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Notas Direito Civil Coisas Prof. Júlio César Lérias Ribeiro

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Direito Civil V – Direito das Coisas – Parte I 
Prova: 24/04/2014 
Prof. Júlio 
Juiz da 2ª Vara Criminal do Paranoá 
Fórum Desembargador Mauro Renan Bittencourt 
Endereço: área especial n.02 - quadra 03 
Cidade: paranoá (fórum) 
CEP: 71570-030 
Doutrina: Orlando Gomes, Caio Mário, Maria Helena Diniz. 
 
Propriedade x Posse x Detenção 
Propriedade é poder de direito. 
Posse é poder de fato (poder de fato de ter a coisa a sua disposição). 
Detenção é subordinação (não somente) – exemplo: empregado que utiliza carro da 
empresa. 
 
Aula 18/02/2014 
1. Introdução 
1.1 Relação jurídica 
a) Sujeitos: 
Sujeito ativo – detentor do poder (direito subjetivo) 
Sujeito passivo – detentor do dever (dever subjetivo) 
b) Vínculo: 
Relativo – a determinado sujeito (entre as partes) 
Absoluto – a toda a sociedade (erga omnes) 
c) Objeto: 
Prestação 
Bem – coisas 
d) Fato jurídico 
e) Proteção normativa 
1.2 Direitos reais x Direitos pessoais 
1.2.1 Teorias 
a) Clássica ou realista – não há coincidência entre relação jurídica e relação pessoal, 
ou seja, algumas relações não são entre pessoas, podem ser entre homem e bens, ex. 
Direitos reais. Para os adeptos desta corrente, existe um sujeito ativo (titular de um 
direito real), um objeto (bem) e o poder imediato (do homem sobre a coisa). 
b) Personalista – toda relação jurídica é relação humana, porque concebe poder e 
dever. Para os adeptos desta corrente, existe um sujeito ativo (titular do direito), objeto 
(bem) e sujeito passivo (toda a sociedade). O direito real constitui uma obrigação 
passiva universal. 
1.2.2 Classificação quanto ao exercício ou gozo 
Direito pessoal – exige intermediário para ser exercitado. 
Direito real – não necessita de intermediário para ser exercitado. 
1.3 Características dos Direitos Reais 
a) Absoluto – direito que se exerce contra todos (erga omnes). Do direito absoluto, 
derivam dois outros: 
b) Sequela – o titular pode perseguir a coisa onde quer que ela esteja (ação 
reivindicatória). 
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da 
coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente 
a possua ou detenha. 
Obs. Não só o proprietário tem o direito de sequela, mas todo 
detentor de direito real, como o usufrutuário, o credor pignoratício, e 
podem estes, inclusive, exercitar este poder em face do próprio 
proprietário. 
c) Preferência – direito do credor de receber antes de um credor sem garantia 
(quirografário), ou de receber antes de credor com garantia posterior. 
d) Especialidade – direito real recai sobre coisa certa. 
e) Protegidos por ações reais – reivindicatória para imóveis e busca e apreensão para 
móveis. 
f) Tipicidade (taxatividade) – rol do art. 1.225 do CC. 
g) Atributividade – o direito real atribui uma relação de assenhoramento do ser-
humano sobre a coisa – inteligência do art. 1.263 do CC. 
h) Publicidade – o direito real contém presunção de participação da sociedade na sua 
constituição. Ora, se o direito real é oponível contra todos, todos têm, igualmente, o 
direito de saber de quem é a coisa, inclusive consultando a situação desta no Cartório. 
i) Elasticidade – é a compactação de poderes proprietários, mediante a constituição de 
direitos reais sobre coisas alheias, e retorno à plenitude com a extinção destes direitos, 
sem a perda da essência proprietária. 
j) Exclusividade – para Silvio Rodrigues, o direito real é exclusivo dada a 
impossibilidade da coexistência de direitos reais de igual conteúdo sobre a mesma coisa. 
Para Lafayete R. Pereira, os direitos reais são exclusivos pois autorizam a exclusão da 
intromissão de terceiros. 
 
Aula 20/02/2014 
1.4 Diretrizes teóricas do Código Civil 
a) Sistematicidade – consubstancia-se em um diálogo permanente entre as normas do 
CC, que se divide na parte geral e na parte especial. 
b) Operabilidade – norma incidente sobre um fato para realizar determinado valor 
(triangulação de Miguel Reale norma-fato-valor). Partindo-se da premissa da 
operabilidade, o Código criou normas de conteúdo impreciso, tentando diminuir o 
déficit entre demandas sociais e lei. Dentro de normas dessa natureza, existe uma 
elasticidade interpretativa, o que lhe concede um caráter mutacional constante. Exemplo 
do artigo 1.228 §4º. 
c) Eticidade – padrão ideal de conduta humana. Exemplo: boa-fé contratual art. 422. 
d) Socialidade – o direito com uma tripla dimensão da norma: normas de acesso, de 
titularidade e de função. Exemplo: CF 5 caput ou 1.245 CC; CF 5 XXII ou 1.228 caput 
CC; CF 5 XXIII ou 1.228 §1º CC. 
2. Propriedade 
2.1 Propriedade em geral 
2.1.1 Etimologia jurídica 
Propriedade deriva de proprietas (qualidade do que é próprio). 
2.1.2 Conceitos e critérios 
a) Critério sintético – oriundo da doutrina realista que diz: a propriedade é a submissão 
da coisa em todas as relações ao poder proprietário. 
b) Critério analítico (código civil art. 1.228 caput §1º) – o proprietário tem o direito de 
usar, gozar, dispor e reaver a coisa, cumprida a função social. 
c) Critério descritivo – descreve as características básicas da propriedade: propriedade 
é o direito complexo, absoluto, perpétuo e exclusivo sobre a coisa. 
2.1.3 Características 
Sobre a complexidade (doutrina clássica): a propriedade é complexa por reunir um 
feixe de direitos, ou seja, é um conjunto de direitos. 
Sobre a complexidade (doutrina moderna): a propriedade é complexa, pois 
submetida a múltiplos regimes normativos. 
Sobre a perpetuidade: a propriedade é perpétua porque nasce para ter duração 
temporal ilimitada, sem previsão de extinção. 
2.1.4 Sujeito, objeto e extensão 
Sujeito é a pessoa. O objeto é um bem corpóreo ou incorpóreo (direito autoral por ex.). 
Extensão da propriedade arts. 1.229 e 1.230 do CC. O proprietário é dono do espaço 
aéreo (ou do subsolo) até onde for útil para ele, e até onde não impeça interesse público. 
2.1.5 Classificação 
Quanto às espécies: 
a) Plena – usar, gozar, dispor e reaver. 
b) Limitada – direito real sobre coisa alheia (limitação de poder) ou se for de domínio 
resolúvel (limitação temporal – ex. Alienação fiduciária em garantia). 525 CC 1.916 
Quanto a perpetuidade: 
a) Perpétua – a propriedade nasce pra ter duração temporal ilimitada 
b) Temporária – a propriedade nasce pra ter duração temporal limitada, com previsão 
de extinção – ex. Alienação fiduciária em garantia. 
Na propriedade a plenitude e a perpetuidade se presumem, ao passo que a limitação e a 
temporariedade devem ser provadas. 
 
Aula 25/02/2014 
2.1.7 PROPRIEDADE TEMPORÁRIA 
a) Resolúvel 
a.1) conceito: 
Propriedade cujo título aquisitivo contém a previsão de evento futuro que, se ocorrido, 
causará a extinção da propriedade. O evento futuro poderá ser certo (termo – data certa) 
ou incerto (condição resolutiva – data incerta – morte por ex.). Título aquisitivo é ato 
jurídico que tem por fim transmitir propriedade, ex. Contrato de compra e venda, 
doação, permutação, testamento, etc. Contrato de aluguel quer transmitir propriedade? 
Não, somente prover a posse. 
a.2) exemplos de propriedade resolúvel: 
Fideicomisso – existem 3 sujeitos – fideicomitente (testador), fiduciário (1º testador) e 
fideicomissário (2º testador). Ilustrativamente, chamaremos o testador de João, o 
primeiro testamentário de Maria e o segundo testamentário Carlos. Em seu testamento, 
João põe que Maria ficará com sua casa quando ele vier a falecer, sendo que, caso Maria 
se case ou passe 10 anos da data do falecimento, a propriedade será passada para Carlos. 
Carlos, neste caso, é proprietário diferido, detentor de mera expectativa de direito, ou 
seja, para que ele possa efetivamente ser proprietário, necessário que ocorra a condição 
resolúvel prevista no testamento, no caso, se Maria vier a se casarou se decorrerem os 
10 anos. 
Agora imagine que Maria, antes de se casar e antes de decorridos os 10 anos, transfira a 
propriedade para um terceiro, Manoel, quais as implicações? A venda é válida, contudo 
a transferência é de propriedade resolúvel, e, portanto, quando o evento previsto no 
testamento ocorrer, será a propriedade transferida para Carlos, que passará de 
proprietário diferido para proprietário pleno. 
Alienação fiduciária em garantia (1.361 e ss. CC) – alienação em confiança de que o 
bem dado em garantia é o mesmo bem do contrato da alienação. Um sujeito celebra 
contrato de compra e venda para adquirir um carro, e pede ao banco um financiamento 
para o referido veículo. O banco terá a propriedade resolúvel até que o comprador tenha 
quitado todas as parcelas, momento em que o comprador passa a ser o proprietário 
pleno. 
Art. 1.361. Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa 
móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao 
credor. 
Retrovenda – Cláusula em um contrato de compra e venda, em que o vendedor se 
reserva o direito de recobrar o imóvel que vendeu, em certo prazo, restituindo o preço 
mais despesas feitas pelo comprador. 
Ex. vendo um terreno para um sujeito, e dentro de 1 ano eu tenho o direito de comprar 
este terreno de volta. 
Neste contrato se diz o imóvel como resolúvel, até o fim do prazo estipulado para a 
retrovenda. 
Art. 505. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de 
recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o 
preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive 
as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua 
autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias. 
Doação com cláusula de reversão – É aquela que trata da volta dos bens doados ao 
patrimônio do doador, caso este sobreviva ao donatário. Ou seja, se o donatário morrer 
antes do doador, o que foi doado a ele volta pro doador. Contudo, morrendo o doador 
antes do donatário, fica a este garantido o domínio do bem definitivamente. 
 
