pelo disposto nos arts. 321 a 325 do código de 
Processo civil. Este processo sumário, especial, tem sua origem, como os pro-
cessos monitórios ou injuntivos, nos praecepta, ou mandata do direito comum, 
e nos interdicta possessória, aplicados pelo direito canônico à quase posse dos 
direitos pessoais. Estabeleceu-se em nosso direito um processo sumário para 
tutela de todos os direitos certos e incontestáveis, diversos da liberdade de loco-
moção, e que tenham sido ofendidos por qualquer autoridade, ou se achem sob 
a ameaça de ofensa.
Quando a lei admite um processo novo, um novo modo de atuação da 
lei, dele se podem valer os titulares de direitos preexistentes. De acordo com o 
art. 16 do Decreto-Lei 6, de 1937, e o art. 319 do código de Processo civil, não 
era possível obter, no processo especial, a tutela contra atos de certas autorida-
des. A constituição, no art. 141, § 24, aboliu as exceções. Não estando prescrita 
a ação para obter aquela proteção, é evidente que, dentro dos 120 dias de pro-
mulgada a constituição, podia a ação ser proposta segundo a ordem sumária 
estabelecida para a defesa de “direito líquido e certo, não amparado pelo habeas 
corpus”. é de 120 dias contados da ciência do impugnado o prazo para requerer 
proteção segundo o processo especial (código de Processo civil, art. 331). Se a 
respeito de certos atos, a cognitio summaria somente se admitiu em 1º de setem-
bro de 1946, daqui há de começar a correr aquele prazo, quando tais atos fossem 
anteriores a essa data. Não seria razoável que, podendo-se pedir o reconheci-
mento de um direito em processo ordinário, ficasse o titular proibido de recorrer 
ao novo modo sumário. Havendo um prazo para que a ação se processe pela 
forma especial, o termo inicial tem de ser para os direitos anteriores à admissão 
dessa forma, o dia em que foi admitida.
No caso presente, requereu-se, poucos dias depois de promulgada a cons-
tituição, a tutela contra o ato presidencial de 1º de maio de 1946. Faz-se a tempo 
o requerimento.
Em seguida, o Ministro passou a manifestar-se em relação ao mérito da 
questão, que não é objeto de análise neste ponto.
32
Memória Jurisprudencial
2. CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE — 
REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA
CONTExTUALIzAÇÃO HISTÓRICA
O Ministro Hahnemann Guimarães esteve no STF no período que vai 
de 30 de outubro de 1946, data de sua posse, até 3 outubro de 1967, data de sua 
aposentadoria. Nesse período da história constitucional brasileira não havia 
instrumentos de controle abstrato de leis e atos normativos da forma como 
conhecemos hoje. Os mecanismos de controle concentrado evoluíram bastante, 
especialmente a partir da constituição de 1988.
No período em que Hahnemann Guimarães atuou no STF, o instrumento 
de controle abstrato de normas era denominado representação interventiva 
e sobre ele se explanará mais adiante. Já o controle in concreto, estabelecido 
a partir da constituição republicana de 1891,13 seguiu paralelo ao desenvol-
vimento do controle concentrado, tendo o STF analisado diversos tipos de 
recursos e ações em que a constitucionalidade da norma era questionada inci-
dentalmente, especialmente em sede de recurso extraordinário, com base no 
art. 101, inciso III, alíneas a a c, da constituição de 1946. contudo, em algumas 
ocasiões, o STF enfrentou questões específicas para essa modalidade de con-
trole, como, por exemplo, a consideração de constitucionalidade das leis em 
sede de mandado de segurança, tendo o Ministro Hahnemann Guimarães posi-
ção particular a esse respeito.14
No que diz respeito ao mecanismo de controle abstrato de normas durante 
o período em que o Ministro Hahnemann Guimarães esteve no Supremo 
Tribunal Federal, pode-se dizer que compreende dois períodos, um longo e um 
curto. O primeiro período corresponde à data da posse em 30 de outubro de 
1946, logo após a entrada em vigor da constituição de 1946 (em 19 de setembro 
do mesmo ano) até a Emenda constitucional 16, de 26 de novembro de 1965, 
que alterou a estrutura do instituto e a superveniência da constituição de 1967, 
que entrou em vigor em 15 de março de 1967 (praticamente seis meses antes da 
aposentadoria do Ministro), sendo que a constituição de 1967 manteve o insti-
tuto, nos moldes da Emenda 16/1965, com algumas alterações. Assim a maior 
parte do tempo em que permaneceu na corte Máxima brasileira, o Ministro 
13 Embora seja o primeiro texto constitucional a prever o controle difuso de constitucionali-
dade, na verdade, já no Decreto 510, de 1890 (constituição provisória), constava tal autorização 
ao Poder Judiciário.
