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Aulas de Psicologia da Saúde

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Aulas de Psicologia da Saúde
Objetivo:
O principal objetivo de estudo desta disciplina é a subjetividade. Esta dimensão do indivíduo pode interferir tanto no processo de cura quanto na atuação das equipes multidisciplinares.
A relevância do estuda da psicologia evidencia-se no tratamento, sobretudo dos transtornos psicossomáticos, nos quais há uma inter-relação casual entre corpo e mente.
A pratica dos profissionais de saúde exige um trabalho multidisciplinar. Entender a complexidade deste trabalho em equipe é de imensa relevância para a produção de novos conhecimentos e dá suporte ao profissional de saúde na promoção da qualidade de vida e no processo de cuidar.
Aula 1- Introdução à Psicologia da Saúde
Nesta aula, você aprenderá sobre a origem da Psicologia. A subjetividade vem sendo investigada e discutida desde os filósofos clássicos. Eles contribuíram muito no entendimento da relação que o corpo mantém com a mente.
As origens da Psicologia-Há mais de dois mil anos, a atenção dos filósofos se voltou para o funcionamento do psiquismo, quando se impuseram a buscar revelar os processos subjetivos, a memória, a aprendizagem e a razão. Desde então, a explicação destes fenômenos é objeto de um constante movimento de acumulação e mudança de paradigmas.
Os filósofos clássicos, para conduzir esta análise, pensaram, primeiramente, como a subjetividade se constitui, como se pensa, como podemos entender a dimensão, ou como eles gostavam de intitular, da alma. Assim, aparecem nesta dimensão distintas explicações, portadoras de um tipo de abordagem própria de cada uma.
Podemos revisitar o século V a.C. para acompanharmos por um breve momento como a Filosofia Clássica já se preocupava em entender a natureza humana, nosso próprio comportamento, a natureza e os atos humanos.
São justamente os filósofos gregos como Platão e Aristóteles que tratam das primeiras tentativas de sistematizar o “estudo da alma", da psyché, que em grego significa “alma”.
Sócrates, por exemplo, buscava traçar o limite entre os instintos e a razão. Assim, aparece neste lugar descontínuo do pensamento grego a razão como a própria essência do homem, a consciência.
Platão, por sua vez, procurou definir um lugar para a razão. Descrevia então o corpo como sede da alma.
A noção de uma continuidade entre corpo e alma toma um lugar importante na Filosofia Clássica com Aristóteles. De forma inovadora, esse filósofo já antecipava o olhar holístico postulando que alma e corpo estão associados.
No movimento de transformações desde a Filosofia até a Psicologia Moderna, vemos que o saber da Psicologia não se fecha em uma única teoria sobre a subjetividade, muito menos em uma única área de atuação. Teorias, por sua vez, são formações discursivas, não são traduções literais dos fatos. São as teorias, entretanto, que nos ajudam a orientar nossa prática.
Uma teoria é um conjunto de convenções. São hipóteses a respeito de uma realidade não predeterminada pela natureza ou pelos dados empíricos. Trata-se de uma construção explicativa sobre a estrutura de um dado fenômeno. Não basta uma teoria ser atraente: ela deve ser útil. Uma teoria útil organiza eficazmente uma série de observações e relatos e faz pressuposições claras para inferir aplicações práticas.
Myers define as boas teorias como “a capacidade de organizar e estabelecer relações, de implicar hipóteses que oferecem predições testáveis e aplicações práticas”.
Psicologia Clínica
A Psicologia que queremos enfatizar é a clínica, que concerne à relação interdisciplinar que mantém com o campo da saúde mental em geral, e com o campo do cuidado em particular. Não devemos esquecer que os psicólogos jamais apreendem diretamente a subjetividade, e que o sujeito que tratamos não pode ser reduzido somente ao somatório de suas expressões ou de seus sintomas, muito menos à soma de seus comportamentos. O que está por trás da soma dos comportamentos é o que deve ser trabalhado pelo psicólogo, para que se revele o sentido da palavra do sujeito.
O que, na interdisciplinaridade entre Psicologia e disciplinas da área da saúde, pode auxiliar no entendimento do sofrimento? Uma das contribuições relevantes é a afirmação de que os atos do sujeito não são um simples comportamento, mas têm uma significação. O sujeito com o qual a Psicologia lida não é um ser estático e acabado, mas está em permanente estado de construção.
Como as psicoterapias entendem, por exemplo, o sintoma? As psicoterapias tomam o sintoma como o que é da ordem da narrativa, como o sujeito fala de suas doenças, como ele a sente. É justamente nesta perspectiva que os sintomas podem ser interpretados. Eles não são somente o indício de que algo não vai bem, mas sim, que têm um sentido que pode ser traduzido e conscientizado.
A diversidade da clinica
A clínica autoriza, portanto, o saber sobre o individual. A clínica surge quando o saber tem como objeto o sujeito. A clínica das diferentes abordagens é, portanto, o ponto de partida de um trabalho terapêutico. Em outras palavras, a clínica é a possibilidade de considerar-se que, entre a doença e o sintoma, há um sujeito. Esta perspectiva clínica abre também a possibilidade da elaboração de teorias sobre as causas do sofrimento mental e o desenvolvimento de uma prática que permita maior autonomia e uma nova possibilidade de encarar a existência e modificar a forma do sujeito interpretá-la.
Depois de Freud, a consciência já não é mais o central no homem: o que determina o sujeito é o inconsciente. Freud sustentou que o psiquismo não estava centrado em uma consciência, mas sim estruturado em torno do esquecimento, e este provocava efeitos na vida do sujeito. Esta é uma postulação que nos permitirá mais adiante retomar a lógica das doenças psicossomáticas.
A Terapia Humanista Existencial
O que é o ser, qual o seu sentido e qual a sua verdade? 
É dessas questões da Ontologia e da Filosofia existencial que surge uma psicoterapia: a Terapia Humanista Existencial. Para você entender como funciona esta terapia, devemos conhecer alguns conceitos da Filosofia existencial, fonte teórica da prática clínica da Terapia Existencial.
O existencialismo evidencia que o ser humano não tem uma substância; é sim, pura liberdade de escolha. O ponto de partida de toda existência humana é o que o filósofo Heidegger denomina o ser no mundo, um ser sem uma essência prévia, que cria e inventa sua própria existência. Neste sentido, o ser humano não é jamais um ser acabado, mas encontra-se diante de uma série infinita de possibilidades na qual o ser se projeta para o futuro. É justamente baseada nesta filosofia que surgirá uma clínica que trata do sofrimento existencial.
