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O PROJETO EPISTEMICO PLATAO NO MENON

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O PROJETO EPISTÊMICO DE PLATÃO NO MÊNON 
 
Felipe César Marques Tupinambái – UFPI/CAF 
Paulo Jordão de Oliveira Cerqueira Fortes – UFPI/CAFS 
 
RESUMO 
O Mênon é um pequeno diálogo de extraordinária complexidade interna onde saber, moral e 
política - questões de significativa profundidade filosófica - se inter-relacionam. Nele Platão 
aplica duas propostas metodológicas autônomas: A elênctica (típica dos diálogos socráticos) e 
a “hipotética” (característica da obra sobre as “formas”) à temática da virtude, inserindo-a na 
delicada questão da relação entre opinião e saber, núcleo problemático dos diálogos críticos. 
Lança ainda as bases da teoria da reminiscência – para alguns, o autêntico modelo cognitivo 
platônico -, legando à posteridade o famoso “paradoxo de Mênon”, com o qual pela primeira 
vez a reflexão se confronta com o problema da aquisição de novos conhecimentos. 
O presente artigo tem por objetivo fazer emergir toda essa riqueza e diversidade temática da 
obra platônica mostrando suas relações estruturais em cada um dos ambientes que o diálogo 
visita. 
Palavras-chaves: Educação; Epistemologia; Linguagem; Platão; 
SUMMARY 
Mênon is a small dialogue of extraordinary complexity interns where to know, moral, and 
politics – subjects of signicant philosophical depth – interrelates. In it Plato applies two 
proposed methodological autonomous: The elenctic (typical of the dialogues socratics) and 
the “hypothetical” to (characteristic of the work on the “forms”) the theme of the virtue, 
inserting it in the delicate subject of the relationship among opinion and knowledge, 
problematic nucleus of the critical dialogues. He still throws the bases of the theory of the 
reminiscence, for some, the authentic platonic cognitive model – delegating to the posterity 
the famous “paradox of Menon”, with which for the first time the reflection is confronted with 
the reflection is confronted with the problem of the acquisition of new knowledge. 
The present article has for objective to do to emerge that whole wealth and thematic diversity 
of platonic work showing their structural relationships in each one of the atmospheres that 
dialogue visits. 
Word-key: Education; Epistemology, Language, Plato; 
 
1. Introdução: Mênon - síntese platônica sobre o saber. 
O Mênon1 pode ser caracterizado como uma síntese platônica sobre o saber, a 
moral e a política. Envolve assim um reconhecimento da função pedagógica e política da 
questão do saber. Sua conclusão é que o saber identifica-se com a virtude visando o bem. 
Especificamente, a natureza singular do Mênon consiste no fato de suas partes estruturais – a 
Abordadgem Elênctica; a Teoria da Anamnese e; o Método Hipotético – se combinarem 
formando um projeto epistêmico que serve de modelo a uma teoria do conhecimento. 
2. Seção elêntica do Mênon. 
A seção elêntica do diálogo mostra que, para Sócrates, só é possível saber se a 
virtude é ensinável dizendo o que ela é, com uma definição. Tal definição terá, no entanto, de 
satisfazer a certas exigências para vencer o elenchos2: i. unidade do definiendum; ii. cobertura 
de todas as instâncias e; iii. identidade definicional. Por outro lado, a pergunta “o que é?” (ti 
estin) permite somente duas alternativas: saber ou não saber de “de todo” (to parapan) a 
definição daquilo que é perguntado. 
Ao pedir um logos, Sócrates que saber se o interlocutor sabe ou não sabe. O logos 
é condição do teste do saber. Pressupõe-se portanto que o saber é necessariamente 
proposicional, pois a proposição é o meio de acesso ao saber, ou melhor, ao debate sobre o 
saber (SANTOS, 2007). 
 
1 Todas as citações foram extraídas da tradução de Maura Iglésias. Mênon. São Paulo, Loyola, 2003. 
2 Do grego: elechos, que significa: refutação, prova, exame. 
2.1 Primeira definição de virtude. 
Em sua primeira definição de virtude, Mênon fornece uma extensa lista de 
virtudes, diz existir uma para o homem, outra para a mulher, etc (71e). Porém, a pergunta “o 
que é?” visa a natureza/identidade do objeto investigado. Ao olhar, identificar o que está 
sendo investigado, devemos passar a conhecer concomitantemente a sua natureza, ou seja, a 
conhecer uma entidade una, expressada por um único termo, que refere uma pluralidade de 
instâncias distintas. Portanto, é investigando a partir desse nome que se pretende chegar ao 
conhecimento do “um sobre muitos”. 
