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Memória Jurisprudencial Epitacio Pessoa

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Ministro Epitacio Pessôa
Memória Jurisprudencial
Brasília
2009
Supremo Tribunal Federal
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Memória Jurisprudencial
MINISTRO EPITACIO PESSÔA
MAURO ALMEIDA NOLETO
Brasília
2009
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Ministro GILMAR Ferreira MENDES (20-6-2002), Presidente
Ministro Antonio CEZAR PELUSO (25-6-2003), Vice-Presidente
Ministro José CELSO DE MELLO Filho (17-8-1989)
Ministro MARCO AURÉLIO Mendes de Farias Mello (13-6-1990)
Ministra ELLEN GRACIE Northfleet (14-12-2000)
Ministro CARLOS Augusto Ayres de Freitas BRITTO (25-6-2003)
Ministro JOAQUIM Benedito BARBOSA Gomes (25-6-2003)
Ministro EROS Roberto GRAU (30-6-2004)
Ministro Enrique RICARDO LEWANDOWSKI (16-3-2006)
Ministra CÁRMEN LÚCIA Antunes Rocha (21-6-2006)
Ministro José Antonio DIAS TOFFOLI (23-10-2009)
Diretoria-Geral 
Alcides Diniz da Silva
Secretaria de Documentação 
Janeth Aparecida Dias de Melo
Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência 
Leide Maria Soares Corrêa Cesar
Seção de Preparo de Publicações 
Cíntia Machado Gonçalves Soares
Seção de Padronização e Revisão 
Rochelle Quito
Seção de Distribuição de Edições 
Maria Cristina Hilário da Silva
Diagramação: Ludmila Araujo
Capa: Jorge Luis Villar Peres
Edição: Supremo Tribunal Federal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Supremo Tribunal Federal – Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)
Noleto, Mauro Almeida.
Memória jurisprudencial : Ministro Epitacio Pessôa / Mauro 
Almeida Noleto. – Brasília : Supremo Tribunal Federal, 2009. – 
(Série memória jurisprudencial)
318 p.
1. Ministro do Supremo Tribunal Federal. 2. Brasil. Supremo 
Tribunal Federal (STF). 3. Pessôa, Epitacio - Jurisprudência. 
I. Título. II. Série.
CDD-341.4191081
9 788561 435134
ISBN 978-85-61435-13-4
Ministro Epitacio Pessôa
APRESENTAÇÃO
A Constituição de 1988 retomou o processo democrático interrompido 
pelo período militar.
Na esteira desse novo ambiente institucional, a Constituição significou 
uma renovada época.
Passamos para a busca de efetividade dos direitos no campo das presta-
ções de natureza pública, como pelo respeito desses direitos no âmbito da so-
ciedade civil.
É na calmaria institucional que se destaca a função do Poder Judiciário.
É inegável sua importância como instrumento na concretização dos va-
lores expressos na Carta Política e como faceta do Poder Público, em que os 
horizontes de defesa dos direitos individuais e coletivos se viabilizam.
O papel central na defesa dos direitos fundamentais não poderia ser al-
cançado sem a atuação decisiva do Supremo Tribunal Federal na construção da 
unidade e do prestígio de que goza hoje o Poder Judiciário.
A história do SUPREMO se confunde com a própria história de constru-
ção do sistema republicano-democrático que temos atualmente e com a conso-
lidação da função do próprio Poder Judiciário.
Esses quase 120 anos (desde a transformação do antigo Supremo Tribunal 
de Justiça no Supremo Tribunal Federal, em 28-2-1891) não significaram sim-
plesmente uma seqüência de decisões de cunho protocolar.
Trata-se de uma importante seqüência político-jurídica da história na-
cional em que a atuação institucional, por vários momentos, se confundiu com 
defesa intransigente de direitos e combate aos abusos do poder político.
Essa história foi escrita em períodos de tranqüilidade, mas houve tam-
bém delicados momentos de verdadeiros regimes de exceção e resguardo da 
independência e da autonomia no exercício da função jurisdicional.
Conhecer a história do SUPREMO é conhecer uma das dimensões do 
caminho político que trilhamos até aqui e que nos constituiu como cidadãos 
brasileiros em um regime constitucional democrático.
Entretanto, ao contrário do que a comunidade jurídica muitas vezes tende 
a enxergar, o SUPREMO não é — nem nunca foi — apenas um prédio, um ple-
nário, uma decisão coletada no repertório oficial, uma jurisprudência.
O SUPREMO é formado por homens que, ao longo dos anos, abraçaram 
o munus publicum de se dedicarem ao resguardo dos direitos do cidadão e à de-
fesa das instituições democráticas.
Conhecer os vários “perfis” do SUPREMO.
Entender suas decisões e sua jurisprudência.
Analisar as circunstâncias políticas e sociais que envolveram determi-
nado julgamento.
Interpretar a história de fortalecimento da instituição.
Tudo isso passa por conhecer os seus membros, os valores em que acre-
ditavam, os princípios que seguiam, a formação profissional e acadêmica que 
tiveram, a carreira jurídica ou política que trilharam.
Os protagonistas dessa história sempre foram, de uma forma ou de outra, 
colocados de lado em nome de uma imagem insensível e impessoal do Tribunal.
Vários desses homens públicos, muito embora tenham ajudado, de forma 
decisiva, a firmar institutos e instituições de nosso direito por meio de seus vo-
tos e manifestações, são desconhecidos do grande público e mesmo ignorados 
entre os juristas.
A injustiça dessa realidade não vem sem preço.
O desconhecimento dessa história paralela também ajudou a formar uma 
visão burocrática do Tribunal.
Uma visão muito pouco crítica ou científica, além de não prestar homena-
gem aos Ministros que, no passado, dedicaram suas vidas na edificação de um 
regime democrático e na proteção de um Poder Judiciário forte e independente.
Por isso esta coleção, que ora se inicia, vem completar, finalmente, uma 
inaceitável lacuna em nossos estudos de direito constitucional e da própria for-
mação do pensamento político brasileiro.
Ao longo das edições desta coletânea, o aluno de direito, o estudioso do 
direito, o professor, o advogado, enfim, o jurista poderá conhecer com mais pro-
fundidade a vida e a obra dos membros do Supremo Tribunal Federal de ontem 
e consultar peças e julgados de suas carreiras como magistrados do Tribunal, 
que constituem trabalhos inestimáveis e valorosas contribuições no campo da 
interpretação constitucional.
As Constituições Brasileiras (1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988) 
consubstanciaram documentos orgânicos e vivos durante suas vigências.
Elas, ao mesmo tempo em que condicionaram os rumos político-insti-
tucionais do país, também foram influenciadas pelos valores, pelas práticas e 
pelas circunstâncias políticas e sociais de cada um desses períodos.
Nesse sentido, não há como segmentar essa história sem entender a dinâ-
mica própria dessas transformações.
Há que se compreender os contextos históricos em que estavam inseridas.
Há que se conhecer a mentalidade dos homens que moldaram também 
essa realidade no âmbito do SUPREMO.
A Constituição, nesse sentido, é um dado cultural e histórico, datada no 
tempo e localizada no espaço.
Exige, para ser compreendida, o conhecimento dos juristas e dos políti-
cos que tiveram papel determinante em cada um dos períodos constitucionais 
tanto no campo da elaboração legislativa como no campo jurisdicional de sua 
interpretação.
A Constituição, por outro lado, não é um “pedaço de papel” na expressão 
empregada por FERDINAND LASSALE.
O sentido da Constituição, em seus múltiplos significados, se renova e é 
constantemente redescoberto em processo de diálogo entre o momento do intér-
prete e de sua pré-compreensão e o tempo do texto constitucional.
É a “espiral hermenêutica” de HANS GEORG GADAMER.
O papel exercido pelos Ministros do SUPREMO, como intérpretes ofi-
ciais da Constituição, sempre teve caráter fundamental.
Se a interpretação é procedimento criativo e de natureza jurídico-polí-
tica, não é exagero dizer que o SUPREMO, ao longo de sua história, completou 
o trabalho dos poderes constituintes que se sucederam ao aditar conteúdo nor-
mativo aos dispositivos da Constituição.
Isso se fez na medida em que o Tribunal fixava pautas interpretativas e 
consolidava jurisprudências.
Não há dúvida, portanto,de que um estudo, de fato, aprofundado no 
campo da política judiciária e no âmbito do direito constitucional requer, como 
fonte primária, a delimitação do pensamento das autoridades que participaram, 
em primeiro plano, da montagem das linhas constitucionais fundamentais.
Nesse sentido, não há dúvida de que, por exemplo, o princípio federativo 
ou o princípio da separação dos Poderes, em larga medida, tiveram suas fron-
teiras de entendimento fixadas pelo SUPREMO e pela carga valorativa que seus 
membros traziam de suas experiências profissionais.
Não é possível se compreender temas como “controle de constitucionali-
dade”, “intervenção federal”, “processo legislativo” e outros tantos sem se saber 
quem foram as pessoas que examinaram esses problemas e que definiram as 
pautas hermenêuticas que, em regra, seguimos até hoje no trabalho contínuo 
da Corte.
Por isso, esta coleção visa a recuperar a memória institucional, política e 
jurídica do SUPREMO.
A idéia e a finalidade é trazer a vida, a obra e a contribuição dada 
por Ministros como CASTRO NUNES, OROZIMBO NONATO, VICTOR 
NUNES LEAL e ALIOMAR BALEEIRO, além de outros.
A redescoberta do pensamento desses juristas contribuirá para a melhor 
compreensão de nossa história institucional.
Contribuirá para o aprofundamento dos estudos de teoria constitucional 
no Brasil.
Contribuirá, principalmente, para o resgate do pensamento jurídico-polí-
tico brasileiro, que tantas vezes cedeu espaço para posições teóricas construídas 
alhures.
E, mais, demonstrará ser falaciosa a afirmação de que o SUPREMO deve 
ser um Tribunal da carreira da magistratura.
Nunca deverá ser capturado pelas corporações.
Brasília, março de 2006
Ministro Nelson A. Jobim
Presidente do Supremo Tribunal Federal
Aos servidores do Supremo Tribunal Federal. 
“Forçoso é circunscrever o debate ao direito positivo e 
analisar a Constituição como ela é e não como devia ser.”