Na perspectiva da terapia humanista existencial, há dois conceitos chaves:
A liberdade de criar um modo de existir, singular, provindo de uma escolha;
A responsabilidade por suas escolhas.
São justamente os valores que acabamos de ver que serviram para fundar uma prática terapêutica que acabou por ser denominada terapia existencial.
O papel do terapeuta é ajudar a pessoa na experiência de sua existência.
Na perspectiva existencialista, não há, propriamente falando, desajustes, pois todo modo de existir é uma escolha da qual o sujeito é responsável. O desajuste é o resultado de uma escolha própria e singular. Se somos o produto de nossa própria criação, se somos livres para escolher e, apesar de tudo, temos sintomas como ansiedade e depressão, é porque nem todas as nossas escolhas são sábias.
O principal objetivo da terapia é propiciar uma maximização da autoconsciência e favorecer um aumento do potencial de escolha do cliente para descobrir-se, autocriar-se e aceitar os riscos de suas próprias escolhas e se tornar responsável por elas, aceitando a liberdade.
Aula 2- Saúde como Qualidade de Vida
Já que estamos tratando da interdisciplinaridade entre Psicologia e as disciplinas da Área de Saúde, quais contribuições a Psicologia tem para oferecer, para auxiliar no processo de cuidar?
Primeiramente, discutiremos as implicações do conceitode saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), depois enfocaremos o conceito de normal e o conceito de sujeito.
 Esta sequência visa o entendimento das nuances do conceito de qualidade de vida.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) (1947, p. 1) define saúde como:
“um estado total de bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença”.
Tomaremos essa definição da OMS como uma bússola, pois o conceito da perfeita saúde e bem-estar total soam como uma utopia, como um ideal que pode parecer inatingível. Entretanto, pode servir como um norte para o profissional de Saúde orientar suas ações.
 Lunardi (1999) mostra que, no exercício da Enfermagem, é necessário pensar o conceito de saúde, para que ele não seja usado de forma linear, nem se torne um dogma.
A orientação dada por Lunardi nos serve como ponto de partida para uma reflexão: A própria definição do que é saúde ou doença implica o conceito de normalidade? 
Este conceito não é linear e tem desdobramentos segundo as várias perspectivas em que é abordado.
Para entender o processo que se dá entre o indivíduo e seu padecimento, as reflexões sobre o normal e o patológico nos ajudarão a delimitar o lugar do sujeito e sua interpretação, o sentido que ele dá ao seu padecimento.
Entender como a subjetividade influencia a percepção do sofrimento ajuda o profissional de Saúde a criar estratégias para ajudar seu paciente a melhorar sua qualidade de vida.
O sujeito: limite entre o normal e o patológico
É Canguilhem (1999 p. 90), filósofo e médico francês, quem nos ajudará a encaminhar estas questões. Ele nos dá uma contribuição de uma forma muito fecunda na problematização da relação entre o normal e o patológico. Ele mostra como esta divisão não é externa ao próprio sujeito, que é subjetiva e não objetivável por um critério imperativo de saúde válido igualmente para todos.
O filósofo destaca a autonomia do ser humano e mostra uma subjetividade atuante em jogo, tanto no que é saúde como no que é doença. Para ele, os desvios mentais só ocorrem referidos à saúde. “A saúde é o silêncio dos órgãos”, ressalta (1999, p. 90). Essa afirmação lembra que a saúde só é revelada quando há perturbação, quando não há mais silêncio dos órgãos, mas quando eles “falam”. Isto quer dizer que não há “normal” ou “anormal” em si, mas que ambos estão intimamente relacionados, porque o normal só é revelado quando há perturbação na saúde, isto é, quando há infrações à norma. O caráter dito utópico que é criticado na definição de saúde da OMS aqui pode ser encarnado em uma relação do sujeito consigo mesmo.
Nesta perspectiva, só podemos nos referir, então, a um estado de saúde normal depois de uma perturbação da consciência concreta da vida. O que quer dizer que a doença não é uma substância em si, definível, mas que aponta para uma normalidade, e não o contrário.
Essa forma de colocar a relação intrínseca entre a normalidade e seu contrário aponta para a singularidade do sujeito, pois a norma não é geral, mas diz respeito a uma relação do sujeito consigo mesmo. O que queremos ressaltar com esta contribuição é que a norma é individual. Ou seja, só se poderia falar de desvio da norma referindo-se a um estado anterior de um mesmo indivíduo. Esta é uma indicação muito importante, para que o profissional de Saúde seja advertido de que a norma de saúde é aplicável de modo dogmático e categórico, mas que a avaliação da qualidade de vida decorre da singularidade de cada indivíduo.
Diminuição da atividade
A diminuição da atividade, mesmo com comportamentos possíveis menos variados, não é vivenciada pelo indivíduo como um déficit. É poder avaliar positivamente sua vida como uma qualidade, e não como um déficit, pois embora o indivíduo possa não se avaliar da mesma forma que em seu estado anterior, o novo estado pode ainda ser percebido pelo sujeito como um ganho. Aquilo com que o profissional de Saúde lida, na sua prática, é também com uma subjetividade que vivencia seu próprio “estado de bem-estar”.
Adaptação a novas situações
O que está sendo ressaltado é a capacidade do indivíduo de se adaptar a novas situações, e não uma medida de seu rendimento.
O “normal” e o “anormal” devem ser definidos de modo mais fino de acordo com as normas individuais, e não levando em conta o que pode ser definido em relação a uma norma social. O que buscamos ressaltar na relação entre o conceito de saúde universal da OMS e o sujeito em sua singularidade é que o universal da saúde precisa ser encarnado na percepção que o sujeito tem de sua própria posição na vida.
O profissional de Saúde e o conceito da OMS
Lunardi (1999) problematiza de forma extremamente interessante o uso que o profissional de Saúde pode fazer da máxima do conceito de saúde da OMS.
Saber que a forma como o indivíduo vivencia sua própria doença de forma singular é um fator de extrema importância, que deve ser levado em conta pelo profissional de Saúde no processo de cuidar, ajudando na recuperação e manutenção da qualidade de vida.
A arte de cuidar do profissional de Saúde pode encontrar subsídios nesses conceitos para promover ações de saúde, uma vez que sua atuação está direta e indiretamente relacionada tanto com o bem-estar físico como mental do indivíduo. Nesta perspectiva, cabe destacar como podemos situar o sujeito e sua história.
Para melhor situar o conceito de qualidade de vida, deve-se entender o caráter subjetivo que está subjacente à enfermidade-doença. Nesta perspectiva, entender o caráter histórico e biográfico do sujeito nos auxiliará a entender suas interpretações do que é bem-estar e qualidade de vida. Para a Psicologia clínica, o psiquismo é fundamentalmente histórico. Não há, propriamente falando, uma natureza imutável no conceito de sujeito.
