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STJ RESP 715004

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 715.004 - SP (2004/0182606-8)
 
RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA
RECORRENTE : MARCO ANTÔNIO BARRETO DA SILVA E OUTROS
ADVOGADO : ANNE JOYCE ANGHER E OUTROS
RECORRIDO : W. BRASIL PUBLICIDADE LTDA E OUTRO
ADVOGADO : DANIELLE CHRISTINE FARO S. OLIVEIRA E OUTROS
EMENTA
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL – DIREITO AUTORAL – LEI N. 9.610/98, 
ART. 104, CAPUT – EXEGESE – PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE – 
APLICAÇÃO – NECESSIDADE – JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO 
TRIBUNAL A QUO – VINCULAÇÃO – INOCORRÊNCIA – MATÉRIA DE 
FATO E CLÁUSULAS CONTRATUAIS – REVISÃO – IMPOSSIBILIDADE - 
SÚMULAS NS. 5 E 7/STJ – DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL – 
DEMONSTRAÇÃO – INOCORRÊNCIA.
I – O juízo de prelibação exarado pela instância ordinária não torna 
adstrita a Instância Especial, pois deve ser verificada novamente a 
presença dos requisitos recursais (pertinência ou não do apelo 
interposto).
II – O egrégio Tribunal a quo não encontrou elementos justificadores 
para a aplicação da hipótese de responsabilidade objetiva solidária 
prevista no art. 104 da Lei n. 9.610/98, em vista da ausência de 
circunstâncias que envolvessem diretamente a imputada empresa 
co-ré na confecção ou elaboração na peça publicitária que foi 
veiculada em uma de suas publicações semanais de porte nacional. 
Ausência, in casu , de qualquer particularidade que implicasse em 
algum interesse econômico, conforme determina a previsão legal do 
mencionado artigo legal. Aplicação irrepreensível do princípio da 
razoabilidade na interpretação do texto legal.
III – “A simples interpretação de cláusula contratual não enseja 
recurso especial” – Súmula n. 5/STJ.
IV – “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso 
especial” – Súmula n. 7/STJ.
V – Na hipótese em tela configurou-se a ausência de cotejo analítico 
satisfatório entre os julgados tidos por divergentes, em face da 
inobservância do teor dos arts. 255, § § 1º e 2º, do RISTJ, e 541, 
parágrafo único, do CPC, para apreciação e comprovação da 
alegada divergência jurisprudencial.
VI – RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO.
 
 
ACÓRDÃO
Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 1 de 11
 
 
Superior Tribunal de Justiça
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as 
acima indicadas, acordam os Ministros da QUARTA TURMA do Superior Tribunal 
de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, a 
Turma, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. 
Ministro Relator. Os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Aldir Passarinho Junior e 
Hélio Quaglia Barbosa votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 15 de março de 2007(data do julgamento).
MINISTRO MASSAMI UYEDA 
Relator
Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 2 de 11
 
 
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 715.004 - SP (2004/0182606-8)
 