Epitacio Pessôa
SUMáRIO
ABREVIATURAS .......................................................................................... 17
DADOS BIOGRÁFICOS ............................................................................... 19
NOTA DO AUTOR ......................................................................................... 21
1. LINHA DO TEMPO: MINISTRO EPITACIO PESSÔA (1865-1942) ...... 25
2. O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL DE EPITACIO PESSÔA —
O DIREITO E A POLÍTICA NA REPÚBLICA VELHA ........................... 34
3. ASPECTOS NORMATIVOS DA ORGANIZAÇÃO ORIGINÁRIA
DA JURISDIÇÃO DO STF: PARA COMPREENDER MELHOR
A JURISPRUDÊNCIA DO INÍCIO DO SÉCULO XX ............................. 54
3.1 Recurso extraordinário .......................................................................... 56
3.2 Apelações e agravos: o começo da “crise do Supremo” ....................... 64
3.3 Habeas corpus: a doutrina brasileira na visão de Epitacio Pessôa ....... 66
4. EPITACIO PESSÔA E A JURISPRUDÊNCIA DO STF ........................... 69
4.1 Tópicos da jurisprudência do STF nas matérias cível e criminal ......... 72
4.1.1 Guerra fiscal: imposto sobre intercurso de mercadorias .............. 72
4.1.2 Direito adquirido .......................................................................... 79
4.1.2.1 Vitaliciedade de cargo ..................................................... 79
4.1.2.2 Posse não gera direito adquirido ..................................... 81
4.1.2.3 Não há direito adquirido à manutenção de regime 
jurídico ............................................................................ 86
4.1.2.4 Direito intertemporal pós-estado de sítio ........................ 89
4.1.3 Inconstitucionalidade de aposentadoria compulsória aos
70 anos ......................................................................................... 92
4.1.4 Invocação indireta de fundamento constitucional ....................... 96
4.1.5 Sucumbência da Fazenda Nacional: duplo efeito e recurso
ex officio ...................................................................................... 97
4.1.6 Atribuições ambivalentes do Chefe de Polícia do Distrito 
Federal ......................................................................................... 99
4.1.7 Despejo por condições sanitárias ............................................... 101
4.1.8 Peculato e co-autoria de pessoa estranha à administração
pública ....................................................................................... 104
4.1.9 Um crime sui generis: depositário de moeda falsa .................... 105
4.1.10 Crime continuado e aplicação da pena .................................... 106
4.2 Jurisdição extraordinária ..................................................................... 107
4.2.1 Nulidade dos atos inconstitucionais ........................................... 107
4.2.2 Prequestionamento ..................................................................... 113
4.2.3 Irredutibilidade de vencimentos ................................................. 115
4.2.4 Inamovibilidade de funcionários estaduais ................................ 117
4.3 Jurisdição das liberdades ..................................................................... 119
4.3.1 Elegibilidade de militar e direito à disponibilidade ................... 119
4.3.2 Direito da testemunha de ser ouvida no lugar de seu
domicílio .................................................................................... 121
4.3.3 Bombardeio federal ao Palácio do Governo da Bahia: as
negativas do STF a impetrações de Rui Barbosa em defesa de
direitos políticos ........................................................................ 122
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 125
APÊNDICE ................................................................................................... 129
ÍNDICE NUMÉRICO ................................................................................... 315
ABREVIATURAS
AC Ação cautelar
ACi Apelação cível
ACr Apelação criminal
ADI Ação direta de inconstitucionalidade
Ag Agravo 
AgP Agravo de petição
AI Agravo de instrumento
CA Conflito de atribuições
CJ Conflito de jurisdição
DJ Diário da Justiça
ED Embargos de declaração
HC Habeas corpus
LC Lei complementar
MS Mandado de segurança
RE Recurso extraordinário
RHC Recurso em habeas corpus
RvC Revisão criminal
SE Sentença estrangeira
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Supremo Tribunal de Justiça
DADOS BIOGRáFICOS
EPITACIO DA SILVA PESSÔA, filho do Tenente-Coronel José da Silva Pessôa 
e D. Henriqueta Barbosa de Lucena, nasceu em 23 de maio de 1865, na cidade do 
Umbuzeiro, província da Paraíba do Norte.
Órfão de pai e mãe aos oito anos de idade, foi admitido, em 1874, no Ginásio 
Pernambuco como um dos pensionistas da província de Pernambuco, que mantinha 
vinte órfãos no mesmo Ginásio, à custa do Tesouro Provincial.
Suprimida pela Assembléia Legislativa a verba destinada à educação de tais 
pensionistas, prosseguiu ele gratuitamente em seus estudos por determinação do então 
Presidente da província, Dr. Francisco Sodré.
Concluindo o curso secundário, matriculou-se, em 1882, na Faculdade de Direito 
do Recife, cujos estudos terminou com grande brilhantismo, recebendo o grau de 
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 13 de novembro de 1886.
Iniciou sua carreira pública com a nomeação de Promotor interino de Bom 
Jardim, em Pernambuco, passando a Promotor efetivo da comarca de Cabo, em 18 de 
fevereiro de 1887, cargo que exerceu até junho de 1889, quando foi exonerado.
Proclamado o regime republicano, aceitou o convite para Secretário do Governo 
do Dr. Venancio Neiva, na Paraíba, assumindo o exercício em 21 de dezembrode 1889.
Em setembro de 1890, foi eleito Deputado à Constituinte pelo Estado da Paraíba.
Atendendo ao seu curso brilhantíssimo e à cultura já revelada em várias pu-
blicações, foi nomeado, em decreto de 23 de fevereiro de 1891, Lente Catedrático da 
Faculdade de Direito do Recife.
Em decreto de 15 de novembro de 1898, foi nomeado Ministro da Justiça e 
Negócios Interiores, no Governo do Dr. Campos Sales, cargo de que foi exonerado, a 
pedido, em decreto de 6 de agosto de 1901.
Em decreto de 25 de janeiro de 1902, foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal 
Federal, tomando posse a 29 seguinte, preenchendo a vaga ocorrida com o falecimento 
do Barão de Pereira Franco, e por outro, de 7 de junho desse ano, o Governo resolveu 
nomeá-lo Procurador-Geral da República, sendo exonerado, a pedido, a 21 de outubro 
de 1905.
Como Procurador da República, reivindicou para o patrimônio nacional a pro-
priedade dos terrenos de marinha, escrevendo sobre o assunto notável monografia, repu-
tada o melhor trabalho existente sobre a matéria.
A convite do Barão do Rio Branco, elaborou em 1909 o projeto do Código de 
Direito Internacional Público.
Foi aposentado em decreto de 17 de agosto de 1912.
Em 1912 foi nomeado Delegado do Brasil no Congresso de Jurisconsultos 
Americanos, do qual foi aclamado Presidente pelo voto unânime dos representantes de 
todas as repúblicas do continente.
Foi eleito Senador em 1912, e, posteriormente, Presidente da República, tomando 
posse em 28 de julho de 1919, permanecendo neste cargo até 15 de novembro de 1922, 
preenchendo a vaga aberta com a morte de Rodrigues Alves, que havia falecido antes de 
assumir as funções.
No período do seu governo, o Brasil recebeu a visita dos Reis da Bélgica, que 
chegaram ao Rio de Janeiro em 19 de setembro de 1920, e do Presidente da República 
Portuguesa, Dr. Antônio José de Almeida, de 18 a 27 de setembro de 1922.
Dotado de grande talento, ilustração e vasta cultura, são notáveis os trabalhos que 
publicou, quer em pareceres, memoriais, relatórios, discursos parlamentares, quer em 
atos como chefe da nação e sentenças arbitrais em questões de limites entre os Estados 
de São Paulo e Paraná, Minas Gerais e Goiás.
Designado por vinte e um grupos nacionais, foi o nome do Dr. Epitacio Pessôa 
sufragado unanimemente e proclamado membro titular da Corte Permanente de Justiça 
Internacional, em 10 de setembro de 1923.
Seu alto saber jurídico mereceu da Universidade de Buenos Aires a concessão do 
grau de Doutor in honoris causa.
Os relevantes serviços que prestou foram reconhecidos pela Santa Sé e por diver-
sas nações, que concederam ao Dr. Epitacio Pessôa as seguintes condecorações: Grã-
Cruz da Legião de Honra, da França; Grã-Cruz de Leopoldo, da Bélgica; Grã-Cruz de 
São Maurício e São Lázaro, da Itália; Grã-Cruz da Ordem de Santo Olavo, da Noruega; 
Grã-Cruz, com colar, da Ordem do Banho, da Inglaterra; Grã-Cruz do Libertador Simão 
Bolivar, da Venezuela; Grã-Cruz da Ordem do Sol, do Peru; Grã-Cruz da Ordem do 
Crisântemo, do Japão; Cavaleiro da Ordem Superior de Cristo, da Santa Sé; Cavaleiro 
da Ordem do Elefante, da Dinamarca; Cavaleiro da Ordem dos Serafins, da Suécia; 
Cavaleiro da Ordem da Águia Branca, da Polônia; Banda das Três Ordens, de Portugal; 
a mais alta distinção da China e a medalha de 1ª classe Al Mérito do Chile.
Faleceu em 13 de fevereiro de 1942, no sítio que possuía em Nogueira, Município 
de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, sendo consignado pela Corte um voto de pesar, 
na reabertura dos trabalhos, em sessão de 7 de abril de 1942.
O Supremo Tribunal Federal comemorou o centenário de seu nascimento, em 
sessão de 24 de maio de 1965, quando falou pela Corte o Ministro Cândido Mota Filho, 
pela Procuradoria-Geral da República o Dr. Oswaldo Trigueiro e pela Ordem dos 
Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal, o Dr. Esdras Gueiros.
Dados biográficos extraídos da obra Supremo Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal: Dados 
biográficos (1828-2001), de Laurenio Lago. Este texto também pode ser encontrado no sítio do Supremo 
Tribunal Federal na Internet.
NOTA DO AUTOR
Foi com muita honra e gratificação pessoal que recebi o convite para participar 
deste esforço coletivo de preservação da memória jurisprudencial do STF. Desafio fasci-
nante, mas carregado de responsabilidade.
Coube a mim a elaboração do perfil jurídico do Ministro Epitacio Pessôa, com 
base na identificação e na análise de sua obra jurisprudencial, produzida ao longo do 
período de dez anos em que ocupou a vaga de número 12 no Supremo. Sorte a mi-
nha, analista judiciário e ex-assessor de dois Ministros da Casa (Sepúlveda Pertence e 
Cármen Lúcia), fui levado, pela leitura dos votos de Pessôa, aos primeiros momentos 
da experiência republicana no Brasil e ao (re)começo da história do próprio Supremo 
Tribunal Federal. 
