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Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT Campus Universitário do Araguaia - CUA Instituto de Ciências Exatas e da Terra - ICET Bacharelado em Engenharia Civil CABOS SUSPENSOS Barra do Garças - MT 2016 Leonardo Alves da Costa CABOS SUSPENSOS Trabalho desenvolvido durante a disciplina de Equações Diferenciais ministrada pelo professor Dr. Marco Donisete de Campos. Barra do Garças - MT 2016 Introdução Um cabo suspenso em seus extremos submetido a ação de uma força uniformemente distribuída ao longo de seu comprimento descreve uma curva denominada catenária, do latim catena, corrente. O problema foi proposto por Galileu Galilei, que após observar uma corrente suspensa, supôs que a curva pudesse ser descrita como uma parábola. Mais tarde, através do Cálculo Diferencial, Leibniz e Bernoulli demonstraram que a curva não poderia ser descrita de tal forma, concretizando o primeiro sucesso público do novo cálculo. A catenária pode ser facilmente vista no dia-a-dia. Um exemplo clássico são as redes de transmissão elétrica, telefônica, etc. Além disso, pode ser observada em pontes pênseis, bem como em algumas coberturas utilizadas na construção civil. Em topografia, no uso de trena convencional, a catenária deve ser considerada na metragem de grandes distâncias, afim de evitar erros de precisão. (a) (b) (c) (d) Figura 1 – Aplicações da catenária, (a) redes de transmissão, (b) ponte pênsil, (c) cobertura de edificações e (d) arco catenário. Formulação Supomos que um fio esteja suspenso por dois postes sob ação de seu peso próprio, como em uma rede de transmissão elétrica, Figura 2 - (a). (a) (b) Figura 2 – (a) Esquema simplificado de um trecho de uma rede de transmissão e (b) eixo coordenado adotado no modelo. Como referencial, adotaremos o ponto mais baixo da curva, pelo qual passará o eixo das ordenadas, e estará a a unidades acima do eixo das abscissas (Figura 2 - (b)). Afim de se obter a função que descreva a curva formada pelo fio é necessário impor algumas hipóteses ao modelo: o cabo é totalmente flexível (as tensões ao longo do cabo são tangenciais) e inextensível (não há deformações devido as tensões ou temperatura). Procedendo a análise estática do trecho entre P1 e P2, um ponto arbitrário, teremos três forças atuantes no fio: o peso do segmento P1P2 e as tensões T1 e T2, que atuam tangencialmente em P1 e P2, respectivamente. Sejam 𝛾 a densidade linear do cabo e 𝑠 o comprimento do segmento P1P2, então o peso do trecho analisado é dado por 𝛾𝑠. Agora, considerando 𝜃 o ângulo entre a linha de ação de T2 e a horizontal e realizando o balanço de forças, obtemos 𝑇1 = 𝑇2𝑐𝑜𝑠𝜃 (1) 𝛾𝑠 = 𝑇2𝑠𝑒𝑛𝜃 (2) De (1) e (2) temos que 𝑡𝑔𝜃 = 𝛾𝑠 𝑇1 , ou seja, 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 𝛾𝑠 𝑇1 . (3) O comprimento do cabo entre os pontos P1 e P2 é dado por 𝑠 = ∫ √1 + ( 𝑑𝑦 𝑑𝑥 ) 2 𝑑𝑥 𝑥 0 . (4) Utilizando o teorema fundamental do cálculo derivamos (4), obtendo 𝑑𝑠 𝑑𝑥 = √1 + ( 𝑑𝑦 𝑑𝑥 ) 2 . (5) Agora, derivando (3) em relação a x, temos 𝑑2𝑦 𝑑𝑥2 = 𝛾 𝑇1 𝑑𝑠 𝑑𝑥 . (6) Substituindo (5) em (6), encontramos uma Equação Diferencial Não Linear de Segunda Ordem que descreve a curva formada pelo cabo suspenso 𝑑2𝑦 𝑑𝑥2 = 𝛾 𝑇1 √1 + ( 𝑑𝑦 𝑑𝑥 ) 2 . (7) De acordo com o eixo coordenado adotado as seguintes condições iniciais associadas a (7) são evidentes, 𝑦(0) = 𝑎 e 𝑦′(0) = 0. Fazendo 𝑢 = 𝑑𝑦 𝑑𝑥 , temos 𝑑𝑢 𝑑𝑥 = 𝛾 𝑇1 √1 + 𝑢2 (8) A partir daí, ∫ 𝑑𝑢 √1 + (𝑢)2 = 𝛾 𝑇1 ∫ 𝑑𝑥 ⇔ 𝑠𝑒𝑛ℎ−1𝑢 = 𝛾 𝑇1 𝑥 + 𝑘1 (9) Como 𝑢(0) = 0, temos 𝑠𝑒𝑛ℎ−1(0) = 𝛾 𝑇1 (0) + 𝑘1 ⇒ 𝑘1 = 0 (10) Logo, 𝑢 = 𝑠𝑒𝑛ℎ ( 𝛾𝑥 𝑇1 ) (11) Daí obtemos 𝑦 = ∫ 𝑢𝑑𝑥 ⇒ 𝑦 = 𝑇1 𝛾 cosh ( 𝛾𝑥 𝑇1 ) + 𝑘2 (12) Usando 𝑦(0) = 𝑎 segue que 𝑘2 = 𝑎 − 𝑇1 𝛾 . Para fins de simplificação tomamos 𝑎 = 𝑇1 𝛾 . Logo, a curva descrita por um cabo suspenso sob ação de forças uniformemente distribuídas ao longo de seu comprimento é dada por 𝑦(𝑥) = 𝑇1 𝛾 cosh ( 𝛾𝑥 𝑇1 ) (13) Aplicação prática Em uma rede de transmissão deseja-se fazer a troca de um cabo já desgastado, por um novo. Sabe-se que a tensão no ponto mais baixo do cabo é de 𝑇1 = 4 𝑘𝑁 e ele está localizado a uma distância horizontal de 10 𝑚 de cada um dos postes de sustentação. Além disso, o peso linear do fio é de 𝛾 = 0,5 𝑘𝑔 𝑚 . Determine o comprimento do novo cabo. Solução: De acordo com os dados do problema e a Eq. (13) a curva descrita por tal cabo é dada por (e ilustrada na Figura 3) 𝑦(𝑥) = 4 0,5 cosh ( 0,5 4 𝑥) ⇔ 𝑦(𝑥) = 8cosh ( 1 8 𝑥) ① Para definir o comprimento do cabo utilizaremos a Eq. (4), derivando ① pela regra da cadeia e logo depois substituindo em Eq. (4) obtemos, respectivamente, 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 𝑠𝑒𝑛ℎ ( 𝑥 8 ) e 𝑠 = ∫ √1 + (𝑠𝑒𝑛ℎ ( 𝑥 8 )) 2 𝑑𝑥 10 0 =̃ 12,815 𝑚 Logo o comprimento do cabo a ser utilizado nessa situação é de 2𝑠 =̃ 𝟐𝟓, 𝟔𝟑 𝒎. Nota-se que a deflexão no cabo (𝑦(10) − 𝑦(0) =̃ 7,12) é relativamente grande, o que faz aumentar o comprimento do cabo utilizado. Observando a Eq. (13), notamos que para diminuir a deflexão do cabo, e consequentemente seu comprimento, é necessário aumentar a tensão aplicada no mesmo. Figura 3 – Curva descrita pelo cabo do problema. Catenária x Parábola Como vimos, a catenária não é definida por uma parábola, mas pela função do cosseno hiperbólico. Mesmo assim, em muitas aplicações dessa curva, principalmente em pontes pênseis, são utilizadas aproximações por meio de parábolas, por motivos de simplificação. Na Figura 3 é apresentada uma comparação entre tais curvas, apenas para a ilustração. Figura 3 – Comparação entre uma curva catenária (em vermelho) e uma família de funções parabólicas (em azul). Referências FARIA, S. R. A catenária. Monografia (Pós Graduação). Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte - MG, 2011. RUFFINO, P.R. O problema da corda suspensa. Matemática Universitária. Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas - SP, 1998. ZILL, D. G. Equações Diferenciais com Aplicações em Modelagem. THOMSON, São Paulo – SP, 2003.
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