Origem no sentido
A Psicologia clínica concebe um sujeito cuja “origem se define no sintoma como a colocação em palavras de seu sofrimento” (Dalgalarrondo, 2000).
O que está colocado pela Psicologia clínica é, justamente, um sujeito que tem sua origem no sentido. Na perspectiva do sentido, o sujeito é pensado como um ser que interpreta à sua maneira os fatos que vivencia. É neste sentido que a subjetivação não é direta.
Os psicólogos jamais apreendem diretamente a subjetividade, mas os atos dos sujeitos que têm uma significação singular, que se expressam muito além da soma de seus sintomas.
 Spink (2003) enfatiza que cabe à Psicologia recuperar o indivíduo na intersecção de sua história com a história de sua sociedade.
Produtor da realidade
Spink mostra que o indivíduo está sempre em estrita relação com o seu meio social, mas que ele é produtor da realidade, e que o sujeito como produto e produtor da realidade social está em contínuo processo de conhecimento (p. 41).
É desta forma, proposta pelo autor, que devemos entender que os atos e os pensamentos de um sujeito não são um comportamento sem significação.
 
Se não podemos apreender diretamente a subjetividade, o acesso que temos a ela é através de atos e do sentido que o sujeito constrói constantemente em interação com a cultura.
Para abordarmos o conceito de qualidade de vida e seus impasses, tomemos como ponto de partida a definição de qualidade de vida da OMS:
“(...) A percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (WHO, 1998, p. 27).
Aula 3- Psicossomática
Vimos, na primeira aula, como Aristóteles entendia a noção de uma continuidade entre corpo e alma (psyché). Vimos também como a noção holística do homem é anunciada por Aristóteles que, de forma inovadora, já antecipava o olhar holístico, que veio a desembocar na Psicossomática dos dias atuais.
Hipócrates é considerado o pai da Medicina, por tê-la estabelecido como uma disciplina e por tê-la fundado como profissão separada da religião. Para ele, a causa das doenças não é uma punição dos deuses, mas um desequilíbrio nos humores corporais, em consequência das disposições naturaisdo temperamento do indivíduo, das influências do meio ambiente e das ações atuais do paciente.
Atualmente, o conceito de alternância psicossomática permite entender o suceder abrupto de uma situação psíquica e somática sucedendo a outra (Mello Filho, 2002). Essa alternância explica os casos de remissão de sintomas físicos quando surge um conflito mental e seu desaparecimento quando surge uma doença somática.
Pensadores fundamentais para a Psicossomática
Outros pensadores tiveram papel fundamental na história da Psicossomática.
Dilthey (Mello Filho-2002), quando propõe a separação das ciências naturais das humanas, diz que esta se baseia na relação de sentido e significação, e com isto, redimensiona a Psicologia. Agora os fenômenos psicológicos podem ser compreendidos, permitindo com isto que o rigor da ciência possa valer também para a Psicologia.
Freud, por sua vez, evidencia que as manifestações dos seres humanos, os sonhos e os atos dos sujeitos têm um sentido. Na sua escuta da histeria de conversão, Freud percebeu que não havia nenhum órgão afetado quando apresentavam analgesias, paralisias e cegueira, mas os sintomas no corpo eram traduções simbólicas de lembranças recalcadas, e que as histéricas “sofriam de reminiscências” (Freud, 1893-1895).
A evolução dos modelos de compreensão do processo saúde-doença passou de uma etiologia linear – componente emocional para a determinação da doença para modelos multicausais e integrais, que consideram que todas as doenças são também determinadas por aspectos psicológicos e sociais que determinam sua evolução (Mello, 2011, p. 535). Segundo Mello Filho (2010), a Psicossomática não é só uma ciência interdisciplinar que integra Psicologia e Medicina para o estudo de efeitos de fatores sociais e psicológicos sobre o corpo e o bem-estar dos indivíduos.
Doença psicossomática
No processo de cuidar do profissional de Saúde, a doença psicossomática deve ser vislumbrada de forma integral em função da pessoa que adoece, pois em sua singularidade, cada um adoece de sua própria maneira.
Assim, o termo psicossomático, que foi inicialmente usado para se referir apenas a algumas doenças cuja relação entre corpo e mente se mostrava muito evidente, passou atualmente a ser usado para “... toda e qualquer doença e tendência atual é unitária” (Mello, 2002, p.21). O que quer dizer que a doença é sempre vivenciada no registro do sentido e da significação. Esta atitude pode e deve também ser adotada pelo profissional de Saúde no processo de cuidar.
Não se espera que o profissional seja também psicólogo, mas que possa se tornar um observador qualificado, para desenvolver uma nova atitude no processo de cuidar.
Embora outros psicanalistas tenham trazido enormes contribuições para o entendimento dos fenômenos psicossomáticos, vamos nos limitar neste contexto a ressaltar algumas contribuições de Freud, que nos ajudarão a entender como foi formulada a relação corpo - mente pela Teoria Psicanalítica.
Sintomas simbolizariam conflitos
Outra contribuição que Freud nos legou foi no campo da significação, ao afirmar que os sintomas têm um sentido que simbolizam um conflito, um desejo inconsciente que não pôde ser traduzido em palavras e que, uma vez traduzidos em palavras, são passíveis de remissão. Assim, o estudo do psiquismo abandona o campo da representação da consciência, passando a afirmar, através do conceito de inconsciente, que a maior parte de nossa vida mental é regida pelos desejos e conflitos inconscientes, permanentemente influenciando nossas atitudes e ações.
As contribuições da Psicofisiologia
Enquanto os psicanalistas tentavam entender os fenômenos psicossomáticos no registro do sentido e da significação, os psicofisiologistas também deram contribuições que permitiram elucidar os mecanismos de interação psicofísica nos níveis fisiológico e bioquímico, usando a experimentação.
Mello (2002) mostra a importância do trabalho de Cannon, que contribuiu para a Psicofísica com seu clássico trabalho sobre as modificações fisiológicas produzidas pela “secreção adrenalínica de emergência”, subjacentes aos estados de fome, medo, dor e raiva. O trabalho pioneiro de Cannon influenciou as descobertas da Psicofísica, que é o estudo das interações entre estados mentais e processos fisiológicos. Os psicofisiologistas começaram a buscar relacionar os estados mentais às modificações no corpo. Wolf e Wolf (Mello, 2002) constataram a íntima relação que guardava o funcionamento global dos órgãos de determinados pacientes com os mais diversos estados emocionais.