Venda a contento com condição resolutiva – É a cláusula no contrato de compra e 
venda que o subordina a condição de ficar desfeito se a coisa não agradar o comprador. 
Trata-se de verdadeira venda condicional, “só compro se eu gostar”. Neste caso, não há 
a transferência da propriedade, que será resolúvel. A propriedade só é transferida 
quando o comprador manifestar o contento. Deve ser estabelecido por cláusula 
expressa. 
A lei não fala em prazo para que seja manifestado o contento. Se não houver sido 
estabelecido o tempo pela cláusula, e o sujeito não se manifestar, pode este ser intimado 
judicialmente para manifestar sua vontade dentro de um prazo. Se, por fim, este não 
cumprir o prazo, determina-se a transferência da propriedade e efetiva execução do 
contrato. O comprador não precisa motivar sua recusa (seu descontento). 
Se o comprador morrer, seu direito não se transfere a herdeiros ou legatários, momento 
em que a venda se consolida, nada restando a estes reclamar. 
 
Venda com reserva de domínio (art. 521 CC) – O transmitente pode reservar para si a 
propriedade até que seja efetuado o pagamento. 
Art. 521. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si 
a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago. 
a.3) efeitos legais (art. 1.359 CC): 
1. Entendem-se resolvidos os direitos reais (não os pessoais) concedidos antes do 
evento. 
2. O proprietário diferido tem ação real (reivindicatória) contra quem quer detenha a 
coisa em seu poder. 
Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou 
pelo advento do termo, entendem-se também resolvidos os direitos 
reais concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo favor se 
opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a 
possua ou detenha. 
b) Propriedade “Ad tempus” 
Ad tempus significa junto ao tempo, oportunamente, potencialmente; trata-se de 
propriedade potencialmente temporária, mas tecnicamente perpétua. É aquela cujo 
título aquisitivo não contém a previsão da sua extinção mas que, por uma causa 
superveniente, resulta extinta. Enquanto na propriedade resolúvel a causa superveniente 
encontra-se no contrato, na propriedade ad tempus a causa superveniente de sua 
extinção encontra-se na própria lei. Ex. Art. 555 c/c 557. 
Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações: 
I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime 
de homicídio doloso contra ele; 
II - se cometeu contra ele ofensa física; 
III - se o injuriou gravemente ou o caluniou; 
IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que 
este necessitava. 
 
Ressalte-se que, se for encargo já previsto em contrato não se fala em propriedade “ad 
tempus”, mas sim em resolúvel. No caso do 557, a extinção da propriedade se dá 
exclusivamente por previsão legal, qual seja, a do próprio artigo inserido no CC. 
Então a primeira causa extintiva da propriedade ad tempus na lei é a revogação, como o 
exemplo acima. A segunda causa é a desapropriação (art. 1.275 CC). A terceira é a 
exclusão do herdeiro por indignidade (art. 1.814 CC). 
Paralelos: 
b.1) Na propriedade resolúvel a revogação é automática. Na propriedade ad tempus a 
revogação depende de decisão estatal. 
b.2) Operando o evento na propriedade resolúvel, resolvem-se os direitos reais 
concedidos antes do evento. Operando o evento na propriedade ad tempus, mantêm-se 
os direitos reais concedidos antes do evento. Ex. O donatário que transferir sua 
propriedade a terceiro, mesmo que seja considerado indigno posteriormente, este 
terceiro manterá seu direito real, pois de boa-fé (salvo se for de má-fé). 
 
Aula 27/02/2014 
2.2 PROPRIEDADE IMÓVEL 
2.2.1 Sistemas Aquisitivos 
a) Romano – Sistema adota pelo CC brasileiro. Aquisição é ato complexo e precisa 
de duas fases. 
Primeira fase = título aquisitivo. O modo aquisitivo é solene, mediante a forma de 
escritura pública (lavrada no cartório de notas). Uma vez pago os emolumentos, o 
próprio cartório procede à segunda fase, qual seja, a feitura da matrícula do imóvel, 
conforme se constata abaixo. 
Segunda fase = módulo aquisitivo. Com o registro, é feita a matrícula do imóvel, que é 
sua certidão de nascimento, seu cadastro. Com a lei 6.015/73 o objetivo principal é de 
que o Brasil tenha um registro de todas as propriedades (suas matrículas). 
O registro no Direito Brasileiro atrai a presunção relativa de domínio (art. 1.245 a 
1.247 do CC). Registro é também ato causal (tem por causa o título aquisitivo, sendo 
que, eventual defeito no título contaminará o registro). Por fim, o registro é ato 
unilateral, ou seja, não depende da vontade do transmitente. 
Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro 
do título translativo no Registro de Imóveis. 
§ 1o Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua 
a ser havido como dono do imóvel. 
§ 2o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a 
decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o 
adquirente continua a ser havido como dono do imóvel. 
 
b) Francês – No sistema francês basta o título aquisitivo para transferir propriedade. 
Lá, como no Brasil, também existem os cartórios, contudo o registro não é obrigatório. 
A propriedade já é transferida pelo mero contrato, sendo facultado ao proprietário 
registrar sua matrícula, o que lhe garante uma proteção erga omnes. 
c) Alemão – Aqui são necessários 2 títulos aquisitivos, sendo que no segundo é feito 
também o registro. Na primeira fase o título é analisado pelo cartório e seu respectivo 
perito. As partes devem comparecer juntas na segunda fase para proceder à matrícula 
(registro). 
A partir desta segunda fase, o registro de imóvel no direito alemão atrai para siuma 
presunção absoluta, fundada em dois princípios: princípio da exatidão do registro (o teor 
do registro é exato, o que consta nele); princípio da proteção a quem confia no registro. 
No sistema alemão o registro não é ato causal, mas sim abstrato (sistema da 
abstração). O título se desvincula da causa obrigacional que o gerou, do título aquisitivo 
originário, o que vale é o efetivo registro na segunda fase. Enquanto no direito brasileiro 
adotamos a característica da unilateralidade, na Alemanha se adota o princípio da 
bilateralidade, vendedor e comprador devem assinar, ato de vontade. 
2.2.2 Modos aquisitivos – classificação quanto à origem 
Analisando-se a história da coisa imóvel (não considerar a posição do Caio Mário 
quanto ao usucapião), pode-se classificar sua aquisição como: 
Originária – quando não há relação de transmissão entre domínio atual e domínio 
anterior. O proprietário atual possui uma propriedade que nada tem a ver com a anterior. 
Derivada – a propriedade atual é uma continuidade da propriedade anterior. 
a) direito hereditário – trata-se de modo de aquisição derivado. 
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, 
aos herdeiros legítimos e testamentários. 
b) registro – trata-se de modo de aquisição derivado, consoante art. 1.245 do CC 
(supra). 
c) acessão – trata-se de modo de aquisição originário, a exemplo do art. 1.255 caput do 
CC. Na acessão a aquisição se dá por fato jurídico próprio. 
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio 
perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e 
construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização. 
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder 
consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou 
ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da 
indenização fixada judicialmente, se não houver acordo. 
d) usucapião – trata-se de modo aquisitivo originário (Caio Mário isoladamente diz ser 
modo de aquisição derivado). Sentença de usucapião não gera imposto de transmissão 
(afinal é originário e não derivado, motivo pelo qual não há que se falar em 
transmissão). 
e) desapropriação judicial – trata-se de modo aquisitivo originário, porque a lei assim 
previu. Art. 1.228 §§ 4º e 5º. 
Na aquisição originária o direito é adquirido de forma plena, sem vício ou gravame, 
porque surge um novo direito, uma nova propriedade. Na aquisição derivada, a 
propriedade é adquirida com eventual vício ou gravame, porque a propriedade atual 
continua a mesma propriedade anterior. 
2.2.3 Modos aquisitivos – espécies 
 
a) Direito hereditário 
O direito hereditário ocorre com a abertura da sucessão (causa mortis), pelo fato 
jurídico stricto sensu chamado morte. Imóvel adquirido pelo direito hereditário não 
faz surgir propriedade para o herdeiro, mas tão somente a declara no formal de 
partilha (judicial ou extrajudicial em cartório), e o herdeiro, ao requerer a mudança na 
matrícula do imóvel para que passe a constar seu nome, só está exercendo um direito 
que já era seu. O herdeiro já é proprietário desde a morte do autor da herança. 
Então sobre o imóvel, o herdeiro já tem a disponibilidade pelo Código Civil (pode 
dispor do bem), mas ainda não tem a disponibilidade administrativa, esta que só existirá 
com o registro do imóvel em seu nome. 
 
