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SCHISTOSOMA MANSONI E A DOENÇA
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Agente da esquistossomose intestinal ou moléstia de Pirajá da Silva, ocorrendo na África,
Antilhas e América do Sul. No Brasil, a doença é popularmente conhecida como "xistose",
"barriga-d'água" ou "mal-do-caramujo", atingindo milhões de pessoas, numa das maiores
regiões endêmicas dessa doença em todo o globo. As espécies do gênero Schistosoma,
que afetam o homem chegaram as Américas durante o tráfico de escravos e com os
imigrantes orientais e asiáticos (nos quais foram detectados numerosos indivíduos
parasitados pelo S. haematobium e S. japonicum). Entretanto, apenas o S. mansoni aqui se
fixou, seguramente pelo encontro de bons hospedeiros intermediários e pelas condições
ambientais semelhantes às da região de origem.
Morfologia. MACHO: Apresenta o corpo dividido em duas porções: anterior, na qual
encontramos a ventosa oral e a ventosa ventral (acetábulo), e a posterior (que se inicia logo
após a ventosa onde encontramos o canal ginecóforo; este nada mais é do que dobras das
laterais do corpo no sentido longitudinal, para a fêmea e fecundá-la.
FEMEA: Na metade anterior,
encontramos a ventosa oral e o
acetábulo. A metade posterior é
preenchida pelas glândulas
vitelogênicas (ou vitelinas) e o ceco.
OVO: formato oval. O que caracteriza
o ovo maduro é a presença de um
miracídio formado, visível pela
transparência da casca. O ovo maduro é
a forma usualmente encontrada nas
fezes.
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OVO MADURO:
MIRACIDIO: O miracídio apresenta forma cilíndrica. Apresenta, ademais, células
epidérmicas, onde se implantam os cílios, os quais permitem o movimento no meio aquático.
A extremidade anterior
apresenta uma papila
apical que pode se
amoldar em forma de uma
ventosa. No papila apical
encontram-se as
terminações das glândulas
adesivas anteriormente
denominadas "glândulas
de penetração" e "sacos
digestivos", e as
terminações da glândula
de penetração
anteriormente denominada
"tubo digestivo primitivo".
CERCARIA: As cercárias apresentam cauda bifurcada. Duas ventosas estão presentes.
A ventosa oral apresenta
as terminações das
chamadas glândulas de
penetração: quatro pares
pré-acetabulares e quatro
pares pós-acetabulares, e
abertura que se conecta
com o chamado intestino
primitivo, primórdio do
sistema digestivo. A
ventosa ventral, ou
acetábulo, é maior e possui
musculatura mais
desenvolvida. É
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principalmente através desta ventosa que a cercaria fixa-se na pele do hospedeiro no
processo de penetração.
HABITAT: Os vermes adultos vivem no sistema porta. Os esquistossômulos quando
chegam ao fígado apresentam um ganho de biomassa exponencial e após atingirem a
maturação sexual, em tomo de 25 dias, migram para os ramos terminais da veia
mesentérica inferior, principalmente na altura da parede intestinal do plexo hemorroidário,
onde se acasalam e, em tomo do 35 dia, as fêmeas iniciam a postura dos ovos.
CICLO BIOLOGICO: O Schistosoma mansoni, ao atingir a fase adulta de seu ciclo
biológico no sistema vascular do homem e de outros mamíferos, alcança as veias
mesentéricas, principalmente a veia mesentérica inferior, migrando contra a corrente
circulatória; as fêmeas fazem a postura no nível da submucosa. Da submucosa chegam à
luz intestinal.
Os prováveis fatores que promovem esta
passagem são: reação inflamatória, pressão
dos ovos que são postos atrás
("bombeamento"), enzimas proteolíticas
produzidas pelo miracídio, lesando os tecidos;
adelgaçamento da parede do vaso, provocado
pela distensão do mesmo com a presença do
casal na sua luz. Os ovos que conseguirem
chegar à luz intestinal vão para o exterior
junto com o bolo fecal. Alcançando a água, os
ovos liberam o miracídio, estimulado pelos
seguintes fatores: temperaturas mais altas, luz
intensa e oxigenação da água.