Além das inúmeras descobertas que uma pesquisa assim haveria de proporcio-
nar, a escolha também tornou possível conhecer melhor a biografia dessa personalidade 
tão ímpar da história brasileira. Epitacio Pessôa foi um “fenômeno” político daqueles 
tempos iniciais em que se praticou a experiência republicana e federativa no Brasil. 
Ocupou os cargos mais importantes nos três Poderes da República: Constituinte em 
1891; Ministro da Justiça de Campos Salles (1898); Ministro do Supremo aos 37 anos 
incompletos (1902-1912), onde atuou nos três primeiros anos como Procurador-Geral 
da República; Senador (1912); Presidente da República (1919-1922); e Juiz da Corte 
Internacional de Justiça, sediada na cidade de Haia (1923). 
Órfão de pai e mãe aos oito anos de idade, na Província de Pernambuco, a traje-
tória ascendente de Epitacio Pessôa era mesmo improvável. Precisou combinar mérito 
pessoal com a “imprevista coincidência de circunstâncias felizes” — a que alude Sobral 
Pinto — para elevar-se aos pontos mais altos da carreira de estadista. A notável singula-
ridade histórica e os lances ficcionais da biografia de Epitacio Pessôa foram motivações 
latentes desta pesquisa. 
Por outro lado, a figura histórica de Pessôa também revela os traços marcantes da 
elite jurídica brasileira da época, desde as características dominantes do recrutamento 
de quadros para a composição da cúpula do Judiciário, até as contradições próprias de 
uma nação que pretendia reinventar-se, na difícil e tumultuada transição do Império 
(unitário) para a República federativa, da escravidão para a sociedade de direitos, de um 
modelo constitucional europeu, em que o Legislativo tinha precedência, para a inspira-
ção norte-americana do controle judicial da constitucionalidade das leis e da defesa da 
nova e complexa ordem federativa. 
A pesquisa teve assim a dupla preocupação de recuperar as manifestações de-
cisivas do Ministro Pessôa em sua passagem pelo STF, mas também, a partir delas, 
procurou revelar características marcantes da jurisdição e das instituições republicanas, 
àquela altura de nossa história nacional, ainda em fase de franca formação. 
Para atingir de modo adequado esse segundo objetivo, optou-se por apresentar os 
dados biográficos do Ministro Epitacio Pessôa na forma de uma linha anual do tempo. 
Cronologia que começa com seu nascimento em 1865 e vai até a edição de suas Obras 
Completas, em 1965. Na medida do possível, a descrição dos fatos em ordem cronológica 
procurou conciliar o relato de eventos relevantes na política, nas artes e nas ciências, na 
economia e no direito brasileiro, sem perder de vista, obviamente, os fatos importantes 
da trajetória do biografado. Espera-se, com isso, ambientar o leitor destas páginas no 
tempo de Epitacio Pessôa, para que sua obra jurídica possa ser compreendida também 
pelo ângulo do contexto em que foi produzida. 
Algumas obras, em particular os trabalhos de Leda Boechat Rodrigues, Emilia 
Viotti da Costa, Aliomar Baleeiro, Paulo Bonavides,Laurita Pessoa, Afonso Arinos de 
Melo Franco, Orlando Bittar, Andrei Koerner, entre muitas outras, foram fontes biblio-
gráficas de grande importância para a compreensão e reconstrução do contexto institu-
cional em que atuou o Ministro Pessôa, o STF da primeira década do século XX, objeto 
do capítulo seguinte à linha do tempo. Ali a preocupação foi mostrar fatos importantes 
da história do STF, desde a sua criação, em 1890, até o momento em que o Tribunal pas-
sou por sua primeira renovação, justamente o período de Epitacio Pessôa como Ministro. 
A revisão da bibliografia sobre o Supremo da época, embora não acrescente nada 
novo, cumpre bem, a meu ver, a tarefa desta coleção, que é voltada para a preservação 
da memória do Tribunal, neste caso, a partir da identificação do protagonismo de um de 
seus mais notáveis Ministros. Essa é também a razão para as extensas citações e notas 
de rodapé: a documentação — na medida do possível, de modo a não inviabilizar a con-
tinuidade do texto principal — do relato e da análise dos que já se dedicaram a estudar a 
história e o funcionamento de uma instituição tão vital como o STF.
Em seguida, o livro conta ainda com uma breve explanação sobre a estrutura or-
gânica da jurisdição do Supremo Tribunal Federal do início do século passado, as vias e 
os instrumentos processuais mais utilizados, as competências e os limites dessa jurisdi-
ção, com a crise de congestionamento que já se insinuava. Além do apoio bibliográfico 
das obras de história do STF já mencionadas, esta pesquisa sobre a obra do Ministro 
Epitacio Pessôa encontrou duas manifestações preciosas de sua autoria: uma monografia 
e um discurso no Senado, que permitiram retratar com fidelidade histórica as origens 
da prática do recurso extraordinário brasileiro e do habeas corpus, respectivamente. 
O capítulo registra também elucidativo debate entre juristas, ocorrido em 1912, sobre 
as propostas de reforma do Judiciário federal. Participaram nomes de peso como Clóvis 
Beviláqua, Pedro Lessa, Enéas Galvão e Epitacio Pessôa. A nota curiosa é que o debate 
foi promovido pelo Jornal do Commercio, que fez distribuir às autoridades um questio-
nário. As respostas foram publicadas nas edições periódicas do jornal e compiladas no 
117º volume da revista O Direito, de 1912.
E assim, bem definido o contexto histórico e institucional da obra de Epitacio 
Pessôa no Supremo, segue-se seu exame direto, a descrição dos acórdãos e votos de sua 
lavra, que proporcionaram a este pesquisador a surpresa de descobrir as origens de tópi-
cos seculares da jurisprudência do nosso STF. Essa é a parte mais extensa do trabalho, 
mas foi, certamente, a mais fecunda e prazerosa de executar.
É preciso dizer, antes de concluir esta nota, que a principal fonte da pesquisa 
foi a coletânea realizada pelo Instituto Nacional do Livro, do Ministério da Educação, 
editada em 1965, ano do centenário de nascimento de Epitacio Pessôa, e que reúne, no 
volume III das Obras Completas de Epitacio Pessôa, praticamente todos os seus acór-
dãos e votos. Ali estava preservada uma parte do patrimônio cultural do STF. Foi lá que 
este livro nasceu.
Esta é, portanto, uma releitura da obra do grande Epitacio Pessôa, Ministro do 
STF, mas é, sobretudo, uma nova documentação de sua participação destacada na fun-
dação da jurisprudência do Tribunal. Seu autor se permite alimentar a expectativa de que 
as páginas seguintes possam de fato cumprir esse papel, possam contribuir para reforçar 
a nobreza e a autoridade do STF pela demonstração de seu papel histórico na preserva-
ção das liberdades democráticas, da unidade nacional, do governo das leis, mas funda-
mentalmente por tudo aquilo que pode sempre representar a ação prudente do Supremo 
na promoção da justiça para a sociedade brasileira. 
Brasília, junho de 2009.
O Autor.
25
Ministro Epitacio Pessôa
1. LINHA DO TEMPO: MINISTRO EPITACIO PESSÔA (1865-1942)1
1865 — Nasce Epitacio Lindolpho da Silva Pessôa, em 23 de maio, na fazenda 
Marcos de Castro, na localidade do Umbuzeiro, serra do Cariri parai-
bano, filho do coronel José da Silva Pessôa, senhor de engenho, e de sua 
segunda esposa, Dona Henriqueta de Lucena, irmã do Barão de Lucena.
1870 — Em dezembro, o jornal carioca A República publica o “Manifesto 
Republicano”, assinado por mais de cinqüenta profissionais liberais 
(advogados, médicos, engenheiros, professores), que inaugura publica-
mente a decadência da monarquia e a intenção de implantação do fede-
ralismo republicano no Brasil: “Se carecêssemos de uma fórmula para 
assinalar, perante a consciência nacional, os efeitos de um e outro re-
gime, nós a resumiríamos assim: Centralização — Desmembramento. 
Descentralização — Unidade.” Termina a Guerra do Paraguai, com 
a morte do ditador positivista Francisco Solano Lopez, na batalha de 
Cerro Corá.
1873 — Falecem, infectados por varíola, na cidade do Recife, no intervalo 
de apenas um mês, o pai e a mãe de Epitacio Pessôa, então com oito 
anos de idade. Por influência do tio, o Barão de Lucena, Presidente da 
Província de Pernambuco, Epitacio recebe uma bolsa de estudos no 
Ginásio Pernambucano.
1882 — Epitacio Pessôa ingressa na Faculdade de Direito do Recife, no mesmo 
ano em que Tobias Barreto passa a integrar a Congregação de profes-
sores daquela que passaria a ser conhecida como a “Casa de Tobias”.
1886 — A três anos da queda da monarquia, no dia 13 de novembro, Epitacio 
Pessôa cola grau na Faculdade de Direito do Recife. Na sua turma 
de formandos estavam Pires de Albuquerque, futuro ministro do 
Supremo, e Graça Aranha, escritor modernista.
1887 — Epitacio é nomeado promotor público da cidade do Cabo/PE.
1 Esta cronologia foi baseada nas seguintes obras:
GOMES, Ângela de Maria de Castro et al. A República no Brasil. Rio de Janeiro: Nova 
Fronteira: CPDOC, 2002.
MELLO FILHO, José Celso de. Notas sobre o Supremo Tribunal (Império e República). 
2. ed. Brasília: STF, 2007.
NOSSO Século: Memória Fotográfica do Brasil no Século 20. São Paulo: Abril Cultural, 1981 
(1900/1910: A Era dos Bacharéis, 1).
NOSSO Século: Memória Fotográfica do Brasil no Século 20. São Paulo: Abril Cultural, 1981 
(1910/1930: Anos de Crise e Criação, 2).
RAJA-GABALGIA Laurita Pessoa. Epitacio Pessôa (1965-1942). Rio de Janeiro: José 
Olympio, 1951.
26
Memória Jurisprudencial
1888 — A princesa Isabel assina a Lei 3.353, a “Lei Áurea”, na condição de 
Regente, durante viagem de D. Pedro II à Europa. Estava abolida a es-
cravidão no Brasil.