Aula 11/03/2014 
b) Registro 
b.1) características 
Já estudamos 3 características do registro: causalidade, relatividade e unilateralidade. 
Existem mais algumas características a serem ditas, estas que seguem abaixo. 
Só quem faz registro é o Estado, que confere delegação ao tabelião (oficialidade art. 
1.245 e lei 6.015/73). É ato retificável, ou seja, pode ser retificado caso seu teor não seja 
verdadeiro (retificabilidade art. 1.247). Possui força probante (art. 1.245). O registro é 
ato administrativo e portanto público (publicidade). 
O registro constitui a propriedade, faz nascer domínio (constituitividade). Quando que 
o registro não faz surgir o domínio, mas tão somente declara a propriedade? Exemplo 
do direito hereditário (supra) e do usucapião. 
A aquisição da propriedade imobiliária é ato complexo, e portanto o registro é 
obrigatório para a aquisição da propriedade (obrigatoriedade). Uma vez que a 
propriedade seja registrada, surgirá uma cadeia dominial a partir do momento em que 
este imóvel passe de sujeito para sujeito, todos alterando efetivamente o registro para si 
(continuidade). Trata-se, ademais, de uma exigência feita pelo cartório de que o titular 
da matrícula do imóvel seja também o transmitente do título aquisitivo, para que o 
verdadeiro dono da coisa é quem tenha legitimidade e poderes para transferí-la, 
preservando-se a continuidade do registro e a cadeia dominial (art. 195 da lei 6.015/73). 
O registro engloba dois termos: transcrição e inscrição, utilizados pela velha doutrina de 
maneira separada (art. 168 da lei 6.015). 
 
b.2) propriedade aparente (teoria da aparência) 
b.2.1 pressupostos da propriedade aparente 
a) adquirente de boa-fé – A boa-fé, neste caso, é a boa-fé subjetiva (própria de direitos 
reais), que está ligada a um estado de ignorância + circunstâncias. É o que dispõe os 
arts. 1.201 e 1.202 do CC. A boa-fé objetiva, por outro lado, mais inerente ao direito 
contratual, colocará a conduta em evidência: conduta padrão/ideal e conduta concreta. 
Ex. O banco não pode inserir nome de consumidor no SPC sem antes notificá-lo 
(conduta ideal). A conduta concreta é o que efetivamente ocorre na vida real: se o banco 
infringiu essa regra, não houve boa-fé objetiva, mas se o banco procedeu à notificação 
do consumidor antes de inseri-lo no SPC, houve boa-fé objetiva. 
b) erro – Falsa percepção da realidade. O erro deve ser comum (capaz de iludir a todos 
– homem médio social) e escusável (um erro que não é grosseiro). 
c) alienação onerosa – Deve ser transmissão com onerosidade. 
b.2.2 hipóteses legais da propriedade aparente 
São hipóteses onde se reputa uma pessoa como proprietária de algo, mesmo ela não 
sendo. 
a) herdeiro aparente (art. 1.817 CC) – João morreu e não deixou herdeiros. Seu irmão 
José, portanto, ficou com sua herança, qual seja um imóvel. Este imóvel foi 
posteriormente alienado pelo seu irmão José a um terceiro adquirente de boa-fé 
Joaquim. Entretanto, logo após esta feita, surge um herdeiro legítimo do falecido João, 
um filho seu, Isaías, que mediante ação de investigação de paternidade post-mortem, 
constata que era, de fato, seu herdeiro legal. O que ocorre? Neste caso, por ser o terceiro 
adquirente, Joaquim, de boa-fé, tendo uma falsa percepção da realidade, incorrendo em 
erro escusável e comum, terá seu direito resguardado. Poderá Isaías, entretanto, pleitear 
perdas e danos de seu tio José. 
b) pagamento indevido (art. 879 CC) – 
Art. 879. Se aquele que indevidamente recebeu um imóvel o tiver 
alienado em boa-fé, por título oneroso, responde somente pela 
quantia recebida; mas, se agiu de má-fé, além do valor do imóvel, 
responde por perdas e danos. 
Parágrafo único. Se o imóvel foi alienado por título gratuito, ou se, 
alienado por título oneroso, o terceiro adquirente agiu de má-fé, cabe 
ao que pagou por erro o direito de reivindicação. 
c) simulação – a vontade interna não se coaduna com a vontade externamente 
manifestada. Art. 167 §2º. João, casado com Maria, tem como amante (concubina 
impura) Joana. Mediante negócio jurídico simulado, ele passa um imóvel seu a título 
gratuito para Joana (verdadeira doação), mas simulando como se tivesse sido uma 
compra e venda. Joana transmite, mediante compra e venda, o imóvel a terceiro de boa-
fé. O direito deste terceiro está resguardado, pois de boa-fé. 
d) fraude contra credores – ação pauliana. Art. 161 do CC. Alcance. Devedor, co-
fraudador e terceiro de má-fé. Não alcança terceirode boa-fé. 
c) acessão (1.257 caput) 
c.1) conceito – é o aumento do objeto da propriedade, em razão de força externa natural 
ou humana. 
c.2) natureza jurídica – é modo aquisitivo de propriedade. 
c.3) fundamentos: 
- É modo aquisitivo para evitar um condomínio indesejado. Ex. Um vizinho que 
constrói uma edificação no terreno de outro vizinho. Se ao recorrerem à justiça, o juiz 
dissesse que a propriedade agora era de ambos, estaria por criar novos condomínios. Por 
isso a lei vem para evitar isso. 
- É modo aquisitivo de propriedade pois decorre de coisa nova, e essa coisa nova deve 
ser deferida a um sujeito. 
c.4) problemas jurídicos – Quem vai ser dono da coisa nova? Haverá ou não 
indenização? 
c.5) Espécies: 
ACESSÃO DISCRETA – na acessão discreta, existe o aumento do objeto da 
propriedade em razão de uma força interna. Esta força interna é o poder de fruir do 
proprietário (elemento interno do direito de propriedade). Fruir diz respeito às coisas 
acessórias, tais como frutos, produtos, rendimentos e benfeitorias na coisa. Quem é 
dono do principal é dono do acessório, logo este acessório não pode ser considerado 
modo aquisitivo, mormente porque o proprietário está apenas exercitando seu poder 
inerente ao seu direito real. 
Na tese de Silvio Rodrigues: “Quem edifica em solo próprio faz benfeitoria, quem 
edifica em solo alheio faz acessão”. Entretanto esta tese não resolve todos os problemas. 
ACESSÃO CONTÍNUA – é o aumento do objeto da propriedade em razão de força 
externa. Força externa significa união. Implica dizer que uma parcela de imóvel vai se 
juntar a outra parcela de imóvel, de modo permanente. Esta força externa pode ser 
natural ou humana. 
DAS ACESSÕES NATURAIS 
Obs. Preliminar: Não haverá indenização nas acessões naturais, salvo na avulsão como 
direito. 
Aluvião –> Própria ou imprópria. 
Na Aluvião Própria ocorre um aterro natural, ou seja, uma transposição paulatina de 
terra que vem na força das águas das correntes formando o que se chama de terrenos 
aluviais. Isto gera um terreno acrescido. Quem será dono desse terreno acrescido é o 
próprio dono do terreno. Quando há mais de um dono da terra acrescida, a divisão da 
coisa nova se dará na proporção da testada (art. 1.250, § único do CC). Testada é a parte 
frontal da propriedade ribeirinha que se estende até a linha equidistante das margens do 
rio. 
Aluvião Imprópria é quando o rio diminui permanentemente o volume de suas águas, 
ampliando-se suas margens, criando nova terra. 
Avulsão (art. 1.251) -> Na avulsão, ao revés, este acréscimo de terra não ocorre de 
maneira paulatina mas sim de maneira abrupta. A avulsão só operará para o titular do 
terreno acrescido quando ocorrer a decadência do direito de reclamar do titular do 
terreno desfalcado (1 ano). O titular do terreno acrescido tem o direito de se indenizar, 
que é hierarquicamente superior ao direito de reclamar. O que isto significa? Que se o 
titular do terreno desfalcado reclamar seu terreno, pode o titular do terreno acrescido ao 
invés de devolver-lhe, indenizá-lo, mantendo o terreno para si. 
Formação de ilhas (art. 1.249) -> Ocorre dentro de um rio, entre duas propriedades 
privadas (jamais da União), formando-se um condomínio indesejado, uma vez que a 
linha equidistante das margens do rio dividirá a ilha em duas partes, que pertencerão a 
ambos os proprietários dos dois lados do rio, na proporção da testada de cada um. 
Abandono do Álveo (art. 1.252) -> Quando o rio por fato natural busca um novo curso 
para suas águas, abandonando o leito originário, criando nova terra, que será dividida 
consoante o meio do antigo álveo (que agora é terra), dividindo-se entre os proprietários 
na medida de sua testada. 
 