RECORRENTE : MARCO ANTÔNIO BARRETO DA SILVA E OUTROS
ADVOGADO : ANNE JOYCE ANGHER E OUTROS
RECORRIDO : W. BRASIL PUBLICIDADE LTDA E OUTRO
ADVOGADO : DANIELLE CHRISTINE FARO S. OLIVEIRA E OUTROS
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA (Relator):
MARCO ANTÔNIO BARRETO DA SILVA, GERALDO FRANCISCO 
SALES e EDITORA RIDEEL LTDA. interpuseram recurso especial (CF/88, art. 
103, inciso III, alíneas “a” e “c”, fls. 117/130) contra v. acórdão originário da 
colenda Sexta Câmara de Direito Privado do eg. Tribunal de Justiça do Estado de 
São Paulo, ementado nos seguintes termos:
“Agravo de instrumento – Ação de indenização – Exclusão do pólo 
passivo da co-ré Editora Abril – Cabimento – Agravada que se 
limitou a publicar matéria promocional de responsabilidade do 
anunciante a quem cabia aferir a idoneidade e a licitude do produto.
Nomeação de perita advogada – Matéria prejudicada face à não 
aceitação, pela técnica, por motivo de ordem profissional. Agravo 
parcialmente conhecido, e na parte conhecida, improvido.” (fls. 
110/114).
Afirmam os ora recorrentes, resumidamente: [I] ser inaplicável o § 3º 
do art. 542 do CPC à hipótese em tela (asseveram ser a ora vergastada decisão 
interlocutória de 1º grau verdadeira sentença); [II] a ocorrência de violação e 
negativa de vigência ao art. 104 da Lei n. 9.610/98 (Lei dos Direitos Autorais) por 
parte do v. acórdão recorrido (por inobservância da responsabilidade solidária 
prevista no dispositivo legal); [III] a caracterização de dissídio jurisprudencial, 
tendo citado v. aresto que entendeu ser paradigmático ao caso em tela (STJ, 
REsp n. 69.134/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, Quarta Turma).
O recurso foi contra-arrazoado (fls. 138/147; 149/164), tendo sido o 
recurso especial admitido pela d. Vice–Presidência do eg. Tribunal a quo apenas 
pela alínea ”a” do permissivo constitucional (fls. 167/169).
É o relatório.
 
Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 3 de 11
 
 
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 715.004 - SP (2004/0182606-8)
 
EMENTA
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL – DIREITO AUTORAL – LEI N. 9.610/98, 
ART. 104, CAPUT – EXEGESE – PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE – 
APLICAÇÃO – NECESSIDADE – JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO 
TRIBUNAL A QUO – VINCULAÇÃO – INOCORRÊNCIA – MATÉRIA DE 
FATO E CLÁUSULAS CONTRATUAIS – REVISÃO – IMPOSSIBILIDADE - 
SÚMULAS NS. 5 E 7/STJ – DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL – 
DEMONSTRAÇÃO – INOCORRÊNCIA.
I – O juízo de prelibação exarado pela instância ordinária não torna adstrita 
a Instância Especial, pois deve ser verificada novamente a presença dos 
requisitos recursais (pertinência ou não do apelo interposto).
II – O egrégio Tribunal a quo não encontrou elementos justificadores para 
a aplicação da hipótese de responsabilidade objetiva solidária prevista no 
art. 104 da Lei n. 9.610/98, em vista da ausência de circunstâncias que 
envolvessem diretamente a imputada empresa co-ré na confecção ou 
elaboração na peça publicitária que foi veiculada em uma de suas 
publicações semanais de porte nacional. Ausência, in casu , de qualquer 
particularidade que implicasse em algum interesse econômico, conforme 
determina a previsão legal do mencionado artigo legal. Aplicação 
irrepreensível do princípio da razoabilidade na interpretação do texto legal.
III – “A simples interpretação de cláusula contratual não enseja recurso 
especial” – Súmula n. 5/STJ.
IV – “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso 
especial” – Súmula n. 7/STJ.
V – Na hipótese em tela configurou-se a ausência de cotejo analítico 
satisfatório entre os julgados tidos por divergentes, em face da 
inobservância do teor dos arts. 255, § § 1º e 2º, do RISTJ, e 541, 
parágrafo único, do CPC, para apreciação e comprovação da alegada 
divergência jurisprudencial.
VI – RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO.
 
VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA (Relator):
Inicialmente, deve ser destacado que se trata, in casu , de decisão 
interlocutória, e não de sentença, portanto, passível de recurso de agravo de 
instrumento. Ad argumentandum , não obstante excluído do processo um dos 
participantes do litígio, continua o processo em curso. Esse é o sistema vigente, 
colocado no art. 162 do CPC. Pelo que ordinariamente acontece em processos 
nos quais se exclui uma das partes, o recurso cabível é, pelo sistema, o agravo 
de instrumento. Observe-se que toda decisão agravada, uma vez julgado o 
recurso, poderá influir na continuidade do processo principal, o que não impede 
se reconheça a possibilidade do agravo de instrumento (nesse sentido: STJ, 
REsp n. 113.443/PR, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, Rel. p/ acórdão Min. 
Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, j. 11/12/2001, DJ 1º/7/2004, pág. 
195, LEXSTJ 181/105).
Quanto à alegada inaplicabilidade do § 3º do art. 542 do Código de 
Documento: 679601 - Inteiro Teor
do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 4 de 11
 