1889 — Último país a abolir a escravidão negra e única monarquia americana, 
o Brasil imperial, por uma dessas estranhas coincidências históricas, 
manda expressiva delegação a Paris, para participar da Exposição 
Universal Comemorativa do Centenário da Revolução Francesa, a 
“Exposição Tricolor”. O evento grandioso celebrava o centenário da 
“Grande Revolução” com a inauguração da Torre Eiffel, símbolo co-
lossal e iluminado dos ideais de igualdade, liberdade e fraternidade. 
No Rio de Janeiro, uma conspiração militar proclama a República no 
Brasil no dia 15 de novembro. Forças do Exército saem às ruas, ocupam 
prédios públicos, rendem o gabinete do Conselho de Ministros e ins-
talam um governo provisório. Para a edificação das novas instituições 
republicanas, toma-se como exemplo a experiência norte-americana, 
inclusive o próprio nome do país, que passava a se chamar “Estados 
Unidos do Brazil”, em alusão ao federalismo escolhido como novo 
modelo político de organização territorial. Era a vitória das províncias, 
principalmente São Paulo e Minas Gerais, que passavam à nova condi-
ção de Estados.
1890 — Epitacio Pessôa é eleito, pelo Estado da Paraíba, Deputado constituinte. 
O Decreto 848, de 11 de outubro de 1890, do Governo Provisório, cria 
o Supremo Tribunal Federal e institui a Justiça Federal no Brasil. Era 
Ministro da Justiçao futuro Presidente Campos Salles, que também faz 
publicar naquele ano o novo Código Penal brasileiro. No campo eco-
nômico, a primeira experiência republicana foi a tentativa de moderni-
zação e industrialização imediatas do país, que deveria vir da abertura 
total do mercado brasileiro para a entrada de capitais estrangeiros, 
seguida de permissão para bancos privados emitirem moeda, da edi-
ção de uma nova e liberal lei das sociedades anônimas, além da criação 
de um mercado de ações concentrado na Bolsa de Valores do Rio de 
Janeiro. Essa aposta no mercado de ações acabou provocando o surto 
especulativo e inflacionário que ficaria conhecido como o “encilha-
mento”, expressão alusiva ao alinhamento inicial dos cavalos no turfe.
1891 — É promulgada, em 24 de fevereiro, a Constituição da República Fede-
rativa dos Estados Unidos do Brasil. No dia anterior, Epitacio era no-
meado Lente Catedrático da Faculdade de Direito do Recife. Deodoro 
dissolve o Congresso. Os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio 
Grande do Sul reagem a essa medida e recebem o apoio da Marinha, 
que inicia uma revolta na Baía de Guanabara. Para evitar a guerra ci-
vil, Deodoro renuncia e é substituído pelo marechal Floriano Peixoto. 
27
Ministro Epitacio Pessôa
Floriano promove a substituição dos governantes de São Paulo e do 
Rio Grande do Sul. Os gaúchos demonstram descontentamento com o 
novo – e imposto – governante.
1892 — Em 6 de abril, treze generais protestam contra a falta de convocação da 
eleição presidencial. Manifestações de rua em apoio a Deodoro provo-
cam a reação violenta de Floriano, que ordena a prisão e a deportação 
de vários civis, inclusive parlamentares, apesar de suas imunidades. 
Entre os presos, Olavo Bilac e o almirante Wanderkolk, que havia sido 
ministro do Governo Provisório. Rui Barbosa pede ao STF habeas 
corpus em favor dos presos (HC 300) que permaneciam no cárcere ou 
no desterro, após extinguir-se o prazo de 72 horas do estado de sítio. 
O Supremo nega a ordem pedida, contra o voto isolado do Ministro Pisa 
e Almeida, cujas mãos Rui teria beijado num gesto comovido de agra-
decimento. No Rio Grande do Sul, as forças locais promovem o movi-
mento separatista que ficou conhecido como a Revolução Federalista.
1893 — Em apoio ao movimento gaúcho, a Marinha inicia na capital a Revolta 
da Armada. Os revoltosos dominam a baía da Guanabara e bombar-
deiam a cidade. Rui Barbosa renuncia ao mandato de Senador e busca 
refúgio em Buenos Aires, mudando-se depois para Londres, onde 
permanece até o fim do governo de Floriano. As autoridades republi-
canas recebem a informação de que no povoado de Canudos, no sertão 
baiano, concentravam-se “fanáticos religiosos e monarquistas”, lide-
rados por Antônio Vicente Mendes Maciel, o “Antônio Conselheiro”.
1894 — Com o apoio financeiro de São Paulo, Floriano consegue derrotar os 
movimentos do Sul e da Marinha, mas, em troca, concorda com a rea-
lização de eleições que levarão ao poder o primeiro Presidente civil, o 
paulista Prudente de Morais. No final de seu governo, Floriano nomeia 
vários ministros para o Supremo, encerrando o período de recesso for-
çado a que estava submetido o Tribunal há meses, por falta de quorum 
para julgamento dos feitos. Em novembro, uma mudança legislativa 
(Lei 221) estabelece que o Presidente e o Vice-Presidente do STF pas-
sariam a prestar juramento perante o próprio Tribunal, não mais pe-
rante o Presidente da República.
1897 — As Forças da União, após sucessivas e surpreendentes derrotas milita-
res, finalmente derrotam os sertanejos, massacrando-os e pondo fim à 
Guerra de Canudos, no sertão da Bahia. Os acórdãos do Supremo pas-
sam a ser publicados na Revista de Jurisprudência.
1898 — O Supremo, na sessão de 16-4-1898, no julgamento do HC 1.073, revê 
jurisprudência firmada em 1892 e concede o habeas corpus requerido 
por Rui Barbosa em favor de presos políticos para então consagrar a 
28
Memória Jurisprudencial
tese de que cessam, com o fim do estado de sítio, todas as medidas 
de repressão durante ele tomadas pelo Executivo. Epitacio é convi-
dado para o cargo de Ministro da Justiça e Negócios Interiores pelo 
Presidente da República, Campos Salles, eleito no dia 1º de março com 
cerca de 420.000 votos. A grande obra jurídica de Epitacio Pessôa no 
cargo de Ministro da Justiça foi a elaboração do projeto de Código 
Civil, cuja execução foi por ele confiada ao jovem jurista cearense 
Clóvis Beviláqua, seu contemporâneo de faculdade.
1900 — A população brasileira atinge mais de 17 milhões de habitantes, a 
maioria (64%) ainda no campo. O Brasil detém então o monopólio 
mundial da produção de café, favorecido por doenças ocorridas nos ca-
fezais asiáticos e por fatores econômicos. A Revolta dos Cocheiros, um 
movimento grevista, estoura em janeiro e provoca violentos choques 
entre manifestantes e a polícia durante três dias. Machado de Assis 
publica Dom Casmurro, e Chiquinha Gonzaga compõe Ô Abre Alas, 
considerada a primeira marchinha brasileira. Campos Salles implanta 
a “política dos governadores”, pacto oligárquico que vai caracterizar a 
aliança governista durante toda a primeira república. Epitacio Pessôa 
apresenta o projeto de Código Civil ao Presidente da República, que, 
em 17 de novembro, remete-o ao Congresso Nacional. Como se sabe, a 
tramitação do projeto do primeiro Código Civil brasileiro levaria ainda 
mais 16 anos. Somente no governo de Wenceslau Braz, tendo como re-
lator geral dos trabalhos no Senado o próprio Epitacio Pessôa, o novo 
código seria finalmente aprovado.
1901 — É publicado, em janeiro, o novo Código de Ensino, projeto do Ministro 
da Justiça, Epitacio Pessôa, que tornava mais rigorosa a disciplina 
escolar, inclusive com medidas de repressão que envolviam até a con-
vocação da polícia. No decorrer do ano, os estudantes da Capital pro-
movem várias manifestações e protestos contra o Código. A relutância 
do Presidente Campos Salles, preocupado com a sucessão que se avizi-
nhava, em tomar medidas mais enérgicas contra os manifestantes, leva 
Epitacio a apresentar em agosto sua carta de demissão, que foi aceita. 
Sylvio Romero publica os Ensaios de Sociologia e Literatura.
1902 — Campos Salles, em seu último ano de governo, por decreto de 25 de 
janeiro, nomeia Epitacio da Silva Pessôa, pouco antes de completar 37 
anos, para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal, na vaga 
aberta com o falecimento do Barão de Pereira Franco. Outro decreto 
presidencial, de 7 de junho, traz a nomeação de Epitacio Pessôa para 
o cargo de Procurador-Geral da República (cargo que era exercido, 
de acordo com a Constituição de 1891, por um dentre os membros da 
29
Ministro Epitacio Pessôa
Corte). Rodrigues Alves é eleito Presidente da República. Começa a ser 
editada a revista O Malho.
1903 — Oswaldo Cruz, médico sanitarista, é nomeado para a presidência 
da Diretoria Geral de Saúde Pública, criada em janeiro, no Rio, que 
passa por um surto de febre amarela. Euclides da Cunha ingressa na 
Academia Brasileira de Letras. Em agosto, é deflagrada uma greve 
geral na cidade do Rio de Janeiro por melhores salários e pela jornada 
de trabalho de 8 horas. Em novembro, o Brasil assina com a Bolívia o 
“Tratado de Petrópolis”, obra diplomática do Barão do Rio Branco, que 
garante a incorporação do Acre ao país, após pagar indenização no va-
lor de dois milhões de libras esterlinas ao país boliviano.
1904 — O jornal Correio da Manhã lidera uma campanha contra as medidas 
de combate à febre amarela instituídas por Oswaldo Cruz. O Prefeito 
da Capital, Pereira Passos, dá início às obras de reforma urbana, demo-
lindo prédios e cortiços para a abertura de novas avenidas, é o “bota-
abaixo” Em outubro é aprovada a lei da vacinação obrigatória contra 
a varíola. Em novembro explode a Revolta da Vacina, que provoca 
choques entrea população e as forças de repressão. O país sofre com a 
carestia e o desemprego, ingredientes que, somados à truculência dos 
agentes da vacinação obrigatória, alimentaram o calor e a violência da 
batalha urbana. Registram-se centenas de mortes. Quando o governo 
consegue retomar o controle da cidade, já na vigência de estado de sítio, 
prende centenas de pessoas e as despacha para o Acre, inclusive políticos 
e militares que aproveitaram a revolta para conspirar contra o Governo.
