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Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 715.004 - SP (2004/0182606-8) RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA RECORRENTE : MARCO ANTÔNIO BARRETO DA SILVA E OUTROS ADVOGADO : ANNE JOYCE ANGHER E OUTROS RECORRIDO : W. BRASIL PUBLICIDADE LTDA E OUTRO ADVOGADO : DANIELLE CHRISTINE FARO S. OLIVEIRA E OUTROS EMENTA CIVIL E PROCESSUAL CIVIL – DIREITO AUTORAL – LEI N. 9.610/98, ART. 104, CAPUT – EXEGESE – PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE – APLICAÇÃO – NECESSIDADE – JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO TRIBUNAL A QUO – VINCULAÇÃO – INOCORRÊNCIA – MATÉRIA DE FATO E CLÁUSULAS CONTRATUAIS – REVISÃO – IMPOSSIBILIDADE - SÚMULAS NS. 5 E 7/STJ – DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL – DEMONSTRAÇÃO – INOCORRÊNCIA. I – O juízo de prelibação exarado pela instância ordinária não torna adstrita a Instância Especial, pois deve ser verificada novamente a presença dos requisitos recursais (pertinência ou não do apelo interposto). II – O egrégio Tribunal a quo não encontrou elementos justificadores para a aplicação da hipótese de responsabilidade objetiva solidária prevista no art. 104 da Lei n. 9.610/98, em vista da ausência de circunstâncias que envolvessem diretamente a imputada empresa co-ré na confecção ou elaboração na peça publicitária que foi veiculada em uma de suas publicações semanais de porte nacional. Ausência, in casu , de qualquer particularidade que implicasse em algum interesse econômico, conforme determina a previsão legal do mencionado artigo legal. Aplicação irrepreensível do princípio da razoabilidade na interpretação do texto legal. III – “A simples interpretação de cláusula contratual não enseja recurso especial” – Súmula n. 5/STJ. IV – “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial” – Súmula n. 7/STJ. V – Na hipótese em tela configurou-se a ausência de cotejo analítico satisfatório entre os julgados tidos por divergentes, em face da inobservância do teor dos arts. 255, § § 1º e 2º, do RISTJ, e 541, parágrafo único, do CPC, para apreciação e comprovação da alegada divergência jurisprudencial. VI – RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO. ACÓRDÃO Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 1 de 11 Superior Tribunal de Justiça Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da QUARTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, a Turma, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Aldir Passarinho Junior e Hélio Quaglia Barbosa votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 15 de março de 2007(data do julgamento). MINISTRO MASSAMI UYEDA Relator Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 2 de 11 Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 715.004 - SP (2004/0182606-8) RECORRENTE : MARCO ANTÔNIO BARRETO DA SILVA E OUTROS ADVOGADO : ANNE JOYCE ANGHER E OUTROS RECORRIDO : W. BRASIL PUBLICIDADE LTDA E OUTRO ADVOGADO : DANIELLE CHRISTINE FARO S. OLIVEIRA E OUTROS RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA (Relator): MARCO ANTÔNIO BARRETO DA SILVA, GERALDO FRANCISCO SALES e EDITORA RIDEEL LTDA. interpuseram recurso especial (CF/88, art. 103, inciso III, alíneas “a” e “c”, fls. 117/130) contra v. acórdão originário da colenda Sexta Câmara de Direito Privado do eg. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, ementado nos seguintes termos: “Agravo de instrumento – Ação de indenização – Exclusão do pólo passivo da co-ré Editora Abril – Cabimento – Agravada que se limitou a publicar matéria promocional de responsabilidade do anunciante a quem cabia aferir a idoneidade e a licitude do produto. Nomeação de perita advogada – Matéria prejudicada face à não aceitação, pela técnica, por motivo de ordem profissional. Agravo parcialmente conhecido, e na parte conhecida, improvido.” (fls. 110/114). Afirmam os ora recorrentes, resumidamente: [I] ser inaplicável o § 3º do art. 542 do CPC à hipótese em tela (asseveram ser a ora vergastada decisão interlocutória de 1º grau verdadeira sentença); [II] a ocorrência de violação e negativa de vigência ao art. 104 da Lei n. 9.610/98 (Lei dos Direitos Autorais) por parte do v. acórdão recorrido (por inobservância da responsabilidade solidária prevista no dispositivo legal); [III] a caracterização de dissídio jurisprudencial, tendo citado v. aresto que entendeu ser paradigmático ao caso em tela (STJ, REsp n. 69.134/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, Quarta Turma). O recurso foi contra-arrazoado (fls. 138/147; 149/164), tendo sido o recurso especial admitido pela d. Vice–Presidência do eg. Tribunal a quo apenas pela alínea ”a” do permissivo constitucional (fls. 167/169). É o relatório. Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 3 de 11 Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 715.004 - SP (2004/0182606-8) EMENTA CIVIL E PROCESSUAL CIVIL – DIREITO AUTORAL – LEI N. 9.610/98, ART. 104, CAPUT – EXEGESE – PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE – APLICAÇÃO – NECESSIDADE – JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO TRIBUNAL A QUO – VINCULAÇÃO – INOCORRÊNCIA – MATÉRIA DE FATO E CLÁUSULAS CONTRATUAIS – REVISÃO – IMPOSSIBILIDADE - SÚMULAS NS. 5 E 7/STJ – DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL – DEMONSTRAÇÃO – INOCORRÊNCIA. I – O juízo de prelibação exarado pela instância ordinária não torna adstrita a Instância Especial, pois deve ser verificada novamente a presença dos requisitos recursais (pertinência ou não do apelo interposto). II – O egrégio Tribunal a quo não encontrou elementos justificadores para a aplicação da hipótese de responsabilidade objetiva solidária prevista no art. 104 da Lei n. 9.610/98, em vista da ausência de circunstâncias que envolvessem diretamente a imputada empresa co-ré na confecção ou elaboração na peça publicitária que foi veiculada em uma de suas publicações semanais de porte nacional. Ausência, in casu , de qualquer particularidade que implicasse em algum interesse econômico, conforme determina a previsão legal do mencionado artigo legal. Aplicação irrepreensível do princípio da razoabilidade na interpretação do texto legal. III – “A simples interpretação de cláusula contratual não enseja recurso especial” – Súmula n. 5/STJ. IV – “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial” – Súmula n. 7/STJ. V – Na hipótese em tela configurou-se a ausência de cotejo analítico satisfatório entre os julgados tidos por divergentes, em face da inobservância do teor dos arts. 255, § § 1º e 2º, do RISTJ, e 541, parágrafo único, do CPC, para apreciação e comprovação da alegada divergência jurisprudencial. VI – RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO. VOTO O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA (Relator): Inicialmente, deve ser destacado que se trata, in casu , de decisão interlocutória, e não de sentença, portanto, passível de recurso de agravo de instrumento. Ad argumentandum , não obstante excluído do processo um dos participantes do litígio, continua o processo em curso. Esse é o sistema vigente, colocado no art. 162 do CPC. Pelo que ordinariamente acontece em processos nos quais se exclui uma das partes, o recurso cabível é, pelo sistema, o agravo de instrumento. Observe-se que toda decisão agravada, uma vez julgado o recurso, poderá influir na continuidade do processo principal, o que não impede se reconheça a possibilidade do agravo de instrumento (nesse sentido: STJ, REsp n. 113.443/PR, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, Rel. p/ acórdão Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, j. 11/12/2001, DJ 1º/7/2004, pág. 195, LEXSTJ 181/105). Quanto à alegada inaplicabilidade do § 3º do art. 542 do Código de Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 4 de 11 Superior Tribunal de Justiça Processo Civil na hipótese em tela, pela assertiva de ser a ora vergastada decisão interlocutória de 1º grau verdadeira sentença, não se pode deixar de ressaltar a questão relativa à admissibilidade e processamento do presente recurso especial realizada pelo Tribunal a quo, uma vez que o caso em tela se trata de v. aresto hostilizado proferido em sede de agravo de instrumento interposto contra r. decisão interlocutória, hipótese em que deveria o presente apelo extremo ter ficado retido até o julgamento final da causa, na observância do § 3º do art. 542 do CPC, o que não ocorreu, pela constatação de que o recurso foi admitido (ut fls. 167/169), tendo chegado a esta colenda Corte. De acordo com o mencionado dispositivo legal: “Art. 542, § 3º: O