 
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Processo Civil na hipótese em tela, pela assertiva de ser a ora vergastada 
decisão interlocutória de 1º grau verdadeira sentença, não se pode deixar de 
ressaltar a questão relativa à admissibilidade e processamento do presente 
recurso especial realizada pelo Tribunal a quo, uma vez que o caso em tela se 
trata de v. aresto hostilizado proferido em sede de agravo de instrumento 
interposto contra r. decisão interlocutória, hipótese em que deveria o presente 
apelo extremo ter ficado retido até o julgamento final da causa, na observância do 
§ 3º do art. 542 do CPC, o que não ocorreu, pela constatação de que o recurso 
foi admitido (ut fls. 167/169), tendo chegado a esta colenda Corte. De acordo com 
o mencionado dispositivo legal:
“Art. 542, § 3º: O recurso extraordinário, ou o recurso especial, 
quando interpostos contra decisão interlocutória em processo de 
conhecimento, cautelar, ou embargos à execução ficará retido nos 
autos e somente será processado se o reiterar a parte, no prazo 
para a interposição do recurso contra decisão final, ou para as 
contra-razões.”
Como se verifica, nas hipóteses em que o recurso especial é 
interposto contra decisão que resolve questão incidente em processo de 
conhecimento, cautelar ou de embargos à execução, aquele deve ficar retido até 
que seja proferida decisão final. Assim sendo, este Tribunal Superior de 
uniformização jurisprudencial firmou o entendimento de que, nesses casos, 
havendo o indevido processamento do recurso (processamento prematuro), este 
deverá retornar ao Tribunal de origem em observância ao art. 542, § 3º, do CPC 
(nesse sentido: STJ, AgRg na Medida Cautelar n. 7040/DF, Rel. Min. Barros 
Monteiro, Quarta Turma, v.u., j. 18/12/2003, DJ 12/4/2004, pág. 210; AgRg no 
REsp n. 534624/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, v.u., j. 
11/11/2003, DJ 1º/12/2003, pág. 339). 
Entretanto, a jurisprudência, ultrapassando esse óbice legal, em 
casos excepcionais tem admitido o processamento do recurso especial sem que 
ocorra a sua retenção nos autos, objetivando, com isso, evitar a ocorrência – ante 
a eventual postergação do exame do recurso – de dano irreparável ou de difícil 
reparação ou, ainda, o perecimento do direito (nesse sentido: STJ, REsp n. 
410.793/SP, Rel. Min. Jorge Scartezzini, Quarta Turma, v.u., j. 28/9/2004, DJ 
6/12/2004, pág. 316, RSTJ 190/370; AgRg no Ag n. 430.460/SP, Rel. Min. Barros 
Monteiro, Quarta Turma, v.u., j. 4/11/2003, DJ 9/2/2004, pág. 186; AgRg na MC 
n. 2430/PR, Rel. Min. Nilson Naves, Segunda Seção, j. 22/3/2000, DJ 
18/12/2000, pág. 152, JBCC 187/216, RSTJ 152/239).
Observe-se, no entanto, que o sistema de exame de admissibilidade 
do recurso especial é bifásico, ou seja, realizado no Tribunal a quo e também 
nesta col. Corte Superior, não estando o Superior Tribunal de Justiça vinculado 
ou adstrito ao juízo de prelibação exarado pelo Tribunal de origem, pois na 
Instância Especial deve-se apreciar novamente, em caráter definitivo, os 
requisitos de admissibilidade recursal e todas as questões inerentes ao 
conhecimento do apelo especial, na oportunidade do julgamento, exatamente 
porque cabe a este col. Tribunal Superior de uniformização jurisprudencial 
decidir, em última instância, pela pertinência ou não do apelo interposto, 
registrando-se que a instrução processual se faz exclusivamente no egrégio 
Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 5 de 11
 