1905 — O Procurador-Geral da República, Epitacio Pessôa, apresenta no 
Plenário do STF seu discurso de acusação no rumoroso “caso das 
pedras”, em que o Presidente do Tribunal de Contas da União e o 
Ministro da Fazenda eram acusados de crimes de peculato. Em março, 
termina o estado de sítio decretado para conter a revolta contra a vaci-
nação obrigatória. São lançadas as candidaturas de Afonso Pena e Nilo 
Peçanha, para Presidente e Vice-Presidente da República. Caem os pre-
ços do café no mercado internacional, há risco de crise de superprodu-
ção, o que acaba por se confirmar. Epitacio Pessôa, após atritos com o 
Ministro da Justiça, J. J. Seabra, pede demissão da Procuradoria-Geral 
e retoma as funções de Ministro do Supremo Tribunal Federal.
1906 — Em janeiro, os Governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de 
Janeiro reúnem-se na cidade de Taubaté, onde fecham um acordo para 
tentar contornar a crise do café. Pelo acordo, o Governo central assu-
miria o compromisso de comprar estoques e estabelecer uma prática 
de preços mínimos para tentar segurar o valor do produto. Em outubro, 
30
Memória Jurisprudencial
Afonso Pena assume a Presidência da República. Nesse mesmo mês, 
Santos Dumont realiza o primeiro vôo público de um veículo mais pe-
sado que o ar, o 14 Bis. Ao longo do ano, diversas greves operárias são 
deflagradas em São Paulo, no Rio e no Recife.
1907 — Em junho, realiza-se na cidade de Haia, na Holanda, a Segunda 
Conferência Internacional de Paz, com a debutante participação bra-
sileira. Nosso principal representante é o Senador Rui Barbosa, cujo 
destaque obtido com sua participação rende a ele o título de “águia 
de Haia”. É publicada a Lei Adolpho Gordo, que permite a expulsão 
do Brasil de estrangeiros acusados de “comprometerem a segurança 
nacional”. Toma posse do cargo de Ministro do STF o advogado e pro-
fessor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, Pedro Lessa.
1908 — Conflitos armados na Bahia e em Goiás provocam a intervenção do 
Governo federal. Uma greve de cinco dias na companhia de gás pa-
ralisa o Rio de Janeiro, que fica sem luz. Em agosto, tem início a ex-
posição nacional comemorativa do centenário da abertura dos portos 
no Brasil. Instalada na Praia Vermelha (Rio de Janeiro), a exposição 
tinha a finalidade de mostrar aos estrangeiros as melhorias feitas na 
Capital pela reforma urbana de Pereira Passos e os avanços sanitários 
coordenados por Oswaldo Cruz. O navio Kasato Maru chega ao Porto 
de Santos trazendo o primeiro grupo de imigrantes japoneses. Epitacio 
Pessôa pede licença do Supremo e faz com a família uma viagem de 
seis meses à Europa, onde passa por tratamento de saúde. Nasce a re-
vista O Careta. Morre Machado de Assis.
1909 — Com a morte de Afonso Pena, no exercício do mandato presidencial, 
assume o cargo o Vice-Presidente, Nilo Peçanha. Rui Barbosa lança 
sua candidatura à Presidência da República em oposição à candidatura 
do marechal Hermes da Fonseca. Rui, em campanha, reclama o po-
der para os civis. É inaugurado o Teatro Municipal do Rio de Janeiro. 
Carlos Chagas descobre a causa de uma doença muito comum no meio 
rural; o micróbio, transmitido pela picada do inseto barbeiro, recebe o 
nome de Trypanosoma Cruzi em homenagem ao sanitarista Oswaldo 
Cruz. Durante esse ano, a Lei Adolpho Gordo é aplicada e são expul-
sos do país 25 militantes socialistas e anarquistas. Tem início a for-
mulação da “doutrina brasileira do habeas corpus”, no julgamento do 
“caso do Conselho Municipal do Distrito Federal” (HC 2.794, Relator 
o Ministro Godofredo Cunha).
1910 — A “campanha civilista” de Rui Barbosa intensifica-se, conseguindo 
muitas adesões em São Paulo. Pela primeira vez, os candidatos procu-
ram consolidar o apoio popular com a realização de grandes comícios e 
31
Ministro Epitacio Pessôa
atos públicos. Numa eleição muito disputada contra Rui Barbosa, o ma-
rechal Hermes da Fonseca é eleito Presidente da República. É criado o 
Serviço de Proteção ao Índio sob a direção do tenente-coronel Cândido 
Mariano da Silva Rondon. Os marinheiros dos encouraçados Minas 
Gerais e São Paulo amotinam-se sob o comando de João Cândido 
(“Almirante Negro”), exigindo a extinção das penas de açoites prati-
cadas na Marinha do Brasil. Era a Revolta da Chibata. O Jornal do 
Commercio de 15 de julho faz severas críticas ao Supremo, que “sacri-
fica a justiça e a lei à influência nefasta dos interesses e dos empenhos”, 
em alusão às decisões do Tribunal proferidas em habeas corpus moti-
vados por conflitos políticos nos Estados.
1911 — O Governador eleito do Estado de Pernambuco, Rosa e Silva, é de-
posto pelo candidato derrotado, coronel Dantas Barreto, com apoio 
dos militares e do Governo federal. Tem início a chamada “política das 
salvações”, do regime do marechal Hermes e de seu líder no Senado, o 
gaúcho Pinheiro Machado. Epitacio é operado na Europa para retirada 
da vesícula.
1912 — Bombardeio de Salvador por forças federais obriga a deposição do 
Governador, Aurélio Vianna. Sucessivos habeas corpus impetrados 
por Rui Barbosa no Supremo Tribunal Federal são considerados preju-
dicados pela maioria dos Ministros, que acompanham a argumentação 
do Ministro Epitacio Pessôa, recém-chegado de sua convalescença na 
França. Em 17 de agosto de 1912, Epitacio Pessôa, por recomenda-
ção médica, aposenta-se do cargo de Ministro do Supremo Tribunal 
Federal. Logo depois de deixar o Tribunal, Epitacio é convidado por 
lideranças dos dois partidos da Paraíba para ocupar a vaga de Senador 
pelo Estado, com a condição de poder se ausentar do país pelo tempo 
que fosse necessário ao seu restabelecimento. Epitacio, após diversos 
telegramas, aceita, é eleito e reconhecido. Nos quatro últimos dias da 
sessão legislativa, comparece ao Senado e, em seguida, parte com toda 
a família para a Europa, de onde retornaria apenas em 1914, três meses 
antes de rebentar a primeira Guerra Mundial.
1913 — Realiza-se no Rio de Janeiro um comício contra a carestia, reunindo 
mais de dez mil pessoas. Morre Campos Sales. Estoura a Revolução 
do Juazeiro, no Ceará: o Padre Cícero alia-se aos coronéis contra o 
Governador Franco Rabelo, imposto pelo governo de Hermes da Fonseca, 
que decreta estado de sítio. Rui Barbosa funda o Partido Liberal.
1914 — Venceslau Braz é eleito Presidente da República. Em julho, o Império 
Austro-húngaro declara guerra à Sérvia. Começa a Primeira Guerra 
Mundial.
32
Memória Jurisprudencial
1915 — O Senador Pinheiro Machado é assassinado por Francisco Manso de 
Paiva, no Rio de Janeiro. Em 26 de dezembro o Congresso Nacional 
aprova o Código Civil brasileiro.
1916 — Aumentam os protestos e as greves contra a carestia. O tenor italiano 
Enrico Caruso visita o Brasil e se apresenta em São Paulo, interpre-
tando a ópera francesa Carmen, de Bizet. O serviço militar torna-se 
obrigatório em todo o Brasil.
1917 — Submarinos alemães disparam torpedos contra o navio Paraná, na costa 
francesa. Em represália, o Governo brasileiro confisca navios alemães 
ancorados nos portos do país. Em junho, três milhões de sacas de café 
estocadas são queimadas, para evitar a queda nos preços. Anita Malfatti 
realiza exposição de suas obras em São Paulo. Manuel Bandeira publica 
A Cinza das Horas. A música Pelo Telefone, de Donga, passa a ser 
o primeiro samba gravado no Brasil. Em outubro, o navio brasileiroMacau é afundado pelos alemães. O Brasil declara guerra à Alemanha.
1918 — Rodrigues Alves e Delfim Moreira são eleitos Presidente e Vice-
Presidente da República. A “gripe espanhola” faz milhares de ví-
timas. Em São Paulo, oito mil pessoas morrem em apenas quatro 
dias. O Presidente eleito, Rodrigues Alves, adoece contaminado pela 
moléstia. Delfim Moreira assume interinamente. Morre Olavo Bilac. 
Monteiro Lobato publica Urupês. Em novembro, termina a Primeira 
Guerra, com a assinatura de armistício entre a Alemanha e os Aliados.
1919 — Epitacio Pessôa chefia a delegação brasileira que parte, em janeiro, 
para a Conferência de Paz, em Versalhes. No final de janeiro, morre 
no Rio Rodrigues Alves. A Constituição determinava a realização de 
novas eleições, que são convocadas para abril. Mesmo ausente do país, 
Epitacio Pessôa é eleito Presidente da República com 249.324 votos, 
contra 118.303 votos obtidos por Rui Barbosa.
1920 — O Presidente Epitacio cria a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 
Por ordem sua, fica proibida a participação de jogadores negros no 
selecionado brasileiro de futebol. Monteiro Lobato publica Negrinha.
1921 — Hermes da Fonseca é eleito Presidente do Clube Militar. Em outu-
bro, são publicadas no Correio da Manhã cartas atribuídas a Artur 
Bernardes ofensivas ao marechal Hermes. Freire Júnior compõe a 
marchinha carnavalesca Ai, Seu Mé!, cuja letra satirizava o candidato 
à Presidência Artur Bernardes. A música é proibida e seu autor, preso.
1922 — Ano do centenário da Independência do Brasil. Em fevereiro, realiza-
se em São Paulo a Semana de Arte Moderna. No dia 25 de março, 
é fundado no Rio o Partido Comunista Brasileiro. Artur Bernardes é 
33
Ministro Epitacio Pessôa
eleito Presidente da República. O Exército intervém nas eleições de 
Pernambuco, gerando uma reclamação de Hermes da Fonseca. Epitacio 
Pessôa manda fechar o Clube Militar e ordena a prisão do marechal 
Hermes. As guarnições da Vila Militar, da Escola Militar e do Forte 
de Copacabana se rebelam no dia 5 de julho e pedem a deposição de 
Epitacio. No dia seguinte, os revoltosos do Forte de Copacabana mar-
cham pela Avenida Atlântica, sendo fuzilados pelas tropas do Governo. 