recurso extraordinário, ou o recurso especial, quando interpostos contra decisão interlocutória em processo de conhecimento, cautelar, ou embargos à execução ficará retido nos autos e somente será processado se o reiterar a parte, no prazo para a interposição do recurso contra decisão final, ou para as contra-razões.” Como se verifica, nas hipóteses em que o recurso especial é interposto contra decisão que resolve questão incidente em processo de conhecimento, cautelar ou de embargos à execução, aquele deve ficar retido até que seja proferida decisão final. Assim sendo, este Tribunal Superior de uniformização jurisprudencial firmou o entendimento de que, nesses casos, havendo o indevido processamento do recurso (processamento prematuro), este deverá retornar ao Tribunal de origem em observância ao art. 542, § 3º, do CPC (nesse sentido: STJ, AgRg na Medida Cautelar n. 7040/DF, Rel. Min. Barros Monteiro, Quarta Turma, v.u., j. 18/12/2003, DJ 12/4/2004, pág. 210; AgRg no REsp n. 534624/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, v.u., j. 11/11/2003, DJ 1º/12/2003, pág. 339). Entretanto, a jurisprudência, ultrapassando esse óbice legal, em casos excepcionais tem admitido o processamento do recurso especial sem que ocorra a sua retenção nos autos, objetivando, com isso, evitar a ocorrência – ante a eventual postergação do exame do recurso – de dano irreparável ou de difícil reparação ou, ainda, o perecimento do direito (nesse sentido: STJ, REsp n. 410.793/SP, Rel. Min. Jorge Scartezzini, Quarta Turma, v.u., j. 28/9/2004, DJ 6/12/2004, pág. 316, RSTJ 190/370; AgRg no Ag n. 430.460/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, Quarta Turma, v.u., j. 4/11/2003, DJ 9/2/2004, pág. 186; AgRg na MC n. 2430/PR, Rel. Min. Nilson Naves, Segunda Seção, j. 22/3/2000, DJ 18/12/2000, pág. 152, JBCC 187/216, RSTJ 152/239). Observe-se, no entanto, que o sistema de exame de admissibilidade do recurso especial é bifásico, ou seja, realizado no Tribunal a quo e também nesta col. Corte Superior, não estando o Superior Tribunal de Justiça vinculado ou adstrito ao juízo de prelibação exarado pelo Tribunal de origem, pois na Instância Especial deve-se apreciar novamente, em caráter definitivo, os requisitos de admissibilidade recursal e todas as questões inerentes ao conhecimento do apelo especial, na oportunidade do julgamento, exatamente porque cabe a este col. Tribunal Superior de uniformização jurisprudencial decidir, em última instância, pela pertinência ou não do apelo interposto, registrando-se que a instrução processual se faz exclusivamente no egrégio Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 5 de 11 Superior Tribunal de Justiça Tribunal de origem (nesse sentido: STJ, AgRg no Ag n. 678.529/RJ, Rel. Min. Jorge Scartezzini, Quarta Turma, v.u., j. 21/2/2006, DJ 3/4/2006, pág. 356; AgRg no REsp nº 416.336/SP, Rel. Min. Fernando Gonçalves, Quarta Turma, v.u., j. 28/9/2004, DJ 18/10/2004, pág. 281). Nesses termos, assentadas as premissas, com a observância e aplicação do princípio da celeridade da tramitação processual (inciso LXXVIII do art. 5º da CF/88 [incluído pela Emenda Constitucional n. 45/2004]), excepcionalmente, in casu , afasta-se o óbice previsto no § 3º do art. 542 do CPC. No mérito recursal, porém, o recurso não comporta guarida. Com efeito. Por oportuno, deve ser ressaltado que “Ao Superior Tribunal de Justiça compete, em sede de recurso especial, o exame da infringência à legislação federal bem como a uniformização da interpretação que se lhe confere. Essa é a inteligência do art. 105, III, 'a', 'b' e 'c' da CF/88.” (STJ, AgRg no REsp n. 824.470/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, v.u., j. 20/6/2006, DJ 29/6/2006, pág. 190). A Lei n. 9.610/98, em seus dispositivos, tem como previsões que: “Art. 4º Interpretam-se restritivamente os negócios jurídicos sobre os direitos autorais.” […] “Art. 104. Quem vender, expuser a venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, será solidariamente responsável com o contrafator, nos termos dos artigos precedentes, respondendo como contrafatores o importador e o distribuidor em caso de reprodução no exterior.” A previsão do art. 104 da Lei n. 9.610/98, na observância do art. 4º da mesma Lei, indica a presença de lacuna, com relação ao tema de