14 Ver, e.g., o MS 2.655/DF, de 5-7-1954, discutido adiante no texto.
33
Ministro Hahnemann Guimarães
Hahnemann Guimarães enfrentou o problema do controle de constitucionali-
dade em abstrato com base na constituição de 1946.15
A representação interventiva foi introduzida no ordenamento constitucional 
brasileiro pela constituição de 1934.16 Em seu texto, o instituto estava limitado ao 
controle de normas estaduais. A representação era feita pelo Procurador-Geral da 
República (provocado pelo Executivo Federal ou por iniciativa própria), e compe-
tia ao STF declarar ou não sua inconstitucionalidade, o que seria necessário para 
a decretação de intervenção no Estado cuja lei fosse considerada inconstitucional. 
com a constituição de 1937, o instituto foi suprimido, passando os poderes inter-
ventivos ao controle do Poder Executivo, aspecto típico de um governo ditatorial 
que concentra os poderes nas mãos do Executivo central.
A constituição democrática de 1946 traria novamente o instituto, mas 
de maneira diferente do formato inicial da constituição de 1934.17 Sob a 
15 Remete-se o leitor para a obra: MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle 
de constitucionalidade: estudos de Direito constitucional. São Paulo: celso Bastos/IBDc, 1998, 
p. 229-260 (histórico da evolução do controle de constitucionalidade no direito brasileiro). Para 
detalhamentos do tema, ver também: MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição constitucional. 
São Paulo: Saraiva, 1996; . Controle de constitucionalidade: aspectos jurídicos e polí-
ticos. São Paulo: Saraiva, 1990; cLÈVE, clèmerson Merli. A fiscalização abstrata da constitu-
cionalidade no direito brasileiro. 2. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000; 
POLETTI, Ronaldo. Controle da constitucionalidade das leis. 2. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: 
Forense, 1997.
16 constituição de 1934:
“Art. 12. A União não intervirá em negócios peculiares aos Estados, salvo:
(...);
V — para assegurar a observância dos princípios constitucionais especificados nas letras a a 
h do art. 7º, I, e a execução das leis federais;
(...)
§ 2º Ocorrendo o primeiro caso do n. V, a intervenção só se efetuará depois que a corte 
Suprema,mediante provocação do Procurador-Geral da República, tomar conhecimento da lei 
que a tenha decretado e lhe declarar a constitucionalidade.”
17 constituição de 1946:
“Art. 7º O Governo federal não intervirá nos Estados salvo para:
(...)
VI — reorganizar as finanças do Estado que, sem motivo de força maior, suspender, por mais 
de dois anos consecutivos, o serviço da sua dívida externa fundada;
VII — assegurar a observância dos seguintes princípios:
a) forma republicana representativa;
b) independência e harmonia dos Poderes;
c) temporariedade das funções eletivas, limitada a duração destas à das funções federais 
correspondentes;
d) proibição da reeleição de Governadores e Prefeitos, para o período imediato;
e) autonomia municipal;
f) prestação de contas da Administração;
g) garantias do Poder Judiciário.
(...)