Apenas dois sobrevivem. No dia 15 de novembro, o mineiro Artur 
Bernardes toma posse na Presidência da República.
1923/ — Epitacio Pessôa ocupa o cargo de Juiz da Corte Permanente de Justiça
1930 Internacional, sediada em Haia, na Holanda.
1942 — No dia 13 de fevereiro, aos 76 anos, falece Epitacio Pessôa, na cidade 
de Petrópolis, Rio de Janeiro.
1965 — No ano do centenário de seu nascimento, os restos mortais de Epitacio 
Pessôa e de sua esposa, D. Mary Sayão Pessôa, são transportados 
do Rio de Janeiro para João Pessôa, na Paraíba. No mês de maio, o 
Congresso Nacional e o STF realizam sessões solenes em homenagem 
ao centenário de nascimento de Epitacio Pessôa. O Instituto Nacional 
do Livro, do Ministério da Educação, publica as Obras Completas de 
Epitacio Pessôa.
34
Memória Jurisprudencial
2. O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL DE EPITACIO PESSÔA — 
O DIREITO E A POLÍTICA NA REPÚBLICA VELHA
Epitacio Pessôa foi Ministro do STF pelo período de dez anos, entre 1910 
e 1912. Tinha apenas 36 anos de idade quando foi nomeado, mas já havia sido 
Ministro da Justiça de Campos Salles (1898-1901) e Deputado Constituinte 
pelo Estado da Paraíba em 1891. Depois de se aposentar do cargo de Ministro 
do STF, chegaria a Senador (1912-1919) e Presidente da República (1919-1922). 
Fora do comum, a sua biografia já foi escrita, pela filha, Laurita Pessoa Raja-
Gabaglia, em edição do ano de 1951.
Sua obra jurídica e trajetória política foram fartamente documentadas 
com a publicação das Obras Completas de Epitacio Pessôa, coleção editada 
pelo Ministério da Educação em 1965. O volume III dessa coleção, cujo prefá-
cio é assinado por Sobral Pinto, é dedicado aos acórdãos e votos do Ministro 
Epitacio Pessôa no STF. Estudiosos da história do Supremo, como Leda Boechat 
Rodrigues, Emilia Viotti da Costa, Aliomar Baleeiro e Andrei Koerner, escre-
veram importantes passagens de suas respectivas obras sobre o protagonismo 
do Ministro Epitacio Pessôa na formação da jurisprudência do STF durante 
aquela primeira e decisiva década do século XX.
Com efeito, o estudo das fontes primárias e secundárias de e sobre 
Epitacio Pessôa ilumina um período especialmente importante, a fundação 
das instituições republicanas do país. As balizas e os propósitos desta coleção, 
Memória Jurisprudencial, do STF, impõem, todavia, maior delimitação desse 
foco de luz. O resultado, no entanto, é parecido. Descobre-se, a partir da leitura 
das decisões das quais participou ativamente o Ministro Pessôa, mas principal-
mente a partir dos vários casos que julgou, na maior parte das vezes liderando 
a maioria do Tribunal, a edificação das instituições jurídicas nacionais: a duali-
dade da Justiça e a unidade do Direito; a prevalência da Constituição (formal e 
materialmente) sobre as leis estaduais; o modo presidencialista de composição 
do Judiciário, repetido no âmbito estadual; o legalismo positivista e o raciocínio 
lógico-dedutivo que o acompanha; a utilização de instrumentos jurídico-pro-
cessuais de caráter mandamental contra ilegalidades e abusos (mandados proi-
bitórios, interditos, habeas corpus) para a garantia de direitos fundamentais.
Esse período, contudo, não evoca apenas memórias edificantes. Houve 
também muitos motivos para acreditar que, ao lado da cultura republicana de 
direitos que o Supremo começava fomentar, eram mantidos e até aprimora-
dos mecanismos de fuga da legalidade constitucional: exploração do trabalho, 
fraudes eleitorais, oligarquias políticas, patrimonialismo, autoritarismo polí-
tico. Afinal, a história republicana brasileira não registra outro período como 
o que experimentamos na vigência da Constituição de 1988, vinte anos sem 
35
Ministro Epitacio Pessôa
golpes de Estado ou decretação de estado de sítio no país, e com a vigência 
simultânea de normas que estabeleçam: a realização de concursos públicos 
para o preenchimento dos cargos do Estado; a licitação para a contratação de 
serviços e aquisição de bens; a universalidade do sufrágio popular e o sigilo 
do voto; o controle concentrado da constitucionalidade das leis; a defesa do 
consumidor; o direito de greve. Na atualidade, até os conflitos sociais, como 
os conflitos pela terra no campo ou pela moradia nas cidades, ou ainda os con-
flitos de gênero, de raça, étnicos, trabalhistas, todos encontram amparo e fun-
damento na própria Constituição, o que, de algum modo, os coloca dentro da 
normalidade constitucional.
No passado do Brasil republicano, contudo, os parâmetros da dignidade 
da pessoa e seus direitos fundamentais, da unidade, da força normativa e da 
supremacia da Constituição mal começavam a se tornar realidade, eram atrope-
lados por medidas de exceção, ou mesmo por rupturas da ordem constitucional, 
situações que provocavam a sensação de recomeço a cada nova restauração da 
normalidade democrática.2
A própria Constituição de 1891 passaria sua primeira década de vigência 
em fase de ensaio. Paulo Bonavides, inspirado em Lassale3, afirma, a propó-
sito de nossas fundações republicanas, que entre a “Constituição jurídica e a 
Constituição sociológica havia enorme distância” e que “nesse espaço se cavara 
também o fosso social das oligarquias e se descera ao precipício político do su-
frágio manipulado”. Tudo isso para lembrar que, na República Velha, os fatores 
reais do poder teimaram em predominar sobre o texto conciso, elegante e liberal 
da Constituição de 1891, pois “ao redor da autoridade presidencial gravitavam 
2 “O desrespeito à legalidade constitucional acompanhou a evolução política brasileira como 
uma maldição, desde que D. Pedro I dissolveu a primeira Assembléia Constituinte. Dasrebeliões 
ao longo da Regência ao golpe republicano, tudo sempre prenunciou um enredo acidentado, 
onde a força bruta diversas vezes se impôs sobre o Direito. Foi assim com Floriano Peixoto, com 
o golpe do Estado Novo, com o golpe militar, com o impedimento de Pedro Aleixo, com os Atos 
Institucionais. Intolerância, imaturidade e insensibilidade social derrotando a Constituição.” 
BARROSO, Luis Roberto; BARCELOS, Ana Paula de. O Começo da História: A nova interpre-
tação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro. Disponível em: http://www.
camara.rj.gov.br/setores/proc/revistaproc/revproc2003/arti_histdirbras.pdf. Acesso em 15 de 
abril de 2009.
3 Ferdinand Lassale é um dos autores mais importantes para o desenvolvimento da teoria cons-
titucional. Sua obra sobre o tema é um clássico: A Essência da Constituição (conferência para 
intelectuais e operários da Prússia em 1863) é considerada precursora de muitos debates centrais 
dentro do constitucionalismo moderno, especialmente no que se refere à questão da eficácia das 
regras de uma constituição e — o que parece dar no mesmo — à questão das limitações práticas 
(políticas), ou debilidade jurídica das constituições escritas para a realização de grandes pro-
messas, além de naturalmente suscitar os debates sobre a questão do poder constituinte. Lassalle 
não acreditava na chamada “força normativa da constituição escrita”. Com certo menosprezo, 
ele a chamava de “folha de papel”, em oposição à verdadeira constituição de uma sociedade, 
para Lassalle, a soma de seus “fatores reais de poder”.
36
Memória Jurisprudencial
todas as dependências, todas as influências, todos os interesses. (...) O Presidente 
da República era um monarca eletivo que se substituía a cada quatriênio”.4
Outro registro parecido com o de Bonavides foi feito pelo brasilianista 
inglês Ernest Hambloch, que publicou em 1934 o instigante Sua Majestade, 
o Presidente do Brasil. Residente há vintes anos no Brasil, Hambloch ocupa va 
então o cargo de Secretário da Câmara Britânica de Comércio, no Rio de 
Janeiro. Sua obra atraiu a ira de nacionalistas durante os anos da ditadura do 
Estado Novo5, mas sua análise, ou melhor, sua crítica do presidencialismo, visto 
como regime autoritário e controlado por caudilhos, se dirigia ao período ante-
rior, a primeira República. Vale a transcrição:
(...) Não foi a existência de uma cabeça coroada que preocupou os republi-
canos durante a monarquia. Foi a Coroa que se tornou a sua obsessão. Repetiam 
como papagaios: “A monarquia deve ser destruída!” Mas quando os Catões 
republicanos fizeram isso, ou melhor, deixaram que o fizessem para eles, nada 
encontraram para colocar no lugar do regime liberal de uma monarquia constitu-
cional. Reformar o sistema político desenvolvido durante o Império e trazer a sua 
aplicação até os dias atuais teria feito do Brasil um país realmente livre. O que 
estava em jogo, entretanto, não era dar maior liberdade ao indivíduo. O cidadão 
tinha progredido lenta, mas seguramente sob a monarquia. O que estava em jogo 
era dar ao novo cidadão a ilusão de uma Constituição inteiramente nova como a 
única garantia sólida da liberdade republicana. A ilusão não durou muito! A lei 
constitucional republicana foi aprovada a 24 de fevereiro de 1891. No dia 3 de no-
vembro desse mesmo ano o primeiro Presidente constitucional da República dis-
solveu o Congresso e declarou um estado de sítio. Todos os Presidentes brasileiros 
subseqüentes, com duas exceções, prestaram-lhe homenagem da mais sincera 
adulação, imitando-o! Mas não chegaram à medida inconstitucional de dissolver 
o Congresso. A prática tornou-se perfeita. Eles tinham empregado o estado de 
sítio sem dúvida ou hesitação — e caminharam em direção ao despotismo, com 
a aprovação servil do Congresso. O povo brasileiro foi compelido à aquiescência 
nas liberdades republicanas pelos métodos altamente persuasivos dos majores.6
(Sem grifos no original.)