O contato com o tegumento do molusco faz com que a papila apical assuma a forma da
ventosa, ocorrendo, quase que simultaneamente, a descarga do conteúdo das glândulas de
adesão. O conteúdo da glândula de penetração é descarregado e as enzimas proteolíticas
iniciam sua ação de digestão dos tecidos. A ação combinada dos intensos movimentos do
miracídio e da ação enzimática constitui o elemento que permite a introdução do miracídio
nos tecidos do molusco. O local de penetração pode ser representado por qualquer ponto
das partes expostas do caramujo, sendo, porém, a base das antenas e o pé os pontos
preferidos. A larva, após a perda das glândulas de adesão e penetração, continua a perder
outras estruturas no processo de penetração. Desta forma, o passo seguinte será a perda
do epitélio ciliado e a degeneração da papila apical. Assim sendo, o miracídio transforma-se,
na verdade, em um saco com paredes cuticulares, contendo a geração das células
germinativas ou reprodutivas que recebe o nome de esporocisto.
Esporocisto. Inicialmente, o esporocisto apresenta movimentos amebóides, que
diminuem com o tempo, até a completa imobilidade da larva. Na segunda semana da
infecção, observa-se no interior do esporocisto uma série de ramificações tubulares, que
preenchem todos os espaços intercelulares do tecido conjuntivo. Em condições ideais de
temperatura, ocorre a formação dos esporocistos secundários, que se inicia a partir do 14
dia após a penetração do miracídio. A formação do esporocisto secundário inicia-se com um
aglomerado de células germinativas nas paredes do esporocisto primário, verificando-se
uma vacuolização acentuada na parte central da larva. Esses aglomerados se reorganizam
e dão origem a septos, ficando o esporocisto primário dividido em camadas, cada septo ou
camada já podendo ser considerado um esporocisto secundário, esporocisto-filho ou
esporocisto II. A localização final dos esporocistos será nos espaços intertubulares da
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glândula digestiva, local com riqueza nutritiva onde começam, então, a sofrer profundas
modificações anatômicas no seu conteúdo de células germinativas. Os esporocistos
secundários, algum tempo depois de terem atingido o seu destino final, apresentam três
áreas estruturais bem definidas. A primeira seria o chamado poro de nascimento. A segunda
área apresentaria cercárias desenvolvidas ou em desenvolvimento. Por fim, a terceira teria
células embrionárias, que poderão representar um outro tipo de reprodução. Essa última
geração de células embrionárias originaria novos esporocistos, que seriam então chamados
esporocistos III. A formação cercariana inicia-se com a disposição das células germinativas
em uma mórula, em cujo centro encontra-se uma grande célula basófila, com um núcleo
grande e vesicular. Com o crescimento da mórula, está célula central se multiplica,
constituindo o primórdio das glândulas de penetração. As células externas da mórula vão
originar as duas camadas celulares da cercária, constituída de fibras longitudinais e
circulares. Ao mesmo tempo, observa-se a formação de uma cutícula acelular, bem como
das duas ventosas. A emergência das cercárias ocorre com a saída dos organismos dos
esporocistos-filhos. A migração das cercárias faz-se tanto pelos espaços intercelulares,
cheios de hemolinfa, como através do sistema venoso do caramujo. A passagem para o
meio exterior processa-se pela formação de vesículas no epitélio do manto e
pseudobrânquia. A emergência segue umritmo circadiano, e a emergência cercariana é
regida por fatores exógenos, cujos elementos sincronizadores são a luz e a temperatura,
bastando, porém, a ação isolada de um desses fatores para a manutenção do ritmo
circadiano. A luz parece exercer um papel mais marcante na manutenção do controle deste
ritmo.
As cercárias são capazes de penetrar na pele e nas mucosas. Ao alcançarem a pele do
homem, se fixam preferentemente entre os folículos pilosos com auxílio das duas ventosas
e de uma substância mucoprotéica secretada por suas glândulas acetabulares. Em seguida,
tomam a posição vertical, apoiando-se na pele pela ventosa oral. Por ação Iítica (glândulas
de penetração) e ação mecânica (movimentos vibratórios intensos), promovem a penetração
do corpo cercariano e a concomitante perda da cauda. A penetração e migração coincidem
com o esvaziamento das glândulas pré-acetabulares ricas em enzimas proteoliticas. Quando
ingeridas com água, as que chegam ao estômago são destruídas pelo suco gástrico, mas as
que penetram na mucosa bucal desenvolvem-se normalmente. Após a penetração, as larvas
resultantes, denominadas esquistossômulos, adaptam-se as condições fisiológicas do meio
interno, migram pelo tecido subcutâneo e, ao penetrarem num vaso, são levadas
passivamente da pele até os pulmões, pelo sistema vascular sanguíneo, via coração direito.