Art. 8º A intervenção será decretada por lei federal nos casos dos n. VI e VII do artigo 
anterior.
34
Memória Jurisprudencial
constituição de 1946, o instituto ganhou maior amplitude, pois a regulação 
dada pela Lei 2.271, de 22 de julho de 1954, e, posteriormente, pela Lei 4.377, 
de 1º de junho de 1964, admitia a iniciativa da provocação ao Procurador-Geral 
da República e a qualquer parte interessada, nos termos da lei, além do chefe 
do Executivo Federal. Observe-se que, em consonância com essa nova técnica, 
de acordo com o art. 13 da constituição de 1946, o congresso Nacional deve-
ria limitar-se a suspender a execução do ato argüido de inconstitucionalidade, 
caso essa medida bastasse para o restabelecimento da normalidade no Estado. 
contudo, o controle se limitava aos atos estaduais, com finalidade interventiva. 
Nesse sentido, observou o Ministro Gilmar Mendes:
O elevado número de representações interventivas propostas entre 1946 
e 1965 — mais de 500 representações — comprova o peculiar significado desse 
instituto menos como forma de composição de conflitos federativos, do que 
como instrumento de controle de normas.18
A grande novidade trazida pela Emenda constitucional 16, de 26 de 
novembro de 1965, foi a licença para a representação de inconstitucionalidade 
ser apresentada também contra normas federais.19 Essa representação é gené-
rica, de normas federais e estaduais, e não possui mais a finalidade interven-
tiva (que permaneceu com sua especificidade, destinada a resolver conflitos de 
ordem federativa).20
conforme anota o Ministro Gilmar Mendes:
Parágrafo único. No caso do n. VII, o ato argüido de inconstitucionalidade será submetido 
pelo Procurador-Geral da República ao exame do Supremo Tribunal Federal, e, se este a decla-
rar, será decretada a intervenção.
Art. 13. Nos casos do art. 7º, n. VII, observado o disposto no art. 8º, parágrafo único, o 
congresso Nacional se limitará a suspender a execução do ato argüido de inconstitucionalidade, 
se essa medida bastar para o restabelecimento da normalidade no Estado.”
18 MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição constitucional. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 62.
19 Emenda constitucional 16, de 26 de novembro de 1965, à constituição de 1946:
“Art. 2º As alíneas c, f, i e k do art. 101, inciso I, passam a ter a seguinte redação:
(...)
‘k) a representação contra inconstitucionalidade de lei ou ato de natureza normativa, federal 
ou estadual, encaminhada pelo Procurador-Geral da República;’”
Obs: O art. 101, em seu inciso I, da constituição de 1946, trata das competências originárias 
do STF.
20 A Emenda 16/1965 também conferiu aos Estados a possibilidade de instituir controle abstrato 
de normas municipais, ao introduzir o inciso XIII no art. 124 da constituição de 1946, com a 
seguinte redação:
“Art. 19. Ao art. 124 são acrescidos os seguintes inciso e parágrafos:
(...)
‘XIII — a lei poderá estabelecer processo, de competência originária do Tribunal de 
Justiça, para declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato de Município, em conflito com a 
constituição do Estado.’”
35
Ministro Hahnemann Guimarães
Embora o constituinte tenha moldado o controle abstrato de normas 
segundo o modelo da representação interventiva, confiando a instauração do 
processo ao Procurador-Geral da República, convém assinalar que, apenas na 
forma, a nova modalidade de controle apresentava alguma semelhança com 
aquele processo de composição de conflitos entre o Estado e a União.
Enquanto a representação interventiva pressupunha uma alegação de 
ofensa (efetiva ou aparente) a um princípio sensível e, portanto, um peculiar 
conflito entre a União e o Estado, destinava-se o novo processo à defesa geral da 
constituição contra as leis inconstitucionais.
O Procurador-Geral da República exercia, no controle abstrato de nor-
mas, o papel especial de advogado da Constituição, interessado exclusivamente 
na defesa da ordem constitucional.21
(Itálicos no original.)