imputação de responsabilidade objetiva solidária. Segundo Tercio Sampaio Ferraz Junior: “Falamos aqui em lacunas autênticas e não autênticas (echte und unechte). […] Na base desta classificação está a concepção do sistema das normas como uma totalidade dada e acabada (de lege lata), ordenada segundo um plano, sendo a lacuna uma imperfeição que contraria esse plano. A correlação entre o plano dado e os processos de sua elaboração permite-nos, porém, dar ao sistema certa mobilidade e amplitude, donde a classificação das lacunas em intencionais e não intencionais […]. O sistema das normas toma aqui claramente o sentido de uma totalidade planificada e até certo ponto objetiva, à medida que, para que uma lacuna seja constatada, não basta que o legislador tenha, conscientemente, deixado uma questão em aberto, sendo necessário que a ordem jurídica, como tal, exija a regra que falta. Essa idéia de falta pode sugerir que uma lacuna é sempre um menos no todo. Na verdade, a lacuna pode ser um mais, indesejável, não satisfatório. Falamos, assim, em lacunas Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 6 de 11 Superior Tribunal de Justiça patentes e latentes. Patente é uma lacuna resultante da falta de uma norma que regule uma situação, e latente é a lacuna que nasce do caráter muito amplo da norma. No primeiro caso, não há norma específica. No segundo, ela existe, mas deixa de fazer uma restrição considerada necessária […]. […] Uma interpretação restritiva ocorre toda vez que se limita o sentido da norma, não obstante a amplitude de sua expressão literal. Em geral, o intérprete vale-se de considerações teleológicas e axiológicas para fundar o raciocínio. Supõe, assim, que a mera interpretação especificadora não atinge os objetivos da norma, pois lhe confere uma amplitude que prejudica os interesses, ao invés de protegê-los. Assim, por exemplo, recomenda-se que toda norma que restrinja os direitos e garantias fundamentais reconhecidos e estabelecidos constitucionalmente deva ser interpretada restritivamente. O mesmo se diga para as normas excepcionais: uma exceção deve sofrer interpretação restritiva. No primeiro caso, o telos protegido é postulado como de tal importância para a ordem jurídica em sua totalidade que, se limitado por lei, esta deve conter, em seu espírito (mens legis), antes o objetivo de assegurar o bem-estar geral sem nunca ferir o direito fundamental que a constituição agasalha. No segundo, argumenta-se que uma exceção é, por si, uma restrição que só deve valer para os casos excepcionais. Ir além é contrariar sua natureza.” (in Introdução ao Estudo do Direito, 3ª ed., 2001, Ed. Atlas, São Paulo, págs. 216/218; 291). Estabelecido o contexto, dentro deste será delimitado qual o alcance da responsabilidade objetiva solidária contida no caput do art. 104 da Lei n. 9.610/98. A doutrina confirma a regra da solidariedade do contrafator com terceiros que se beneficiam da contrafação, atuando ou não em conjugação com aquele (apud BITTAR, Carlos Alberto, in Contornos Atuais do Direito do Autor , 2ª ed., revista , atualizada e ampliada de acordo com a Lei 9.610, 1999, Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, pág. 230). No tocante à denominada responsabilidade objetiva, a doutrina assevera que: ”O estudo dos dispositivos legais que estabelecem expressamente a dispensa do ônus da prova, impondo presunções de culpa ao responsável, e dos que as admitem, proporcionando à jurisprudência a oportunidade de reconhecê-las, será feito através de análise dos respectivos princípios. Por ora, importa assinalar apenas uma distinção da doutrina no sentido de que o princípio da prova a cargo do autor não teve verdadeiras exceções nos casos de presunção absoluta de culpa, porque, se não é a vítima obrigada a provar a culpa do responsável, não fica, entretanto, dispensada de provar a culpa daquele por quem ele responde. Exceções verdadeiras são, contudo, as presunções simples, pois, em casos Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 7 de 11 Superior Tribunal de Justiça tais, não tem a vítima de provar a culpa de quem quer que seja. É o responsável quem tem de trazer a prova de ausência de culpa de sua parte. Para nós, essa distinção é destituída de interesse. Sem dúvida nenhuma, o que se verifica, em matéria de responsabilidade, é