DA ACESSÃO ARTIFICIAL (HUMANA) 
Regras: 
a) Toda edificação feita no solo, presume-se feita pelo dono e a sua custa (art. 1.253). 
b) O dono do solo adquire tudo quanto nele for edificado (acessão artificial direta). 
Ex. B edifica no terreno de A. A adquire para si a coisa imediatamente. Contudo, por 
vezes, a aplicação desse princípio pode acarretar incômodos e soluções descabidas. 
Imagine-se que foi edificado um prédio de escritórios, invadindo o terreno de um 
morador ao lado em 5%. As soluções poderiam ser: o dono do terreno ao lado seria 
agora dono, também, de 5% do prédio de escritórios OU o prédio de escritórios deveria 
ser demolido na parte que invadiu. Ambas as soluções são deveras drásticas, e por isso a 
jurisprudência criou a figura da acessão inversa/desapropriação privada (cairá na 
prova). Neste caso, devem os proprietários dos escritórios do prédio invasor indenizar o 
morador ao lado em 5% do valor (este valor será abordado mais a frente) art. 1.258. 
Para que ocorra a acessão inversa, é necessário que seja em solo alheio, que seja uma 
obra valiosa em relação ao terreno (como no exemplo), que haja indenização e que 
seja o construtor de boa-fé. 
c) A boa ou a má-fé influi na indenização. Nem sempre se presume a boa-fé, por vezes é 
necessário prová-la, mormente quando é requisito de algum instituto. 
Hipóteses legais da acessão artificial 
1) Art. 1.254. O sujeito aqui é o dono que edifica em terreno próprio, utilizando-se de 
material alheio. Será ele dono dessa coisa nova, mas deverá restituir o valor do material 
utilizado a título de indenização e, se agiu de má-fé, pagará por perdas e danos também. 
2) Art. 1.255. Construtor de má-fé que edifica em terreno alheio, perde a coisa sem 
indenização. Se procedeu de boa-fé, perde a coisa e será indenizado. 
3) Art. 1.255 §único. Acessão inversa. Se a construção ou a plantação exceder 
consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, 
adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada 
judicialmente, se não houver acordo. 
4) 1.256. Tanto o construtor quanto o dono do terreno estão de má-fé. O dono da coisa 
nova será o dono do terreno, e indenizará o construtor. 
Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o 
proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o 
valor das acessões. 
Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o 
trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem 
impugnação sua. 
Ex. Um filho que edifica no terreno de seu próprio pai, sendo que este consente. Neste 
caso, à luz do Código, ambos estão de má-fé, por quê? Pois eles não ignoram que estão 
edificando em terreno alheio. O filho sabe que edifica em terreno de seu pai, e o pai, por 
sua vez, sabe que o filho está custeando a nova edificação em seu terreno, de modo que 
ambos estão plenamente conscientes das circunstâncias. 
5) Art. 1.257. Três figuras: Construtor de boa-fé (A) que edifica em terreno alheio de 
B, utilizando-se de material alheio de C. O construtor pode pedir indenização do dono 
do terreno pelo emprego de suas forças no plantio/construção. O dono do material 
também será indenizado. Ele pode pedir a indenização do construtor que utilizou seu 
material, e, não podendo reaver seu material deste, nada obsta a que busque este valor 
com o dono do terreno. 
Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de 
não pertencerem as sementes, plantas ou materiais a quem de boa-fé 
os empregou em solo alheio. 
Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais 
poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando 
não puder havê-la do plantador ou construtor. 
6) Art. 1.258. Construtor de boa-fé. Terrenos limítrofes. Pequena invasão (até 5% do 
terreno alheio). Opera-se a acessão inversa. A construção excede o valor do solo 
invadido (considera-se solo invadido somente os 5% que de fato foram invadidos). 
Construtor de boa-fé deve indenizar valor que represente o valor da área invadida (os 
5% invadidos – dano emergente) e o desvalor da área restante(lucro cessante), que 
ficou sem os 5% (ex. Se prejudicou a vista com a edificação naqueles 5% e o imóvel foi 
desvalorizado). Portanto são dois valores. 
7) Art. 1.258 §único. Construtor de má-fé. Terrenos limítrofes. Pequena invasão (até 
5% do terreno alheio). Opera-se a acessão inversa, se não se puder demolir a porção 
invasora sem grave prejuízo à construção (aqui temos um pressuposto negativo de 
procedibilidade, sem o qual não se opera a acessão inversa. É uma condição a mais, pois 
o construtor aqui está de má-fé). A construção deve exceder consideravelmente o valor 
do solo invadido (considera-se solo invadido somente os 5% que de fato foram 
invadidos). O construtor de má-fé deve indenizar o valor da área invadida (os 5% 
invadidos – dano emergente) e o desvalor da área restante (lucro cessante), que ficou 
sem os 5% AMBOS multiplicados por 10. 
8) Art. 1.259 1ª parte. Construtor de boa-fé. Terrenos limítrofes. Grande invasão 
(acima de 5%). Opera-se a acessão inversa. Indenização. Perdas e danos que abranjam o 
valor que a invasão acrescer à construção (do construtor), mais o da área perdida (dano 
emergente) e o da desvalorização da área remanescente (lucro cessante). 
9) Art. 1.259 2ª parte. Construtor de má-fé. Terrenos limítrofes. Grande invasão acima 
de 5%). Deve demolir, pagando as perdas e danos em dobro. 
 
Aula 18/03/2014 e Aula 20/03/2014 e Aula 25/03/2014 e Aula 27/03/2014 
d) Usucapião 
d.1) Conceito. É modo de aquisição da propriedade sobre uma coisa pela sua posse 
prolongada por certo tempo nas condições estabelecidas pela lei. Posse, tempo e lei. 
d.2) Fundamentos. Função social da propriedade. Segurança jurídica da propriedade. 
Sanar os defeitos do título aquisitivo. 
d.3) Usucapião e Prescrição. 
4. Requisitos do usucapião. 
4.1 Requisitos pessoais: 
Possuidor (usucapiente) – capacidade para adquirir o usucapião, pode ser a 
capacidade de direito ou de fato. 
Para Pontes, o usucapião se dá por ato-fato jurídico (não se dá relevância à vontade do 
agente). Apoiando a tese de Pontes de Miranda, é o art. 593, I do CC 1.916: “Adquire-se 
a posse pela apreensão da coisa”. Para uma parte da doutrina, o art. 1.204 do novo 
código abrigou o antigo art. 593 do código de 1916. Nesta linha, o incapaz pode 
adquirir propriedade pelo usucapião? Pela tese de Pontes de Miranda pode, por se tratar 
de ato-fato jurídico que dispensa a intenção do agente, sendo que este necessita tão 
somente da capacidade de direito. 
Para Orlando Gomes o agente deve ter capacidade de fato, e não somente de direito. 
Ainda, deve ter o “animus domini”, a vontade, consoante o art. 593, III, p. único do CC 
de 1.916. 
Proprietário (usucapiado): 
Proprietário que perde a propriedade pelo usucapião – contra o relativamente capaz 
corre a prescrição, ou seja, ele pode perder imóvel pelo decurso do tempo e neste caso 
específico, o usucapião terá indenização (só nesse caso, e no outro caso do 195, pois 
usucapião não enseja indenização): 
Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação 
contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem 
causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente. 
Não há nexo causal entre o possuidor e o proprietário, por isso mesmo é que não há que 
se falar em indenização entre estes. O 195 fala tão somente da indenização do 
proprietário que perdeu, contra quem deveria protegê-lo (seu representante legal). 
Proprietário que não perde a propriedade pelo usucapião – o Estado. Os agentes do 
art. 197 (salvo do inciso I que foi revogado pela Lei que instituiu o usucapião especial 
urbano entre cônjuges) e do art. 198. Contra o absolutamente incapaz não corre a 
prescrição (agente arrolado no art. 198). 
As coisas são usucapíveis (apropriáveis) ou inusucapíveis (inapropriáveis). 
Das coisas inusucapíveis, cite-se: 
Bens fora do comércio, bens legalmente inalienáveis, bens públicos, bens de uso 
comum, bens de uso especial, bens dominiais. 
O que são bens públicos? 
Bens públicos – art. 98 do CC; art. 183 §3º da CF (plano subjetivo) 
Bem públicos – bens que possuem função essencialmente pública (plano objetivo) 
Das coisas usucapíveis, cite-se: 
Bem hipotecado, bem de domínio resolúvel, bem de família (legal Lei 8.009/90 ou 
voluntário art. 1.711 do CC), bem voluntariamente inalienável. Este bem 
voluntariamente inalienável não estaria fora do comércio? Sim, mas como partiu de ato 
de vontade, é considerado como um gravame, logo, pode ser usucapido (contrato 
interpartes não vincula terceiros). 
 
4.2 Requisitos formais tradicionais 
4.2.1 Posse ad usucapionem (para usucapir) 
Requisitos da posse para usucapir: 
1. Animus domini – Posse com vontade de ser dono (não se confunde com a vontade 
falada anteriormente na distinção entre as correntes de Pontes e Orlando Gomes a 
respeito do usucapiente). Não é mero estado psicológico do sujeito, há que se investigar 
a causa de possuir. Se a causa de possuir for contrária a vontade de ser dono, restará 
afastado o usucapião. 
Causas contrárias ao animus domini: 
a) desdobramento da posse – aquele que tem o dever de restituir a coisa, não pode 
usucapir. Posse direta de um locatário x posse indireta de um locador. Se o locatário 
ficar 20 anos na propriedade alugando, pode alegar o usucapião? Jamais, pois tem o 
dever de restituir o bem. Art. 1.197 do CC. 
b) ato de tolerância ou de mera permissão – os atos de tolerância são tácitos, os atos de 
mera permissão são expressos. Ato de mera tolerância: fazendeiro que deixa o amigo X 
usar o curral dele pra vacinar o gado. Mudando o proprietário, não pode o cara X que 
vacinava seu gado na fazendo do amigo alegar usucapião da servidão em cima do novo 
proprietário. Ato de tolerância e ato de mera permissão são atos de subordinação. Art. 
1.208 do CC. 
c) atos violentos ou clandestinos – o MST invade uma fazenda utilizando-se de 
violência; enquanto tramita o processo para retirá-los da fazenda, não corre a prescrição. 
Além disso, esses atos violentos não induzem posse, mas mera detenção. Um exemplo 
de ato clandestino é quando um vizinho começa a alteração os limites da terra, 
invadindo a terra do outro clandestinamente, sem que o outro perceba (às ocultas). 
Neste caso também não gera posse, mas tão somente detenção. Art. 1.208. 
Obs. A posse injusta pode acarretar o usucapião, porque, uma vez cessado o ato de 
violência, e não sendo perturbado o possuidor pelo tempo necessário à configuração do 
usucapião, usucapido estará. É porque a posse que era injusta à época da violência, 
torna-se justa. 
d) detenção (art. 1.198) – detentor é um subordinado do possuidor. Os exemplos dos 
tópicos b) e c) são exemplos de detentores. 
2. Pacificidade 
Uma posse pacífica. Pacificidade do proprietário em não reclamar de volta sua 
propriedade mediante ação reivindicatória (pelo seu direito de sequela = reaver a coisa 
de quem injustamente a possua ou detenha). Em que momento o proprietário consegue 
fazer cessar a posse do possuidor e interromper o prazo do usucapião? Com a citação 
válida (art. 219 do CPC – interrompe a prescrição – interrompe o prazo prescricional do 
usucapião). 
3. Continuidade 
A posse deve ser contínua pelo prazo hábil para usucapir. Não pode haver interrupção. 
Mas esta interrupção deve ser relevante (não uma mera viagem a trabalho ou lazer), que 
demonstre não estar mais o possuidor interessado na posse. É possível a soma de tempo 
de posse (acessão de posse). Exemplo, o pai tem a posse por 10 anos, morre, e o filho se 
mantém na propriedade por mais 5 anos, pleiteando ao juiz o usucapião (antecessor e 
sucessor). É possível. Art. 1.243. 
4. Publicidade 
Ideia oposta à clandestinidade, que, como já foi vista, não gera usucapião. Deve ser 
pública a posse e não às ocultas mantendo alguém em erro (o proprietário no caso). 
 
