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Aula 04 - Princípios Fundamentais

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Direito Constitucional I
Aula 04 – Princípios Fundamentais
FADI – Faculdade de Direito de Sorocaba
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Princípios Fundamentais
- Os princípios são as ideias centrais de um sistema, ao qual dão sentido lógico, harmonioso, racional, permitindo a compreensão de seu modo de se organizar*.
- “Princípio (...) é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. (...) Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma. (...) Isto porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura neles esforçada”**.
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Princípios Fundamentais
 Princípios= ideias centrais de um sistema – sentido lógico, harmonioso e racional
 Conhecer os princípios para conhecer o sistema como um todo.
Por ex.: sistema militar = princípios da hierarquia e subordinação
 Princípios explícitos e implícitos
Explícitos – Art. 1º, e incisos, Art. 5º, Art. 37
Implícitos – ninguém é obrigado a fazer prova contra si mesmo. Ou o princípio da atuação estatal como função.
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Princípios Fundamentais
 Classificação de Luis Roberto Barroso:
- Princípios fundamentais do Estado brasileiro: republicano (1º), federativo (1º), o do Estado democrático de direito (1º), separação dos Poderes (2º), o presidencialista (76), o da livre iniciativa (1º, IV)
- Princípios gerais: legalidade (5º, II), liberdade (5º, II), isonomia, autonomia estadual e municipal, acesso ao Judiciário, segurança jurídica (5º, XXXVI), juiz natural (5º, XXXVII e LIII), devido processo legal (5º, LIV) – trazem limitação aos Poderes – carregam mais valoração ética r menos decisão política.
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Princípios Fundamentais
(cont.)
- Princípios setoriais ou especiais: legalidade administrativa, impessoalidade, moralidade e publicidade, o do concurso público e o da prestação de contas (37); na Organização dos Poderes: o majoritário, o proporcional, o da publicidade e da motivação das decisões judiciais e administrativas, o da independência e imparcialidade dos juízes; na tributação: capacidade contributiva, legalidade tributária e orçamento, isonomia tributária, anterioridade tributária, etc.
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Princípios Fundamentais
 José Afonso da Silva*, fundado em José Joaquim Gomes Canotilho, divide em:
1) Princípios político-constitucionais são decisões políticas fundamentais da nação ou, no dizer de Canotilho**: “Nestes princípios se condensam as opções políticas nucleares e se reflecte a ideologia inspiradora da constituição. Expressando as concepções políticas triunfantes ou dominantes numa assembléia constituinte, os princípios político-constitucionais são o cerne político de uma constituição política (...).” (princípios republicano, da federação, do Estado democrático de direito, da separação de poderes, o princípio da dignidade da pessoa humana, do pluralismo político, entre outros estabelecidos nos artigos 1° a 4° da Constituição, sob o título de Princípios Fundamentais.
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Princípios Fundamentais
2) Princípios jurídico-constitucionais*, possuidores de caráter geral, que informam toda a ordem jurídica pátria. Ainda segundo ele, não raro decorrem dos princípios fundamentais antes mencionados.
“Princípios constitucionais impositivos subsumem-se todos os princípios que, sobretudo no âmbito da constituição dirigente, impõem aos órgãos do estado, sobretudo ao legislador, a realização de fins e a execução de tarefas. São, portanto, princípios dinâmicos, prospectivamente orientados.**” (princípios da legalidade, da isonomia, da proteção social aos trabalhadores, da proteção à família, da autonomia municipal, do devido processo legal, do juiz natural, entre outros, explícitos ou implícitos.)
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Princípios Fundamentais
Preâmbulo da Constituição de 88
Os grandes fins; uma declaração de princípios que devem ser observados notadamente na elaboração da nova Constituição
Norma jurídica autônoma?
Função: elemento de interpretação e integração.
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Princípios Fundamentais
Fundamentos: bases nas quais se assenta o Estado brasileiro
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
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Princípios Fundamentais – Estado Democrático e Social de Direito
 Estado de Direito é aquele criado e regulado por uma Constituição (Norma superior às demais), tendo o exercício do poder político dividido entre órgãos independentes e harmônicos entre si, controlando-se mutuamente de modo que a lei produzida por um seja necessariamente observada pelos demais, além de ser possível aos cidadãos, titulares de direitos, opô-los ao próprio Estado.
Fundamentos do Estado de Direito:
1) a supremacia da Constituição;
2) a separação dos Poderes;
3) a superioridade da lei;
4) a garantia dos direitos individuais.