o progressivo abandono da regra actori incumbit probatio, no seu sentido absoluto, em favor da fórmula de que a prova incumbe a quem alega contra a normalidade, que é válida tanto para a apuração de culpa como para a verificação da causalidade. À noção de normalidade se juntam, aperfeiçoando a fórmula, as de probabilidade e de verossimilhança que, uma vez que se apresentem em grau relevante, justificam a criação das presunções de culpa. […] Arnoldo Medeiros faz distinção necessária entre ficção e presunção, explicando que não se confundem. Assim, não há ficção em presumir a culpa. Invoca a autoridade de Geny e esclarece que a presunção é baseada na verossimilhança e responde às tendências da lógica natural, ao passo que a ficção vai muito mais longe, ultrapassa o domínio da prova e desnatura cientemente as realidades, de forma que exclui aprioristicamente qualquer possibilidade de prova em contrário. A presunção, ao revés, baseia-se no que ordinariamente acontece. Nada mais certo. O que se censura à teoria da culpa é exatamente desconhecer o caráter das presunções, tão lucidamente mostrado aí, quando não admite prova em contrário a muitos casos de presunção de responsabilidade. Cabe aqui concordar com Fromageot, quando nos põe de aviso contra a assimilação da culpa grave ao dolo, 'opinião que a tradição parece haver consagrado, mas outra coisa não é senão uma confusão, prestando-se a equívoco e obscuridade'. 'Não se poderia, com efeito, confundir os atos praticados de má-fé com os realizados de boa-fé sem ferir a eqüidade; parece que, assimilando ao dolo certas espécies de culpa, relega-se um dos critérios mais justos das ações humanas, ou seja, a intenção que as preside. […] o meio de reconhecer se uma pessoa praticou uma fraude não é procurar in abstracto se o seu procedimento é ou não o do homem razoável, ordinário, ou inferior, mas verificar in concreto se resulta das circunstâncias que agiu voluntária e intencionalmente.” (apud José de Aguiar Dias, in Da Responsabilidade Civil , 11ª ed., 2006, Ed. Renovar, Rio de Janeiro, págs. 111/113). Deve ser ressaltado que o eg. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo não encontrou elementos que justificassem a aplicação da hipótese de responsabilidade objetiva solidária prevista no art. 104 da Lei n. 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais) em face da Editora Abril S.A., em vista da ausência de circunstâncias que envolvessem diretamente a mencionada empresa na confecção ou elaboração, enfim, qualquer particularidade que implicasse em algum interesse econômico (conforme determina a previsão legal do mencionado Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 8 de 11 Superior Tribunal de Justiça artigo legal), segundo as hipóteses previstas no retrocitado dispositivo da Lei n. 9.610/98, na aludida peça publicitária que foi veiculada em uma de suas publicações semanais de porte nacional, in verbis : ”No que tange à exclusão da lide da Editora Abril S/A., as peças que formam o instrumento deixam claro que essa co-ré limitou-se a publicar matéria promocional de responsabilidade do anunciante – Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais – que incumbiu a W Brasil Publicidade Ltda. a realizar trabalho em que teria sido utilizada, indevidamente, obra intelectual de propriedade dos autores. Ora, em que pese o texto do artigo 104, da Lei nº 9.610/98, o simples fato de conceder vantagens e incentivo financeiro a anunciante – o que justificaria o logotipo da revista Veja na parte inferior da peça publicitária –, não implica admitir que a agravada tivesse a obrigação de fiscalizar o respeito aos direitos autorais de terceiros para aferir a idoneidade e licitude de cada produto oferecido pelo anunciante. Daí que tenho correto o MM. Juiz de primeira instância, quando anota que acolhia a preliminar de ilegitimidade passiva da Editora Abril S/A., eis que a publicação na revista Veja, pertencente à ré, foi de matéria publicitária e promocional de outra empresa, que com ela não se confunde, descabendo à agravada a análise da obra utilizada ou de eventual violação de direito de autor, bem como inviável presumir responsabilidade objetiva.” (ut fl. 113 – grifos nossos ). O egrégio Tribunal a quo pautou-se, irrepreensivelmente, no princípio da razoabilidade (“el logos de lo razonable” , apud RECASÉNS SICHES, Luis. Tratado general de Filosofia del Derecho , 1ª ed., Editorial Porrua S.A., México, 1959, pág. 428; Experiência jurídica , naturaleza de la cosa y Lógica 'razonable' , Publicaciones de Diánoia, Fondo de Cultura Económica, Universidad Nacional Autónoma de México, México, 1971, pág. 499) à hipótese em tela, quanto à análise da Lei n. 9.610/98. Assim sendo, a hipótese destacada em tela (responsabilidade objetiva solidária, prevista no art. 104 da Lei n. 9.610/98), para efeito de cabimento do recurso especial, é necessário discernir entre [1] a apreciação das provas e [2] os critérios legais de sua valoração: no primeiro caso há pura operação mental de conta, peso e medida, à qual é imune o recurso especial; no segundo envolve a teoria do valor ou conhecimento, em operação que apura se houve ou não a infração de algum princípio probatório. No caso dos presentes autos, não pode ter incidência a questão a respeito da teoria do valor ou conhecimento, uma vez que o v. acórdão decidiu, fundamentadamente, de conformidade com os elementos probatórios carreados aos autos, sendo defeso nesta Instância Especial o reexame de prova (nesse sentido: STJ, REsp n. 1555/SC, Rel. Min. Gueiros Leite, Terceira Turma, v.u., j. 13/3/90, DJ 9/4/90, pág. 2741, RSTJ 11/341). Ultrapassar o posicionamento do v. acórdão somente seria possível mediante o inevitável revolvimento das cláusulas contratuais e do conteúdo fático-probatório dos autos, o que não é admissível em sede de recurso especial, Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 9 de 11 Superior Tribunal de Justiça nos termos dos enunciados das Súmulas ns. 5 e 7 deste colendo Tribunal Superior. Por fim, quanto ao alegado dissídio jurisprudencial, na hipótese em tela a parte recorrente deixou de proceder satisfatoriamente ao cotejo analítico entre os julgados tidos por divergentes, uma vez que não ocorreu a necessária análise quanto à similitude fática entre eles e o tratamento jurídico diverso dado aos paradigmas, de modo a evidenciar de maneira clara e objetiva a identidade das situações diferentemente apreciadas, tendo se limitado a transcrever trechos de julgado que entendeu ser favorável à sua tese, sem que se tenha, desse modo, procedido à estrita observância do teor dos arts. 255, § § 1º e 2º, do RISTJ, e 541, parágrafo único, do CPC, para apreciação e comprovação da alegada divergência jurisprudencial (nesse sentido: STJ, AgRg no Ag n. 640.982/RJ, Rel. Min. Jorge Scartezzini, Quarta Turma, v.u., j. 11/10/2005, DJ 21/11/2005, pág. 242; REsp n. 425.467/MT, Rel. Min. Fernando Gonçalves, Quarta Turma, v.u., j. 16/8/2005, DJ 5/9/2005, pág. 410; REsp n. 189.941/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, j. 17/6/99, DJ 9/8/99, pág. 173). Observe-se que o apontado aresto paradigmático (STJ, REsp n. 69134/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, Quarta Turma, JBCC 185/627, LEXSTJ 138/80, RSTJ 149/347) foi julgado em conformidade com a Lei n. 5.988/73, hipótese que não se aplica à situação ora em destaque. Em síntese, restou não atendido o parágrafo único do art. 541 do CPC. Nesses termos, não se conhece do presente recurso especial. É o voto. MINISTRO MASSAMI UYEDA Relator Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 1 0 de 11 Superior Tribunal de Justiça CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUARTA TURMA Número Registro: 2004/0182606-8 REsp 715004 / SP Números Origem: 20639090 2851874 63909 PAUTA: 15/03/2007 JULGADO: 15/03/2007 Relator Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. DURVAL TADEU GUIMARÃES Secretária Bela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK AUTUAÇÃO RECORRENTE : MARCO ANTÔNIO BARRETO DA SILVA E OUTROS ADVOGADO : ANNE JOYCE ANGHER E OUTROS RECORRIDO : W. BRASIL PUBLICIDADE LTDA E OUTRO ADVOGADO : DANIELLE CHRISTINE FARO S. OLIVEIRA E OUTROS ASSUNTO: Civil - Direito Autoral - Violação - Indenização CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Aldir Passarinho Junior e Hélio Quaglia Barbosa votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 15 de março de 2007 CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK Secretária Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 1 1 de 11
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