Processo de reação do organismo
Selye (Mello, 2002) confirma experimentalmente que qualquer vivente tem tendência a desenvolver de forma uniforme e inespecífica, anatomofisiologicamente aos vários estresses aos quais se vê submetido.
 Esse autor denomina o processo de reação do organismo, buscando respostas adaptativas de síndrome-adaptação, distinguindo três fases:
Alarme- também denominado choque, iniciado por uma descarga adrenérgica: taquicardia, diminuição do tônus muscular e temperatura, hipercalcemia, entre outras;
Contrachoque- quando as reações humorais e neurovegetativas são modificadas por uma hiperatividade do córtex suprarrenal.
Defesa- Se o agente estressante continuar com sua atuação, o organismo entra em uma fase de defesa, onde há uma permanente hiperatividade corticossuprarrenal, e uma fase de esgotamento, consequência da falha dos mecanismos adaptativos a estímulos permanentes e excessivos.
Aula 4- O Sujeito Psicossomático
Nosso corpo é capturado em um mundo simbólico, criado por nós como sujeitos, assim como nossas vivências e nosso ambiente.
Nessa perspectiva, o somático se organiza simbolicamente no corpo, que passa a ser também a sede das significações não expressas em palavras pelo sujeito.
Agora partiremos do conceito proposto por Freud de uma erotização do corpo.
Esta deve ser entendida como uma desnaturalização do corpo, isto é, o corpo biológico passa a ter também uma dimensão simbólica.
Abram Eksterman explicita muito apropriadamente esta estruturação biopsicossocial do sujeito humano, e revela como o corpo é representado na nossa mente:
“O corpo terá assim de se adaptar àquele mundo particular, criado pelo próprio indivíduo e pela sua cultura, que passa a ser sua única realidade.
 
Assim, pois, não existe ambiente natural para o homem, porque, para ele, a natureza foi convertida em “mundo humano” por seus próprios processos mentais (Mello, 2011, p. 95).”
As doenças psicossomáticas são a forma radical de se expressar com o corpo.
Em sua prática, os profissionais de saúde são desafiados a tratar desses pacientes, que podem ser denominados “somatizadores” (Mello, 2011).
É justamente para auxiliar no cuidado dessas pessoas que o profissional de saúde precisa entender esse sujeito psicossomático.
Como já pontuamos, são muitos os fatores de desencadeamento das doenças psicossomáticas. 
Enfatizamos que estes fatores estão relacionados com a forma como o sujeito se relaciona com o mundo externo (social) e com seu mundo interno (biopsiquíco).
Modelo do método catártico
O sintoma conversivo surge no momento em que o sujeito não pode colocar em palavras os afetos que, sem expressão na fala, retornam no corpo.
Com o conceito de inconsciente, todo comportamento humano não é mais de ordem de uma biologia, mas sim da ordem do sentido.
É justamente por esse motivo que o fenômeno da doença não deve ser compreendido como um fenômeno isolado, mas como um elo das vivencias do sujeito.
A hipótese freudiana de que somos determinados por nossos pensamentos inconscientes demonstra que os sintomas tomam seu sentido a partir de desejo e significação.
Para lidar com as exigências da vida, e ao mesmo tempo satisfazer seus desejos inconscientes, o sujeito precisa dar conta destes afetos.
Assim, cria mecanismos de defesa, para evitar um sofrimento insuportável e procurar uma adaptação possível.
Estes mecanismos servem para evitar conflitos ou para mantê-los em um grau mínimo, paraevitar gerar ansiedade.
Personalidade superindependente
Franz Alexander (Mello, 2004), que fez importantes estudos e entrevistas com portadores de distúrbios funcionais digestivos, mostrou que o simbolismo é universal no comportamento humano.
Mostrou ainda que há um sentimento universal de dependência em todo ser humano, o que ele definiu como fundamental e que gera um conflito na vida adulta, vivido entre abandonar a dependência e ser independente.
Este conflito, desencadeado por uma situação externa, é típico da personalidade que ele denomina “superindependente”, e que são, segundo Alexander, os sujeitos que desenvolvem processos ulcerosos.
Vimos alguns fatores individuais que constituem a dimensão propriamente subjetiva desse sujeito que chamamos de psicossomático.
Sabemos, entretanto, que esse sujeito é um sujeito total, e que é também determinado socialmente, e que a explicação de seus possíveis determinantes é sempre multifatorial.
Agora passaremos a examinar os determinantes sociais: nossa herança cultural e nossa herança familiar.
Aula 5- Estresse e suas Implicações na Saúde
As atividades de um profissional de saúde são consideradas muito estressantes devido a vários fatores: o relacionamento com outras unidades e supervisores, com o funcionamento adequado da unidade, com atividades relacionadas à administração de pessoal, com a assistência prestada ao paciente, e finalmente, com as condições de trabalho para o desempenho das atividades. (Rev. esc. infere. USP v.34 n.4 São Paulo dez. 2000).
Segundo Myers: O estresse é um conceito não muito bem definido, que descreve ameaças ou desafios que as pessoas costumam enfrentar no seu dia a dia e sua reação aos fatores estressantes.
Podemos, então, entender o estresse não como uma simples resposta a um estímulo, mas como um processo: os fatores estressantes são os acontecimentos imprevistos aos quais reagimos física e emocionalmente por um lado e, sobretudo, a forma como lidamos com os fatores estressantes, por outro.
Os psicólogos definem o estresse como o “processo pelo qual avaliamos e lidamos com as ameaças e desafios do ambiente” (Myers, 2006, p. 363).
Fatores estressantes
O que a Psicologia da Saúde evidencia é que a importância maior ou menor dos fatores estressantes depende da forma como nós os avaliamos, colocando a avaliação do sujeito como o fator essencial no desencadeamento do estresse.
Logo, não há fatores estressantes, independentemente de como os avaliamos. A avaliação que fazemos dos estressores é também função de nossa história. Vamos retomar este ponto mais adiante.
Neste sentido, há muitos fatores estressantes, em nova vida moderna, que podem ser percebidos como um desafio a superar, uma meta a alcançar.
Neste caso, os efeitos do estresse são positivos: eles são motivadores e fazem com enfrentemos e superemos nossos problemas. Entretanto, quando percebemos os fatores estressantes como uma barreira difícil de superar, este se torna uma ameaça.
Esta é a face negativa do estresse.
Podemos, a partir de nossa avaliação, adoecer ou compreender os fatores estressantes, modificar nossas reações frente a eles, melhorar o sofrimento e aumentar a qualidade e a expectativa de vida.