 
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Tribunal de origem (nesse sentido: STJ, AgRg no Ag n. 678.529/RJ, Rel. Min. 
Jorge Scartezzini, Quarta Turma, v.u., j. 21/2/2006, DJ 3/4/2006, pág. 356; AgRg 
no REsp nº 416.336/SP, Rel. Min. Fernando Gonçalves, Quarta Turma, v.u., j. 
28/9/2004, DJ 18/10/2004, pág. 281).
Nesses termos, assentadas as premissas, com a observância e 
aplicação do princípio da celeridade da tramitação processual (inciso LXXVIII do 
art. 5º da CF/88 [incluído pela Emenda Constitucional n. 45/2004]), 
excepcionalmente, in casu , afasta-se o óbice previsto no § 3º do art. 542 do CPC.
No mérito recursal, porém, o recurso não comporta guarida.
Com efeito.
Por oportuno, deve ser ressaltado que “Ao Superior Tribunal de 
Justiça compete, em sede de recurso especial, o exame da infringência à 
legislação federal bem como a uniformização da interpretação que se lhe confere. 
Essa é a inteligência do art. 105, III, 'a', 'b' e 'c' da CF/88.” (STJ, AgRg no REsp 
n. 824.470/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, v.u., j. 20/6/2006, DJ 
29/6/2006, pág. 190).
A Lei n. 9.610/98, em seus dispositivos, tem como previsões que:
“Art. 4º Interpretam-se restritivamente os negócios jurídicos sobre os 
direitos autorais.”
[…]
“Art. 104. Quem vender, expuser a venda, ocultar, adquirir, distribuir, 
tiver em depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com 
fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, 
proveito, lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, será 
solidariamente responsável com o contrafator, nos termos dos 
artigos precedentes, respondendo como contrafatores o importador 
e o distribuidor em caso de reprodução no exterior.”
A previsão do art. 104 da Lei n. 9.610/98, na observância do art. 4º 
da mesma Lei, indica a presença de lacuna, com relação ao tema de imputação 
de responsabilidade objetiva solidária.
Segundo Tercio Sampaio Ferraz Junior:
“Falamos aqui em lacunas autênticas e não autênticas (echte und 
unechte). […] Na base desta classificação está a concepção do 
sistema das normas como uma totalidade dada e acabada (de lege 
lata), ordenada segundo um plano, sendo a lacuna uma imperfeição 
que contraria esse plano. A correlação entre o plano dado e os 
processos de sua elaboração permite-nos, porém, dar ao sistema 
certa mobilidade e amplitude, donde a classificação das lacunas em 
intencionais e não intencionais […]. O sistema das normas toma 
aqui claramente o sentido de uma totalidade planificada e até certo 
ponto objetiva, à medida que, para que uma lacuna seja constatada, 
não basta que o legislador tenha, conscientemente, deixado uma 
questão em aberto, sendo necessário que a ordem jurídica, como 
tal, exija a regra que falta. Essa idéia de falta pode sugerir que uma 
lacuna é sempre um menos no todo. Na verdade, a lacuna pode ser 
um mais, indesejável, não satisfatório. Falamos, assim, em lacunas 
Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 6 de 11
 