Dos pulmões, os esquistossômulos se dirigem para o sistema porta, podendo usar duas vias
para realizar essa migração: uma via sanguínea (tradicionalmente aceita) e outra
transtissular. A migração pela via sanguínea seria feita pela seguinte rota: das arteríolas
pulmonares e dos capilares alveolares os esquistossômulos ganhariam as veias pulmonares
(pequena circulação) chegando ao coração esquerdo; acompanhando o fluxo sanguíneo,
seriam disseminados pela aorta (grande circulação) para mais diversos pontos até chegar a
rede capilar terminal: aqueles que conseguissem chegar ao sistema porta intra-hepático
permaneceriam ali; os demais ou reiniciariam novo ciclo ou pereceriam. Já pela via
transtissular, os esquistossômulos seguiriam o seguinte caminho: dos alvéolos pulmonares
perfurariam ativamente o parênquima pulmonar, atravessando a pleura, o diafragma e
chegariam a cavidade peritoneal, perfurando a cápsula e o parênquima hepático,
alcançando, finalmente, o sistema porta intra-hepático. Possivelmente, as duas vias de
migração estão envolvidas, sendo a sanguínea a mais importante. Uma vez no sistema
porta intra-hepático, os esquistossômulos se alimentam e se desenvolvem transformando-se
em machos e fêmeas. Daí migram, acasalados, para o território da veia mesentérica inferior,
onde farão oviposição.
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TRANSMISSAO: Penetração ativa das cercárias na pele e mucosa. As cercárias
penetram mais frequentemente nos pés e nas pernas por serem áreas do corpo que mais
ficam em contato com águas contaminadas. O horário em que são vistas em maior
quantidade na água e com maior atividade é entre 10 e 16 horas, quando a luz solar e o
calor são mais intensos. Os locais onde se dá a transmissão mais frequente são os focos
peridomiciliares: valas de irrigação de horta, açudes (reservatórios de água e local de
brinquedo de crianças), pequenos córregos onde as lavadeiras e crianças costumam ir.
PATOGENIA: Está ligada a vários fatores, como cepa do parasito, carga parasitária
adquirida, idade, estado nutricional e resposta imunitária da pessoa.
Cercaria: A chamada dermatite
cercariana ou dermatite do nadador
pode ocorrer quando as cercárias do
Schistosoma penetram na pele do
homem. Essa dermatite é
caracterizada por "sensação de
comichão, erupção urticariforme e é
seguida, dentro de 24 horas, por
eritema, edema, pequenas pápulas
e dor". É, em geral, mais intensa na
reinfecções (hipersensibilidade) nas
quais há interferência de mastócitos
(liberação de histamina),
complemento, eosinófilos e IgE. A dermatite cercariana é, portanto, um processo
imunoinflamatório, muito importante na imunidade concomitante, pois há grande destruição
de cercárias e esquistossômulos na pele e nos pulmões.
Esquistossomulos: Cerca
de três dias após a penetração
das cercárias na pele, os
esquistossômulos são levados
aos pulmões. A partir da
segunda semana após a
infecção, podem ser
encontrados nos vasos do
fígado e, posteriormente, no
sistema porta intra-hepático.
Nessa fase, pode haver
linfadenia generalizada, febre,
aumento volumétrico do baço
e sintomas pulmonares.
Vermes adultos: Sabe-se que após a
maturação dos vermes adultos, nos ramos intra-
hepáticos do sistema porta, os mesmos migram
principalmente para a veia mesentérica inferior.
Os vermes permanecem aí por longos anos e
não produzem lesões de monta. Já os vermes
mortos podem provocar lesões extensas,
embora circunscritas. Essas lesões ocorrem
principalmente no fígado, para onde os parasitos
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são arrastados pela circulação porta. Além dessas lesões, os vermes adultos espoliam o
hospedeiro devido ao seu alto metabolismo.
Ovos: Como já foi enfatizado, os ovos
são os elementos fundamentais da
patogenia da esquistossomose. Quando
apenas pequeno número de ovos viáveis
consegue atingir a luz intestinal, as
lesões produzidas são mínimas, com
reparações teciduais rápidas; quando em
grande número, podem provocar
hemorragias, edemas da submucosa e
fenômenos degenerativos, com
formações ulcerativas pequenas e
superficiais; essas lesões são em geral reparadas, com reconstituição da integridade dos
tecidos. O antígeno solúvel excretado pelos poros do ovo vivo provocarão a reação
inflamatória granulomatosa. Portanto, a deposição dos ovos do parasito nos tecidos do
hospedeiro é o evento fundamental de um complexo fisiopatológico que promoverá a
formação do granuloma (ovo mais reação granulomatosa que o envolve). Essas lesões
granulomatosas são as principais responsáveis pelas variações clínicas e pelas
complicações digestivas e circulatórias vistas.