O processo do estresse
O médico Hans Selye ajudou a tornar o estresse um conceito importante tanto na Medicina como na Psicologia. Suas pesquisas levaram à descoberta de que a reação adaptativa do corpo era geral, uma vez que qualquer trauma, físico ou mental, independentemente de sua característica, desencadeia uma reação ao estresse, que incide no corpo de maneira generalizada. A essa reação adaptativa geral do corpo ao estresse, Selye deu o nome de Síndrome de Adaptação Geral (SAG).
Fases do estresse
Vamos acompanhar a descrição que Selye faz das três fases que se seguem a um evento traumático: diante de um trauma físico ou emocional, reagimos através de uma súbita ativação do sistema nervoso simpático.
Reação de alarme- Assim, o coração dispara, o sangue é enviado para os músculos esqueléticos e todos os nossos recursos estão mobilizados.
Reação de resistência- Nosso organismo entra na fase de resistência, quando estamos prontos para combater o desafio: temperatura, pressão e respiração permanecem em níveis elevados, e os hormônios fluem subitamente em nossa corrente sanguínea.
Reação de exaustão- Porém, se ela for persistente, pode acabar esgotando as resistências do corpo e levar à terceira fase: a da exaustão. Nesta fase, nós nos tornamos mais vulneráveis às doenças, e corremos risco de vida nos casos mais extremos.
Campos (in: Mello, 2011), em um levantamento de trabalhos de pesquisa que apontam para possíveis relações entre estresse e doença, demonstra que parece haver uma evidência de que as pessoas submetidas a uma carga excessiva de fatores estressantes acabam apresentando sintomas físicos.
A influência do modo de funcionamento do sujeito na percepção das situações estressantes: Sem dúvida, parece haver correlação entre quantidade de situaç̧ões estressantes e a resultante percepç̧ão desse estresse. Mas parece haver um efeito moderador ou hipertrofiador que depende do próprio indivíduo em função de sua constituição, história e circunstâncias. O mesmo se aplica ao modo de reagir, de enfrentar, de se adaptar ao estresse, que aparece também influenciado por circunstâncias particulares, próprias do indivíduo.
As condições de estresse
Há várias razões para nos sentirmos estressados. Os pesquisadores apontam para três tipos de estresse que se apresentam e contra os quais concentramos nossas reações:
A primeira situação que provoca estresse se apresenta em forma de catástrofes naturais. Diante dos desastres naturais, das catástrofes de grande magnitude, nós todos nos sentimos ameaçados. Verificou-se que as pessoas que são vítimas destes desastres sofrem influências significativas em sua saúde.
A segunda situação considerada como um evento estressante é uma mudança significativa na vida pessoal. Os psicólogos que estudaram os efeitos da morte de uma pessoa amada, da perda de um emprego ou da separação chegaram à conclusão que as pessoas que sofrem perdas significativas têm uma maior vulnerabilidade às doenças. Verificaram também que o nível de vulnerabilidade está intimamente ligado à forma como as pessoas avaliam e vivenciam esses fatores estressantes.
A terceira situação diz respeito aos problemas do cotidiano. Os problemas no trabalho que se tornam persistentes podem levar a uma exaustão mental física e emocional denominada burnout. Todas as pessoas em geral, e profissionais de saúde em particular, podem sofrer de fadiga ou apatia decorrente de um estresse prolongado. O resultado de uma situação permanente de estresse pode ainda causar uma queda do desempenho.
Avaliação de um evento como estressante
Um evento se torna mais ou menos estressante quando temos a crença de que podemos controlá-lo. Isto porque a percepção de situações como mais ou menos estressantes vem do nosso sentimento de controle percebido. Esse controle é muito importante na avaliação que fazemos das mudanças de vida e das demandas do cotidiano.
Aula 6- Transtornos de Ansiedade
A ansiedade normal é parte da nossa vida, e quando não é intensa nem persistente, é adaptativa. Em sua dimensão normal, a ansiedade é uma “resposta a uma ameaça desconhecida, interna, vaga ou de origem conflituosa”. Ficamos ansiosos antes de uma prova, antes de uma apresentação, mas este tipo de ansiedade não nos impede de fazer a prova ou falar em público: ela nos prepara para um bom desempenho.
Fatores da ansiedade
Como veremos mais adiante, a ansiedade pode ser determinada por fatores externos, que são denominados interpessoais, e por fatores internos à nossa personalidade, que chamamos intrapessoais. Você deve se lembrar da aula anterior, quando abordamos o estresse, que é a forma como a pessoa percebe, pensa e reage aos eventos internos e externos, influenciadas por sua história de vida. O mesmo acontece quando vivenciamos a ansiedade.
Os sentimentos que a pessoa temsão negativos; ela se sente vulnerável e fora de controle. Ela experimenta sintomas de excitação do sistema nervoso autônomo, o coração dispara, as mãos suam, e no caso extremo do transtorno do pânico, tem a sensação de que vai morrer.
 Os sentimentos que a pessoa tem são negativos; ela se sente vulnerável e fora de controle. Ela experimenta sintomas de excitação do sistema nervoso autônomo, o coração dispara, as mãos suam, e no caso extremo do transtorno do pânico, tem a sensação de que vai morrer. “Além disso, os sintomas são persistentes e desagradáveis. O indivíduo vê-se impossibilitado de criar uma defesa contra a sensação desagradável, e os sintomas surgem no corpo”. (Myers, 2006).
Os critérios da normalidade
Normalidade funcional- Outro critério que pode ser destacado é o da normalidade funcional, que se fundamenta nos aspectos funcionais do indivíduo.
Normalidade subjetiva- O critério da normalidade subjetiva é também muito importante, porque dá ênfase à percepção subjetiva do próprio sujeito em relação às suas próprias vivências interiores. Neste caso, o fenômeno só é considerado patológico quando provoca sofrimento para o próprio indivíduo ou para seu grupo social.
Normalidade como processo- Finalmente, destacamos a normalidade como processo. Este critério é muito útil, pois oferece uma perspectiva de propiciar um tratamento. Ele considera que o desenvolvimento psicossocial dá-se por desestruturações e estruturações ao longo do tempo. Isto é, a forma de o sujeito vivenciar sua ansiedade não é permanente, e o sujeito tem a chance de inventar novas formas de lidar com a ansiedade.
Devemos também considerar que há eventos do meio ambiente que prejudicam a forma de o sujeito lidar com seu ambiente, prejudicando também sua forma de interpretar os eventos atuais. Há uma interação entre o indivíduo e a cultura. Myers (2006) mostra que os sinais da ansiedade também variam culturalmente, isto é, os sintomas buscam formas de expressão valorizadas pela cultura.