4.2.2 Tempo 
Requisitos– quanto menos requisitos mais prazo, quanto mais requisitos menos prazo. 
Direito intemporal – se o prazo começou a ser contado pelo Código de 1916, será 
aplicado este. Se o prazo tiver início no código de 2002, será este aplicado. E se o prazo 
começou no código de 1916, e terminou no código de 2002? Aí é que entra o direito 
intemporal (conflito de normas no tempo). 
O direito intemporal é regido por alguns princípios (tudo tem princípio nessa merda de 
direito): princípio da não-surpresa, princípio da segurança jurídica, princípio da 
razoabilidade. Existem, além disso, regras. 
O art. 2.028 do CC de 2002 -> 
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por 
este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver 
transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada. 
- Manda aplicar o código de 1916 quando o prazo for reduzido pelo código atual. 
- Manda aplicar o código de 1916 quando decorrido mais da metade do prazo do código 
de 1916, na entrada de vigência do código de 2002. O CC de 2002 entrou em vigência 
no dia 11/01/2003. Ex. o prazo para usucapir no de 1916 era de 20 anos. Se o cara já 
andou por 11 anos no prazo do código anterior no dia 11/01/2003, aplica-se este. Se, por 
outro lado, ele caminhou somente por 9 anos no prazo do código anterior no dia 
11/01/2003, por ser menos da metade do prazo, aplicar-se-á o de 2002. Regra maluca. 
O art. 2.029 do CC de 2002 -> 
Art. 2.029. Até dois anos após a entrada em vigor deste Código, os 
prazos estabelecidos no parágrafo único do art. 1.238 e no parágrafo 
único do art. 1.242 serão acrescidos de dois anos, qualquer que seja 
o tempo transcorrido na vigência do anterior. 
- Manda aumentar 2 anos nos arts. 1.238 §único e 1.242 §único (usucapião com função 
social), qualquer que seja o período transcorrido, se eles forem se completar até 2 anos 
da entrada em vigor do código de 2002, ou seja, até o dia 11/01/2005. 
O art. 2.030 do CC de 2002 -> 
Art. 2.030. O acréscimo de que trata o artigo antecedente, será feito 
nos casos a que se refere o § 4o do art. 1.228. 
- Aplica-se ao 1.228 §4º do CC de 2002, que também trata de uma forma de usucapião 
com função social. 
4.2.3 Justo título. Art. 1.242 CC 
Somente o usucapião ordinário exige justo título 
Justo significa vício (título aquisitivo que contém um vício). Ora, se houver um título 
puro, sem vícios, não se fala em usucapião. Justo título aquisitivo, portanto, é título 
aquisitivo que contém defeito/vício capaz de impedir ou tornar sem efeito a aquisição da 
propriedade. 
O segundo significado da palavra justo é hábil. Este título deve ser hábil para transferir 
propriedade (não é qualquer título que serve para transferir propriedade via usucapião). 
Uma corrente diz que esta habilidade deve ser concreta. Não é qualquer título que gera 
justo título para usucapir. Este título deve respeitar a forma legal e ser registrado. Ex. 
escritura pública falsa de compra e venda (com assinatura falsa – vício). 
Outra corrente dirá que basta habilidade abstrata. Basta que o documento tenha o fim de 
transmitir propriedade, não importa a forma nem o registro. Poderia até ser um recibo 
particular para ser considerado justo título. 
Art. 1.242. (Usucapião ordinário) Adquire também a propriedade do 
imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e 
boa-fé, o possuir por dez anos. 
(Título Abstrato) 
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se 
o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro 
constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde 
que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou 
realizado investimentos de interesse social e econômico. 
(Título Concreto) 
Conclusão, o CC de 2002 adotou ambas as teorias, a teoria do título justo abstrato no 
caput do art. 1.242 e a teoria do título justo concreto no parágrafo único do art. 1.242. 
4.2.4 Boa-fé subjetiva 
A boa-fé subjetiva pode ser: 
Real – Ignorância + circunstância (1.201 caput e 1.202) 
Presumida – Acompanhada por justo título (art. 1.201 §único) – O possuidor com justo 
título tem para si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei 
expressamente não admite esta presunção. 
5. Espécies de usucapião 
a) Extraordinário (Art. 1.238) Divide-se em dois: 
Do caput (sem função social) -> Posse e tempo de 15 anos – usucapião mais longo do 
direito brasileiro. Lembrando mais uma vez que, a sentença de usucapião é meramente 
declaratória, e, portanto, não é requisito do usucapião. O juiz não faz proprietário pela 
sentença, mas tão somente declara a propriedade. 
Do parágrafo único (com função social) -> Posse e tempo de 10 anos – se houver 
moradia habitual ou produtividade. Função social, moradia e produtividade reduzem o 
prazo do usucapião. 
Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem 
oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, 
independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que 
assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro 
no Cartório de Registro de Imóveis. 
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a 
dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua 
moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter 
produtivo. 
b) Ordinário (Art. 1.242 supra) Divide-se em dois: 
Do caput (sem função social) -> Posse, tempo de 10 anos, justo título (abstrato) e boa-
fé. 
Do parágrafo único (com função social) -> Posse, tempo de 5 anos, justo título 
(concreto), e moradia ou investimento social econômico. 
c) Constitucional Urbano (CF art. 183; CC 1.240; Lei 10.257/2001 art. 9º) 
Criado pela CF/88, também chamado de pro habitatio, serve para dar moradia para 
quem não tem. Posse, tempo de 5 anos, área urbana de até 250 m², para moradia própria 
ou da família, se não houver outro imóvel urbano ou rural nem usucapião anterior. 
Somente o Estado pode definir o que é área urbana ou rural. 
A Lei 10.257/01 é o Estatuto da Cidade 
d) Constitucional Rural (CF art. 191; CC 1.239; Lei 6.969/81 art. 7º) 
Também chamado de usucapião pro labore. Posse, tempo de 5 anos, área rural não 
superior a 50 hectares, moradia, produtividade, não sendo proprietário de imóvel rural 
ou urbano anterior. Somente o Estado pode definir o que e área rural. 
e) Coletivo. Estatuto. Cidade. (Lei 10.257/2001 art. 10) 
É um instrumento de concretização da função social da propriedade urbana. A ideia é 
regularizar área de favela, criando um condomínio indivisível entre os moradores. Posse 
por população de baixa renda, tempo de 5 anos, área urbana superior a 250 m², moradia, 
onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, sem que 
sejam proprietários de imóvel urbano ou rural anterior. 
f) Cônjuge (CC art. 1.240-A; Lei 12.424/11) 
Posse direta, tempo de 2 anos, área de no máximo 250 m², para moradia, ex-cônjuge que 
abandonou o lar, sem propriedade urbana ou rural anterior. É uma proteção ao cônjuge 
que permanece no lar, cuidando dos filhos, mantendo a família. Esse cônjuge protegido 
pela lei normalmente é a mulher, no caso do marido sumir do mapa, fugir de casa, e 
depois retornar reivindicando a propriedade para si. O abando é a conduta contrária a 
continuar com o companheiro, exterminar qualquer vínculo com ex-cônjuge, e deve ser 
provado judicialmente. 
 
Obs. O usucapião pode ser alegado em matéria de defesa, mas não dá direito a registro 
da sentença no registro de imóveis, salvo nos casos legais: 
a) Art. 13 do Estatuto da Cidade (usucapião constitucional urbano, usucapião 
coletivo e usucapião de cônjuge); 
b) Art. 7º §único da Lei 6.969/81 (usucapião constitucional rural). 
Quando o autor dá início ao processo mediante a petição inicial, o réu deve se defender, 
tentandoimpedir a pretensão daquele. Entretanto, por vezes, o réu, na defesa, faz um 
pedido. A isso se chama reconvenção. Se o réu, mediante uma reconvenção, faz o 
pedido de que se reconheça seu usucapião, estará impondo rito diverso daquele 
pretendido pelo autor (rito especial). Para que o réu possa alegar o usucapião em sede de 
defesa (na contestação), e possa, na decisão favorável, registrar o imóvel, seu usucapião 
deve estar arrolado nas exceções acima. 
e) Desapropriação judicial (CC art. 1.228 §§ 4º e 5º) 
Não é usucapião pois pressupõe uma indenização. 
§ 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de 
desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse 
social, bem como no de requisição, em caso de perigo público 
iminente. 
§ 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel 
reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de 
boa-fé1, por mais de cinco anos, de considerável número de 
pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou 
separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de 
interesse social e econômico relevante. 
§ 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa 
indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença 
como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. 
 