Essa análise pessimista vale, sobretudo, para os primeiros dez anos de vi-
gência do texto de 1891, quando conflitos intensos ameaçaram e questionaram a 
4 BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História Constitucional do Brasil. Brasília: Paz 
e Terra Política, 1988. p. 252.
5 “His Majesty The President of Brazil, escrito por Hernest Hambloch, causou grande im-
pressão pública, quando publicado. Como reação instantânea apareceu Esmagando a Víbora. 
Crítica ao Volume His Majesty The Presidente. Sua Majestade, o Presidente. A Afronta ao 
Brasil e com o autor escondido sob o pseudônimo Brasil Libero. Na explicação introdutória, 
escrevia-se um violento artigo contra os banqueiros estrangeiros que queriam ‘transformar a 
pátria brasileira num Protetorado da agiotagem internacional...” RODRIGUES, José Honório. 
Introdução. In: HAMBLOCH, Ernest. Sua Majestade, o Presidente do Brasil: Um estudo do 
Brasil Constitucional (1889-1934). Brasília: UnB, 1981. p. 9 (Coleção Temas Brasileiros).
6 HAMBLOCH, Ernest. Sua Majestade, o Presidente do Brasil: Um estudo do Brasil 
Constitucional (1889-1934). Brasília: UnB, 1981. p. 57 (Coleção Temas Brasileiros).
37
Ministro Epitacio Pessôa
solidez do novo regime. Período histórico que, visto a partir dos valores republi-
canos e constitucionais de hoje, apresenta copiosos exemplos de desrespeito aos 
limites constitucionais da ação do Estado e aos direitos fundamentais básicos 
dos cidadãos brasileiros.7
Reduzidas após 1898, mas não superadas definitivamente, as tensões po-
líticas foram a marca maior de toda a primeira fase republicana. Nesse cenário 
de tensões e estréias institucionais, merece destaque a atuação de um antigo 
Conselheiro do Império, o advogado, político e jornalista baiano Rui Barbosa, 
que assumiu o papel e a responsabilidade de verdadeiro founding father da 
República recém-nascida.8
Rui Barbosa também contribuiu como protagonista para edificar as fun-
dações republicanas da mais alta Corte de Justiça do Brasil, o STF. Não foi 
Ministro do Supremo, mas há fartos registros de que as feições americaniza-
das do STF são fruto de sua intervenção direta na revisão feita pelo Governo 
Provisório aos projetos da “Comissão dos Cinco”.9 Em toda a carreira, Rui foi 
árduo defensor da Corte, mesmo quando suas teses eram derrotadas no Plenário 
do STF.
7 “Tanto o episódio de Canudos quanto o da Revolta da Vacina, com suas evidentes afinidades, 
são dos mais exemplares para assinalar as condições que se impuseram com o advento do tempo 
republicano. Um tempo mais acelerado, impulsionado por novos mecanismos energéticos e tec-
nológicos, em que a exigência de acertar os ponteiros brasileiros com o relógio global suscitou 
a hegemonia de discursos técnicos, confiantes em representar a vitória inelutável do progresso e 
por isso dispostos a fazer valer a modernização ‘a qualquer custo’. (...) Casos como esses se mul-
tiplicaram, como se sabe, em outros episódios trágicos como, apenas para ilustrar, a Guerra do 
Contestado (1912-1916) na fronteira entre o Paraná e Santa Catarina ou o bombardeio desumano 
da população paulista quando da Revolta de 1924, seguido de execução sumária de imigrantes.” 
SEVCENKO, Nicolau. Introdução — O prelúdio republicano: Astúcias da ordem e ilusões do 
progresso. In: História da Vida Privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 27 
(República: Da belle époque à era do rádio, 3).
8 “Rui Barbosa, no cair da noite de 15 de novembro, sentou-se, de caneta em punho, defronte 
duma resma de papel almaço, institucionalizando, os fatos da manhã. E assim, antes que vol-
tasse ao solo toda a poeira da cavalgada de Deodoro, começou este a assinar o Decreto orgânico 
que instituía o Governo Provisório da nova República. Seguiram-se a separação da Igreja e do 
Estado e, dia a dia, inovações políticas e jurídicas de toda espécie...” BALEEIRO, Aliomar. 
Constituições Brasileiras: 1891. Brasília: Senado Federale Ministério da Ciência e Tecnologia, 
Centro de Estudos Estratégicos, 1999. p. 14.
9 “O Supremo Tribunal Federal somente adquiriu um perfil quase idêntico ao da Suprema 
Corte norte-americana a partir das emendas de Rui Barbosa, que resultaram no projeto do 
Governo Provisório. Nesse projeto foram suprimidas as atribuições do Legislativo de estabele-
cer a interpretação autêntica e de velar na guarda da Constituição. A competência foi ampliada 
para todas as questões decididas pelos juízes e tribunais estaduais que negassem a validade de 
leis federais. (...) Também foi proibido que o Congresso transferisse qualquer jurisdição federal 
a tribunais dos estados e foi estabelecida a supremacia da jurisdição federal sobre a estadual. (...) 
A emenda de Rui Barbosa estabeleceu que os ministros seriam nomeados pelo Presidente da 
República, com a aprovação do Senado, dentre cidadãos elegíveis para este cargo.” KOERNER, 
Andrei. Judiciário de Cidadania na Constituição da República Brasileira. São Paulo: Hucitec, 
Departamento de Ciência Política, USP, 1998. p. 155-156.
38
Memória Jurisprudencial
Uma pequena demonstração desse “carinho” nutrido por Rui pelo 
Supremo está no discurso proferido ao assumir a Presidência do Instituto dos 
Advogados, em 1914. Na ocasião, paternal, Rui Barbosa aproveitava a tribuna 
para atirar suas setas sobre o Senado, então liderado por Pinheiro Machado, 
e sobre a ameaça de reforma constitucional que pretendia retirar poderes da 
Justiça Federal e do próprio STF, principalmente em razão do ativismo judicial 
construído em torno da “doutrina brasileira do habeas corpus”. Rui Barbosa 
ironizava os que à época reclamavam da “ditadura da justiça”. Vale novamente 
a transcrição:
Em vez de ser o Supremo Tribunal Federal, tal qual nossa Constituição 
o declarou, o derradeiro árbitro da constitucionalidade dos atos do Congresso, 
uma das câmaras do Congresso passaria a ser a instância de correição para a 
sentença do Supremo Tribunal Federal.
(...) A investida reacionária de nulificação da justiça, que se esboça no 
grandioso projeto de castração do Supremo Tribunal Federal, tem por grito 
de guerra, conclamado em brados trovejantes, a necessidade, cuja impressão 
abrasa o peito a generosas coortes, de por tranca ao edifício republicano contra 
a ditadura jurídica. Santa gente. Que afinado que lhes vai nos lábios, onde se tem 
achado escusas para todas as ditaduras da força, esse escarcéu contra a ditadura 
da justiça!
Os tribunais não usam espadas. Os tribunais não dispõem do Tesouro. 
Os tribunais não nomeiam funcionários. Os tribunais não escolhem deputados e 
senadores. Os tribunais não fazem ministros, não distribuem candidaturas, não 
elegem e deselegem presidentes. Os tribunais não comandam milícias, exércitos 
e esquadras. Mas é dos tribunais que se temem e tremem os sacerdotes da ima-
culabilidade republicana.10
A reforma constitucional, que estabeleceria limites para a atuação do 
Supremo Tribunal em questões políticas, só viria em 1926, já nos últimos 
anos da decadente República Velha. Mas, antes disso, o Tribunal seria palco 
de grandes causas políticas, que surgiam em momentos de grave crise ins-
titucional e quando não estava ainda em seu melhor funcionamento o novo 
sistema de freios e contrapesos previsto na Constituição. Sistema que, logo 
após sua criação, em 1891, precisou ser reinventado, partindo-se do remé-
dio constitucional então disponível para a defesa das liberdades públicas, o 
 habeas corpus.
Essa militância obstinada de Rui Barbosa e de vários Ministros da Corte, 
com destaque para a atuação do Ministro Pedro Lessa, provocou a criação juris-
prudencial mais original e ousada politicamente do Supremo, a “doutrina brasi-
leira do habeas corpus”, precursora da garantia constitucional do mandado de 
10 BARBOSA, Rui. O Supremo Tribunal Federal na Constituição Brasileira. In: Escritos e 
Discursos Seletos. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1960. p. 569.
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Ministro Epitacio Pessôa
segurança — criado em 1934 — contra abusos e ilegalidades do Estado em face 
dos direitos públicos subjetivos.11
Pois foram ambos, doutrina e “autores”, em mais de uma ocasião, comba-
tidos à altura de seu brilhantismo intelectual pelo Ministro Epitacio Pessôa — 
outro fenômeno da política na primeira República. Ortodoxo, o Ministro Pessôa 
resistia em admitir cabimento de habeas corpus que não fosse para salvaguar-
dar exclusivamente o direito de locomoção. Conservador por formação e con-
vicção, Epitacio Pessôa fez contraponto ao liberalismo de Rui Barbosa dentro e 
fora do Supremo, no Direito e na Política.
No entanto, Epitacio só chegaria ao Supremo no final do governo de 
Campos Salles, em 1902. Àquela altura, Rui Barbosa já havia se notabilizado 
por levar para o Plenário do Supremo o calor das disputas políticas, enfren-
tando os jacobinos partidários de Floriano Peixoto, arriscando-se para fazer 
valer o império da Constituição.12 Suas primeiras tentativas, como se sabe, fra-
cassaram. Foi preciso, em alguns casos, esperar longos anos até que ocorresse 
alguma mudança efetiva na jurisprudência do Tribunal, e para que se observas-
sem no Brasil as primeiras manifestações do novo sistema de checks and balan-
ces e de garantia de direitos.