As teorias explicativas da ansiedade
A perspectiva freudiana- Poucos conceitos analíticos encontraram um campo tão vasto quanto o conceito de angústia. O problema da angústia foi primeiramente abordado por Freud (1895) a respeito das neuroses atuais. Este modelo pode explicar o transtorno do pânico, porém não explica outros transtornos como as fobias e a neurose obsessiva, nas quais parece haver outra determinação.
A perspectiva da aprendizagem- Os teóricos do comportamentalismo explicam a ansiedade generalizada pelo condicionamento clássico. Isto é, sugerem que a ansiedade é uma resposta condicionada a estímulos ambientais específicos. Para que você entenda a ansiedade generalizada, vamos fazer uma breve explicação sobre o condicionamento clássico. Evitar ou escapar de uma situação ansiogênica reduz a ansiedade. Nos transtornos do pânico, o indivíduo não tem muitas defesas diante de um ataque, mas os comportamentos, tanto obsessivos quanto compulsivos, reduzem a ansiedade.
A perspectiva biológica- Segundo Myers (2006), nossos comportamentos individuais reproduzem de forma exagerada os comportamentos que contribuíram para a sobrevivência da espécie. Nesta perspectiva, os atos compulsivos são explicáveis através de uma preparação biologicamente programada que herdamos de nossos ancestrais. Herdamos o temor dos perigos que eles enfrentaram e usamos exageradamente os recursos que a espécie desenvolveu para se proteger.
O transtorno do pânico
Você sabia que os pacientes com transtorno do pânico frequentemente procuram as clínicas médicas com sintomas físicos como palpitações e taquipneia, muito semelhantes a um sintoma de condição médica, como por exemplo, um infarto do miocárdio? 
Por esta razão, é muito importante que o profissional de saúde esteja apto a fazer um diagnóstico diferencial entre os transtornos do pânico e as outras patologias que decorrem de uma condição médica. Como reconhecer o transtorno do pânico? Ele se caracteriza pela ocorrência súbita e inesperada de ataques de pânico.
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
As síndromes compulsivas se constituem de comportamentos rituais e repetitivos, como verificar se determinada porta está fechado um número infinito de vezes, assim como repetir determinadas palavras mentalmente, geralmente como defesa contra a ideia obsessiva (Dalgalarrondo, 2000, p. 197). Nos muitos casos observados de TOC, verificou-se que os pensamentos obsessivos aumentam a ansiedade do indivíduo, mas que executar os atos compulsivos a diminui. Geralmente os pacientes com TOC procuram médicos, e não psicólogos. Saber que as obsessões e compulsões têm certos aspectos comuns poderá ajudar o profissional de saúde a lidar com os pacientes obsessivo-compulsivos.
Sintomas do TOC
Uma ideia ou um impulso invade insistente e persistentemente a consciência;
Um sentimento de medo ansioso acompanha a manifestação central e frequentemente leva a pessoa a tomar medidas contra a ideia ou impulso inicial;
É vivenciada como algo estranho à experiência que a pessoa tem de si mesma como um ser psicológico;
Independentemente de quão vívida e compelidora seja a obsessão ou compulsão, a pessoa reconhece-a como absurda e irracional;
A pessoa que sofre de obsessão e compulsões tem um forte desejo de resistir a elas. Estas características têm implicações e permitem diferenciar o TOC do pânico.
A ansiedade tem duas dimensões: uma normal, que é momentânea e adaptativa e prepara o indivíduo para lidar com aquilo que percebe como ameaçador. A dimensão patológica é desadaptativa, persistente e deixa o indivíduo sem defesas para lidar com as situações ansiogênicas. Os transtornos do pânico e obsessivo-compulsivo são determinados pelo nível intenso e persistente da ansiedade e afetam grandemente o funcionamento e os pensamentos do portador. No transtorno do pânico, o nível excessivo e persistente da ansiedade provoca sintomas corporais semelhantes a um transtorno de ordem médica. Já no TOC, ocorrem pensamentos percebidos pelos portadores como inevitáveis, contra os quais os indivíduos se defendem com atos e rituais que reduzem a ansiedade.
Aula 7- Relação Profissional – Cliente
Para atingir o perfeito estado de bem-estar, nossas ações sobre as determinações sociais e individuais podem modificar favoravelmente a obtenção da qualidade de vida e a promoção da saúde no processo de cuidar.
Saúde e qualidade de vida são como faces da mesma moeda: a saúde contribui para uma melhor qualidade de vida, assim como a qualidade de vida é essencial para que os indivíduos e as comunidades tenham saúde.
Neste sentido, o conceito de saúde passa de um conceito negativo de saúde para o conceito positivo. Ele implica não a simples ausência de doenças, mas a noção de bem-estar físico e mental, e consequentemente, uma modificação na prática de cuidar. Segundo a ANA (American Nurses Association, 1995), a saúde é dinâmica, está em constante mutação e ocorre ao nível do individuo que tem um potencial.
Cuidar e promover a saúde e o bem-estar: Um desafio
O potencial do ser em constante mutação é também objetivo de cuidado. Como ajudar cada um a desenvolver seu potencial? Em que consiste para o profissional de saúde o desafio de cuidar e ainda promover a saúde e o bem- estar?
Esse cuidado no nível de um tratamento psicossomático e integral leva em conta as necessidades de cada paciente singular. As concepções de promoção de saúde dadas por Sutherland e Fulton nos ajudam a diferenciar duas importantes dimensões do conceito de promoção de saúde: em um dos grupos, os autores reúnem a conceituação de promoção de saúde a partir de seus aspectos voltados para o coletivo. Nesta perspectiva, a promoção de saúde seria o produto de “um amplo espectro de fatores relacionados à saúde como o padrão adequado de habitação, nutrição, saneamento e relações sociais”. É em torno deste eixo que a ANA define a saúde como “um estado dinâmico do ser, no qual o potencial de desenvolvimento e comportamento do indivíduo ocorre no maior grau possível”.
O indivíduocomo protagonista
A outra perspectiva é voltada para o indivíduo e sua responsabilidade pela sua própria saúde. O indivíduo estaria em seu pleno papel de protagonista, no sentido de promoção de atividades dirigidas à modificação dos comportamentos, com o foco em seu estilo de vida e na cultura em que está inserido. Desta forma, o conceito de saúde toma a forma de um conceito multidimensional e deve ser visto numa perspectiva holística e ampla.