A constituição de 1967 promoveu apenas uma alteração substancial no 
mecanismo de controle, que foi a não-reprodução do dispositivo contido no 
art. 124, XIII, introduzido pela Emenda 16/1965, que permitia aos Estados ins-
tituírem mecanismos de controle concentrado das leis municipais.22
Este pequeno escorço histórico contempla a forma como o controle 
abstrato de normas era feito pelo STF durante o tempo em que o Ministro 
Hahnemann Guimarães ali trabalhou. Novas alterações se sucederam, atin-
gindo alto grau de sofisticação com a constituição de 1988, mas não cabe dis-
sertar sobre o assunto, visto que ultrapassa o período abordado nesta obra.
21 MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição constitucional. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 65.
22 constituição de 1967:
“Art. 10. A União não intervirá nos Estados, salvo para:
(...)
VI — prover à execução de lei federal, ordem ou decisão judiciária;
VII — assegurar a observância dos seguintes princípios:
a) forma republicana representativa;
b) temporariedade dos mandatos eletivos, limitada a duração destes à dos mandatos federais 
correspondentes;
c) proibição de reeleição de Governadores e de Prefeitos para o período imediato;
d) independência e harmonia dos Poderes;
e) garantias do Poder Judiciário;
f) autonomia municipal;
g) prestação de contas da Administração.
Art. 11. compete ao Presidente da República decretar a intervenção.
§ 1º A decretação da intervenção dependerá:
(...)
c) do provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da 
República, nos casos do item VII, assim como no do item VI, ambos do art. 10, quando se tratar 
de execução de lei federal.”
“Art. 114. compete ao Supremo Tribunal Federal:
I — processar e julgar originariamente:
(...)
l) a representação do Procurador-Geral da República, por inconstitucionalidade de lei ou ato 
normativo federal ou estadual;”
36
Memória Jurisprudencial
REPRESENTAÇÃO 94/RS
Na Rp 94, decidida em 17 de julho de 1946, Presidente o Ministro José 
Linhares, Relator o Ministro castro Nunes, o STF discutiu mais uma vez ques-
tões relacionadas a dispositivos constantes de constituição estadual. O foco era 
a constituição do Estado do Rio Grande do Sul, que apresentava diversos arti-
gos com a constitucionalidade questionada em face da Lei Maior. O Procurador-
Geral da República encaminhara ao STF representação do Governador do 
Estado do Rio Grande do Sul relativamente aos arts. 78, 81, 82, 89 e outros 
da nova constituição daquele Estado. Esses dispositivos faziam referência ao 
Secretariado quanto à dependência, em face da Assembléia, da escolha e do 
desempenho da função dos Secretários do Governo. O Procurador-Geral da 
República alegou que tais disposições eram incompatíveis com o governo presi-
dencial estabelecido como base do regime político adotado no País, nos termos 
da representação e pelos fundamentos jurídicos expostos na petição, baseada no 
art. 8º, parágrafo único, da constituição Federal de 1946, para legitimar o uso 
da atribuição exercida e a competência do STFpara dirimir o conflito.
O Relator, Ministro castro Nunes, em longo voto de 28 páginas, analisou 
pormenorizadamente o pedido. O Ministro Hahnemann Guimarães, que votou 
em seguida, também se manifestou detidamente sobre os aspectos levantados, 
como segue:
Senhor Presidente, no arroubo oratório com que nos empolgou, o emi-
nente tribuno e advogado Dr. João Mangabeira fez, no princípio e ao terminar 
a sua formosa oração, duas advertências, que não parecem justas com respeito 
a este Tribunal. A primeira é a de que a representação se destina a favorecer 
poderosos e a segunda é a de que este Tribunal deve apreciar o caso com segu-
rança, sem vacilações, porque da sua decisão depende da própria estabilidade 
constitucional.