2.2 Segunda definição de virtude. 
“Ser capaz de comandar os homens” (72d) é a segunda resposta de Mênon a 
pergunta: “o que é a virtude?”. Porém, tal definição peca por não se aplicar a toda a extensão 
do definiendum, crianças e escravos, por exemplo, ficam de fora. O acréscimo “comando com 
justiça” (72e), por sua vez, falha novamente por confundir a virtude e uma de suas partes 
(inclui no definiens instâncias do definiendum). 
2.3 Terceira definição de virtude. 
Mênon, na sua terceira tentativa, responde: “a virtude é desejar as coisas belas e 
ser capaz de consegui-las” (77b). Esclarece Sócrates que a primeira parte é redundante: 
ninguém deseja o mal, e a segunda é vaga e redundante também, pois, que espécie de coisas 
são as coisas belas obtidas com a ajuda de uma parte da virtude? (78c-79e). 
3 Aporia e Paradoxo da Aprendizagem. 
Mênon fica em estado de aporia3, está irritado com Sócrates e com a 
impossibilidade de satisfazer suas exigências apresentadas nas refutações de suas definições. 
Lança então o paradoxo: Como alguém pode investigar qualquer coisa que “de todo” 
desconhece? Como seria possível reconhecê-la, se acaso a encontrar? (80d). 
Sócrates reforça e esclarece a questão através de um dilema, o Dilema Socrático: 
“Não é ao homem possível procurar nem o que conhece, nem o que não conhece [...]” (80e). 
 
3 Do grego: aporia, que significa, neste contexto, um obstáculo ao pensamento. 
Pois, para conhecer preciso identificar e só identifico se souber dizer o que é (regressividade 
da relação logos e saber). 
Ora, se responder à pergunta “o que é?” aponta o único meio de chegar ao saber, e 
a refutação é o único método para validar a resposta oferecida, então, só será permitido saber 
ou não saber uma determinada coisa “de todo”. Nessas condições, como é possível a 
aprendizagem? 
Essa pergunta será respondida pela introdução de uma nova metodologia, o 
método hipotético, apresentado logo após o diálogo com o escravo de Mênon. 
3.1 Diálogo com o Escravo de Mênon (Teoria da Anamnese). 
Com o diálogo com o escravo de Mênon, Sócrates introduz a Teoria da 
Anamnese, que visa: i. refutar que a aporia é um mal (79e-80b), e também; ii. refutar que o 
“Paradoxo de Mênon”, que estabelece a impossibilidade de se investigar o que se desconhece. 
A um escravo de Mênon, Sócrates pergunta: a partir de que linha se forma um 
quadrado de superfície dupla de um outro, dado? (82d). O rapaz fornece duas respostas, a 
saber: i. sobre a linha dupla, e; ii. sobre a linha mais a metade. Tais respostas, porém, chegam 
a conclusões contraditórias, deixando o jovem em aporia. 
A compreensão, por fim, de que é a partir da diagonal do quadrado dado que se 
constrói o quadrado duplo, não a aprendeu de Sócrates o escravo de Mênon? Não foi este que 
traçou a diagonal e a ensinou ao rapaz? - Sim e Não. Vai depender da concepção de 
ensino/aprendizagem tomada. 
A concepção de ensino sofística, por exemplo, se resume a uma mera prestação de 
informação, memorizada e retransmitida acriticamente. Adotará Platão também esta 
concepção? Não, ao contrário, vemos no diálogo com o escravo que este necessita de certos 
conhecimentos e competências, como: primeiro, falar uma língua, o grego, claro, e;segundo, 
ter algumas noções básicas de geometria: quadrado, redondo, etc., e aritmética: saber somar e 
multiplicar de forma elementar, e também; por fim, ser capaz de apreender as informações 
novas recebidas e operar com elas, retendo as consistentes e descartando as inconsistentes, ou 
seja, o escravo aprende quando desloca uma informação de um contexto para o outro, no caso, 
do contexto sensível para o inteligível. Isso é uma experiência totalmente nova para ele 
(SANTOS, 1998). 
Mas, afinal, o que é que foi aprendido (recordado) pelo escravo? A resposta a esta 
questão está na seção meta-elênctica, ou seja, nos comentários de Sócrates a Mênon, antes de 
cada nova etapa da demonstração da teoria. Vejamos, antes de cair em aporia, o escravo 
julgava saber aquilo que na verdade não sabia; Na aporia, descobre que não sabia; Ao 
compreender que a linha diagonal é o lado do quadrado duplo, soube (a solução do problema). 