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Princípios Fundamentais – Estado Democrático e Social de Direito
1) Supremacia da Constituição:
Nascimento do Estado pela Constituição – feição do Estado que é fundado pela Constituição.
Poder constituinte – poder de fato – dá vida ao Estado: diz quem e como serão produzidas as demais leis; quem as aplicará e de que forma; quem julgará;
Pirâmide (de Kelsen) tendo a Constituição no ápice. As demais normas serão produzidas de acordo com o prescrito na Constituição; e assim por diante, umas sendo fundamento de validade das outras.
Se a norma é inconstitucional, a própria Constituição prevê o controle da constitucionalidade.
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Princípios Fundamentais – Estado Democrático e Social de Direito
2) Separação de Poderes
Exercício do Poder deve ser repartido: quem faz lei não a aplica, quem a aplica não julga. Existência de órgãos distintos, os Poderes, que exercem uma função distinta:
- legislar: normas gerais e abstratas, regulando a vida dos indivíduos (lei);
- executar: na verdade, administrar e aplicar as leis (ato administrativo);
- julgar: jurisdição (dizer do Direito), aplicar a lei ao caso concreto, quer seja entre indivíduos ou entre o Estado e indivíduo (sentença).
A função jurisdicional pode retirar do mundo jurídico a lei inconstitucional ou o ato administrativo ilegal. Dessa forma, o Estado não fica imune às próprias leis e à Constituição. O Judiciário, que é independente e imparcial, encarrega-se de zelar para que o Estado se submeta às leis à Constituição.
Montesquieu: Do Espírito das Leis. Precede a Revolução Francesa e Independência Norte-Americana. Mas antes, Aristóteles e John Locke.
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Princípios Fundamentais – Estado Democrático e Social de Direito
3) A superioridade da lei
Característica de obra humana: os homens fazem as leis, produto da vontade geral.
O Contrato Social de Rousseau – as leis são as condições da associação civil.
Obriga a todos, inclusive o próprio Estado. Este, depois de exercer a função de legislador (normas gerais e abstratas), as aplicará pelo ato administrativo ou pela sentença, mas estas sempre estarão condicionadas à lei, inclusive no que diz respeito à forma como serão editadas.
Importa é que as vontades pessoais do administrador ou do juiz não são consideradas na aplicação da lei ao caso concreto. É apenas o exercício de um poder-dever.
Os indivíduos estão submetidos ao governo das leis, e não ao governo dos homens. As leis determinam os comportamentos,se editadas. Caso contrário, ninguém está proibido de fazer coisa alguma, e nem obrigado a fazer qualquer coisa.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (26/10/1789, França), Art. 4º: tudo o que não está proibido pela lei não pode ser impedido, e ninguém pode ser obrigado a fazer o que ela não ordene.
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Princípios Fundamentais – Estado Democrático e Social de Direito
4) Garantia dos Direitos Individuais
Modernamente, a garantia dos direitos individuais vem da Revolução Francesa (1789) e da Constituição Norte-Americana (1787) – Primeira Emenda - Liberdade e igualdade.
Berço constitucional desses direitos: portanto, a lei ordinária não pode suprimi-los e bem o Estado poderá deixar de observá-los.
É a Constituição quem outorga os direitos individuais: direito subjetivo público – está lá à disposição dos indivíduos para serem usados inclusive contra o próprio Estado.
A supremacia da Constituição, a separação de Poderes e a superioridade das leis, existem em função de garantir os direitos individuais – o mais relevante são os direitos individuais. O Estado (por qualquer de seus Poderes) e os indivíduos, não podem, de modo algum, transgredir os direitos individuais.
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Princípios Fundamentais – Estado Democrático e Social de Direito
Estado Democrático de Direito:
a) criado e regulado por uma Constituição (suprema);
b) os agentes públicos fundamentais são eleitos e renovados periodicamente pelo povo e respondem pelo cumprimento de seus deveres;
c) o poder político é exercido, em parte diretamente pelo povo, em parte por órgãos estatais independentes e harmônicos, que controlam uns aos outros;
d) a lei produzida pelo Legislativo é necessariamente observada pelos demais Poderes;
e) os cidadãos, sendo titulares de direitos, inclusive políticos, podem opô-los ao próprio Estado.