Aula 01/04/2014 
 
Alienação não é modo de perda de propriedade, malgrado esteja na lei. Tampouco é a 
renúncia, também previsto como modo de perda de propriedade no art. 1.275 do CC. 
Ambos, também, não são modos de adquirir propriedade. 
Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a 
propriedade: 
I - por alienação; (não é modo) 
II - pela renúncia; (não é modo) 
III - por abandono; 
IV - por perecimento da coisa; 
V - por desapropriação. 
Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da 
propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título 
transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis. 
Tendo feitas estas considerações, passemos ao inciso III do dispositivo supra. 
Abandono (art. 1.276) 
Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a 
intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não 
encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem 
vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do 
Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições. 
§ 1o O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas 
circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, 
três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se 
localize. 
 
1 Boa-fé objetiva, neste caso: Conduta ideal (lei) e conduta concreta (fatos). 
§ 2o Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este 
artigo, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de 
satisfazer os ônus fiscais. 
Os pressupostos para o abandono são: 
Intenção contrária ao “animus domini. A intenção, manifestada pela conduta, faz 
nascer a presunção do abandono, que poderá ser relativa ou absoluta. De modo relativo, 
é a inobservância do regime normativo básico (quem não segue as regras próprias do 
imóvel, como, por ex. capinar o lote, construir cerca, etc.). De modo absoluto é o não 
pagamento de tributo. Ausência de posse alheia. Prazo de 3 anos. 
Ao inciso IV agora, qual seja, o perecimento da coisa: 
Perecimento da coisa – Poderá ser físico ou jurídico. O físico é óbvio. O jurídico 
ocorre quando alguém realiza uma conduta antissocial utilizando-se de sua propriedade, 
frustrando sua função social (CF, art.5º, XXIII e CC, art. 1.228, §1º2). 
Ao inciso V: 
Desapropriação – A desapropriação poderá ser administrativa ou judicial (1.228 §§ 4º 
e 5º). A administrativa não será tratada nesse semestre, ao passo que a judicial já foi 
tratada em aula anterior. 
6. Direitos de vizinhança 
Para falar de direito de vizinhança, é mister definir o que vem a ser uma servidão. A 
fonte da servidão é a vontade, ao passo que a fonte primeira do direito de 
vizinhança é a lei. Servidão é direito real sobre coisas alheias. Direito de vizinhança é 
imposição legal que limita o direito de propriedade. O fundamento do direito de 
vizinhança é uma relação de reciprocidade. O fundamento da servidão diz respeito a um 
encargo/proveito. A lei estipula o direito de vizinhança pautado por um juízo de 
necessidade (isso importa em reconhecer, inclusive, que benfeitorias voluptuárias ou 
úteis não serão abrangidas, mas tão somente as necessárias). A servidão é pautada por 
um juízo de utilidade. 
a) Conceito – são limitações legais à propriedade, editadas com a finalidade de evitar 
ou solucionar os conflitos de vizinhança. 
b) Natureza jurídica – limitação legal de propriedade. 
c) Conflito de vizinhança – quando ocorre uma conduta em um prédio, que cause 
danos em outro prédio, existindo um nexo causal entre a conduta e o resultado. 
d) Classificação – o direito de vizinhança pode ser: 
Oneroso (indenização obrigatória – ex. art. 1.285). Independe de dano. 
Gratuito (indenização eventual – ex. art. 1.313 §3º). Somente se houver dano. 
 
2 O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades 
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido 
em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio 
histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. 
e) Critérios reguladores das relações de vizinhança – Quatro teorias: 
Teoria da pré-ocupação. Deve estar ligada aos usos e costumes do lugar. Art. 4º da 
LINDB. Ex. é costume local batucar no pelourinho, se houver conflito entre morador e 
o costume local, prevalecerá, neste caso, o último. 
Teoria da proibição dos atos emulativos. Teoria doutrinária incorporada no art. 1.228 
§2º do CC3. São atos de vingança, de mera disputa. São atos que não geram proveito, 
em princípio, a quem o faz, mas causam dano a quem experimenta os seus efeitos. Estes 
atos são ilícitos. Ex. Vizinho erguer seu muro em uma altura tal que tampe a incidência 
de raios solares nas placas de energia solar de seu vizinho. 
Teoria do uso normal. Uso normal é diferente de uso anormal (no shit Sherlock!). O 
uso normal está previsto no art. 188 inciso I do CC. Uso anormal é uso ilícito (nocivo), 
são interferências prejudiciais. Este uso anormal pode ocorrer por excesso (abusivo) ou 
por desvio de finalidade. 
O uso anormal por excesso (abusivo) possui finalidade legítima, mas excede limites 
ordinários de tolerância da vizinhança. Ex. escutar som alto, antes das 22h, 
incomodando a vizinhança inteira (é que se incomodar apenas um vizinho, a discussão 
fica um pouco vazia). Art. 1.277 §único. 
Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito 
de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao 
sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de 
propriedade vizinha. 
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a 
natureza da utilização, a localização do prédio, atendidas as normas 
que distribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de 
tolerância dos moradores da vizinhança. 
O uso anormal por desvio de finalidade ocorre, por exemplo, quando em uma área 
residencial o agente passa a usar seu imóvel para fins comerciais. Neste caso deve-se 
investigar quem está desviando a finalidade no caso concreto. 
Teoria do uso necessário (Bonfante). Adotada no CC nos arts. 1.278 e 1.279. Todo 
imóvel possui uma parte interna definida pelos seus limites, e todo imóvel está inserido 
em um contexto, que é a área externa. Se houver uma lesão à área interna, esta será 
considerada lesão a direito, que encontratutela no direito de vizinhança (ex. alguma 
atividade do morador que cause rachaduras no imóvel). Se houver uma lesão na área 
externa, esta será considerada lesão a mero interesse, sem tutela do direito de vizinhança 
(ex. construírem um prédio comercial no parque olhos d’água, acabando com a vista 
“verde”). 
Se a lesão à área interna decorrer do uso necessário, pautado por interesse público, deve 
ser tolerada, mediante indenização. 
Art. 1.278. O direito a que se refere o artigo antecedente (de fazer 
cessar as interferências prejudiciais) não prevalece quando as 
interferências forem justificadas por interesse público, caso em que o 
 
3 São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e 
sejam animados pela intenção de prejudicar outrem 
proprietário ou o possuidor, causador delas, pagará ao vizinho 
indenização cabal. 
Art. 1.279. Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as 
interferências, poderá o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação, 
quando estas se tornarem possíveis. 
f) Tutela: 
Dano ocorrido. Pedido indenizatório ou pedido demolitório art. 1.280 CC. 
Dano atual. Pedido cominatório. Ação que requer ao juiz cominar uma pena (multa) em 
caso de descumprimento de ordem. Art. 461 §4º do CPC. Cabe também um pedido de 
nunciação à obra nova (paralisação de obra nova, embargo judicial – art. 934 e s. do 
CPC). 
Iminente. Pedido de caução por dano infecto (iminente). A parte requer uma caução 
prévia para que, caso haja o dano mesmo, ele já possa indenizar-se utilizando-se desta 
caução. Art. 1.280 e 1.281 CC. 
 