Conhecendo os pacientes
A relação profissional-cliente é de extrema importância no trabalho de saúde. Em todas as relações interpessoais se formam vínculos entre estes dois polos. Se o domínio da saúde é a identificação e do tratamento das necessidades de cuidado do paciente em todos os níveis, é crucial para o profissional reconhecer como é fundamental a qualidade de interação profissional-cliente.
Segundo Canella, da mesma forma que um medicamento, um profissional de saúde pode “fazer o bem ou causar efeitos colaterais” (Mello, 2011, p. 524) se não age de forma humanizada. Por isso, é imprescindível estabelecer um vínculo significativo. Nesta perspectiva da formação de um vínculo de forma humanizada e em forma de uma associação, é uma corresponsabilidade, pois o profissional de saúde pode ser ele também um agente de promoção de saúde e de qualidade de vida.
A Psicologia da Saúde pode dar uma direção, para você perceber que o processo de cuidar é um processo interpessoal, e que todo processo interpessoal atualiza sentimentos, crenças e estilos de vida das pessoas envolvidas intersubjetivamente.
Potenciais reduzidos na enfermidade
Para o profissional de saúde, não é difícil reconhecer que os potenciais físico, emocional, intelectual e social ficam reduzidos na enfermidade, e que ouvir é mais um cuidado envolvido na interação interpessoal que se caracteriza numa relação de cuidado.Agora podemos fazer uma síntese do complexo relacionamento interpessoal e enfatizar a potencialidade do profissional de saúde para ampliar sua forma de observação de alguns fenômenos ligados ao adoecer e buscar criar uma forma de diálogo com seu cliente.
Nesta síntese, ressaltaremos algumas atitudes que podem ser produtivas e outras ineficazes para ajudar você na tomada de decisões terapêuticas eficazes e promotoras da saúde e do bem-estar.
O ato de ouvir os significados do que o paciente diz não só ajuda você a conhecer sua história de vida, suas crenças, sua relação com a doença (seu sintoma), como ajuda a criar e estreitar o vínculo.
Você deve evitar posturas rígidas e estereotipadas: cada caso é um caso no que diz respeito à dor de existir de cada um. O que funciona bem com um determinado indivíduo pode não funcionar com o outro.
Lembrem-se cada um de nós tem suas crenças e funciona baseado nelas. 
Busque uma atitude flexível, que leve em conta a personalidade do paciente, seus sintomas atuais, sua bagagem cultural, seus valores e linguagem singulares.
Atitudes negativas e positivas
Positivas- A comunicação interpessoal não é só feita com palavras, mas também pelo nosso comportamento não verbal: modulação da voz, postura corporal, gestos, olhar são formas sutis de expressão de sentimentos. A observação dos gestos pode nos dar a pista da forma como o cliente se sente e como quer parecer para o profissional. Observar a comunicação não verbal é um instrumento valioso. Você pode treinar para perceber as pistas não verbais, mas lembre-se que você também dá pistas não verbais. Resolva os impasses junto com seu cliente. Algumas vezes há momentos de impasses nos vínculos entre profissional e cliente. Nestas ocasiões, é preciso evitar o autoritarismo; maneje para fazer um pacto com seu cliente.
Negativas- “Dar sugestões e conselhos, na maioria das vezes, é ineficaz” (Mello, 2011, p. 516). Quando você dá conselhos e sugestões, deixa de ouvir as condições emocionais e de vida que podem impedir a pessoa a aceitar sua sugestão; a carga de emoção pode ser muito intensa. A atitude mais eficaz é analisar as alternativas junto com seu cliente e deixar que ele seja o protagonista da alternativa a ser escolhida. Ignorar, fugir ou evitar o problema do seu cliente caminha junto com a dificuldade de estreitar as possibilidades de atuação. Às vezes a dificuldade do problema nos faz evitá-lo, ao invés de uma escuta atenta para traçar o processo terapêutico necessário. Evitamos nossa ansiedade, mas não resolvemos o problema.
Aula 8 – O Trabalho em Equipe
A área da saúde é um espaço de interações humanas de grande complexidade: temos o sucesso da tecnologia nos exames mais sofisticados, mas não podemos deixar de lado o conhecimento de nós mesmos e dos processos interpessoais que influenciam nossa prática.
No cenário atual, com a crescente especialização dos saberes, o trabalho em equipe exige o reconhecimento da importância das relações interpessoais para fazer deste um processo interativo e contínuo, para ampliar a comunicação, o aprendizado, formular estratégias e planejar ações. É num contexto de muitas mudanças, sobretudo tecnológicas e das exigências de qualidade demandadas ao profissional de saúde, que um trabalho em equipe se impõe.
Características de um trabalho de equipe
As equipes são diferentes dos grupos. Segundo Grinberg (apud Rodrigues, 1981), “um grupo é uma pluralidade de pessoas que em determinado momento estabeleceu uma relação precisa e sistemática entre si”.
As equipes, entretanto, não são simplesmente grupos de pessoas que estão juntas por causa de uma relação sistemática. Diferentemente de um grupo, uma equipe é um conjunto de pessoas que buscam um objetivo comum, que deve ser específica e claramente formulado. As habilidades de cada um dos componentes de uma equipe são utilizadas para cumprir suas tarefas, no sentido de atingir um objetivo maior. As fronteiras de suas ações e de suas atribuições são delimitadas com clareza, assim como a responsabilidade para atingir os objetivos comuns. 
As equipes propiciam um trabalho mais ágil, integrado e entrosado, no qual a multifuncionalidade e as diferentes habilidades não sejam fatores de limitação, mas contribuições para o desenvolvimento de cada um.
Projeção, deslocamento e somatização
Há outros mecanismos, mas vamos ressaltar a projeção, o deslocamento e a somatização.
Deslocamento é quando transferimos uma emoção de uma ideia para nós inaceitável para outra mais aceitável.
O mecanismo de projeção é muito importante porque é justamente o mecanismo de defesa que implica os outros membros da equipe. Projetamos quando vemos atitudes nossas nos outros. Um esquecimento nosso que é ressaltado por alguém da nossa equipe pode ser interpretado como “ele (a) me persegue”.
Por último, a somatização ocorre quando nos aborrecemos e sentimos sintomas físicos. Temos, por exemplo, dor de cabeça quando temos um impasse ou um conflito com um membro da equipe.
Neste processo de conhecimento de si mesmo, estamos sempre em busca de superação. Você pode descobrir as crenças que orientam as suas atitudes, ou as transferências em que você repete os mecanismos de defesa que usa. Desta forma, você pode descobrir que podemos usar nossa capacidade de perceber a nós mesmos e o ambiente de nossa equipe, e abrir nossa mente para novas reflexões, novos valores individuais e coletivos que nos proporcionem criatividade e a flexibilidade no exercício do processo de cuidar.