Esquistossomose aguda. FASE PRE-POSTURAL: Neste período há pacientes que não
se queixam de nada (forma inaparente ou assintomática) e outros reclamam de mal-estar,
com ou sem febre, problemas pulmonares (tosse), dores musculares, desconforto abdominal
e um quadro de hepatite aguda, causada, provavelmente, pelos produtos da destruição dos
esquistossômulos.
FASE AGUDA: Nessa fase pode ocorrer uma disseminação miliar de ovos,
principalmente na parede do intestino, com áreas de necrose, levando a uma enterocolite
aguda e no fígado (e mesmo em outros órgãos, e no pulmão pode simular tuberculose),
provocando a formação de granulomas simultaneamente, caracterizando a forma toxêmica
que pode apresentar-se como doença aguda, febril, acompanhada de sudorese, calafrios,
emagrecimento, fenômenos alérgicos, diarreia, disenteria, cólicas, tenesmo,
hepatoesplenomegalia discreta, linfadenia, leucocitose com eosinofilia, aumento das
globulinas e alterações discretas das funções hepáticas (transaminases). As lesões
hepatoesplênicas são devidas principalmente a uma hipersensibilidade do hospedeiro aos
antígenos solúveis secretados pelos ovos. Essa hipersensibilidade, que é maior no início da
infecção, decresce espontaneamente na fase crônica da doença, resultando na redução do
tamanho dos granulomas através da modulação da resposta imune que resulta na eventual
redução da sintomatologia.
Esquistossomose crônica. INTESTINO: Em muitos casos, o paciente apresenta
diarreia mucossanguinolenta, dor abdominal e tenesmo.Nos casos crônicos graves, pode
haver fibrose da alça retossigmóide, levando à diminuição do peristaltismo e constipação
constante. Entretanto, a maioria dos casos crônicos é benigna, com predominância de
alguns granulomas nodulares, e o paciente queixando-se, algumas vezes, de dores
abdominais, como fase de diarreia mucossanguinolenta e, outras, de constipação,
intercaladas de longos períodos normais. A diarreia mucossanguinolenta é devida à
passagem simultânea de vários ovos para a luz intestinal, ocasionando pequenas (mas
numerosas) hemorragias e edema.
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FIGADO: As alterações
hepáticas típicas surgem a partir do
início da oviposição e formação de
granulomas. Em consequência,
teremos um quadro evolutivo,
dependendo do número de ovos
que chega a esse órgão, bem
como do grau de reação
granulomatosa que induzem. No
início, o fígado apresenta-se
aumentado de volume e bastante
doloroso a palpação. Os ovos prendem-se nos espaços porta, com a formação de
numerosos granulomas. O fígado, que inicialmente está aumentado de volume, numa fase
mais adiantada pode estar menor e fibrosado. Nesta fase, aparece o quadro de "fibrose de
Symmers", ou seja, uma peripileflebite granulomatosa, com neoformação conjuntivo-
vascular ao redor dos vasos portais, onde se vê uma retração da cápsula hepática (cápsula
de Glisson) por fibrosamento dos espaços porta e manutenção da integridade do
parênquima hepático. Dessa forma, não se nota a cirrose hepática, mas sim a fibrose do
órgão, cuja retração de sua cápsula em numerosos pontos provoca a formação de
saliências ou lobulações.
Assim sendo, os granulomas
hepáticos irão causar uma
endoflebite aguda e fibrose
periportal, a qual provocara
obstrução dos ramos intra-
hepáticos da veia porta. Esta
obstrução trará, como
consequência, a manifestação
mais típica e mais grave: a
hipertensão portal. Essa
hipertensão poderá intensificar-
se com a evolução da doença,
causando no paciente uma série de alterações que seriam as seguintes: esplenomegalia,
varizes, ascite (barrida d’agua).
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OUTRAS LOCALIZACOES: Através das circulações colaterais anômalas (shunts intra-
hepáticos), ou mesmo das anastomoses utilizadas (principalmente da mesentérica inferior
ligando-se com a pudenda interna e essa dirigindo-se para a cava inferior), alguns ovos
passariam a circulação venosa, ficando retidos nos pulmões.