 
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patentes e latentes. Patente é uma lacuna resultante da falta de 
uma norma que regule uma situação, e latente é a lacuna que nasce 
do caráter muito amplo da norma. No primeiro caso, não há norma 
específica. No segundo, ela existe, mas deixa de fazer uma 
restrição considerada necessária […].
[…]
Uma interpretação restritiva ocorre toda vez que se limita o sentido 
da norma, não obstante a amplitude de sua expressão literal. Em 
geral, o intérprete vale-se de considerações teleológicas e 
axiológicas para fundar o raciocínio. Supõe, assim, que a mera 
interpretação especificadora não atinge os objetivos da norma, pois 
lhe confere uma amplitude que prejudica os interesses, ao invés de 
protegê-los. Assim, por exemplo, recomenda-se que toda norma que 
restrinja os direitos e garantias fundamentais reconhecidos e 
estabelecidos constitucionalmente deva ser interpretada 
restritivamente. O mesmo se diga para as normas excepcionais: 
uma exceção deve sofrer interpretação restritiva. No primeiro caso, 
o telos protegido é postulado como de tal importância para a ordem 
jurídica em sua totalidade que, se limitado por lei, esta deve conter, 
em seu espírito (mens legis), antes o objetivo de assegurar o 
bem-estar geral sem nunca ferir o direito fundamental que a
constituição agasalha. No segundo, argumenta-se que uma exceção 
é, por si, uma restrição que só deve valer para os casos 
excepcionais. Ir além é contrariar sua natureza.”
(in Introdução ao Estudo do Direito, 3ª ed., 2001, Ed. Atlas, São 
Paulo, págs. 216/218; 291).
Estabelecido o contexto, dentro deste será delimitado qual o 
alcance da responsabilidade objetiva solidária contida no caput do art. 104 da Lei 
n. 9.610/98.
A doutrina confirma a regra da solidariedade do contrafator com 
terceiros que se beneficiam da contrafação, atuando ou não em conjugação com 
aquele (apud BITTAR, Carlos Alberto, in Contornos Atuais do Direito do Autor , 2ª 
ed., revista , atualizada e ampliada de acordo com a Lei 9.610, 1999, Ed. Revista 
dos Tribunais, São Paulo, pág. 230).
No tocante à denominada responsabilidade objetiva, a doutrina 
assevera que:
”O estudo dos dispositivos legais que estabelecem expressamente a 
dispensa do ônus da prova, impondo presunções de culpa ao 
responsável, e dos que as admitem, proporcionando à 
jurisprudência a oportunidade de reconhecê-las, será feito através 
de análise dos respectivos princípios. Por ora, importa assinalar 
apenas uma distinção da doutrina no sentido de que o princípio da 
prova a cargo do autor não teve verdadeiras exceções nos casos de 
presunção absoluta de culpa, porque, se não é a vítima obrigada a 
provar a culpa do responsável, não fica, entretanto, dispensada de 
provar a culpa daquele por quem ele responde. Exceções 
verdadeiras são, contudo, as presunções simples, pois, em casos 
Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 7 de 11
 