Aula 03/04/2014 
7. Condomínio 
Ordinário – Também chamado de condomínio geral, é a teoria geral do condomínio, é 
o verdadeiro condomínio. Quando a coisa é comum a todos, dividida de maneira igual, 
inclusive registrando-se na matrícula do imóvel os nomes de todos os titulares. Para os 
romanos, é forma anormal de propriedade que tende a voltar à normalidade com a sua 
extinção. Na visão dos romanos, cada coisa deveria ter só um dono. Se duas ou mais 
pessoas fossem donas de uma coisa só, haveria uma constante tensão. 
Edilício – Somente um terreno dividido entre vários proprietários, cada qual com uma 
fração e uma matrícula diferente. No condomínio edilício há uma mescla de partes 
comuns (entradas, passagens, etc) e partes exclusivas. 
CONDOMÍNIO ORDINÁRIO 
Um bom exemplo de condomínio ordinário é quando há imóvel comum aos 
cônjuges, e estes pedem o divórcio. Passam ambos a serem proprietários de uma só 
coisa (os romanos esperneiam nas tumbas ao lerem isso, brinks). 
a) Concorrência de direitos 
Só haverá comunhão dos sujeitos enquanto houver Indivisão da coisa. Só haverá 
indivisão da coisa, enquanto houver comunhão dos sujeitos. 
Aspecto subjetivo – Comunhão. Sujeitos estão em estado de Comunhão. Sujeitos 
titulares de direito sobre a coisa de modo igual (oposto de diverso), concorrente (oposto 
de excludente) e simultâneo (oposto de sucessivo). 
Aspecto objetivo – Indivisão. Coisas estão em estado de indivisão. Quando a coisa for 
submetida a direito pertencente de modo igual, concorrente e simultâneo a vários 
titulares. 
b) Origem 
Vontade – Decorre da vontade dos condôminos. 
Lei – Será este um condomínio forçado (necessário ou fortuito): 
O condomínio forçado não tende à extinção, não admite partilha nem venda isolada da 
parte ideal. Exemplo de condomínio forçado: tapumes divisórios (Art. 1.327 e s. do 
CC). Tapume é todo marco que divide propriedade, como uma cerca ou um muro 
(direitos e obrigações discriminados pelo art. 1.297 do CC). Tapumes são obrigações 
propter rem. 
O condomínio fortuito surge em face de fatos jurídicos elegidos pela lei. Exemplo: 
morte de proprietário, quando há mais de um herdeiro. A formação de ilhas no meio do 
rio é um exemplo de condomínio fortuito (acessão natural), na medida das testadas de 
cada ribeirinho. 
c) Parte ideal – É a parte abstrata que corresponde a cada condômino no condomínio, 
ou seja, se não tiver sido individualizada, especificada. Sou dono de 50%. 50% de tudo. 
d) Natureza jurídica – Teoria da propriedade integral. No condomínio ordinário, cada 
condômino tem a propriedade integral da coisa perante terceiros. Todavia, nas relações 
internas, o condômino tem o direito limitado pelo direito igual, concorrente e 
simultâneo do consorte na proporção da respectiva parte ideal. Se uma propriedade é 
dividida meio a meio entre A e B, por ser ordinária, ambos detêm legitimidade para, por 
si só, ajuizar ações perante a justiça. Agora, se a propriedade ordinária for dividida entre 
A e B, mas na medida de 20% para 80%, quem tem a maioria absoluta é quem dá a 
palavra final nas decisões internas. Na treta, em ambos os casos, podem qualquer um 
deles requerer a extinção do condomínio. 
e) Formas de condomínio 
Pro indiviso – Existe uma indivisibilidade de direito e de fato (total). Indiviso pois não 
existe posse localizada, não se pode definir entre A e B, quais são suas respectivas 
áreas. Não existem demarcações claras. 
Pro diviso – Nele há a indivisibilidade do direito, mas há uma divisibilidade do fato, 
pois aqui há posse localizada. A e B passam uma cerca no meio do terreno. O direito de 
propriedade continua indiviso, uma vez que na matrícula do imóvel ainda constam 2 
proprietários, mas estes decidiram dividir tão somente a posse. 
Todo tipo de condomínio, diviso ou indiviso, permite interdito possessório entre os 
condôminos, pois cada condômino tem direito de proteger seu direito igual, concorrente 
e simultâneo. Esta ação no condomínio pro diviso é de fácil inteligência. E na pro 
indiviso? Nesta modalidade, a ação visará transformar este condomínio em pro diviso. 
f) Direitos dos condôminos (art. 1.314 e s. do CC) 
Direitos compatíveis com a indivisão da coisa – direitos iguais, concorrentes e 
simultâneos. 
Direito de reivindicar a coisa de terceiro (art. 1.228 caput CC) – ainda que sem 
consentimento do consorte. 
Defender a posse (art. 1.210 caput CC) – ainda que sem consentimento do consorte. 
Vender a respectiva parte ideal (art. 504 do CC) – 
Coisa indivisível com preferência – o outro consorte tem o direito de preferência sobre 
terceiros para comprar a parte do consorte alienante. Coisa divisível não necessita de 
preferência. 
Gravar (art. 1.420 §2º) – 
Toda a coisa – ‘A’ necessita do consentimento dos demais consortes para gravar a 
coisa. 
Parte dela – ‘A’ pode dar a parte ideal sem prévio consentimento. 
g) Regra do art. 1.320 caput, Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir 
a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas 
despesas da divisão. 
Exceções a essa regra: 
Exceção do §1º - salvo se houver pacto de indivisão até 5 anos prorrogáveis. Podem os 
condôminos acordar que fique indivisa a coisa comum por prazo não maior que cinco 
anos, suscetível de prorrogação ulterior. 
Exceção do §2º - Não poderá exceder de cinco anos a indivisão estabelecida pelo 
doador ou pelo testador. Somente pelo prazo de 5 anos também, mas sem prorrogação, 
salvo se esta for estipulada entre as partes em outro acordo. 
Exceção das Exceções – Mesmo com a indivisibilidade prevista nos §§ 1º e 2º, pode o 
condomínio vir a ser dividido diante de 3 hipóteses: Se o estado condominial estiver 
prejudicando interesse jurídico de 3º; se houverem graves razões para que seja feita a 
divisão do condomínio; ou por decisão do juiz. 
h) 1.315, 1.318 e 1.319 
i) Administração do condomínio (art. 1.323): 
A decisão de não extinção do condomínio deve ser tomada por unanimidade; 
Não uso e gozo comum da coisa também depende de decisão unânime; 
Alugar com preferência ao condômino: “resolvendo alugá-la, preferir-se-á, em 
condições iguais, o condômino ao que não o é”; 
A administraçãopode ser dada a estranho. 
j) Extinção do condomínio: 
Pela divisão da coisa (1.320 CC e 946 e s. do CPC) – coisa divisível 
Pela divisão do preço (1.322 CC e 1.113 e s. do CPC) – coisa indivisível 
Pela consolidação (1.322 CC) – consolidação é quando o bem fica na mão de apenas um 
dos consortes, tendo os outros o direito à se indenizar de seus quinhões. 
 
CONDOMÍNIO EDILÍCIO 
a) Natureza jurídica – mescla de partes comuns e partes exclusivas. 
Art. 1.331. Pode haver, em edificações (ou não), partes que são 
propriedade exclusiva, e partes que são propriedade comum dos 
condôminos. 
b) Lei – Art. 1.331 e s. do CC e Lei 4.591/64 (Lei Caio Mário). O CC é lei posterior que 
derrogou partes da Lei Caio Mário, de modo que deve ser aplicado o CC e 
subsidiariamente a Lei Caio Mário. 
c) Partes: 
Partes exclusivas §1º - As partes suscetíveis de utilização independente, tais como 
apartamentos, escritórios, salas, lojas e sobrelojas, com as respectivas frações ideais no 
solo e nas outras partes comuns, sujeitam-se a propriedade exclusiva, podendo ser 
alienadas e gravadas livremente por seus proprietários, exceto os abrigos para veículos, 
que não poderão ser alienados ou alugados a pessoas estranhas ao condomínio, salvo 
autorização expressa na convenção de condomínio. 
Partes comuns (condomínio forçado) §2º - O solo, a estrutura do prédio, o telhado, a 
rede geral de distribuição de água, esgoto, gás e eletricidade, a calefação e refrigeração 
centrais, e as demais partes comuns, inclusive o acesso ao logradouro público, são 
utilizados em comum pelos condôminos, não podendo ser alienados separadamente, ou 
divididos. 
d) Constituição do condomínio: 
Por ato jurídico entre vivos – por incorporação ou por destinação da propriedade. 
Por ato jurídico mortis causa – por testamento 
Art. 1.332. Institui-se o condomínio edilício por ato entre vivos ou 
testamento, registrado no Cartório de Registro de Imóveis, devendo 
constar daquele ato, além do disposto em lei especial: 
I - a discriminação e individualização das unidades de propriedade 
exclusiva, estremadas uma das outras e das partes comuns; 
II - a determinação da fração ideal atribuída a cada unidade, 
relativamente ao terreno e partes comuns; 
III - o fim a que as unidades se destinam. 
e) Convenção (art. 1.333 e 1.334) – possui natureza jurídica de estatuto da vida 
condominial. Esta natureza estatutária gera consequências nos direitos e deveres dos 
condôminos. 
Art. 1.333. A convenção que constitui o condomínio (constitui a vida 
condominial, não o condomínio em si, erro do legislador) edilício 
deve ser subscrita pelos titulares de, no mínimo, dois terços das 
frações ideais e torna-se, desde logo, obrigatória para os titulares de 
direito sobre as unidades, ou para quantos sobre elas tenham posse 
ou detenção. 
Parágrafo único. Para ser oponível contra terceiros, a convenção do 
condomínio deverá ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis. 
Para os condôminos esta convenção vale independentemente do registro no Cartório. 
Ainda, consoante o §2º do art. 1.334: 
§ 2o São equiparados aos proprietários, para os fins deste artigo, 
salvo disposição em contrário, os promitentes compradores e os 
cessionários de direitos relativos às unidades autônomas. 
f) Direitos e deveres dos condôminos (arts. 1.335 e 1.336) 
g) Administração/Extinção (art. 1.347 e s.) - existem alguns órgãos que detêm 
algumas funções: 
Função legislativa – Assembleia geral ordinária. Art. 1.347 
Função executiva – Síndico. Art. 1.348 
Função de fiscalização – Conselho fiscal. Art. 1.357 
A extinção se dará por: 
Ruína ou desapropriação. Art. 1.357. Somente a ruína tem o condão de extinguir o 
condomínio? Não, necessário também o consentimento da assembleia. 
 