Porém, todos estes estados de alma exprimem uma convicção interior expressa verbalmente, 
incorreta quando inconsistentes com outras respostas dadas, corretas, quando consistentes 
(ibidem, 1998). É deste modo que “naquele que não sabe, sobre as coisas que por ventura não 
sabia, existem opiniões verdadeiras – sobre estas coisas” (85c). 
As opiniões do rapaz, portanto, são qualquer resposta fornecida, ou posição a que 
tenha assentido, e as opiniões verdadeiras são todas as respostas consistentes com as outras. É 
na alma humana, portanto, que residem opiniões verdadeiras, e essas poderão se transformar 
em saber através do raciocínio explicativo que as encadeia (98a). Ma esta estratégia não é 
bastante para garantir a correção da resposta à pergunta “o que é?”. E enquanto isso não 
acontecer, a metodologia socrática não responde ao paradoxo. Como então recordar essas 
opiniões verdadeiras? 
4 A metodologia Hipotética. 
Através de uma nova proposta metodológica de investigação: o Método 
Hipotético. Vamos recapitular. De acordo com a metodologia elênctica, nossas definições 
valem ou não, “de todo”, como saber, o que faz com que a investigação oscile entre o total 
saber e o total não saber, sem que haja nenhuma possibilidade de passagem do não saber ao 
saber. Nestes termos, teria Mênon razão?! É impossível investigar aquilo que “de todo” se 
desconhece?! 
- Não. Porque não se desconhece, mas apenas, se está esquecido. - Mas, como é 
possível investigar aquilo que foi esquecido? - Ora, já que se mostrou impossível encontrar a 
resposta à pergunta “o que é?”, vamos fazer como os geômetras, aceitar provisoriamente uma 
resposta, a ser examinada a partir das conseqüências que implica. O que possibilitará, 
portanto, o trânsito do não-saber ao saber. 
A hipótese a “virtude é saber” produz conseqüências coerentes com as concepções 
correntes de virtude, pois, para algo ser virtuoso é requerido o controle da sabedoria que lhe 
permite ser ao mesmo tempo bom e útil. Que espécie de ente terá de ser a virtude para ser 
ensinável? (87b). O que se ensina é saber. Se a virtude é saber e o que se ensina é saber, então 
a virtude é saber. No entanto, apesar de consistente com as outras respostas, “virtude é saber” 
não pode ser considerada correta. Pois, quem serão seus professores? Quem, na cidade, 
poderá apontá-los? (89c-e). 
E quanto às demais alternativas de aquisição da areté levantadas por Mênon? 
Alguém lembra de “um [homem] bom por natureza?” (89a-b). 
Seria então pelo exercício, que nos tornamos virtuosos? Assim, para examinar 
essa última alternativa – o honrado e bem sucedido Ânito é chamado por Sócrates a opinar. 
Segundo Ânito, tornamo-nos virtuosos pela convivência com concidadãos, cujo 
modelo de excelência foi traçado pela história da cidade (92a-93e). Porém, Sócrates objeta, 
uma coisa é ser virtuoso, outra é ensinar a virtude. Seria virtude ensinável? 
Nenhum dos quatro eminentes cidadãos atenienses citados por Sócrates, no 
entanto, foi capaz de legar aos próprios filhos a virtude que lhes era atribuída (92b-94e). Será 
que não quiseram fazê-lo? Na falta de professores e de alunos, a virtude não pode ser objeto 
de ensino (95a-96c). 
Todavia, parece que quando da formulação da hipótese: “a virtude é saber” 
excluiu-se a possibilidade de haver algum bem separado do saber (87d). Pois, “não somente 
se a ciência guiar, os homens fazem suas ações bem e corretamente” (96e), pois, a opinião 
verdadeira não é em nada um guia inferior ao saber, “em relação à correção da ação” (97b), 
como demonstra o exemplo da Estrada para Larissa (97a-c). 
5 A “Estrada para Larissa”: Saber X Opinião Verdadeira. 
Peço licença agora a Platão e todos os seus estudiosos para usar de uma “licença 
poética” a fim de discernir a diferença apontada por Platão no Mênon entre: saber e opinião 
verdadeira, especificamente no passo que ele usa a imagem do Caminho para Larissa ( 97a-c). 
Imaginemos que, por hipótese, eu nunca tenha ido ao Rio de Janeiro. Nessas 
condições, como faço para chegar lá? Preciso ver minha noiva! Uma possibilidade seria então 
conversar com alguém que já fez esta viagem e que possa me ensinar o caminho. 