 
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tais, não tem a vítima de provar a culpa de quem quer que seja. É o 
responsável quem tem de trazer a prova de ausência de culpa de 
sua parte. Para nós, essa distinção é destituída de interesse. Sem 
dúvida nenhuma, o que se verifica, em matéria de responsabilidade, 
é o progressivo abandono da regra actori incumbit probatio, no seu 
sentido absoluto, em favor da fórmula de que a prova incumbe a 
quem alega contra a normalidade, que é válida tanto para a 
apuração de culpa como para a verificação da causalidade. À noção 
de normalidade se juntam, aperfeiçoando a fórmula, as de 
probabilidade e de verossimilhança que, uma vez que se 
apresentem em grau relevante, justificam a criação das presunções 
de culpa.
[…]
Arnoldo Medeiros faz distinção necessária entre ficção e presunção, 
explicando que não se confundem. Assim, não há ficção em 
presumir a culpa. Invoca a autoridade de Geny e esclarece que a 
presunção é baseada na verossimilhança e responde às tendências 
da lógica natural, ao passo que a ficção vai muito mais longe, 
ultrapassa o domínio da prova e desnatura cientemente as 
realidades, de forma que exclui aprioristicamente qualquer 
possibilidade de prova em contrário. A presunção, ao revés, 
baseia-se no que ordinariamente acontece.
Nada mais certo. O que se censura à teoria da culpa é exatamente 
desconhecer o caráter das presunções, tão lucidamente mostrado 
aí, quando não admite prova em contrário a muitos casos de 
presunção de responsabilidade.
Cabe aqui concordar com Fromageot, quando nos põe de aviso 
contra a assimilação da culpa grave ao dolo, 'opinião que a tradição 
parece haver consagrado, mas outra coisa não é senão uma 
confusão, prestando-se a equívoco e obscuridade'.
'Não se poderia, com efeito, confundir os atos praticados de má-fé 
com os realizados de boa-fé sem ferir a eqüidade; parece que, 
assimilando ao dolo certas espécies de culpa, relega-se um dos 
critérios mais justos das ações humanas, ou seja, a intenção que as 
preside.
[…] o meio de reconhecer se uma pessoa praticou uma fraude não é 
procurar in abstracto se o seu procedimento é ou não o do homem 
razoável, ordinário, ou inferior, mas verificar in concreto se resulta 
das circunstâncias que agiu voluntária e intencionalmente.”
(apud José de Aguiar Dias, in Da Responsabilidade Civil , 11ª ed., 
2006, Ed. Renovar, Rio de Janeiro, págs. 111/113).
Deve ser ressaltado que o eg. Tribunal de Justiça do Estado de São 
Paulo não encontrou elementos que justificassem a aplicação da hipótese de 
responsabilidade objetiva solidária prevista no art. 104 da Lei n. 9.610/98 (Lei de 
Direitos Autorais) em face da Editora Abril S.A., em vista da ausência de 
circunstâncias que envolvessem diretamente a mencionada empresa na 
confecção ou elaboração, enfim, qualquer particularidade que implicasse em 
algum interesse econômico (conforme determina a previsão legal do mencionado 
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artigo legal), segundo as hipóteses previstas no retrocitado dispositivo da Lei n. 
9.610/98, na aludida peça publicitária que foi veiculada em uma de suas 
publicações semanais de porte nacional, in verbis :
”No que tange à exclusão da lide da Editora Abril S/A., as peças que 
formam o instrumento deixam claro que essa co-ré limitou-se a 
publicar matéria promocional de responsabilidade do anunciante – 
Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais – que incumbiu a W Brasil 
Publicidade Ltda. a realizar trabalho em que teria sido utilizada, 
indevidamente, obra intelectual de propriedade dos autores.
Ora, em que pese o texto do artigo 104, da Lei nº 9.610/98, o 
simples fato de conceder vantagens e incentivo financeiro a 
anunciante – o que justificaria o logotipo da revista Veja na parte 
inferior da peça publicitária –, não implica admitir que a agravada 
tivesse a obrigação de fiscalizar o respeito aos direitos autorais de 
terceiros para aferir a idoneidade e licitude de cada produto 
oferecido pelo anunciante.
Daí que tenho correto o MM. Juiz de primeira instância, quando 
anota que acolhia a preliminar de ilegitimidade passiva da Editora 
Abril S/A., eis que a publicação na revista Veja, pertencente à ré, foi 
de matéria publicitária e promocional de outra empresa, que com ela 
não se confunde, descabendo à agravada a análise da obra 
utilizada ou de eventual violação de direito de autor, bem como 
inviável presumir responsabilidade objetiva.” (ut fl. 113 – grifos 
nossos ).
O egrégio Tribunal a quo pautou-se, irrepreensivelmente, no 
princípio da razoabilidade (“el logos de lo razonable” , apud RECASÉNS SICHES, 
Luis. Tratado general de Filosofia del Derecho , 1ª ed., Editorial Porrua S.A., 
México, 1959, pág. 428; Experiência jurídica , naturaleza de la cosa y Lógica 
'razonable' , Publicaciones de Diánoia, Fondo de Cultura Económica, Universidad 
Nacional Autónoma de México, México, 1971, pág. 499) à hipótese em tela, 
quanto à análise da Lei n. 9.610/98.
Assim sendo, a hipótese destacada em tela (responsabilidade 
objetiva solidária, prevista no art. 104 da Lei n. 9.610/98), para efeito de 
cabimento do recurso especial, é necessário discernir entre [1] a apreciação das 
provas e [2] os critérios legais de sua valoração: no primeiro caso há pura 
operação mental de conta, peso e medida, à qual é imune o recurso especial; no 
segundo envolve a teoria do valor ou conhecimento, em operação que apura se 
houve ou não a infração de algum princípio probatório. No caso dos presentes 
autos, não pode ter incidência a questão a respeito da teoria do valor ou 
conhecimento, uma vez que o v. acórdão decidiu, fundamentadamente, de 
conformidade com os elementos probatórios carreados aos autos, sendo defeso 
nesta Instância Especial o reexame de prova (nesse sentido: STJ, REsp n. 
1555/SC, Rel. Min. Gueiros Leite, Terceira Turma, v.u., j. 13/3/90, DJ 9/4/90, pág. 
2741, RSTJ 11/341).
Ultrapassar o posicionamento do v. acórdão somente seria possível 
mediante o inevitável revolvimento das cláusulas contratuais e do conteúdo 
fático-probatório dos autos, o que não é admissível em sede de recurso
especial, 
Documento: 679601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2007 Página 9 de 11
 