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Princípios Fundamentais – Estado Democrático e Social de Direito
 O Estado Democrático de Direito, é aquele no qual o povo, destinatário do poder político, participa, de modo regular e baseado em sua livre convicção, do exercício desse poder. 
REPÚBLICA: se insere no conceito de Estado de Direito. Implica que os agentes públicos, que exercem diretamente o poder político, representantes do povo, por ele escolhidos e renovados periodicamente.
Os agentes passam a exercer MANDATO. Contrato entre o titular do direito e alguém por ele investido temporariamente no poder de exercê-lo.
O povo outorga mandato ao agente público, por um certo período, renovando-se periodicamente.
Além da renovação dos mandatos pelas eleições, os mandatários podem ser responsabilizados (punidos e destituídos de seus cargos).
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Princípios Fundamentais – Estado Democrático de Direito
 REPÚBLICA: é regime político em que os exercentes de funções políticas, representam o povo e decidem em seu nome, fazendo-o com responsabilidade, eletivamente e mediante mandatos renovados periodicamente.
Características da República: 1) eletividade (instrumento da representação); 2) periodicidade (assegura a fidelidade aos mandatos e possibilita alternância no poder); 3) responsabilidade (é a garantia da idoneidade da representação popular).
Roque Antonio Carrazza*: regime de igualdade entre as pessoas.
Exercício direto do poder pelo Povo: art. 14: plebiscito (votação para conhecer a vontade do povo) e referendo (exame posterior de uma ação qualquer).
Iniciativa popular: Art. 14, III e Art. 61, § 2º.
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Princípios Fundamentais – Estado Democrático e Social de Direito
- O Estado Democrático de Direito implica na existência de um Direito Eleitoral e também uma categoria de direitos: os Direitos Políticos (inclusive Partidos Políticos).
Além dos direitos individuais assegurados pelo Estado de Direito, são acrescentados outros: de votar e ser votado, de fundar e participar de partidos políticos, e seus sustentáculos: liberdade de expressão do pensamento, de reunião, de imprensa, de informação.
- Fixação de regras antes dos pleitos e respeito a elas.
- Nossa Constituição assim estabelece em relação aos eleitores e os candidatos, bem como os cargos, o processo eleitoral. Essas normas jurídicas definem as regras do jogo.
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Princípios Fundamentais – Estado Democrático e Social de Direito
 Estado Democrático e Social de Direito
- Liberalismo: afastamento do Estado da vida dos indivíduos. O Estado garante apenas a segurança, ordem e paz. Estado mínimo. Não interferência na economia (laisser faire, laisser passer). A iniciativa econômica é reservada aos indivíduos. Século XVIII –
- Após a 1ª Grande Guerra, em razão da crise econômica, o Estado foi forçado a assumir, um papel mais ativo em relação à economia e ao desenvolvimento. Ele passou a ser agente econômico (instalando indústrias, ampliando serviços, gerando empregos, financiando atividades), ou ainda como intermediário (mediador) defendendo empregados em face dos patrões, ou consumidores em relação aos fornecedores).
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Princípios Fundamentais – Estado Democrático e Social de Direito
As Constituições modernas, sobretudo Weimar (1919) e México (1917), incorporam essas preocupações : tornam-se agentes do desenvolvimento e da justiça social (divisão do produto do desenvolvimento). Aparecem os direitos sociais: prestações positivas do Estado. São as liberdades públicas positivas.
Educação, saúde, previdência, proteção do trabalhador, 
Então: Estado Social e Democrático de Direito possuiu os seguintes elementos:
a)
b) (...)
f) o Estado tem o dever de atuar positivamente para gerar desenvolvimento e justiça social.
Entrelaça: constitucionalismo, república, participação popular direta, separação de Poderes, legalidade e direitos (individuais e políticos) + desenvolvimento e justiça social.
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Objetivos Fundamentais
Significam nossas metas em relação ao desenvolvimento da sociedade:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
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Princípios em relação às relações internacionais
Significam as bases nas quais se sustenta o nosso relacionamento com outros Estados Soberanos e estrangeiros.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
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Forma de governo, forma de Estado e regime de governo
Forma de Governo: monarquia ou república
Sistema de Governo: presidencialismo ou parlamentarismo
Forma de Estado: Estado Democrático e Social de Direito
* SUNDFELD, Carlos Ary. Fundamentos de direito público. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 143.
** MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de direito administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987. p.230.
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* SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 94.
** CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993. p. 172.
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* SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 95.
** CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993. p. 173.
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