Apesar de o STF ser, em 1890, quando foi criado, um órgão completa-
mente novo em suas competências e funções, seus primeiros quinze membros 
foram escolhidos entre os velhos colaboradores do antigo regime. Tendo sido 
mantidos por Deodoro, esses juristas integraram o vetusto Supremo Tribunal de 
Justiça do Império luso-brasileiro e aderiram tardiamente à causa republicana, 
conforme a análise precisa de Aliomar Baleeiro:
(...) talvez por economia, Deodoro aproveitou para o recém-criado 
Supremo Tribunal Federal vários dos barões e conselheiros da mais alta Corte 
11 “Sem embargo do ousado e creio que injusto libelo de João Mangabeira, quando, há perto 
de 30 anos, afirmou que o malogro da democracia representativa no Brasil se devia ao Supremo 
Tribunal Federal, este desempenhou, como lhe foi possível, sua missão política, protegendo a 
liberdade e direitos individuais, assegurando o equilíbrio federativo e impondo a supremacia da 
Constituição e das leis federais. Ainda não se apagaram as recordações dos atritos tormentosos 
do Supremo com Floriano, Prudente e Hermes da Fonseca. A construção da chamada teoria 
brasileira do habeas corpus com Ruy e Pedro Lessa, até mesmo nos seus exageros e aberrações, 
oferece um exemplo honroso do esforço tenaz do Supremo para proteção dos direitos, garan-
tias e liberdades.” BALEEIRO, Aliomar. O Supremo Tribunal Federal. Revista Brasileira de 
Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 34, p. 36, 1972. Separata.
12 “Essas atitudes de desassombro, batendo às portas dos Tribunais, ou utilizando a tribuna do 
Senado ou a pena de jornalista, onde quer que se registrasse abuso de poder contra as liberdades 
públicas e direitos individuais, algumas vezes em favor de adversários e até de inimigos, fizeram 
de Rui um mito nacional, porque assim continuou pela vida afora ao longo de 30 anos, durante 
os quais conseguiu incutir no Supremo Tribunal Federal o seu papel de guardião da Constituição 
e das leis.” BALEEIRO, Aliomar. Constituições Brasileiras: 1891. Brasília: Senado Federal e 
Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 1999. p. 56.
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Memória Jurisprudencial
do Império: o visconde de Sabará, com 73 anos; Andrade Pinto, com 65 anos 
“moço fidalgo da Casa Imperial e último Morgado do Inferno em Lisboa”; 
Araripe, 69 anos, ex-presidente de duas províncias; Freitas Henrique, 68 anos, 
ex-presidente de quatro províncias; J. F. Faria, 65 anos, ex-procurador da 
Coroa; J. M. Uchoa, 71 anos, ex-presidente de província e procurador da Coroa; 
Queiroz Barros, 73 anos, remanescente da Revolução Praieira; Souza Mendes, 
67, ex-vice-presidentede província; Trigo de Loureiro, 62; Barradas, 54, desem-
bargador que não chegou ao Supremo Tribunal de Justiça, mas presidiu duas 
províncias; Barão de Sobral, um dos mais novos com 49 anos; Barão de Lucena, 
ex-presidente de quatro províncias; Barão de Pereira Franco, ex-presidente de 
província e ex-ministro em dois gabinetes monárquicos; Barros Pimentel, ex-
Presidente de província e deputado em 5 legislaturas do Império... Por maiores 
que fossem os títulos e virtudes desses juristas, eram políticos de mentalidade 
umbilicalmente vinculados ao passado oposto às instituições novas, das quais 
talvez não houvessem assimilado a razão de ser.13
O STF foi criado pelo Decreto 848, de 11 de outubro de 1890 — 
documen to normativo equivalente ao Judiciary Act norte-americano, de 1789, 
de onde abertamente nosso Governo Provisório fora retirar o modelo.14 Meses 
antes, o Decreto 510, de 22 de junho de 1890, que implantou uma constituição 
provisória no Brasil, dispôs sobre a composição (quinze ministros)15, as compe-
tências e a criação do STF.
Confirmado pela Constituição de 24 de fevereiro de 1891, o Tribunal foi 
instalado quatro dias depois, sob a Presidência interina do Visconde de Sabará, 
Ministro João Evangelista de Negreiros Saião Lobato.
Emilia Viotti da Costa observa que muito pouco foi alterado nas caracte-
rísticas e funções essenciais do Supremo ao longo de sua secular história repu-
blicana. Mas exatamente por ter assumido, desde o início, o papel de instância 
jurídica de controle sobre os demais Poderes, papel antes exercido pelo Poder 
13 BALEEIRO, Aliomar. O Supremo Tribunal Federal. Revista Brasileira de Estudos Políticos, 
Belo Horizonte, n. 34, p. 13, 1972. Separata.
14 “Campos Sales, naquele Decreto nº 848, de 1890, marco inicial da Justiça da União e do pró-
prio Supremo, inspirou-se na Lei Judiciária norte-americana de 1789, para definir a competência 
de nossa mais alta Corte.” BALEEIRO, Aliomar. O Supremo Tribunal Federal, esse outro des-
conhecido. Rio de Janeiro: Forense, 1968. p. 90
15 “Diferentemente da Constituição dos Estados Unidos (de acordo com a Constituição brasi-
leira de 1891), os presidentes dos tribunais eram eleitos por seus pares e o Procurador-Geral da 
República seria designado pelo Presidente da República entre os Ministros do Supremo. Estes 
deveriam ser nomeados pelo Presidente da República dentre cidadãos ‘de notável saber e reputa-
ção, elegíveis para o Senado’ (isto é, maiores de 35 anos). Como o texto não dizia que o ‘saber’ 
devia ser especificamente jurídico, Floriano nomeou para o STF um general e um médico. Este, 
Barata Ribeiro, chegou a exercer o cargo. Mas o Senado assentou que só juristas poderiam ser 
Ministros do STF.” BALEEIRO, Aliomar. Constituições Brasileiras: 1891. Brasília: Senado 
Federal e Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 1999. p. 38.
41
Ministro Epitacio Pessôa
Moderador16, sua história seria marcada por conflitos políticos, para os quais é 
freqüentemente chamado a dar respostas definitivas. Nas palavras de Viotti da 
Costa, “inevitavelmente levado a participar das lutas políticas que se travam 
à sua volta e sofrendo suas conseqüências, o Supremo Tribunal Federal é ao 
mesmo tempo agente e paciente dessa história”17.
O regime constitucional de 1891 não previa decerto o controle abstrato 
de constitucionalidade das leis, atualmente bastante utilizado pelo STF no jul-
gamento das ações diretas. Aliás, esse tipo de intervenção judicial direta na ati-
vidade política, de que dispõe o Supremo hoje, chamado de “modelo austríaco”, 
em oposição ao modelo americano que adotáramos então, não havia sido ainda 
nem inventado18.
Mas, nos termos da Constituição de 1891, o Tribunal já era competente 
para julgar os crimes comuns do Presidente da República e dos Ministros de 
Estado, incluídos aí os diplomatas. No exercício dessa competência, o Tribunal 
chegou a julgar, na época, um caso criminal célebre, que ficou conhecido como 
o “Caso das Pedras”, em que o Ministro da Fazenda e o Presidente do Tribunal 
de Contas da União eram acusados de peculato, supostamente envolvidos numa 
trama de indenizações fraudulentas. Epitacio Pessôa atuou nesse caso como 
Procurador-Geral da República, pedindo a condenação dos acusados.19
Era do Tribunal também a função de arbitragem dos conflitos federa-
tivos (entre Estados e entre estes e a União) e de jurisdição (juízes federais e 
estaduais).
Como tribunal de apelação, era sua a competência para julgar, em grau de 
recurso ordinário ou de agravo, as questões resolvidas pelos juízes e tribunais 
federais.
Além disso, o Supremo passaria a controlar, em sede de recurso extraor-
dinário, as decisões de última instância das Justiças dos Estados: quando nelas 
16 “Na ausência da figura do imperador, era necessário definir a última instância para resolução 
de conflitos públicos e privados, uma vez que desaparecera com ele aquela função. O imperador, 
na verdade, já havia pensado em introduzir no Brasil uma instituição, similar à Suprema Corte 
dos Estados Unidos da América, que assumisse muitas das responsabilidades até então atribuí-
das a ele (Poder Moderador) e ao Conselho de Estado. Essa idéia, entretanto, só vingaria depois 
da queda da Monarquia.” COSTA, Emilia Viotti da. O STF e a Construção da Cidadania. 2. ed. 
São Paulo: IEJE, 2007. p. 30.
17 Idem, p. 29.
18 O primeiro regime a prever o controle abstrato de constitucionalidade foi o austríaco por 
influência direta de Hans Kelsen que o concebeu. Sob a influência do pensamento de Kelsen, a 
Constituição austríaca de 1920 inovou ao introduzir essa nova e concentrada forma de controle 
da constitucionalidade das leis e atos normativos, exercida por um Tribunal constitucional, a 
quem caberia a função exclusiva de guarda da integridade da Constituição.
19 RAJA-GABAGLIA, Laurita Pessoa. Epitacio Pessôa (1965-1942). Rio de Janeiro: José 
Olympio, 1951, p. 178-187.
42
Memória Jurisprudencial
se questionasse a validade ou a aplicação de tratados e leis federais e a decisão 
do tribunal do Estado fosse contra essa validade; e quando se contestasse a va-
lidade de leis ou de atos dos Governos dos Estados em face da Constituição, ou 
das leis federais, e a decisão do tribunal estadual houvesse considerado válidos 
esses atos, ou essas leis impugnadas.20
Com todas essas competências, a vocação e o destino político do STF 
estavam de fato traçados desde sua criação.
Naqueles primeiros tempos, no entanto, essa vocação não foi tão positiva 
para o Tribunal. Os poderes da República nascente, apesar da fórmula consti-
tucional da harmonia e independência recíproca21, tiveram especial predileção 
pelo atrito e pouca, ou pelo menos insuficiente, atenção a certos mandamentos 
constitucionais, então carentes de supremacia efetiva e força normativa. O qua-
dro político também não favorecia as soluções jurídicas e pacíficas da jurisdição 
constitucional, pois, em situações de crise aguda, na maioria das vezes, imperou 
o arbítrio e a manipulação. Nem o STF ficaria imune à influência das oligar-
quias que dominaram o período.22
Emilia Viotti da Costa classifica esse período inicial da história do STF 
como um “difícil aprendizado”. Ela também registra outra curiosidade, o vivo 
interesse com que a sociedade brasileira já acompanhava os primeiros passos 
do Tribunal:
No meio desses confrontos múltiplos, o recém-criado Supremo Tribunal 
Federal era chamado a se manifestar, julgando pedidos de habeas corpus. 
As decisões eram examinadas pela imprensa e debatidas na Câmara. Os minis-
tros tornavam-se alvo de críticas, de defesas e ataques. As sessões eram concor-
ridas. O Tribunal transformava-se em teatro para o gozo do público que lotava 
as galerias e se manifestava ruidosamente a favor e contra: vaiava, assobiava, 
aplaudia os discursos e os acórdãos, apesar das reiteradas advertências

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