 
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nos termos dos enunciados das Súmulas ns. 5 e 7 deste colendo Tribunal 
Superior.
Por fim, quanto ao alegado dissídio jurisprudencial, na hipótese em 
tela a parte recorrente deixou de proceder satisfatoriamente ao cotejo analítico 
entre os julgados tidos por divergentes, uma vez que não ocorreu a necessária 
análise quanto à similitude fática entre eles e o tratamento jurídico diverso dado 
aos paradigmas, de modo a evidenciar de maneira clara e objetiva a identidade 
das situações diferentemente apreciadas, tendo se limitado a transcrever trechos 
de julgado que entendeu ser favorável à sua tese, sem que se tenha, desse 
modo, procedido à estrita observância do teor dos arts. 255, § § 1º e 2º, do 
RISTJ, e 541, parágrafo único, do CPC, para apreciação e comprovação da 
alegada divergência jurisprudencial (nesse sentido: STJ, AgRg no Ag n. 
640.982/RJ, Rel. Min. Jorge Scartezzini, Quarta Turma, v.u., j. 11/10/2005, DJ 
21/11/2005, pág. 242; REsp n. 425.467/MT, Rel. Min. Fernando Gonçalves, 
Quarta Turma, v.u., j. 16/8/2005, DJ 5/9/2005, pág. 410; REsp n. 189.941/SP, 
Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, j. 17/6/99, DJ 9/8/99, pág. 
173).
Observe-se que o apontado aresto paradigmático (STJ, REsp n. 
69134/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, Quarta Turma, JBCC 185/627, LEXSTJ 
138/80, RSTJ 149/347) foi julgado em conformidade com a Lei n. 5.988/73, 
hipótese que não se aplica à situação ora em destaque. Em síntese, restou não 
atendido o parágrafo único do art. 541 do CPC.
Nesses termos, não se conhece do presente recurso especial.
É o voto.
MINISTRO MASSAMI UYEDA 
Relator 
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
 
 
Número Registro: 2004/0182606-8 REsp 715004 / SP
Números Origem: 20639090 2851874 63909
PAUTA: 15/03/2007 JULGADO: 15/03/2007
Relator
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. DURVAL TADEU GUIMARÃES
Secretária
Bela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MARCO ANTÔNIO BARRETO DA SILVA E OUTROS
ADVOGADO : ANNE JOYCE ANGHER E OUTROS
RECORRIDO : W. BRASIL PUBLICIDADE LTDA E OUTRO
ADVOGADO : DANIELLE CHRISTINE FARO S. OLIVEIRA E OUTROS
ASSUNTO: Civil - Direito Autoral - Violação - Indenização
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão 
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro 
Relator.
Os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Aldir Passarinho Junior e Hélio Quaglia Barbosa 
votaram com o Sr. Ministro Relator.
 Brasília, 15 de março de 2007
CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK
Secretária
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