Este alguém me fornece algumas informações, diz, por exemplo, que a distância 
que separa o São Paulo do Rio de Janeiro é de 441 quilômetros, e me fornece inclusive um 
mapa rodoviário. Com o mapa em mãos parto, da amada São Paulo, para a bela Rio de 
Janeiro. Porém, no quilômetro 120 da Rodovia Presidente Dutra existe um abismo. Fato este 
que me faz sentir incapaz de prosseguir com a viagem. 
O que fazer então? Desistir? E minha noiva? Ela tem o par de olhos mais lindos 
que já contemplei! Estou perplexo, pouco antes guiava meu carro confiante de que, ao final de 
aproximadamente 24 horas contemplaria novamente aqueles olhos, que olhos! 
Sim, mas e agora? Agora preciso voltar ao ponto de partida e reavaliar a situação. 
Traçar uma nova estratégia de viagem, descartando informações inconsistentes e reajustando 
novamente as consistentes. Uma vez feito isso, parto novamente. Mas, como saber que 
cheguei no Rio de Janeiro? Essa é a melhor parte. Ah!, aqueles olhos!!! (TUPINAMBÁ, 
2007). 
Portanto, o hipotético exemplo procura evidenciar a fusão do epistêmico ao ético. 
A investigação só terá possibilidade de chegar a um bom termo devido a finalidade imposta à 
pesquisa, a busca dos belos olhos, pelos quais eu vejo o que há de melhor no mundo. 
6 Virtude como “concessão divina” 
Sócrates concorda com Ânito, pois houve e há homens bons e excelentes em 
Atenas. – Agora são virtuosos e bons? Com isso, Sócrates concede uma medida de virtude a 
Ânito, a opinião verdadeira, que reina sobre a eficácia prática; e, mantém o saber em si, como 
um ideal teórico a ser buscado. Não pode porém “de todo” conceder crédito a Ânito pois se 
assim o fizesse, igualá-lo-ia ao sábio, nem negá-lo “de todo”, tornando inútil qualquer esforço 
para atingir a verdade das coisas. 
Enfim, se não é pelo ensinamento, nem pela prática, nem por natureza que 
adquirimos o saber e a virtude. Será por “concessão divina” então? A virtude é um dom dos 
deuses? – Sim. Por que não? Já que é inexplicável o modo como que se manifesta em alguns 
homens, em condições que nem sequer lhes permitem a transmissão aos seus (parentes). 
7 Conclusão 
Assim, segundo nossa análise do Mênon, Platão procura demonstrar que a virtude 
dever ser investigada e aprendida pela reminiscência. Um bom nascimento, o convívio dos 
concidadãos, a imitação dos homens de sucesso, o cuidado com uma boa educação (89e-90b), 
tudo conta. Mas a única forma de buscar a virtude é tentar recordá-la pela investigação 
raciocinada, o que não quer dizer que a adoção de um método de investigação voltado para a 
descoberta de proposições a priori invalide oconhecimento empírico. A virtude pode ser 
recordada apenas projetivamente. 
O ideal do saber, para Platão, não se resume ao conhecimento sobre a realidade, 
sobre o mundo e os homens. Vai além, e se apresenta como disposição humana para uma vida 
virtuosa e feliz, para aquele que bem sabe conduzir sua vida (ROUGUE, 2005). 
Mas nada disso tem a ver com o fato de haver homens a quem não podemos 
deixar de conceder uma medida de virtude por se distinguirem dos outros, tal como Ânito, 
Mênon, Péricles, ... (establishment). Não obstante, estes homens são virtuosos sem estarem de 
posse do saber, possuem opinião verdadeira, através do “dom divino” (theia moira)? Pois 
todos são incapazes de ensinar a sua areté. 
A virtude, por fim, em termos teóricos, é saber, e a única forma de aceder a ela é 
através da filosofia. Já em termos práticos, é um “dom divino”, pois é inexplicável o modo 
que se manifesta em alguns homens, em circunstâncias que não é possível a sua transmissão 
aos outros. 
Esse é o projeto de Platão. Não há caminho melhor do que o do saber. Não é 
querendo ser rico, não é querendo ser belo, não é querendo ser poderoso que nos tornamos 
sábios. Porque querer ser belo, rico ou poderoso não é saber é querer saber. 
Vemos assim que a leitura de Platão nos desafia a pensar os temas educacionais 
atuais. Que tipo de homem quer formar em nossas escolas de educação básica? A prioridade 
seria o desenvolvimento da inteligência e habilidades socialmente valorizadas 
especificamente para o mercado de trabalho ou sucesso profissional, como parecem valorizar 
Ânito e Mênon? Ou, nossos sistemas educacionais deveriam procurar superar esse 
unilateralismo e abranger o homem em todas as suas dimensões (intelectual, estética, ética e 
política)? 
