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emendatio libelli e mutation libelli

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EMENDATIO E MUTATIO LIBELLI
 
Os arts. 382 e 384 do Código de Processo Penal disciplinam o que a doutrina denomina:  emendatio e mutatio libelli.
Dispõe o art. 383, com redação da Lei n. 11.719/2008:
“O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denuncia ou queixa, poderá atribui-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave.
A emendatio libelli é a correção da classificação do delito sobre o mesmo fato constante da denuncia ou queixa. Desde o início da persecução penal, o fato, em tese punível recebe determinada classificação ou enquadramento legal. Essa classificação feita, por exemplo, no flagrante, onde é importante, entre outras conseqüências, para definir afiançabilidade, ou não, da infração, pode sofrer modificação por ocasião da denuncia, outra na sentença e outra na decisão em segundo grau.
Desde que os fatos sobre os quais incide sejam sempre os mesmos, a alteração da classificação independe de qualquer providencia ou processamento prévio, inexistindo nisso qualquer cerceamento de defesa ou surpresa, porque o acusado defende-se dos fatos e não classificação legal, ainda que o juiz tenha que aplicar pena mais elevada em virtude de nova classificação. Assim, por exemplo, se a denuncia descreve um fato e o classifica como estelionato, e o fato permanece inalterado, o juiz pode, independentemente de ouvir defesa, classificá-lo como furto qualificado por fraude, cuja pena é mais elevada. A mesma operação poderá ocorrer em segundo grau, observando-se, porém, se o juiz aplicou a pena de 1 (um) ano, em virtude da classificação como estelionato, somente se houve recurso da acusação é que o tribunal pode aumentar a pena, em virtude da proibição dareformatio in pejus e do tantum devolutum quantum apelatune. Nesse caso não havendo recurso da acusação, o tribunal pode corrigir a classificação, mas não poderá reformar a pena.
O mesmo poderá ocorrer com o fenômeno da desclassificação, que é a desclassificação de um grave para outro quando existe o reconhecimento da existência de um crime menos grave cujos elementos fáticos estão in integralmente contidos na descrição da denuncia ou queixa, como, por exemplo, de roubo para furto, ou de homicídio para lesão corporal.
O art. 384 do CPP trata do mutatio libelli, ou seja, mudança na imputação.
Se no ocorrer da instrução, surgir fato não contido e nem explicitamente na denuncia ou queixa, o juiz não pode, por ocasião da sentença, admiti-lo como existente alterando o que foi inicialmente proposto, sem que se dê oportunidade de defesa. Isso porque o acusado defende-se dos fatos imputados e deve ter a possibilidade de contrariá-los.  
Fato contido implicitamente na denuncia ou queixa significa a circunstancia de fato, que apesar de não referida verbalmente na peça inicial, é compreendida nos conceitos nela expressos. Destarte, se na denuncia imputar matar, implicitamente está imputando causar lesão corporal; ou, se descreve subtrair para si coisa alheia, está implicitamente também afirmando causar prejuízo a outrem. Nesses casos, o acusado ao se defender do que está explicito, também se defende do que está implícito, sendo assim não havendo necessidade de adotar o procedimento do art. 384, que dispõe:
“Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
§ 1o  Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código.
§ 2o  Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento. 
 § 3o  Aplicam-se as disposições dos §§ 1o e 2o do art. 383 ao caput deste artigo. 
 § 4o  Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.        
 § 5o  Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá.”
 