Este Tribunal não se deixa, evidentemente, impressionar pelos pode-
rosos, nem se descuida, nas decisões que toma, a respeito dos casos que são 
sujeitos ao seu exame, dos supremos interesses da Nação, embora lhe pertença 
essencialmente a aplicação da lei.
O eminente advogado da Assembléia Legislativa sul-rio-grandense 
reconhece que o governo parlamentarista nos Estados é compatível com a 
constituição Federal. Não foge S. Exa. ao reconhecimento de que o que se pro-
cura estabelecer na constituição do Rio Grande do Sul é, sem rebuços, o regime 
parlamentar, com todas as suas conseqüências, com todos os seus caracteres. 
Nem era possível dissimular-se a natureza parlamentarista do Governo que se 
pretende estabelecer naquele Estado. com efeito, o art. 78 da constituição do 
Estado estabelece que o chefe do Secretariado será necessariamente, um mem-
bro da Assembléia.
Aqui, como técnica argumentativa, o Ministro Hahnemann Guimarães 
expõe claramente o efeito prático do dispositivo, ao dizer que não haveria 
liberdade para o Governador do Estado na escolha dos seus secretários, e que, 
37
Ministro Hahnemann Guimarães
portanto, ele se sujeitaria, quanto à escolha do chefe do secretariado, à desig-
nação de membro da Assembléia Legislativa. Esse aspecto vai levar, adiante, à 
conclusão da quebra da independência entre os poderes. E continua em seu voto:
No art. 79, estabelece-se princípio mais grave ainda: é o Secretariado 
quem apresenta à Assembléia Legislativa o programa de governo do Estado. 
Não é o Governador quem governa; é o Secretariado, pelo programa por ele ela-
borado e sujeito ao exame e à aprovação da Assembléia Legislativa.
Vai mais longe a constituição. No art. 80 subordina a permanência dos 
Secretários à confiança da Assembléia. Que estranha liberdade de nomeação e 
demissão é esta conferida a um Governador, que há de demitir, necessariamente, 
os seus Secretários que desmereçam da confiança da Assembléia Legislativa.
No art. 81 é que se encontra a própria flor do parlamentarismo, a orga-
nização colegial do Secretariado. O Secretariado está constituído num colégio, 
num conselho, sob a chefia de um membro da Assembléia Legislativa e delibera 
pela maioria de seus votos.
(...)
Não se trata, já o sustentei ao dar o meu voto ontem, não se trata de 
subordinar a constituição estadual a regras, a preceitos de constituição Federal. 
O que este Tribunal está procurando salvaguardar são os princípios constitucio-
nais e, aqui, a advertência feita pelo eminente parlamentar, Sr. João Mangabeira, 
foi, já, tida em conta pelo eminentíssimo Sr. Ministro Relator, castro Nunes, 
que mostrou que este Tribunal guarda nas suas decisões os limites da exceção 
constitucional, não os ultrapassa de modo algum, sabe que está apreciando a 
constitucionalidade de atos impugnados. Não vai além desses limites restritos 
na apreciação do ato sujeito ao seu exame.
Há, aqui, uma interessante questão. O regime de governo federal have-
ria que ser reproduzido nos Estados, ou estes poderiam ser parlamentaristas? 
Tratar-se-ia ou não de princípio sensível?23 O Ministro Hahnemann Guimarães 
não envereda por essa seara e, após a reafirmação do papel do STF, aborda a 
questão da independência dos poderes, como segue:
Mas o que se trata é de verificar se a constituição do Rio Grande do 
Sul observou o princípio da harmonia e independência dos poderes. Já se pre-
tendeu, até, encontrar contradição entre harmonia e independência, como se a 
independência repudiasse a harmonia. é evidente, porém, que só há harmonia 
verdadeira entre seres independentes. Só é verdadeira a harmonia voluntária, 
consciente, e esta pressupõe a independência das entidades. é entre poderes 
independentes; é entre um Executivo, um Legislativo e um Judiciário indepen-
dentes; é só entre eles que é possível estabelecer-se uma verdadeira, uma sólida, 
uma consciente harmonia.