Nos capilares desse órgão, os
ovos dão origem a granulomas
pulmonares, que podem levar a
duas consequências: primeira,
dificultando a pequena circulação
e causando o aumento do esforço
cardíaco, que poderá chegar até a
insuficiência cardíaca, tipo cor
pulmonale; segunda, viabilizando
ligações arteriovenosas (shunts),
que permitem a passagem de
ovos do parasito para a circulação
geral e encistamento dos mesmos
em vários órgãos, com formação
de granulomas, inclusive no SNC. E importante chamar a atenção para os ovos do parasito
que, nos pulmões, tendem a se encalhar nas arteríolas, já que, a partir do coração direito,
são distribuídos nesses órgãos pelas artérias pulmonares. Particularmente graves são as
formas medulares agudas, que podem levar a paraplegia. Apesar de raras, podem ser
causadas por ovos isolados ou conjunto de ovos depositados em nível torácico inferior ou
lombossacro. A reação granulomatosa neste local é intensa, lesando o tecido nervoso.
Parece que a via mais provável para ovos ou vermes atingirem a medula ou o SNC,
(neuroesquistossomose) seria anastomoses do plexo venoso vertebral de Batson.
DIAGNOSTICO: No diagnóstico clínico, deve-se levar em conta a fase da doença (pré-
postural, aguda ou crônica, já definidas anteriormente). Além disso, é de fundamental
importância a anamnese detalhada do caso do paciente origem, hábitos, contato com água -
pescarias, banhos, trabalhos, recreação, esportes etc.).
Os métodos parasitológicos ou
diretos se fundamentam no encontro
dos ovos do parasito nas fezes ou
tecidos do paciente. O exame de
fezes pode ser feito por métodos de
sedimentação ou centrifugação em
éter sulfúrico, métodos estes com
base na alta densidade dos ovos, ou
por método de concentração por
tamização (Kato e Kato-Katz).
Entretanto, com cargas parasitárias
baixas, há necessidade de repeti-los.
A biopsia ou raspagem da mucosa retal constitui um método que depende de pessoal
treinado e resulta em inegável desconforto para o paciente. A principal vantagem da técnica
é a maior sensibilidade e a verificação mais rápida do efeito da quimioterapia. A ultra-
sonografia constitui-se em um dos mais importantes avanços para o diagnóstico clínico,
principalmente na fase crônica da doença, e está se tomando de uso corrente no nosso
país. E uma técnica que diagnostica as alterações hepáticas determinando com precisão o
grau de fibrose.
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EPIDEMIOLOGIA: O clima de país tropical permite, na maioria dos estados brasileiros, as
condições necessárias para a transmissão da doença. Assim, existe uma incrível variedade
de hábitats aquáticos, que funcionam como criadouros de moluscos; as altas temperaturas e
luminosidade intensa estimulam a multiplicação de microalgas, que são o alimento dos
moluscos. Por outro lado, a eclosão do miracídio, penetração deste no molusco, evolução
das formas parasitárias no caramujo, emergência e penetração de cercárias são também
fortemente dependentes dessas duas variáveis (temperatura e luminosidade). A condição
fundamental para o estabelecimento de um foco de transmissão seria a contaminação do
criadouro de caramujos suscetíveis com fezes contendo ovos viáveis. Desta maneira, fica
claro que o problema central da presença de focos de transmissão se relaciona com a
contaminação fecal humana das coleções aquáticas. Existe ainda uma prática generalizada
de se construir esgotos domésticos que desembocam diretamente nos criadouros, o que
favorece sobremaneira a infecção dos caramujos. A existência de clima apropriado para a
transmissão e as condições socioeconômicas precárias (saneamento básico, educação
sanitária etc.) permitem a manutenção da endemia nas áreas onde foi implantada. Os
fatores mais importantes relacionados com o problema da expansão da doença são
migrações internas, presença de caramujos potencialmente transmissores, ausência de
infra-estrutura sanitária adequada na maioria do território nacional, educação sanitária
precária ou inexistente e disseminação de espécies de Biomphalaria suscetíveis.
PROFILAXIA E CONTROLE: As condições inadequadas de saneamento básico são o
principal fator responsável pela presença de
focos de transmissão. E uma doença tipicamente
condicionada pelo padrão socioeconômico
precário que atinge a maioria da população
brasileira.
A presença de caramujos transmissores ou
potencialmente transmissores, em uma vasta
área do território nacional ligada as intensas
migrações das populações carentes das áreas
endêmicas a procura de empregos ou melhoria
de condições de vida, aponta fortemente para
formação de novos focos de transmissão. Esta situação resultaria na ampliação da já
extensa área onde a doença se instalou. As medidas profiláticas gerais são: tratamento da
população, saneamento básico, combate aos caramujos transmissores.