Defina grupos e equipes e diga a diferença entre eles.
Em um grupo, a visão é de natureza essencialmente relacional, de interações e alianças afetivas. As equipes, entretanto, não são simplesmente grupos de pessoas que estão juntas por causa de uma relação sistemática. Diferentemente de um grupo, uma equipe é um conjunto de pessoas que buscam um objetivo comum, que deve ser específica e claramente formulado.
Aula 9- O Desafio do Trabalhador Interdisciplinar
Vivemos em um mundo de múltiplos saberes e especializações. A área da saúde é fragmentada em vários saberes, que nem sempre interagem entre si. Entretanto, uma visão holística do mundo pode ser retomada com amultidisciplinaridade, que é uma forma de ver o mundo como um todo. Nosso desafio é trabalhar em uma equipe interdisciplinar e poder entender a realidade de uma forma mais ampliada. Uma breve visita à história do pensamento nos permite entender como o conhecimento foi sendo fragmentado em disciplinas e como podemos resgatar, na nossa prática do cuidar, a visão holística do ser humano.
René Descartes
Começaremos pela influência de Descartes (1596-1650), que na obra Discurso do Método, propõe um método de raciocínio que, sem mesmo percebermos, imprimiu na ciência um método de análise que teve como consequência a compartimentação das disciplinas.
Neste texto, ele afirma que qualquer um pode ascender ao conhecimento, mas para isto é preciso dividir os problemas em partes mais simples. Nesta perspectiva, a forma de ascender ao conhecimento por um método influenciou a construção das disciplinas como um paradigma essencial da ciência.
Augusto Comte
Dois séculos depois, Augusto Comte (1798-1875) veio influenciar grandemente a forma hierarquizada entre as disciplinas que testemunhamos atualmente.
Comte designou a ciência positiva como uma forma privilegiada de explicar os fenômenos. A forma direta e objetiva das ciências naturais teria, em sua forma direta, o instrumento mais adequado e válido para chegar ao conhecimento. Assim, só seria ciência o que fosse diretamente observável e mensurável. Com esta afirmação, as ciências humanas não poderiam ser tomadas como possíveis de encaminhar o conhecimento. Como consequência, o estudo da subjetividade se tornou problemático.
Temos aqui, portanto, as origens da compartimentação com Descartes e a hierarquização dos saberes com Comte.
Michel Foucault
Nossa passagem pela história não estaria completa se não mencionássemos a contribuição de Michel Foucault (Spink 2003), na forma de pensar os saberes.
Este filósofo mostrou, em Arqueologia do Saber, que a estruturação do conhecimento vem do discurso. Esta afirmação pressupõe que as disciplinas não são senão uma construção sustentada pelo discurso; portanto, não há um sentido último sobre qualquer objeto do conhecimento. São discursos múltiplos, com sentidos múltiplos sobre a mesma realidade. Assim, os saberes da Medicina, da Psicologia e outras especialidades da área de saúde são sentidos sobre o mesmo objeto – a saúde e a doença.
A multidisciplinaridade
Na multidisciplinaridade, o que vemos é a justaposição de disciplinas mais ou menos próximas nos seus campos de conhecimento. Trata-se não de intercâmbio entre saberes como na interdisciplinaridade, mas de momentos de um mesmo contínuo. É um processo progressivo de integração disciplinar de formas de ensino que estabeleçam alguma articulação entre duas ou mais disciplinas.
A multidisciplinaridade pode ser entendida como qualquer forma de combinação entre duas ou mais disciplinas, objetivando a compreensão de um objeto a partir da confluência de pontos de vista diferentes. 
Trabalho e subjetividade
A hierarquização das relações do trabalho evidencia que, muitas vezes, o trabalho se organiza em dois polos: os hierarquicamente superiores e os que lhes devem obediência. Já vimos, com Foucault, que o poder tende a hierarquizar o saber. Nesta polarização, ocorre que, no polo do dirigente, encontra-se o poder de impor seus desejos e pensamentos; no outro polo, do hierarquicamente subordinado, qualquer desejo ou pensamento é desconsiderado. O trabalhador teria que abrir mão de sua subjetividade e simplesmente executar a tarefa traçada.
Interdisciplinaridade, o conceito
No encaminhamento dos desafios que fazem parte da complexidade do trabalho em equipe, é importante elucidar a diferença entre multidisciplinaridade e interdisciplinaridade. Essa diferenciação nos permite potencializar a qualidade de vida e a convivência saudável em uma equipe. A diferença entre a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade é que esta não comporta o intercâmbio e a invenção, que são o essencial da interdisciplinaridade.
O prefixo inter significa “troca”, “reciprocidade”. A interdisciplinaridade, então, é um ato de troca, de reciprocidade entre as disciplinas. A interdisciplinaridade implica, portanto, na busca de uma visão holística.
Aula 10- Revisão do Conteúdo
Diferentes abordagens clínicas
Visitamos algumas teorias que tratam da clínica e do processo de cuidar.
Psicanálise- Com a Psicanálise, mostramos que desconhecemos os pensamentos que são causa dos nossos atos. 
Terapia Humanista Existencial- Aprendemos também que, na Terapia Humanista Existencial, o indivíduo é auto criativo e singular.
Terapia Cognitivo-comportamental- Com a Terapia Cognitivo-comportamental, sublinhamos que as crenças que desenvolvemos têm uma grande influência no comportamento.
A Psicossomática
A história da Psicossomática vem desde a época clássica. Os médicos observaram, deste muito antigamente, que há uma estreita relação entre mente e corpo e que os conflitos psíquicos podem ter efeitos no corpo.
 A Filosofia também teve influência na abordagem psicossomática do ser humano quando enfatizou que a dimensão fundamental do ser humano se dá no registro do sentido e da significação.
Atualmente, a Psicossomática é uma ciência interdisciplinar que integra Psicologia e Medicina no estudo de efeitos de fatores sociais e psicológicos sobre o corpo e sobre o bem-estar dos indivíduos.
Síndrome Geral de Adaptação
É a forma como o médico Hans Selye explicita a reação adaptativa do corpo a qualquer trauma físico ou mental.
Essa síndrome evidencia que nosso organismo está em constante estado de adaptação e que, na persistência do estresse, sente sua integridade ameaçada. Se formos submetidos a um estresse excessivo, ficamos vulneráveis aos sintomas e às doenças físicas. Nesta perspectiva, as doenças seriam uma resposta excessiva e inadequada ao estresse.

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