Aula 10/04/2014 
Propriedade Móvel 
 
Modos aquisitivos 
a) Usucapião: 
Ordinário (art. 1.260) – posse, tempo, justo título e boa-fé. 3 anos. 
Extraordinário (art. 1.261) – posse e tempo. 5 anos. 
Veículo furtado pode ser usucapido pelo ladrão? Não, uma vez que este agiu 
clandestinamente (às ocultas), logrando apenas a mera detenção e não a posse. Mas 
sendo roubado por ‘A’, e estando na posse de um sujeito de boa-fé ‘B’, poderá ser 
usucapido. 
b) Ocupação (art. 1.203): 
Ocupação é assenhoramento. Pressupostos: 
Animus domini – Apropriar-se da coisa com a vontade de ser dono. 
Coisa sem dono – Divide-se em coisa abandonada (res derelictae) e coisa não 
apropriável (res nullius). Somente a coisa abandonada pode ser ocupada. 
Ocupação lícita – Que não seja vedada por lei. 
c) Achado do tesouro (art. 1.264). Pressupostos: 
Coisa oculta; Dono não conhecido; Casualidade. 
d) Especificação (art. 1.269). Pressupostos: 
Utilizando-se de matéria prima alheia, criando coisa nova, não se podendo restituir a 
coisa ao estado anterior. 
e) Confusão (líquidos), Comistão (sólidos) e Adjunção (amálgma) – Art. 1.272 e s. 
Diversidade de donos; Casualidade; Sem restituição ao estado anterior; Coisa principal. 
f) Tradição 
Conceito: A tradição é a transferência da posse de uma coisa, feita por alguém 
(tradens), a outrem (accipiens), com a intenção de transferir-lhe a propriedade e com 
base em uma causa jurídica (justa causa). 
A tradição é um ato de entrega. Toda tradição é uma entrega, mas nem toda entrega é 
modo aquisitivo dominial. Ex. ao alugar o carro a locadora entrega ao locatário o carro 
pela tradição, mas este não adquire o bem, visto que deverá devolvê-lo ao término do 
contrato. 
Divide-se em: 
Tradens – Transmitente 
Accipiens – Adquirente 
Justa causa – Título aquisitivo dominial 
A tradição no direito brasileiro é causal, ou seja, qualquer vício no título aquisitivo 
dominial contamina também a propriedade. A tradição gera presunção relativa de 
propriedade. Por fim, a tradição é ato bilateral que deve ser consentido entre ambas as 
partes. 
Nuda Traditio (tradição nua, também conhecida como tradição promíscua, brinks): 
será nua uma tradição que não tem a intenção de transferir a propriedade, como no 
exemplo supra do aluguel de carro. 
Espécies de tradição: 
Real (material) – Em regra, há um deslocamento fático do bem, ou seja, o bem sai de 
um ponto A e vai a um ponto B para ser entregue. É o que dispõe o art. 1.267 caput. 
Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios 
jurídicos antes da tradição. 
Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente 
continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao 
adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder 
de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por 
ocasião do negócio jurídico. 
Ficta (presumida ou contratual) – Encontra-se no parágrafo único do 1.267 e divide-
se em: 
Constituto possessório (cláusula constituti) – O constituto possessório para bem 
imóvel transfere posse, mas para bem móvel transfere propriedade. No constituto 
possessório, o transmitente mantém a posse da coisa, a título diverso de propriedade. 
Ex. Um cara que vai se mudar pros EUA daqui a 3 meses vende seu carro para alguém, 
acertando que o carro ainda ficará na posse do transmitente por estes 3 meses mediante 
aluguel pago ao comprador/novo proprietário. É um proprietário que vira locatário. 
Neste caso, incide o parágrafo único do 1.267 “Subentende-se a tradição quando o 
transmitente continua a possuir pelo constituto possessório”. O constituo possessório é 
uma cláusula num contrato de compra e venda. 
No caso do bem imóvel, esta cláusula constituti não poderá ter o condão de transferir a 
propriedade, uma vez que tradição não é modo aquisitivo de propriedade imóvel. Fica o 
transmitente somente com a posse. 
Traditio Brevi Manu (tradição de mão curta) – o adquirente mantém a posse da coisa, a 
título de propriedade. Exemplo do leasing, ondea pessoa aluga a coisa com a opção de 
adquirir o bem ao final, ganhando sua propriedade. Trata-se de uma tradição embutida 
em uma cláusula contratual, daí sua natureza presumida. Exemplo: quando o locatário 
se transforma em proprietário. No instituto abaixo, ao revés, quem se torna proprietário 
não é o locatário, mas um terceiro que deverá suportar o eventual contrato estipulado 
entre proprietário original e locatário até o seu término, quando só então terá direito a 
restituição do bem. 
Aquisição de posse indireta (direito a restituição da coisa) – Decorre do instituto 
conhecido como desdobramento da posse. Pode ser que quem decida vender um bem 
móvel não esteja na posse no momento. Ex. A Localiza está alugando um carro, por 6 
meses para João. José, contudo, demonstra interesse na aquisição do referido veículo. O 
proprietário, Localiza, detém a posse indireta, ao passo que o locatário, João, encontra-
se na posse direta da coisa. A Localiza poderá vender o carro, ainda que esteja na posse 
de João, se José concordar em cumprir o restante do contrato até o seu término, quando 
só então José terá o direito de restituição. Isto ocorre pois a Localiza pode transmitir a 
propriedade, a posse indireta e o direito a restituição da coisa para José, que aguardará o 
fim do prazo de 6 meses do contrato firmado anteriormente entre Localiza e João, para 
só então dispor do bem para si, finalmente tendo sua posse direta. 
Casamento pela comunhão universal de bens – Forma de tradição fictícia também. 
Uma vez assinado o papel, na igreja, já se presume a tradição dos bens como feita, 
transmitindo-se desde já a propriedade, malgrado não estejam nenhum dos dois na posse 
(pela obviedade de se encontrarem na igreja). 
Tradição simbólica – Quando a lei autoriza um comportamento que revela a 
transmissão de propriedade. Ex. em um programa de auditório, um dos participantes ao 
lograr êxito em uma das provas, ganha um carro. A entrega das chaves do carro da mão 
do apresentador para o participante seria um exemplo de tradição simbólica. 
Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena 
a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou 
estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, 
ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se 
afigurar dono 
(Propriedade aparente aplicada ao bem móvel). 
§ 1o Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a 
propriedade, considera-se realizada a transferência desde o momento 
em que ocorreu a tradição. 
Ex. Relativamente capaz que vende o automóvel do pai (tradição nula 
– agente relativamente capaz, que não é dono do veículo). Quem 
adquiriu o bem foi o comprador de boa-fé, e o alienante é o filho. Se o 
pai morre, o filho herda o veículo e, ainda que tenha sido nula a 
compra naquele momento, quando o pai morre o filho se torna 
proprietário e terá validade a tradição, considerando-se seus efeitos 
como ex tunc, desde a tradição. 
§ 2o Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um 
negócio jurídico nulo. 
(Nulidade do título contamina a tradição) 
 
Descoberta (art. 1.233 e s. do CC) 
No Código de 1.916 era chamado de invenção. Não é modo aquisitivo. Descoberta 
pressupõe coisa perdida ou achada. Na descoberta existe o descobridor, que terá deveres 
e direitos. 
Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la 
ao dono ou legítimo possuidor. 
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por 
encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à 
autoridade competente. 
Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo 
antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por 
cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito 
com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir 
abandoná-la. 
Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, 
considerar-se-á o esforço desenvolvido pelo descobridor para 
encontrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades que teria 
este de encontrar a coisa e a situação econômica de ambos. 
Se o dono decidir abandonar a coisa, o descobridor passa a ser ocupante, pois a coisa 
deixa de ser perdida e agora se torna abandonada. 
Aula 29/04/2014 
Teoria simplificada da posse de Ihering – Leitura complementar 
 
3. POSSE (ART. 1.196 E S.) 
3.1 Etimologia jurídica. A palavra posse vem de possedere, que significa estar afincado 
na coisa. Na origem da palavra, a posse está ligada ao contato físico com a coisa. 
3.2 Teorias 
3.2.1 Teoria subjetiva (Savigny) 
Elementos da posse. A posse se situa no campo material (corpus) e no campo imaterial 
(animus). No campo material, o aspecto externo da posse é justamente o poder físico do 
homem sobre a coisa. O aspecto imaterial da coisa é o animus domini, ou seja, a vontade 
de ser dono da coisa, salvo se tiver o dever de restituí-la. Se faltar essa vontade interior, 
esta intenção de proprietário (animus domini), existirá simples detenção e não posse. A 
teoria se diz subjetiva em razão deste último fato. 
Posse derivada. É a posse derivada do verdadeiro possuidor para melhor conservação da 
coisa. Ex. o credor pignoratício (credor com garantia real sobre bem móvel – penhor), o 
depositário, etc. 
Distinção entre posse e detenção. “Quem tem a coisa em seu poder, mas em nome de 
outrem, não lhe tem a posse civil, é apenas detentor (que Savigny chama de posse 
natural), despida de efeitos jurídicos, e não protegida pelas ações possessórias ou 
interditos.”1 
“Para Savigny, portanto, não constituem relações possessórias aquelas em que a pessoa 
tem a coisa em seu poder, ainda que juridicamente fundada (como na locação, no 
comodato, no penhor etc.), por lhe faltar a intenção de tê-la como dono (animus domini), 
o que dificulta sobremodo a defesa da situação jurídica.”2 
Crítica: No mundo real, como se provar o animus domini do agente? Lendo pensamentos? 
Como ensina Caio Mário: 
“(...) na relação possessória não se revela o animus domini, nem facilmente se prova. Às 
vezes falta de todo, e nem por isto deixa de ser defensável a relação criada. Quem 
encontra um chão ermo e o cultiva, não tem e ipso facto não pode provar animus domini. 
Mas, se um terceiro invade a sua cultura, e pretendo colher os frutos da terra que 
amanhou, defende-a como possuidor, porque tem a affectio tenendi suficiente para a 
posse, distinguindo-a da mera detenção.”3 
 
 
1 MÁRIO, Caio. Instituições de Direito Civil, Vol. IV, Direitos Reais, 21ª ed. Rio de Janeiro, 2013. P. 15. 
2 Ibid. 
3 MÁRIO, Caio. Instituições de Direito Civil, Vol. IV, Direitos Reais, 21ª ed. Rio de Janeiro, 2013. P. 16. 
Fundamentos da proteção possessória. Para Savigny, o fundamento da proteção 
possessória era a paz social e a proteção contra ação violenta de terceiros. 
3.2.2 Teoria objetiva (Ihering – predominantemente adota pelo CC de 2002) 
Discípulo de Savigny, Ihering partia da ideia de posse desvinculada do elemento subjetivo 
(contrariando seu mestre), uma vez que o estado anímico dos sujeitos é de difícil 
delineação, mormente em matéria probatória. 
Posse x Propriedade. 
- Posse é poder de fato, e propriedade é poder de direito sobre a coisa. 
- A posse é o meio que dispõe o proprietário de tirar utilidade econômica da coisa. 
- A posse é a exteriorização da propriedade, ou seja, a propriedade em seu estado normal 
(art. 1.196 do CC 2002). 
Elementos. Posse. A posse divide-se em material (corpus) e imaterial (animus). A 
posse sob o aspecto material é a relação de fato do homem com a coisa, de acordo com 
sua utilização econômica. Sob o aspecto imaterial, deve o sujeito estar imbuído do affectio 
tenendi, ou seja, a vontade de proceder habitualmente

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