Sustentou-se aqui, com citações de Montesquieu e Blackstone, que o 
regime parlamentar é compatível com a independência dos poderes. Lamento 
não haver encontrado na biblioteca deste Supremo Tribunal a obra de Woodburn, 
23 Sobre as distinções entre princípios constitucionais sensíveis, estabelecidos e extensíveis 
(a violação desses últimos não ensejariam a ação interventiva) ver, e.g.: SILVA, José Afonso. 
Curso de Direito Constitucional Positivo. 15. ed. rev. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 592-598.
38
Memória Jurisprudencial
The American Republic, com a qual, a respeito dos autores citados, poderia 
mostrar ao eminente orador que é meramente teórica a pretensa independên-
cia do Executivo na Inglaterra. Se houvesse essa independência na Inglaterra, 
não se justificaria a atitude de Jorge III nos seus esforços para recuperar o per-
dido poder do rei. Mas à falta desse auxílio, socorro-me da obra de Pomeroy, 
na sua célebre An introduction to the constitucional law of the United States, 
em que, referindo-se às opiniões de Jefferson e do Presidente Jackson, diz o 
seguinte: “Nenhum desses teóricos admitiria, provavelmente, que o Presidente 
tivesse uma capacidade igual ou independente à do congresso para interpretar 
a constituição e julgar a validade de uma lei. Esta moderna escola, quanto às 
idéias que representa neste país, levaria o congresso a uma posição igual, nos 
Estados Unidos, à que tem o Parlamento Britânico, reduziria o Executivo ao 
nível da coroa Britânica, e destruiria o Judiciário, como poder coordenado do 
Governo.”
Nesse ponto do voto, o Ministro Hahnemann Guimarães faz interessante 
observação quanto à coroa Britânica, cujo poder é extremamente reduzido e, 
como poder de Governo, “é nulo”. Diz que, quando se afirma o princípio “The 
King can’t do wrong” — “O rei não erra” —, tem-se em vista que o rei não tem 
responsabilidade, ao contrário do que acontece no nosso regime, em que o chefe 
do Executivo é responsável. Desse modo, se o governante não possui respon-
sabilidade, não pode errar. Após esse contorno, de forte viés argumentativo, 
prossegue:
A responsabilidade do chefe do Executivo há de implicar, necessaria-
mente, a liberdade de escolher os seus auxiliares.
Pomeroy diz ainda que, se as conclusões alcançadas por Jefferson e 
Jackson fossem admitidas na prática constitucional dos Estados Unidos — 
como se quer fazer na constituição sul-rio-grandense —, toda a organização 
americana reduzir-se-ia a pedaços. E salienta, adiante, Pomeroy: “(...) se fossem 
aceitas as noções relativas à autoridade exclusiva do congresso, o Governo 
converter-se-ia rapidamente em tirania irresponsável, porque o Legislativo não 
encontraria a resistência de sentimentos coletivos profundamente arraigados, 
antigos e tradicionais, que, na Grã-Bretanha, constituem fortíssimo poder con-
servador”. Nenhum outro país pode oferecer, como fundamento desse regime, 
as mesmas tradições em que ele se alicerça na Inglaterra.
claramente, o foco do argumento está no fato de que o parlamentarismo 
avilta a independência dos três poderes — princípio sensível —, e este restaria 
violado conforme se configurava na constituição do Estado do Rio Grande do 
Sul — claramente parlamentarista —, visto queassim a Assembléia Legislativa 
estaria a usurpar o poder do Executivo estadual. Diante disso, o Ministro 
Hahnemann Guimarães prossegue:
Senhor Presidente, acho desnecessário alongar-me em considerações. 