Achamos que faz-se urgente retomar a unidade original do saber ao ético, tão 
insistentemente enfatizada pela filosofia socrático-platônica. Parece ser, ao nosso ver, 
insuficiente a formação de nossos jovens exclusivamente para o “sucesso profissional” 
deixando de lado uma reflexão sobre nossas condutas individuais e coletivas. Talvez assim 
estaríamos contribuindo para a criação de um sociedade mais verdadeiramente humana. O 
saber científico teria, nessa visão, o objetivo maior de servir de base para a busca de valores 
mais elevados, em breve: a arte do bem viver. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
DALBOSCO, C. A.; CASAGRANDA, E. A.; MÜHL, E. H. (Orgs.) Filosofia e Pedagogia: 
aspectos históricos e temáticos. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. 
DAY, Jane. (ed.) Plato´s in focus. London: Routledge, 1994. 
MANON, Simone. Platão. Trad. Flávia C. de S. Nascimento. São Paulo: Martins Fontes, 
1992. 
FREITAG, Barbara. O indivíduo em formação. São Paulo: Cortez, 2001. 
GÓRGIAS. Testemunhos e fragmentos. Lisboa: Colibri, 1993. 
IRWIN, Terence. Plato´s moral theory: the early and middle dialogues. Oxford: Clarendon 
press, 1977. 
NEHAMAS, Alexander. “Meno´s Paradox and Socrates as a Teacher”. In: DAY, J. (ed.) 
Plato´s Meno. Routledge. 1994. p. 221-48. 
PIROCACOS, Elly. False belief and the Meno paradox. Aldershot: Ashgate, 1998. 
PLATÃO. Mênon. Trad. Maura Iglésias. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2003. 
SANTOS, J. T. A Apologia de Sócrates e o programa da filosofia platônica. Filosofia 6, 
Ponta Delgada: Revista da Universidade dos Açores, 1998. 
______. El nascimento de la verdad. “Methexis”. Revista Internacional de Filosofia Antiga. 
XVII – 2004. 
______. “Introdução, resumo e comentário do diálogo”. In: PLATÃO. Teeteto. Lisboa, 
Gulbenkian, 2005, p. 3-178. 
______. “O modelo cognitivo da reminiscência platônica”. In: TUPINAMBÁ, Felipe. O 
saber e suas origens. Teresina: EDUFPI, 2007. 
TEIXEIRA, E. F. B. A educação do homem segundo Platão. São Paulo: Paulus, 1999. 
TUPINAMBÁ, Felipe. O saber e suas origens. Teresina: EDUFPI, 2007. 
 
i Prof. Msc. Felipe César Marques Tupinambá 
Formação: 
Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí (2004) e mestrado em 
Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba (2006). Atualmente é professor do ensino 
Básico, Técnico e Tecnológico da Universidade Federal do Piauí - Campus Amílcar Ferreira 
Sobral / Floriano - PI. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Filosofia e 
Sociologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Extensão Rural e Filosofia da 
Educação e Epistemologia. 
Projeto de pesquisa: 
2009/2010 -Educação e Extensão Rural: o problema da comunicação entre o Agrente de 
Extensão e o Camponês. (Cadastrado na Pro-reitoria de Pesquisa da UFPI; 
2007 - Livro: TUPINAMBÁ, Felipe. O saber e suas origens: epistemologia de Platão no 
Mênon. Teresina: EDUFPI, 2007. (ISBN: 978-85-7463-192-9) 
Artigos: 
2009 / Dez. - “O que é Ciência?” – SAPIÊNCIA - Informativo Científico da FAPEPI - ISSN – 
1809-0915; 
2009 - O SABER E O APRENDER NA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO DE PLATÃO. IV 
CONNEPI 2009 – CAPES QUALIS B1. 
Resumos publicados em anais de congressos: 
2007 - “A regressividade da relação logos e saber no Mênon de Platão”. I Encontro 
Lingüístico e Literário do Mestrado de Letras da UFPI, Teresina-PI. 
2005 - “A ação da Inteligência na Gênese do Universo no Timeu de Platão” . III Encontro 
Interinstitucional de Filosofia - UFPB/UFPE/UFRN, Recife. 
2004 – “Proposições Empíricas na Obra de C.I. Lewis”. XI Encontro Nacional de Filosofia da 
ANPOF, Salvador. ANPOF. 
Endereço de contato: 
Av. Mirtes Melão, 5793; Ap. 203; Bl. 09A; Cep. 64090095; Teresina-Pi; E-mail: 
felipe_tupinamba@yahoo.com.br;

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