Se não se proceder ao art. 384 e o juiz proferir sentença, esta jamais poderá reconhecer o crime diferente que a circunstância de fato nova caracteriza. Se essa circunstância aponta para crime menos grave, a sentença só poderá ser absolutória, porque o mais grave não poderá ser reconhecido, já que os dados fáticos da realidade não correspondem ao que estava contido na imputação, e o menos grave também não, pois não houve imputação quanto a ele. Se a circunstancia nova não contida na denuncia indica fração mais grave, evidentemente não poderá ser reconhecida sem o procedimento do art. 384 § 1º , e a sentença deverá limitar-se a reconhecer a procedência ou improcedência do estritamente contido na inicial. Assim, se a denuncia  foi por furto e, no correr da instrução, se verifica que ocorreu violência, não havendo o aditamento da denuncia, somente poderá ser reconhecido o furto; se, porém, a denuncia foi corrupção por menores e, no correr da instrução , se verifica que houve violência e , portanto, atentado violento ao pudor ou estupro, sem o aditamento não poderá ser reconhecido o atentado ao pudor ou estupro, e também não poderá ser reconhecido a corrupção de menores, porque, se na realidade fática, houve violência, está diferente da captação da vontade ou induzimento que caracteriza a corrupção, e o resultado será absolvição total.
A fase do art.384 é a ultima oportunidade para fazer a adequação da imputação à realidade dos fatos, pois o procedimento não pode ser adotado em segundo grau de jurisdição, porque haveria supressão de um grau de jurisdição quanto a uma elementar; e porque a absolvição sobre o fato fará coisa julgada material sobre o fato por completo, ainda que não foi julgado inteiro.
 A lei resolveu expressamente o que a doutrina sustentava quanto à inércia do Ministério Publico. No caso de o juiz rejeitar o aditamento o Ministério Público recorrerá no sentido estrito, com fundamento no art. 581, I, porque a rejeição do aditamento equivale à rejeição ou não recebimento da denuncia.  Se o juiz proferir sentença tendo rejeitado o aditamento, tendo havido recurso, este impede a preclusão, de modo que, se for provido pelo tribunal, a sentença será nula, pelo fato de não ter apreciado o aditamento. O aditamento pode ser formulado até o momento anterior à prolação da sentença e poderá ser oral, na audiência, caso em que será reduzido a termo.
Como se observa os arts. 383 e 384 disciplinam a correlação imputação-sentença, o mesmo acontecendo com o art. 385.
Convém ressaltar que, esse ultimo admite que, nos crimes de ação penal publica, o juiz venha proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Publico opine pela absolvição, ou ainda, reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
. Hipóteses de modificação do pedido acusatório: mutatio libelli e emendatio libelli.
Hipóteses de alteração da acusação:
1) Fato Novo - no curso do processo surgem elementos que tipificam um ilícito penal diverso da denúncia ou queixa - deve ser formulada nova denúncia ou queixa, ou pelo menos o aditamento com nova citação.
2) Emendatio Libelli – é uma simples corrigenda em face de erro na denúncia ou queixa poderá o juiz dar nova definição jurídica ao fato, corrigindo a peça acusatória. Se esta contém os fatos e circunstâncias, embora não articuladas na denúncia ou queixa, podem ser reconhecidas como qualificadoras, causa de aumento ou tipificadoras de outro crime, mesmo com pena mais grave, assim como excludentes do crime. 
Não há prejuízo para a defesa pois a condenação é pelo mesmo fato contido na peça acusatória. O reconhecimento de agravantes pelojuiz independe de alegação na peça acusatória dos crimes de ação pública. É suprimento judicial e não emendatio libelli.
3) Mutatio Libelli - no curso do processo surgem circunstâncias elementares, ou elementos essenciais (não se cogita de fato novo), não contidos na denúncia ou queixa e que podem modificar a capitulação do delito, obrigando a uma mudança na acusação. 
Conforme a gravidade da nova pena, em tese, exigem-se os seguintes procedimentos:
a) Se a nova pena for igual ou menor - baixa-se o processo a fim de que a defesa, no prazo de 08 dias, fale e produza provas, podendo ser ouvidas até 3 testemunhas. Não pode o réu acusado de crime doloso, ser condenado por culpa em sentido estrito sem que ele saiba ou possa defender-se do cuidado objetivo que por ele não foi, de acordo a sentença, observado (qual a imprudência, negligência ou imperícia que cometeu (art. 384, caput).
b) Se a nova pena for maior (reformatio in pejus) - baixa-se os autos ao MP para que haja, no prazo de 03 dias, o aditamento da denúncia ou queixa (apenas da ação privada subsidiária), seguindo-se de vistas à defesa no prazo de 03 dias para que fale, produza provas e requeira a ouvida de até 3 testemunhas. Se o MP não aditar, juiz encaminha os autos ao PGJ, e a 2ª instância não pode realizar a reformatio in pejus (art. 384, caput e § único, e súmula 453 do STF).
12. Aplicação dos arts. 383 e 384, único do CPP. 
1) "Emendatio Libelli" (art. 383) - denúncia descreve perfeitamente um fato típico, contudo, dá-lhe qualificação legal diversa.
2) "Mutatio Libelli" (art. 384, § único) – reconhece a possibilidade de nova definição jurídica em face de prova de circunstâncias elementares nos autos. 
	
SINTESE - RECLASSIFICAÇÃO DO DELITO
	Princípio da Correlação
	Atos do Juiz
	
Ex. 
Furto
 (art. 155) 
 
Roubo
 (art. 157)EMENDATIO LIBELLI
(art. 383)
Erro na classificação do Delito na denúncia ou queixa
(Busca-se a correção da acusação em obediência ao princípio Jura Novit Curia)
	Correção da Acusação
	
Ex. 
Roubo
 (art. 157)
 
 
Furto
 (art. 155)
 MUTATIO LIBELLI 
(art. 384, caput)
Circunstância elementar nova = pena igual ou menor.
(Altera a capitulação do delito pelos seus elementos essenciais do tipo)
	Mudança da Acusação
Baixa os autos para a defesa se manifestar em 8 dias.
	
Ex. 
Furto
 (art. 155) 
 
Roubo
 (art. 157)MUTATIO LIBELLI 
(art. 384, § único)
Circunstância elementar nova = pena agravada.
(Altera a capitulação do delito pelos seus elementos essenciais do tipo)
	Mudança da Acusação
Baixa os autos para aditamento da peça inicial (MP em 3 dias), e a posteriori à defesa para falar em 3 dias.

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