creio de evidência indiscutível, creio patente que o regime parlamentarista 
sacrifica a independência do Poder Executivo. Não é admisssível entre nós 
essa subordinação do Executivo ao Legislativo, que com ele é eleito. é preciso 
39
Ministro Hahnemann Guimarães
notar-se que o Governo do Estado foi eleito para o exercício do seu poder com 
a própria Assembléia Legislativa. Nem a Assembléia Legislativa pode subordi-
nar o Governador às suas deliberações quanto à escolha do Secretariado, nem 
seria admissível o poder que se dá ao chefe do Executivo estadual de dissolver 
a Assembléia Legislativa. Os dois poderes são iguais, em legitimidade; ambos 
vêm do povo. O Governador não recebeu o poder da Assembléia, não foi a 
Assembléia quem lhe deu poder de governar. Foi o povo que lhe deu esse poder.
A Assembléia não pode reduzir, a Assembléia não pode transformar o 
chefe do Executivo estadual num instrumento de sua vontade. Parece-me tão 
evidente a subordinação que se pretendeu estabelecer, no Estado do Rio Grande 
do Sul, do Executivo ao Legislativo, que julgo dispensáveis — talvez não tivesse 
mesmo recursos para mais — maiores argumentos, para demonstrar a convicção 
segura com que adiro ao esplêndido voto do Sr. Ministro castro Nunes.
A decisão final foi no sentido de restarem inconstitucionais os arts. 76, 
77, 78, 81 a 87 e 89 da nova constituição gaúcha (promulgada para se adap-
tar à nova constituição Federal de 1946), e os dispositivos do seu Ato das 
Disposições constitucionais Transitórias que os pressupõem, decisão unânime. 
Destaca-se no acórdão a reafirmação de que o mecanismo dos poderes é gover-
nado por freios e contrapesos, que são somente os admitidos na constituição 
Federal, e que a dissolução da Assembléia seria um contrapeso não cogitado e 
incompatível com o mandato legislativo de duração prefixada.
REPRESENTAÇÃO 97/PI
Na Rp 97/PI, julgada em 12 de novembro de 1947, Presidente o Ministro 
José Linhares e Relator o Ministro Edgard costa, o STF julgou, no bojo da 
representação interventiva, a inconstitucionalidade de diversos artigos da 
constituição do Estado do Piauí (13 artigos da constituição e 12 artigos do Ato 
das Disposições constitucionais Transitórias), encaminhada pelo Governador 
do Estado ao Procurador-Geral da República. Tratava-se de decisão exemplar, 
que, desde a manifestação do Procurador-Geral da República, trouxe coloca-
ções de alta pertinência e relevância para a matéria, constituindo-se em longo 
julgado, com cerca de 158 páginas, contemplando posições convergentes em 
relação à inconstitucionalidade de determinados dispositivos e divergentes 
em outros.
convém apresentar um resumo do longo relatório de 62 páginas, para que 
as questões discutidas sejam evidenciadas.
com o intuito de facilitar a compreensão do leitor, relacionam-se a 
seguir os artigos da constituição estadual do Piauí cuja constitucionalidade 
se questionou e o objeto por eles disciplinado (mencionado entre parênteses): 
constituição: arts. 13 e 14 (intervenção); art. 42 (veto do governador); arts. 51 
e 53 (competência do Tribunal de contas); art. 67 (impeachment); art. 78, 7 e 
40
Memória Jurisprudencial
11 (composição do Tribunal de Justiça); art. 83, 2 e 3, parágrafo único (com-
petência do Tribunal de Justiça); arts. 87 e 89 (divisão de comarcas); art. 89 
(escolha de juízes); art. 91 (escolha de juiz de paz); art. 120 (competência dos 
prefeitos); art. 145, inciso X (estabilidade dos funcionários); art. 177 (chefes de 
polícia); Ato das Disposições Transitórias: arts. 10, 12 e 19 (equiparação de ven-
cimentos de policiais, professores e inativos); arts. 27 e 28 (entrâncias de novas 
comarcas); art. 30 (efetivação de novos promotores); art. 41 (revogação de atos 
administrativos sobre pessoal); art. 48 (restabelecimento de Município); art. 50 
(extinção de departamento de municipalidades); art. 53 (incompatibilidade de 
prefeitos); art. 54 (câmaras municipais transitórias); art. 63 (aprovação de atos 
dos ex-interventores).
O Procurador-Geral da República concluiu pela inconstitucionalidade de 
diversos artigos apontados pelo Governador do Piauí, quais sejam: a) art. 67, 
da organização de tribunal especial para julgamento de crimes de respon-
sabilidade; b) art. 83, inciso III, da competência do Tribunal de Justiça para 
conceder licenças e férias ao Procurador e ao Subprocurador Geral do Estado; 
c) art. 87, da promoção automática do juiz pela elevação da entrância da res-
pectiva comarca; d) art. 92, § 2º, da nomeação de suplentes para juiz de paz; 
e) arts. 27 e 28 das Disposições constitucionais Transitórias, que dispunham 
sobre a elevação da entrância de certas comarcas e a criação de outras; f) art. 53 
das Disposições Transitórias, da incompatibilidade para o exercício provisório 
do cargo de prefeito para Municípios que devam ser providos por eleição. com 
relação aos demais dispositivos atacados, foram considerados constitucionais.
O Procurador-Geral fez ressalvas acerca da forma com que o controle 
de constitucionalidade das constituições estaduais deveria ser feito, tendo-
se em vista a autonomia dos Estados e sua capacidade de auto-organização, 
destacando que a autonomia das constituições estaduais é maior do que na lei 
federal no plano puramente federal e, sendo assim, o seu controle em face da 
constituição deve se dar de maneira diversa. Asseverou, em seu parecer, que 
há uma área em que se desenvolve livremente o poder constituinte dos Estados 
federados, compreendendo todos os poderes implícitos de sua construção orgâ-
nica e limitada apenas pelos princípios constitucionais da União e por aqueles 
que regulam a vida constitucional dos Estados. Discorreu sobre a teoria dos 
poderes dos Estados federados para sustentar que seriam inconstitucionais, 
portanto, os dispositivos de constituição estadual que se chocassem frontal e 
manifestamente com esses princípios.
Por fim, reiterou que era preciso ser manifesta a inconstitucionalidade de 
norma, de modo que se possibilitasse a intervenção, e não apenas tergiversação 
desnecessária e de longos debates. Para tanto, seria preciso congregar três fato-
res: 1) a argüição de inconstitucionalidade pelo Procurador-Geral da República; 
2) a existência de ato violador dos princípios constitucionais constantes no art. 7º, 
41
Ministro Hahnemann Guimarães
inciso VII, da constituição Federal; e 3) a declaração pelo STF da inconstitucio-
nalidade. Quanto a isso, dizia o art. 7º, inciso VII, da constituição de 1946:
Art. 7º O Governo federal não intervirá nos Estados salvo para:
VII — assegurar a observância dos seguintes princípios:
a) forma republicana representativa;
b) independência e harmonia dos Poderes;
c) temporariedade das funções eletivas, limitada a duração destas à das 
funções federais correspondentes;
d) proibição da reeleição de Governadores e Prefeitos, para o período 
imediato;
e) autonomia municipal;
f) prestação de contas da Administração;
g) garantias do Poder Judiciário.
Por ato violador, entendia o Procurador-Geral da República que seria 
qualquer ato emanado pelos órgãos estaduais que produzissem efeitos jurídicos, 
destes não excluídos os legislativos e os constituintes.
O Relator, Ministro Edgard costa, em seu longo voto, considerou incons-
titucionais os arts. 67, § 1º, 87, e 120, inciso III, da constituição do Estado do 
Piauí, bem como o art. 53, § 3º, do seu Ato das Disposições constitucionais 
Transitórias. O Ministro Hahnemann Guimarães, votando após o Ministro 
Armando Prado, manifestou-se da seguinte forma:
Senhor Presidente, o eminente Sr. Ministro Relator, em seu minucioso 
e lucidíssimo voto, adotou duas preliminares,

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